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Capa

L.A. Creative
 

Diagramação

Katherine Salles
 

Revisão e Preparação de Texto


Ana Roen
 

Livro Digital
1ª Edição
Aline Damasceno

 
Todos os direitos reservados © Aline Damasceno.
É proibido o armazenamento ou a reprodução de qualquer parte

desta obra, qualquer que seja a forma utilizada – tangível ou intangível,

incluindo fotocópia – sem autorização por escrito do autor.


Esta é uma obra de ficção. Nomes de pessoas, acontecimentos e

locais que existam ou que tenham verdadeiramente existido em algum

período da história foram usados para ambientar o enredo. Qualquer


semelhança com a realidade terá sido mera coincidência.
Índice
 
Sinopse
Capítulo um
Capítulo dois
Capítulo três
Capítulo quatro
Capítulo cinco
Capítulo seis
Capítulo sete
Capítulo oito
Capítulo nove
Capítulo dez
Capítulo onze
Capítulo doze
Capítulo treze
Capítulo quatorze
Capítulo quinze
Capítulo dezesseis
Capítulo dezessete
Capítulo dezoito
Capítulo dezenove
Capítulo vinte
Capítulo vinte e um
Capítulo vinte e dois
Capítulo vinte e três
Capítulo vinte e quatro
Capítulo vinte e cinco
Capítulo vinte e seis
Capítulo vinte e sete
Capítulo vinte e oito
Capítulo vinte e nove
Capítulo trinta
Capítulo trinta e um
Capítulo trinta e dois
Capítulo trinta e três
Capítulo trinta e quatro
Capítulo trinta e cinco
Capítulo trinta e seis
Capítulo trinta e sete
Epílogo
Agradecimentos
Leia também
Sobre a autora
Sinopse
 

Noivado de mentirinha + Chefe e secretária + gravidez


 

Milionário, arrogante e também sexy como o diabo, o CEO grego


Aquiles Mavridis tem uma única obsessão: ter Isis em sua cama!
Quando a sua mãe, uma matriarca casamenteira extravagante, está

determinada a organizar o casamento dele e dá um ultimato, ele acaba


aceitando a contragosto e um plano vem a sua mente: um casamento de
mentira!
A noiva falsa? A única mulher que ele se via despindo na noite de

núpcias: sua secretária!


Porém, entre experimentos, beijos, toques e fingimentos, o grego

possessivo não contava que desejaria mais e mais que aquele casamento de
mentirinha se tornasse real, e que Isis fosse sua mulher para sempre!

 
 

 
Capítulo Um

— Aquiles! — Dando um gritinho, a mulher, poucos centímetros

mais baixa do que eu, saiu de trás da mesa da sua sala situada em um prédio

histórico de Chelsea, que era bem diferente do arranha-céu moderno em

Wall Street onde ficava o meu escritório.

Com um sorriso enorme, correu em minha direção, seus saltos altos


ecoando no piso de mármore, e me envolveu com seus braços finos e

longos com tanta força que tive que dar um pequeno passo para trás para
não irmos ao chão. Mais firme, abracei-a de volta, sentindo o cheiro doce

do seu perfume criado exclusivamente para ela.


— Faz tempo que não te vejo, meu filho — falou em um grego

apressado.
Fazendo beicinho, fitou-me com os seus olhos azuis que tinham feito
o maior magnata da Grécia decidir que ela seria dele assim que os viu.

— Esqueceu que você tem mãe? — Com um suspiro de desalento,


levou a mão cheia de anéis à testa em um gesto dramático e exagerado.

Agatha Papanastasiou-Mavridis se não tivesse decidido se dedicar ao


mercado do casamento, sem nenhuma dúvida, poderia ter se tornado uma

grande atriz nas tragédias gregas.


— Almoçamos juntos semana passada, se lembra? — falei
suavemente.

Deixando um beijo na sua testa, acariciei o belo rosto moreno


marcado por algumas linhas de expressão que as plásticas não conseguiam

disfarçar.
— Uma semana é muito tempo para ficar sem ver a sua mãe, Aquiles

— emitiu um suspiro profundo —, fora que nesse tempo todo você não me
ligou para dizer se estava tudo bem.
Mágoa surgiu em seus olhos e uma pontada de culpa me invadiu.
— Estava ocupado com uma viagem de negócios, mãe — justifiquei-

me. — Era uma transação importante.


Balançou a cabeça, seus cachos negros acompanhando seus

movimentos.
— Isso não é desculpa, filho, poderia ter tirado alguns minutos no seu

dia para me ligar — ralhou, dando tapinhas nas minhas bochechas, algo que
ela sempre fazia. Fez uma pausa, dando um suspiro, antes de continuar. —
Fora que a sua assistente pessoal me disse que você já tinha voltado dois

dias atrás.
Sufoquei um som baixo e profano que não deveria ser emitido na

frente da minha mãe ao sentir uma corrente de excitação percorrer todo o


meu corpo só com a simples menção da loira escultural.
Minha assistente não era proibida para mim apenas por ser a minha

funcionária há mais de dois anos, mas também por ela ser comprometida
com um bosta qualquer que não tinha a mínima intenção de conhecer. Era

obrigado a admitir que o fato dela ter um namorado não me impedia de


cobiçá-la para mim, de querer mais do que tudo ter as suas pernas

envolvendo o meu torso enquanto tomava-a em cima da mesa da sala de


reuniões, ou no meu jatinho particular, em uma das viagens que éramos
obrigados a fazer juntos, muito menos de sentir ciúmes dela por ter outro

babaca a tocando e fazendo tudo o que eu gostaria de fazer com ela.


No que tangia a Isis, eu me sentia possessivo, tão possessivo quanto o
meu pai se sentia com relação a minha mãe.
Talvez fosse o sangue grego que corria em minhas veias que me fazia

agir como um verdadeiro obcecado com relação àquela mulher, mas me


parecia inevitável, principalmente durante as madrugadas.

Senti minha boca secar com os pensamentos mais do que impróprios,


então, massacrando o desejo súbito e minha obsessão, perguntei em um tom
neutro:

— Ligou para ela?


Minha mãe poderia ser a rainha do drama, mas era igualmente

perceptiva e curiosa, e sua expressão me dizia que ela já havia me lido mais
do que gostaria.

Merda!
— Como você não me atendia e eu estava preocupada… — falou em
um tom inocente e continuou a acariciar o meu rosto. — Isis foi um

verdadeiro amor em me fazer um relatório completo sobre onde você


estava, o que estava fazendo, se estava comendo direito, essas coisas.

Arqueei a sobrancelha.
— Mesmo?
— Sim. — Balançou a cabeça para enfatizar sua fala. Seus olhos

azuis cintilavam. —Fico feliz que pelo menos você dá satisfação a alguma
mulher, filho.
Um calafrio percorreu toda a minha coluna com a implicação das suas
palavras e Agatha sorriu maliciosamente para mim. Dessa vez, tive que me

conter para não soltar os palavrões que estavam na ponta da minha língua.
— Curioso, não? — Continuou. — Como sua secretária te conhece

tão bem e cuida de você como…


— Já está pressionando o garoto? — A voz do meu pai ecoou atrás de

nós. — Pensei que iria esperar por mim, agápi mou[1].


— Kaius! — minha mãe gritou com ele.

Tudo o que consegui fazer foi me virar na direção dele, com o cenho

franzido, tentando decifrar sua fala. Por que raios eles me pressionariam?

Ele sorriu misteriosamente, aumentando ainda mais a minha


confusão. Deu um passo à frente e me abraçou. Apesar da aparência rude e

expressão carrancuda, meu pai era bem-humorado e também amigável,

embora nos negócios ele seja tão rígido quanto eu. Além de extremamente
paciente, ele complementava bem o temperamento dramático da minha

mãe, que, apesar da tendência melodramática, era uma mulher generosa,

alguém que sempre tirava um tempo para ajudar o próximo. Eram

características que nunca poderiam me definir, porque eu era arrogante,


imediatista, controlador e manipulador.
— Filho, que bom te ver — falou animadamente, dando uns tapinhas

nas minhas costas.


— Olá, pai.

Afastou-se de mim e cumprimentou minha mãe com um beijo breve,

mas possessivo, que, como sempre, ela retribuiu, enlaçando o seu pescoço.
Eu apenas balancei a cabeça, resignado. Os dois tinham como hobby a

demonstração de afeto e não se importavam com quem assistia, o que era

um grande prato cheio para a mídia.

— Eu amo você, querida — ele falou alto, acariciando a lateral do


corpo dela.

— Também amo você, Kaius — murmurou.

Como isso era demais para mim, passei por eles e fui me sentar na
cadeira em frente à mesa da minha mãe e tirei o celular do bolso, checando

a minha caixa de e-mail.

Ignorando várias mensagens, deixando para a minha secretária


respondê-las por mim, respondi rapidamente a enviada por um parceiro de

negócios que residia no Brasil. A perspectiva de ganhar mais alguns

milhões fez com que eu sorrisse. Não havia nada que eu gostasse mais do

que a chance de aumentar meu patrimônio. Bem, havia algo que eu poderia
vir a gostar mais e isso envolvia uma loira de olhos azuis nua e…
— Como foi a viagem, filho? — meu pai perguntou em um tom

divertido, me tirando do transe. 

Pego em flagrante divagando, desviei meu olhar do celular,


encontrando os dois na minha frente: minha mãe sentada na sua cadeira de

presidente, como uma rainha, enquanto Kaius estava de pé, acariciando seus

ombros, como se fosse o seu vassalo. E ele era. Eternamente. Meu pai não

tinha nenhuma vergonha em mostrar-se submisso e afetuoso, mas somente a


ela. Não foram poucas as vezes que tinha escutado um longo sermão sobre

os benefícios de se tratar bem sua mulher, como se eu precisasse deles.

— Cansativa. — Colocando o aparelho em cima da mesa, acariciei


minha barba. — A fusão de empresas sempre é uma dor de cabeça

excessiva, mas, no final, o importante é que a Mavridis, em breve, estará

presente no mercado de seguros da América Latina.

— Ótimo! 
Minha mãe bateu palminhas entusiasmada, mas logo a sua

empolgação morreu, dando lugar a uma expressão de muxoxo. Olhou para o

meu pai, que a encarou. Foi um olhar breve, mas estava ciente de que
naqueles poucos segundos várias coisas foram ditas.

Movi-me na cadeira, me sentindo desconfortável, principalmente

quando os dois me fitaram fixamente. 


Outro calafrio me varreu. Conhecia aqueles dois, e algo me dizia que

não gostaria de ouvir o que queriam me falar.


— Algum problema, querida? — Odiei escutar a hesitação em minha

voz.

— Infelizmente sim, Aquiles. — Suspirou, parecendo subitamente


cansada, e voltou a olhar para Kaius, buscando apoio.

Meu pai continuou a massagear os ombros dela, como se desfizesse

os nós de tensão que ela tinha.

— Pode falar, mamãe.


Estiquei o braço em direção a sua mão e entrelacei meus dedos aos

dela, apertando-os suavemente. Agatha poderia ser muitas coisas, mas eu a

amava, e faria de tudo para afastar aquela preocupação de seu rosto.


— Chloe Johnson — falou friamente o nome da influencer que havia

se casado com um dos meus sócios.

O cara adorava a mulher, mas eu, particularmente, a achava uma

chata, além de ser mimada e não conseguir aceitar bem uma rejeição. Ela
tinha tentado de tudo para me seduzir nas festas que fui obrigado a

participar, porém nunca tive o mínimo interesse por ela, e, se for honesto,

por nenhuma outra mulher, por mais bonita que fosse. Queria Isis, apenas
ela.

— Sabe quem ela é? — perguntou minha mãe .


Fiz que sim com a cabeça.

— Infelizmente. O que que tem essa mulher?

Os olhos dela cintilaram de raiva, seu temperamento forte vindo à

tona.
— Apesar de ter sido uma cliente difícil, pelas mudanças constantes

feitas até o último minuto, você sabe que a minha equipe fez o melhor para

realizar a festa de casamento dos sonhos dela — falou em um tom calmo


que contrastava com o seu humor.

— Tenho certeza que sim, mamãe — sussurrei em um tom doce,

apertando novamente os dedos dela. — Você é a melhor organizadora de

casamentos de toda Manhattan.


— Obrigada. — Sorriu, sentindo-se adulada. — Busco sempre me

esmerar para transformar o sonho dos casais em realidade.

— E consegue magistralmente, agápi mou. — Meu pai se curvou para


deixar um beijo na sua bochecha.

— Mas nem todos parecem concordar — continuou, e novamente vi

tristeza e raiva transparecerem na feição da minha mãe. — Apesar dos

nossos esforços, ainda assim, Chloe foi nas suas redes sociais e criticou o
meu trabalho.

— Ela é uma tola — cuspi, meu próprio temperamento se tornando

volátil. Odiei aquela garota ainda mais por ferir a minha mãe.
— Pode até ser — suspirou —, mas você sabe quanta influência e

dinheiro ela tem, ainda mais agora que conseguiu se casar com um
bilionário.

— Nada que você também não tenha, tem mais até do que ela —

disse suavemente.

Fez que não com a cabeça, seus cachos balançando.


— Eu trabalhei duro para atingir o status que a minha empresa tem

hoje — murmurou. Apesar de ser uma mulher extremamente rica, ela era

orgulhosa dos seus feitos. — Com apenas uns stories, ela fez com que
algumas pessoas influentes cancelassem os contratos conosco, fora que as

pessoas têm sido bem maldosas.

Fechei as mãos em punho, controlando-me para não socar a mesa


com força; meu pavio era muito curto.

— Sinto muito, mãe. — Fiz uma pausa e completei: — Isso não ficará

assim.

— Não, não mesmo. — Desfez o nosso aperto e moveu a mão de


maneira efusiva, suas pulseiras tintiritando. — Eu tenho toda a intenção de

dar a volta por cima ao organizar o maior e mais luxuoso casamento que já

se viu e que será comentado em todas as principais revistas do tema.


Sorriu para mim, triunfante. Não sei por quê, mas, pela terceira vez

em menos de uma hora, senti outro calafrio me percorrendo. Olhei para o


meu pai e a sensação esquisita se intensificou ao flagrá-lo me olhando
fixamente.

Engoli em seco, e voltei minha atenção para a mulher espalhafatosa.

— Tenho certeza que sim, mãe. — Não consegui disfarçar a minha


hesitação quando os olhos azuis dela brilharam. — Você poderia pensar em

uma promoção, em que seria selecionado um casal de pombinhos e…

— Não será necessário — cortou-me.


Estranhamente o sorriso dela ficou ainda maior.

— Não?

— Eu tenho um cliente à vista — murmurou misteriosamente.

Remexi-me no assento novamente.


Não passou despercebido que eu estava agindo como um garotinho,

não o homem-feito que estava à frente de várias empresas e era o CEO da

maior seguradora de Nova Iorque e, em breve, da América Latina.


— Mesmo?

— Sim — falou suavemente.


— Quem?
Não respondeu de imediato. Após uma pausa dramática, disse:

— Você!
Capítulo dois

 
— O quê? — Meu tom saiu alguns decibéis mais alto.

Sem dúvidas, eu tinha escutado errado. A ideia era absurda até


mesmo para a minha mãe e suas excentricidades.

Afrouxei um pouco a minha gravata, sentindo o tecido subitamente

apertar o meu pescoço.


— Eu organizarei o seu casamento — disse em um tom firme e

determinado, o mesmo que muitas vezes usou e que fez com que tanto eu

quanto meu pai obedecêssemos às suas vontades.


Olhei-a por uma fração de segundos, incrédulo, minha mente

custando a processar a fala dela.


— Está louca? — Não escondi minha exaltação quando a minha ficha

caiu. Dei um salto na minha cadeira, erguendo-me.

— Não fale com a sua mãe dessa forma, Aquiles — Kaius foi severo
ao brigar comigo, como se eu não tivesse feito algo mais do que

compreensível, ignorando o quanto era absurda a ideia da minha mãe.

Comecei a andar de um lado para o outro, acuado, contendo uma série


de palavrões que com facilidade deixariam a minha boca.

Um silêncio caiu pesado sobre o escritório; as únicas coisas que eu

escutava eram minha respiração acelerada e o som dos meus passos.


Parei e encarei meu pai, que mantinha uma mão firme sobre o ombro

da minha mãe, ostentando a mesma expressão determinada em sua face.


— Você concorda com ela? — perguntei, tomando o cuidado de usar

um tom mais baixo.

— O que você acha, filho? — Ele deu de ombros.

Não deveria estar chocado com essa resposta. Meu pai sempre

apoiaria as ideias da Agatha, por mais insensatas que fossem.

Diferentemente das famílias gregas tradicionais e patriarcais, meu pai dava

grande poder a esposa.

Voltei a andar.
— Vocês estão loucos — murmurei entre dentes, passando a mão pela
minha cabeça. Se meus cabelos fossem um pouco mais compridos, com

certeza eu estaria puxando os fios.

— Aquiles — Kaius falou perigosamente e eu estaquei no lugar.

— Você não é mais um menino, filho… — Minha mãe começou em

um tom doce que não me enganava. Eu me virei para os dois.

— Sabem que não estou me envolvendo com ninguém no momento,


não sabem? — Arqueei a sobrancelha de modo arrogante e cruzei os braços

na frente do corpo.

Meu pai bufou e minha mãe assentiu, concordando.

— Estamos mais do que cientes disso, já que faz tempo que não nos

apresenta nenhuma moça e… — Balançou a mão, e eu fiz um gesto para

que prosseguisse. —... nem aparece nas colunas de fofoca ao lado de

ninguém.
— Sério, mãe? — Estava surpreso por ela procurar saber da minha

vida através de revistas.

Deu de ombros.

— Ou será que você é apenas discreto demais? — insinuou.

Não respondi. Além dela estar ciente de que eu não costumava manter

casos breves — ambos haviam me ensinado a não usar meu status e


dinheiro para seduzir as mulheres como muitos faziam — não iria admitir
em voz alta o meu celibato por conta da minha fixação por Isis; era pessoal

demais.
— Está mais do que na hora de você começar a construir a sua

família, Aquiles. — A voz grossa de Kaius ecoou no escritório e eu soltei


um gemido, na verdade desejava praguejar. — Tem trinta e dois anos. Com
a sua idade, eu já era pai de um lindo garotinho de doze anos.

— E eu quero netos, o gios mou[2] — minha mãe falou animadamente.


— Muitos deles, correndo pela casa, fazendo bagunça… Sabe que eu não

pude ter mais filhos...


Engoli em seco. O sonho dos meus pais sempre foi ter uma casa cheia
de crianças, mas, infelizmente, minha mãe teve uma gestação difícil

demais, e ter uma segunda poderia ter sido fatal para ela e o bebê. Só não
entendia porque eles nunca pensaram em adotar.

— Não é tão simples assim, mãe…


Cansado sentei-me na cadeira novamente e fechei os olhos por um

momento. No fundo, eu não era avesso a relacionamentos sérios, a me


apaixonar e casar com a mulher que venha a amar, porém, depois de tentar
algumas vezes, acabei priorizando outras coisas na vida: dinheiro e poder.

— Não vejo por que seria difícil, Aquiles. É um homem educado, é


versado em vários temas, rico e ...digamos... você é bastante atraente e

viril… — Bateu seus dedos sobre a mesa, impaciente, e eu fiz uma careta
com o uso da palavra "viril". — Também acho que deve ter puxado algo do

seu pai no quesito sedução…


Piscou para mim, voltando a sua atenção para o homem ao seu lado.

Estendeu a mão para ele que, com um olhar malicioso, pegou os dedos finos
e, cavalheirescamente, os levou aos lábios. A mulher deu uma risadinha,

deliciada pelo gesto de Kaius, antes de sorrir. Permaneceram imersos um no


outro por alguns instantes, parecendo não se recordarem da minha presença,
algo que acontecia frequentemente. Os dois eram tão apaixonados um pelo

outro que se esqueciam de tudo ao seu redor.


Assisti a demonstração de afeto, abstendo-me de fazer qualquer

comentário a respeito sobre o quão mestre nas artes da sedução meu pai era.
Pigarreei, quando a impaciência me dominou. Amava os dois, mas a
ideia absurda tinha mexido com o meu brio.

— Oh, o menino! — Minha mãe emitiu um som dramático, levando a


mão ao peito como se eu houvesse lhe dado um susto, apenas para sorrir

logo depois.
Era um sorriso maquiavélico, como se ela tivesse um plano.

Gemi outra vez.


Merda! Provavelmente esse tempo todo minha mãe estava
maquinando algo. E eu tinha certeza que não iria gostar…
— Se você acha que é algo tão difícil assim, filho… — começou a
dizer em um tom suave —, eu e o seu pai podemos te ajudar a encontrar
uma esposa…

Eu engasguei com a sua fala, sem acreditar naquilo que acabou de


dizer.

— Vocês o quê? — falei em meio a tosse que me acometeu, o que fez


com que lágrimas se acumulassem em meus olhos com a força do impacto.
— Temos uma lista com algumas candidatas — disse com

naturalidade, como se estivesse falando de itens que queria comprar no


supermercado.

— Theós[3]! — murmurei, fechando os olhos, contando até dez


mentalmente para não explodir.
— Todas elas são de origem grega — continuou.

Bufei, sem acreditar naquela mesquinharia dela.


— Desde quando você se importa com essa tradição tola de se casar

somente com pessoas da sua origem?


— Aquiles… — meu pai voltou a dizer meu nome em um tom

perigoso.
Minha mãe, no entanto, não precisava de defesa, pois ela continuou
seu discurso: 
— Como aparência não é a coisa mais importante em um
relacionamento, separamos as moças pelas características que possam te
atrair em uma companheira e…

Continuou a tagarelar, impelida pelo seu senso casamenteiro, que não


se estendia somente a realizar cerimônias para casais apaixonados,

apontando as qualidades de cada uma das "pretendentes". Não prestei


atenção no falatório, não me importava se algumas dessas moças poderiam
ter pontos que eu pudesse admirar. As informações entravam em um ouvido

e saíam pelo outro.

Voltei a fitar o meu pai, incrédulo. Ele deu de ombros, como se


dissesse que não tinha nada a ver com aquilo, mas também não faria nada

para impedir minha mãe.

Loucos!

— Você pode ler todas as informações aqui. — Pegou um envelope e


o estendeu para mim quando viu que estava desatento. — Tem fotos

também, caso você não as reconheça pelo nome.

Não toquei o invólucro. Se o pegasse, provavelmente o rasgaria em


pedaços, demonstrando o que pensava daquilo tudo.

Para quem havia se casado por amor, minha mãe estava abordando o

assunto de maneira bastante cínica e fria. Poderia esperar isso de mim, mas
não dela. Contive-me, não feriria a sensibilidade de Agatha, não quando
isso culminaria em mais drama. Só de pensar no quanto ela falaria, senti

minha cabeça pulsar.


— Aquiles — insistiu, continuando a balançar o papel pardo.

— Eu não preciso de uma lista de candidatas, muito menos da ajuda

de vocês dois para encontrar uma esposa. — Ainda que tivesse tentado
imprimir suavidade ao meu tom, fui arrogante, explodindo. — Acho que

sou perfeitamente capaz de, sozinho, escolher alguém que eu queira passar

o restante da minha vida, alguém que me complete, que me ame, e que eu

também admire e por quem me apaixone.


— Mesmo?

Sua expressão era ardilosa. O sorriso e o brilho em sua expressão

indicavam que ela tinha calculado a minha reação e que o objetivo dela era
me deixar contra a parede, dando corda para que eu me enforcasse por

conta própria, caminhando para a sua armadilha com boa vontade.

Merda! O tempo todo ela estava fingindo.


Respirei fundo e soltei o ar com força, reunindo o restante da minha

paciência para lidar com a situação.

— Isso não quer dizer que eu irei… — Antes que eu pudesse

continuar, meu celular começou a tocar e uma pontada de alívio me invadiu.


— Preciso atender.
Sem esperar o consentimento deles, algo que realmente não precisava,

ergui-me da minha cadeira e caminhei para fora do escritório.

Cada passo que eu dava, sentia os meus músculos irradiarem tensão.


Trinquei os dentes. Porra!

— Aquiles Mavridis — atendi com grosseria, antes que caísse a

ligação, descontando a minha frustração em quem quer que fosse.

— Senhor Mavridis — a voz levemente rouca da minha secretária


ecoou nos meus ouvidos e meu corpo todo se arrepiou em resposta. Tive

vontade de socar a pilastra com força por me sentir um grande tolo. — O

senhor me pediu para contatá-lo quando eu conseguisse falar com o


secretário do senhor Daskalakis, mas posso ligar mais tarde, ou passar as

informações por e-mail para que possa ver depois.

— Desculpe-me pela grosseria, ángelós mou[4], estou tendo um dia

difícil — confessei, inspirando fundo, fechando e abrindo a minha mão

livre em busca de autocontrole. — Tem alguma notícia boa para mim?


— Se considerar uma reunião à uma da manhã uma notícia boa... —

gracejou, em um ato extremamente pessoal para uma funcionária, fazendo

com que eu gargalhasse.

Ela riu também, mexendo com o meu brio, com minha libido.
Euforia se espalhou pelo meu corpo, e não era por que ela finalmente

havia conseguido uma videoconferência com o milionário escorregadio,


mas, sim, por ela. A sensação aumentou ao imaginar seus olhos azuis

brilhando de diversão enquanto um sorriso suave se formava em seus lábios


cheios e rosados, boca que queria tocar com a minha, descobrindo se era tão

gostosa como aparentava.

Comecei a ficar ofegante, porém tentei me dominar a tempo para não


deixar tão perceptiva a minha ânsia.

Theós! Eu parecia um maldito tarado!

— Isso é tudo, Isis? — disse em um tom sério depois de alguns

segundos em silêncio, escutando o som baixinho da sua respiração


cadenciada.

— O diretor-geral da empresa de prestação de serviços urbanos

acabou de enviar os documentos que o senhor tinha solicitado com


urgência. — Fez uma pausa, provavelmente mexendo nos seus bloquinhos

de anotações. — A senhora Morton ligou desejando marcar uma reunião

ainda essa semana para apresentar a sua nova ideia…

Fiz uma careta. Não suportava a mulher, que só fazia com que eu
perdesse o meu tempo, mas era melhor ouvir suas ideias infrutíferas do que

continuar aquela conversa exasperante com a minha mãe.

— Diga a senhora Morton que se ela quiser mesmo me encontrar, ela


tem que estar no meu escritório dentro de meia hora.
— Sim, senhor Mavridis. — Não retrucou, embora provavelmente

estivesse achando aquilo estranho, principalmente por eu ter dito que iria

ficar a tarde toda fora. — Posso ajudar em mais alguma coisa?

— Peça uma moussaka[5] para o meu almoço — ordenei suavemente.

— Entrada? Sobremesa? Alguma bebida em específico?

— Não é necessário, ángelós mou[6].

— Okay.
Com um até breve, encerrei a ligação, guardando o celular no bolso.

Suspirando fundo, chacoalhei a cabeça, pensando na dor de cabeça que com

certeza eu teria ao longo do dia, o novo pulsar na minha têmpora provava


isso. Emitindo um som de resignação, voltei para a cova da “leoa” para me

despedir.

— Está tudo bem, filho? — minha mãe perguntou.

— Sim, mamãe. — Dei de ombros. — Surgiu um problema urgente


que tenho que resolver e que irá me impedir de almoçar com vocês como

era a minha intenção — disse e me aproximei dela para deixar um beijo na

sua testa.
— Deveria ter te ensinado que é muito feio mentir para a mãe,

Aquiles. — Fez drama, fitando-me com sagacidade. Abri a boca para dizer

algo, mas ela me impediu, dando tapinhas no meu rosto, maternalmente. —

Eu te conheço, filho, isso é apenas uma desculpa.


Merda! Por que as mães tinham que ser tão perceptivas?

— Por mais que você tente fugir, o gios mou[7], você não conseguirá

escapar de mim — sentenciou em um tom firme.

— Não estou fugindo — retruquei, franzindo o cenho.


A sobrancelha negra se arqueou.

— Tudo bem, filho — ergueu o rosto para que eu a beijasse

novamente —, vou fingir que acredito nisso... por enquanto.


Bufei e dei-me por vencido, tocando a testa dela com os meus lábios.

— Pai? — Aproximei-me dele e Kaius me abraçou.

— Te vejo no domingo? — perguntou ao me soltar, parecendo

expectante.
— Claro. — Sorri, evitando pensar que eu teria que enfrentar o

“ataque” casamenteiro da minha mãe e não teria onde me “esconder”. —

Não perderia um jogo do Panathinaikos, nunca.


Apesar do futebol deles estar muito aquém do restante dos times

europeus, o clube grego era uma das paixões do meu pai e as partidas

acabavam por nos unir.


— Certo, certo. Boa sorte na resolução dos “problemas” — falou em

um tom de brincadeira, provocando-me, enquanto dava tapinhas nos meus

ombros, rindo da sua própria piada, o que fez minha mãe bufar. Pelo menos

alguém estava de bom humor.


Despedindo-me de Agatha outra vez, deixei o escritório dela, não sem
antes perceber o olhar cúmplice que os dois trocaram.

Eu estava ferrado!
Capítulo três

 
— Não pode ser — sussurrei, deixando o teste de gravidez positivo

cair ao chão, o barulho dele batendo contra o piso ecoando dolorosamente

nos meus ouvidos.


As lágrimas que tinha tentado conter enquanto esperava aflita o

resultado, torcendo para que desse negativo, agora deslizavam quentes pela

minha face, e eu usei minhas mãos trêmulas para me apoiar na pia do


banheiro, já que minhas pernas estavam prestes a ceder. A possibilidade de
ser um falso negativo era praticamente nula, pois além do atraso menstrual,

eu sentia uma sensibilidade maior nas mamas e, também, fadiga.


O desespero me invadiu e o amargor que tomou a minha boca me fez

sentir ainda mais péssima. Também me sentia culpada pelo bebezinho que

crescia em meu ventre.


Não era dessa forma infeliz que deveria receber a notícia de que eu

seria mãe. Tinha que estar dando pulos de alegria, chorando de emoção, de

felicidade, como sempre imaginei que me sentiria ao descobrir uma


gravidez, afinal, sempre quis constituir uma família, uma bem grande e

barulhenta, mas nunca me passou pela cabeça que eu acabaria ficando

grávida de um ficante e que ocorreria justamente no momento em que o


meu maior objetivo de vida era aprender tudo o que podia com Aquiles e

assumir de vez o cargo de alto escalão de uma das empresas do


conglomerado Mavridis. Eu emendava um curso atrás do outro para me

aprimorar, e trabalhava duro, tanto que em menos de um ano me sentiria

mais do que pronta para o cargo que ele me ofereceu, mas que eu tinha

recusado por achar que era muito inexperiente.

Não que tivesse sido descuidada nas minhas transas, pelo contrário,

por mais que Benedict insistisse, o que ocorreu várias vezes, sempre usei
proteção. Infelizmente, a camisinha tinha saído quando ele estava gozando

e eu senti um pouco do seu líquido me preencher. Na hora, não havíamos


conversado sobre a chance de eu ter engravidado. Na verdade, ele tinha me
deixado logo depois, dando uma desculpa qualquer que nem me recordo

mais.

Com a correria do trabalho, eu não via Ben há mais de um mês.

Trocávamos poucas mensagens, perguntando como o outro estava, porém

nada muito além disso, já que eu me sentia cansada até mesmo para ficar no

celular.
Ser pupila de Aquiles Mavridis não era nada fácil, exigindo grande

flexibilidade e proatividade, uma vez que o meu chefe às vezes pedia que

fizesse hora extra, algo que se tornou mais recorrente ultimamente, pois o

grego parecia impaciente, como se algo o incomodasse. Tentei sondá-lo, já

que muitas vezes falávamos sobre nossas preocupações, porém ele não se

abriu. Respeitei a sua decisão e não mais o pressionei.

Olhei-me no espelho, chorando ainda mais ao sentir-me uma grande


idiota por ter me deixado levar por um relacionamento que nunca teve

futuro, que era apenas uma diversão para ambas as partes, uma brincadeira

que, nesse momento, eu considerava bastante tola, apesar de não ter nada de

errado. Muitas pessoas tinham casos, por que eu me negaria um pouco de

prazer? Talvez, no fundo, soubesse que merecia coisa melhor do que a

atenção esporádica que o Ben me dava. Agora não importava, minha vida
estaria ligada à dele para sempre.
— Você não tem nenhuma culpa pela escolha errada da mamãe —

falei baixinho, depois de vários minutos chorando.


Inspirei fundo, expirando devagar.

Subindo um pouco a minha blusa, levei a mão à barriga em um gesto


instintivo, recebendo uma espécie de choque com esse primeiro toque. Uma
sensação poderosa fez meu coração acelerar.

Ainda descontrolada pelas emoções que se agitavam em meu interior,


comecei a acariciar a região, buscando uma conexão com o serzinho que

havia dentro de mim e que não tinha pedido para nascer.


O gesto calmo, de reconhecimento, fez com que lentamente eu me

tranquilizasse, apesar de uma pontinha de medo ainda persistir.


— Me desculpe pela minha reação, querido — murmurei, deslizando
carinhosamente meus dedos pelo abdômen; um pequeno sorriso se

formando em meus lábios —, só estou bastante assustada e precisarei de


tempo para me acostumar às mudanças que ocorrerão em minha vida. Não

será fácil conciliar tudo, sabia?


Sorri, pela primeira vez.

— Creio que até mesmo o seu pai ficará abalado.


Pensar na reação de Benedict — que eu não tinha a mínima ideia de
como seria — fez com que eu sentisse uma forte onda de náusea, a bile

subindo e queimando a minha garganta. Para minha sorte, eu estava


próxima ao vaso, pois não aguentei segurar e coloquei tudo para fora. Torci

fortemente para que o enjoo não fosse uma constante. Depois de limpar a
boca e lavar o rosto, peguei o teste caído no chão. Provavelmente, Ben iria

querer ver com os seus próprios olhos os dois riscos. Sem o exame em
mãos, nem eu mesma acreditaria no meu estado. Só me restava torcer para

que a reação dele fosse melhor do que a minha. 


Capítulo quatro

 
— Senti sua falta, baby — o homem de cabelos compridos falou

assim que abri a porta para ele.


Olhou-me maliciosamente de cima a baixo e se aproximou de mim,

tentando beijar os meus lábios, porém, antes que ele conseguisse, virei o

rosto, rejeitando-o, dando um longo passo para trás.


— Hey, assim não é um bom jeito de começarmos, gracinha. — Fez

uma careta, mas logo abriu um sorriso lento e sedutor, o mesmo que por

muitas vezes eu achei sexy, mas não dessa vez. Estava enjoada. Culpei o
nervosismo que sentia pelo que eu tinha que falar. — É um novo tipo de
jogo em que você torna as coisas mais difíceis para mim? Sabe que eu gosto

disso.
Tentou me tocar, porém recuei outra vez.

— Não foi por isso que te chamei, Ben. — Balancei a cabeça em

negativa, dando ênfase a minha fala.


— Não? — Fez muxoxo. — Pensei que você sentia “urgência” por

mim.

Quis fazer uma careta com a arrogância dele. Antes isso não tinha
sido um empecilho para ir para a cama com ele.

— Temos que conversar, Benedict — adotei um tom mais firme e me

coloquei de lado para lhe dar passagem. — Entre, por favor.


— Tudo bem. — Deu um passo à frente, entrando, e eu tranquei a

porta. — Não tenho ideia do que temos de tão importante para falarmos que
não podia ser dito por telefone.

O tom dele me deixou um pouco irritada, e o fato de sentar-se

esparramado no meu sofá como se fosse o dono da casa não ajudou em

nada, mas respirei fundo, buscando me manter calma. A esperança de que

Ben aceitasse a minha gravidez melhor do que eu tinha ido pelo ralo.

Sentei-me na poltrona de frente a ele, recusando-me a ficar ao seu


lado. Senti minhas palmas molhadas com o nervosismo, e uma gota de suor

escorreu pela minha coluna. Não me passou despercebido sua careta.


— O que está acontecendo, baby? Você está esquisita. — Torceu os
lábios. — Fria também.

Não respondi.

— Quer terminar nosso caso, é isso? — Fez uma pausa. — Não

precisava ter me feito vir até aqui só para isso.

Senti mais raiva diante do fato dele achar que, se não fosse para

transar, eu era uma grande perda de tempo. Eu não o amava, mas isso não
me impedia de me sentir como se fosse um lixo, um objeto descartável.

Uma idiota.

Quis bater palmas irônicas para mim mesma. Eu era uma imbecil.

Novamente senti minha boca encher de fel. Dessa vez, o amargor era

dirigido somente à ele.

— Eu estou grávida, Ben — falei alto.

Seus olhos castanhos claros se arregalaram, parecia completamente


em choque.

Abriu e fechou a boca várias vezes, mas ele não conseguiu emitir

nenhum som.

— Estou grávida, Ben! — repeti, quando o silêncio dele feriu

metaforicamente os meus ouvidos.

— Você não pode estar falando sério, Isis! — gritou, nervoso,


jogando uma mecha de cabelo para trás. — Nunca pensei que você fosse
capaz de fazer uma brincadeira tão sem graça.

Senti uma pontada de dor no peito, que pareceu irradiar lentamente


pelo meu corpo com a acusação. Foi instantâneo meus olhos lacrimejarem,

porém não iria chorar na frente do meu ex-amante. Eu não tinha pensado
muito em como a nossa relação ficaria depois disso, mas agora eu tive a
certeza de que não queria mais nada com ele. Ben estava me enojando de

várias maneiras. Até mesmo o cheiro do seu perfume caro me enjoava.


Respirei fundo, contendo a ânsia de vômito.

— Não é uma piada, Benedict. — Minha voz saiu mais falha do que
gostaria, revelando o quanto, pouco a pouco, ele me abalava. Meus

sentimentos estavam voláteis. Eu era um misto de tristeza, ansiedade, raiva,


felicidade e decepção. — Se não acredita em mim, veja por si mesmo.
Apontei para o teste de gravidez em cima da mesa de centro. Ele fez

cara de nojo para mim como se tivesse falado para ele tocar na minha urina,
mas, ainda assim, se inclinou sobre o objeto e franziu o cenho.

— Eu não posso ser pai! — Levantou-se de súbito e começou a


balançar a cabeça, chacoalhando-a como se fosse um animal acuado. —

Isso definitivamente não podia ter acontecido! Porra, Isis! 


Emitiu uma série de impropérios, e eu quase fiquei tonta de tanto que
Ben andou de um lado para o outro na minha pequena sala de estar.
— Como? — Parou na minha frente e me olhou como se a culpa

fosse completamente minha.


Ergui-me também, não deixando que ele me intimidasse.

— Se você não se lembra, a camisinha saiu do seu pau da última vez,


preservativo que se fosse por você, nem teria usado! — explodi, sentindo a

fúria vencer o meu estômago embrulhado, cutucando o peitoral dele.


Revirou os olhos. 
— Então não venha colocar a culpa apenas em mim, Benedict —

continuei —, você tem tanta participação nisso quanto eu.


Fez que não com a cabeça e foi a minha vez de emitir um som nada

elegante que mais se assemelhava a um rosnar.


— Você deveria ter tomado a pílula do dia seguinte — cuspiu.
Uma pontada de culpa me invadiu. Tinha que confessar que havia me

esquecido completamente dessa possibilidade, mais uma razão para eu me


considerar uma tola.

Bufou.
— Eu tenho vinte e três anos, tenho muitas coisas para viver antes de

ser pai.
— E eu não? — Cruzei os braços na frente do corpo.
— Você já é formada, madura… mais velha — cuspiu.
Tombei minha cabeça para trás e uma risada grossa, seca, sem um
pingo de diversão, deixou os meus lábios, o som era estranho até mesmo
para os meus próprios ouvidos. Não estava acreditando que ele estava me

chamando de “velha” na cara dura. Nossa diferença de idade era de apenas


quatro anos.

— Até então eu não era tão velha para trepar com você — retruquei.
— Não, não era — admitiu ao dar de ombros —, mas agora é
diferente. Não estou preparado para me amarrar a você por algo que você

não preveniu.
Mais uma pontada de culpa me assolou.

— E quem confirma que esse filho é realmente meu? — disse em um


tom jocoso. — Até onde eu sei, essa criança pode ser do seu…

Antes que concluísse, desferi um tapa forte em seu rosto, que fez com
que minha palma ardesse com o impacto. Nunca na minha vida tinha
agredido alguém e fiquei em choque enquanto ele me olhava atônito. Estava

prestes a chorar outra vez.


— Por que fez isso, Isis? — Levou a mão ao rosto, acariciando o

local onde eu havia batido, os olhos brilhando de raiva.


— Você não tem o direito de insinuar que eu sou tão baixa em querer
fazer você assumir um filho que não é seu — falei baixinho —, muito

menos sugerir que eu seria antiética em dormir com o meu chefe.


— Será? — disse rispidamente, atacando-me em um tom que eu
nunca tinha escutado antes. — Quem garante que ele não quis essa criança
e você está tentando jogá-la para mim?

Me senti ferida pela sua pergunta, que não só questionava o meu


caráter, mas também a do meu chefe, que era um homem íntegro.

— O teste de DNA — murmurei, esforçando-me para não desabar.


Benedict parou, parecendo surpreso por um momento. Logo começou
a andar outra vez e a falar um monte de palavrões, me xingando,

amaldiçoando o momento em que se envolveu comigo. Minha reação tinha

sido ruim, a dele, mil vezes pior. Toquei o meu ventre, como se eu pudesse
proteger meu bebê dele, das suas palavras.

Odiei-me quando um soluço deixou os meus lábios.

— O que vamos fazer? — perguntei, tempos depois, tentando soar

prática, embora estivesse estilhaçada por entro. 


— Eu? — Fitou-me de cima a baixo. — Não sei você, mas eu não

farei nada.

Fiquei congelada, sem nenhuma reação a não ser continuar


respirando.

Ele… Ele… Benedict não estava me pedindo para…

Um bolo enorme se formou na minha garganta e eu não consegui


mais conter o pranto. As lágrimas deslizaram quentes pela minha face.
Apesar do medo absurdo, das inseguranças que eu sentia, nunca

poderia abandonar meu filho. Meu bebê era alguém a quem eu aprenderia a
amar cotidianamente e sentia que eu o protegeria com todas as minhas

forças. E pensar que o pai queria se desfazer dele, como se fosse algo

descartável… isso era extremamente doloroso.


— Como? — Mal escutei a minha própria voz depois de vários

instantes em silêncio.

— O que tivemos juntos foi muito bom enquanto durou, Isis, mas…

— Deu as costas para mim, aproximando-se da porta para sair, melhor,


fugir, como o covarde que era. — Eu não quero essa criança, baby.

Encarei-o, mas o rosto dele era um borrão. 

— Não é assim que funciona, Benedict… — Tirei forças não sei de


onde para argumentar, meu corpo todo tremendo, minha respiração

ofegante. Meu peito se apertou pelo meu bebezinho; meu coração bateu

dolorosamente por ele. — Mesmo que em partes a culpa tenha sido minha,
você não pode simplesmente fingir que ele não existe e…

— Não estou preparado para cuidar de um bebê, sinto muito —

interrompeu-me, erguendo as duas mãos em autodefesa. — Sou jovem

demais para esse tipo de responsabilidade. Quero viver, curtir, não trocar
fraldas. Se você quiser essa criança, o problema é seu, não conte comigo

para nada.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, girou a maçaneta e saiu,

batendo a porta atrás de si. Não tive forças para ir atrás dele naquele

momento para implorar. A dor era pungente demais, e a única coisa que
conseguia fazer era chorar, não por mim, mas pela sementinha que crescia

em meu ventre. O pequeno, ou pequena, nem havia nascido e já era

indesejado.

O pensamento fez com que meus soluços e choro se tornassem mais


intensos, e eu me vi caindo de joelhos.

— Desculpe-me, meu amor — sussurrei, levando a mão à minha

barriga —, eu não quis te ferir.


Suspirei, continuando a alisar o meu abdômen.

— Talvez seu pai só esteja com muito medo…

Duvidava muito disso. A expressão dele, a convicção em sua voz e

nos seus olhos davam-me quase cem por cento de certeza. Lutaria pelos
direitos dessa criança, mas, por mais que eu insistisse e procurasse por

Benedict, ele não estaria ali para cuidar, para amar, e para fazer o seu papel

de pai, para me apoiar nos momentos que eu precisasse dele; que o nosso
filho precisasse. A maternidade seria bastante difícil e solitária sem o apoio

do pai do meu bebê.

O peso da solidão despencou sobre os meus ombros como a chuva

que só então percebi que caia, o som das gotas batendo contra o vidro da
janela.

Dessa vez, eu chorei por mim mesma.


Capítulo cinco

 
— Eu não sei o que farei — minha secretária disse em um tom fraco.

— Venha cá, menina, me dê um abraço — uma mulher falou em um


tom suave e ouvi o som de uma cadeira se movendo.

Estaquei no lugar, mantendo-me oculto, mesmo que soubesse que era

rude escutar a conversa dos outros, mas eu não tinha nenhum escrúpulo em
relação a Isis. Ainda assim, a possibilidade de ela estar chorando, triste, fez

com que eu me sentisse ainda mais próximo de explodir.

Toda oportunidade que minha mãe tinha, ela trazia à tona o assunto
“noivado”. Pensei que com o passar do tempo, vendo que não cederia aos
seus caprichos, Agatha acabaria desistindo de fazer o meu casamento.

Deveria ter imaginado que ela não abandonaria o seu intento da mesma
forma que eu não me renderia, ainda mais que a maldita socialite e suas

amigas vinham fazendo uma verdadeira campanha contra a empresa da

minha mãe. Sugeri processá-las por calúnia, mas Agatha não me escutou.
O som abafado de pranto me trouxe de volta para a realidade, toda a

minha atenção focando na minha secretária.

A irritação me invadiu. Não pela mulher que chorava, mas pelo quer
que fosse que a deixava naquele estado.

Há dois dias, Isis parecia apática, seus olhos sem o brilho costumeiro.

Embora não pudesse me queixar sobre a sua eficiência, ela trabalhava


mecanicamente, como se a mente estivesse longe do que fazia. Odiava a

tristeza que havia nela, que não conseguia mascarar por completo sob a
fachada de profissionalismo.

Nunca imaginei que a felicidade de Isis, sua vivacidade, fossem tão

importantes para mim. Sentia falta dos seus sorrisos e do bom humor. Disse

para mim mesmo que ver minha funcionária contente, sorrindo, era algo

natural, afinal, além de ser a pessoa que eu mais confiava

profissionalmente, era também a mulher que eu queria levar para cama.


— Eu me sinto tão sozinha, Pam — minha secretária murmurou.
— Posso não servir de muita coisa, querida, mas você não está
sozinha.

A fala da outra mulher foi um estopim para mim e, disposto a

descobrir a qualquer custo o que a fazia sofrer, saí do meu “esconderijo” e,

em poucos passos, aproximei-me delas.

