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Marcos de Noronha
Em 2014, a Top Model Gisele Bündchen contou no Fantástico da Rede Globo, como
foi seu parto natural. A modelo antes havia pesquisado, qual seria a melhor forma de dar a
luz, para ela e o bebê. Queria que fosse também a mais segura. Seus dois filhos acabaram
nascendo em casa e numa banheira.
ACREDITANDO NA NATUREZA
Michel Odent, médico francês, que me concedeu entrevistas para uma série que fiz
sobre o assunto em meu programa Psiquiatria Sem Fronteiras, na ocasião transmitido pela
TV SBT e hoje no YouTube, no canal Terapia Social (podem ser localizados pelo site da
Associação Brasileira de Psiquiatria Cultura : www.abe.org.br). Definitivamente este médico
é uma pessoa à frente de seu tempo. Na sua visão de mundo procura compreender e
acreditar na natureza ao invés de modificá-la. Parece um índio, com cosmovisão
semelhante. Foi observando a vida humana desde sua semente e desde o nascimento e
ampliando seus estudos em psicologia e antropologia que ele deixa sua carreira
preeminente de cirurgião para se dedicar a obstetrícia.
Em Pithiviers acreditava-se que o parto não é uma doença, mas um ato natural e
delicado e que a mulher tem condições de parir na maneira e na posição que ela própria
deseja. Isto é inerente a todo mamífero, e no caso dos humanos, houve interferência da
cultura. À medicina, a partir de então, só deveria providenciar a segurança necessária, sem
desprezar as manifestações instintivas ligadas ao ato do nascimento.
Quando questionei o médico francês sobre como era seu trabalho de preparação
para o parto ele me disse que era realizado na própria maternidade, procurando tornar o
local mais familiar para as gestantes: “É importante que a maternidade não seja um local
onde as mulheres venham apenas para se informar e serem examinadas. Seria contribuir
para fazer da gravidez uma doença. Ontem, por exemplo, como frequentemente fazemos,
nós nos reunimos em volta do piano, onde cantamos e criamos um clima de união e
segurança” – explicava Odent.
Subimos um andar onde ele me levou para conhecer a sala que tinha no centro um
piano. Nas paredes fotos de partos realizados; de mães amamentando e outras com as
mais variadas expressões dos seus bebês. As reuniões que acontece naquela sala são
geralmente animadas pelas parteiras, com a presença das gestantes e algumas vezes de
seus maridos. A participação não é obrigatória, ficando esse critério a cargo do casal.
Esporadicamente o grupo recebe a visita de um médico, psicólogo ou a de outro casal que
já vivenciou a experiência do parto naquele hospital. Odent e sua equipe pensam que se
deveria substituir a frieza de um ambiente hospitalar por uma decoração mais familiar e
aconchegante.
Ao lado da sala de reuniões, naquele hospital francês, havia uma outra sala onde
são realizados os partos e que tinha três divisões. Na primeira parte havia uma cama baixa
e larga e no outro canto uma cadeira para partos, tiradas de um modelo antigo do médico
brasileiro Moisés Paciornik, de Curitiba. Em comunicação com esta sala havia uma outra
com paredes azuladas e decoração bem agradável. Nela uma piscina de 2 metros de
diâmetro, aproximadamente, para 70 centímetros de profundidade, onde até aquele
momento mais de 121 mães haviam optados por fazer seus partos. A água, colocada na
piscina apenas no momento do parto era apenas filtrada e a temperatura em torno de 37C.
Ela não era esterilizada e nem continha aditivos químicos de nenhuma espécie. Na última
sala interligada havia uma cama de parto, daquelas tradicionalmente encontradas em
maternidades. Odent comentou: “Esta sala esta praticamente abandonada. Se
eventualmente um parto não pode ser realizado na posição natural nas duas salas
anteriores (no caso em posição vertical), ele também não poderá ser realizado na mesa de
parto. Neste caso nós encaminhamos para uma operação cesariana”.
Mas a visita ao hospital de Pithiviers não havia terminado. Antes de partirmos Odent
decidiu me mostrar uma nova forma de atenção que o seu serviço dava aos bebês
prematuros. Ao invés de colocá-los numa incubadora (berço especial com aquecimento) o
prematuro ficava em contato pele à pele com a mãe e com o pai numa sala aclimatizada (
com a neve sendo vista lá fora, pela janela ). Os cuidados tomados eram o aquecimento
adequado do ambiente e limitação das visitas naquela área, tentando proteger o recém
nascido de transtornos que pudessem perturbá-lo.
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