— Não, não está — confirmei o que a desconhecida tinha dito, sem

hesitar.
Independentemente da situação, eu a apoiaria da mesma maneira que

ela tinha feito, várias vezes. As duas mulheres, que estavam abraçadas, se

afastaram com um pulinho para trás, parecendo assustadas.

— Senhor Mavridis — Isis sussurrou, surpresa, e o receio que havia

nos olhos azuis, como se eu fosse repreendê-la pelo fato de estar chorando,

foi como receber um tapa na cara, um bem doloroso, por sinal.

— Gamó[8]! — Praguejei em grego, frustrado.

— Meu Deus! — A tal de Pam deu um gritinho.

Finalmente olhei para a outra mulher, reconhecendo a baixinha de

traços latinos que fazia a limpeza do meu escritório e que parecia bastante

nervosa por estar frente a frente comigo. Ela esfregava as mãos

convulsivamente no tecido da calça. Claramente tinha medo de ser demitida


por um motivo tão fútil. Eu sabia que minha aparência às vezes poderia

incitar medo, principalmente em uma sala de reunião, mas, perante a uma


simples funcionária, era impossível não me sentir ainda mais amargo.

Talvez eu em nada estivesse contribuindo para evitar esse fato, já que,


provavelmente, minha expressão estivesse mais séria do que de costume.

— M-e des-cul-pe, senhor, eu… — gaguejou.


— Está tudo bem, Pam.— Virou-se para a mulher e tocou a mão dela,
procurando acalmá-la. — O senhor Mavridis é um homem justo. E se tiver

alguém aqui que está tendo um comportamento impró… — Interrompi


minha secretária com um pigarrear.

Voltando sua atenção para mim, Isis engoliu em seco e passou a mão
pelo seu rosto molhado, como se quisesse destruir qualquer rastro de

vulnerabilidade. Ergueu a face, me fitando diretamente nos olhos.


Me senti comovido perante aquela demonstração de força, mesmo
que por dentro ela estivesse quebrada. Contive a vontade de tomá-la em

meus braços, aninhá-la e deixar um beijo na sua têmpora, oferecendo o


apoio que eu sabia que ela necessitava. Infelizmente, eu não podia. Eu era

apenas o seu chefe, não o seu amante, seu namorado…


— Não precisam se desculpar. — Adotei um tom suave, buscando

confortá-las, engolindo a frustração que sentia por não ter o direito de tocar
Isis, de cheirá-la, de ter o seu corpo de encontro ao meu. — Não por isso,
ainda mais que está quase terminando o expediente.
Sorri para as duas, mesmo que falsamente. A mulher mais velha deu

um sorriso de volta, parecendo aliviada por ter seu emprego seguro.


— Por que não vai ao banheiro se recompor, Isis? — sugeri, em um

tom que deixava claro que era uma ordem. — Vou esperar você no meu
escritório.

— Senhor? — A tal de Pam voltou a ficar insegura.


— Está tudo bem, querida — minha secretária falou suavemente,
virando-se para ela, e deu um sorriso que há dias eu não via, e que mesmo

que não fosse o mais radiante de todos, deixou-me agitado —, será apenas
uma conversa.

A latina encarou-me por um tempo.


Deveria estar me sentindo ultrajado pelo escrutínio intenso, porém
relevei ao ver que ela só parecia preocupada. No fundo, admirava tal

lealdade.
— Vou ao banheiro com você — murmurou e fez uma vênia. —

Tenha uma boa noite, senhor Mavridis.


— Para você também, senhora...?

— Gomez…
Sorri e, assentindo, dei um último olhar para a minha secretária, como
se quisesse me certificar de que ela ficaria bem, algo completamente tolo,
então virei as costas para elas e entrei no meu escritório, a porta se fechando
suavemente atrás de mim.
Com um suspiro cansado, caminhei até a enorme janela panorâmica

que parecia mais uma parede e automaticamente comecei a remover a


gravata, dando um puxão na peça de seda, seguido do meu blazer. Não fiz

questão de pegar as peças no chão, nem mesmo o paletó. Sorrindo, senti


certa satisfação ao pensar no quanto minha mãe ralharia comigo pela minha
desorganização, ela merecia essa pequena retaliação.

Enrolei as mangas da blusa social na altura dos cotovelos, abri os


botões do colarinho, dos punhos e alguns da frente da camisa. Apoiando

meus dois braços na superfície de vidro, olhei para o trânsito pesado de


Wall Street enquanto tentava controlar não apenas meus pensamentos

caóticos, mas também meus sentimentos confusos.


Fazia de tudo para esquecer o assunto “indesejado” que exauria
minha mente e também roubava minha concentração, porém, falhava

miseravelmente.
— Pare já com isso, homem! — Bati os punhos na vidraça,

extravasando a minha frustração, minhas mãos doendo com o impacto. —


Você não irá ceder aos caprichos da sua mãe!
Suspirei, cansado. 
— Sem dúvidas, Agatha ainda tem vários clientes para dar atenção e
promover a festa mais comentada do ano — sussurrei, procurando me
convencer disso, repetindo várias vezes, como se isso pudesse afastar os

impulsos sombrios.
A batida na superfície de madeira fez com que eu afastasse aqueles

pensamentos da mente e o instinto protetor, que nem sabia que tinha com
relação a Isis, tomou cada pedaço do meu corpo, e com ela, novamente, a
vontade súbita de ferir quem a machucou.

— Entre — minha voz soou grossa e automaticamente me virei em

direção à porta.
Era como se Isis tivesse um imã que sempre me atraía para ela, que

me impelia a olhá-la mesmo que eu a tivesse visto poucos minutos atrás.

Ela me tornava sedento! A mulher parecia exercer tanto magnetismo

sobre mim que, provavelmente, eu era capaz de encontrá-la em meio à uma


multidão.

Bufei perante a tolice sem sentido e passei a mão pelo meu maxilar,

sentindo a barba por fazer.


Agitado, meu olhar recaiu sobre a face oval e angelical, emoldurada

por uma mecha loira sedosa, assim que entrou, parecendo um pouco mais

recomposta, mas não o suficiente para acalmar os meus instintos. Evitei


olhar para o corpo bem-feito, cobiçando-o em um momento impróprio, por
mais que me parecesse uma tarefa impossível, principalmente por estar

ciente que todas as suas curvas deliciosas estavam ainda mais ressaltadas
pelo vestido preto de gola alta e mangas longas que parecia moldar a sua

pele.

Merda!
— Sente-se, Isis — ordenei suavemente, apontando para a pequena

“sala de estar” que raramente usava.

Ela franziu levemente o cenho, porém acabou assentindo. Tentando

não olhar para as nádegas dela, dei as costas para a mulher e caminhei em
direção ao aparador; precisava de uma dose de ouzo para enfrentar aquela

conversa que eu pressentia que iria testar meu autocontrole. Como um

verdadeiro grego, não colocaria nenhuma pedra de gelo, nem diluiria a


bebida de teor alcoólico de cinquenta por cento com água.

— Quer um pouco? — perguntei ao segurar a garrafa e destampá-la.

Com o canto do olho vi que ela estava sentada ereta no sofá, olhando
para as próprias mãos. Não gostei de vê-la tão vulnerável, parecendo

perdida.

— Isis? — insisti.

Ela ergueu o rosto e me fitou. Balancei a garrafa, indicando o líquido


transparente.
— Não, obrigada, senhor. — Sua voz soou fraca e eu ignorei o

incômodo que senti.

Franzi o cenho.
Diferentemente de muitos que achavam o licor bastante forte, a

mulher apreciava a bebida tanto quanto eu e, sempre que podia, tomava

uma dose. Ela não tinha pudores em compartilhar um drink, principalmente

quando ficávamos até tarde fazendo projeções ou analisando alguns


investimentos que eu, às vezes até mesmo ela, tinha feito. Então, me era

estranho a recusa.

Não insisti e, em silêncio, me servi dois dedos. Tampando a garrafa,


me aproximei dela, me esparramando na poltrona em frente a ela, em uma

posição lânguida que era contrária ao meu estado de alerta que capturava

cada respirar baixo dela, cada nuance da sua expressão.

Levei a bebida aos lábios e apreciei o gosto pungente de anis


estrelado. Não me passou despercebido o olhar dela para os meus

antebraços desnudos e também para os botões abertos da minha camisa.

Remexi no assento, sentindo outro tipo de desconforto, que estava


mais para o sexual. Engoli o impropério, junto a outro gole de ouzo.

Eu deveria parar com aquela minha maldita obsessão por ela, e não

levar tudo para aquele lado. Maldito! Ela olhar meu corpo não significava

que queria ir para a minha cama.


— E então? — questionei ao pousar o copo sobre a mesa lateral, indo

direto a questão que me atormentava.


— Então o quê? — murmurou, torcendo as mãos sobre o colo.

— Por que você estava chorando?

— Não é nada, senhor Mavridis. — Colocou a mecha que caia sobre


seu rosto atrás da orelha.

Arqueei a sobrancelha para ela.

— Aquiles — falei baixinho. — Quantas vezes vou ter que te corrigir,

Isis? Quando estamos a sós, não hesite em me chamar de Aquiles.


— Sempre me esqueço disso, Aquiles.

Deu-me um sorriso que não chegou aos seus olhos. Apesar de

apreciar meu nome saindo pelos lábios cheios, rosados, e de aparência


deliciosa, dessa vez, escutá-la pronunciar Aquiles, não me deixou

eletrizado.

— E você também não estava chorando sem nenhuma razão, ángelós

mou. — Usei um tom doce e me inclinei em direção a ela, elogiando-a: — é


a mulher mais forte que já conheci... — fiz uma pausa, brincando com ela:

— depois da mamãe, é claro.

Deu uma risada baixa, ao mesmo tempo que as lágrimas voltaram a se


acumular em seus olhos, acabando deslizando pela sua face.
Senti-me estranho quando um bolo se formou em minha garganta e

uma pontada de dor atingiu o meu peito. Lutei para não estender a mão e

limpar as gotinhas com o meu polegar, enxugando a sua angústia.

Definitivamente, odiava vê-la sofrer.


— Por favor, Isis, confie em mim — pedi em um tom baixo, e

encarei-a —, da mesma forma que eu confio em você. Podemos nos

considerar amigos, não?


— Acho que sim, Aquiles.

Seus lábios tremeram um pouco e ela os mordeu, como se isso

impedisse-os de se moverem.

Theós, ela não sabia o quão linda ficava fazendo esse gesto.
— Só acha? — provoquei-a, minha voz saindo rouca. — Eu tenho

certeza.

Sem deixar de fitá-la, sorri lentamente.


Era uma tentativa idiota de fazê-la se sentir um pouco melhor, ou de

transformar suas lágrimas em um sorriso, mesmo que fosse breve.

— O que eu faria sem a mulher maravilhosa, que sempre escuta

animadamente as minhas frustrações com relação aos meus negócios, algo


que eu costumo guardar apenas para mim? — continuei. — A que sempre

tem um conselho inteligente para me dar?


Sua resposta foi me dar um sorriso que não disfarçava a odiosa

tristeza que tomava a sua feição. O choro ainda continuava. Eu poderia dar
uma boa soma de dinheiro para tê-la para mim, mas pagaria o triplo para

não a ver assim.

Consciente de que o toque seria impróprio e de que poderia ser

repelido, inclinei-me ainda mais em sua direção, ficando muito próximo


dela, e estiquei meus braços, procurando pelas suas mãos. Observei as

minhas enormes próximas às delas, pequenas, um contraste que me exerceu

certo fascínio. Eu era pura força, ela tão delicada quanto uma rosa branca,
flor que estava associada a Afrodite, a deusa grega do amor, do desejo e da

beleza. Quis torcer meus lábios com a comparação poética que nada tinha a

ver com um homem bruto como eu.


Respirei fundo e senti-me ao mesmo tempo nos céus e no inferno, no

Olimpo e no Submundo, quando minhas palmas, inconscientemente,

roçaram os seus dorsos. O calor dela transpassava a minha pele, e eu me

senti vivo, eufórico, excitado, coisas que eu não deveria sentir por aquela
mulher proibida, mas que, ainda assim, eu desfrutava sem pudor.

Controlando-me ao máximo para não deixar evidente meu estado, acariciei

a pele suave com as pontas dos dedos.


Um suspiro baixinho escapou dos seus lábios. Encarei-a, sentindo um

maldito incômodo no peito.


— O que quer que seja que está te fazendo sofrer, Isis, saiba que você
não está sozinha — insisti.

Respirando fundo, continuei afagando-a. Agora que eu a tocava, não

me sentia capaz de parar, e o fato dela não me impedir, me impelia a


prosseguir com os meus afagos.

— Quero estar ao seu lado, como você sempre está do meu —

murmurei.
Não temi dizer aquela verdade, que antes me seria bastante

exasperante.

De alguma forma, a partir daquele momento, eu queria que fôssemos

cúmplices, independentemente do que isso significasse e das


consequências. Outra vez disse para mim mesmo que essa onda de ternura e

carinho era fruto do meu cansaço, da pressão que sofria e também da

preocupação.
— Estou grávida! — confessou em um sussurro depois de um silêncio

opressivo e quase não a escutei.


Por alguns segundos, fiquei completamente sem reação. De todas as
coisas que passaram pela minha cabeça, nunca imaginei que ela me contaria

que estava esperando um bebezinho. Não sabia como me sentir. Ao mesmo


tempo que fiquei contente por ela — uma criança seria sempre bem-vinda
— uma parte completamente egoísta de mim sentiu uma pontada de
decepção, pois isso significava que ela ficaria ainda mais inacessível a mim
quando se casasse. Com o canto do olho, fitei minha bebida, mas não a
pegaria.

— Eu estou grávida, Aquiles — repetiu em um tom mais forte, mas


ainda assim, dilacerado. — Descobri há três dias.
Seu pranto ficou ainda mais convulsivo, o que me deixou confuso.

Apesar de ser uma mulher forte, Isis era doce demais para estar chorosa e
triste por conta de uma gravidez. Imaginava que ela ficaria radiante, ainda
mais que ela sempre gostava de brincar com as crianças nas festas da

Mavridis.
Sem pensar muito, desvencilhando as nossas mãos, ergui-me do meu
assento, me sentei ao lado dela e envolvi seus ombros em um abraço. O

encaixe entre nós era tão perfeito que fechei os olhos por alguns segundos.
Ter o seu corpo contra o meu arrancou de mim um suspiro longo, profano, e
eu respirei fundo, sentindo o cheiro suave que vinha dos seus cabelos.

— Descobrir que vai ser mãe de um bebezinho não deveria ser algo
tão ruim, ángelós mou — girando meu rosto para fitá-la em meus braços,

falei com uma voz baixa e afável.


Tentando animá-la, deslizei minha mão pelos braços dela, subindo e
descendo. 
— Não, não deveria — fungou e me encarou por alguns segundos
antes de levar a mão ao abdômen plano e começar a acariciá-lo por cima do
vestido. — Por mais que eu esteja receosa, já que a minha vida inteira irá

mudar, eu já amo meu filho, Aquiles.


Se eu tivesse alguma dúvida disso, o gesto dela fez com que não

tivesse mais nenhuma. Jurava poder sentir o amor transbordando em seu


toque, em seus olhos, substituindo sua melancolia. O carinho dela pelo bebê
alcançou-me e fez com que eu engolisse em seco perante a sua intensidade;

meu coração batia com força no peito. Estava hipnotizado pelos seus
movimentos suaves, adoráveis, e peguei-me lutando para não tocar o ventre
dela.

— Então por que… — Tentei voltar a questão, mas não consegui


completar a pergunta, minha boca estava subitamente seca.
— Eu contei para o pai dele — falou ao erguer o rosto e me encarar.

Um sorriso amargo tomou os seus lábios. Obriguei-me a não fazer


uma careta à simples menção desse idiota desconhecido.
— E? — incentivei-a, mesmo sabendo que eu não gostaria de escutar

o restante.
— O pai dele não o quer, Aquiles. — Mesmo em meio ao pranto,

escutei o ressentimento e o amargor presente na sua voz. — Ele deixou


muito claro que eu era a única responsável, por não ter tomado a pílula do
dia seguinte...

Fungou, pousando o seu rosto no meu peitoral, provavelmente nem se


dando conta do que fazia. 
Com os dentes cerrados, trouxe-a mais de encontro ao meu corpo,

aninhando-a em meus braços, enquanto ela chorava, molhando a minha


camisa, e uma raiva descomunal me invadiu.

Não me recordava se alguma vez na minha vida tinha ficado tão


furioso. Eu não conhecia esse maldito, mas me sentia impelido a quebrar
todos os seus dentes. Um homem — se é que posso chamá-lo assim —, que

rejeitava o próprio filho, independente das circunstâncias, era um grande


bosta que não merecia respeito. É repugnante.
— Benedict ainda teve a coragem de dizer que era muito jovem e que

queria viver, o que não incluía uma criança…


— Desgraçado! — Praguejei uma série de palavrões em grego,
procurando extravasar a raiva.

— E isso nem mesmo é o pior.


Soltou uma risada áspera, completamente seca. Fiquei subitamente
tenso; meu maxilar trincou.  

— Não? — Minha voz saiu num tom ameaçador.


Se ele tivesse sugerido o que eu pensava, jurei por todos os deuses do

submundo que ele pagaria caro por isso. Quis rir perante a minha

dramaticidade, e eu nem mesmo estava em uma poesia de Eurípedes[9].

Movido por instintos sombrios, eu queria proteger não apenas Isis, mas
também o bebê que ela carregava em seu ventre.
— Benedict teve a coragem de insinuar de que o filho é seu —

murmurou, parecendo subitamente sem graça, virando o rosto para encarar


a parede.
— Mesmo? — Mal reconheci a minha própria voz de tão rouca que

saiu.
A perspectiva de eu ser o pai da criança que ela estava gerando não
me soou tão mal assim, para o meu desconcerto e exasperação.

Desde quando Aquiles Mavridis pensava em bebês? A ladainha da


minha mãe deveria estar mexendo com a minha capacidade de raciocínio.

Ou talvez fosse a perspectiva de fazer um bebê com Isis que deixava a ideia
mais atraente. Seria bastante prazeroso ter aquele corpo nu, quente e suado
de encontro ao meu, sentindo os músculos dela oferecendo cada vez mais

resistência às investidas do meu pau, ouvindo seus gemidos contra o meu


ouvido enquanto suas unhas cravavam em minhas costas, arranhando-me…
— E que estava dizendo que o filho era dele porque você não quis

assumir — continuou, arrancando-me dos meus pensamentos lascivos.


Uma raiva cega me invadiu. Ninguém questionava o meu caráter
daquela maneira.
— Eu deveria surrá-lo por isso — disse entre dentes, encarando-a.

— Talvez. — Sussurrou.
Um silêncio pesado caiu sobre nós, momento em que fiquei
acariciando o braço dela. O toque acabou me acalmando.

— Por mais que eu não me arrependa dessa criança, ao mesmo


tempo, me sinto tão culpada por não ter tomado a pílula, Aquiles, por ter
esquecido…

— Essas coisas acontecem, Isis — não soube o que dizer além disso.
Sabia que era uma bomba de hormônio no corpo de uma mulher, e
também não sabia se era justo colocar todo o peso da responsabilidade

sobre os ombros de uma única pessoa, ninguém fazia um filho sozinho.


— Não deveria, Aquiles. — Suspirou baixinho outra vez, apoiando

sua cabeça loira no meu peito. Não a impedi. — Me sinto ainda pior por
saber o tipo de pai que eu dei para o meu filho. Deveria ter imaginado que
um cara avesso a compromisso iria acabar pulando fora. Deus, sou uma

idiota por ter engravidado de um ficante.


— Era só algo casual? — Não escondi minha surpresa.
— Sim. — Outro fungar.
Xinguei-me mentalmente com vários palavrões pela minha burrice.
Por que não havia perguntado isso antes?

Poderia soar bastante presunçoso e arrogante da minha parte, mas não


tinha dúvidas de que eu era muito mais homem — dentro e fora da cama —
e daria muito mais prazer a ela do que qualquer franguinho por aí. Eu seria

bastante paciente para descobrir cada ponto que a fazia estremecer, ofegar e
que a levaria ao orgasmo, e a trataria com bastante carinho e devoção,
cultuando-a como a deusa que ela era. Sorri de forma predatória, inalando a

fragrância dela.
A excitação me percorreu de cima a baixo por saber que agora eu
tinha alguma chance com a minha secretária, e eu aproveitaria aquela

oportunidade sem hesitar, usando todo o meu charme e poder de sedução.


De uma coisa eu não tinha dúvidas: eu teria Isis para mim, porém, o
pensamento irritante de que ela poderia ainda gostar desse cara, mesmo

depois dele magoá-la, fez com que eu colocasse fim naqueles pensamentos.
Fiz uma careta.

— Vocês ainda estão juntos, Isis? — Antes que eu pudesse me conter,


a pergunta escapou pelos meus lábios, dita em um tom de desagrado.
Saindo do meu abraço, afastou-se de mim e virou-se de súbito, seus

olhos brilhando, irritados. Fiquei bravo comigo mesmo por ter afugentado
Isis com a minha babaquice, com meu ciúme e possessão descabidos.
Panáthemá se[10].

— Claro que não! — Seu tom estava na defensiva e percebi que


minha pergunta havia a machucado. — Acha mesmo que eu poderia ficar
com um homem que rejeitou o próprio filho, Aquiles?

Balancei a cabeça em concordância.


— Desculpe-me, ángelós mou — emiti um som de frustração pela
minha estupidez —, foi uma pergunta impensada e idiota.

— Tudo bem, Aquiles.


Suspirou e deu-me um sorriso que me apaziguou; por um momento,

pensei que havia estragado tudo.


Tinha que ir com calma, recordando-me que ela estava ferida. Por
mais que eu quisesse fazer amor com ela naquele sofá, ela precisava de

apoio, não de mais um babaca pressionando-a. Desde que reconheci meu


desejo por ela, já tinha se passado meses, e eu poderia esperar um pouco
mais.

— Acho que eu também te devo um pedido de desculpas por alugar


seu tempo e seus ouvidos com o meu choro e desespero — continuou.
— Não por isso, Isis. — Sorri para ela. 

Baixando a cabeça, levou a mão ao abdômen e voltou a acariciá-lo.


Novamente, fiquei hipnotizado pelos movimentos lentos e ternos,
encantado quando seus olhos brilharam, repletos de amor.
— Deveríamos sair para jantar amanhã para comemorar a sua

gravidez — sugeri em um tom suave, depois de vários segundos em que


não dissemos nada um para o outro.
Seus olhos azuis se arregalaram, parecendo surpresa. Eu mesmo

estava um pouco assombrado por ter proposto algo tão sensível,


completamente diferente da minha personalidade. Claro que eu já havia

pensado em levá-la para jantar em um restaurante bastante reservado,


privativo e também “sexy”, porém, sempre com segundas intenções, o que,
naquele momento, eu não tinha. Queria de verdade festejar essa criança,

mas o que verdadeiramente me impactava era o medo que sentia dela


recusar.
— Comemorar? — questionou, baixinho, depois de abrir e fechar a

boca várias vezes.


— Por que não?
Sorrindo, dei de ombros, apesar de eu sentir uma fina camada de suor

se acumulando em minhas palmas. Quis rir. Eu era autoconfiante,


acreditava que sempre conseguiria o que queria, menos em relação a ela.
— Não sei, Aquiles. — Mordeu os lábios outra vez, parecendo

pensativa, e eu ignorei a sensualidade do ato e o quanto eu quis beijá-la.


— Amigos fazem essas coisas — insisti e uma vozinha na minha
cabeça me chamou de mentiroso. Não queria ser apenas um amigo dela.
Pareceu pensar e a expectativa me corroeu a cada minuto que se
passava.
— Por que não, Aquiles? — repetiu minha fala e eu soltei o ar que

nem tinha percebido que havia prendido, o nervosismo se transformando


em euforia. — Será bom me distrair um pouco depois de tudo.
— Excelente!

Antes que pudéssemos continuar a nossa conversa, o celular dela


emitiu um som e, em seguida, o meu também.
Merda!

— Sua videoconferência com o senhor Souza começa em meia hora


— fez uma pausa e ergueu-se do seu assento, como se o seu corpo tivesse

uma mola, depois de ver a notificação em seu celular. Baixou o vestido, que
havia subido um pouco, e meu olhar instantaneamente recaiu sobre as
pernas longas cobertas pela meia-calça. — Creio que você gostará de olhar

a pauta que encaminhei para o seu e-mail e também checar como foi o
fechamento da bolsa.
— Claro — respondi roucamente, mesmo que aquilo não fosse o que

gostaria de fazer.
— E também de se vestir adequadamente.
Apontou para o meu peitoral, depois para os meus braços desnudos, e

eu percebi uma leve e breve centelha de apreciação em seus olhos, dando-


me uma pequena amostra de como ela ficaria ao sentir prazer. Quis rugir
como uma besta selvagem, tamanho o desejo que se apoderou de mim,

porém apenas me ergui, esticando o braço para pegar o ouzo esquecido,


virando-o em um gole só, pousando o copo de volta na mesinha ao terminar
a bebida.

— Deixe aí, depois eu resolvo isso — ordenei quando ela fez um


gesto para pegá-lo.
— Okay.

— Por isso que não quis beber? — questionei o óbvio.


Comecei a caminhar pelo meu escritório, indo em direção ao local em
que havia jogado a minha gravata e o paletó do terno.

— Nada de álcool para mim por um bom tempo, até o bebê desmamar
por completo — disse, parecendo mais animada enquanto seu olhar pousava

sobre a barriga.
Assenti, anotando mentalmente para não pedir nada alcoólico no
nosso jantar.

— Por que não pega um táxi e vai direto para casa tomar um banho
quente e relaxante de banheira? — Sugeri, começando a abotoar a camisa,
sabendo que ela teria que enfrentar um metrô lotado até chegar ao seu

apartamento em Yorkville.
— Ótima ideia! — Sorrindo, se aproximou de mim e continuou em

tom de conspiração: — Comendo um chocolate, se tornará ainda melhor.


Engoli um gemido com a imagem erótica, mas meus dedos ficaram
irritantemente trêmulos, denunciando-me. Vendo a minha dificuldade,

alheia ao que causava em mim, como uma esposa, ela começou a fazer o nó
na minha gravata. Meu pomo de Adão subiu e desceu quando engoli em
seco com o gesto íntimo. Choques de prazer me percorreram de cima a

baixo e eu lutei para não a tocar, para não puxar seu corpo de encontro ao
meu, quebrando a distância. Porra, eu estava faminto por ela!
— Coloque na conta da Mavridis — forcei-me a dizer, respirando

fundo o seu cheiro.


— Obrigada por me consolar, Aquiles — falou ao dar um passo para
trás, como se desse conta do seu ato inapropriado —, de verdade.

— É um prazer, ángelós mou.


Ficamos nos encarando, paralisados, presos um no outro, nossas

respirações tornando-se mais aceleradas, até que ela quebrou a conexão.


— Até amanhã.
— Tenha uma boa noite, Isis.

— Boa noite.
Dando-me um sorriso, se virou e caminhou lentamente para fora do
escritório. Acompanhei seus movimentos, olhando seus quadris e suas
nádegas deliciosas, até que a porta se fechou atrás dela.

Balancei a cabeça e, após terminar de vestir o paletó do meu terno,


joguei-me na minha cadeira presidencial, ligando rapidamente meu

notebook. Tentei me concentrar na pauta e na reunião, porém, tudo o que eu


pensava era em uma certa loira nua em uma banheira cheia de espuma me
convidando para me juntar a ela, imagem que, com certeza, alimentaria

minhas fantasias nesta noite.


Capítulo seis

 
— Tem certeza que não quer subir, Aquiles? — insisti.

Mesmo que o grego fosse bastante tolerante com atrasos, fiquei muito
sem graça por estar atrasada. Tinha demorado mais do que deveria no

banho e também escolhendo um vestido apropriado.

— Estou bem, mas quem sabe mais tarde... — A voz do meu chefe
soou abafada no interfone.

— Está certo, só vou terminar de me arrumar rapidinho e estou

descendo. — Dei um suspiro, resignada.


— Não precisa se apressar, ángelós mou, essa noite eu sou todo seu

— disse em tom de brincadeira.


Eu dei uma risada.

— Agora vá — ordenou suavemente —, antes que se sinta ainda mais

culpada.
— Okay. — Obedeci.

Como ele não disse mais nada, eu coloquei o fone na base e

rapidamente voltei para o banheiro para terminar de me arrumar. Enquanto


separava uma mecha e passava o modelador de cachos pelos fios, foi

impossível não pensar no homem que me aguardava lá embaixo.

Nunca tinha imaginado que Aquiles era capaz de sugerir algo tão
sensível quanto um jantar para comemorarmos a minha gravidez.

Provavelmente eram os traços severos do seu rosto quadrado, sua


personalidade decidida, arrogante e também forte, que o tornava um tubarão

nos negócios, que davam a impressão de que ele não era capaz de gestos tão

delicados e doces, conclusão que não poderia ser mais errônea.

Talvez fosse exagerado da minha parte afirmar isso, mas ainda que

estivesse apavorada com a gravidez inesperada e com raiva do Benedict, o

meu chefe havia conseguido fazer com que eu enxergasse o fato de estar
esperando um bebê não como algo triste, mas, sim, sublime. Mesmo que ele

não tivesse nenhuma obrigação comigo, senti que não estava sozinha,
principalmente quando ele me abraçou na sua sala. Eu tinha o apoio de
Pam, mas com o grego as coisas eram um pouco diferentes. Amparada

contra seu corpo forte, quente e musculoso, foi impossível não me sentir

protegida e acolhida pelo meu chefe. Eu era muito grata a ele pela sua

amizade.

Soltando os cachos depois de esperar esfriarem um pouco, satisfeita

com o modo como eles se abriram, fiz uma maquiagem leve, tomando
cuidado para não se destacar mais do que o vestido verde escuro de cetim

de alças finas, que abraçava todas as minhas curvas e deixava parte do meu

colo e pernas a mostra. Por um momento, me senti insegura se estava

adequada ou não para jantar com o meu chefe, mas assim que ele tinha

sugerido que eu vestisse algo elegante, pensei nessa peça que eu nunca

havia usado. Pensei se não era vulgar e…

— Agora já foi, Isis — disse para mim mesma, passando a máscara


nos meus cílios —, não vou fazer o Aquiles esperar ainda mais e atrasar a

nossa reserva.

Com um suspiro, apressei-me para calçar minhas sandálias e conferi

se eu não havia esquecido de colocar a minha carteira na bolsa de mão. O

restaurante poderia ser chique e caro, mas não deixaria que Aquiles pagasse

a minha parte. Mesmo que agora precisasse economizar pelo meu bebê,
trabalhava muito e podia me dar ao luxo de uma única noite de
extravagância. Joguei meu celular na bolsa e depois a chave, assim que

tranquei a porta, e fui até o elevador.


Assim que abri a porta do hall comum, uma lufada de ar quente

soprou no meu rosto e eu fiz uma careta. A onda de calor intensa que
assolava Nova Iorque estava insuportável. Definitivamente, eu era muito
mais o frio, embora a baixa temperatura ocasionasse inúmeros problemas,

principalmente para a população de rua.


Descendo as escadinhas em direção a calçada, procurei pelo meu

chefe, encontrando-o a alguma distância. Olhava para o celular, encostado


em um luxuoso carro esportivo vermelho, que atraía a atenção de várias

pessoas, inclusive de um grupo de adolescentes que apontava em sua


direção. Enquanto caminhava até ele, porém, toda a minha atenção estava
no homem que usava um terno escuro feito sob medida que ressaltava seu

corpo largo e seus músculos bem-definidos. Não pude deixar de admirá-lo


mesmo que as peças praticamente fossem sua segunda pele. Com mais de

um metro e noventa, Aquiles não chamava a atenção apenas pela sua


corpulência, mas também pelos olhos incrivelmente verdes e pela pele um

pouco mais morena. Estranhamente, os cabelos curtos, quase que rente a


cabeça, e a barba cerrada combinavam e muito com ele, deixando-o mais
másculo.
Ele poderia ser o meu chefe, mas isso não me impedia de considerá-lo

um homem bastante atraente, o que provavelmente metade de Nova Iorque


iria concordar comigo, mas era a aura de poder que havia nele que o

deixava ainda mais bonito, até mesmo sexy.


Com certeza, o milionário estava ciente do seu poderio, no entanto o

que realmente me impressionava e muito era o fato de ele não ser um


grande mulherengo. Não me recordava de ter lido nenhuma fofoca sobre os
“casos” do meu chefe, nem de nenhuma mulher ter ligado querendo falar

com o grego.
Quando estava a alguns passos de distância dele, como se pressentisse

minha presença, Aquiles ergueu o rosto e me percorreu lentamente de cima


a baixo.
Um pequeno arrepio percorreu a minha coluna ao ver um brilho

indecifrável em seus olhos, tremor reforçado pelo sorriso lento que se


formava em seus lábios, porém logo tratei de afastar essa sensação absurda.

— Obrigada por me esperar — falei, parando a poucos passos de


distância dele.

— Não por isso, Isis. — Guardou o celular no bolso da calça social,


descolou-se da lataria do carro e seu sorriso ficou ainda maior ao dizer: —
Valeu cada minuto de espera. Está maravilhosa.
Os olhos verdes voltaram a passear pelo meu corpo e, com isso,
novamente aquele calafrio me invadiu, o qual eu massacrei como se fosse
uma mosca. Me sentia uma boba. O que eu esperava? Além do meu vestido

ser bastante chamativo — eu mesma tinha reconhecido isso a minutos atrás,


era a primeira vez que meu chefe me via mais produzida.

— Obrigada. Você também está muito bonito, mas deve saber disso
— retribuí a gentileza dele, e ele arqueou a sobrancelha.
Deu de ombros, e o movimento chamou a minha atenção para aquela

região, que parecia tensa. Isso fez com que eu recordasse o quão irritadiço
Aquiles andava. Tinha dito a mim mesma que não iria insistir, mas quem

sabe durante o jantar surgisse uma oportunidade para questionar novamente


a respeito. Ele tinha sido muito amável em me consolar, e não custava nada

para mim tentar aliviar um pouco do peso que ele sentia.


— Eu gosto de ser elogiado, ángelós mou, ainda mais quando sei que
é sincero. — Sua fala arrancou-me daqueles pensamentos. Ele fez uma

pausa, apenas para adotar um tom divertido que contrastava com o seu
humor irritadiço: — Tenho certeza de que está ciente que é mais do que

linda.
Fiz um gesto de mão, tirando a importância do seu comentário.
— Nem sempre, há várias coisas que eu gostaria de mudar. — Sorri.
Torceu os lábios em desagrado e me senti adulada por Aquiles, mais
do que deveria.
— Como o quê? — perguntou em um tom suave, curioso.

A vergonha atingiu-me de súbito. Queria dizer que era o nariz ou algo


menos constrangedor para se dizer ao seu chefe, principalmente no meio da

rua, mas a consciência de que algumas pessoas nos encaravam, curiosas, me


deixou acanhada.
Cumprimentei uma vizinha, que tinha uma idade próxima a minha e

que devorava meu chefe com os olhos como se ele fosse uma peça

suculenta de carne, com um aceno de cabeça. Percebi que fez uma careta
quando o grego foi completamente indiferente a ela, já que toda a sua

atenção estava em mim, aguardando minha resposta.

— Eu eliminaria toda a celulite e também colocaria silicone —

disparei quando a expressão dele deixava mais do que claro que não sairia
dali sem uma resposta.

Seu olhar caiu sobre os meus seios. Mesmo que eu tivesse

mencionado aquela parte do meu corpo, foi desconcertante, ainda mais


quando pequenas fagulhas se espalharam pelo meu corpo, minha pulsação

se acelerando. Como uma adolescente, senti que ruborizava.

— Entendo — sua voz soou perigosa ao erguer o rosto e me encarar.


Era imperceptível, mas, para quem o conhecia como eu, sabia que ele

estava irritado. Fiquei ainda mais perturbada ao constatar isso.


— Vamos? — questionei, sorrindo sem-graça para ele, tentando

aliviar um pouco a tensão que caiu sobre nós, não queria estragar a nossa

comemoração. — Acho que já chamamos atenção demais ficando parados


aqui.

— Claro, Isis — murmurou, lançando-me um último olhar de cima a

baixo, parecendo contrariado.

Antes que pudesse me aproximar da porta do carona, em um gesto


cavalheiro, Aquiles destravou o veículo e abriu a porta para mim.

— Obrigada, Aquiles.

Deslizei pelo banco e peguei o cinto. Depois que fechou minha porta,
ele deu a volta no carro e entrou. Enquanto ele se ajeitava na frente do

volante, inspirei fundo e surpreendeu-me o fato do perfume forte e

amadeirado dele não preencher todo o carro.


Franzi o cenho, e antes que pudesse me conter, questionei meu chefe:

— Sua colônia?

Torci para que o som do motor de não sei quantos cavalos que ouvi

quando ele deu a partida tivesse abafado a minha pergunta imprópria e ele
não tivesse escutado.

— Não entendi, Isis.


— Nada. — Suspirei, segurando a alça da minha bolsa com mais

força.

— Não tenha medo de me dizer algo, ángelós mou.


Eu engoli em seco.

— Nunca — insistiu quando não disse nada, quase como uma ordem.

— Sobre o seu perfume, não o está usando hoje — respondi,

mortificada.
— Não quis correr o risco de que você ficasse enjoada — falou

suavemente e eu me senti tocada por isso. Lágrimas se formaram em meus

olhos, mas eu não iria chorar. Por mais que eu não conseguisse controlar,
Aquiles me acharia uma tola. — Li em algum lugar que é comum as

grávidas sentirem aversão a cheiros fortes.

— Muito gentil da sua parte, Aquiles.

— Talvez…
Meu cenho se franziu com a sua resposta e eu olhei para ele.

É, o humor do meu chefe estava muito estranho e também volátil.

Virei o rosto em direção à janela, contemplando a vista tão familiar e


feia. Não tinha nada de bonito nos prédios altos de Nova Iorque.

— Gosta?  — questionou, depois de vários minutos em silêncio.

— Do quê? — Voltei-me novamente para ele.

— Da minha colônia — seu tom foi aveludado.


Movi-me no assento.

Deus! Pensei que havíamos superado aquele assunto constrangedor e


também bastante pessoal. Não cabia a mim gostar ou não.

— Isis? — demandou quando não obteve resposta.

Pigarreei, sentindo a minha garganta arranhar.


Novamente ele não me dava escolha, principalmente quando o carro

parou em um semáforo e Aquiles não hesitou em me lançar um olhar

penetrante, que parecia analisar minha alma.

— Sim, gosto bastante. Combina com você — admiti, desviando o


meu olhar, não sem antes perceber o sorriso perturbador dele. — É

importada?

— Grega — respondeu, divertido, colocando o veículo novamente em


movimento.

— Deveria ter imaginado. — Balancei a cabeça. — Superpatriota.

— Não mais do que vocês, americanos — provocou-me.

— Touché!
Nossa gargalhada ecoou pelo carro, dando leveza à tensão súbita.

— Conseguiu marcar a consulta, Isis? — mudou de assunto. 

Relaxei no meu assento, agradecendo-o por não insistir naquele tema


perturbador. Sorrindo, instintivamente, levei a mão ao meu abdômen e

acariciei o local.
— Infelizmente só tinha data para semana que vem na clínica que o

meu plano cobre.

— Posso pagar uma consulta particular. — Ofereceu. — Quero que

você esteja bem assistida.


Outra vez, me senti comovida pela sua preocupação.

— Principalmente o seu bebê — completou.

Lutei contra as lágrimas outra vez, mas uma sorrateira deslizou pela
minha bochecha. Aquiles me estendia a mão enquanto o pai do meu bebê

tinha me virado as costas.

— Não é necessário, Aquiles.

— Eu insisto, ángelós mou.


— Realmente não precisa. — Ergui minha mão, e quase cometi o erro

de pousá-la sobre a coxa do meu chefe. Recuei minha palma depressa. Me

senti feliz pela atenção dele estar no trânsito da 79TH East St.

— Não precisa ser o mais rápido possível?

— Confesso que não sei, mas acho que alguns dias não deve fazer
muita diferença — murmurei, a incerteza me dominando.

— Hmph… Eu vou te convencer a aceitar minha oferta, e você sabe

disso, não é mesmo, Isis? — Soou arrogante.


— Veremos — provoquei-o e ele bufou.
Estava ciente de que, provavelmente, Aquiles conseguiria aquilo que

desejava, ele sempre conseguia. Ignorei o fato de que isso era dar a ele um
pouco de controle sobre a minha vida, mais do que o grego tinha direito.

Apeguei-me ao fato de que era a forma dele de cuidar de mim. Fazia muito

tempo que ninguém se importava com meu bem-estar.

Entre risadas, conversas e palpites — sim, mesmo que fosse uma


comemoração, acabamos entrando no assunto negócios, após pouco mais de

vinte minutos, Aquiles parou o carro. Escutei um som baixo, parecendo de

frustração. Removi o cinto e ia abrir a porta para deixar o veículo, mas ele
se adiantou e a abriu para mim. Virei-me para ele, arqueando a sobrancelha

em questionamento.

— Cavalheirismo, isso é tudo.


— Okay. — Sorri, começando a andar.

Entregou a chave ao manobrista e nos dirigimos a entrada do

restaurante. Enquanto caminhávamos, foi impossível não ser consciente da

força que havia nele, sensação que se tornou maior quando ele ficou tão
próximo a mim, como se fosse o meu guarda-costas. Mesmo sendo alta,

senti-me pequena, mas protegida. Algumas pessoas que passavam por nós,

nos encaravam curiosos, imagino que reconheceram o magnata grego que


estampou várias revistas, pois ele sempre aparecia na mídia. Não dei
importância. Era natural, ainda mais quando ele estava ao lado de uma
desconhecida.

— Uau! — Não consegui conter uma exclamação surpresa quando vi

que estávamos na frente de um dos restaurantes mais caros e premiados de


Nova Iorque, se não do mundo.

— Te surpreendi, ángelós mou? — O tom dele foi baixo. Com o canto

do olho, percebi que ele sorria, triunfante.


— Sabe que gosto de comida francesa... — fiz uma pausa —, melhor

do que isso, só na França.

— Hm, deveria ter te levado para Paris, então.

— Quem sabe da próxima vez — provoquei, maliciosamente.


Soltei uma gargalhada e escutei a risada abafada dele em resposta.

Cumprimentei o recepcionista com um aceno de cabeça, e passei pela porta

giratória. O luxo da decoração do hall, desde a parede de madeira ao lustre


enorme, me desconcertou e eu empaquei no lugar. Por mais que tivesse

dinheiro para pagar, senti que não pertencia àquele lugar.


Suspirei.
— Isis? — A voz preocupada do meu chefe soou próximo ao meu

ouvido, seu braço roçando no meu.


— Bobagem a minha — murmurei, balançando a cabeça de modo
quase imperceptível. Estava sendo tola de várias maneiras.
— Mesmo? — perguntou suavemente.
Sua mão grande pousou na região da minha lombar, incentivando-me
a andar, amigavelmente tentando me passar confiança. Não consegui

verbalizar uma resposta, minha garganta ficando subitamente seca. Também


fiquei presa ao calor do toque inocente e da série de arrepios impróprios,
que pareciam irradiar do local onde seus dedos estavam pousados para

todos os meus membros. Tive que me concentrar para não cair dos saltos
das minhas sandálias, já que minhas pernas estavam bambas. Meu pulso
estava acelerado, e eu me controlei para não ofegar.

— Boa noite, senhor e senhora, sejam bem-vindos. — O maître nos


recepcionou assim que alcançamos o pequeno púlpito onde ele aguardava
os clientes.

Diferentemente do que imaginava, meu chefe não afastou a mão da


minha lombar.
— Os senhores possuem reserva?

— Uma em nome de Aquiles Mavridis, para duas pessoas.


— Documentos de identificação, por favor.

Abrindo a minha bolsa, peguei minha carteira de motorista que quase


não usava e entreguei para o homem. Aquiles me soltou, fazendo o mesmo.
— Grato — o recepcionista começou a registrar algo no seu tablet, e

rapidamente devolveu nossos documentos. — Me sigam até a sua mesa, por


favor. 
Me senti confusa quando meu chefe continuou a conduzir-me pelo
salão lotado ainda com a mão em minhas costas, porém, disse para mim

mesma que deveria ser um hábito dele. Também não tentei me afastar, nem
mesmo quando seu toque pareceu possessivo demais. No entanto, o contato

foi breve, pois logo alcançamos a mesa.  


— Obrigada. — Sorri para o funcionário quando ele puxou uma
cadeira para mim ao alcançarmos o local onde ficava nossa reserva.

— Não a de quê, senhora. 


Sentei-me de frente para o meu chefe e o maître nos deixou para
voltar ao seu posto, sendo substituído por um garçom que encheu nossas

taças de água e depois colocou-se à distância, dando-nos privacidade. Sem


hesitar, levei o copo aos lábios, sentindo certo alívio quando o líquido
deslizou pela minha garganta seca.

— Já decidiu o que você quer pedir? — Aquiles perguntou, e eu olhei


para ele, que franzia o cenho para o cardápio. Segurei a risada, pois
chamaria muita atenção naquele ambiente que, apesar de bonito, com suas

paredes de madeira e as enormes traves que decoravam o teto, era-me um


pouco opressor.

— Estou tentada a seguir o menu do chef — fiz uma pausa —, sem o


vinho, claro.
— Claro. — Piscou um olho para mim, sorrindo.

— Apesar que o panaché de legumes[11] também faz a minha boca


salivar — pensei em voz alta.
— Por que não os dois, ángelós mou?

— Sim, por que não? — Sorri para ele.


— Caviar também? — provocou-me, sabendo que eu detestava a
iguaria. Tinha provado uma vez, para nunca mais.

— Isso já é demais para mim — estremeci no meu assento, brincando


com ele —, mas fique à vontade para pedir.
Fez uma careta de nojo enquanto acenava discretamente para o

garçom, e eu não contive uma risada que me pareceu imprópria para o local,
mas que felizmente soou baixinha. Fizemos nossos pedidos. Rapidamente o

garçom retornou, nos servindo um suco.


— À sua gravidez, e que ele, ou ela, nasça com muita saúde. —
Ergueu sua taça, seus olhos verdes brilhando.

— Assim seja — sussurrei, emocionada.


Com os dedos trêmulos, levantei a minha e a encostei na dele. Tomei
um gole e pousei a taça na mesa. A tensão que havia nele parecia ter se

dissolvido um pouco, então enquanto esperávamos a chegada dos pratos,


bem-humorado, Aquiles fazia uma série de gracejos, que arrancava várias
risadas de mim. Ele realmente tornava aquele jantar uma verdadeira
comemoração, tanto que prato após prato, uma verdadeira explosão de

sabores em que eu poderia facilmente me viciar, pena que meu bolso não
concordava com isso, eu perdia a noção do tempo. O ambiente não mais me
oprimia, pois o homem à minha frente me fazia esquecer daquele detalhe.

Tinha que concordar com quem disse que o importante era a companhia.
— Posso te fazer uma pergunta pessoal, Aquiles? — questionei,
tomando coragem de entrar em um campo “proibido”, depois de mastigar

mais uma garfada do lagostim com creme de trufas e cogumelos que, sem
que eu pudesse me conter, tinha arrancado vários gemidos de mim.

Não me respondeu de imediato, apenas me encarou fixamente,


colocando o talher ao lado do prato, como analisando se deveria ou não
permitir tal intimidade. Tomei um gole da minha bebida quando um nó se

formou na minha garganta.


— Pensei que fôssemos amigos, Isis. Amigos não precisam pedir
permissão para levantar esse tipo de questão. — A voz dele soou aveludada,

mas eu tinha escutado esse tom várias vezes para poder reconhecer que
escondia vários perigos. Ele não gostava de ser contrariado.
— Compreendo — cochichei.

— Sou um livro aberto para você, nunca tenha medo de me perguntar


o que você quer saber, ángelós mou — continuou, dessa vez, muito mais
doce.
Esticou uma mão e tocou a minha que estava sobre a mesa,
transmitindo não apenas confiança, mas, também, ternura.
— Não depois dessa noite — continuou dando um suspiro e

acariciando o meu dorso. —Melhor, não quando você expôs seus medos,
sua insegurança em relação à maternidade, e também a raiva do seu ex.
— Verdade, desculpe a minha tolice, Aquiles.

Emitiu um bufar deselegante, e eu sorri para ele, agradecida, feliz por


ter sua amizade. Por um momento, me mantive em silêncio, não fiz a
pergunta que queria, apenas apreciei as carícias suaves que Aquiles fazia na

minha mão.
— O que quer me perguntar, Isis? — questionou roucamente depois
de um tempo.

Continuando a me tocar, me encarou fixamente, seus olhos parecendo


esperançosos. Pelo quê? Não sabia dizer.

Tirei a mão debaixo da dele e inverti as posições, apenas para


acarinhá-lo suavemente, do mesmo modo que ele tinha feito comigo,
incentivando-o a se abrir.

O grego sorriu para mim.


— Tenho achado você mais irritado e impaciente do que o normal.
Aconteceu alguma coisa? Sei que não tem nada a ver com os negócios, ou

você teria me falado e me pedido ajuda ou opinião.


— Ah! Isso. — De um momento para o outro, o sorriso dele morreu,
bem como o brilho em seus olhos.

Claramente a tensão voltou a dominá-lo, se fazendo presente em cada


linha do seu rosto e ombros. Mais do que nunca desejei aliviar aquela
tensão, escutando-o como ele tinha feito comigo.

— Aquiles? — questionei baixinho, preocupada, quando ele não disse


nada. — É algo grave? Vou entender caso você não queira me falar.
— Não, pelo contrário, Isis — disse, emitindo um suspiro cansado ao

passar a mão livre sobre a barba que costumava usar um pouco menos
cumprida. — Na verdade, o que tem me estressado é algo completamente
absurdo.

— Sério? — Não escondi a minha curiosidade.


— Sim, ángelós mou. — Seus lábios se torceram, mostrando
irritação. — E tem uma única causadora: minha mãe!

Franzi o cenho, confusa, mas esperei que ele tomasse a iniciativa de


me contar.

Continuei acariciar o dorso dele, inconscientemente, enquanto pegava


a minha taça e levava-a aos lábios outra vez.
Ele respirou fundo e soltou o ar rapidamente, fazendo um barulho

alto.
— Sabe que a minha mãe tem uma empresa de organização de
casamentos — começou, seu tom expressando a raiva que ele parecia

sentir. 
Fiz que sim com a cabeça, recordando umas fotos que tinha visto em

uma revista de casamento. As decorações eram surreais de tão lindas que


eram.
— Acho que qualquer mulher que quer se casar desejaria ter uma

organizadora como ela — disse animadamente. — Agatha Papanastasiou-


Mavridis faz cerimônias que realmente parecem um sonho. Para mim, ela é
uma das melhores do ramo no estado de Nova Iorque…

Um suspiro sonhador deixou os meus lábios e eu vi um brilho


estranho cruzar os olhos dele, mas foi tão depressa que me indaguei se não
estava imaginando coisas. Talvez fosse orgulho de me ouvir falando tão

bem do trabalho da mãe dele. Sabia o quanto a família era importante para o
grego, até mais do que os seus negócios.
Eu achava linda a relação que ele tinha com os pais, e confesso que

sentia uma pontinha de inveja. Minha mãe havia me deixado muito cedo e
meu pai... bem, o fato de eu não falar com ele há anos dizia muita coisa.

Não quis pensar no que o homem severo faria caso descobrisse que estava
grávida sem estar casada. Ele provavelmente me chamaria de puta, ou coisa
pior, se é que não tentaria me agredir.
Afastei Abraham da minha mente. Continuar a pensar no meu pai

durante a comemoração da vinda do meu bebê pareceu manchar aquele


momento doce; ele não valia a pena.
— Sonha em ter o seu casamento organizado pela minha mãe, Isis?

— questionou de forma séria e percebi que havia não apenas uma pontada
de curiosidade, mas também certa ponderação no seu tom e nas suas

feições.
— Se eu tivesse dinheiro, por que não? — Dei de ombros, afastando a
minha mão da dele, que olhou para baixo, antes de segurar os talheres para

cortar um pedaço de lagostim, mas logo voltou a me fitar. — Mas como não
tenho milhares de dólares à minha disposição, não há a mínima chance de
isso acontecer.

— Entendo — murmurou no mesmo tom sério e pensativo, fazendo


meus pelinhos se arrepiarem de maneira injustificada. — Pena que não é
todo mundo que pensa o mesmo.

— Não?
— Uma das clientes da minha mãe, uma influencer, fez um vídeo
difamando-a, e, com isso, os negócios tiveram uma queda.

— Lamento, de verdade. — Senti-me condoída pela mulher que só


conhecia através de fotos e por conversas por telefone.
— Mas ela está pensando em um modo de contornar a situação,
fazendo o casamento do ano, é claro. — Seu tom voltou a ficar ácido.
Consegui imaginar inúmeros arranjos feitos com suportes em formato

de castiçais dourados, repletos de rosas brancas e amarelas e espalhados por


todo o salão, principalmente como peça central das enormes mesas
envelhecidas de pernas curvas em estilo rococó, fora os outros inúmeros

detalhes que deveriam ser levados em consideração para tornar tudo


mágico, o que incluem o vestido da noiva e o buquê.
— Tenho certeza de que ela fará — pensei em voz alta.

— Sim, infelizmente — continuou, num tom áspero.


Enruguei a testa para ele, sem compreender. Ele deveria estar feliz,

não?
— Infelizmente?
— Sim — deu um sorriso amargo que me foi incompreensível,

apenas para cuspir entredentes: — porque ela está determinada a fazer o


meu casamento.
Se eu estivesse bebendo alguma coisa, com certeza teria cuspido o

líquido. Encarei seu semblante sério, transfigurado pela fúria, e abri e fechei
a boca para dizer alguma coisa, porém, estava perplexa demais para falar
algo. Não sei quanto tempo havia se passado, só sei que eu acabei rindo
mais alto do que era apropriado para o ambiente. Lágrimas se formaram em
meus olhos, minha barriga chegou a doer.

— Chocante, não? — Não parecia estar achando nada divertido, pelo


contrário, ele parecia mais tenso.
— Desculpe-me, Aquiles…— Tentei me controlar, porém acabei não

conseguindo e voltei a rir.


Meu chefe pareceu ainda mais sisudo, demonstrando a sua
impaciência. Droga, não estava sendo a amiga que ele precisava.

Pigarreei.
— Realmente não tem graça.
— Não, não tem. — Levou o garfo a boca, mastigando devagar.

— Mas por que o seu e não de uma cliente, ou de outro parente? —


Deslizei a ponta do dedo pela borda da taça enquanto tentava assimilar

tudo. — Até onde eu sei, você não tem namorada, não tem saído com
ninguém…
Fiz outra pausa, pensativa. Teria sido um erro sair para comemorar a

vinda do meu bebê caso ele estivesse envolvido emocionalmente com


alguém, mesmo que fosse apenas um jantar entre amigos. Se assim fosse,
ele deveria tê-la convidado também.

— Ou tem?
— Não, não tenho, o que torna tudo um grande absurdo. — Sua voz

soou grossa e Aquiles respirou fundo, levando a mão a gravata, como se a


peça o sufocasse, porém não a desafrouxou, baixou-a e a apoio novamente
contra a superfície.

— Dificulta bastante as coisas, com certeza.


— Demais — grunhiu irritado, passando a mão pelos cabelos curtos.
— Mas por quê? — repetir.

— Ela e Kaius acham que estou ficando velho e que tenho que
começar a formar uma família e dar a eles netos.
Fiquei em silêncio. Estranhamente, conseguia entender as duas partes

envolvidas mesmo que meu chefe ainda fosse novo, mas se casar e ter
filhos era uma escolha de Aquiles, não deles.
— Porra, eles até mesmo querem me ajudar a encontrar uma esposa,

já que, segundo meus pais, não estou me esforçando o suficiente para


encontrar alguém... — tamborilou seus dedos sobre a mesa —, como se eu

precisasse disso. 
Voltou a soltar um som irritado, seu maxilar parecendo rígido com a
fúria.

— É difícil de imaginar você precisando de ajuda nesse assunto.


Não estava tentando adulá-lo, mas, sim, sendo sincera. Aquiles era
autoconfiante demais para precisar de auxílio nesse quesito. Ele era
charmoso, rico, bonito e sedutor, não duvidava que, quando quisesse, o

grego usaria todo o seu poder de persuasão para conquistar alguém.


— Também não me parece algo tão simples encontrar a pessoa certa

para compartilhar uma vida — completei. — Casar só por casar me parece


tão frio...
— Porque é — sussurrou. — Não que eu não queira um dia ter uma

família, mas… — fez uma pausa e soltou outro som frustrado. — Droga, eu
me sinto pressionado, mais do que imaginei ser possível.
— Compreendo — estiquei o braço e voltei a tocar a sua mão —, não

é realmente tão simples.


— Não. — Balançou a cabeça em negativa, dando-me um sorriso
tenso. — Só espero que com o tempo ela desista dessa ideia e coloque seus

esforços em outra pessoa, ou casal.


— Quem sabe?
— Pena que eu mesmo não consigo acreditar que ela vá desistir da

ideia — murmurou, mais para si mesmo.


O assunto morreu quando vimos o garçom se aproximando para
retirar os pratos e servir a sobremesa que eu havia pedido. Na verdade,

duas, já que além do sorvete de camomila, eu estava louca para


experimentar o creme bávaro com praliné de pistache, tanto que eu podia

sentir a minha boca salivar.


— Obrigada — agradeci ao funcionário.
— Gostou do lagostim? — Aquiles questionou assim que o garçom se
afastou.

Levou a xícara aos lábios, tomando o café que lhe foi servido. Não
me passou despercebido que ele ainda parecia tenso. Quis fazer algo para

ajudá-lo, porém não havia nada que eu pudesse fazer. Também, quem era eu
para falar sobre relacionamentos, ou dar algum conselho na situação em que

me encontrava? Sem contar que ele mesmo tinha dito que não gostaria de
nenhuma opinião sobre o assunto casamento.
— Um dos melhores que já comi — completou ele.
— Sim, estava maravilhoso, como os outros dois pratos — concordei,
sorrindo —, mas sorvetes sempre foram o meu ponto fraco.
Removi uma cúpula, revelando o potinho.

— Hm. — Não contive um suspiro de prazer ao sentir o sabor suave


contra a minha língua. Eu me senti nos céus.
Sem nenhuma cerimônia, provavelmente sendo mal-educada, enchi a
colher, levando-a à boca novamente.
— Acho que uma bola não será suficiente — falei em meio a um

gemido.
A risada alta e grossa de Aquiles pareceu ecoar pelo salão e com o
canto do olho percebi que várias cabeças se voltaram para nós. Dei de
ombros e dei outra colherada.
— Terá todo o sorvete que quiser, ángelós mou — disse suavemente e
sorriu para mim, antes de fazer um gesto para o garçom.

— Não deveria, mas gostei de ouvir isso, porque... caramba, é muito


bom — riu ainda mais e eu pousei meu talher sobre a mesa. — Vamos ver
se esse doce feito com leite e ovos consegue superar o sorvete.
Ergui o cloche que cobria o outro pratinho e meu coração deu um
salto no peito ao ver não a sobremesa, mas, sim, uma caixinha com um laço
vermelho a enfeitando.

— Aquiles… — sussurrei o nome da pessoa responsável por aquela


surpresa e ergui o meu rosto, encarando-o.
— Espero que você goste, Isis. — Ele tinha seu olhar fixo no meu,
um sorriso suave em seus lábios. — Eu sou péssimo com essas coisas…
— Não me parece — murmurei, uma onda de ternura por ele me
invadindo.

As lágrimas começaram a se formar em meus olhos. Eu tinha virado


uma manteiga derretida!
— Abra — sugeriu.
Com os dedos trêmulos, comecei a desembrulhar o pacote, puxando a
fita que o embrulhava, então destampei a caixa e comecei a chorar ao erguer

a peça. O macacãozinho marrom com um capuzinho com duas orelhinhas


era a coisa mais linda que eu já tinha visto, ainda que os detalhes estivessem
borrados pela minha visão nublada.
— E então? — questionou pouco depois, e eu desviei a minha atenção
para ele. Aquiles parecia ansioso para saber o que eu achava.
— Foi você quem comprou pessoalmente?

— Sim, por quê? — pareceu ainda mais afoito. — Odiou?


— Pelo contrário — funguei, tentando controlar as lágrimas, mas em
vão. Acariciei a peça, sentindo a lã macia contra a ponta dos meus dedos.
— Amo ainda mais por saber que foi você quem escolheu. Deus, Aquiles,
como você pôde pensar por um momento sequer que eu detestaria?
— Bom — pareceu sem jeito —, tem a questão de gosto.

— Tolice — sussurrei, esticando a mão livre, buscando pela dele de


novo. Ele envolveu meus dedos, apertando-os.  — Sempre teve muito bom
gosto em tudo.
— Isso é verdade — falou lentamente em um tom arrogante, com os
olhos cintilando, e eu gargalhei.
— Só você mesmo — provoquei-o, balançando a cabeça em negativa,

reprovando sua atitude.


— Você quem disse.
Deu de ombros, parecendo menos retesado. Apertou minha mão
suavemente antes de fazer um gesto para o garçom, pedindo para ele trazer
o meu creme, que tinha já me esquecido, e também outro sorvete. Eu me
esbaldei neles, para o divertimento do meu chefe, que pulou as sobremesas,

ficando apenas com o café. Para a minha vergonha, acabei pedindo mais
duas bolas de sorvete.
 

 
— Essa noite foi maravilhosa, não me lembro qual foi a última vez
que me diverti tanto — disse, virando-me para Aquiles assim que
alcançamos a entrada do meu prédio, já que o grego tinha feito questão de

me acompanhar até lá.


— Fico feliz em ter sido uma boa companhia, ángelós mou. —
Pareceu satisfeito. — Talvez devêssemos sair mais vezes juntos.
— Quem sabe? — fiz uma pausa dramática, recordando-me de que
boa parte do dia do meu chefe era ocupada pelo trabalho. O único dia que
ele tirava para si era domingo, para ficar com os pais. Pensando bem, era

curioso o fato dele não ter tido nenhum compromisso de negócios nessa
noite. — No entanto, duvido muito que você encontre tempo na sua agenda
apertada.
Bufou.
— Isso não será um empecilho. — Soou convicto.

— Sei... — Demonstrei descrença, arrancando dele outro grunhido.


Poderia estar me comportando como uma idiota, mas eu gargalhei.
— Quer apostar comigo, Isis? — disse com a voz enrouquecida
quando eu consegui me controlar, seu olhar me percorrendo de cima a
baixo.
Seu escrutínio fez com que os pelinhos da minha nuca ficassem todos

arrepiados; meu corpo, pela segunda vez, passou a reagir a ele.


— Melhor não — pigarreei, buscando o meu juízo que pareceu ter
corrido de mim —, afinal, você é quem decide seus horários.
— Que pena, eu teria adorado ganhar!— Sorriu lentamente.
— E como eu sou sua funcionária, eu seria obrigada a perder. Sabe

como é… — fiz um gesto displicente —, tenho que manter o meu emprego.


Foi a vez de ele jogar a cabeça para trás, sua risada ecoando na noite.
— Se for assim, como um cavalheiro, eu deveria deixar a dama
vencer.
— Empate então — sugeri —, é só marcar.
— Cobrarei, Isis…
Lançou outro olhar que eu não sabia como interpretar, mas que meu
corpo parecia entender muito bem. Eu devia estar ficando louca...
— Tem certeza de que não quer entrar? Meu apartamento é pequeno,
mas é organizado. — Mudei de assunto, afastando aqueles pensamentos
ridículos da mente.
— Melhor não — repetiu minha fala —, você deve estar cansada.

— Um pouco — não neguei —, foi um dia puxado.


— Sim…
Ficamos parados, olhando um para o outro, como se estivéssemos
presos um no outro e não pudéssemos deixar de nos encarar, até que, em um
gesto impulsivo, me aproximei dele enquanto tentava equilibrar o meu
presente em uma mão e segurar minha bolsa debaixo do braço, e fiquei nas

pontas dos pés. Estava ciente do calor do seu corpo, do seu cheiro natural,
da sua masculinidade, do seu autocontrole, bem como da minha ousadia de
me aproximar tanto. Meu seio havia roçado no seu braço, o que sabia que
era impróprio.
— Obrigada, Aquiles. Recordarei de tudo o que você vem fazendo

por mim, para sempre — sussurrei próximo a orelha dele


Deixei um beijo em seu rosto — algo que provavelmente me
arrependeria depois — e dei um passo para trás, virando-me para alcançar a
portaria.
— Boa noite — falei, olhando por cima do ombro, encontrando-o
ainda parado no mesmo lugar.

— Boa noite, Isis, até segunda — murmurou, colocando as mãos no


bolso da calça.
Assenti e finalmente entrei. Como consegui, eu não sabia, pois me
sentia mole.
Quando alcancei meu apartamento e fechei a porta atrás de mim,
encostei-me na superfície de madeira em busca de apoio. Soltei a bolsa no

chão e abracei o meu presente. Com o coração disparado no peito ao ponto


de sair pela minha boca, foi inevitável não pensar que eu tinha ido longe,
longe demais, ao beijar Aquiles.
Capítulo sete

 
— Atende, Benedict — murmurei para o telefone, mas quando a

ligação caiu na caixa postal, emiti um suspiro cansado e guardei o celular


na bolsa.

Deveria ter imaginado que meu ex-ficante não iria aparecer na minha

primeira consulta, principalmente quando ele não havia respondido


nenhuma das minhas mensagens desde que eu contei sobre a gravidez,

deixando mais do que claro que realmente não queria ter nada a ver com a

minha gestação, porém, ainda assim, eu insistia, fazia isso pelo meu bebê.
Talvez ele tivesse mudado de telefone só para não falarmos mais do

assunto.
O único ponto positivo disso, se é que poderia ser considerado dessa

maneira, era que não lutaríamos ferrenhamente pela guarda dele ou dela,

mas previa que o pedido de pensão alimentícia — algo que não abriria mão,
nem mesmo se eu tivesse muito dinheiro, o que não era bem o caso —, me

daria uma grande dor de cabeça. Ainda assim, isso não me impedia de

sentir-me magoada com ele.


Levei minha mão ao abdômen, que provavelmente havia crescido um

pouco, mas quase que imperceptivelmente, e suspirei. A verdade era que,

diferentemente de muitas mulheres, eu não estava completamente só. Além


de Pam, Aquiles estava sendo o meu suporte, tanto que a única coisa que o

impedia de estar ao meu lado agora era uma reunião de última hora com um
parceiro de negócios, no Brasil. Ele quis cancelar, porém eu sabia o quão

importante era para ele fechar essa negociação e eu me sentiria péssima se

ele não fosse. Convencê-lo disso não foi nada fácil. Quando ele queria, o

grego era bastante genioso, e não duvidava de que ele iria ficar de cara feia

para mim por um tempo.

— Mamãe conseguirá lidar com o gênio dele, meu bebê — sorri,


conversando com a criança em meu ventre.
Não sei quanto tempo aguardei, mas passei o tempo conversando com
outras gestantes que também esperavam suas consultas, algumas delas

acompanhadas pelos seus companheiros e também por suas mães, que

estavam loucas com a perspectiva de serem avós. O carinho trocado na sala

de espera, os sorrisos ao deixarem o consultório, bem como as lágrimas,

eram tocantes. Não consegui sentir inveja delas, algo que seria natural na

minha situação, principalmente por nunca ter tido uma mãe que fosse vibrar
por um neto, senti apenas felicidade por elas, e também ansiedade.

Estava enlouquecendo pela expectativa de ver o meu bebê no

ultrassom, ainda que ele fosse bem pequenino. Estava começando a

acreditar que deveria ter aceitado a proposta do meu chefe de ele me pagar

uma consulta particular. Ele havia teimado bastante, mas eu insisti que não

era necessário, que a médica que eu tinha escolhido tinha boas

recomendações. Estava perdida nesses pensamentos quando a obstetra


chamou o meu nome. Foi com alívio que me ergui e entrei no consultório.

— Boa tarde, doutora Groover — cumprimentei-a, fechando a porta

atrás de mim.

— Boa tarde, senhorita Davis. Sente-se por favor. — Apontou para a

cadeira em frente à mesa dela.

Fiz o que ela pediu, sorrindo para a mulher que parecia gentil. Pelo
menos não havia esperado horrores para não gostar de cara da pessoa.
— É a sua primeira consulta com um obstetra? — perguntou e

começou a digitar algo no computador.


— Sim. — Balancei a cabeça para reforçar. — Descobri há pouco

mais de uma semana a gravidez.


— Okay. — Fez uma pausa. — Precisarei fazer algumas perguntas
sobre o seu histórico de saúde para registrar no sistema. Você tem alguma

doença?
— Não que eu saiba, doutora…

Movi-me no meu assento, sentindo um bolo se formar na minha


garganta ao pensar que, naquela loucura toda de gravidez, eu poderia ter

acabado contraindo alguma DST, já que nunca me preocupei com o


histórico de Benedict, principalmente por ele sempre usar camisinha.
— Mas como o preservativo furou, pode ser… — Não consegui

continuar. Imaginar aquela possibilidade era muito incômodo.


— Tudo bem, senhorita. — Sorriu, tentando diminuir a minha tensão.

— Irei pedir um check-up completo e acompanharemos de perto, já que


alguns sintomas de doenças e infecções sexualmente transmissíveis podem

demorar mais de quatro semanas para surgirem, dependendo do sistema


imunológico da pessoa. Você sente alguma coceira na região, tem tido
corrimento?

— Não — respondi.
— Sente dor de cabeça regularmente, cansaço ou outro sintoma?

— Não.
— Okay. — Digitou mais rápido.

Explicou-me melhor sobre as doenças sexuais e continuou com o seu


interrogatório, que ia desde a minha saúde geral, questionando se eu tomava

algum remédio, até sobre o histórico de doenças hereditárias na minha


família, se houve alguma gestação de alto risco entre os meus familiares.
— Está excelente — falou, depois de medir minha pressão.

Sorri, me sentindo um pouco aliviada que naquele aspecto eu estava


bem.

— Você pode se trocar no banheiro, por favor? — pediu, mas em tom


de ordem. — E também esvaziar a bexiga para que possamos fazer o
transvaginal?

Assenti, caminhando em direção a única porta dentro do consultório,


que deduzi que seria o banheiro. Enquanto removia a minha roupa e fazia o

que a médica tinha pedido, foi impossível não me sentir ansiosa pelo que
estava prestes a acontecer. Meu coração parecia que a qualquer momento

iria sair pela boca; um friozinho agitava-se na minha barriga. Respirei


fundo várias vezes, tentando controlar as minhas emoções, porém pareceu-
me impossível. Com as pernas trêmulas, deixei o cômodo e fui até a maca

onde a doutora já me esperava, usando touca e luvas.


— Levante a camisola e abra as pernas, por favor — pediu quando
me acomodei. Tentei me ajeitar de modo que eu ficasse confortável para
olhar a tela.

Constrangida, como sempre acontecia quando eu ia ao ginecologista,


obedeci e quando ela inseriu o transdutor no meu canal, senti um leve

incômodo. Escutando apenas o som da minha respiração ofegante, logo o


desconforto tornou-se um sorriso quando consegui vislumbrar uma
manchinha preta que destoava na imagem e um som diferente, como

pequenos “tuntuns”, ecoou no consultório.


— É o meu bebê? — sussurrei a pergunta com a voz embargada,

precisando da confirmação dela.


— Sim, mamãe — confirmou. — Essa manchinha é o seu bebê e o

som é o coraçãozinho dele ou dela.


Senti que começava a chorar, a emoção explodindo de dentro para
fora. Nunca imaginei que a sensação de ver e ouvir o meu bebê fosse tão

poderosa. Eternizaria aquela imagem e aquele som para sempre na minha


memória. Vidrada na imagem do pequeno saco gestacional, embora minha

vista estivesse embaçada, embalada pela doce melodia que era o coração
dele batendo, senti que o amor pulsava dentro de mim com força. Soube
que, independentemente do que acontecesse, aquele sentimento potente era

inabalável. Se até então me sentia sozinha, eu não me sentia mais assim. A


maternidade, a existência do meu pequeno, algo que estava completamente
fora dos meus planos naquela idade, me completava como nunca imaginei
ser possível.

Nesse momento, eu quis mais do que tudo compartilhar aquela


alegria, aquela completude e emoção, com alguém.

Estava sendo egoísta, mas desejei não ter insistido para Aquiles não
cancelar a reunião, e que ele estivesse aqui, ao meu lado. De alguma forma,
sentia que ele compreenderia o que eu estava sentindo, por mais que não

tivesse ideia se meu chefe tinha afinidade com crianças, mas não era algo

impossível…
— Ele está na posição correta dentro do seu útero e tem três

milímetros no seu eixo maior — continuou, e eu saí da bolha de felicidade

momentânea com a sua fala.

Fitei a médica, preocupada.


— O que isso significa?

— Que ele está se desenvolvendo bem, não se preocupe. — Sorriu.

— Deus! — O som de alívio que eu emiti foi audível.


Voltei a encarar a tela, fitando aquela imagem linda, e novas lágrimas

escorreram pelas minhas bochechas.

Quinze minutos depois, um pouco mais composta, apesar dos meus


olhos estarem vermelhos pelas lágrimas que ainda teimavam em cair, deixei
o consultório, portando os pedidos de exames e o encaminhamento para

uma nutricionista. Passei a mão no meu abdômen, acariciando-o, gesto que


se tornava cada vez mais uma mania, enquanto aguardava a recepcionista

me chamar para marcar a consulta de retorno e também o check-up. Apesar

de estar um pouco insegura pelo possível resultado dos exames de sangue,


pois o medo de Benedict ter me transmitido algo era real, antagonicamente,

eu não poderia me sentir mais nas nuvens.

Se ver minha sementinha me deixava dessa maneira, eufórica,

chorosa e dominada pela emoção, não pude imaginar como seria


acompanhar o crescimento dele, ver suas mãozinhas, perninhas e orelhinhas

se desenvolvendo. Mal posso esperar por isso…


Capítulo oito

 
— Mãe. — Atendi a ligação no segundo toque.

O pequeno fungar do outro lado da linha, como se ela estivesse


chorando, me deixou em estado de alerta. Apesar de Agatha ser uma mulher

sensível e emotiva, essa não era a primeira vez que ela me ligava aos

prantos, ela era a minha mãe e odiava ouvi-la chorando. Eu a amava, e


queria vê-la sempre sorrindo. A felicidade dela era a minha.

— Está tudo bem, mamãe? — questionei, minha voz soando tensa.

Sua resposta foi chorar ainda mais, e cada segundo escutando seu
pranto me deixava ainda mais preocupado.
Olhei meu relógio de pulso, constatando que passava pouco das duas

da manhã.
Merda! Ela nunca havia me ligado naquele horário. Com certeza era

algo urgente, não um problema que seria de fácil solução, como das vezes

que ela havia me telefonado naquele estado.


— Você está me deixando nervoso, mãe… 

— Aconteceu um acidente… — Fungou.

— Com você? Com papai? — Eu fiquei gelado, meus dedos


apertando com força o braço da cadeira até que ficassem brancos, meu

coração se apertando.

Pensar que poderia ter acontecido algo com eles era dilacerador. Não
estava pronto para lidar com a possibilidade de perdê-los.

— Não, seu pai está bem e eu também— demorou em responder, e eu


soltei o ar que nem sabia que havia prendido.

Seu choro tornou-se mais convulso e o breve alívio que senti tornou-

se uma bigorna pesada em meus ombros. Ergui-me do meu assento como se

meu corpo tivesse uma mola e saí rapidamente do meu escritório,

caminhando em direção ao meu quarto. Precisava colocar uma camisa. Iria

até ela, agora.


— Onde você está?

— Em casa, mas estou perdida!


— Não entendi — disse suavemente, utilizando toda a minha
paciência com a mulher vulnerável. — Por que você está perdida?

— Eu…

— Respire fundo, mãe.

Escutei o som dela puxando o ar enquanto pegava uma camisa

qualquer dentro da gaveta. Coloquei o celular em cima da cômoda e liguei o

alto-falante.
— Muito bem. Novamente. Mais uma vez. — Fez o que pedi. —

Papai está com você?

— Sim — choramingou.

— Coloque no viva-voz, por favor, querida. — Vesti minha blusa.

— Tá.

— Isso, agápi mou — escutei a voz do meu pai e ele parecia calmo.

— Oi, filho. Tentei consolar a sua mãe, mas ela está desesperada.

— O que aconteceu, bampás[12]?

— Um pequeno acidente na festa que ela organizou hoje — continuou

no mesmo tom tranquilo.

Pegando meu celular, sentei-me sobre a cama com um baque. Com a

adrenalina, não tinha reparado que as minhas pernas estavam


completamente bambas. Foi a minha vez de tragar o ar com força, buscando

me acalmar.
— Não é pequeno, Kaius! — Ela deu um gritinho angustiado. — É a

minha ruína.
— Bobagem, doçura. — Meu pai soltou um suspiro. — Você não teve

culpa de nada.
— Quem irá querer meus serviços agora? — lamuriou. — Aquela
influencer estava certa. Eu sou uma péssima profissional.

Minha mãe voltou a chorar.


— Não, agápi — Kaius murmurou carinhosamente. Pude imaginar

que ele a abraçava e deslizava a mão pelos braços finos, consolando-a.


— Que tipo de acidente? — Passei a mão pelo queixo, tentando

compreender o que tinha acontecido, eu estava perdido.


— A mesa em que estavam o bolo e os doces acabou cedendo
minutos depois da festa começar — papai me respondeu, com um suspiro.

— Gabrielle nunca me perdoará por isso. — Ela voltou a fungar e eu


tentei recordar quem era a tal mulher, porém, minha mente ficou em branco.

— Eu destruí os sonhos dela…


Engoli um bufar com o exagero dela.

— Essas coisas acontecem, querida, não será a primeira, nem a última


vez que isso acontecerá. — Tentei animá-la.
— Aquiles! — Chamou a minha atenção.
— É verdade, mamãe. — Fiz uma pausa. — Ano passado, não

aconteceu um problema com o buffet e você não conseguiu reverter a


situação, fazendo um casamento lindo, e depois desse, muitos outros?

— É diferente, filho, o bolo é uma das partes mais marcantes de um


casamento, e o maior sonho da minha cliente. Ficamos semanas discutindo

os detalhes dele. — Ouvi o som dela assoando o nariz.


Fiz uma careta ao pensar que havia quem gastasse tanto tempo
planejando o “bolo perfeito”. Apesar da minha mãe ser uma casamenteira e

adorar tagarelar sobre cada um dos incansáveis detalhes de uma cerimônia,


eu não era um expert no assunto. Se fosse honesto, a única parte que me

parecia interessante era a “lua de mel”. Se bem que, para passar dias
prazerosos em uma cama, em um local paradisíaco ou isolado, não era
necessário se casar.

— Aquiles, está aí? — A voz chorosa da minha mãe me trouxe de


volta ao problema em questão: a suposta ruína da empresa dela. 

— Sim, estou — meu tom saiu mais rouco do que gostaria.


Ela suspirou dramaticamente e escutei também a risada do meu pai.

— Kaius! — Ela gritou com papai, que pediu desculpas.


— Mas tenho certeza de que você contornou a situação — falei
suavemente —, você sempre tem uma alternativa.
— Dessa vez não, filho. Mandei servir o bolo de corte, mas toda a
magia da festa desapareceu quando a noiva foi às lágrimas e perdeu o brilho
que tinha nos olhos e no rosto. — Seu tom era de desalento

Não soube o que dizer. Eu achava isso uma grande bobagem, longe de
ser o fim do mundo, mas quem era eu para zombar dos sonhos dos outros?

Minha ambição poderia ser mais concreta, mas isso não significava que
coisas “imateriais” fossem desprezíveis, fora que realizar esses eventos era
a vida da minha mãe. Eu daria um soco em mim mesmo se tivesse tal

atitude tão insensível e Kaius ajudaria a me bater. Ele poderia ter quase
sessenta anos, mas o grego corpulento era forte. Com raiva, não duvidava

que ele fosse capaz de fazer um belo estrago no rosto de qualquer um.
— Gabi pode não querer me processar como é o certo, mas eu falhei,

Aquiles, falhei com ela, comigo mesma — continuou em um tom baixo, e


eu soube que ela começaria a chorar outra vez. — Amanhã, todos vão ficar
sabendo desse fiasco, se é que já não está circulando na internet, pois o

casamento estava sendo coberto por uns paparazzi.


— Sinto muito, querida.

— Não duvido que várias pessoas irão cancelar…


— Você não pode prever isso…
— Disse isso a ela… — Meu pai intrometeu-se.
— Eu tenho certeza. — Sua voz era repleta de convicção, antes de
finalmente ceder ao pranto.
O choro dela era como receber mil facadas em meu coração. Antes

mesmo que eu me desse conta, sem pesar as consequências, a pergunta


escapou pela minha boca:

— O que eu posso fazer para te ajudar, mitéra[13]? — Fiz uma pausa.


— Odeio ver você triste, chorando. Sabe que eu faria de tudo para te

alegrar, não sabe?


— O que você pode fazer, Aquiles? — repetiu a pergunta em um tom

neutro, bem diferente do tom choroso.

Um calafrio percorreu toda a minha espinha e eu tive um

pressentimento de que não gostaria nada da resposta.


Fechei os olhos, dizendo para mim que estava sendo ridículo, mas

imaginar a expressão da minha mãe quando maquinava algo não me ajudou

a afastar a sensação, pelo contrário, meu maxilar ficou trincado, a tensão


deixando os meus músculos rígidos.

— Agatha? — Meu tom era sério.

— Ainda há esperança para mim, sabia? — A doçura dela não me

enganava e, sem me conter, soltei uma série de impropérios.


Ela iria voltar com aquele “assunto”.
— Aquiles — meu pai me advertiu, dizendo nas entrelinhas para eu

respeitar a minha mãe, mas eu o ignorei, continuando a falar palavrões.


Deveria ter imaginado que minha mãe não descansaria e iria

continuar a insistir naquele absurdo de me ver casado. Poderia ter pouco

mais de duas semanas que Agatha não tinha sequer mencionado a palavra
“casamento” para mim, milagrosamente. Depois que contei que levei Isis

para jantar, ela não havia falado mais sobre isso, mas, ainda assim, a

ausência da pressão da minha mãe não evitou que eu não me sentisse

sufocado.
A palavra casamento parecia uma guilhotina sobre a minha cabeça e

que, a qualquer momento, me decapitaria.

— É a minha única chance de me reerguer — fungou —, mas já


aceitei a sua decisão de não se casar, Aquiles. Eu estou completamente

errada em querer que o meu filho encontre a mesma felicidade que

encontrei… — completou em um tom fraco.


— Não, agápi mou — Kaius falou em um tom extremamente

protetor, e eu soube que estava fodido. — Querer a felicidade de um filho

nunca é um erro.

Escutei o suspiro cansado que meu pai deixou escapar. Acabei


tragando a seco o nó que havia se formado na minha garganta.
— Se há um grande culpado nisso tudo, sou eu. Falhei no meu dever

de pai em ensinar nosso filho o valor e a importância de se constituir uma

família, de compartilhar a vida com alguém, amar e ser amado... — fez uma
pausa, e o nó se tornou ainda maior. — Carregarei esse peso para sempre

em meus ombros…

Ao ouvir a decepção no tom do meu pai, mais os pequenos soluços da

minha mãe, isso fez com que uma lâmina caísse naquele momento sobre
minha cabeça. Provavelmente era pressão psicológica dos dois, mas,

mesmo assim, senti minhas entranhas se retorcerem, meu estômago se

embrulhar. Um gosto amargo impregnou a minha boca.


Ao contrário da fala do meu pai, tanto ele como mamãe haviam me

ensinado a importância do seio familiar. Eu poderia lidar com os meus

erros, minhas perdas e desprazeres, mas não com a perspectiva de

decepcioná-los, pois era inadmissível. Eu estava ciente que por muito


menos alguns patriarcas gregos deixavam de falar com os seus filhos. Não

correria o risco de desonrar os meus pais.

— Tudo bem — falei em um tom resignado —, eu me caso.


Ignorei os gritinhos de felicidade da minha mãe do outro lado da linha

e o som de aprovação do meu pai; a comemoração deles não me era uma

surpresa.
Suspirei, passando a mão pelo queixo, pensando no meu atual

problema. Onde diabos eu iria encontrar uma noiva?


Enquanto minha mãe tagarelava animadamente, mudando da água

para o vinho, como se até minutos atrás não estivesse chorando

copiosamente, totalmente desalentada, minha mente fodida me deu a


resposta ao imaginar minhas mãos despindo lentamente uma certa mulher

trajando um vestido branco rendado, que moldava todas as suas curvas,

enquanto meus lábios beijavam o pescoço macio, fazendo-a estremecer

contra mim. Eu empurraria o tecido para cima, até deixá-la somente com a
calcinha minúscula igualmente branca e uma cinta-liga combinando.

Na minha imaginação, os seios firmes pequenos, que para o meu

desgosto ela queria aumentar, estariam nus, os bicos clamando por sentir
minha boca, e eu os excitaria com sopros, deixando-os duros com meu

hálito, até que ela se oferecesse para mim. Não hesitaria em sorvê-los, ao

passo que minhas mãos traçariam toda a sua pele…

Senti meu pênis crescer com a imagem extremamente sexy e


tentadora, mais do que pensei ser possível. A perspectiva de tocar, beijar e

ter Isis debaixo e em cima de mim tornou a perspectiva daquele “casamento

forçado” muito mais atraente, mas logo a realidade atingiu-me como um


coice e o desejo arrefeceu, transformando-se em irritação e frustração.
Duvidava muito que Isis me aceitaria, mesmo que eu estivesse loucamente

apaixonado por ela.

Porém, quando a minha mãe começou a citar nomes não apenas de

mulheres que eu já saí, mas também os de ex-namoradas, relacionamentos


que não deram certo, não hesitei em falar que ela não precisava me escolher

uma noiva, pois eu já tinha uma em mente. E no meio do interrogatório dela

e do meu pai, acabei deixando escapar, para o deleite da minha mãe, o nome
da minha secretária…

 
Capítulo nove

 
— Aquiles? — Não escondi minha surpresa, nem a sonolência, ao

escutar a voz irritada do meu chefe pelo interfone.


Franzi o cenho. Era domingo. Olhei para o relógio que ficava na

cozinha, que era acoplada com a pequena sala de estar e jantar, e constatei

que passava pouco das seis da manhã.


Eu não tinha ideia do que ele estava fazendo em frente ao meu prédio,

nem conseguia pensar em nada coerente, não quando a sonolência impedia-

me de raciocinar. Felizmente, eu não tive tantas crises de enjoo nos últimos


dias, mas, se me deixassem, eu era capaz de dormir sentada.
— Posso subir? — Tirou-me do transe com a pergunta que era mais

uma ordem do que um pedido.


Minha testa enrugou-se ainda mais e eu dei de ombros mesmo que ele

não pudesse ver. Ele já havia me acordado mesmo e, diante do nervosismo

dele, temi as consequências de brincar dizendo que não, já que o que mais
queria era voltar para cama, me enfiar debaixo dos meus edredons e dormir.

Aquiles não acharia nenhuma graça nesse momento, diferente das vezes que

ele me incentivou a tirar uma sonequinha no sofá do escritório.


— Claro, por que não? — Apertei o botão para abrir a porta em meio

a um bocejo.

— Obrigado — agradeceu em um tom tenso. — Qual o número do


apartamento mesmo?

— Duzentos e dois.
Não havia mais nenhum som, então eu coloquei o interfone na base,

sacudindo a cabeça. Como um grande zumbi, corri para escovar os dentes,

pegar um robe e vestir por cima da camisola, curta e quase transparente,

antes que meu chefe tocasse a campainha.

— Poderia perguntar se você está bem, mas vejo que não — eu disse

depois de abrir a porta.


Senti uma onda de compaixão me engolfar ao contemplar seu rosto.

Não apenas via irritação, mas também cansaço no semblante dele, como se
houvesse passado a noite em claro.
— É — passou a mão pelo queixo —, imagino que devo estar

péssimo.

Ele deu um sorriso sem graça, constrangido. Emotiva, meu coração se

apertou por ele. Mesmo assim, pude perceber seu olhar deslizando pelo meu

corpo, detendo-se alguns segundos nas minhas pernas nuas, antes de voltar

e fazer o caminho inverso. Seu escrutínio deixou a minha pele queimando,


minha pulsação acelerada.

— Diferente de você, que está com uma aparência ótima —

continuou, e a indiferença na fala dele, contrária a agitação que eu sentia,

deixou-me um pouco irritada.

— Se estar descabelada, com a cara amassada e com remela nos olhos

é sua definição de ótima, quem sou eu para discordar…

Emitiu um bufar mostrando seu desagrado, seu maxilar retesando.


— Entre, Aquiles.

Dei um passo para o lado para que ele passasse pelo batente, que

parecia estreito demais para o seu corpo largo. O apartamento pareceu

encolher quando ele entrou, mas disse a mim mesma que era uma besteira, a

presença dele não mudava o fato do meu quarto e sala ter menos de trinta

metros quadrados, o que era um verdadeiro luxo visto o valor que se pagava
para morar em Manhattan.
— Só não repare na sujeira, tinha planos de limpar mais tarde... —

Senti vergonha pelo estado da minha casa, que estava tomada pelo pó.
— Não se preocupe, você não estava esperando visitas… — disse em

um tom doce.
— Bem, não... — Fui sincera, colocando uma mecha do cabelo
embolado atrás da orelha, e os olhos dele brilharam. — Fique à vontade

para se sentar.
Apontei para a poltrona e caminhei em direção a cozinha.

— Vou preparar um café para você, bem forte — ofereci.


Era um pedido de desculpas, já que eu estava sendo extremamente

rude com Aquiles só porque não conseguia lidar com as sensações absurdas
que ainda percorriam o meu corpo. Também, o ato de passar a bebida
acalmaria meus nervos que estavam para lá de estranhos.

— Infelizmente, para mim serão longos meses sem uma gota de


cafeína — emiti um gracejo, ao encher o bule com água para ferver.

Ele soltou uma risada que soou bem próxima. Virei-me, encontrando
Aquiles sentado na banqueta alta, seus antebraços desnudos apoiados no

balcão que separava a cozinha da sala.


— Tenho certeza de que você irá sobreviver — disse em um tom
brincalhão e eu sorri para ele, aliviada, apesar da tensão e o cansaço ainda

estarem lá.
— Sim, irei — respondi e toquei minha barriga, que estava

começando a ficar abaulada, acariciando-a. — Não será fácil, não quando o


meu corpo é viciado em cafeína.

Fui em direção ao armário para pegar o pó que, felizmente, era de


uma marca das melhores. O grego, que era um grande fissurado pela

bebida, havia me ensinado a apreciá-la tanto quanto ele, para a tristeza do


meu bolso.
Suspirei baixinho.

— Mas será um sacrifício pequeno perante a saúde e o bem-estar do


meu bebê — continuei e o sorriso, como sempre, foi inevitável.

Várias vezes, me pegava abobada ao falar da criança que crescia


dentro de mim.
— Sim, ángelós mou — Aquiles concordou docemente. — Você será

uma mãe bastante amorosa e zelosa.


— Obrigada, Aquiles. — Meu sorriso ficou maior e outra vez lutei

contra as lágrimas. — Você quer me fazer chorar?


— Não mesmo — defendeu-se.

Ri, voltando a minha atenção para a cozinha.


— É a mais pura verdade! — disse logo depois.
— Adulador — falei, com o mesmo sorriso bobo nos lábios.

Foi a vez de ele gargalhar.


A pequena conversa sobre o bebê tinha me ajudado a controlar as
sensações despropositadas do meu corpo, embora tenha se tornado bastante
difícil manter-me sã perante o escrutínio atento do meu chefe a cada

movimento que eu fazia.


Ignorei o fato de que, vez ou outra, a atenção dele recaía na minha

bunda e se demorava nela, como se apreciasse o que visse. Queria dizer que
era apenas coisa da minha cabeça, mas acabei flagrando-o várias vezes
nessa contemplação, e em uma delas, para o meu desconcerto, Aquiles

ostentava um sorriso malicioso. Culpei o cansaço que ele parecia sentir.


Demorou pouco mais de quinze minutos para que estivéssemos

sentados frente a frente na mesinha de café da manhã que ficava na minha


varandinha. Ela era tão minúscula que em menos de dois passos eu poderia

percorrê-la por completo.


Uma risada baixa deixou os meus lábios sem que eu pudesse contê-la.
— Qual a graça? — Aquiles perguntou após bebericar a xícara de

café e emitir um som baixo de prazer.


— Você sentado em uma cadeira ridiculamente pequena para o seu

tamanho.
— Não é tão terrível assim...
Mexeu-se, claramente desconfortável, e nossas pernas se encostaram

sem querer. Meus pelos se eriçaram, mas, outra vez, desprezei as sensações
que me percorreram com aquele roçar, dizendo a mim mesma que meu
corpo estava bastante sensível pelas transformações que estavam ocorrendo.
Recuei no meu assento e arqueei a sobrancelha para ele.

— Bastante educado da sua parte — fui irônica, tomando um gole do


meu chá sem graça.

— Sempre…
Voltou a levar a porcelana aos lábios e eu senti uma pontada de inveja
de Aquiles, que parecia nos céus ao beber café. Senti minha boca salivar,

desejosa por tomar um gole da bebida escura e com certeza deliciosa.

Coloquei um pouco mais de mel para ver se ajudava o meu chá de


erva doce, mas o gosto ainda estava horrível. Deus, eu detestava chás!

— Isso está muito bom — murmurou.

— Posso imaginar. — Suspirei. — É importado do Brasil.

— Hm. — Fez uma pausa. — Depois me passe o nome.


Assenti e servi mais um pouco quando ele esvaziou sua xícara,

inspirando fundo o maldito cheiro do café.

— Parece uma viciada — apontou com um tom divertido.


Dei de ombros.

— Você não veio até aqui para discutir minha abstinência, não é

mesmo? — Fui direto ao ponto, a curiosidade vencendo o tato.


O som da porcelana batendo contra a porcelana ecoou nos meus

ouvidos e instantaneamente ele voltou a ficar tenso. Jurei que os olhos


verdes ficaram mais escuros, perigosos. O incômodo dele era palpável.

— Não. — Deu um sorriso desgostoso e eu senti a tensão dele irradiar

para mim, principalmente quando demorou a acrescentar: — Infelizmente,


não.

— Entendo.

Deslizei meu dedo pela borda da xícara. Uma buzina fez com que eu

desse um saltinho em meu assento.


— E então? — insisti.

— Eu preciso me casar, Isis — falou em um tom baixo.

Franzi o cenho, pegando a minha xícara e levando-a aos lábios.


Engoli o líquido horroroso, fazendo uma careta.

Ele não estava me contando nenhuma novidade, não uma que

justificasse o fato dele aparecer na minha porta naquele horário.


Apesar de ter se passado um bom tempo sem que ele mencionasse a

pressão exercida pela matriarca dos Mavridis para vê-lo casado, era mais do

que óbvio para mim que aquele assunto ainda aborrecia Aquiles. O grego

não precisava dizer isso em voz alta, estava mais do que claro na sua
linguagem corporal, no modo como vinha conduzindo seus negócios, ainda

mais irascível.
— Não estou compreendendo qual é o problema, Aquiles — falei

quando meu chefe ficou em silêncio, deixando o recipiente sobre o pires. —

Você disse que não iria ceder aos desejos da sua mãe nesse assunto.
— Infelizmente acabei concordando — murmurou, cerrando as

pálpebras.

Com certeza eu tinha os olhos arregalados, a boca aberta.

Estava em choque. Eu não conseguia acreditar naquilo que meus


ouvidos haviam escutado.

— Sério? — perguntei depois de um tempo em silêncio, tentando

digerir aquela notícia.


— Sim.

Abriu os olhos, parecendo receoso, e se movimentou na cadeira,

roçando novamente seus joelhos nos meus.

— Por que você está tão nervoso? — insisti, impaciente, mas acabei
adotando um tom divertido, brincando com ele: — lembre-se de nunca

deixar uma grávida em expectativa, faz mal para o bebê.

Dessa vez não riu, apenas ficou mais sério, antes de soltar em um tom
rouco, parecendo temeroso:

— Eu disse à minha mãe que você é a minha futura noiva.


Capítulo dez

 
Se eu estivesse bebendo o meu chá, eu teria cuspido ele todo,

provavelmente respingando no rosto do meu chefe. Fiquei mais chocada, se


é que isso era possível.

Encarei-o como se um par de chifres tivesse crescido no meio da testa

dele.
— Você o quê? — Minha pergunta soou vários decibéis mais alto do

que eu gostaria.

Ele tornou a se remexer no seu assento, e eu arqueei a sobrancelha


ironicamente para ele, exigindo uma resposta.
Tragou o ar com força, como se estivesse munindo-se de coragem, e

deu-me um sorriso sem graça. Teria sido engraçado ver Aquiles


envergonhado em outras circunstâncias, já que nunca, nesse tempo que eu

trabalhava para ele, o grego tinha demonstrado tal vulnerabilidade na minha

frente. Porém, diante daquele absurdo que eu rezava para ter ouvido errado,
não achava a mínima graça.

— Aquiles…

— Disse a minha mãe que estávamos nos envolvendo há algum


tempo e que estou pronto para te pedir em casamento — falou rapidamente

e me encarou.

Busquei algum traço de diversão no rosto dele, torcendo para que


estivesse brincando comigo, porém a seriedade não deixava dúvidas que ele

realmente havia falado para a mãe dele que nós iríamos nos casar.
Merda! Por que meu chefe tinha feito isso? Procurei na expressão

dele alguma pista, mas não encontrei nada.

Um silêncio pesado caiu sobre nós enquanto nos encarávamos

fixamente, que era somente quebrado pelo som de alguns pássaros que

faziam suas algazarras nas árvores em frente ao prédio.

— Por quê? — questionei em meio a um suspiro, e voltei a tocar a


minha barriga, buscando no meu bebê a tranquilidade que eu não era capaz

de sentir naquele momento.


— Eu não tive escolha, Isis. — Fez uma careta ao passar a mão pelo
topo da cabeça.

— Explique, por favor.

— Minha mãe me ligou aos prantos nesta madrugada por conta de um

incidente que ela considerou grave. — Torceu os lábios, antes de sua

expressão suavizar. — Ela disse que estava arruinada…

Meu coração se condoeu pela mulher, mas não disse nada, deixando
que o meu chefe continuasse.

— Eu detesto ouvi-la chorar, Isis. — Seu tom repleto de amor pela

mãe me desarmou e por um momento imaginei se a minha criança me

amaria como Aquiles amava a mãe dele. —Sabe que ela vem enfrentando

problemas por conta daquela influencer...

— Sim, eu sei. — Minha fala suavizou-se. — A mulher foi bastante

cruel.
Balançou a cabeça e tomou um gole do café, que já deveria estar frio.

— Mamãe me disse que organizar o meu casamento era sua última

chance para tentar se reerguer… Ela lutou tanto pela empresa dela...

— Posso imaginar, mas…

— Eu não posso decepcioná-la — interrompeu-me. — Nem ela, nem

o meu pai. Não a ajudar quando eu posso seria a minha maior desonra como
filho.
— Compreendo. — Foi a minha vez de suspirar baixinho e fazer uma

pausa. — Mas porque eu, Aquiles, e não uma mulher com quem você já
esteja saindo?

Os olhos verdes cintilaram e um arrepio me varreu de cima a baixo.


Novamente, fui tomada por várias sensações que me pareciam proibidas.
— Já disse que não estou saindo com ninguém no momento, ángelós

mou — falou com a voz aveludada, perigosa. — Se quer mesmo saber, Isis,
faz muito, mas muito tempo mesmo, que eu não me satisfaço…

— Sei… — Apesar da vida sexual do meu chefe não ser da minha


conta, duvidava muito disso.

Aquiles parecia muito ativo e insaciável…


O bufar do meu chefe, parecendo irritado, me tirou daqueles
pensamentos terríveis e que tornavam a me deixar quente. Muito quente.

Desviei o olhar dele, que parecia predatório, encarando a vista segura


do Ruppert Park, constrangida.

Não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo comigo. Eu


estava parecendo uma desesperada por sexo e atenção.

— Eu precisava de uma namorada com quem eu quisesse me casar …


Voltei a encará-lo.
Estava incrédula por ele retomar o assunto como se estivesse falando

do tempo ou de outra banalidade.


— Mesmo assim, você poderia…

— Eu me senti encurralado — interrompeu-me antes que eu pudesse


sugerir que ele escolhesse uma “noiva” do modo tradicional, passando por

cada uma das etapas. — Quando ela voltou a “listar” as candidatas, falando
das minhas ex, a mentira acabou saindo.

Embora meus pensamentos estivessem desordenados, eu conseguia


compreendê-lo, mas ainda assim…
— Isso não está certo — sussurrei, colocando uma mecha atrás da

orelha.
Peguei a minha xícara e tomei um longo gole. Fiz uma careta,

desistindo de beber o chá.


— Não, não está. — Segurou a ponte do nariz, demonstrando
cansaço.

A compaixão me invadiu e eu estiquei o braço para tocar a mão que


estava sobre a mesa.

— O que vamos fazer, Aquiles? — perguntei em um tom de urgência.


— Você não pode mentir para a sua mãe, não em relação a algo tão

importante para ela como é o seu casamento.


— Temo que não tenho escolha, ángelós mou, não quando ela já está
entusiasmada, fazendo planos. — Entrelaçou os nossos dedos e eu fitei
nossas mãos, sentindo que estávamos conectados de uma maneira que
nunca estivemos antes.
Respirou fundo.

— Fora que a decepção dos meus pais em saber que eu menti… —


Tragou em seco, sacudindo a cabeça. — Porra, não quero nem pensar.

Não teci nenhum comentário. Ele continuou:


— Eu preciso de você, Isis. — Apertou suavemente a minha mão. —
Sei que é errado pedir isso, mas eu preciso de você.

— Não sei se posso fazer isso — sussurrei.


Me fitou, mas logo abaixou a cabeça.

— Por favor! —suplicou. — Sei que fingir ser minha noiva não será
nada fácil…

— E o casamento, Aquiles? — Procurei ser sensata. — Sua mãe


organizará uma cerimônia grandiosa e depois uma festa luxuosa para sabe-
se lá quantos convidados. — Balancei a cabeça em negativa. — Não

poderemos pular os votos, a troca de alianças, nada. Não é tão simples


assim!

Fez uma careta.


— Podemos nos separar tempos depois — falou, esperançoso.
Minha gargalhada foi carregada pelo vento antes mesmo que eu

pudesse contê-la.
— Você está falando sério? — questionei quando ele não riu.
Deu de ombros, parecendo subitamente tenso.
Enquanto eu ponderava sobre todos os pontos negativos daquela

ideia, que para mim estava fadada ao fracasso desde o início, pequenos
flashes de como o homem à minha frente, que agora parecia extremamente

vulnerável e também ansioso, tinha me estendido a mão, tomaram a minha


mente.
Aquiles não havia apenas me presenteado com uma comemoração

inesquecível, mas também com o oferecimento de ir à consulta comigo,

com a gentileza de me deixar tirar pequenos cochilos durante o expediente,


e todos os dias ele me perguntava como eu e o meu bebê estávamos. Era ele

quem tinha me ouvido discorrer sobre a emoção do primeiro ultrassom com

um sorriso no rosto...

As imagens de Aquiles me paparicando, enxugando as minhas


lágrimas — sim, infelizmente a rejeição de Benedict ainda havia me feito

chorar não uma, mas várias vezes —, do grego cuidando de mim e de

alguma forma do meu bebê, pareceu sobrepujar todos os aspectos


desfavoráveis daquele “casamento de mentirinha”.

Não, eu não poderia ser egoísta com o meu amigo, virando as costas

para ele quando mais precisava de mim.


— E então? — questionou quando eu fiquei em silêncio por tempo

demais, e só então percebi que os dedos dele estavam suados segurando os


meus.

Sorri para ele e vi as comissuras dos lábios dele querendo se erguer

em um sorriso, mas o seu medo era palpável e o impedia de relaxar.


— Se for para mentir — brinquei —, façamos isso juntos.

Jogou a cabeça para trás e riu, parecendo eufórico e, por que não

dizer, aliviado.

A risada rouca, alta, acabou fazendo com que eu caísse na gargalhada


também.

— Calem a boca! — Um vizinho gritou. — São nem oito da manhã.

Rimos ainda mais, até que eu fiz um gesto de chega, sentindo dor na
barriga e as lágrimas escorrendo.

— Obrigado, ángelós mou. — Deu-me um sorriso lindo antes de

erguer a minha mão e plantar um beijo no dorso.


O calor dos seus lábios quentes sobre a minha pele provocou vários

choques no meu corpo.

— Não me faça me arrepender, “noivinho” — murmurei, mais para

mim mesma.
— Nunca — sua voz saiu rouca, seus olhos brilharam misteriosos,

como se houvesse muito mais escondido nessa promessa.


Quando Aquiles deixou um beijinho em cada um dos meus dedos,

deixando-me ainda mais arrepiada, me questionei se aceitar ser a

“noiva/esposa” de mentirinha dele realmente tinha sido uma boa ideia.


Capítulo onze

 
— Estou muito orgulhoso de você, meu filho — meu pai falou

animadamente, surpreendendo-me com um abraço forte, que poderia


esmagar alguém que fosse bem mais frágil do que eu, batendo nas minhas

costas no final. — Sabia que você não desonraria a nossa família.

Um sorriso sardônico cruzou os meus lábios com a sua fala, mas


felizmente consegui escondê-lo antes que Kaius o visse, o que o teria

deixado furioso.

Era impossível não perceber o quanto era irônico o fato de que eu ter
sido um bom filho a vida inteira, ser um homem íntegro, nunca ter passado
a perna em nenhum concorrente, e isso não ter nenhuma relevância caso eu

me recusasse a me casar.
— Obrigado, pai.

Encarei os olhos escuros, que pareciam tomados pelo orgulho. Já

tinha visto esse olhar antes, não uma, mas várias vezes e em situações
diferentes, porém, nunca com tal intensidade.

Merda!

— É uma honra para mim cumprir o meu papel de filho — forcei a


minha voz a soar exultante, como se eu estivesse completamente eufórico.

Bom, eu estava animado, mas não pelo motivo que meu pai achava.

O meu desejo por aquela mulher pareceu ultrapassar todos os limites


quando ela abriu a porta para mim trajando apenas um robe de seda, seus

cabelos loiros e longos caindo desajeitadamente pelos seus ombros e costas.


Acho que nem mesmo na noite em que fomos jantar, onde ela estava não

apenas elegante, mas também extremamente gostosa, Isis conseguiu me

deixar tão impressionado, tão excitado.

Por mais que a minha intenção tenha sido disfarçar meu escrutínio,

não tive forças para mascarar o meu desejo, nem a minha fome por ela.

Nem mesmo pude evitar dizer coisas de duplo sentido e também de caráter
pessoal.
Eu tinha que parabenizar o meu autocontrole, que me impediu de
colocá-la em cima do balcão da sua pequena cozinha e fazer sexo com ela

ali mesmo, sentindo aquelas pernas me envolverem enquanto eu entrava e

saía de dentro dela, minha boca desfrutando daqueles lábios chamativos e

de aparência deliciosa, tragando os seus gemidos.

Estava louco para tocá-la, beijá-la, acariciá-la... seduzi-la... Enquanto

“fingíamos” ser um casal de apaixonados, meus beijos e carícias não terão


nada de falsos.

Se o meu pai soubesse que tê-la era minha motivação para esse

casamento, seria uma verdadeira desgraça.

Falando em inferno, tinha sido mais do que infernal esperar uma

resposta de Isis na manhã de ontem. Nunca imaginei que eu ficaria tão

ansioso, mas foi o medo de ser recusado por ela, algo que estava ciente que

tinha muitas chances de acontecer, que foi diabólico. O pânico tinha


revirado o meu estômago, eu havia suado frio, ficado vulnerável, e isso me

perturbava.

Era descabido sentir-me tão nervoso diante de um não, mesmo que

esse “não” fosse aniquilar qualquer possibilidade de finalmente saciar meus

desejos por ela. Seria completamente decepcionante e…

— Você finalmente se tornará um homem, Aquiles — disse meu pai


depois de uns instantes em que parecia me analisar, dando-me tapinhas em
um ombro.

— Eu sou um homem, papai — falei suavemente, segurando o


“merda” que por pouco não escapou.

Não me sentia muito paciente para escutar sobre as “virtudes” de me


transformar em um homem casado.
O fato dele continuar a tocar o meu ombro indicava que, eu querendo

ou não, ele iria continuar seu discurso, e assim o fez:


— Não um completo. Só ficamos completos quando encontramos a

mulher certa.
Caralho!

Fingir era mais difícil do que eu pensava, pois tudo o que eu queria
era fazer uma careta com o pensamento conservador. Não deveria me
surpreender. Meu pai poderia ter vindo morar nos Estados Unidos para

fazer muito mais dinheiro que já tinha, mas ele não deixava de ser um grego
tradicional.

— Sim — concordei com ele, mesmo que não acreditasse piamente


nisso. — Isis é uma mulher centrada, inteligente, bem-humorada, diligente,

criativa e ambiciosa… — comecei a tagarelar, tentando soar como o


homem apaixonado que Kaius imaginava que eu fosse, evitando falar do
aspecto mais “atraente” dela.
Pareço ter conseguido meu intento, pois o meu pai sorriu em

apreciação.
Estranhamente, não agradeci o fato de ter herdado um pingo da veia

dramática da minha mãe, pois mesmo que meu tom tenha soado
extremamente rouco, não havia nenhuma mentira em minha fala. Eu a

admirava por todas essas características, talvez até mais do que o corpo que
eu estava louco para provar…
— Está mais do que claro para mim que ela é perfeita para você,

filho. — Meu pai pareceu ficar ainda mais satisfeito. — Somente uma
mulher com ambição em progredir na sua carreira, independente, e também

viciada em trabalho, teria te conquistado.


Piscou para mim, rindo do próprio comentário.
— Provavelmente — murmurei, não muito certo disso, mas não tinha

intenção alguma de refletir sobre o assunto.


— Eu sou grato a essa moça que fez com que você se apaixonasse —

sussurrou, com a voz embargada. — Pensei que não estaria vivo para ver o
meu único filho subir ao altar e me dar netos… Estou ficando velho…

Tive que me controlar para não engolir em seco. Meu pai sempre foi
para mim uma figura que representava força e determinação. Era frágil só
em relação a minha mãe, então ver o medo dele de partir me desconcertava.
— Bobagem, papai. — Foi a minha vez de dar tapinhas nos seus
ombros, procurando dar à conversa um tom mais leve. — O senhor está
ótimo, melhor do que eu, que já estou cheio de cabelos brancos.

— Isso porque você não os pinta. — Fiz uma careta e Klaus arqueou
uma sobrancelha para mim, desafiando-me a zombar dele, como não o fiz,

continuou naquele tom melancólico: — Mesmo assim, vou agradecer e


muito a sua Isis.
— Eu que tenho que agradecer à mamãe por ter me aberto os olhos

sobre o casamento. Se não fosse por ela e sua insistência, eu não teria
conseguido entender os meus sentimentos pela mulher que está há dois anos

ao meu lado… — retruquei, adulando-o, o que pareceu agradá-lo.


— Lembre-se de dizer isso a Agatha. Ela ficará muito feliz em te

escutar dizendo isso. — Gargalhou e sentou-se em sua cadeira, atrás de sua


mesa de trabalho.
— Hm.

— E também seria bom admitir que estava sendo cabeça dura.


— Eu… — Segurei-me a tempo. — Sim, estava.

Sentei-me também, sentindo cansado daquele assunto.


Fechei os olhos, massageando a têmpora.
— A reunião com o Kobayashi foi exaustiva. — O homem de

negócios finalmente retornou.


— Ser sucinto não é uma virtude dele. — Emiti um suspiro e voltei a
fitar o meu pai, com o cenho franzido. — Tem certeza de que ele é a melhor
pessoa para estar à frente de um cargo tão importante como o de diretor de

vendas?
— Você nunca se cansará de me perguntar isso, Aquiles? —

Gargalhou e eu acabei caindo na risada também, esparramando-me


languidamente no assento. — O homem trabalha para mim há anos!
— Só estou tentando colocar um pouco de juízo no seu cérebro,

papai. — Arqueei a sobrancelha para ele, não escondendo a minha diversão.

— Me admira muito o fato de a mamãe não ter tentado ter feito isso ainda.
— Sua mãe é muito mais esperta do que você, já que ela sabe que o

Kobayashi me faz ganhar milhões por mês.

Bufei.

— E também paciente — continuou me provocando.


— Ela comeria vivo a todos nós.

Os olhos verdes do meu pai cintilavam, repletos de orgulho da mulher

que tinha.
— Isso é o que mais gosto nela…

— Tem certeza, Kaius? — Abri um sorriso malicioso, mostrando

todos os meus dentes para ele. — Pois a mim não parece. No domingo
passado, se eu não me engano, vi um certo alguém apalpando a bunda da

esposa quando pensava que ninguém estava vendo…


Meu pai ficou vermelho e eu gargalhei alto. De algum modo, me senti

vingado por constrangê-lo.

— Eu não estava fazendo isso. — Levou a mão ao colarinho,


afrouxando a gravata.

— Não? — Fiz-me de inocente.

Meu pai começou a praguejar, e eu ri ainda mais.

— Você consegue ser muito desagradável quando quer, Aquiles —


disse em um tom severo.

— A culpa não é minha se vocês não sabem se conter. — Tamborilei

os dedos sobre a mesa. 


— A culpa é dela por ser tão…

— Por Hades, eu não preciso ouvir a intimidade dos meus pais que

não tem pudores — interrompi-o, torcendo os meus lábios em uma careta.


— Foi você quem começou.

Deu de ombros, apenas para me dar o mesmo sorriso maquiavélico

que eu tinha dado a ele. Fiz de tudo para não estremecer perante a algo tão

tolo.
— Mas se quer saber, filho, torço para que aconteça o mesmo com

você... — Fez uma pausa dramática, seu sorriso ficando ainda mais
maldoso, e eu me senti amaldiçoado. — Que você vire um maldito

obcecado, que conta os segundos do seu dia para colocar as mãos na sua

esposa.
— Eu já sou — deixei o pensamento escapar, mas, por sorte, foi tão

baixo que meu pai não escutou.

Meu pai se ergueu, ajeitando o terno dele.

— Falando nisso — disse, divertido, mas sua expressão o traía, pois


ele sentia tudo, menos diversão —, irei para o escritório da sua mãe ver

como ela está. Tenho certeza de que Agatha está precisando relaxar…

— Sei — murmurei, irônico, não querendo nem imaginar o que ele


faria para “distrair” minha mãe.

— Você deveria fazer o mesmo, Aquiles — sugeriu, malicioso.

— Não posso pensar em coisa melhor.

“Pena que não posso fazer o que eu quero com Isis ainda”, completei
em pensamentos.

Dei um sorriso predatório que era extremamente falso e escondia a

minha frustração.
— Deus! — Kaius soltou um grito e eu fiquei preocupado quando vi

seu cenho franzido.

— O quê? — perguntei, sentindo a urgência me percorrer.


— Já ia me esquecendo de uma coisa. — O alívio que senti foi

instantâneo.
— Precisa que eu veja algum documento antes de eu ir ou assine

algo? — Eu e meu pai tínhamos alguns negócios em comum.

Fez que não e se aproximou de mim.


— Eu e a sua mãe queremos te dar algo — sussurrou e eu percebi

uma emoção estranha cruzar a sua face.

— Entendo. — Fiquei desconfortável. — Precisamos buscar em

algum lugar?
— Não. Estou com ele no bolso.

Franzi o cenho e o vi tirar uma caixinha de lá, estendendo-a em minha

direção.
— O que é isso? — Peguei o estojo.

— Você nos disse que ainda precisava pedir a sua namorada em

casamento. — Pigarreou quando sua voz saiu emocionada. — Nós

guardamos o anel de noivado que foi da minha mãe e também da sua para
que, quando chegasse o momento, você o desse a sua escolhida.

Sem saber o que dizer, com os dedos trêmulos, abri a caixa, revelando

uma meia-aliança prata com um pequeno topázio, que era bastante simples,
sem nenhum diamante, e voltei a fitar o meu pai.
Não tinha ideia que eles guardaram um anel por tanto tempo para que

eu pudesse presentear minha futura esposa, apesar de lembrar de ter ouvido

vagamente minha mãe falar em algum momento da vida que era comum

usar o mesmo vestido da mãe ou da avó.


— Sei que existem joias mais belas, com um design mais moderno...

— Fez uma pausa, parecendo inseguro. — Ele pode não ser valioso em

termos financeiros, mas todas que usaram esse anel foram felizes em seus
casamentos, e não há nada que desejamos mais, não só para ela, mas

também para você, do que felicidade.

— Compreendo — falei baixinho, sentindo o peso da farsa sobre os

meus ombros, um grande bolo se formando na minha garganta. E, droga,


não tinha nem quarenta e oito horas que eu havia criado aquele engodo.

“Não se deixe levar pelas emoções, Aquiles” — disse mentalmente

enquanto encarava novamente o anel —, “os fins justificam os meios”.


— Gostaríamos que se tornasse uma tradição, mas entenderemos se

você achar que ela não gostará do anel.

— É lindo — murmurei, e era verdade. Tocando o topázio, a ponta do

meu dedo queimando metaforicamente com o contato, disse: —


Estranhamente, é da cor dos olhos dela.

— E então?

— Tenho certeza de que ela irá adorar.


Encarei meu pai quando ele soltou um suspiro de alívio, e vi o sorriso

enorme de contentamento que tomou seus lábios.


— Obrigado, filho. — Deu um tapa nos meus ombros. — Tenho

certeza que sua mãe ficará muito contente em saber que você concordou em

seguir essa tradição…

— Tenho certeza que sim — respondi mecanicamente, ainda preso ao


peso que significava aquele anel.

— Então eu vou indo. — Kaius pareceu se recompor e o brilho

malicioso voltou a estampar a sua face. — Provavelmente sua mãe deve


estar precisando de uma boa massagem depois de um dia lidando com os

problemas da festa.

— Mande um beijo para ela.


— Claro. Nos encontramos amanhã? Estamos doidos para conhecer

nossa futura “filha”.

Um pequeno bolo se formou na minha garganta e eu dei o meu

melhor sorriso, como se eu estivesse encantado com o fato deles já estarem


considerando a minha secretária como da família sem nem mesmo conhecê-

la pessoalmente. Uma pontada de mim estava feliz com isso, mas a outra

estava confusa de como deveria me sentir.


Voltei a encarar o anel.
— Sim, ela está louca para conhecer vocês também. — E
provavelmente nervosa.

Pouco tínhamos conversado sobre a nossa “farsa”, já que ontem, após

nossa conversa, a deixei descansando depois de acordá-la tão cedo, e hoje


afundei-me no trabalho. Apenas deixei claro que minha mãe achava que nós

dois estávamos completamente apaixonados.

— Excelente! Tenha uma boa noite, filho. — Mais malícia.


— Você também.

— Eu não tenho dúvidas que terei. — Riu, parecendo eufórico, e

acabei rindo da cara dele.

Escutei o som de passos e o barulho da porta da sala de reuniões se


abrindo e fechando. Agradeci Kaius por não questionar o meu

comportamento estranho e nem o fato de eu não ter ido embora com ele,

afinal, estava na empresa dele.


Não sei quanto tempo fiquei olhando a meia aliança, sentindo o seu

“peso”, seu significado. A única certeza que tinha era que aquela joia
parecia tornar a “farsa” ainda mais difícil de se manter.
Merda!
Capítulo doze

 
— Isis — murmurei, surpreso, quando a encontrei sentada na sua

mesa mexendo em alguns documentos.


— Boa noite, Aquiles.

Ela desviou a atenção do que fazia e me fitou.

Não respondi, perdendo a fala momentaneamente ao admirar a curva


suave do seu rosto, emoldurado por uma mecha loira e suave que escapou

do coque.

Caralho, ela era tão linda, tão angelical... e seria minha…


“ De mentira”, uma vozinha ácida sussurrou no meu ouvido e eu fiz

uma careta.
— Está tudo bem? — questionou, seu cenho se franzindo.

— O que você ainda está fazendo aqui? — respondi com uma

pergunta e cruzei a distância do elevador até a sua mesa e parei na sua


frente. — Você já deveria estar em casa, de banho tomado e descansando —

falei suavemente, demonstrando a minha preocupação com ela e a sua

gestação.
— Nós precisamos conversar, Aquiles — murmurou e sua expressão

ficou subitamente séria. Os olhos azuis demonstravam ansiedade. Não

gostei em nada do seu semblante, o que me deixou imediatamente tenso. —


E precisava ser pessoalmente.

A sentença fez com que um frio percorresse a minha espinha. Ela não
tinha mudado de ideia, não é mesmo?

Meu peito se apertou e detestei a sensação.

Porra! Torci para que não fosse isso. Se sim, estaria ainda mais fodido

do que já estava naquela mentira toda.

— Eu poderia ter ido até a sua casa — disse, tentando imprimir ao

meu tom diversão, o que não sentia, e sabia que havia falhado no meu
intento.
— Precisava fazer alguma coisa para me manter ocupada enquanto
isso. — O suspiro dela foi audível e eu pressenti que era um péssimo sinal.

— Compreendo. — Balancei a cabeça, embora o fato dela estar

trabalhando mais do que deveria me desagradasse. — Por que não

conversamos no meu escritório? — sugeri.

— Certo.

— Primeiro as damas.
Fiz uma espécie de mesura e minha secretária sorriu para mim,

deliciada, aliviando um pouco a pressão daquelas garras malditas fincadas

no meu coração. E, mesmo rígido de tensão, enquanto ela caminhava, não

deixei de observar a bunda deliciosa, perfeita, nem o modo como os quadris

se moviam provocativamente. Caralho, eles eram a minha perdição e eu

queria muito senti-los de encontro aos meus.

Enquanto ela se acomodava na cadeira, removi o meu paletó e desfiz


o nó da gravata. Abri alguns botões da camisa e enrolei as mangas na altura

dos antebraços, parte querendo desesperadamente o olhar de admiração dela

sobre mim outra vez.

— Você quer desistir, Isis? — Soltei aquilo que me incomodava de

uma vez ao me sentar espalhafatosamente e encarei a mulher igualmente

tensa. — Eu irei entender caso você não queira seguir com o nosso
casamento de mentira.
Infelizmente, não tinha por que adiar o inevitável.

Ela se movimentou no assento, parecendo desconfortável.


— Não precisa ter medo de me dizer a verdade — continuei. — Nada

irá mudar entre nós. Eu não perderia uma funcionária maravilhosa como
você, a futura presidente de uma das minhas empresas, ainda mais quando o
único culpado dessa merda sou eu.

— Acha mesmo que eu voltaria atrás na minha palavra, Aquiles? —


falou baixinho.

Ela pareceu ferida com a minha fala e eu quis me socar. Não havia
nada mais importante para ela — tirando o seu bebê —, que a sua

integridade. E questioná-la dessa forma era um erro.


Droga, Aquiles!
— Não. Me desculpe, ángelós mou, esse assunto vem me deixando

prestes a explodir. — Passei a mão pelo queixo.


Levou a mão até a barriga e começou a acariciar o pequeno volume,

algo que, por razões desconhecidas, me fascinava ao mesmo tempo que


deixava meu coração acelerado. Eu sabia que não era nenhum fetiche que

acabei descobrindo ter por grávidas, pois nenhuma outra tinha me atraído,
nem mesmo me excitado, mas o toque carinhoso despertava em mim
ternura e outros sentimentos difusos que não queria denominar.
— Posso compreendê-lo. Não se preocupe, irei continuar com essa

sua loucura.
A confirmação fez com que o alívio me banhasse da cabeça aos pés.

Suspirou, me tirando da hipnose proporcionada pelos seus


movimentos, e abriu um sorriso que continha um pouco de nervosismo.

— Então por que está tão tensa? — perguntei carinhosamente.


— Bom…
Colocando a mecha atrás da orelha, mordeu os lábios de uma maneira

que era fodidamente sexy. Meu sangue correu veloz pelas veias, incidindo
diretamente no meu pau. Sempre me surpreendia o fato de que bastava um

pequeno gesto dela para me deixar semiereto.


— Isis? — insisti.
— Meu Deus, é tão constrangedor. — Deu uma risada grossa e

gostosa, que fez meu corpo vibrar.


— O quê? — Fitei-a, confuso, debruçando-me sobre a mesa.

— Sua mãe acredita que somos loucos um pelo outro, correto?


— Sim — confirmei, tentando acompanhar a linha de raciocínio dela.

— E pessoas apaixonadas… — Fez um gesto com a mão, tentando


talvez tirar a importância do fato. — Bem, você sabe…
Ficou completamente vermelha, voltando a morder os lábios.
Minha respiração se acelerou, a excitação voltou a me controlar. Não
resisti em olhar para os seios dela, encontrando-os subindo e descendo
rapidamente, revelando que isso mexia com ela também. Eu descobri que

amava aquele assunto.


— Sei. — Voltei a encarar o seu rosto.

— Como iremos conseguir manter essa farsa sem nos trair? — Sua
voz estava um pouco estrangulada, quase ofegante. — Ela com certeza irá
perceber se a gente não se comportar como um casal apaixonado. Sua mãe

tem experiência demais para perceber se nós realmente nos amamos ou não.
— É, realmente, teremos que ser bem criativos, ainda mais quando

ela é completamente louca pelo meu pai, e agem sem pudor. — Escondi a
minha diversão, bem como a minha euforia, com o assunto.

— Não havia pensado nisso — sussurrou.


— Agatha não esperará menos da minha noiva, ainda mais quando ela
acha que eu tenho a “paixão” dos gregos. — Pareci pensar por uma fração

de segundo. 
“Fogoso” poderia ser a palavra mais adequada, mas descobri que não

era, não em relação a minha “escolhida”. Na verdade, eu tinha fome.


E quando Isis gemeu, eu senti que ficava ainda mais faminto.
— Deus! Como vou conseguir? — Pareceu ficar ainda mais vermelha

e ofegante.
— Não vejo por que não iria — tentei animá-la.
— Você é o meu chefe!
Bufei, baixinho, sentindo-me irritado com a sua fala. Foda-se se eu

sou o chefe dele.


Essa seria a melhor parte de todo o meu plano. 

— Como vou conseguir beijar, tocar e olhar para você como uma
mulher apaixonada? Ela nunca vai acreditar que há intimidade entre nós
dois, Aquiles… — Parecia desesperada, e eu voltei a bufar. — Nossa farsa

irá acabar em poucos minutos, assim que pousar os olhos sobre nós.

Fiquei em silêncio por uns instantes.


— Não deve ser tão difícil assim… — Fiz uma careta, tamborilando

os dedos sobre a mesa, ficando impaciente.

— Claro que é! — Emitiu um gritinho abafado, que rivalizaria com os

da minha mãe, seus ombros caindo.


Baixou o rosto, olhando o seu colo, envergonhada.

Continuando a dedilhar a superfície de madeira, minha mente

começou a procurar desesperadamente por uma solução para o nosso


“suposto” problema, e quando a resposta veio, instantaneamente fiquei

eufórico. 

Caralho, eu era um gênio.


— Podemos fazer um “experimento” — murmurei em um tom calmo

enquanto tentava controlar o sorriso lascivo, escondendo minha excitação, o


que poderia assustá-la ainda mais.

Eu não tinha controle nenhum sobre o desejo que me percorria, não

quando eu antecipava o momento em que eu descobriria o sabor dos seus


lábios.

— Experimento? — Voltou a me encarar, parecendo confusa e

temerosa.

Dei de ombros.
— Bom… — fiz um gesto displicente e me ergui. — Podemos

ensaiar um pouco, para tentarmos ser convincentes.

Dando a volta na mesa, aproximei-me dela e, girando sua cadeira


suavemente, fiz com que ela ficasse de frente para mim.

— Co-co-mo? — gaguejou, os olhos dela se arregalando.

Me inclinei sobre ela e dei a oportunidade para que me empurrasse se


quisesse, porém ela não o fez. Confiante, bem próximo a curva do seu

pescoço, respirei fundo, uma intimidade reservada apenas para os amantes,

querendo gravar o seu cheiro na minha memória.

— Primeiro, você precisa esquecer que eu sou o seu chefe. — Minha


voz soou rouca ao ver os pelinhos dela arrepiados com o calor da minha
respiração. — Apesar de você ainda trabalhar para mim, tem que se

recordar que agora você será a minha mulher, Isis.

Ela estremeceu e eu fiz um esforço hercúleo para me aprumar. Me


afastei alguns passos, contrariando o meu desejo de pousar a minha boca na

sua pele.

Olhei para o seu rosto corado e engoli um gemido ao olhar os lábios

rosados entreabertos, buscando por ar. Ela estava envergonhada, mas


igualmente excitada.

— Agora vamos apenas nos olhares como se estivéssemos loucos

para ficarmos a sós e removermos a roupa um do outro — continuei. Ela


arfou.

Sem nenhuma cerimônia, deixei que meus olhos percorressem lenta e

maliciosamente cada pedaço dela, dos cabelos loiros aos seus ombros

delicados, passando pelos seios pequenos até chegar no abdômen


suavemente arredondado, descendo pelas coxas, focando nas panturrilhas

nuas até alcançar os sapatos de bico fino.

A cada pedacinho dela examinado, eu me sentia mais rígido; meu


coração batia feito um louco. Puxar ar para os pulmões tornava-se cada vez

mais difícil. Eu estava ofegante. Não conseguia disfarçar a ânsia que sentia

por ela.
Fiz o caminho inverso, imaginando como seriam as minhas mãos, não

meus olhos, a explorar o seu corpo, de como me sentiria ao despi-la


lentamente, tocando cada pedaço da pele macia, que eu iria expondo ao

subir a sua saia até encontrar o seu sexo.

Sorri de forma lasciva quando imaginei meus dedos tocando os pelos


úmidos que cobrem seu sexo, molhados pela sua excitação, antes de voltar a

percorrê-la.

Sim! Nas minhas fantasias, ela viria trabalhar sem calcinha todos os

dias, me deixando rígido durante todo o expediente. Seria uma tortura, mas
eu a teria tantas vezes quanto eu a quisesse, deixando nossos corpos

completamente moles, colados pelo suor, esgotados...

Continuei a explorá-la, e vi Isis engolir em seco, envergonhada,


quando meus olhos pararam no seu pescoço.

— Você finge bem — ela falou tão baixo, que por pouco não a

escutei.

Engoli a frustração e um “eu não estou fingindo”, apenas dei de


ombros, deixando-a acreditar no que quisesse.

— Fui muito convincente? — Era uma pergunta retórica, pois ao

olhar para o seu busto, obtive a minha resposta.


A cadência com que seu peito subia e descia era fodidamente

deliciosa de assistir.
— Tanto que não faço ideia de como conseguirei resultado similar —

falou depois de instantes em que ficamos apenas ofegando.

Ela tentou parecer mais recomposta, mas olhando outra vez cada

pedaço dela, vi que o seu corpo a traía. O desejo parecia se sobrepor até
mesmo a vergonha.

— Te ajudarei — soei convicto ao olhar em seus olhos azuis.

— Obrigada.
Sorriu e eu retribuí. Comecei então a puxar a camisa social de dentro

da calça e a abrir os botões, displicentemente, e vi o sorriso dela morrer,

transformando-se em outro engolir em seco enquanto eu desnudava o meu

peitoral.
— O que está fazendo? — ofegou.

Continuei o meu trabalho, um botão de cada vez, consciente de que a

minha secretária acompanhava cada um dos meus movimentos.


— Te incentivando. — Minha voz soou rouca e eu a encarei.

Mordeu outra vez os lábios de maneira provocante e meus dedos

vacilaram perante o escrutínio dela. Acho que nunca minhas mãos ficaram

tão trêmulas sob o olhar atento de uma mulher, e, ao contrário do que


imaginava, não me senti incomodado com a minha súbita fragilidade, me

senti, sim, mais afoito por ela, louco para sentir o calor do seu corpo de

encontro ao meu.
Quando desabotoei o último botão, removi meus braços das mangas e

joguei a peça em um lugar qualquer.


Nu da cintura para cima, displicentemente, passei a mão pelo meu

peitoral arfante, chamando a atenção para os gominhos do meu abdômen.

Seus olhos cintilaram.

— Olhe para mim, Isis. — Encarei seus olhos, que ficaram fixos nos
meus, e dei a ordem, meu tom exalando pura luxúria: — Esqueça que você

é minha funcionária e pense que nesse momento você é apenas uma mulher

que deseja, mais do que a própria vida tocar, beijar, lamber, cada parte do
homem a sua frente. Do seu homem.

O suspiro baixinho e excitado dela era combustível para as minhas

chamas. Meu peitoral subia e descia enquanto meu coração parecia que iria
sair pela boca a qualquer momento.

— Eu sou o seu homem, Isis, o seu futuro noivo — falei com a voz

áspera, não escondendo a possessividade que sentia em relação a ela. —

Mostre-me o quanto você me quer.


Obedientemente, fez o que ordenei. Por onde os olhos dela passavam,

eu sentia a minha pele queimar.

Porra! A cobiça nos olhos azuis era a minha perdição, tornando-se


cada vez mais difícil não cruzar a pequena distância que havia entre nós e

capturar os lábios entreabertos, dando vazão à luxúria.


— Daqui a pouco, homem — sussurrei para mim mesmo,
agradecendo o fato dela não ter me escutado. Se fosse honesto, diria que

nem eu mesmo não estava muito disposto a me ouvir…

Voltei a deslizar a minha mão pelo meu corpo, chamando a atenção


para os meus músculos, e ela acompanhou o gesto, faminta. Não ousou

descer o olhar para baixo da linha da minha cintura, como eu ansiava,

voltando a encarar o meu rosto.


— Estou sendo convincente, Aquiles? — perguntou ao buscar uma

lufada de ar.

Embora sua face estivesse corada, ela demonstrava uma insegurança,

ao meu ver, desnecessária, e eu quis mais do que tudo mostrar que ela não
precisava se sentir hesitante. Porra! Meu pênis esticava contra o tecido da

calça social, pulsando dolorosamente, querendo-a.

— Muito! — Minha voz era rouca, baixa, sedutora. — Você está


maravilhosa, ángelós mou. — Aproximei-me dela em poucos passos e

voltei a me inclinar sobre ela, inspirando seu cheiro, murmurando próximo


a sua orelha: — Tenho certeza de que você irá convencer a todos.
Quando me endireitei, ela brindou-me com um sorriso e eu quase

gargalhei, eufórico, quando, “treinando”, tornou a deixar seus olhos


percorrerem a minha pele. O desejo era maior do que o próprio pudor.
— Acho que podemos passar para a próxima etapa da nossa
“experiência”... — continuei, depois que ela se deu por satisfeita.
— Mesmo? — Moveu-se na cadeira, parecendo ansiosa.

Fiz que sim com a cabeça.


— E qual seria? — Inconscientemente, passou a língua pelos lábios,
como se quisesse umedecê-los ao senti-los secos.

Porra! Ela destruiria a minha sanidade.


— Aquiles?
— Como é natural que um casal se toque, se abrace, precisamos nos

acostumar com o corpo um do outro para que isso não nos traia… para que
não pareçamos surpresos ou… enojados.
Senti meu maxilar travar depois de dizer aquela palavra. Traguei o ar

com força e acariciei o meu queixo. Apesar da minha futura noiva não ter
me repelido das vezes em que a toquei, e no momento ela estar bastante
participativa no meu “experimento”, pensar nela sentindo aversão ao meu

toque me deixou irritado. Não queria aquele sentimento nocivo entre nós,
não vindo dela.

— Entendo. — Suspirou, ficando tímida repentinamente. — Isso seria


um verdadeiro desastre.
— Sim, seria.
Ficamos nos encarando por segundos a fio, presos no olhar um do
outro.
— O que tenho que fazer? — Quebrou o silêncio, a ânsia parecendo

voltar a crescer nela. — Meu Deus, que pergunta besta, está mais do que
óbvio. 

Levou a mão à testa e se bateu. Não gostei dela se chamando de idiota


nas entrelinhas.
— Não, não é… — disse.

Outra vez deu aquele sorriso que me desarmava, seguido de uma


risada rouca, sexy. Deliciosa!
— Levante-se, Isis — falei baixinho enquanto ela ria, meu corpo todo

vibrando com a perspectiva de ser acariciado pelas suas mãos, e quem sabe
seus lábios. — Ficará difícil fazer isso com você sentada.
— Oh! Claro.

Ergueu-se rapidamente e passou a mão na saia, ajeitando-a, antes de


parar na minha frente. Mesmo que alguns centímetros nos separassem, pude
sentir o calor do seu corpo contra o meu. Dei um passo para frente, atraído

por ela.
— Aquiles — voltou a chamar o meu nome.

— Toque-me, ángelós mou, por favor. — Inconscientemente,


aproximei o meu nariz da curva do seu pescoço e respirei fundo,
impregnando-me dela.
Ergui o rosto, e voltamos a nos encarar.

Por um momento, vi hesitação nela, como se ponderasse se era certo


ou não.
— Da forma que você quiser… — completei.

A vi piscar várias vezes.


O tempo parecia suspenso até que, depois de lutar contra si mesma,

senti as duas palmas pequenas pousarem sobre os meus ombros tensos.


Prendi o ar com as sensações deliciosas que me percorreram com
aquele contato e soltei o ar devagar quando, confiante, ela deslizou suas

mãos lentamente pelos meus braços, tentando conhecer cada um dos meus
músculos.
Quando Isis começou a subir os dedos, tocando a parte interna dos

meus bíceps, eu não segurei um gemido de prazer com a carícia suave.


Nem nos meus sonhos mais eróticos pude imaginar que seria tão
delicioso receber o seu toque. Todos os meus pelos estavam arrepiados e eu

me sentia cada vez mais tenso, mesmo assim, eu morreria se ela parasse de
me acariciar.
Voltando a tocar os meus ombros, ela os contornou antes de deslizar

seus dedos pelo meu peitoral. Como um tolo apaixonado que era acariciado
pela primeira vez pela mulher que amava, arfei, cada vez mais perdido e
preso naquele mar de sensações. Fechei os olhos quando uma mão

espalmou onde meu coração batia forte, enquanto com a outra ela dedilhava
o meu abdômen, me fazendo retesar ao seu contato.
Gemi outra vez quando ela alcançou a região bem próxima ao cós da

minha calça, brincando com aquela área que não sabia que era tão sensível,
me deixando expectante, mesmo que soubesse que ela não iria muito além.
Sem cerimônia, acariciou a minha lombar, subindo cada vez mais

pelas minhas costas, mapeando cada pedaço de pele, cada músculo, fazendo
com que um som gutural escapasse da minha garganta, eu não conseguia ter

controle sobre o meu próprio corpo. Ainda de olhos fechados, estremeci


quando ela alcançou o topo das minhas costas e raspou as unhas pela minha
pele, arranhando-me até chegar próximo a minha bunda. Senti o pré-gozo

escapando pela minha glande e escorrer pelo meu pênis.


— Caralho! — murmurei entredentes quando ela repetiu os
movimentos, dessa vez usando um pouco mais de força.

Provavelmente, iriam ficar pequenos vergões, mas eu não dava a


mínima para isso.
— Te machuquei? — Parou de me tocar e, soltando um bufar, eu abri

os olhos encarando o seu rosto preocupado e envergonhado.


— Não — poderia dizer que eu estava sentindo dor em outro lugar,
mas sabia que estava indo muito mais além do que deveria —, por que a
pergunta?
— Fui longe demais…
— Não, ángelós mou. Lembre-se que seremos um casal que toca um

ao outro sem nenhum constrangimento ou medo.


— Sim… — uma lufada de ar quente atingiu a pele do meu rosto —,
mas…

— É desconfortável para você? — A interrompi, engolindo em seco


aguardando a resposta. — Digo, me tocar?
Balançou a cabeça em negativa.

— Então está tudo bem, Isis…


Deixei um beijo na ponta do seu nariz e ela me fitou surpresa, antes
de rir.

— Continue a me tocar — completei em tom de ordem. — Se me


incomodar, eu te falo.

— Certo.
Com um suspiro, voltou a acariciar os meus braços e apertou os meus
bíceps, levando-me novamente para o meu paraíso e o meu inferno.

Explorou por minutos a fio o meu torso nu, arrancando vários sons baixos
de mim. Outra vez, inconscientemente, fechei os meus olhos, desfrutando
da sensação deliciosa de ter suas mãos pequenas por toda a parte, de sentir o

calor de pele contra pele.


— Aquiles?
— Hm? — respondi com um gemido quando seus dedos alcançaram

mais uma vez a minha lombar. 


— Você não vai me tocar?
Voltei a olhá-la e não contive um sorriso de canto quando vi certa

expectativa em seus olhos.


— Sim, ángelós — falei baixinho. — Acho que podemos aproveitar e
treinar também o modo como nos fitamos.

— Claro. — Enfatizou com um aceno e nos encaramos.


Foi automático sorrirmos um para o outro, e, diferentemente do
“primeiro” experimento, o olhar pareceu mais natural, mais suave, como se

estivéssemos encantados um pelo outro, apaixonados.


Meu coração pareceu bater em um ritmo completamente diferente, e
eu não procurei entendê-lo, apenas me entreguei aos sons que fazíamos, ao

calor dela, que me mantinha quente com seu sorriso lindo e o brilho dos
seus olhos.

Enquanto ela continuava a me alisar, ergui uma mão e, com as pontas


dos dedos, acariciei a sua garganta, lentamente, sentindo o movimento
quando ela engoliu em seco.

— Está tudo bem, Isis? — perguntei, receoso, mesmo que visse uma
centelha de desejo em sua expressão.
Não deixei de acariciá-la ali, por mais que fosse uma região sensível.
— Sim — falou em meio a um suspiro.

— Bom.
Um som de contentamento deixou os meus lábios e, com carinho,

acariciei sua nuca enquanto que com a outra mão acarinhava seu braço,
subindo e descendo.
Deus, essa mulher era tão macia, tão deliciosa, tão responsiva... Eu

sentia a pele dela toda arrepiada.


Não mais me contendo, realizando a minha fantasia, enterrei meus
dedos nos fios loiros claros que muitas vezes sonhei em tocar, e desfiz o

coque dela ao massagear gentilmente seu couro cabeludo.


— Hm. — Emitiu um gemido baixinho. — Isso é bom!
Gargalhei, deliciado por fazê-la gemer, e continuei a esfregá-la,

enquanto com a outra mão enrolava uma mecha dos cabelos dela nos meus
dedos.
Ela jogou um pouco a cabeça para trás.

— Perfeitos — murmurei, completamente fascinado pela textura


sedosa.

— Oleosos.
Fiz uma careta, e soltando o seu cabelo, segurei o seu rosto, para que
ela não desviasse o olhar.
— Por que você gosta tanto de depreciar as partes do seu corpo,

ángelós mou?
Deu de ombros.
— Por Hades, você sabe que é uma mulher bonita, uma das mais

lindas que já conheci. — murmurei, deslizando meu polegar pelos seus


lábios, que estremeceram sob o meu toque.

— Fala isso para me agradar. — A respiração dela tocou a minha pele


e eu também tremi.
— Acha que eu realmente sou do tipo que bajula e que prefere a

falsidade do que a verdade? — Fiquei sério. — Que eu mentiria para você?


— Não!
— Então pare de se depreciar, Isis — ordenei.

— Se não o quê? — Arqueou a sobrancelha, levando na brincadeira,


mas eu não estava achando graça.
— Você fará com que eu repita de hora em hora o quanto é linda até

que acabe colocando na sua cabeça que é.


Ela riu e eu comecei a deslizar minha mão, voltando a tocar o seu
pescoço, alcançando seu ombro. Minha outra mão, inconscientemente,

começou a passear pelas curvas do seu corpo.


— Não faria tal coisa. — Arfou, não sei se por causa do meu toque,
que roçou suavemente a lateral do seu mamilo, ou pela minha fala.
— Duvida, mulher? — Deslizei meus dedos pela sua costela.
— Um pouco! — Seu narizinho se franziu.
— Caralho, Isis!

Gargalhou enquanto eu praguejava. Soltei uma série de palavrões em


grego, mas as palavras morreram em minha boca quando minha mão,
inconscientemente, se infiltrou pela sua blusa e alcançou o ventre levemente

redondo, quase que imperceptível, que abrigava seu bebezinho.


Com o coração acelerado, baixei o rosto. Odiei a presença da blusa
que me impedia de ver meus dedos sobre a sua barriga. Estranhamente, eu

queria guardar na minha memória a imagem de eu tocando o seu ventre,


tocando o bebê dela. Sem que pudesse impedir, várias emoções se agitaram

em meu interior, indo desde ternura e carinho até um contentamento


estranho. E posse, uma possessão infundada, pois aquela criança não era
minha e nunca seria, apesar de que, enquanto Isis trabalhasse para mim ou

me quisesse em sua vida, eu estaria ali por ele ou ela. Ainda assim, eu não
conseguia controlar essa possessividade. Era algo profundo, violento, ao
ponto de novamente sentir a minha mão tremer.

Mesmo que Isis sentisse a instabilidade dos meus dedos, acariciei sua
barriga sem comedimento, repetindo os gestos que muitas vezes tinha visto
ela fazer e voltei a olhar nos olhos dela, que pareciam refletir os mesmos

sentimentos que os meus. Quando a mão dela se juntou à minha, tocando o


seu bebê, como um relâmpago, uma conexão se formou entre nós três. Por
mais que eu quisesse negar, estávamos ligados. O que isso significava, eu

não sabia dizer. Eu só sentia.


— Obrigada, Aquiles — disse depois de um tempo, baixando a mão.
— Pelo quê? — Estava um pouco decepcionado por ela ter quebrado

aquele vínculo precioso.


Tocou o meu rosto, seus dedos afagando a minha barba, acalentando
aquela frustração infundada, ao passo que ela me fazia queimar ao usar a

ponta do dedo para traçar a linha da minha coluna. Meu pênis tornou a
ganhar vida, bem como a fome que sentia por ela.
— Por ser tão doce.

— Estou muito longe de ser um homem doce, ángelós mou… —


Uma das minhas mãos foi para os seus quadris, e a trouxe de encontro ao

meu corpo, com a outra, agarrei-a pela nuca com firmeza. Segurei-a na
posição que queria, seu rosto ficando a milímetros do meu, ao ponto de
nossas respirações se mesclarem. Os olhos azuis se arregalaram, ao mesmo

tempo que brilhavam de luxúria. — Lembre-se sempre disso…


— Eu…
— E acho que está mais do que na hora de fazermos mais um

experimento — interrompi-a.
Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, baixei meus lábios sobre

os dela, dando vazão ao desejo que guardava dentro de mim há meses. Um


som primitivo subiu pela minha garganta quando finalmente nossas bocas
se encontraram e, controlando a voracidade que me impelia a devorá-la com

a minha língua, explorei-a suavemente, moldando nossos lábios,


“experimentando” o encaixe do nosso beijo. Apenas o simples roçar das
nossas bocas tinha valido a pena cada segundo de espera. E por Isis, eu teria

aguardado ainda mais.


Porra! Ela era o meu paraíso! Tão macia, tão deliciosa, e
acompanhava os meus movimentos sem nenhuma hesitação, esquecendo-se

por completo de que era a minha secretária, tornando-se nesse momento


minha mulher.
Com um grunhido, inclinei um pouco a cabeça dela, ganhando um

novo ângulo da sua boca, e intensifiquei meus movimentos, minha mão


saindo do seu quadril e indo parar na sua lombar. Puxei-a ainda mais de

encontro a mim e o suspiro baixinho de deleite que escapou dela deixou-me


completamente mole de desejo.
Gemi, o som sendo sufocado pela boca dela. Pensar que um homem

como eu, experiente e forte, estava completamente bambo com os beijos e


sons que ela emitia, era engraçado. Mas ela era única.
Notei que os olhos dela cintilavam, e ela não precisava emitir uma

única palavra para eu saber que se sentia poderosa por me deixar trêmulo.
Permanecemos naquele beijo casto por vários minutos, nossas bocas

movendo-se naquela sincronia lenta, até que, tomando a iniciativa, ela


mordiscou o meu lábio superior, depois fazendo o mesmo com o inferior,
puxando-o suavemente com os seus dentes, provocando pequenos estalos

que reverberavam em todo o meu corpo enquanto sua mão alisava as


minhas costas, alternando carícias e pequenos arranhões, que eram
fodidamente excitantes...

Não a podei, por mais que eu fosse controlador em vários aspectos.


Deixei que aquela mulher fizesse o que quisesse comigo, pois o meu corpo
agora era dela. Aqui e agora, eu era o homem que ela desejava mesmo sob o

subterfúgio de um experimento.
Sem pudores, Isis mordiscou, puxou, e usou a língua para lamber os
meus lábios, antes de voltar a me beijar, me fazendo afundar cada vez mais

na irracionalidade e em desespero.
— Abra a boca para mim, Isis — ordenei com a voz áspera em meio a
um ofego quando ela sugou o meu lábio.

Perdendo completamente o controle, enterrei os meus dedos nos seus


cabelos, o homem paciente se dissolvendo no selvagem.
Brincando comigo, ela entreabriu apenas um pouco, sorrindo quando
eu grunhi, frustrado. Aproveitei a pequena abertura para percorrer os seus
dentes com a língua, provocando-a, até que ela cedesse e me desse acesso a

sua boca. E eu não hesitei em saborear essa mulher, conhecendo cada canto
da cavidade morna, deixando que o gosto dela ficasse impregnado em

minha língua.
Caralho! Ela era gostosa demais! O seu gosto me intoxicava,

deixando-me ainda mais teso, prestes a explodir nas minhas calças.


Irracional, arqueei minha pelve em direção a dela, esfregando-me
nela, desejando que ela sentisse o quanto meu pau estava duro. Suas unhas
cravaram na minha pele com mais força, deixando vergões, e gememos em
uníssono no momento em que as nossas línguas se encontraram, enroscando
uma na outra morosamente. Segurei seus cabelos com mais firmeza,

arrancando dela um suspiro, tornando o beijo mais feroz, acompanhando a


urgência que agitava o meu interior. Meus lábios pressionaram os dela sem
nenhuma gentileza; minha língua demandava que ela retribuísse a minha
fome; minha mão que estava nas suas costas alcançou a sua bunda. Enchi
meus dedos com a sua carne e, deixando-a explorar o céu da minha boca,

voltei a mergulhar nela.


Suspirando, Isis colou-se ainda mais em meu corpo, esfregando-se em
mim como uma gatinha, retribuindo o contato ao segurar meu rosto com as
duas mãos. Nosso beijo era tão intenso, nossas bocas e línguas se
devoravam com tanta urgência, que em questão de segundos perdemos
completamente o fôlego, mas não queríamos ficar longe um do outro, então

entre lufadas de ar, encarando-nos fixamente, trocávamos selinhos febris.


— Deus! — murmurou, quando trilhei alguns beijos pela sua
bochecha, alcançando o maxilar dela.

— Eímai entelós trelós mazí sou, ángelé mou[14]. — ronronei contra o


pescoço dela, me atrevendo a deixar um beijo onde batia o seu pulso.
Ela estremeceu e eu sorri, satisfeito, outra vez inalando o seu cheiro.
— O quê? — perguntou em voz rouca, fitando-me com curiosidade.
Segurei o seu rosto em concha com as minhas duas mãos.

— Acho que devemos nos beijar outra vez só para termos certeza que
estamos fingindo direito — menti, antes de voltar a colar nossos lábios,
tragando o gemido dela quando nossas línguas voltaram a se encontrar.
Dessa vez, não tive pressa em meu ataque. Enquanto acariciava
suavemente o rosto dela, imprimi ao contato um ritmo lento, nos permitindo
respirar, o que fez Iris choramingar contra a minha boca. Seu corpo roçando

no meu, suas mãos deslizando freneticamente pela minha pele, pedia que
intensificasse nosso beijo, e eu cedi a sua vontade, não tendo forças para
não dar aquilo que ela desejava de mim.
Nossas bocas se moviam furiosamente uma contra a outra e,
envolvendo meu pescoço com os braços, minha futura “noiva” fechou os
olhos, deixando-se levar pelas sensações que produzíamos juntos.
O gemido gutural que escapou dela quando suguei seus lábios, antes
de tornar a saquear sua boca morna e deliciosa, fez com que eu perdesse a

minha razão e, com o desejo de fazê-la minha, de sentir o seu corpo nu de


encontro ao meu, enquanto eu mergulhava no seu sexo, dei vários passos
com ela, mas sem findar o beijo, até que suas pernas batessem contra o sofá.
Apoiando a coluna dela, tombei-a contra o assento e a deitei com cuidado,
pensando no bebê, então me inclinei sobre ela, deixando que meu peso a
cobrisse, encaixando um joelho no meio das suas coxas. 

Meu erro, pois ela pareceu ficar consciente de para onde a ânsia nos
levava, e seus olhos se arregalaram tanto que pareciam uma imitação de
personagem dos desenhos animados.
— O que estamos fazendo, Aquiles? — sussurrou, envergonhada,
espalmando as duas mãos no meu peitoral, indicando-me para me afastar.
Não respondi, minha secretária não iria gostar nada da minha

resposta, apenas engoli um som de protesto e rapidamente saí de cima dela,


passando a mão pela cabeça enquanto ela se sentava no sofá.
Alternei meu olhar, ora fitando os lábios marcados pela minha boca,
ora os seios que subiam e desciam em uma cadência deliciosa.
Por Afrodite! Quis e muito descobrir como aquela mulher ficaria
depois de ser bem-amada. Suada, ofegante e com os cabelos esparramados,

ela seria a personificação da divindade grega.


— O que estávamos fazendo? — repetiu em um tom baixo, e virou o
rosto como se não conseguisse me encarar, envergonhada. — Oh, meu
Deus, o que eu estava fazendo?
Suspirei e, com um passo, me aproximei novamente, colocando-me

sobre os meus calcanhares.


— Hey, ángelós mou — toquei o joelho dela, procurando chamar a
sua atenção, e consegui, pois ela me encarou —, era só uma experiência,
lembra? E nem foi tão ruim. Pelo contrário, quem nos visse, acharia uma
atuação bastante convincente.
— Eu passei todos os limites — choramingou.

— Nós passamos, Isis, eu também passei  — argumentei.


— Você é o meu chefe!
Engoli a frustração, o sentimento deslizando pela minha garganta
como se fosse uma bebida amarga que queimava. Fiz uma careta.
— E você é a minha funcionária.
— É diferente. — Colocou uma mecha atrás da orelha.

— Não, não é, Isis. — Dei um sorriso, tentando animá-la e,


inconscientemente, minha mão subiu do seu joelho para a sua barriguinha.
Seu olhar recaiu para o local onde eu a tocava, mas ela não me impediu de
traçar movimentos circulares pelo ventre dela. — Se for pensar bem, você
poderia me processar por assédio.
— Eu ficaria milionária — disse, baixinho.

— E por abuso de poder também, afinal, estou usando a minha


posição para coagir minha funcionária — franzi o cenho.
Fiz uma pausa e os lábios dela se curvaram para cima.
— Sua chance, ángelós — murmurei e resolvi brincar com ela: — É
só pedir os vídeos das câmeras para a equipe de segurança. São boas
provas.

Ela ficou branca.


— Aqui tem?
Fiz que não com a cabeça, deslizando minha palma para cima e para
baixo.
— Besta.

Bateu nos meus ombros.


— Linda!
Resmungou e eu instantaneamente fechei a cara para ela.
— Eu nunca vou te processar por isso.
— Me alegra, você me deixaria terrivelmente pobre. — Fui
dramático.
— Não exagera.
Bufou e eu ergui as mãos, em um gesto de “mea culpa”. O sorriso que
ela abriu para mim me deixou abobado.
Voltei a tocar seu abdômen, e senti que isso a relaxava.
Estranhamente, acariciá-la ali também fazia com que toda a tensão do
desejo insatisfeito evaporasse.

— Aquiles? — chamou-me depois de um tempo.


— Sim? — Ergui meu rosto, que em algum momento havia baixado
para olhar onde meus dedos trabalhavam.
— Acho que precisamos continuar o experimento — murmurou.
Meu sangue voltou a se agitar nas veias com a perspectiva de beijá-la
outra vez, e instantaneamente fiquei excitado.

— Mesmo? — questionei com rouquidão na voz.


— Sua mãe nunca vai acreditar na gente se eu disser uma coisa e você
outra. — Puxou o ar e exalou devagar. — Com certeza ela irá querer saber
como nós acabamos nos apaixonando, e outros detalhes do nosso
relacionamento.

— Ah, isso! — Não consegui esconder minha decepção.


— Acho que é uma das partes mais importantes.
— Hm. — Não concordava. Olhei para o meu relógio de pulso,
constatando que estava ficando tarde. — Por que não inventamos uma
história qualquer enquanto comemos? Eu estou com fome e imagino que
você também.

Ergui-me, embora pudesse ficar de joelhos acariciando-a para sempre.


E se dependesse de mim, fazendo outras coisas a mais, como beijar o
interior das suas coxas…
Merda!
— Um pouco... — Fez uma pausa e eu me concentrei nela, não nos
meus pensamentos lascivos. Havia conseguido muito por uma noite, e tinha

certeza que a sensação de ter o corpo dela por debaixo do meu iria me
assombrar por um bom tempo. — Mas por hambúrguer.
Franzi o cenho.
— Hambúrguer?
— Sim. — Ergueu-se, ajeitando a saia. — Com bastante cheddar.
— Tá — grunhi. — E refrigerante?

— Suco de laranja para equilibrar. — Piscou para mim.


Balancei a cabeça e dei-me por vencido enquanto puxava o meu
celular do bolso e instalava um aplicativo de fast-food qualquer. Faria de
tudo pela minha gravidinha.
Enquanto comíamos, elaboramos uma história piegas demais, que

faria a minha mãe bater palminhas e suspirar. Pensamos também em


possíveis perguntas que ela poderia fazer. No final, acabei convencendo Isis
a praticarmos um pouco mais de toques.
Infelizmente, para minha decepção, as carícias dela foram comedidas,
amigáveis demais para o meu gosto, mas passáveis para os meus pais, e não

houve mais nenhum beijo. Nem mesmo um selinho.


Capítulo treze

 
— Relaxe, Isis — Aquiles falou em um tom tranquilo, depois de

passarmos todo o percurso até a mansão dos pais dele em Valley Stream,
em Long Island, praticamente em silêncio. — Não há nada que possa dar

errado.

Não tinha toda essa certeza, e emiti um suspiro.


Ele colocou uma mão na minha coxa enquanto a esquerda segurava

firmemente o volante. Começou a acariciar-me lentamente.

Engoli em seco e olhei pela janela, vendo a paisagem escura se mover


rapidamente. Ter a mão quente e forte dele tocando-me naquela região me
deixava ainda mais incerta de que toda aquela farsa acabaria bem, pois eu

ficava ainda mais tensa, uma tensão que, apesar de ter um pouco a ver com
o encontro de daqui a pouco, não era a principal.

Tudo bem que agradar a família dele, mais do que nunca, era

importante, mas o que verdadeiramente me deixava como um fio


desencapado prestes a entrar em curto-circuito eram as sensações proibidas

que ele havia despertado em mim com o seu “experimento”.

Sei que ele tinha tido boas intenções, mas, em algum momento, as
coisas saíram do controle.

O que era para ser inocente e apenas fingimento, tornou-se real, pelo

menos para mim. Eu o desejei. Eu o quis. Eu mergulhei no beijo dele e no


calor dos seus braços. 

Deixando-me levar pelo gosto do seu beijo, do calor da sua pele, da


rigidez do seu corpo, estive muito próxima de deixar que o grego tirasse a

minha roupa e fizesse sexo comigo no sofá, o que só complicaria as coisas e

colocaria meu profissionalismo em cheque, não que ele não fosse

questionável desde o momento em que concordei em ser sua esposa de

mentira.

Suspirei novamente.
Tentei esquecer o ocorrido, fingindo que nada tinha acontecido,

ignorando a ânsia que sentia ao continuar tocando-o, tentando me


acostumar a ele, mas as lembranças do seu toque, da sua boca sobre a
minha, o desejo insatisfeito, latente no meio das minhas pernas, me

assolaram a madrugada inteira, impedindo-me de conciliar o sono, e isso

era perigoso, a receita para um desastre.

Quando sem querer ele resvalou o dedo bem próximo a minha virilha

e uma comichão surgiu na minha vagina, eu tive a certeza.

— Eles vão adorar você, como não poderiam? — tornou a falar


quando eu fiquei em silêncio.

Remexi no assento, tentando focar no assunto.

— O fato de eu não ser grega não é um problema para eles? —

Recordei-me do filme que tinha visto, em que o patriarca de uma família

grega não queria que a mocinha se casasse com um estrangeiro, e como ele

era o único herdeiro dos Mavridis, imaginava que eles desejariam que ele se

casasse com uma mulher igualmente rica.


Fez um som de desagrado e apertou a minha perna com um pouco

mais de força. Encarei-o.

— Meus pais podem ser um pouco tradicionais e extravagantes, mas

não chegam a ser tão ridículos, para não dizer outra coisa.

— Desculpe, não quis ofendê-lo. — Encolhi-me contra o assento. 

— Sabia que eles já te adoram sem nem mesmo te conhecer, Isis? —


disse depois que um silêncio constrangedor caiu sobre nós.
— Mesmo? — Encarei-o, surpresa.

— Se bem que você já conversou com eles por telefone — prosseguiu


em um tom suave.

— É diferente. — Joguei meus cabelos para trás. — Nunca conversei


nada demais com eles, só anotei recados e…
— Tagarelou com a minha mãe sobre o meu bem-estar... — Seu tom

era pura diversão.


Dei de ombros.

— Não tenho culpa se você não dá satisfação a ela — cutuquei. —


Ela tem toda a razão de reclamar nesse sentido.

— Não posso fazer nada se acabo me esquecendo de ligar para ela —


defendeu-se, os seus dedos voltando a ficar perigosamente próximos do
meu sexo.

Nós se formaram no meu estômago e o desejo se apoderou de mim. 


Segurei a mão dele e a afastei, ansiando por segurança. Ele grunhiu,

em desagrado, porém não disse nada, nem precisava, pois a frustração dele
de alguma forma, pareceu alimentar a minha.

Fechei os olhos.
Deus! O que estava acontecendo com a gente?
Recordei-me de o grego ter-me dito que fazia bastante tempo que não

transava e, como me mostrei fácil, eu deveria ser uma ótima presa, já que
dificilmente ele se envolveria com alguém prestes a entrar em um

relacionamento falso comigo. Ou se envolveria, correndo o risco de


provocar um escândalo?

Não devíamos fidelidade um ao outro, mas, ainda assim, o


pensamento dele com outra mulher me desagradou. Muito mais do que

imaginei.
Torci os lábios para mim mesma. Deus! Eu estava com ciúmes do
meu chefe!

Disse para mim mesma que era porque não queria ser taxada de
“corna”.

— Chegamos — Aquiles falou suavemente.


Só então me dei conta de que estávamos parados em frente uma
enorme casa branca, quadrada, extremamente moderna e luxuosa. Em

algum momento, havíamos passado por um portão, ou guarita, não sei dizer.
Com certeza, a mansão tinha aquele tipo de segurança.

— Por que está de cenho franzido, ángelós mou?


Segurou-me pelo queixo e fez com que eu o encarasse.

— Um pensamento ruim — forcei um sorriso. — Nada com que deva


se preocupar.
Os olhos verdes dele brilharam sob a luz interna do carro.

— Sério?
Passou o polegar pelos meus lábios e, como sempre, estremeci.
— Sim! — sussurrei contra o seu dedo.
— Por que não acredito nisso?

— Sei lá.
— Diga-me — ordenou, aproximando seus lábios dos meus, seus

dedos exercendo um pouco mais de pressão.


— Você vai me trair? — Engoli em seco e menti: — Bom, não é bem
uma traição, já que nosso relacionamento é de mentira, mas… Eu… Eu…

Eu não ligo, se você for discreto o suficiente para não aparecer na mídia.
— Caralho, mulher! — interrompeu-me. — Não! Não me envolverei

com outra pessoa. — Fiquei aliviada. — Você…? — Entrecerrou os olhos


de maneira ameaçadora. — Saiba que eu não divido o que é meu, Isis.

Enquanto você estiver em uma relação comigo, mesmo que falsa, você é
minha.
— Claro.

Sorri para ele, mais confiante. Inclinando-se na minha direção,


Aquiles esmagou a minha boca com a dele e, aproveitando que meus lábios

estavam separados, sua língua me invadiu e encontrou a minha. O beijo e o


toque possessivo, exigente, deveria me assustar, porém peguei-me
retribuindo o grego com a mesma avidez desesperada, gemendo contra os
seus lábios, perdendo o meu fôlego quando a sua mão pousou novamente
sobre a minha coxa e a apertou, sem gentileza.
— Somente minha, Isis — falou ao roçar seus lábios nos meus antes

de voltar a me beijar com ânsia.


Estremeci contra o banco ao sentir a barba aparada raspando contra a

pele do meu pescoço quando a sua boca deixou os meus lábios. Caramba,
eu era muito fácil! 
— Nós precisamos ir — murmurei, quando a razão sobrepujou o

desejo.

Ele gemeu um som incoerente contra a minha pele.


— Não quero fazer seus pais esperarem, Aquiles. — Segurei o seu

braço. — É importante para mim causar uma boa impressão.

— Tudo bem — disse, erguendo o rosto.

Queixei-me pela perda e o grego riu, dando-me um selinho, e


desafivelou o meu cinto.

— Vamos? — Ainda estava ofegante. — Está na hora do teatro.

Fiz que sim com a cabeça, apesar do meu estômago ter revirado com
a palavra “teatro”.

Abri a porta, antecipando Aquiles, e deixei o veículo. Agarrei a alça

da minha bolsa e, com a mão livre, ajeitei o meu cabelo, colocando-os para
trás.
Sem dizer nada, meu chefe segurou os meus quadris com pressão,

como se eu fosse de sua posse, incentivando-me a caminhar. Aquiles tocou


a campainha e enquanto esperávamos, fui tomada por certo nervosismo.

— Não precisa ter medo da sua sogra — o grego sussurrou contra o

meu ouvido.
Para a minha maior vergonha, uma mulher, que reconheci ser a minha

sogra de mentirinha pelas fotos que tinha visto dela, abriu a porta no

momento em que seu filho deslizava a sua boca pela minha bochecha, com

seus dedos subindo pelas minhas costelas, chegando bem próximo aos meus
seios.
Capítulo quatorze

 
Engoli um gemido de desalento, olhando a expressão divertida e

curiosa da minha sogra, sua sobrancelha formando um grande arco.


Por que tinha sido ela e não uma funcionária a abrir a porta? Seria
menos constrangedor, ainda mais quando o homem diabólico colado a mim

não havia movido um milímetro sequer para se afastar.

Um homem com os olhos parecidos de Aquiles parou atrás da mulher.


A expressão era fechada, até mesmo severa, mas havia uma curiosidade em

seus olhos.

Fiquei congelada no lugar, e igualmente muda. Essa era a pior


maneira de se conhecer seus “sogros”.
— Filho! — A mãe dele cumprimentou-o animadamente, com seus

olhos brilhando de entusiasmo e suas pulseiras fazendo barulho quando


balançou a mão displicentemente. O sorriso dela me deixou bastante

confortável. — É a sua namorada, presumo.

O pai dele deu uma risadinha.


— Tenho certeza de que é, agápi mou.

— Olá, mãe, pai — Aquiles disse depois de deixar um beijo estalado

na minha face, sua mão baixando até o meu quadril, envolvendo-me em um


abraço. — Quero apresentar a vocês Isis, a mulher pela qual estou cada vez

mais perdidamente apaixonado.

Quis fazer uma careta diante do exagero dele, mas forcei-me a entrar
no meu papel.  Inclinando um pouco o rosto para cima, olhei para o “meu

namorado” como se as suas palavras me roubassem todo o fôlego e, depois


de dar um sorriso para ele, piscando, voltei a encarar os pais dele.

— Boa noite, senhora Papanastasiou-Mavridis, senhor.

— Não precisa de formalidades, me chame apenas de Agatha. —

Sorriu e balançou a mão novamente, fazendo barulho. — Solte ela, Aquiles,

para que eu possa cumprimentá-la direito.

Meu chefe bufou, parecendo descontente, mas soltou-me. A mãe dele


revirou os olhos dramaticamente enquanto o pai emitia uma risada.
— Bem-vinda a família, filha. Não sabe o quanto eu fiquei feliz em
saber que você seria a minha nora — falou. Achei o sotaque grego dela

extremamente melódico.

— Obrigada…

Surpreendeu-me quando, dando um passo à frente, envolveu-me com

seus dois braços finos. A abracei de volta, me sentindo tocada pelo calor e

alegria genuína que havia nela, ao mesmo tempo que me sentia culpada por
eu estar a enganando.

— Oh! — Deu um passinho para trás em meio ao gritinho histérico,

olhando para a minha barriga. — Você está grávida!?

Um calafrio percorreu toda a minha coluna e minha reação foi buscar

por Aquiles com o canto do olho e continuar sorrindo. Não o encontrei.

Levei as mãos à barriga em um instinto protetor e também buscando

ali um porto seguro. Em meio aos beijos, toques, e também ao tentarmos


criar uma história plausível para convencê-la de como nos apaixonamos do

dia para a noite, acabei não perguntando como faríamos para contar sobre a

minha gravidez, que com o tempo nada seria capaz de disfarçá-la, nem

mesmo a blusa mais solta do mundo. Como Agatha tinha descoberto, já que

a minha barriga poderia ser confundida com pneuzinhos, não sabia dizer,

mas o palpite dela tinha sido mais que certeiro.


— Aquiles! — A mãe dele deu outro gritinho.
Eu olhei para ela, que parecia emocionada, com suas duas mãos

entrelaçadas sobre o peito, ao ponto de quase chorar, sendo amparada pelo


pai dele que, apesar de não ter dito nada, parecia eufórico.

Um grande bolo se formou na minha garganta e o peso da mentira


pareceu tornar-se ainda maior.
— Por que você não me contou? — ela continuou em uma voz fraca.

— Queríamos fazer uma surpresa, mamãe, não é, ángelóu mou? —


meu chefe falou suavemente e abraçou-me por trás, pousando seus dedos

sobre os meus, que estavam no meu abdômen.


Se portava como se ele fosse o pai.

Fiquei rígida contra o corpo dele, mas obriguei-me a voltar o meu


rosto para Aquiles, sorrindo encantadoramente para ele, que, como se
soubesse que era encarado, pousou os seus olhos sobre mim. Ele não

precisava dizer uma única palavra para coagir-me a continuar com aquela
farsa, que estava mais do que claro de que iria machucar várias pessoas,

inclusive a mim mesma. Eu não tive coragem de apagar a euforia que via no
rosto dos pais dele.

— Sim — disse em um tom animado, suspirando, e eu me


parabenizei pela atuação. —Vocês não sabem o quanto foi difícil para ele
guardar esse segredo de vocês.
— Eu vou ser pappóus[15]! — O pai de Aquiles emitiu um grito de

júbilo ao abraçar a esposa.


Gargalhando, Kaius tirou a esposa do chão, rodopiando com ela, e

logo a risada dela alcançou os meus ouvidos também. Era emocionante


observá-los, mas, ainda assim, desalentador.
— Deixe-me abraçar vocês — Agatha falou depois que seu marido a

colocou no chão, com uma voz meio embargada e meio esbaforida pelos
rodopios.

Antes mesmo que eu pudesse responder, a mulher mais velha voltou a


me abraçar, enquanto Kaius afastava Aquiles de mim para conversar com

ele rapidamente em uma língua que supus que era grego.


— Eu fiquei muito feliz quando meu filho disse que estava
apaixonado e que vocês estavam juntos, mas saber que esse relacionamento

já gerou um bebezinho, me deixa realmente sem palavras. — Fungou,


afastando-se um pouco para encarar o meu rosto.

Vi uma lágrima escorrendo pela bochecha firme dela, que


provavelmente tinha preenchimento, seguida de várias outras. O nó se
tornou bem maior na minha garganta e eu estava por um fio de chorar

também. Meu sorriso tornava-se cada vez mais fraco.


— Posso? — sussurrou, olhando para a minha barriga.
Fiz que sim com a cabeça, concordando. Ela não hesitou em baixar a
mão e tocar a minha barriga.
— Meu netinho — disse baixinho e eu não consegui mais me conter.

Eu chorava pela ternura daquela mulher que achava que a criança que
eu carregava era o neto dela, pelo meu bebê que não teria uma avó amorosa

como Agatha, e também por mim mesma, já que não merecia aquele
carinho que me era dispensado.
Minhas lágrimas tornaram-se mais grossas quando ela deixou um

beijo na minha testa.


— Deixe-me cumprimentá-la também, agápi mou. — A voz grossa

do pai do Aquiles, cheio de orgulho, tirou-nos do transe, e a expressão dele


era bem mais suave. — Tenho certeza de que você quer abraçar seu filho

também.
— Oh! Claro!
Agatha sorriu e, passando a mão pelo rosto, foi para os braços do

filho, que diferentemente de mim, parecia tranquilo com a situação toda,


desempenhando com desenvoltura o papel de pai orgulhoso. Um sorriso

satisfeito tomava os seus lábios, deixando suas feições mais leves como
nunca vi antes.
Por um momento, nossos olhares se cruzaram, e a intensidade que vi

em Aquiles era perturbadora. Primeiro pela sua força; segundo, por não me
oferecer nenhuma pista do que ele realmente pensava daquele fingimento,
nem mesmo das minhas lágrimas. Ele era uma máscara ilegível.
Desviei o olhar para o patriarca grego. Encarar o homem mais velho

era muito mais seguro.


— Sou muito abençoado por ganhar você como filha, uma que eu

nunca tive — seu tom era embargado.


— Eu também sou por ter os dois na minha nova família — sussurrei.
Se as circunstâncias fossem outras, me sentiria muito honrada pelo

patriarca me considerar sua “filha”, por aceitar-me tão abertamente, mas,

diante da mentira, estava muito mal por ele me considerar daquela maneira.
Diante da falta de afeto dos meus próprios pais, estava mais ciente do

quanto o carinho dispensado tanto por Kaius, quanto por Agatha, era algo

precioso e que deveria ser valorizado, mas eu estava pagando com traição.

— E muito mais por descobrir que recebi esse doce presente, um neto
ou neta — murmurou e beijou a minha testa.

O nó na minha garganta se apertou ainda mais e as lágrimas

tornaram-se mais intensas, descendo dolorosamente pela minha face. Saber


que o meu filho era considerado uma benção por ele, um presente, era-me

ainda mais amargo.

— Obrigada.
— Se alguém tem que agradecer, sou eu. — Sorriu e os olhos dele

foram de ternura para diversão quando se afastou. — Digamos que não


esperava que Aquiles iria começar a me dar netos tão cedo… — piscou —,

ele é um pouco lento para as coisas.

Aquiles bufou ao envolver a minha cintura com um braço, colando


minhas costas ao seu peitoral enquanto acariciava os meus quadris

displicentemente. Meu corpo traidor começou a reagir às carícias que ele

fazia, mas usei todas as minhas forças para não demonstrar ao grego o

quanto ele me afetava. Precisávamos conversar urgentemente sobre aquela


confusão dele ser o pai do meu bebê.

— Nunca reclamou das vezes que eu fechei um bom negócio

rapidamente para você — soou arrogante.


— Não, não me queixei — suspirou —, mas isso não significa que

você não tenha sido displicente em dar atenção a sua vida pessoal.

— Tenho que concordar, pai. — Pareceu pensativo e falou contra a


minha orelha: — Se estivesse atento, não teria perdido tanto tempo em

descobrir os “prazeres” de se estar em um relacionamento sério.

Estremeci contra seu corpo ao escutar a palavra “prazeres” e odiei a

minha reação a ele, principalmente por não ter conseguido disfarçá-la.


— Vamos entrar? — a mãe do Aquiles falou animadamente, suas

pulseiras tiritando com os movimentos das mãos. — Está ficando frio e não
é bom que você pegue vento, não queremos que você fique doente.

Kaius envolveu a cintura da esposa.

— Sim, seria péssimo ficar gripada.


Apeguei-me aquela oportunidade para me afastar de Aquiles, porém a

pressão com que me segurava me impedia de colocar certa distância entre

nós.

Merda! Não sabia que ele era tão possessivo! Enxuguei minhas
lágrimas como pude e segui para dentro da casa.

— Aquiles me disse que a vista que vocês têm do State Park é linda

— comentei, puxando assunto com a mãe de Aquiles, já que ele entrou na


frente junto com Kaius.

O hall de entrada branco e com pé direito alto, decorado com algumas

peças clássicas e também azuis roubou o meu fôlego. Mesmo que já fosse

noite, a iluminação do ambiente deixava tudo tão claro que provavelmente


conseguiria rivalizar com a luz do sol. Foi impossível não imaginar como

ficaria pela manhã.

— Acho que ele exagerou um pouco, querida, mas poderemos vê-la


de manhã, agora não dá para enxergar muita coisa. — Balançou a cabeça e

apontou para um móvel bem diferente do que normalmente víamos nas

casas dos Estados Unidos. — Não é nada demais, nada tão lindo como a
vista que temos do Mar Jônico na nossa villa em Corfu, na Grécia. Faz

tempo que não vamos lá… — Emitiu um suspiro.


— Podemos ir a qualquer momento, agápi mou, ainda mais quando

você está precisando relaxar.— Kaius falou em um tom baixo e rouco, e eu

soube que o pai de Aquiles sabia jogar tão sujo quanto o filho.
Kaius deu um tapinha na bunda da mulher, que soltou uma risadinha,

continuando a andar depois do “meu namorado”, em um gesto

cavalheiresco, pegar o meu casaco e colocar no cabideiro. Outra vez, ficou

bem próximo a mim.


Minha atenção estava dividida em quatro: na conversação alegre da

mãe dele, na decoração que enchia os olhos, no maldito toque do grego no

meu corpo e também no calor dele, que parecia se infiltrar nos meus ossos.
— Isis poderá ir conosco — Agatha sugeriu.

Escutei um bufar frustrado.

— Kaius! — ela gritou ao girar na direção dele, parecendo indignada,

colocando as mãos sobre o quadril, em um gesto bastante dramático.


— Confesso que não era bem isso que eu estava pensando.

Meu chefe emitiu uma risada baixa.

—  Isis vai pensar que você não a quer lá.


— Não é isso, agápi mou, ela sabe que será sempre bem-vinda

quando quiser ir.


Parecendo em apuros, Kaius deslizou a mão pela calça, e eu achei

bonitinho o fato dele temer desagradar a esposa. De alguma forma, era

impossível não invejar um pouco aquele tipo de relação. O carinho, o

respeito e também a química que havia entre eles era algo palpável.
Suspirei.

— Levarei Isis, no verão, para a minha villa em Mykonos, primeiro

— Aquiles falou em tom de diversão. — Iremos sozinhos!


— Seria bastante romântico, amor — ignorando o calafrio que me

percorreu, sussurrei ao virar-me para ele, que interpretava melhor do que eu

o seu papel.

A perspectiva de ficar a sós com ele em uma casa, provavelmente


isolada do mundo, fazia minha pulsação acelerar ao mesmo tempo que me

deixava nervosa, já que várias merdas poderiam acontecer, e eu participaria

ativamente delas.
— Mas só no verão? — Fiz beicinho.

Os olhos dele brilharam e me deu um sorriso lascivo.

— Talvez nós duas possamos fazer essa viagem juntas, para fortalecer

nossos laços — a mãe do Aquiles tagarelou e eu me virei novamente para


ela, agradecendo a interrupção, principalmente quando ela voltou a andar,

enlaçando o braço no do marido.


Sorri de orelha a orelha, apesar de que eu deveria estar rejeitando essa

ideia. Já teria que passar um tempo a sós com a mulher para organizar os
detalhes da minha “futura” cerimônia de casamento, fortalecer laços com

ela ao viajar só complicaria ainda mais as coisas quando a minha farsa

terminasse.

— Por que não?


— Vamos visitar as praias cheias de pessoas bonitas… —

Movimentou a mão livre.

— Raios, Agatha! — Kaius falou mais alto e Aquiles no mesmo


momento grunhiu, parecendo irritado. — Nunca deixaria uma mulher linda

que nem você ir para praia sozinha para que um bando de marmanjos

cobice o que é meu.


A mulher soltou uma risada como se tivesse adorado ouvir isso.

— Muito menos eu — escutei o comentário abafado de Aquiles,

como se tivesse dito entre dentes, com raiva.

— Homens. — A mãe dele balançou a cabeça em negativa, e eu


acabei rindo.

Tanto pai quanto filho bufaram, exasperados, fazendo-nos gargalhar

ainda mais.
Depois de termos passado por vários cômodos, finalmente

alcançamos uma espécie de solário, decorado com uma mesa no centro e


plantas espalhadas em jarros de cobre sobre pedestais imitando colunas
gregas e outras fixadas à parede, mas eram as lanternas que iluminavam o

ambiente que pareciam tirar todo o meu fôlego.

— Que romântico — falei, meio abobada.


A minha futura sogra suspirou e eu vi que olhava para o marido que

carinhosamente puxava uma cadeira para ela se acomodar.

— Obrigada, querido — agradeceu quando se sentou.


Deu uma risadinha quando, esticando a mão para ele, Kaius a pegou,

deixando vários beijinhos nela. Olhou para mim, parecendo corada, e eu

apenas sorri.

Antes que eu pudesse puxar o meu assento, sem deixar de tocar a


minha lombar, Aquiles fez o mesmo que o seu pai, embora não tenha

beijado os meus dedos.

Me sentei e várias sensações se retorceram na boca do meu estômago


quando o meu chefe se sentou ao meu lado, seu braço roçando no meu. A

mesa não era tão grande, e tornava-se ainda menor quando ele estava ao
meu lado. Havia uma tensão enorme entre nós, não apenas pelo fingimento,
mas puramente sexual. Ela crepitava, consumindo-nos.

— Não é mesmo romântico? — Agatha falou, respondendo o meu


comentário muito tempo depois.
— Muito… — Tentei prestar atenção nela, que me olhava
atentamente, e não nos arrepios que me percorriam por ter o meu “noivo”
tão próximo.

— Sou completamente apaixonada por esse cômodo. Quando não


estou realizando os sonhos das minhas noivas, sempre fico várias horas
sentada aqui... — comentou, como se fizesse uma confidência, e olhou para

o marido ao completar:— Principalmente venho para cá quando Kaius me


convida para dançar.
O homem virou-se para a esposa, dando-lhe um olhar que deixaria

qualquer mulher com o coração acelerado se fosse voltado para ela, e


tornando a pegar sua mão, beijou-a apaixonadamente.
O amor que havia entre os dois era bastante tocante e emocionante.

Era impossível não imaginar o casal apaixonado dançando, trocando beijos


e carícias sob a luz das lamparinas. Sim, era bem romântico... Por alguns
segundos, invejei aquela cumplicidade que havia entre os dois, mas a

sensação morreu ao sentir a mão de Aquiles pousando sobre a minha coxa,


apertando-a suavemente.

Contendo a vontade de estremecer com a ânsia, obriguei-me a não


olhar para o meu chefe, temendo encontrar nos olhos verdes dele a mesma
coisa que havia nos meus, um desejo cru que faria com que nós dois
ultrapassássemos limites outra vez: ele por estar sozinho há muito tempo,
eu por… não sabia dizer.
— Oh! — Agatha deu um gritinho, suas pulseiras balançando. —

Desculpe-me não prestar atenção em vocês. Eu me perco de vez em


quando…

— Posso compreendê-la… — dei um sorriso cúmplice, elaborando a


minha mentira: — Aquiles é terrível e adora roubar o meu foco,
principalmente no trabalho. Bom que é ele mesmo que paga o meu salário.

Pisquei para ela, que deu uma risada.


— Cada dólar é muito bem gasto, ángélos mou… — Aquiles apertou
a minha coxa, retalhando-me e excitando-me na mesma proporção.

Evitei dar vazão à minha imaginação, que poderia levar-me muito


bem a outros pensamentos inquietantes.
— Então deveria pedir meu salário em libras esterlinas.

— Está mais do que certa, minha filha, você é o braço direito dele e,
pelo que me contou, ajudou-o a fechar bons negócios também— Kaius
falou e eu ignorei a pontada incômoda no peito por estar enganando os

dois. 
— Isso é verdade, mas confesso que essa é a minha parte favorita do

trabalho. Fora que a recíproca também é verdadeira. Sem Aquiles, eu não


teria conseguido a estabilidade que tenho hoje. Nova Iorque, sabem como
é… — Sorri para os pais do meu “noivo” e dei de ombros.

— Hm… — Agatha tamborilou os dedos na mesa, parecendo


pensativa, antes de abrir um sorriso ardiloso, seus olhos brilhando. — Acho
que nós duas poderíamos formar uma boa dupla…

— Mamãe… — A voz de Aquiles soou perigosa.


— Tenho certeza que nós nos daríamos muito bem… — continuou,

matreira, balançando as pulseiras.


— Não tenho dúvidas! — provoquei o grego.
Aquiles bufou, contrariado, e nós três rimos.

— Você precisa ver a sua cara, filho — Kaius gracejou, fazendo com
que o filho grunhisse, irritado.
Continuei a gargalhar e os pais dos meus noivos prosseguiram com as

provocações, mas o som morreu em meus lábios quando a respiração


quente de Aquiles tocou a minha orelha e pescoço, e eu me senti inquieta.
— Se é isso que você quer, te dou um aumento com muito prazer, Isis

— sussurrou no meu ouvido para que apenas eu escutasse, e a palavra


“prazer” novamente fez com que meus pelos ficassem arrepiados e meu
coração se acelerasse.

Riu baixo, demonstrando ciência da minha reação descabida. Depois


de inspirar fundo, voltou a se aprumar.
Olhei para ele com o canto do olho e percebi que Aquiles agia como

se nada tivesse acontecido, como se não tivesse me deixado extremamente


quente, com minha mente incapaz de ter um pensamento racional.
Minha sogra tagarelava, mas não conseguia prestar atenção naquilo

que ela dizia, o que era um erro, já que estava ali para agradá-la.
— Quer suco de quê, ángelós mou? — Aquiles voltou a sussurrar na
minha orelha, e eu voltei a estremecer.

A mão que estava na minha coxa passou a acariciar o meu braço


suavemente. Ele estava fazendo direitinho seu papel de homem apaixonado.

— O quê? — Minha pergunta saiu em um tom esganiçado, e eu olhei


para o grego, que tinha um sorriso satisfeito nos lábios.
— Você não pode beber vinho, querida. Stuart vai pedir à cozinheira

para fazer um suco para você. — Agatha arqueou uma sobrancelha para
mim, parecendo divertida. 
Olhei para o rapaz, que nem havia percebido a presença, antes de

voltar a encarar minha sogra.


— Qualquer sabor está bom, não quero dar mais trabalho — falei,
tentando ser agradável, ao mesmo tempo que tentava lidar com as sensações

despertadas pelas carícias do meu chefe.


— Bobagem, filha, não é incômodo nenhum, e quero agradá-la. Você
não fará essa desfeita comigo, não? — Balançou a mão em um gesto
dramático, as pulseiras fazendo barulho.
Fiz que não com a cabeça, recordando-me de ter lido que as pessoas
gregas gostavam de tratar muito bem seus convidados.

— Pode ser de frutas vermelhas.


— Excelente! — Agatha bateu palmas, satisfeita. — Traga um para
mim também, Stuart, por favor.

— Claro, senhora — assentiu. — Trarei também os canapés de


entrada.
— Obrigada. — Ela deu um sorriso doce.

Com um aceno, o funcionário nos deixou.


— E então? — Agatha começou, encarando nós dois fixamente, como
se analisasse nosso comportamento.

— Sim? — Foi a minha vez de acariciar o antebraço do “meu futuro


marido”. Eu não soube lidar muito bem com o fato de ele estremecer ao

meu toque, suspirando baixinho.


Sabia que era uma farsa, mas pareceu tão real a reação dele que me
assustou.

— Digamos que Aquiles foi muito sucinto com os detalhes de como


vocês começaram a se envolver.
Estalou a língua em reprovação, e o homem ao meu lado emitiu um

som exasperado. Agradeci por termos tido a sensatez de criar uma história.
— Aquiles, nada de tratar assim a sua mãe… — O pai dele chamou
sua atenção em um tom severo.

— Não falei nada… — retrucou.


— Sei… — Fechou a cara ainda mais para ele.
Minha sogra ignorou os dois.

— Quero saber de tudo…Adoro ouvir histórias de amor, de como as


pessoas se apaixonaram…
— Eu também. É incrível saber que não é apenas nos filmes ou livros

que essas coisas acontecem… — acabei confessando enquanto


automaticamente as pontas dos meus dedos acariciavam Aquiles.
— Sim — disse mãe dele, e emitiu um som baixinho quando fiz uma

pausa breve. Estava buscando as palavras, já que eu e o filho dela não


estávamos apaixonados um pelo outro.
— De alguma forma — continuei —, quando a gente escuta esses

relatos, fica a esperança de que possa acontecer com a gente também,


apesar de ser bem difícil…

Era muito ciente de que isso era raro, e ainda mais raro quando
durava, já que muitos relacionamentos não passavam de um fogo que se
extinguia depois de um tempo. Também sabia que, provavelmente, eu não

teria a sorte de encontrar alguém que me amaria avassaladoramente.


— Eu mal posso acreditar que estou vivendo a minha própria história
de amor bem clichê… — disse em um sussurro, e fitei o homem que estava

sentado ao meu lado.


Nossos olhares se cruzaram e, por mais que fosse uma encenação,

senti que perdia o fôlego.


— Eu que não consigo crer na minha sorte, ángelós mou — falou em
um tom rouco, seus lábios se curvando para cima; os olhos brilhando.

Sorri, apesar da minha vontade ser de engolir em seco, e tornei a


encarar meus sogros que, outra vez, pareciam imersos um no outro.
Me senti melancólica, mas logo forcei uma animação quando o

funcionário trouxe, em uma bandeja, não apenas uma jarra de suco, mas
também vários aperitivos que enchiam os olhos pela sua aparência.
Servi-me, colocando um de cada no pratinho, diante da insistência do

meu “sogro” para que eu provasse de tudo um pouco.


— É delicioso — falei, depois de experimentar uma espécie de
bolinho crocante, que tinha certa doçura que contrastava com o gosto da

hortelã. — Qual o nome?


— Se chama ntomatokeftedes, e é feito com uma espécie de tomate

que cresce em Santorini, é uma receita da minha falecida avó — Agatha


explicou.
— Espero que você possa compartilhar a receita comigo um dia —

falei.
— Claro, nunca negaria algo à minha “filha”, a mãe do meu

agapiménos engonós[16].
Bebericou o suco e estendeu um braço na minha direção, segurando a
minha mão, apertando-a suavemente, e eu quis chorar com a doçura dela.

— Obrigada… — sussurrei.
— E então? Como vocês descobriram que estavam apaixonados? —
insistiu, depois de mordiscar um pedaço de queijo feta com azeitona.

— Mãe…
— Não acho que estou pedindo muito, afinal, quase três meses atrás,

você fez um escarcéu, defendendo sua solteirice…— disse em um tom


dramático e fungou.
Com o canto do olho, vi Aquiles fazer uma careta desgostosa, e o pai

dele, para defender Agatha, pigarreou. A relação deles era hilária, tanto que
tive que sufocar uma risada, pegando mais um “bolinho” de tomate para
disfarçar.

— Apenas não quis admitir que estava apaixonado por Isis há meses,
mamãe, e que eu era um covarde, escondendo meus sentimentos… —
Contou a mentira com tanta convicção que, se eu não soubesse que era um

engodo, até eu iria acreditar.


Fiquei agitada, e o rebuliço se tornou ainda maior quando ele voltou a
pousar sua mão sobre a minha coxa.
— Sabe como sou orgulhoso…— completou.

— E tolo também…  — Agatha balançou as suas pulseiras.


— É…
Aquiles começou a traçar círculos lentos por cima da calça.

Instantaneamente fiquei tensa.


— Pela primeira vez na minha vida, eu tive medo de ser rejeitado —
continuou em um tom embargado. — Eu a amo demais, e preferia tê-la

como amiga do que perdê-la para sempre.


Agatha suspirou.

— O importante é que você teve coragem, amor — olhei para


Aquiles, que me encarava, e outro arrepio percorreu a minha coluna —, por
nós, já que eu acabei me apaixonando pelo homem carinhoso que você

sempre foi comigo, pela atenção que sempre me deu, mas tive medo, afinal,
eu era apenas uma funcionária, e você, o CEO da empresa.
— Bobagem! — Kaius falou suavemente. — Apesar do meu filho ser

rico, ele não é tão esnobe assim.


— Agora eu não tenho mais dúvidas. — Sorri para o patriarca. — E
em nada ajudava o fato do seu filho ser tão charmoso, tão bonito. Ele é tudo

o que uma mulher poderia querer.


Os olhos do meu chefe brilharam, repletos de luxúria.
— Você também é linda, querida, talvez até mais que o meu filho…

— Agatha falou docemente.


— Sim… — Aquiles endossou em uma voz rouca. — Não sabe o

quanto eu tive que lutar para não demonstrar o meu ciúme, mitéra[17].
— Deve ser mal de família. — Moveu a mão, fazendo as pulseiras
balançarem mais uma vez, sua expressão ficando cômica.

— A mulher certa faz com que percamos a cabeça. Não sabe a raiva
que senti de um palerma idoso que cortejava a sua mãe quando eu a conheci
— o patriarca disse em tom de diversão, depois de mastigar seu petisco.

Agatha riu, como se o fato a deleitasse.


— Nunca tive olhos para o Dimitri, Kaius. Ele me era repulsivo.
— O fato de ele a querer, me dava vontade de socá-lo, agápi mou.

Bom que seu pai viu que eu era bem melhor partido do que aquele idiota.
Se ele tivesse dado a sua mão para ele…
Ele deu um soquinho na mesa, indicando o que gostaria de fazer com

ele, em seguida, tomou um pouco do vinho. Minha sogra deu outra


risadinha.

— Bem… — Aquiles murmurou. — Eu estive muito próximo de


demitir alguns funcionários que cobiçavam Isis.
— Aquiles! — Não escondi meu ar de incredulidade. Era uma

mentira, claro, mas, mesmo assim, eu reagi como se não fosse.


— O que posso fazer já que sou possessivo? — Deu de ombros. — E
você é inteligente, articulada, ambiciosa nos negócios, doce... e outras

coisas mais…
— Obrigada, mas era difícil para mim não acreditar que você não
estava saindo com ninguém no momento — disse. Fiquei um pouco

envergonhada com a sua insinuação, então tomei um pouco do meu suco,


pousando a taça devagar sobre a mesa, para disfarçar.
— Nunca houve ninguém, ángélos mou. Desde que te conheci,

sempre só existiu você…


Olhei para ele. Disse isso com tanta convicção que me fez estremecer
e acreditar nas suas palavras que sabia que eram ensaiadas.

Sem pensar muito, inclinei meu rosto um pouco para o dele e deixei
um selinho em seus lábios. Seus dedos fizeram mais pressão na minha coxa.

— Obrigada por ter me convidado para sair, amor — falei contra a


boca dele, antes de, ruborizando, me endireitar no meu lugar.
O interrogatório continuou e eu fiz de tudo para atender as

expectativas que a mãe de Aquiles tinha sobre o nosso relacionamento.


Felizmente, logo a atenção dela foi desviada para a comida e outros
assuntos. Não pude negar que uma partezinha de mim desejou que ela fosse
a minha sogra de verdade, pois, apesar do seu jeito extravagante, percebi

uma afinidade inesperada com a mulher, uma incrivelmente boa.


Poderíamos nos tornar grandes amigas, pena que isso não aconteceria.
Capítulo quatorze

 
— Precisamos conversar, Aquiles — murmurei depois de passarmos

algum tempo caminhando pela estufa enorme, quando tive certeza que
estávamos a sós.

Inspirei fundo, sentindo a combinação exótica de várias fragrâncias

de flores e plantas impregnar as minhas narinas. O ambiente úmido


ressaltava ainda mais o cheiro da terra, deixando-o delicioso.

Agatha estava certa, aquele lugar era tão romântico quanto o seu

solário. As luminárias em formato de tochas jogavam uma luz amarela


sobre as folhagens de um verde viçoso dos arbustos, alguns que chegavam a
minha altura, a luz da lua infiltrava pelo vidro, contrastando com a

iluminação artificial, e estar caminhando de mãos dadas com o meu


“futuro” noivo só aumentava ainda mais aquela sensação de que ali era um

paraíso propício para beijos e toques.

Eu tinha que voltar para a realidade, para o grande problema que ele
tinha causado ao se proclamar o pai do meu bebê. Poderíamos viver a

mentira que seria o nosso noivado e casamento, mas aquilo era ir longe

demais.
— Você me ouviu? — falei mais alto, pensando que ele não havia me

escutado, e estaquei no lugar.

Parando, Aquiles se virou na minha direção, e eu fiquei bastante


consciente do quão alto ele era se comparado a mim, e de toda a sua força.

O cômodo estava bem quente, porém, mesmo assim, eu estremeci


perante a intensidade com a qual ele me fitava. Havia mais do que desejo

nos seus olhos verdes, era um sentimento que eu não sabia decifrar.

Ele deu um passo à frente e, erguendo uma mão, acariciou o meu

rosto gentilmente, me mantendo cativa não apenas pelo contato, mas

também pelo olhar.

— Aquiles? — murmurei, engolindo em seco quando o seu polegar


roçou os meus lábios. — Nós precisamos…
— Não aqui, Isis, não vamos conversar sobre isso agora. — Sua voz
era suave e eu a senti como se fosse uma carícia no meu íntimo, um afago

de um amante, que era capaz de me incendiar.

— Mas…

— Não — interrompeu-me e, segurando o meu rosto com as duas

mãos, colou nossas bocas.

Depois de deixar vários selinhos, beijou-me suavemente, moldando


nossos lábios. Mesmo que não houvesse nenhuma razão para que nós nos

beijássemos, peguei-me retribuindo, querendo sentir o seu gosto, a sua

fome. Não contive um gemido quando a sua língua habilidosa invadiu a

minha boca, encontrando-me ávida. Colando-me mais ao seu corpo grande

e musculoso, deixei que minha mão vagasse pelas suas costas, acariciando-

o, permitindo que a sua boca fizesse o que quisesse da minha, lutando para

não roçar minha pelve na dele.


Choraminguei quando ele diminuiu a intensidade do beijo, deixando

vários selinhos gentis.

— Aquiles! — protestei quando tentei beijá-lo mais profundamente e

ele continuou a deixar pequenos beijinhos em meus lábios.

— Você é maravilhosa, sabia, ángélos mou? — sussurrou contra a

minha boca e eu senti que meu coração batia ainda mais forte. — Téleios[18].
— O quê? — Olhei para ele, confusa, sem compreender a palavra

murmurada em grego.
Cheirou o meu pescoço, como se estivesse sedento, e eu me contorci

contra ele.
— Não minto quando digo que poderia dizer várias coisas sobre você,
Isis…

— Espero que boas — brinquei, não compreendendo a razão de ele


dizer isso.

Deslizou seus lábios outra vez pela minha boca e eu pensei que daria
o beijo que o meu corpo todo ansiava, porém, ele não me deu o que eu

queria.
— Eu não posso passar mais nem um minuto sequer sem ter a
certeza…

— Do qu… — Antes que pudesse completar, vi o grego se ajoelhar


na minha frente.

Por uns segundos, fiquei chocada demais por ver aquele homem que
parecia nunca se curvar a ninguém se colocar de joelhos por alguém. Meu

coração pareceu prestes a sair pela boca de tão acelerado que ficou com o
que ele estava prestes a fazer. Meu corpo parecia convulsionar de tanto que
tremia.
— Oh, meu Deus! — murmurei quando Aquiles colocou a mão no

bolso da calça.
Levei a mão aos lábios, incrédula, sem acreditar que meu chefe estava

realmente fazendo aquilo, principalmente por que tínhamos combinado uma


história que contaríamos depois para a mãe dele de como foi feito o pedido.

Não deveria, ainda mais por saber que era de mentira, mas sem
conseguir me conter, senti as lágrimas se formando em meus olhos. Os
hormônios da gravidez estavam fazendo estragos em mim.

— Seja minha, Isis? — sua voz era rouca, parecendo emocionada. —


Seja minha, para sempre? Deixe-me fazer parte da sua vida ainda mais, a

cada segundo, dela? Deixe que pelo resto da minha vida você seja a
primeira coisa que eu veja quando acordo e a última quando eu for dormir.
— Eu… — Mal consegui escutar a minha própria voz.

— Seja a minha esposa, ángélos, por favor, deixe-me amá-la ainda


mais, Isis.— A súplica dele fez com que eu sentisse vontade de chorar de

novo.
— Deus! — Foi a única coisa que consegui dizer, atordoada.

As lágrimas rolaram. Eu só consegui ficar olhando para o rosto dele,


mesmo que me parecesse ser um borrão.
— Ángélos? — murmurou, parecendo aflito, depois de esperar uns

instantes. — Você me aceita, com todos os meus defeitos, com o meu jeito
autoritário e meu vício em trabalho?
— Eu aceito, meu amor — sussurrei, sem me dar conta das minhas
palavras.

— Obrigado por me aceitar, agápi! — Pareceu sorrir, como se o meu


“sim” fosse extremamente importante para ele.

Caralho ele era um bom ator. Muito bom mesmo. Eu estive por um
triz de acreditar.
— Me dê a sua mão — pediu, ainda ajoelhado.

— O quê?
— A aliança… — Uma sobrancelha se arqueou, irônica.

— Ah, Deus… — Pareci uma abobada.


Estendi minha mão, morrendo de vergonha por vê-la tremer tanto.

Com delicadeza, Aquiles deslizou o anel no meu dedo e o peso do aro,


sentir o frio do metal contra a minha pele quente, foi-me estranho, já que
nunca havia usado nada no anelar.

Ele deixou um beijo na falange e, para a minha surpresa, deu um


beijinho carinhoso na curva do meu abdômen, onde o meu bebê crescia,

antes de se levantar.
Eu fiquei paralisada. Tinha sido um gesto tão delicado da parte dele
que eu não soube como reagir. Aquiles já havia acariciado minha barriga

antes, mas nunca beijado, como se fosse o pai…


As lágrimas se tornaram mais abundantes, e eu ouvi um pequeno
soluço, um vindo da minha alma.
Sem dizer uma palavra, puxou-me para os seus braços, trazendo-me

de encontro ao seu corpo. Ergui meu rosto em direção ao dele e nos


encaramos por um minuto antes das nossas bocas voltarem a se encontrar

em um beijo moroso, que se tornou afoito no momento em que a língua dele


encontrou a minha, exigindo minha redenção. Sem pudores e sem pensar
muito, enlaçando o seu pescoço com meus braços, eu retribui o beijo,

sentindo o gosto de sal das minhas lágrimas que ainda caíam, misturado ao

gosto do homem que me deixava bamba.


Gememos quando ele inclinou um pouco a cabeça e ganhou um novo

acesso a minha boca, mergulhando nela, sedento, roubando meus sentidos.

Nossos lábios só se descolaram quando busquei por ar.

Ficamos nos encarando, como se fôssemos dois apaixonados, e eu


deslizei minha mão, a que carregava o anel que ele havia me dado, até

pousá-la sobre o ombro dele.

— Deus! — sussurrei, ao olhar o anel prateado que continha uma


pequena pedra azul.

Era simples, bem longe de ser os diamantes extravagantes que

imaginava que um homem poderoso como Aquiles daria para uma noiva,
mas a delicadeza da pedrinha em contraste com a prata era graciosa. 
Poderia ser considerado um exagero, mas era mil vezes mais deslumbrante

do que qualquer outra joia que ele pudesse me dar.


— Foi da minha avó e também da minha mãe — falou baixinho,

como se hesitasse.

Fiquei em silêncio e olhei para Aquiles, sentindo o meu estômago


embrulhar e o anel pesar no meu dedo. Nunca imaginei que o grego daria

uma peça tão preciosa para uma noiva de mentira, algo que deveria ser dado

para a mulher que amasse verdadeiramente.

Engoli em seco. Eu deveria protestar, porém, as palavras não saíram


da minha boca. Aquiles me pegava de surpresa mais uma vez.

— Se não gostou, posso comprar outro para você, um com diamantes.

Não será um problema… — Parecia tenso, e deu-me um sorriso estranho. 


A decepção em sua face deixava mais do que claro que mentia.

— É lindo… — levei a minha mão ao rosto dele, o contraste do anel

com a sua pele aumentou o reboliço que sentia no meu estômago —, mais
do que você possa imaginar. Só estou surpresa.

— Por quê, ángélos mou?

Visivelmente ele pareceu relaxar. O ar que segurava tocou a minha

pele.
— É uma joia de família, algo que você deveria dar para a sua futura

esposa.
Colocou uma mecha do meu cabelo que havia caído sobre o meu

rosto atrás da minha orelha e secou minhas lágrimas com os dedos.

— Você será minha futura esposa, Isis — retrucou.


— Mas… — Seus lábios roçaram nos meus, impedindo-me de falar.

— É da cor dos seus olhos, e minha mãe não é a única que gostará de

vê-lo no seu dedo… — sussurrou.

Olhei para a pedra novamente, meu coração dando um salto. Aquiles


também queria que eu o usasse?

Por um momento tive a falsa esperança de que sim, mas logo as suas

palavras me aterraram, quebrando a magia daquele momento, e eu lutei para


não me abraçar:

— A mídia adorará isso.

— Tenho certeza que sim — murmurei.

Ferida, sentindo-me uma tola por ter me levado pelas palavras dele,
mas mantendo um sorriso fraco nos lábios, dei um passo para trás,

desfazendo-me do contato.

— Vamos voltar para o solário. Tenho certeza de que a sua mãe irá
adorar o fato da estufa dela ter sido o palco de um pedido de casamento.—

Tentando adotar um tom mais firme, tomei as rédeas da situação, ignorando

a minha vontade súbita de voltar a chorar


Comecei a andar, mas a cada passo que eu dava, eu sentia um aperto

doloroso no peito.
— Droga, Isis! — Segurou o meu braço, chamando a minha atenção.

O agarre não era tão forte, mas ainda assim, eu parei. — Eu…

— Não se preocupe, Aquiles — virei-me para ele —, só estamos


fingindo, não é mesmo? É só meus hormônios de grávida em polvorosa.

Tentei melhorar meu sorriso e ele ficou me encarando, como se fosse

uma estátua grega, uma estátua carrancuda.

Quis gargalhar, ao mesmo tempo que tentava conter as minhas


lágrimas.

— Não quis te magoar, ángélos — sussurrou.

Deu um passo para frente, ficando a centímetros de fundir nossos


corpos. Senti que me traía ao reagir ao calor daquele homem,

principalmente diante das carícias que ele fazia no meu rosto.

— Está tudo bem, você não me machucou. — Forcei a minha voz a

sair.
— Você mente muito mal, agápi…

— E você finge muito bem, Aquiles — provoquei-o, tentando desviar

a atenção dele da minha tristeza.


Os olhos dele brilharam, indecifráveis, e eu tive que conter a minha

vontade súbita de engolir em seco, principalmente quando ele não disse


uma palavra.

— Vamos? — Insisti. — Sua mãe deve estar imaginando o que

estamos fazendo…

— Tudo bem, Isis, vamos — falou depois de me fitar fixamente por


alguns instantes.

Emitiu um som de frustração, antes de me dar a mão e deixarmos a

estufa em silêncio.
Fingir felicidade para os pais dele quando não havia nenhuma, apenas

decepção, foi a coisa mais difícil que eu tinha feito, e pareceu exaurir parte

das minhas energias. No entanto, a conversa mais cansativa ainda estava

por vir.
Capítulo quinze

 
Segurei o volante com força e com o canto do olho observei a minha

noiva brincar com o anel que eu havia dado a ela, parecendo imersa em
pensamentos. Desde que deixamos a casa dos meus pais, Isis não fez

nenhum comentário, parecendo retraída.

A noite tinha sido perfeita, meus pais a adoraram, mas temia ter
fodido com tudo quando inventei aquela merda da mídia gostar da ideia

dela usando o “anel” de família, com medo da minha própria reação por

recear que ela odiasse a simplicidade da meia-aliança, bem como o prazer


de ver a peça no dedo dela.
Porra! Meu comportamento era estranho a mim mesmo, e não pensei

nas minhas ações.


Por mais que ela tentasse disfarçar, eu sabia que ela havia ficado

triste. Era como se ela esperasse algo além de mim, mas eu não sabia muito

bem o quê.
Se eu fosse honesto comigo mesmo, nem eu tinha certeza do que eu

queria, a única certeza que tinha era que Isis parecia naquele momento

bastante melancólica e isso me incomodava, e muito.


O suspiro longo dela tirou-me do transe de pensamentos e fez com

que eu reagisse.

— Está tudo bem, Isis? Com você? Com o bebê?


— Sim, estamos bem, por que não estaria? — falou suavemente, tom

que sempre adotava para falar da criança que carregava no seu ventre.
Desviei meu olhar do trânsito, leve pelo horário, e novamente flagrei-

a brincando com o anel enquanto olhava para ele, sua expressão

aumentando a minha angústia.

— Não parece… — Voltei a prestar atenção na direção, não arriscaria

a vida dela nem do bebê. — Algo está te incomodando.

— Foi um dia cansativo, só isso. — Outro suspiro.


Resmunguei, contrariado pela sua resposta vaga.

— Isis…
— É muita coisa para processar ao mesmo tempo, a gravidez, o
casamento de mentira…— disse baixinho.

— Entendo.

— E a sua mãe é um pequeno furacão com as suas perguntas — falou,

tentando soar divertida.

— Está sendo generosa com ela — dei um sorriso sarcástico —,

Agatha é terrível.
— Mas também um doce de pessoa…

— Mamãe consegue ser muito inconveniente quando quer… — Meu

tom era displicente.

— Não é como se vocês odiassem a personalidade dela… —

retrucou.

— Não…

— Principalmente o seu pai… Ele é tão apaixonado, tão carinhoso. O


amor deles é tão lindo de se ver. — Tornou a emitir um som melancólico, e

eu me movi no assento, tomado por um desconforto inexplicável. 

— Sim — minha voz soou estranha aos meus próprios ouvidos. Eu

não gostava de escutar aquele tom esmorecido.

Girei o volante, fazendo uma curva.

— Sempre foi assim? — perguntou.


— Desde que passei a compreender as coisas, e à medida que eu

crescia, o sentimento entre os dois só pareceu tornar-se mais forte…


— Hm.

— E as saliências também… — Fiz uma careta.


Isis gargalhou e novamente meu corpo absorveu aquela risada, meu
estômago borbulhando.

— Posso imaginar — disse em meio a risada, mas logo voltou a ficar


pensativa, e acabou não conseguindo disfarçar o incômodo no seu tom de

voz. — Que bom que treinamos. Nunca iríamos convencer seus pais da
nossa farsa se não tivéssemos feito isso.

— É…
Outra vez contive a vontade de dizer que não era uma farsa, que eu
realmente a desejava, mas duvidava muito que ela fosse acreditar em mim

depois do papo sobre a mídia.


Porra! Como queria voltar atrás nas próprias palavras, mas não podia,

não sem trair meus sentimentos.


O silêncio caiu sobre nós.

— Deve ser difícil não colocar expectativas altas em um


relacionamento quando se convive com tal ideal de cumplicidade e amor.
Eu acho que não conseguiria — murmurou, tempos depois. 

— Para ser sincero, deixei de idealizar há muito tempo…


— Várias tentativas fracassadas?

Não escondeu a sua curiosidade. Embora eu não gostasse muito de


falar do passado, das minhas ex, eu não tinha por que evitar.

— Duas ou três, no máximo… mas sabe o quanto sou difícil, não é?


— Bastante — murmurou.

— Era para você dizer que não, ángélos mou…


— Estaria mentindo — seu tom era jocoso.
Bufei, fazendo ela rir.

— A verdade é que a perfeição não existe, nem mesmo no casamento


dos meus pais. Eles brigam, tem seus defeitos…

— Cedem…
— Também… — Pisei um pouco mais no acelerador, incomodado
com o modo como ela disse a palavra ceder, então preferi me apegar um

assunto mais seguro. — Foi por isso que não deu certo, por eu ser
complicado.

— Por que não tentou outra vez? Desilusão?


— Você está parecendo a minha mãe — provoquei-a, segurando-me

para não rir.


— Não está mais aqui quem perguntou — resmungou.
— Realmente a cara dela… — Brinquei.

— Besta!
Não consegui mais conter a gargalhada quando ela deu um tapinha no
meu braço.
— Mas se quer mesmo saber, nada de desilusão…

— Hm…
Ouvi o batucar dela no assento, como se estivesse impaciente, porém

não disse nada, para a minha decepção.


— Chegamos — falei ao estacionar o meu carro esportivo em frente
ao prédio dela.

Sorri, mesmo que por dentro eu quisesse bufar pela noite ter acabado.
— Agora você pode descansar… Não sei como não dormiu durante o

trajeto, gravidinha sonolenta. — Tentei brincar.


Isis não riu do meu gracejo como achava que faria, pelo contrário, ela

virou o rosto para me encarar, e sua expressão era séria.


— Precisamos conversar, Aquiles.
Fiquei instantaneamente rígido. Sabia muito bem o que ela iria falar, e

eu queria adiar o máximo de tempo possível. Eu não tinha respostas para


ela, nem mesmo para mim. Droga! Eu estava confuso com tudo.

— Podemos deixar para amanhã — sussurrei.


— Não, Aquiles, não podemos. — Foi firme.
Engoli em seco, embora uma onda de admiração por ela tenha se

espalhado pelo meu peito. Se eu tivesse que apontar uma única


característica que eu mais gostava naquela mulher seria sua obstinação. Isis
não tinha medo de bater de frente comigo.
Ficamos nos encarando por uns instantes até que eu acabei

assentindo, sem escolha. Ela tinha me colocado contra a parede.


— Não no carro. — Minha voz era áspera.

— Tudo bem. — Sem esperar eu ser cavalheiro, removendo o cinto,


abriu a porta e saiu.
Com um som cansado, sabendo que estava fodido, fiz o mesmo. Sem

me conter, apoiei uma mão na sua coluna enquanto ela caminhava até a

entrada do prédio. Não me afastou, o que eu considerei um bom sinal,


odiaria saber que a mulher quente que havia nela, que retribuiu todos os

meus beijos com fome e desejo, me repelia pelas minhas merdas. Porém, ao

mesmo tempo, o fato de não ter estremecido ou sua coluna ter arqueado

contra a minha palma foi decepcionante.


— Quer que eu prepare um café? — questionou ao abrir a porta do

seu apartamento para nós.

Mecanicamente, começou a remover o casaco. Por um momento,


fiquei paralisado, minha mente perversa imaginando-a se despindo para

mim.

— Aquiles? — Parou com a mão sobre o último botão, e me encarou.


— Não é necessário. — Minha voz soou tensa, e eu me achei um

bobão por ter ficado estacado no lugar.


Removi o meu blazer rapidamente.

— Fique à vontade. — Apontou para as poltronas e o sofá.

— Primeiro as damas — brinquei.


Quando ela se sentou em uma poltrona e não no sofá, onde

poderíamos ficar próximos, eu emiti um muxoxo de desapontamento.

Mesmo que eu fosse uma visita e seria uma falta de educação, esparramei-

me no sofá tentando aparentar uma calma que não sentia.


Eu estava tenso, e o modo como ela me fitava, mantendo suas mãos

acariciando a barriga, me deixava ainda mais apreensivo. Parecia que eu era

um garotinho esperando a repreensão por ter se comportado mal. E a


repreensão viria.

— O que você quer conversar? — Incentivei-a em um tom suave,

ainda que quisesse me esquivar do assunto. — A noite foi maravilhosa.


Meus pais te amaram, acham você a mulher perfeita para mim…

— Não finja que não sabe, Aquiles. — Sua voz era séria.

— Tudo bem, Isis… — Levei a mão ao queixo, acariciando a minha

barba e emitiu outro som cansado. — Não tenho como fugir, não é mesmo?
— Não. — Balançou a cabeça em negativa, e suas mãos acariciaram

sua barriga de forma mais protetora. — Por que você fez isso, Aquiles? Por
que você deixou que os seus pais acreditassem que você me engravidou?

— Eu… — Traguei em seco.

— Você não tinha esse direito — sussurrou.


Olhei para o rosto dela e vi que lutava para não chorar. Me senti o

pior dos homens por fazê-la sofrer, por ter sido o causador das suas

lágrimas não derramadas. Eu não era melhor que o babaca que a tinha

abandonado.
— Não, não tinha — admiti. Era a única coisa que podia dizer.

— Deus! Isso só vai complicar as coisas... — murmurou. — Fingir

que estamos apaixonados e nos casar já era complicado o suficiente, mas se


passar pelo pai do meu bebê…

Isso só causará dor para todos, principalmente quando essa farsa acabar —

continuou naquele tom embargado, sem me dar a oportunidade de falar —,

Deus, seus pais ficaram apaixonados pela ideia de serem avós! — Balançou
a cabeça em negativa.

— Isis…

— O que vai acontecer quando eles descobrirem a verdade? De que


você não é e nunca será o pai do meu filho?

Torci os lábios em uma careta. Eu poderia ter sido o causador daquela

merda toda, mas um lado sombrio dentro de mim não gostou de ela falando
que nunca seria o pai do seu bebê. A razão? Não iria a fundo para

investigar, só sei que a fala dela me incomodou. E muito.


— Eles ficarão arrasados… — as lágrimas que ela continha

começaram a marcar a sua face. — Seus pais superariam bem o fim do

relacionamento, afinal, não será o seu primeiro.


— Droga, Isis. — Passei a mão pela minha cabeça.

— Mas a perda de um neto ou neta? — ignorou-me. — Com certeza,

não.

Abraçou a si mesma, parecendo vulnerável, ainda mais frágil do que


parecia no dia que ela me contou que foi rejeitada.

— E o que será de mim e do meu bebê? — Falou tão baixo, tão para

dentro, que quase não escutei.


Chorou ainda mais. Seu pranto me deixou irracional. Antes mesmo

que eu fosse capaz de ter algum pensamento coerente, saltei do meu assento

e caminhei até onde ela estava sentada e me coloquei de joelhos na sua

frente.
— Isis, me escute — pedi com a voz grossa, e segurei o seu rosto

molhado pelas lágrimas gentilmente, e ela se virou para mim —, meus pais

não precisam saber que ele não é meu.


Os olhos azuis dela pareceram mais feridos, e eu quis me socar pela

escolha de palavras que a machucaram pela segunda vez nessa noite.


— Não importa que não sou o pai biológico, essa criança vai ser um

Mavridis. E meus pais vão amá-lo, sabendo a verdade ou não.

Balançou a cabeça com força, negando.

— Isso não é certo. Eu não posso continuar com essa mentira…


— Nosso casamento pode ser uma mentira — senti certo amargor ao

falar essas palavras —, mas o amor que meus pais já sentem pelo seu bebê

não é. Deixe Agatha e Kaius amá-lo. Não negue isso a eles, por favor.
— Eu…

— Por favor, ángélos, seu filho pode ter avós amorosos… —

supliquei, acariciando a sua face.

Não sabia mais o que dizer para convencê-la de que manter a farsa era
a melhor alternativa para todos. Eu sabia que estava sendo um cretino, que

estava usando o ponto fraco dela contra ela, mas havia tanta coisa em jogo

para que voltássemos atrás...


Isis não disse nada, apenas continuou a chorar, e cada soluço

baixinho, cada lágrima dela, deixava o meu coração apertado.

— Você joga sujo, Aquiles, é um canalha! — sibilou, venenosa, mas

não se afastou do meu toque.


Meus lábios se curvaram para cima, mesmo sabendo que deveria estar

é me odiando.
No fundo, sabia que merecia e muito a acusação, e poderia até ser

chamado de coisas ainda piores. Eu era mesmo um desgraçado


manipulador, um homem repugnante. Kaius me esfolaria vivo e minha mãe

o ajudaria, entregando a minha cabeça a ela em uma bandeja, caso

descobrissem que estou fazendo. 

— Desprezível…
Arqueei a sobrancelha.

— Essa doeu, ángélos — sussurrei, para depois gargalhar.

— E eu sou ainda mais ordinária por me deixar seduzir pela ideia do


meu filho ter avós… — comentou baixinho e eu vi dor em suas feições. —

Porra! Eu é que sou desprezível.

— Gamó[19], se há um culpado, um cretino e desprezível aqui, esse

sou eu, Isis, lembre-se disso — rosnei.

— Queria que as coisas fossem tão simples assim... Nada mudará o


fato de que eu estou agindo de maneira cruel com seus pais — sussurrou e

voltou a chorar.

— Théos… — murmurei, baixando a mão. Era impossível não sentir


uma pontada de culpa, mas logo tratei de sufocá-la. — Não chore, ángélos,

vai ficar tudo bem. — Peguei as mãos dela e beijei.

— Eu não estou tão certa disso…

— Prometo que ninguém vai se machucar, Isis…


— Você não pode prometer isso, Aquiles…
Era verdade, ainda mais que essa farsa parecia já a estar machucando,

mas eu iria mantê-la.

— Mas eu prometo mesmo assim… — murmurei.


Soltando as minhas mãos, passou as palmas pelo rosto, limpando o

rastro de lágrimas. Respirou fundo várias vezes antes de falar:

— Você é terrível! — Fungou, depois de alguns minutos.


Minha resposta foi tentar beijá-la, porém ela me impediu, colocando

um dedo sobre os meus lábios.

— Isis?

— É melhor deixarmos os beijos e toques somente para as farsas,


Aquiles…

Fiz uma careta desgostosa.

— Por quê, agápi? — falei contra o dedo dela, já que não era otário
de me privar de seu contato.

Baixou a mão e eu quis soltar um bufar.


— É bom, não é? — Insisti.
— Não devemos.

Olhei para ela por um tempo.


— Tudo bem… 
Decidi não a pressionar, nem impor os meus desejos, já tinha exigido
demais dela pedindo que continuasse com aquela farsa, dizendo que eu era
o pai do bebê dela.

— Acho que é melhor você ir agora, Aquiles… — pediu em um tom


baixo. — Preciso ficar um tempo sozinha e também descansar.
— Certo.

Me ergui a contragosto. Não queria deixá-la sozinha, não quando ela


estava fragilizada daquele jeito.
— Te levo até a porta.

— Obrigado.
Peguei o meu casaco, mas não o coloquei.
— Te vejo amanhã? — Olhei para ela inseguro.

— Claro, você ainda paga o meu salário. — Deu um sorriso.


— Você vai ficar bem? — Enrolei mais um pouco, não querendo ir
embora.

— Sim, boa noite, Aquiles.


— Boa noite.

Sabendo que eu não tinha mais desculpas para ficar, deixei um beijo
no rosto dela, dei as costas e parti. Assim que a porta se fechou atrás de
mim, nem um minuto depois que saí, eu encostei na parede e me deixei

ficar ali, controlando minha respiração.


Eu consegui o que queria, mas não esperava sentir aquele aperto
enorme no peito.
Capítulo dezesseis

 
— Muito obrigada por ter vindo me encontrar aqui, filha — disse ao

me abraçar apertado.
— Não precisa agradecer, Agatha — falei, enquanto ela deixava um

beijinho na minha bochecha, e depois na outra, em uma informalidade

inesperada.
Embora eu devesse me sentir nervosa por encontrar a mãe de Aquiles

sozinha, temendo estragar a minha farsa de “nora perfeita”, eu não sentia

meu estômago embrulhar, nem minhas palmas suarem frio.


De alguma forma, uma parte de mim já esperava que a mãe de

Aquiles iria querer um encontro a sós comigo, provavelmente para me


analisar melhor, algo natural das “sogras”. Acharia estranho se Agatha não

sugerisse algo do tipo. Se fosse honesta comigo mesma, ela até havia

demorado demais, já que a mulher parecia bastante curiosa com o


relacionamento do filho.

Nesse momento, a única coisa que me invadia era uma pontada de

culpa por mentir para alguém que me recebeu tão bem, que parecia
realmente me querer como uma filha. Tentei colocar a sensação de lado,

bem como a vozinha na minha cabeça que me acusava de estar sendo

desonesta com ela.


Sorrindo para a mulher, falei:

— Sendo sincera? Estava doida para encontrar uma desculpa para sair
mais cedo do trabalho hoje… — continuei em um cochicho, como se

estivesse contando um segredo. — Aquiles quando está de mal humor é

terrível…

— Espero que não tenha descontado em você, senão serei obrigada a

dar uns tapas nesse menino malcriado.… — Os lábios dela se crisparam

para cima. 
— Não, não — sorri —, mas já o diretor executivo da empresa de

produtos de limpeza dele…


Balancei a cabeça em um gesto de pesar, como se tivesse pena do
homem, mas eu não tinha. O tal diretor havia cometido um erro grave,

fraudando algumas notas para embolsar alguns milhares de dólares, mesmo

sabendo que a receita costumava deter na fonte. A demissão seria o menor

dos problemas dele.

— Posso imaginar…

— E Aquiles não é louco para jogar o seu mal humor sobre mim —
pisquei para ela, e adotei um tom malicioso: — não quando eu posso me

vingar dele…

Minha sogra riu alto com a minha mentira, provavelmente chamando

a atenção de algumas pessoas presentes no café chique.

— Você está certa, querida, temos que mostrar quem manda em quem

na relação — falou em meio a risada, ao se sentar na sua cadeira e apontar a

da frente para mim, e eu obedeci, colocando minha bolsa sobre o meu colo.
Foi a vez de ela piscar para mim, e eu acabei rindo também, mesmo

que não deveria. Primeiro: eu e meu chefe estávamos bem longe de ter o

relacionamento que ela achava que tínhamos. Segundo: eu estava longe de

mandar no filho dela, pelo contrário, era o grego quem me manipulava,

deixando-me onde ele queria e, de bom grado, eu me deixava ser

manuseada. Terceiro: duvidava muito que alguém conseguisse controlar


Aquiles, e não é não fazendo sexo com ele que eu conseguiria isso. 
Pensar nas palavras sexo e Aquiles juntas fez com que eu sentisse um

calorzinho no meu baixo ventre, e eu contive um suspiro.


Como não nos encontramos mais com os pais dele, fazia três dias que

não nos beijávamos, nem mesmo dávamos um selinho. O grego respeitava a


minha decisão de não trocarmos carícias nem beijos, porém o meu corpo
não concordava com isso. Sempre que eu estava perto dele, contra a minha

vontade e racionalidade, eu parecia ansiar pelo seu toque. Meus lábios


queriam sentir os dele cobrindo os meus, sua língua me invadindo até que

ele me deixasse arfando. Muitas noites, mesmo que a minha libido devesse
estar baixa pelas mudanças hormonais no meu corpo, pegava-me

queimando por Aquiles, fantasiando em tê-lo…


— Está tudo bem, querida? — minha sogra perguntou.
Afastei aqueles pensamentos lascivos e olhei para a mulher, que tinha

uma sobrancelha erguida.


— Sim…

— Você está corada… — Deu-me um sorriso enigmático.


Pigarreei.

— Bem… — Provavelmente fiquei mais avermelhada.


— Não se preocupe, filha, sei como se sente. O amor nos deixa
abobadas. — Esticou o braço e deu alguns tapinhas na minha mão.

— Verdade.
Contive a vontade de colocar uma mecha atrás da orelha,

denunciando-me. Meus pensamentos nada tinham a ver com amor, desejar


era muito diferente de amar.

— E se Aquiles for metade do que o pai é… — Deu uma risadinha


abafada.  — Só de pensar em Kaius, eu…

Começou a ficar corada também.


— Melhor não continuar com esse assunto… — Balançou a mão,
fazendo suas pulseiras emitirem um som engraçado, antes de pigarrear.

Não contive uma risada.


Ela pegou o cardápio até então esquecido e se escondeu atrás dele.

Balancei a cabeça em negativa e fiz o mesmo, vendo as opções.


— Dizem que o café turco daqui é delicioso — comentou, fazendo
um gesto discreto para que fôssemos atendidas —, acho que vou querer um.

— Pena que não posso experimentar…


Fiz muxoxo, inspirando fundo, deixando que o cheiro de café torrado

impregnasse minhas narinas. Aquele cheiro me matava.


— Por quê?

Inconscientemente, levei uma mão ao meu ventre, começando a


acariciar a protuberância suave. Antes que pudesse responder, a garçonete
nos interpelou e fizemos nossos pedidos.

— Onde estávamos? Ah, o café. Por que não pode beber, querida?
— O bebê — murmurei. — Estou tentando seguir as recomendações
da médica.
— Théos, me esqueci dessa restrição. — Bateu a mão na testa e

pareceu culpada. — É tão natural para mim marcar todos os encontros para
tomar café, um hábito, já que sempre usamos a bebida como ocasião para

socializar.
Foi a minha vez de esticar o meu braço e tocar a mão dela.
— Está tudo bem, querida — sussurrei.

— Vou cancelar.
— Não é necessário se privar de algo só porque eu não posso. Aquiles

mesmo não tem nenhum pudor em beber várias xícaras na minha frente, eu
só fico assistindo, babando. — Sorri para ela.

Agatha pareceu pensativa, e assentiu depois de alguns segundos.


— Eu deveria dar uns tapas nesse menino — revirou os olhos e emitiu
um bufar cómico —, onde já se viu, fazer vontade em grávida?

Gargalhou do próprio comentário, e ainda estava rindo quando a


mulher trouxe os nossos pedidos.

— Como você está? E o meu netinho ou netinha? — Sua expressão se


suavizou e os olhos azuis brilharam, parecendo emocionada.
— Estamos bem — forcei-me a dizer.
— Fico feliz em ouvir isso. Você não sabe o quanto eu e Kaius
ficamos contentes com a notícia. Eu nem acredito que serei vovó. — Deu
um suspiro alegre.

Desviei o olhar para a minha barriga. Contendo a vontade de engolir


em seco, voltei a levar minhas mãos para “acariciar o meu bebê” enquanto

dava o sorriso mais falso da minha vida.


A ternura que havia na minha futura sogra, o sorriso abobado em seu
rosto, foi como receber um soco na base do estômago. A culpa pesou nos

meus ombros e apertou o meu peito, tanto que respirar tornou-se tão difícil

quanto manter a farsa.


Eu sabia que era desprezível por continuar com aquele engodo, por

me deixar levar pela ideia sedutora de dar uma “família” para o meu bebê,

mas ali, diante da minha futura sogra, vendo a alegria dela em ser avó, me

senti ainda pior por mentir.


Fiquei devastada por ter uma oportunidade de revelar tudo e, ainda

assim, ficar em silêncio. Queria dar ao meu bebê algo que não tive e que só

então me dei conta que tinha me feito falta: convivência com avós
carinhosos, e pelo olhar da mãe do grego, eu sabia que eles dariam o mundo

pelo seu “neto”.

Lutei contra as lágrimas que rapidamente se formaram em meus


olhos. O irônico disso tudo é que, embora Aquiles fosse registrar o meu
filho como um Mavridis — pelo menos eu achava que iria — ele só

prometeu avós amorosos.


Apesar de me perguntar sobre a minha gestação e ter sido gentil, em

nenhum momento ele falou que participaria ativamente da vida da criança

que eu carregava. Esse pensamento me deixou mais amarga comigo mesma.


Talvez eu esteja querendo demais de Aquiles, mais do que ele havia

me dado até então. O grego não era o pai do meu bebê e nunca seria, ele

não tinha obrigação nenhuma para comigo, e nem com essa criança.

Eu era puro caos e a situação toda parecia tornar tudo mais caótico.
Obriguei-me a comer um pedaço do meu cheesecake, como se com

ele eu pudesse digerir minha amargura, mas nem mesmo a calda de

morango frescos, algo que amava, me animou.


— Delicioso — minha sogra gemeu, depois de mastigar um biscoito

amanteigado e tomar mais um gole do seu café, que cheirava terrivelmente

bem.
Comi outro pedaço do meu doce.

— Você está tendo algum sintoma? Quando estava com nove

semanas, era questão de acordar para eu sair correndo para o banheiro... —

Pareceu saudosa.
— Felizmente, náusea não é um problema para mim, mas a

sonolência, as lágrimas…— Continuei com a farsa, já que era covarde


demais.

Ela me tirou do transe, emitindo um suspiro e comentando:

— A gestação do meu filho foi bastante difícil, de risco, tanto que não
pude ter outros filhos.

— Sinto muito…

Meu coração se doeu pela mulher, que provavelmente queria ter tido

muito mais crianças correndo pela casa. Sem pensar, querendo confortá-la,
estendi a mão para ela, que aceitou.

— Aquiles foi o meu presente…. Théos, vou às lágrimas com esse

assunto. — Fungou.
— Eu também… — Era verdade. Não porque eu estava sensível, mas,

sim, por ter sororidade com outra mulher.

— Mas o que importa é que agora terei outro bebezinho para amar —

sussurrou.
— Sim…

Deu-me um sorriso sonhador que fez com que as minhas vísceras se

retorcessem. Peguei a taça de água e levei aos lábios, buscando uma


desculpa para não engolir em seco.

— Espero que vocês me deem vários outros — tagarelou —, quem

sabe três.

Engoli o líquido para não o cuspir.


— Três?

— Mais três — deu-me um sorriso inocente.


— Acho que seria demais para mim — forcei-me a dizer.

Ela emitiu um muxoxo.

— Quem sabe você muda de ideia? Vocês são jovens!


Balançou a mão, fazendo as pulseiras se chocarem umas contra as

outras, parecendo pensativa.

— Quantos anos você tem mesmo?

— Vinte e sete…
— Muito jovem — bebericou seu café —, e criar um filho só é

bastante ruim.

Continuou a tagarelar, relembrando algumas coisas da infância de


Aquiles. Fez perguntas sobre a minha vida, sobre a minha relação com o

filho dela, tantas que eu comecei a ficar zonza. Minha sogra era bastante

falante. Sim, ela era terrível.

— Mas vamos ao que interessa e a razão principal pela qual eu te


convidei para tomar um café comigo. — Para a minha surpresa, retirou um

bloquinho de dentro da bolsa e sua expressão tornou-se séria, embora os

olhos dela a traíssem, pois eles pareciam brilhar de entusiasmo. — Você


tem alguma ideia de como quer a sua festa de noivado? Você e Aquiles já

definiram uma data?


— Festa de noivado? — repeti como uma boba, brincando com o anel

que Aquiles havia me dado, sentindo novamente o aro pesar em meu dedo.

— Sei que o meu filho já fez o pedido e que muitos noivos optam por

pular essa parte — explicou —, mas na minha opinião de organizadora, a


festa de noivado é um momento único que oficializa ainda mais a união de

vocês, além de contar ao mundo todo que vocês estão comprometidos.

Além de deixar a mídia salivando por detalhes — riu, entusiasmada.


— Hm… — Sorri.

Ao contrário dela, senti uma onda de tristeza ao recordar das palavras

de Aquiles sobre o quanto agradaria também as colunas de fofoca eu usar o

anel de família, outro objetivo dele com a farsa.


Segurei a taça de água com força, ocupando os meus dedos trêmulos,

e dei outro sorriso, escondendo a minha mágoa com aquele assunto.

Deus! Eu me achava ainda mais tola por me sentir ferida por Aquiles
ter quebrado a magia do pedido de casamento com a verdade de que não

estávamos apaixonados.

— Todo mundo vai querer saber quem é a plebeia que conquistou o

coração do milionário grego… — Falei em voz alta meu pensamento


súbito.

Tinha esquecido desse detalhe.


Caramba! Com certeza a alta sociedade e a mídia comentariam sobre

o noivado do dono da maior empresa de seguros do estado de Nova Iorque,


que até então mantinha-se solteirão e não era visto saindo com nenhuma

modelo ou socialite, e principalmente sobre a minha gravidez. Senti meu

sangue gelar ao pensar que o meu bebê estaria no meio disso tudo.

— Infelizmente, sim, e com certeza haverá boatos, críticas... —


Suspirou

— Entendo — minha voz soou trêmula, e eu toquei a minha barriga,

como se eu pudesse proteger a criança dentro de mim.


— Mas não se preocupe com isso, filha. Com o tempo, você passará a

não dar importância a comentários maldosos. Além do mais, Aquiles

massacrará todos que ousarem te difamar ou criticarem a relação de vocês.


Meu filho consegue ser bastante vingativo quando quer. — Deu outro

suspiro.

— Verdade…

Mesmo tendo várias provas de que o gênio do grego era irascível,


esse fato não me consolava, não quando meus instintos queriam proteger o

serzinho na minha barriga.

— E eu também estarei com você — continuou em um tom doce. —


Eu e Kaius sempre estaremos aqui por você e pelo nosso neto ou neta.
A gentileza dela, que eu não merecia, me levou às lágrimas. Meu
coração voltou a bater pesado.

Agatha esticou um lencinho para mim e eu o peguei, enxugando o

meu pranto.
— Obrigada, Agatha, por tudo — falei, mais recomposta. Eu teria que

aceitar que a culpa seria algo recorrente em minha vida e fruto das minhas

próprias escolhas.
— Eu que agradeço, Isis.

Abriu um sorriso enorme e eu acabei sorrindo de volta.

— E então, voltando ao assunto — pegou a sua caneta —, podemos

fazer uma festa de noivado grande, como na tradição grega.


— Ou um jantar bem íntimo e exclusivo, com poucas pessoas, sem

convidar ninguém da mídia, para atiçar mais a curiosidade — falei em tom

de provocação, e minha futura sogra estalou a língua para mim, antes de nós
duas cairmos na risada.

Ficamos discutindo alguns detalhes por quase uma hora, até que
Kaius ligou para ela. Pelo rubor que coloriu o rosto dela, a proposta tinha
sido bastante indecorosa e também irresistível, já que ela estava um pouco

desnorteada. Sugeri então que nós nos encontrássemos outro dia, pois eu
estava cansada e louca por um banho, e ela acabou concordando.
Pagamos a conta e nos despedimos com beijinhos no rosto antes de
ela pegar um táxi.
Assim que entrei no meu e passei o endereço para o motorista, apoiei

minha cabeça no banco e fechei os olhos. Tinha sido um dia longo e


cansativo, e as mentiras que eu estava me afundando eram ainda maiores.
Capítulo dezessete

 
— Posso entrar, Aquiles? — Isis perguntou, batendo na porta.

— Sim, ángélos — minha voz soou rouca.


Desviei a minha atenção dos documentos digitais e ergui o meu rosto

para aguardar o momento em que a mulher que eu desejava entraria na

minha sala. Não gostava de perder nenhuma oportunidade de observá-la.


Com o coração batendo rápido, assim que ela surgiu na soleira, como

se fossem minhas mãos e não meus olhos,  percorri lentamente o seu corpo,

começando pela sapatilha, passando pelas pernas longas e bem torneadas


emolduradas por uma calça justa branca, a blusinha solta vermelha que
escondia a sua barriguinha de onze semanas de gravidez, até chegar nos

seios inchados e deliciosos.


Fechei os olhos. Me movimentando no meu assento, senti a excitação

começar a crescer dentro de mim, bem como a frustração pelo desejo

insatisfeito.
Os beijinhos e os pequenos toques que trocávamos nas farsas não me

eram mais suficientes. Eu queria mais daquela mulher.

Porra! Desejava muito que ela me desse um beijo de verdade, que


roubasse o meu ar, que me deixasse trêmulo e ofegante, queria que ela me

tocasse sem comedimento, me explorasse e se entregasse completamente,

ansiava que ela removesse a minha roupa, tocasse minha pele com os seus
lábios, e colocasse um fim na minha angústia.

— Você escutou o que eu disse? — falou mais alto, querendo chamar


a minha atenção.

— Não, desculpe-me, agápi — disse ao abrir meus olhos e encontrei-

a parada em frente à minha mesa —, o que você estava dizendo?

— Acho que não vou conseguir te acompanhar hoje à noite — falou

baixinho.

Olhei para seu rosto, que embora continuasse lindo e angelical, tinha
várias linhas de cansaço.

— Aconteceu alguma coisa?


Sua mão tocou o abdômen, fazendo com que eu perdesse a fala
enquanto observava seus movimentos. Eu ainda não conseguia

compreender o porquê do gesto ser sempre capaz de roubar toda a minha

atenção, muito menos a sensação que se espalhava pelo meu peito. Era uma

espécie de ternura e algo a mais, que exerciam um fascínio estranho sobre

mim, sentimento que despertava um senso enorme de proteção e de

cuidado. Esses impulsos pareciam crescer diante das várias parabenizações


que recebia pela chegada do “meu primeiro filho ou filha”, e aumentavam

ainda mais quando a imprensa fazia comentários maldosos de vários tipos,

que eu fazia de tudo para calar.

Eu não queria, na verdade, buscar uma resposta, eu apenas deixava

que esse instinto protetor tomasse conta de mim, o que quer que isso

significasse.

Faria de tudo pelos dois. Poderia ser culpa, ou…


— Sei que esse jantar é importante — continuou em um tom baixo,

sentando-se na cadeira à minha frente —, mas hoje o meu estômago está

queimando. Nunca tive isso antes, mas...

— Eu falei para você ir para casa, Isis — murmurei, suavemente.

— Pensei que o remédio ajudaria. — Emitiu um muxoxo, fazendo um

biquinho que, em outras circunstâncias, faria com que eu quisesse beijá-la.


No momento, tudo o que eu queria era que a mulher não sentisse

nenhuma dor, nem incômodo. Se pudesse, eu tomaria aquela queimação


para mim. Era um pensamento absurdo, mas real. Por quê? Outro ponto que

não analisaria e também não me importava.


— Fora que os últimos dias têm sido bastantes cansativos e
corridos… — continuou. — Provavelmente eu não conseguiria ficar muito

tempo acordada, não sem bocejar. E a festa já começa tarde...


Como se para endossar aquilo que falava, levou a mão à boca para

esconder um bocejo.
— Demais — concordei em um sussurro, acariciando a minha barba.

As duas semanas foram um verdadeiro caos. Por mais que nós dois
tenhamos deixado a organização da festa de noivado nas mãos da minha
mãe, havia muitos detalhes que nunca imaginei que existiam. Toda hora,

precisávamos confirmar alguma coisa, escolher algo, ou até mesmo provar


o que seria servido. Se uma pequena festa já estava dando um trabalho

enorme, nem queria imaginar os preparativos do casamento, ainda mais de


um casamento ao estilo grego ortodoxo, com centenas de convidados —

minha família inteira praticamente, o que incluía quase trezentas pessoas


—, e todas as tradições que eram infindáveis. Fora que as festas iriam até o
amanhecer…

Caralho! Sentia-me esgotado só de pensar.


— Tudo bem, ángélos… — falei em meio a um arfar.

— Realmente não tem problema? — Parecia insegura.


— Você está me ofendendo, Isis — falei suavemente, embora a minha

vontade fosse de soltar vários palavrões. — Realmente acha que te forçaria


a ir a algum lugar quando não se sente bem? Que eu seria esse tipo de…

Você sabe… — prossegui, fazendo um gesto displicente.


Contive-me a tempo de dizer a palavra “marido” e mencionar algo
sobre a gravidez dela, como se minha noiva estivesse carregando o meu

bebê. Eu sabia o quanto Isis estava desconfortável com a mentira de que eu


era o pai, ainda mais agora, que todo mundo estava sabendo que ela

esperava um herdeiro Mavridis, então eu tentava não tocar muito no


assunto, ainda que fosse inevitável. Também evitava falar sobre a mídia
com ela, um assunto que, mesmo tendo se passado bastante tempo, ainda

era espinhoso para nós.


— Bem… — Mordiscou o lábio inferior e eu arqueei a sobrancelha

para ela. — Não, você não exigiria minha presença.


— Que bom que você sabe. — Soei mais arrogante do que deveria.

— Obrigada, Aquiles — falou suavemente e me deu aquele sorriso


que me tirava o fôlego.
Emiti um grunhido, desagradado com o seu agradecimento, e ela deu

outro bocejo.
— Ah, o smoking que você me pediu para enviar para a lavanderia
não chegou. — Olhou para o relógio de pulso e fez uma careta. — Já era
para estar aqui, mas vou ligar para ver se eles vão demorar muito. Você

pretende usá-lo hoje?


— Não mais…

— Hum. — Pareceu pensativa. — O conjunto cinza chumbo que você


tem também ficará lindo, talvez até mais.
Os olhos azuis dela brilharam.

— Mesmo, Isis?
— Você sabe que sim… — falou baixinho, parecendo mais para si

mesma, e deu de ombros.


Abri um sorriso lascivo, sentindo certa euforia me preencher. Mesmo

que fosse um elogio sutil, era um elogio no final das contas, e eu adorava o
fato de ela confessar que me achava bonito, apesar de que a parte mais
devassa de mim adoraria ouvi-la me chamar de “gostoso”. Um dia eu

ouviria isso, já que estava longe de ter desistido de ter Isis para mim.
— Entendo… — sussurrei —, mas não vou precisar de nenhum deles.

— Não? — O cenho dela se franziu, confuso.


— Não irei mais, ángélos.
— Como não? — Os olhos dela se arregalaram e sua voz soou vários

decibéis mais altos, rivalizando com os gritos histéricos da minha mãe. — É


a sua oportunidade de tentar convencer os irmãos James pessoalmente de
que você é o parceiro ideal para o novo negócio lucrativo deles.
— Eles hesitam demais para o meu gosto. Se achassem que sou um

bom acréscimo aos negócios, eles não tentariam negociar com o Morozova.
Diferentemente do meu pai, eu não tinha tanta paciência para esperar

uma resposta e nem gostava de ser deixado de lado, por mais que isso
significasse perder uma chance de fazer ainda mais dinheiro.
— Acho que vale a pena tentar, afinal, não seria um valor desprezível

a longo prazo — retrucou. Seus olhos brilharam, sagazes.

Porra! Essa mulher não precisava fazer mais nada para me deixar
ainda mais louco por ela.

— Podemos marcar uma reunião final com eles ainda esse mês —

concedi.

— Vou anotar na minha agenda para entrar em contato com a


secretária deles na segunda.  — Suspirou, resignada. — Mas, na minha

opinião, você deveria ir…

— Théos!
Bufei, passando a mão pelo meu queixo, sentindo os pelinhos me

pinicarem.

— Mesmo que estejamos fingindo ser um casal, não precisamos ficar


grudados um no outro, sabia? — Arqueou a sobrancelha loira para mim.
— Sim, sei muito bem disso. — Não contive a duplicidade em minha

fala, olhando para seu decote, que só me deixava ver um pouquinho de pele.
Na minha opinião, estávamos muito longe de sermos o casal que ela

falava, pois tudo o que eu mais queria era ter o corpo nu dela colado ao

meu, os músculos dela agarrando o meu pau a cada estocada.


— Então?

— Minha resposta continua sendo não — sentenciei.

— Não está mais aqui quem falou… — Sorriu, dando de ombros,

levando as mãos a barriga: — Que incômodo chato…


Sem pensar muito, ergui-me da cadeira, e me aproximei dela,

pousando a mão sobre seu ombro.

— Quer ir ao médico? — perguntei, preocupado, e ela ergueu o rosto


para me fitar. 

— Acho que não é necessário…

— Isis… — Adverti, sendo um pouco pedante, e meus dedos


ganharam vida sobre ela, massageando seu ombro.

— Ninguém morre de queimação no estômago, Aquiles — falou

suavemente, emitindo um gemido baixinho de prazer que me deixou em

estado de alerta.
— Mesmo assim…
— Minha obstetra disse que é comum no final do primeiro trimestre,

e nem é o pior sintoma de todos… — Contorceu-se sobre o meu toque

quando apliquei mais pressão. 


Mesmo que o desejo fluísse pelas minhas veias, minha expressão se

transformou em uma carranca ao pensar em quantas dores ela ainda

sofreria.

— Eu e o meu bebê vamos ficar bem — disse, tentando me


convencer, e voltou a sorrir.

— E quem irá me garantir isso? — Ainda me sentia protetor, mesmo

que fosse um exagero da minha parte.


— Eu! — Tirou a minha mão do seu ombro. 

Balancei a cabeça em negativa, soltando um som de desagrado.

— Te mando mensagem de meia em meia hora até que eu pegue no

sono, está bem? — resmungou, parecendo subitamente mal-humorada.


Sorri e ela fechou ainda mais a cara. Estava me acostumando com

essas mudanças de humor dela. Até mesmo achava divertido.

— Tenho uma ideia melhor… — soltei.


— Me levar ao hospital? Já disse que…

— Não — cortei-a, suavemente. — Vamos encerrar o dia de hoje e ir

para casa.

— Gostei…
Abriu um sorriso que foi estragado por um bocejo, que não deu tempo

de disfarçar.
—  Vamos para o meu apartamento… — completei.

—  O quê? — Os olhos azuis dela se arregalaram.

— Não vou deixar você sozinha quando está passando mal, ángélos…
— Minha voz era sedosa, mas igualmente perigosa.

— Você não tem obrigação de… — Coloquei um dedo sobre os

lábios dela, impedindo que continuasse.

— Que tipo de homem eu seria se não estiver ao seu lado nesses


momentos? — murmurei.

A gema do meu dedo acariciou o seu lábio inferior, e ela estremeceu.

Uma pontinha de luxúria cintilou em seus olhos.


— Minha mãe me mataria se eu deixasse você sozinha — continuou.

— E o neto dela!

— Ela não precisa saber, Aquiles — sussurrou, parecendo ferida, e eu

não a compreendi.
— Mas eu saberei, Isis — fiz uma pausa e a vi engolir em seco —, e

eu não me perdoarei por isso, muito menos conseguirei dormir sabendo que

você pode precisar de mim e não estarei com você.


— Sabe que está exagerando, não é?
— Talvez, mas somos amigos, e amigos cuidam um do outro, então

não me negue isso, agápi… — Dei de ombros, sentindo os meus músculos

tensos.

— Por que pareço não ter vontade própria perante você? — disse
baixinho.

Não gostei muito de ouvir aquelas palavras saindo dos seus lábios,

muito menos da resignação que havia em seus olhos. Baixei a mão.


— Você tem, e muita…

— Vou fingir que acredito — falou, brincalhona, acariciando

novamente o seu ventre.

— Não duvide disso.


Pisquei para Isis e estendi a mão para ela, ajudando-a a se erguer.

— Obrigada.

— Me dê um minuto, vou apenas desligar meu computador — pedi.


— Eu preciso passar no banheiro primeiro, sabe como é a minha

vontade insana de fazer xixi — disse ao andar em direção a porta.

A observei passar rapidamente pela porta, não se preocupando em

fechá-la outra vez. Provavelmente, estava apertada.


Balançando a cabeça em negativa, com meus lábios se curvando para

cima em um arremedo de sorriso, tentei dominar a minha expectativa de

ficar um tempo a mais com Isis, mas sem envolver trabalho e nem a farsa,
mas falhei miseravelmente, tanto quanto fracassei de conter o meu sorriso

abobado.
Capítulo dezoito

 
— Quer mais um pouco? — perguntei ao colocar duas conchas de

sopa no meu prato. — Está sem graça, mas dá para comer.


— Você só está querendo um elogio, Aquiles.

Bebericou o suco de melão, que ela disse que era bom para a azia

segundo viu na internet, e encarou o meu torso desnudo. Mesmo que Isis
tentasse disfarçar, seus olhos azuis cintilavam em admiração.

— Talvez — murmurei, mastigando um pedaço de cenoura para não

sorrir de regozijo.
— Está deliciosa…
— Mentirosa… — provoquei-a

Soltou uma gargalhada, que acabou roubando uma risada de mim.


— Bobo!

Mostrou a língua para mim, como se fosse uma criança, e estendeu-

me o prato para que eu colocasse um pouco mais de caldo.


Eu poderia ter encomendado uma comida, mas acabei tentando

preparar algo mais leve para ela comer, que não prejudicasse ainda mais o

seu estômago. Embora minha primeira tentativa na cozinha não tenha saído
de toda ruim, estava longe de ser um prato que pudesse ser chamado de

apetitoso.

— Assim está bom — disse.


— Tá.

Sorri, satisfeito ao escutar o som baixinho que escapou dos lábios


dela quando levou uma colherada à boca.

Não fiz nenhum movimento para voltar a comer, apenas observei a

expressão de prazer no rosto dela. Além do sono, ela vinha tendo bastante

apetite.

Ainda que tivesse uma toalha enrolada na cabeça e usasse um pijama

de manga e calça comprida com estampa de bichinho, Isis era linda.


Porra! Eu até mesmo poderia dizer que ela estava sexy pra caralho,

algo  assombroso, já que as roupas cobriam toda a sua pele e também eram
largas, não deixando nenhuma curva em evidência, mas eu sabia que era a
mulher que havia dentro daquelas peças de flanela que era sedutora. Isis

ficaria atraente até mesmo vestindo trapos. Ou nada.

Evitei o pensamento de que, vinte minutos atrás, ela tinha estado

completamente nua no banheiro da suíte de hóspedes. A ideia me deixaria

em apuros e com uma ereção.

— Não vai terminar de comer? — Apontou para o meu prato,


divertida, e acabou bocejando.

— Claro.

Dei uma colherada na minha sopa, que já estava fria.

— Fria fica pior ainda. — Fiz uma careta.

— Não exagera, me caiu muito bem, tanto que a azia parou um pouco

de incomodar. — Sorriu e olhou para o seu abdômen enquanto o acariciava.

Outra vez, eu fiquei fascinado pelos movimentos delicados.


— Fico feliz, Isis — sussurrei, forçando-me a terminar de comer o

restante do meu prato, ignorando meu coração acelerado e a satisfação

absurda que sentia —, talvez eu devesse me arriscar mais na cozinha…

— Hm. Aí eu já não sei.

Seu olhar voltou a percorrer meu torso, antes que ela voltasse a

atenção ao suco.
Aqueles breves segundos avivaram aquela chama que me consumia

lentamente e que, a qualquer momento, me queimaria.


— Pensei que tinha ido bem — minha voz soou rouca.

— Sim, mas não vejo isso como um hobby seu…


— Mesmo? — Arqueei minha sobrancelha.
Não respondeu, apenas deu de ombros.

— Vai comer mais? — perguntou, tempos depois, e eu neguei com


um aceno. — Então vou tirar a mesa.

— Deixa que eu faço isso — falei.


— Não, é o mínimo que posso fazer, Aquiles.

— Não, Isis, você está cansada…


— Estou mesmo. — Soltou um bocejo, voltando a se sentar. —
Parece que faz dias que não durmo.

— Talvez você devesse trabalhar menos… — retomei aquele assunto,


que já tinha causado uma pequena discussão entre nós, enquanto ela

formava uma pilha com pratos e talheres.


— De novo não, Aquiles. Já basta a sua mãe falando que eu posso

passar a gestação inteira de pernas para o ar.


— Deveria ouvi-la, ángélos… — Caminhei até a lava-louças,
consciente de que ela me fitava, e coloquei algumas coisas dentro dela,
embora, no fundo, não tivesse a mínima ideia de como funcionava. —

Trabalhar para mim não é fácil.


Bufou.

— Não é mesmo, mas ainda tenho energia suficiente para continuar.


Se tudo der certo, só entrarei com o pedido de licença no último mês da

gestação e devo ficar fora por uns dois meses. — Seu tom foi suave e
imaginei que acariciava “seu bebê” outra vez.
— Pouco tempo não? — Depois de jogar o restante da comida fora,

coloquei a vasilha na máquina.


— É a legislação. Eu tenho sorte de que a sua empresa oferece

remuneração. — Suspirou.
Estalei a língua. Eu nunca havia pensado muito sobre licença
maternidade/paternidade, já que, até então, eu deixava esse assunto nas

mãos do setor de recursos humanos, mas talvez fosse tempo de realizar


algumas mudanças… Talvez seis meses de licença remunerada, como na

Grécia.
— Você pode tirar mais tempo, afinal você será uma Mavridis…. —

Quis comemorar quando finalmente consegui ligar o eletrodoméstico, e ele


fez um barulho depois que apertei mais alguns botões.
— Não irei começar essa discussão agora, Aquiles — murmurou.
Apesar da nossa farsa, não havíamos entrado em muitos detalhes de
como seria a nossa vida quando disséssemos sim no altar, a única coisa que
havíamos combinado, além de eu ter dito que assumiria o bebê dela, dando

meu sobrenome, era que Isis deixaria algumas coisas dela na minha casa,
para deixar a história mais crível.

— Quer dizer que eu venci, agápi?


Encarei-a, sentindo uma onda de excitação me percorrer ao flagrá-la
olhando para mim.

— Longe disso. — Bocejou. — Apesar de odiar meus sobrenomes, é


burocracia demais, principalmente quando pretendemos nos divorciar

tempos depois.
Meu sangue esfriou, o desejo morrendo instantaneamente. Eu senti

uma vontade enorme de riscar a palavra “divórcio” do meu dicionário. Não


queria pensar naquele momento, muito menos na aversão que sentia pela
ideia de nos separarmos.

— Entendo… — Vi minha noiva de mentira abrir a boca novamente e


eu franzi o cenho para ela, apenas para adotar um tom suave enquanto

recolhia os copos. — Não é melhor você ir deitar?


Dei a minha tarefa por terminada.
— Não são nem oito... — Balançou a cabeça em negativa, a toalha

desenrolando em sua cabeça, revelando os fios loiros mais escuros pela


umidade. — Se eu for descansar agora, vou acordar de madrugada e
custarei a dormir novamente. Se você não se importar, vou ver um pouco de
tv.

— Claro que não, ángelós, mas acho que você deveria secar seus
cabelos primeiro. — Sorri.

— Estou com preguiça, Aquiles. — Fez uma careta.


Aproximei-me dela e estendi a mão em sua direção.
— O quê? — Seus olhos aparentaram surpresa.

— Eu os secarei para você, não quero que você fique doente, não se

eu puder evitar — falei suavemente.


— Não é necessário…

— Vou cuidar de você, Isis…

Me inclinei para deixar um beijo na testa dela, por mais que eu

quisesse dar mesmo era um selinho.


Ela ficou me olhando por um tempo e várias emoções pareceram

dominá-la, mas foi a pontinha de medo que vi em seus olhos que me

chamou atenção, ainda que eu não soubesse lidar com essas emoções.
— Vamos? — insisti.

Balançou a cabeça em concordância, e quando estendi novamente a

mão, ela não a recusou.


Antes que déssemos um passo, enrolei os cabelos molhados outra vez

na toalha úmida, tentando ajustá-la no topo da cabeça dela, para não


ensopar as costas da blusa do seu pijama.

— Acho que será melhor você segurar — torci os lábios, quando a

toalha caiu pela segunda vez.


— Deixa que eu faço isso — falou em meio a uma gargalhada, os

olhos azuis brilhando, cheios de diversão.

Tombou a cabeça para frente e pegou o tecido da minha mão,

enrolando os fios rapidamente.


— Pronto.

— Vamos!

Sem esperar uma resposta, como um garoto afoito, segurei a mão dela
e fui em direção ao meu quarto, indo direto para o banheiro da suíte.

— Uau! 

Desvencilhando-se dos meus dedos, tocou uma pilastra decorativa


que imitava uma coluna grega, com pequenas voltas para dentro no topo.

— Pelo banheiro do quarto de hóspedes, imaginava que o seu fosse

grande, mas, se bobear, cabe meu apartamento inteiro aqui dentro.

— Não exagera, ángélos.


— Hmph! Não é exagero. Foi a sua mãe que decorou, não? —

Percorreu com os olhos todo o cômodo, parecendo observar cada detalhe,


que, sendo honesto, nunca chamaram a minha atenção.

— Como adivinhou? — Arqueei a sobrancelha para ela, zombeteiro.

— Duvido muito que você perderia o seu tempo escolhendo cada


objeto decorativo. Você é prático demais para isso…

— Hum…

— E é difícil imaginar você escolhendo isso. — Apontou para o lustre

de cristal que ficava no centro do cômodo. Era mais um enfeite de


decoração do que algo funcional. — Pedras demais.

— De fato.

Fiz uma careta e ambos caímos na risada.


— Eu poderia morar aqui dentro — comentou, passando a mão na

borda de um vaso de porcelana.

— Fique à vontade… — Fiz um gesto digno da minha mãe, tirando

importância do meu comentário.


— Se eu fosse você não brincava com isso — olhou para mim, seus

lábios curvados em um sorriso —, é bem capaz de eu me mudar mesmo…

— Será bem-vinda… — falei, tentando não soar malicioso.


— Duvido muito que achará graça quando eu não sair de dentro dessa

banheira e você não ter chance de usá-la. — Apontou para a

hidromassagem.

Minha diversão morreu instantaneamente.


Não foi a primeira vez que fantasiei com Isis na banheira me

convidando para me juntar a ela, mas dessa vez, com ela bem ali, a imagem
tornou-se tão forte que eu senti o meu corpo todo se retesar. Pensar que

muito pouco me separava de concretizar esse desejo, em nada ajudava.

— Não será problema nenhum, já que prefiro usar o chuveiro —


forcei-me a dizer uma meia-verdade, minha voz soando rouca.

Apesar de eu normalmente usar os jatos de água por considerar o

chuveiro mais prático, no momento, nada me parecia mais interessante do

que a maldita banheira e Isis dentro dela.


— Se for estilo sauna, acho que eu também faria bom uso dele… —

provocou-me.

— Kólasi gynaíka[20] — falei, entredentes, tentando controlar a

excitação que se tornava maior, ao ponto do meu pau começar a ganhar vida

quando pensei nos nossos corpos unidos em meio a uma nuvem de vapor.
Eu a beijaria com a minha alma enquanto me afundava no seu calor

receptivo, a única barreira para que ficássemos completamente colados

seria a barriguinha linda dela.


— O que você disse?

Respirei fundo e, afastando esses pensamentos luxuriosos da minha

mente, caminhei em direção ao toalheiro para pegar toalhas secas para

substituir a enrolada na cabeça dela. Por mais desesperado que esteja por tê-
la, não iria estragar aquele momento tendo uma ereção. Queria cuidar dela,

nada além disso. Mais do que ninguém, ela merecia ser cuidada, paparicada,

ainda mais quando se sentia mal, e era isso que eu faria.

— Vamos secar os seus cabelos.


— Tá.

Quando ela parou de frente a pia dupla, coloquei o secador na tomada

e reuni tudo o que eu iria precisar ao alcance das minhas mãos. Pus-me
atrás dela, a uma distância que a deixaria confortável. Coloquei uma toalha

sobre os seus ombros e removi a outra, jogando-a em cima do balcão.

Nossos olhares se encontraram através do espelho e, por um

momento, eu parei com o secador na mão. Balancei a cabeça em negativa


de maneira quase que imperceptível, embrenhei meus dedos nas mechas

macias e comecei a secá-las, movendo o aparelho de maneira débil, já que

era a primeira vez que eu manuseava o aparelho. Com as pontas dos dedos,
eu desembaraçava alguns fios embolados.

Tão descoordenado quanto minhas mãos estava o meu coração, que

batia tão forte que eu escutava o ribombar nos meus ouvidos.

Nunca imaginei que sentiria tanto prazer executando uma tarefa tão
simples, um prazer que nada tinha a ver com sexual, mas era uma satisfação

indescritível. Tocá-la dessa maneira era emocionante.


Apesar de úmidos, os fios longos e loiros eram tão macios, que eu

poderia ficar horas deslizando meus dedos pelos cabelos dela. E o cheiro...
Porra, a fragrância que emanava dela me embriagava e eu sabia que estava

perdido. Fodido!

— Está muito quente? — questionei em um tom rouco, depois de Isis

estremecer quando aumentei um pouco a temperatura.


— Não, agora está ótimo — disse em meio a um bocejo. — Antes,

estava frio e levaria uma eternidade para secar.

Soltei um bufar com o seu comentário, fazendo com que ela risse
baixinho.

Continuei a trabalhar nos cabelos dela, prolongando o máximo

possível aquele momento, sentindo meus dedos ficarem cada vez mais
trêmulos.

— Isso é bom…

Estava terminando de secar os cabelos dela, quando a ouvi suspirar

baixinho. Meus dedos massagearam o couro cabeludo, e eu olhei para ela,


encontrando certa tristeza, e também as malditas lágrimas, inundando seus

olhos.

Pousei o secador sobre a bancada e a acariciei gentilmente.


— Então por que parece amuada? — questionei.
— Sei que é besteira, Aquiles — pegou o pente e começou a passar
pelos fios, abrindo a boca —, mas faz tempo que não recebo um cafuné de

alguém.

— Entendo…
Tirei a escova dos dedos dela e pus sobre a bancada.

Ela me olhou, confusa.

— O que foi?
Peguei a mão dela outra vez.

— Vamos, agápi.

Comecei a arrastá-la para fora do banheiro.

— Onde vamos?
— Para sala. Você vai ganhar o melhor cafuné da sua vida — soei

convicto.

— Deus! — Deu uma risada. — Então deixe-me pegar um cobertor.


— Certo.

Um minuto depois, após ligar a tv em um canal qualquer, sentei-me


no sofá e puxei uma almofada para o colo, enquanto ela se enrolava no
edredom.

— Pode deitar aqui, ángélos. — Bati na almofada sobre as minhas


coxas, a convidando.
— Tem certeza? — Pareceu insegura de repente, e emitiu um bocejo.
Franzi o cenho.
— Do quê?
— Não precisa fazer cafuné em mim só porque há muito tempo

ninguém faz, Aquiles. — Mordiscou o lábio, deixando-o mais vermelho. —


Você já fez muito por mim hoje, tanto que nem sei como agradecer.
— Bobagem, Isis…

— Você é…
— Seu amigo — não a deixei completar, guardando para mim o “seu
futuro marido”.

— É, mas…
— Entendo se não quiser… — Senti uma pontada de decepção e uma
dorzinha absurda no peito.

— Não é isso… — sussurrou. — Eu só não quero ser uma obrigação


para você.
Contive a vontade de praguejar.

— Você não é minha obrigação e nunca será. Se estou te oferecendo


um cafuné, é porque eu quero fazer, agápi — falei suavemente e voltei a

bater na almofada —, agora venha cá.


Pareceu pensar e foi como se o tempo estivesse suspenso para mim,
até que, com um aceno de cabeça, Isis se acomodou no sofá, deitando

encolhida, parecendo uma borboleta em um casulo.


Soltei o ar que nem sabia que estava prendendo nos meus pulmões,
sorrindo involuntariamente quando finalmente a mulher pousou a sua
cabeça no meu colo. Seus olhos azuis me fitaram, estavam um pouco

arregalados.
— É estranho — sussurrou, movimentando-se, e eu dei uma risada.

— Ainda nem comecei.


Sua resposta foi abrir a boca em um novo bocejo, e se mexer outra
vez, de modo que sua cabeça ficasse voltada para a tv.

Rindo, removi alguns fios que caiam sobre a sua face, e não me
passou despercebido o fato dos meus dedos estarem trêmulos outra vez,
muito menos o contraste entre a minha mão forte e a curva delicada do

rosto dela.
Enterrando suavemente uma mão nos seus cabelos, comecei a fazer
carícias suaves, arrancando dela um som suave.

— Não é o melhor cafuné que você já recebeu? — Brinquei com ela.


— Sim — sua voz soou rouca com a sonolência.
Continuei a sorrir, como um parvo, massageando o seu couro

cabeludo.
— E o seu estômago, como está?

— Melhor.
— Hm.
Ficamos em silêncio. Bem, não tão em silêncio, já que suspiros e sons
baixos deixavam nossos lábios.

Enquanto fazia a massagem, minha mão livre passou a afagá-la por


cima do cobertor. Eu não conseguia tirar os olhos dela, percebendo que
cada vez mais ela se entregava não apenas ao conforto proporcionado pelo

meu toque, mas também ao cansaço. Suas pálpebras abriam e fechavam,


como se lutasse para ficar acordada.

Meu coração que antes batia rápido, desacelerou.  Achava que iria
ficar tenso por tê-la deitada no meu colo, porém tudo o que sentia era um
estado de relaxamento que fazia muito tempo que não dominava e, como se

fosse possível, me senti mais terno e protetor com relação a ela e o bebê.
Apreciei cada segundo da sensação de tê-la em meus braços e de
poder acariciar seus cabelos até que ela pegasse no sono.

E, mesmo que não fizesse sentido, desejei poder ficar assim, para
sempre…
Capítulo dezenove

 
— Estou tão empolgada! — Agatha falou em um tom animado.

Ela quase dava pulinhos enquanto caminhávamos em direção ao ateliê


de uma das estilistas de vestido de noiva mais famosas dos Estados Unidos

e também da Europa, e que tinha as peças mais exclusivas e caras.

Segundo a minha sogra, era dificílimo conseguir um horário com ela,


mas o dinheiro de Aquiles abria muitas portas, até mesmo faria com que a

mulher fosse até o apartamento dele para uma primeira consulta, porém, eu

queria a experiência completa de poder provar vários vestidos, como uma


noiva comum, apesar da minha situação não ser nada simples. Eu estava
grávida, meu noivado e meu casamento seriam de mentira, e eu teria uma

cerimônia que literalmente custaria milhões.


Faz duas semanas que começamos os preparativos, porque tínhamos

demorado para escolher uma data. Eu poderia prever que surtaria com

tantos detalhes, apesar da minha “sogra” estar na frente de tudo.


— Eu estou com um friozinho na barriga — sussurrei, sentindo

minhas palmas ficarem úmidas. 

— Posso imaginar. Quando foi a minha vez, eu nem dormi a noite —


disse suavemente, me dando a mão. — É um momento importante, não?

— Não que seja para todas as mulheres, mas para mim é. Sempre me

imaginei escolhendo um vestido princesa bem extravagante, mas… —


suspirei.

Agatha parou, fazendo com que eu encarasse sua expressão maternal.


— Você ainda pode escolher um desses, querida, com cristais, renda

ou até mesmo pluma. — Deu uma batidinha no meu rosto.

— Com essa barriga que vai crescer ainda mais? — Acariciei o meu

abdômen, que cada vez ficava mais saliente. Sorri.

— Se esse for o seu sonho, que mal tem? Dinheiro não é problema.

— Não, não é — murmurei, afastando a culpa que sentia pelos


dinheiro que seria gasto. — Mas confesso que procuro algo mais discreto.

Acho que não combino mais com as ideias de quando tinha quinze anos.
— Nunca se sabe, você tem que experimentar — enganchou seu
braço no meu, animada, e praticamente me arrastou.

— Não custa nada, não é mesmo? — concordei.

Ainda que provavelmente não fosse a minha escolha, não podia negar

que estava empolgada para experimentar.

Minha futura sogra continuou a tagarelar, relembrando o próprio

vestido e véu, até alcançarmos a boutique.


— Sejam bem-vindas, senhora Papanastasiou-Mavridis e senhorita

Davis — uma mulher alta cumprimentou-nos com um forte sotaque francês.

— Obrigada — nós duas praticamente agradecemos em uníssono, e

acabamos rindo, enquanto nos sentávamos nas poltronas do salão de

atendimento.

Sem dúvidas era muito luxuoso, mas toda a minha atenção estava nos

vestidos expostos nos manequins.


— Vocês desejam água, suco, champagne ou café? — Uma

funcionária perguntou.

— Uma água com gás, por favor — Agatha pediu.

— Senhorita?

— Estou bem assim, obrigada. — Sorri para ela, que assentiu, antes

de se retirar.
— Vocês estão esperando mais alguém, ou serão apenas as duas? —

A estilista perguntou.
— Só eu e minha sogra — murmurei, olhando para ela.

Infelizmente, minha amiga Pam não pôde vir comigo, ainda que
Aquiles a tenha liberado para vir conosco. Houve um problema na casa dela
que era mais urgente do que me ver escolhendo vestidos.

Agatha estendeu a mão para mim e eu a peguei, entrelaçando nossos


dedos como se fôssemos mãe e filha. Senti-me tocada pelo carinho que

havia em suas feições.


O momento foi quebrado quando a funcionária pousou uma bandeja

sobre a mesinha de centro.


— Grata — Agatha agradeceu, pegando a taça e levando-a aos lábios.
— Bom, vamos começar — a estilista falou. — Posso te chamar de

Isis, senhorita Davis?


Fiz que sim com a cabeça.

— Ótimo! Eu sempre costumo iniciar o atendimento procurando


conhecer um pouco sobre a noiva, suas expectativas, e também como será a

cerimônia. Você se importa se eu fizer algumas perguntas, Isis?


— Claro que não. — Juntei as minhas mãos sobre o colo.
— Será sua primeira vez experimentando vestidos de noiva? —

começou.
Tentei responder as perguntas, mas confesso que travei nas que

diziam respeito à cerimônia.


Felizmente, minha sogra assessorou-me, respondendo no meu lugar.

Ela não tinha me dado nenhuma pista do que estava pensando para a
cerimônia religiosa, que teria lugar na St. Nicholas Greek Orthodox Church.

Me disse que os padrinhos e os pais que decidiam esses detalhes, fazendo


uma surpresa para os noivos.
— Qual o orçamento, Isis? — perguntou, tempos depois.

Olhei para Agatha, sem saber o que dizer; ela que estava cuidando
desse aspecto.

— Não temos um limite — minha sogra disse divertida, bebericando


a água.
— Excelente! — Os olhos da mulher cintilaram e seu sotaque pareceu

ficar mais acentuado. — Você tem alguma preferência de corte, estilo, tipo
de cintura? De cor?

— Estou aberta às opções, só não quero que o decote revele demais


— falei.

— Perfeito. — Se ergueu. — Vocês podem me seguir, por favor?


Como há muitas opções, podemos ver o que te atrai, ou não.
— Certo!
Não escondi a minha empolgação ao me levantar, e minha sogra deu
uma risadinha de deleite, se erguendo também.
A designer nos levou a uma sala que mais parecia um paraíso das

noivas. Além de ser um espaço enorme, parecia haver uma centena de


vestidos, de vários tamanhos e modelos.

— Podemos ver esse primeiro? — Apontei para um em um tom


champagne, de renda e decote em V, com um cinto de laço que marcava a
cintura, que me chamou a atenção mais do que os outros. — Se me couber,

é claro.
Levei as mãos à minha barriguinha que ainda não era um empecilho,

mas que seria quando eu me casasse com Aquiles, já que eu estaria


completando seis meses.

— Não se preocupe com isso, Isis. Se você escolher um dos meus


modelos, faremos várias provas para que fique perfeito. — Sorriu para
mim, e fez um gesto para que a funcionária o pegasse.

— Eu adorei esse. — Minha sogra puxou um estilo princesa, cheio de


bordados e pedrarias, com uma saia bastante volumosa.

— Vamos experimentar esse também…


— Ótimo!
A mulher me mostrou várias opções, uma mais linda do que a outra.

Quando entrei no provador, a assistente estava quase sumindo de tantos


vestidos que carregava em seus braços.
— Qual você quer experimentar primeiro, Isis? — questionou,
colocando os vestidos no cabideiro.

— Acho que o de princesa… — Começaria com o que menos gostei.


— Certo.

Senti certa vergonha em me despir na frente da mulher, mas não tinha


como amarrar o corselete sozinha.
Quase dez minutos depois, finalmente eu estava na peça, e me encarei

no espelho, contemplando o “vestido dos meus sonhos” da minha

adolescência. Meu coração batia acelerado.


— Hm. — Girei um pouco o meu corpo, tentando olhar como havia

ficado as minhas costas.

— O que achou? — perguntou.

— Não sei.
Passei os dedos pelo bordado do corpete, depois deslizei as mãos pela

saia volumosa de tule e renda. Era lindo, mas não sabia se eu gostava ou

não de como ficava em mim.


Era o primeiro vestido de noiva que provava, então era impossível

não sentir certa emoção usando-o. Eu me sentia uma noiva nele, mesmo que

o meu casamento estivesse muito longe de ser uma verdade.


— Que tal mostrarmos para a sua sogra? — sugeriu.
Fiz que sim e, segurando a saia volumosa, deixei o vestiário. Os

pequenos passos que dei foram o suficiente para eu ver que não ficaria tão
confortável assim.

— Está linda, filha, uma verdadeira princesa — minha sogra falou

depois de me analisar de cima a baixo.


— Sim… — Tinha que concordar, me sentia uma, mas, ainda assim,

algo nele não me fez apaixonar.

— Apesar do corpete ser bonito, ressaltar a curva da sua cintura, acho

que ele está um pouco frouxo na região dos seios.


— Podemos ajustar. Com licença, Isis — a estilista se aproximou de

mim, erguendo o tecido um pouco para mostrar como ficaria.

— Hm… — Minha sogra pareceu pensativa. — Eu ainda não sei.


Acho que ele não é o perfeito, ainda.

— Sim — concordei com um aceno. — E também vai ser difícil me

movimentar, principalmente na festa.


Como para provar isso, dei uma volta em mim mesma, encontrando

certa dificuldade.

— Confesso que adorei o brilho do corpete.

Suspirei, tornando a passar a minha mão pela pedraria.


— É lindo, mas dá para ver na sua cara que você não amou, querida.

— Mesmo? — Fiquei surpresa com a fala da minha sogra.


— Seus olhos não brilharam de emoção, filha, mas sem dúvidas foi

um bom começo.

— Sim.
— Vamos para o próximo então — a estilista falou, batendo uma

palminha, e eu voltei para o provador.

Experimentei vários vestidos, e tinha que confessar que estava

ficando um pouco frustrada por nenhum deles fazer o meu coração disparar
no peito, ou me levar às lágrimas. E minha futura sogra parecia concordar

comigo, pois ela apontava uma série de coisas também, que iam desde o

caimento, a parte do meu abdômen, até mesmo a cauda, e que mesmo


ajustando, na cabeça dela, não ficaria bom.

Talvez eu esteja sendo bastante exigente para um casamento que nem

seria real, mas, de alguma forma, eu queria estar linda no dia. Linda aos

olhos de Aquiles.
Estava sendo tola, mas eu desejava que o homem que vinha mexendo

tanto comigo se emocionasse assim que me visse vestida de branco.

Desde que Aquiles cuidou de mim no dia em que eu estava com azia,
melhor, desde a descoberta da minha gravidez, algo pareceu mudar dentro

de mim, principalmente quando praticamente todos os dias ele me mimava.

A atração sexual crepitava entre nós dois todas as vezes que

fingíamos na frente dos outros, e até mesmo quando eu tentava colocar uma
distância segura entre nós, impedindo beijos e toques fora da farsa, porém,

o grego, seus atos e o seu carinho pareciam impregnados na minha mente.


Eu temia que, na minha vulnerabilidade, acabasse confundindo as

coisas, misturando a mentira com a realidade, terminando me apaixonando

pelo homem afetuoso que Aquiles era comigo e o meu bebê, estragando
nossa amizade.

Respirando fundo, saí do provador.

— E esse? — perguntei para minha sogra, insegura, ao mostrar o

vestido champanhe de laço.


— Adorei as alças finas, o modo como a saia império alonga a

silhueta e disfarça um pouco os quadris.

— E aqui? — perguntei, passando a mão pelo decote que para mim


estava profundo demais.

— Se a gente subir um pouco a alça, ficará assim — a estilista me

mostrou.

— Excelente. — Minha sogra pareceu mais empolgada do que eu.


— Não sei se gosto do laço e acho o decote simples demais —

murmurei, parecendo uma chata para quem nada estava bom.

— Hm. — A estilista pareceu pensativa, depois da minha negativa. —


Tive uma ideia.

— Qual?
— Por que não nos sentamos para discutir o que você gostou ou não

em tudo o que você viu, e eu faço um esboço e crio um design exclusivo

para você? Posso acrescentar os cristais Swarovski do bordado do primeiro

vestido que você gostou.


— Excelente. — Agatha bateu palminhas, entusiasmada. — O que

você acha, Isis?

Fiquei em silêncio, ponderando. Era surreal pensar que alguém


desenharia algo exclusivamente para mim.

— Sei que parece assustador, principalmente por ser uma ideia, um

desenho, mas acredito que poderei atender todas as suas expectativas. Já

trabalhei dessa forma com inúmeros clientes.


— E se eu não gostar? — Era uma pergunta genuína. — Ou não

conseguir visualizar o projeto?

— Trabalharemos juntas em cada etapa, Isis, e te ajudarei no


processo.

Minha sogra me encarou, expectante.

— Por que não? — concordei.

— Vai ficar perfeito! — Agatha deu um gritinho.


— Podemos começar depois de você se trocar, ou você prefere marcar

uma outra data? — a estilista falou.


— Pode ser outro dia? Estou bastante cansada e acho que não vou

conseguir processar muita coisa.


— Claro, Isis, e será bom que você tire um tempinho para assimilar o

que você quer ou não no seu vestido. Quando se sentir preparada, só marcar

um horário com a minha secretária.

— Obrigada.
Rapidamente, me troquei e nos despedimos da estilista, que

novamente reforçou estar a minha disposição.

— Você tem planos de fazer alguma coisa agora? — Agatha


enganchou o braço dela no meu quando deixamos o ateliê.

— Não, Aquiles me deu folga no período da tarde para resolver essa

questão do vestido. — Sorri.


— Hm… está muito cansada, filha?

— Para pensar nos detalhes do casamento, sim — falei baixinho,

temendo sua reação com a minha recusa de falar da paixão dela.

— Também estou farta de casamentos por hoje. — Com o canto do


olho, a vi fazer uma careta. — De manhã, uma cliente indecisa fez com que

eu perdesse toda a minha paciência.

— Imagino... — fiz uma pausa, adotando um tom divertido: —


Espero que a minha indecisão não te estresse e que você não acabe se

arrependendo de organizar o meu casamento.


Parando, ela jogou a cabeça para trás e riu.
— Pode ter certeza de que deixarei você saber…

Rimos.

— Obrigada, Agatha, de verdade. Obrigada por ter vindo comigo e ter


feito o papel de mãe e amiga. — Meu tom era emocionado, ao olhar a

expressão suave da minha sogra.

— Foi um prazer fazer isso por você, Isis. — Acariciou o meu rosto.
— Você é a minha filha de coração. Eu que tenho que agradecer a você por

me deixar te acompanhar nesse momento.

A pontada de culpa fincou o meu peito, mas tentei colocá-la de lado,

por mais difícil que fosse.


— Mas se você quer mesmo me agradecer — cochichou —, que tal

irmos ao cinema?

— Só se tiver amendoim com chocolate — brinquei, e ela fez uma


careta para mim.

— Fechado — falou pouco depois.


Nós duas rimos, e antes que ela mudasse de ideia, parei o primeiro
táxi amarelo que passou. Previa que ver filme com a minha sogra seria

divertidíssimo.
Capítulo vinte

 
— Isis… — Escutei uma voz me chamar, mas me pareceu mais um

zumbido, como de uma abelha. Ignorei.


— Ángélos, acorde. — Soou mais alto.

A voz repetiu, de modo que quase não pude ignorar, mas, ainda

assim, com um gemido, desconsiderei, virando para o lado, querendo mais


daquele torpor delicioso, mas alguém não parava de me chamar.

Quando senti uma mão tocando meus ombros gentilmente, para me

sacudir, e lábios pousaram na minha bochecha, abri os olhos e encarei um


Aquiles sorridente, cujo rosto estava a centímetros do meu.
— Minha Psiquê — soou brincalhão, deixando um beijo na ponta do

meu nariz, antes de ficar de pé.


— O quê?

O torpor do sono me deixava desnorteada, tanto que não fiz nenhum

movimento. Bem, fiz: fechei os olhos, desejando voltar a dormir.


— Em alguns minutos, iremos pousar, ángélos…

Só então me situei onde estava e o som das turbinas do avião do meu

chefe alcançou os meus ouvidos.


Não sei como consegui dormir com aquele barulho ensurdecedor.

Talvez fosse o tédio da viagem de mais de nove horas, combinado com a

sonolência da gravidez, que, embora tivesse diminuído, ainda existia.


Abri os olhos novamente, sentando-me no colchão incrivelmente

macio, e olhei para Aquiles, que me observava.


— Já chegamos? — Era uma pergunta tola, pois se a aeronave iria

pousar, era claro que havíamos chegado.

— Sim, então se levante para tomar lugar na sua poltrona — falou

suavemente.

Mesmo trôpega, desvencilhando-me da coberta, sentei-me na cama e

fui colocar a minha sapatilha. Ergui-me, cambaleando um pouco com a


inclinação da aeronave, e, com a ajuda de Aquiles, alcancei o meu assento.
Sendo um cavalheiro, ele afivelou o meu cinto antes de fazer o mesmo com
o seu.

Olhei pela janela, contemplando a paisagem. Há uma semana,

Aquiles havia recebido um convite de última hora para participar de uma

festa corporativa, que reuniria grandes empresários e que aconteceria no

Brasil. Infelizmente, ele não tinha como recusar, negócios de milhares de

dólares seriam realizados ali. Tinha pensado seriamente em não ir, mas o
grego acabou me convencendo a acompanhá-lo, ainda mais que ficaríamos

lá apenas três dias. Felizmente, a gravidez não tinha sido um empecilho

para que eu pudesse viajar de avião.

Suspirei, e quando as nuvens estavam me deixando com vontade de

comer algodão doce, olhei para o grego que, além de estar impecavelmente

vestido no seu terno preto bem cortado, me encarava com diversão. Senti

uma pontada de inveja por ele parecer tão bem depois de um voo de várias
horas.

— O que foi?

Mexi no meu assento, sentindo cócegas quando o avião começou a

baixar.

— Estou com a aparência péssima, não é mesmo? — perguntei,

imaginando que eu deveria estar descabelada, com remela nos olhos, cara
amassada e a roupa, que embora fosse elegante, amarrotada.
— Sou suspeito, ángélos. — A voz dele soou pastosa. Deu de

ombros.
— Merda! — choraminguei, passando a mão na minha calça, que

tinha um vinco enorme.  — Devo estar horrível.


— Você está linda, Isis. — Tamborilou os dedos no apoio da poltrona.
— Deve estar precisando de óculos. — Bufei.

— Te garanto que eu enxergo muito bem, agápi — continuou naquele


mesmo tom sedoso.

Para provar o seu ponto, os olhos verdes passearam pelo meu corpo, e
não fui capaz de pronunciar nenhuma palavra.

Eu poderia estar horrorosa, mas aquele olhar lascivo fez com que eu
me sentisse, além de quente, a mulher mais sexy que ele tinha visto, tanto
que eu fiquei ofegante, e me senti excitada, algo que vinha se tornando cada

vez mais frequente. Bastava um olhar, um toque simples, ou até mesmo um


selinho, para que eu me sentisse em chamas.

Não era exagero falar que eu estava quase subindo pelas paredes.
Poxa, eu gostava de sexo e estava há muito tempo na seca; me masturbar ou

usar brinquedos não resolviam mais o meu problema. Então, por mais que
minha consciência dizia que eu não devia me envolver com o grego, pois
isso só tornaria a nossa situação mais complicada, meu corpo estava mais
do que disposto a sentir o do Aquiles, dando vazão a ânsia que me

consumia.
Estar ciente de que o meu chefe também não estava transando com

ninguém, já que acordamos que nos manteríamos “fiéis” um ao outro,


parecia ser um argumento a mais para o meu desejo vencer a batalha contra

a minha racionalidade. Estávamos carentes e…


Merda! Eu tinha que ser mais forte do que meu corpo.
Trabalhar para o grego depois do divórcio já seria ruim o suficiente,

manter um caso, baseado em desespero mútuo e que com certeza teria um


fim, seria desastroso... apenas para mim.

Olhando para ele, tinha certeza que Aquiles lidaria muito bem com o
resultado dessa catástrofe. O homem era arrogante, autoconfiante, e, bem...
poderia me substituir facilmente.

— Mesmo assim, passarei no banheiro — forcei-me a falar e a manter


contato visual.

A sobrancelha dele se arqueou.


— Não posso deixar que as pessoas me vejam assim — continuei —,

aparência é tudo.
— Claro — falou ironicamente e eu ignorei.
— Ainda mais diante de tantas mulheres bonitas que circularão no

hotel — minha voz soou insegura.


Apesar de não ser uma competição, sabia que muitos CEOs se
casavam ou eram acompanhados por mulheres vistosas, para não dizer
“gostosonas”.

E bem… ultimamente estava enxergando tantos defeitos em mim que,


por mais que soubesse que estava exagerando, era inevitável não ter aqueles

picos de baixa autoestima. Só os olhares do homem à minha frente que


elevava um pouco o meu ego.
— Droga, Isis — resmungou —, você será a mais linda de todas.

— Mentiroso… — acusei.
Removeu o cinto e ficou na minha frente.

Só então me dei conta de que o avião já havia pousado. 


— Está a procura de elogios, ángélos?

Se curvou, de modo que seu rosto ficasse bem próximo ao meu.


— Não precisava se menosprezar, era só me pedir, agápi. Eu tenho
vários elogios guardados para você, desde o clichê “linda”, “atraente”,

“sexy”… — sussurrou na minha orelha, sua respiração quente fazendo com


que eu estremecesse, o desejo pulsando em meu íntimo. — Cheirosa

também…
Seu nariz roçou na curva do meu pescoço e o grego inspirou fundo,
me deixando mole. Arfei.
— Mas nenhum deles faz jus a você, Isis, não no meu ponto de vista.
Uma Deusa que me manteve acordado várias noites e madrugadas pensando
no que eu poderia fazer com ela — ronronou.

Acariciou os meus lábios com o polegar e eu desejei que a boca dele


substituísse seu dedo.

— Não duvide do poder que você exerce sobre mim, théa mou[21]. Os
outros homens podem não concordar comigo, mas estou pouco me fodendo

para a opinião deles — sussurrou.


Ficou de pé e voltou para a sua poltrona, sentando-se

displicentemente nela. Fiquei paralisada, encarando o sorriso malicioso

dele. A única coisa que estava ciente era que o meu peito subia e descia,

acelerado.
O olhar dele não me ajudava em nada em acalmar o meu sangue, que

corria veloz nas veias.

— Não vai se arrumar? — Sua sobrancelha se ergueu, ironicamente.


— Si-sim… — gaguejei, mas não me movi do lugar, nem mesmo

retirei o cinto.

Ele tamborilou os dedos.

— Não vai? — questionou novamente.


— Claro.
Respirando fundo, soltei o cinto e me ergui, ainda que as minhas

pernas estivessem fracas, bambeza que em nada se comparava com a


instabilidade das minhas emoções perante Aquiles. 

Deus! Não tinha a mínima ideia de como sobreviveria esses dias sem

me entregar a esse homem.


Capítulo vinte e um

 
Respirei fundo e, sentindo o cheiro da maresia impregnando as

minhas narinas, acabei sorrindo quando algumas aves passaram voando em


bando. Imaginava que no Brasil iria fazer calor, mas não que o clima fosse

tão quente ao ponto de rapidamente ficar suada mesmo depois de tomar

banho. Porém, eu me apaixonei pelo lugar assim que acordei e meus olhos
pousaram nas ondas de águas cristalinas, que quebravam em uma praia de

areia fina e branca, com pequenas árvores de folhas enormes, tanto que não

sei quanto tempo eu estava ali, sentada, na varanda de trás do bangalô


luxuoso e privativo, que tinha aquela vista de roubar o fôlego e que
compartilharia com Aquiles pelos próximos dias, dias que seriam longos,

longos demais.
Poderia parecer bizarro, mas minha cabeça estava tão cheia de coisas

com o casamento de mentira, com a gravidez e com o trabalho, que eu

acabei me esquecendo de que nessa viagem teríamos que compartilhar a


mesma cama, afinal, aos olhos de todos, eu e Aquiles éramos noivos.

Sendo honesta, imaginei que nem mesmo iria conseguir dormir ao

lado dele, ainda mais quando as palavras do meu chefe sobre o “poder” que
eu tinha sobre ele ainda martelavam na minha mente, deixando-me

excitada, em alerta.

Quando nos deitamos e ele me envolveu em uma conchinha, minha


bunda colada a sua pelve, eu pensei que seria uma noite em claro,

principalmente pela tensão que havia se formado no meu baixo-ventre pelo


desejo insatisfeito, mas, diferente do que pensei, o calor dele era tão

reconfortante, que eu rapidamente peguei no sono e dormi feito uma pedra.

Nem vi o momento em que Aquiles deixou o bangalô, só sei que me senti

sozinha ao acordar na cama vazia, o que era um absurdo.

Suspirei, balançando a cabeça em negativa. Esse comportamento era

de uma adolescente, não de uma mulher madura.


Tentei colocar a minha mente em branco, querendo apenas apreciar

aquele pequeno pedaço de paraíso, que tão cedo eu poderia desfrutar, mas
minha mente não me dava trégua, melhor: Aquiles e aquilo que ele poderia
fazer comigo não me deixavam em paz.

O grego realmente me desejava ao ponto de passar noites insones?

O pensamento daquele homem forte e poderoso acariciando seu pênis

em busca de satisfação, usando-me como incentivo para chegar ao orgasmo,

fez com que o prazer se espalhasse nas minhas veias como se fosse uma

droga potente. Antes mesmo que eu pudesse me controlar, fiquei excitada,


ao ponto de pensar em esfregar as pernas uma na outra, querendo sentir

algum alívio, clímax que, ainda que estivesse sozinha no quarto, eu não me

daria, seria muito desrespeitoso com Aquiles.

— Droga!

Fiquei mais alguns minutos ali, até que outro tipo de necessidade me

invadiu.

Ergui-me rapidamente e caminhei para o banheiro. Não pensei em


nada, nem mesmo na possibilidade de Aquiles ter voltado.

Estava tão presa na urgência de não urinar na calcinha, o que seria

constrangedor, que fui capaz de até mesmo ignorar os barulhos ao meu

redor, principalmente o do chuveiro.

— Isis? — A voz do meu chefe me alcançou assim que embolei a saia

do vestido para sentar no vaso.


Dando um pulinho no lugar, assustada e com o coração

descompassado, girei o rosto e segui a direção do som, encontrando o grego


dentro do box. Ainda que estivesse apertada, isso não me impediu de

admirar os ombros largos nus, o peitoral bem-definido, o abdômen


trincado… Sabia que deveria ter parado por aí, mas, desavergonhada,
esquecendo-me de tudo, deixei que o meu olhar baixasse até pousar no pau

do meu chefe, que, embora estivesse flácido, claramente era avantajado.


Tive tempo até mesmo de perceber que os pelos em volta dele estavam bem

aparados.
Engoli em seco e o desejo, que sentia minutos atrás, voltou a me

controlar, só que mais intenso, muito mais. Meus pelos ficaram todos
arrepiados, e eu fiquei nervosa, muito nervosa. Respirar ficou difícil.
Imagens dos meus dedos acariciando o pênis dele, estimulando-o,

deixando-o duro na minha mão, alimentou ainda mais aquela ânsia


desesperada.

— Isis? — Chamou a minha atenção com o seu tom rouco.


Encarei o rosto dele e encontrei uma máscara ilegível.

Umedeci meus lábios com a ponta da língua, sentindo-os subitamente


secos, principalmente quando voltei a encarar o meio das pernas dele.
Estava hipnotizada, como se nunca tivesse visto um pau na vida, o que

estava longe de ser verdade, já que estava grávida.


— E-eu… Pre-ci-sava u-sar o ba-nheiro — gaguejei, forçando-me a

dizer algo. — A gra-vi-dez…


— Fique à vontade — seu tom era ainda mais rouco, e o vi apontar na

minha direção.
Sabendo que estava fazendo papel de tola, segurando as minhas saias,

prestes a mijar na calcinha, baixei a peça que estava úmida, por uma outra
razão, e sentei-me no sanitário. O alívio de sentir o líquido saindo de dentro
da minha bexiga conflitava com o constrangimento em usar o banheiro ao

mesmo tempo que ele, e Aquiles me pegar olhando para o seu pau,
percebendo com certeza a ânsia que ardia dentro de mim.

— Eu…  — continuei, gaguejando, mas não consegui dizer mais


nada.
Enquanto pegava o papel higiênico para me enxugar, voltei a olhar

para o grego, encontrando-o na mesma posição, a água escorrendo atrás


dele. Emiti um som baixinho, Aquiles poderia ter virado de costas, teria

sido menos constrangedor para nós, mas a vergonha não me impediu de


acompanhar uma gotinha que deslizava lentamente pela pele dele e que

descia em direção a sua pelve. Outra vez fitei o pênis dele, que lentamente
começava a ganhar vida sobre o meu escrutínio, e meus batimentos
cardíacos ficaram frenéticos.
Senti meu sexo pulsar, querendo ser preenchido por Aquiles, e eu
fiquei mais ofegante, vermelha e quente. Minha boca e garganta estavam
cada vez mais secas, e eu passei a duelar comigo mesma, tentando

enumerar as razões pela qual não deveríamos transar, mas todos os


argumentos, que antes pareciam sensatos, tornaram-se fracos diante das

sensações que aquele homem ateava em mim.


Não sei quanto tempo fiquei acompanhando o estado “crescente” do
pau dele. Estava fascinada pelo poder que eu exercia sobre o corpo do

grego. Tentei me recordar se alguma vez eu cheguei a despertar essa reação


tão forte em outro homem, mas nada me veio à mente.

Saber que eu excitava Aquiles só por olhá-lo, era indescritível e, ao


mesmo tempo, a minha ruína.
Capítulo vinte e dois

 
Manter-me parado enquanto Isis me olhava daquela maneira,

cobiçando o meu pau, era um verdadeiro inferno, mas temia que, a qualquer
movimento, aquele feitiço se quebrasse e ela saísse correndo de mim, me

deixando ali, duro.

Uma vozinha malévola sussurrou na minha mente que eu me


movendo ou não, para a minha frustração, minha “noiva” iria, de qualquer

forma, deixar aquele banheiro. Mesmo que ela estivesse no cômodo ao

lado, eu acabaria levando a minha mão ao meu pênis e me masturbaria


pensando no desejo cru que havia em sua expressão, na luxúria que ela não
conseguia disfarçar, e também naquele pequeno morder de lábios, que

achava sexy pra caralho. Eu não pararia para refletir se a minha atitude
seria questionável ou não.

Porra! Isis estava me deixando louco!

Poderia ir atrás dela, seduzi-la, mas eu queria que ela viesse até mim,
que fosse Isis a dar o primeiro passo, que ela destruísse os próprios pudores,

que se esquecesse que ela era minha funcionária, que se esquecesse da

farsa, e se entregasse, mas quando a mulher se levantou, erguendo a


calcinha e baixando a saia, caminhando em direção a pia, eu dei-me por

vencido e virei de costas para ela, sentindo-me tenso e desapontado, com a

sensação de que, por mais que nós dois quiséssemos a mesma coisa, nunca
iríamos passar dos beijos e toques inocentes que compartilhávamos na

farsa, carícias que nunca seriam suficientes para aplacar meu desespero.
Dei um sorriso amargo e, cerrando o meu punho, dei um soco

frustrado na parede azulejada, que fez minha mão latejar.

Merda!  O maior problema disso tudo não era ela fingir que não havia

nada entre nós, de ela me rejeitar, mas, sim, o fato de que não tinha a

mínima ideia de como continuaria a lidar com a minha obsessão por Isis,

pelo seu corpo, pelo seu gosto...


Voltei a praguejar e apoiei minha testa no azulejo frio, contendo a

vontade de bater a cabeça na parede pela minha idiotice enquanto a água


morna do chuveiro escorria pelo meu corpo.
Estremeci ao sentir as pontas dos dedos dela tocando os músculos

tensos das minhas costas, e eu fechei os olhos, achando que estava

sonhando acordado, mas quando senti os lábios quentes dela roçando a

parte de trás do meu ombro, soube que não era uma fantasia criada pela

minha mente desesperada por ela.

Senti minha ereção pulsar em resposta a carícia suave.


Porra! Era real. Muito real!

Eu poderia gargalhar, tamanha a euforia que me invadiu.

— Christós[22] — blasfemei quando seus dentes rasparam suavemente

na minha pele, fazendo com que eu ficasse mais tenso, mais ereto.

Não contive um gemido no momento que ela deixou uma mordida


fodidamente deliciosa, que fez com que eu perdesse completamente o meu

norte. Movido pelo desejo acumulado pelos vários meses agonizando por

tê-la, me virei em sua direção, apenas para segurá-la suavemente pelos

quadris e encostar suas costas na parede, prensando-a com o meu corpo

excitado e molhado.

Enquanto nos encarávamos, sedentos um pelo outro, acariciei a lateral

do seu corpo por cima do vestido úmido, que era como uma segunda pele
nela e que me excitava tanto quanto se ela estivesse nua. Talvez fosse a
perspectiva de despi-la que intensificava o meu desejo, deixando-me ainda

mais duro.
Só os Deuses sabiam o quanto me imaginei nesse momento, no

quanto minhas mãos estavam sedentas por remover cada peça, o quanto a
minha pele queria sentir a dela sem nenhuma barreira.
— Tem certeza de que quer isso, ángélos? — perguntei, durante um

lapso de consciência, ao aproximar meu rosto da curva do pescoço dela,


sentindo-a estremecer contra mim e logo apoiando a mão sobre o meu

ombro.
— Tem certeza que me quer, Aquiles? — retrucou, ofegante.

Minha gargalhada soou rouca.


— Sabe que, sim, safada — sussurrei, lambendo uma gotinha de água
que deslizava pela sua pele, tentando esfregar minha pelve na dela, fazendo

com que ela gemesse baixinho e se contorcesse contra mim. — Não há nada
que eu deseje mais do que você, Isis.

Tracei com a ponta da língua toda a extensão da lateral da sua


garganta, deixando uma mordidinha no final. As unhas dela eram pequenas

garras sobre mim, mas a excitação era tão forte, que tudo o que eu senti foi
prazer.
Percorri o caminho de volta, deixando vários beijinhos, até alcançar

os lábios entreabertos. Por alguns segundos, me perdi naquele mar azul de


desejo que eram os olhos dela.

— Não me quer só por que está…


— Sem sexo há muito tempo? — atropelei-a.

Toquei o seu queixo ao ver que ela queria fugir do meu escrutínio,
impedindo-a de olhar para algo que não fosse meus olhos.

Fez que sim sutilmente, parecendo insegura.


— Você é a razão do meu celibato, ángélos — deixei um selinho nos
lábios dela —, porque se não for com você, eu não quero com mais

ninguém. Você é quem eu desejo há meses, a mulher que eu quero ter


debaixo e em cima de mim, que eu quero fazer gemer, que eu quero ouvir

sussurrar o meu nome quando chegar ao ápice...


— Aquiles… — meu nome dito naquele tom repleto de desejo, em
meio ao arranhar lento em minhas costas, fez com que eu estremecesse.

Quando ela disse outra vez o meu nome, senti meu pau ficar melado
com o pré-gozo, que escorreu pela ponta e deslizou por toda a extensão.

Porra! Aquela mulher realmente tinha bastante controle sobre mim. O


engraçado de tudo era que eu estava pouco me ferrando para isso, eu

poderia me submeter ao que ela quisesse. Bem, quase tudo… nunca estaria
disposto a dividi-la nem ser divido com ninguém.
— Você, Isis, nenhuma outra… — continuei, tentando focar nas

inseguranças dela, não na minha possessividade em relação a ela.


Segurei o seu rosto com as duas mãos, acariciando a sua pele macia,
contendo a minha vontade de tomar os lábios entreabertos em um beijo
profundo.

— Nunca trairia o desejo que sinto por você, agápi, prefiro me esvair
nos meus dedos, pensando que estou com você, como venho fazendo há

tempos, do que nos enganar.


Ela pareceu não acreditar.
— Você… — Arfou, os olhos arregalando um pouco.

— Incontáveis vezes... — Rocei minha boca na dela, capturando o


seu suspiro. — Te horroriza saber que eu me masturbei, não uma, mas um

monte de vezes, gozando e gritando o seu nome, pensando em te ter de


várias maneiras?

Não me respondeu de imediato, apenas acariciou as minhas costas


com uma mão, enquanto a outra embrenhava nos meus cabelos curtos.
— Não, Aquiles, pelo contrário, eu gostei — abriu um sorriso safado

que me enlouqueceu e que ficaria na minha memória por muito tempo —


gostei tanto que me sinto mais do que tentada a pedir para te ver se

acariciando, agora…
Fechei os olhos, visualizando a cena e blasfemei:
— Theós!
— Mas já esperamos tempo demais… — murmurou, os olhos azuis
cintilando.
Concordei. Dando um comando para fechar o registro, a prensei ainda

mais contra a parede com o meu corpo, querendo me colar mais a ela, o que
era impossível, já que a pequena curva da sua barriguinha e a roupa dela

nos impedia.
Enquanto deslizava minhas mãos por seus braços, subindo e
descendo, em uma carícia suave, baixei a minha cabeça em direção ao rosto

dela que, inclinado, oferecia seus lábios em um convite que não hesitei em

aceitar.
Nossas bocas começaram a se mover lentamente, acompanhando a

fricção do meu peitoral com os seios dela, o ritmo da respiração tornando-se

mais acelerado quando intensifiquei o atrito. Tanto os mamilos dela quanto

os bicos do meu peito ficaram excitados com o roçar dos nossos corpos,
nunca imaginei que eu sentiria tantas ondas de prazer irradiando daquele

ponto.

Meu pau latejava contra o corpo dela... Com certeza, pediria que ela
usasse a língua para me estimular ali, mas deixaria esses pensamentos para

mais tarde.

Nos beijávamos como se estivéssemos nos conhecendo pela primeira


vez, dando selinhos, gemendo baixinho enquanto nos tocávamos. Logo, o
contato tornou-se pura aflição quando eu mergulhei dentro dela, nossas

línguas se enroscando uma na outra, buscando o controle que nenhum de


nós dois parecia querer conceder, não naquele momento.

Sem deixar de nos fitarmos, como se quiséssemos capturar o prazer

um do outro, nos consumimos em meio ao beijo, aos toques e aos gemidos.


Uma gargalhada eufórica pareceu brotar no meu peito ao pensar no quanto

eu gostava do fato dessa mulher devorar os meus lábios, se entregando sem

comedimento, mas acabou se transformando em um som baixinho de

deleite quando ela tornou o contato moroso ao respirar fundo, deslizando


suavemente a língua pela minha em um bailar completamente erótico e

gostoso.

Não me importei em ceder o domínio a Isis, desde que ela continuasse


me beijando, me tocando, e também me olhando daquela maneira de puro

desejo, como se contasse os minutos para ser minha. Theós! Eu a

reivindicava como minha mulher a cada mover da minha boca, a cada


gemido que eu emitia, a cada toque suave nas suas curvas, a cada roçar de

pelve contra pelve, que me deixava mais sedento por sentir os músculos

dela me agarrando a cada estocada.

Me controlaria. Havia várias coisas que eu queria conhecer no corpo


dela primeiro, desejava que a nossa primeira vez fosse marcante para ela da

mesma forma que já estava sendo para mim.


Segurando-me pela nuca, inclinou a minha cabeça um pouco para o

lado e deslizou a ponta da língua pelos meus dentes, trilhando um caminho,

mas logo voltou a intensificar o beijo e nós arfamos, desejosos. 


Murmurei um palavrão em grego quando, ofegante, Isis deixou a

minha boca e enterrou o seu rosto no meu pescoço, respirando fundo

enquanto as pontas dos dedos agarravam meu bíceps, se firmando em mim.

Com os olhos brilhando, se sentindo poderosa, ela me lambeu da


mesma maneira que eu tinha feito com ela, traçando círculos lentos,

fazendo com que eu ficasse bambo.

— Gamó — repeti o palavrão várias vezes ao sentir os seus dentes


rasparem a minha pele.

Joguei a cabeça um pouco para trás, fechando os olhos, perdido em

meio a carícia suave, gemendo alto quando mordiscou a minha jugular.

Deixei que ela me dominasse, me dando mordidas que se alternavam com


sucções, chupadas que certamente deixariam suas marcas, que nem mesmo

o colarinho alto da camisa conseguiria disfarçar. Esfreguei o meu pênis

nela, que poderia explodir de encontro ao seu abdômen, e isso me tirou da


realidade.

Consciente de que estava prestes a perder o controle, de não

conseguir ser o homem atencioso, aquele que oferecia prazer em vez de

deixar-se levar primeiro, aproveitei que a cabeça dela não estava rente a
parede e, com uma mão, enterrei meus dedos nos seus cabelos e trouxe o

rosto dela em direção ao meu, capturando novamente os seus lábios em um


beijo.

Choramingando, a língua dela pediu pelo controle do beijo, porém

não concedi. Queria beijá-la morosamente, deixando-me embriagar pelo seu


gosto, que era o melhor que eu havia provado e que me faria viciar.

Caralho! Quando eu começava, não queria parar... Queria beijá-la

mais e mais, encontrando um prazer indescritível em ter nossos lábios

colados, nossas línguas deslizando, a saliva se misturando. Suspirei diante


da submissão dela, que passou a apenas acompanhar meus movimentos.

Ainda agarrando seus cabelos, massageando o couro cabeludo de

forma que sabia que ela gostava, com a minha mão livre, que passeava
freneticamente pelas suas curvas sem dar atenção a algum ponto específico,

alcancei a barra do seu vestido. Dando um pequeno passo para trás, não

querendo ficar completamente longe, embolei o tecido e comecei a subi-lo.

Sentir minha mão roçando na pele macia e molhada da coxa dela


provocava vários choques em mim, tanto que meus dedos ficaram

completamente trêmulos. Ri baixinho com a minha façanha de ficar

tremendo só por despi-la, e eu ainda nem havia alcançado o elástico da


calcinha.
— Por que está rindo? — murmurou contra os meus lábios, franzindo

levemente o cenho.

— Isso — Ergui minha mão para mostrar a ela como estava trêmulo.

Encarou meus dedos.


— Hm — deu-me um sorriso enorme, que não escondia a sua

satisfação por me deixar bambo —, acho que terei que te ajudar então.

Sem esperar uma resposta, dando um empurrãozinho em mim, fez


com que eu desse um passo para trás. Não era o que eu havia planejado,

mas, ainda assim, fiquei ali assistindo, com o coração saltando pela boca,

Isis removendo o vestido lentamente, me oferecendo um showzinho lascivo

particular.
Sentia a minha boca secar a cada pedaço de pele que ela desnudava.

Quando ela revelou a calcinha vermelha, mesmo que fosse uma comum, eu

pensei que iria passar vergonha na frente dela, gozando antes da hora.
Olhei para o seu rosto, percebendo que minha noiva estava bem

ciente da reação do meu pau a ela, tanto que mordeu os lábios para me

provocar. Logo minha atenção voltou para as suas mãos, que subiam e

acariciavam a si mesma, fazendo-me inveja, ao mesmo tempo que me


deixava ainda mais excitado.

Quando sua barriguinha ficou à mostra, eu perdi minha capacidade de

acompanhar os seus gestos, encantado pelo pequeno volume. Estava prestes


a dar um passo à frente para tocar aquela região, quando ela atirou o vestido

no meu rosto, tirando-me do transe.


— Preciso tirar a calcinha também? — perguntou, maliciosa, e fitei

sua expressão inocente.

Fiz que não, queria ter o prazer de tirar uma peça dela.

Deixei que meu olhar a percorresse desde o topo da cabeça, passando


pela sobrancelha arqueada, pela curva suave do pescoço, até alcançar os

seios, que mesmo pequenos, porra, eram lindos. As pintinhas em sua pele

pediam pelos meus beijos, os bicos túrgidos pareciam clamar pelos meus
lábios, e eu logo os teria, morreria se eu não os sentisse em minha boca, se

eu não a fizesse se contorcer enquanto os chupava.

— Nóstimo[23] — murmurei, sem apartar a vista dela por um só

instante.

Percorri os olhos pela curva suave da sua cintura, pelos quadris


deliciosos, e, baixando um pouco mais, cheguei até a calcinha, para logo

voltar a fitar os seios, que subiam e desciam acelerado com a respiração

curta. Estava obcecado por eles, tanto quanto estava pelo abdômen dela.

— Polý nóstimo[24].

— Falei que preciso de silicone — resmungou e eu dei um passo à


frente, um pouco irritado com aquele comentário.
Com gentileza, levei a minha mão a curva deliciosa do seio e acariciei
o mamilo, a gema do meu dedo roçando o bico.

— Eles são maravilhosos, ángélos. — Deixei um selinho nos seus

lábios. — Se você quiser mesmo, pode até colocar silicone para aumentá-
los, mas seria uma pena, pois são lindos do jeito que são.

— Mesmo?

— Sim… E eu estou louco para venerá-los da maneira que merecem.


— Falei, antes de buscar os seus lábios em um beijo gentil, que sabia que

não aplacaria a nossa fome.

Encontrando a língua dela outra vez, continuei a acariciar o mamilo,

deixando-o mais teso ao meu toque, fazendo com que Isis emitisse um som
baixinho de deleite. Com o dorso da mão livre, eu brincava com a lateral do

outro seio dela, sentindo que aquela era uma região erógena. Tive a certeza

disso quando ela tomou meu lábio inferior entre os dentes e o puxou até que
estalasse enquanto sua mão alcançava a minha lombar e tentava me puxar

mais para si.


Gemendo em meio ao beijo, arqueou a sua pelve na minha e esfregou
sua vagina coberta pela calcinha na minha ereção. Grunhi ao ter a pele nua

e suave contra a minha, sentindo todo o meu corpo estremecer com os


movimentos dela que estimulavam o meu pau.
Porra! Tê-la de encontro a mim superava todas as minhas
expectativas. Isis era tão macia, tão deliciosa e responsiva as minhas
caricias. Os sons baixos que saiam dela a cada roçar dos nossos corpos, me

deixava mais pulsando.


Perdendo o meu controle, movido pelo desejo, a beijei furiosamente,
espalmando as minhas mãos nos seus mamilos. Preenchendo os meus dedos

com a carne macia, apertei-os suavemente, e um gritinho rouco escapou da


sua garganta, que eu traguei com a minha boca.
Diminuí a intensidade, só para ouvi-la choramingar contra os meus

lábios, fazendo o meu sangue ferver.


— Deus! — Blasfemou quando belisquei o seu mamilo.
Quando pincei o outro lado, fechou os olhos e apoiou a cabeça na

parede, arfando.
Isis nunca esteve tão linda, e isso foi o meu combustível para querer
devorá-la.

Deixando um selinho nos lábios entreabertos e ofegantes, comecei a


trilhar um caminho de beijinhos pelo seu queixo e garganta, roçando a

minha barba nela, e ela se contorceu em resposta. Mesmo de olhos


fechados, ela foi tateando até encontrar meus cabelos, tentando puxar os
fios. Passei a lamber e a sugar o pescoço dela, o que a fez estremecer. Fui

descendo até alcançar a região da sua clavícula, e enquanto brincava com


aquela região, minhas duas mãos começaram a acariciar a barriga dela de
modo gentil, mas sabia que tinha um quê de possessão no meu toque.
— Aquiles — murmurou o meu nome, em súplica, fazendo com que

eu deixasse o meu sentimento de posse de lado.


— Olhe para mim, Isis — ordenei em um tom rouco —, quero que

você olhe para mim enquanto chupo você.


As pálpebras que estavam cerradas se abriram rapidamente. Sem
deixar de encará-la, deslizei lentamente a minha língua pelo vale dos seus

seios. O gemido dela ecoou por todo o box, e tornou-se mais alto quando eu
fiz o caminho inverso. Não contive o meu grunhido quando ela estufou os
peitos na minha direção e, segurando um dos mamilos, tracei pequenos

círculos pela aréola, sentindo-o ficar mais duro sob meu tato. Enquanto ela
mantinha seu olhar pousado sobre mim, capturei o bico do seio entre meus
lábios e comecei a sorver lentamente, aumentando a pressão quando ela

suspirou.
— Isso! — sussurrou quando levei a mão ao outro peito e passei a
friccioná-lo. — Caralho, Aquiles!

O palavrão, misturado ao modo como me fitava, fez com que eu


sentisse meu pau latejar, o líquido voltando a lubrificar a minha glande, o

pré-gozo escorrendo. Eu estava muito próximo de gozar só por chupá-la,


mas eu tentaria ao máximo fazê-la chegar ao clímax primeiro.
Seus dedos cravaram com força na minha pele quando diminuí a
intensidade da minha sucção. Ela pareceu irritada com a diminuição, mas

logo a indignação tornou-se um gemido quando tomei o pequeno botão


entre os dentes, puxando-o suavemente, para depois deixar um beijinho. Dei
atenção para o outro mamilo, que parecia clamar pelas minhas carícias, mas

não o suguei de imediato, deixando pequenas mordidinhas, que


provavelmente deixariam marcas, mas Isis pareceu não se importar, pois

puxou a minha cabeça em direção ao seu seio, como a deusa que era,
apoiando a mão no meu ombro, como se estivesse mole. Eu me banqueteei
nela, beijando, mordendo, enquanto minhas mãos passaram a percorrer o

seu corpo inteiro, mapeando, estimulando, traçando a sua cintura, passando


pela barriga até alcançar o monte no meio das suas pernas, ainda coberto
pela calcinha.

Enquanto eu traçava a curva de um mamilo com a minha língua, não


resisti e passei um dedo para dentro da peça, encontrando os pelos
aparados, e rocei meu indicador na fenda. Ao lamber novamente o mamilo

até alcançar o bico, penetrei Isis, encontrando-a tão úmida que meu dedo
deslizou com facilidade para o seu interior. Arquei-me para frente, não
conseguindo conter um gemido ao perceber que minha mulher estava tão

excitada.
Movimentei meu dedo dentro dela, fazendo com que ela se

contorcesse contra a minha mão, murmurando palavras incompreensíveis,


ao passo que colava suas costas na parede, espichando ainda mais quando
rocei o seu clitóris.

— Aquiles… — pediu em um arfar, mas eu tinha outros desejos.


Quando soltei o mamilo e removi o dedo de dentro dela, senti seus
olhos azuis em cima de mim como ferrões. Com ela me olhando, levei o

meu dedo encharcado pelo líquido dela à boca, provando-o lentamente,


imitando os movimentos que eu faria com a língua no seu ponto de prazer.

Um grunhido escapou pelos meus lábios e eu soube que falhei em esperá-la


ao sentir que esvaía em meio ao orgasmo só por ter o gosto de Isis
impregnado na minha boca.

Porra! Fechei os olhos, sentindo o meu corpo todo vibrar, as batidas


do meu coração ecoando nos meus ouvidos. Essa experiência foi marcante,
mais do que imaginei ser possível.

— Olhe para mim, Aquiles — foi a vez dela de pedir em um tom


rouco.
Fiz o que pediu, e a vi deslizar uma mão pelo seu corpo, deixando-me

tenso. Olhei para o seu rosto, e o sorriso malicioso que me deu me fodeu.
Voltei a acompanhar seus movimentos e a observei abaixar a calcinha
até a metade das coxas cremosas, as pontas dos dedos dela chamando a
minha atenção para a sua vagina.
Minha boca encheu d’água, desejosa por sentir o gosto de Isis direto
do seu sexo, mas arfando, esperei o que ela iria fazer. Grunhi, pensando que

eu estava nos céus ao vê-la começar a se acariciar, usando o indicador para


se penetrar enquanto com a outra mão, massageava o mamilo.
Eu não sabia para onde olhar. Ao mesmo tempo que queria vê-la se

acariciando, tocando o seu seio, o estimulando da mesma maneira que eu


tinha feito, eu queria registrar a sua expressão enquanto se masturbava,
dando-se o prazer que eu tinha negado.

— Gostosa — murmurei em grego, quando ela mordeu os lábios,


contendo um gemido, provavelmente ao encontrar o seu clitóris.
Meu pau começou a ganhar vida outra vez, e eu ansiei ter uma visão

completa da gema do dedo dela traçando círculos pela sua carne inchada,
principalmente quando assisti sua vagina mover-se contra o seu dedo.

Sem pensar duas vezes, quando Isis ronronou e procurou por mais
apoio na parede, parecendo ficar bamba com o desejo, me coloquei de
joelhos na frente dela. Com os dedos trêmulos, a ajudei a remover por

completo a calcinha, jogando a peça para o lado.


Inspirei fundo, o cheiro dela impregnando as minhas narinas.
Caralho! O meu sangue correu veloz pelas minhas veias, e me senti

ainda mais primitivo, possessivo. Ela seria minha.


Segurando uma de suas pernas, coloquei-a sobre o meu ombro,
deixando-a aberta para mim. A segurei pela cintura com minha outra mão,

firmando. Emitindo um grunhido, não resisti em roçar a minha barba na


face interna da sua coxa, sabendo que isso a estimularia ainda mais. Sorri
quando um som rouco e gutural a deixou.

Continuei a passar meus pelos nela e, para me provocar, como se


soubesse o que eu desejava, baixou a mão que massageava o mamilo e
abriu os grandes lábios, dando-me uma visão privilegiada, e continuou a se

acariciar lentamente.
Ver o dedo dela trabalhando em si mesma e escutar os suspiros
prazerosos que ela emitia ao estimular o ponto certo, ao mesmo tempo que

era uma verdadeira tortura, me deixava tão ereto e excitado que eu peguei-
me gemendo junto a ela, como se Isis estivesse me tocando, não a si
própria. Parei de acariciá-la, para apenas assistir, sendo voyeur da minha

mulher. Eu era o homem mais sortudo do mundo e não tinha dúvidas disso.
Meu pau duro latejava. Eu estava pronto para sentir aquele calor

úmido envolvendo meu pênis, pronto para sentir Isis pela primeira vez. Em
breve, disse para mim mesmo.
Ela se estimulava sem pudor, passando a adotar um ritmo acelerado,

esfregando, tocando-se de cima a baixo, deslizando o dedo na sua própria


excitação, a respiração dela ficava mais ruidosa ao passo que a perna que
estava no meu ombro parecia fraquejar. Segurei com mais força seus
quadris, dando a ela a segurança para que continuasse a se acariciar, e

minha outra mão acariciou a polpa da bunda deliciosa, fazendo com que ela
rebolasse suavemente contra a minha palma.

Deixei um tapinha na sua nádega, e o som rouco e sensual que ecoou


pelo box reverberou em todo o meu corpo, se espalhando em mim como se
fossem ondas, arrepiando todos os meus pelos da minha nuca e braço. Eu

estava tão sensível, que eu sabia que teria que usar toda a minha força de
vontade para que eu não cedesse ao próprio desejo outra vez.
Enquanto eu distribuía carícias e tapinhas na sua bunda, que faziam

Isis se esfregar contra mim, ela brincava com o seu ponto de prazer,
alternando o ritmo dos seus toques, aumentando e diminuindo, construindo
lentamente o próprio orgasmo.

Inseriu mais um dedo, arqueando instintivamente contra a sua mão, e


unindo o dedo médio e o indicador, iniciou um outro movimento que
deixava não só a sua respiração mais curta e ofegante, mas que fazia com

que ela se espichasse ainda mais contra a parede.


Intensificou as carícias que fazia sobre o seu clítoris, como se

estivesse tomada pela urgência, e isso alimentou ainda mais a minha fome
por aquela mulher, desejo que parecia se tornar mais forte ao imaginar sua
expressão enlevada, extasiada.
Dei mais um tapinha e enterrei meus dedos na banda da sua bunda,

controlando a minha ânsia de remover os dedos dela e fazê-la gozar na


minha língua. Meu ato pareceu incentivá-la, pois, com um suspiro longo,
minha noiva aplicou mais pressão sobre sua carne.

— Perfeita! — Minha voz soou rouca. Quando a senti ficar mais tensa
sob o meu toque,  ordenei: — Goze para mim, Isis.

Em busca do prazer, sua resposta foi um som baixinho. Ela voltou a


alternar seus movimentos, ora esfregando, ora traçando círculos lentos, ora
pinçando, até que, com um roçar mais urgente, ela removeu os dedos que

usava para se abrir para mim, e cravou suas unhas com força no meu
ombro, como se tivesse medo de cair.
Mantive minhas mãos firmes sobre ela, segurando-a, não contendo

meus próprios gemidos e minha ânsia. Ela se acariciou um pouco mais até
que, colando-se ainda mais na parede, seus dedos pararam de se mover e o
corpo todo dela começou a estremecer com o orgasmo.

— Maravilhosa, agápi — murmurei quando ela emitiu um som


baixinho, que me fez sorrir, dominado pela euforia.
Meu único arrependimento era não ter podido ver a sua expressão,

nem mesmo o brilho nos olhos azuis quando alcançou o ápice. Prometi a
mim mesmo que, na próxima vez, eu estaria não só olhando para o seu
rosto, mas também fazendo-a estremecer ao ser preenchida pelo meu pau.
— Gostosa…
Acariciei as nádegas dela e deixei um beijinho no interior das suas
coxas. Minha barba a arranhava suavemente, e isso fez com que Isis

ondulasse contra o meu rosto, como se o ato prolongasse o seu prazer.


— A minha mulher é sexy para caralho... — continuei em grego.
Deixei uma trilha de beijos pela sua pele até alcançar os pelos úmidos

da sua vagina. Inspirei fundo, sentindo o cheiro delicioso do prazer dela.


Como se não estivesse aflito por mergulhar no corpo dela, deixei beijinhos
e mordidinhas na outra coxa, fazendo com que ela suspirasse. Seus dedos,

que antes pareciam garras, passaram a afagar meu ombro, o prazer


lentamente a deixando.

Com uma tapinha na bunda dela e um beijo no seu monte,


demonstrando minha possessividade, afirmando que ela era minha, removi
a perna que estava apoiada no meu ombro e pousei-a no chão. Parecendo

mais firme, comecei a me erguer, deixando um rastro de beijos, até alcançar


o ventre um pouco abaulado. Com um sentimento que nada tinha a ver com
o desejo, levei as minhas duas mãos à lateral da barriga e segurei-a ali. Foi a

vez do meu corpo estremecer com as sensações que me invadiram e, meio


atordoado, inclinei o meu rosto um pouco para fitar Isis, que acariciava
meus ombros. Apesar da sua pele estar um pouco avermelhada e ela ainda

ofegar, os olhos dela estavam suaves, como se apreciasse o meu toque.


Voltei a olhar para o seu abdômen e rocei meus dedos ternamente
naquele local, sentindo uma ligação com a sementinha que havia dentro

dela. Plantei um beijo na região do umbigo e estremeci diante da conexão


que, sem explicação, eu parecia sentir com a criança que Isis carregava.
Fiquei alguns instantes ali e, com mais um beijo, me levantei. Nesse

instante, nossos olhares se encontraram, os lábios se curvando em um


sorriso.
Passei a mão pelas suas costas e trouxe-a em direção ao meu corpo,

beijando suavemente a boca cálida e sempre ávida por mim, sugando seus
lábios. Com um gemido baixinho, enlaçou o meu pescoço com os dois
braços, e eu encontrei a língua dela em um beijo moroso que Isis

intensificou ao sentir a minha ereção roçando no seu ventre.


Nossos lábios deslizavam um pelo outro com fome e desejo, nossas

línguas buscavam a redenção um do outro. Com um suspiro, Isis se prensou


contra mim, achatando os seus mamilos contra o meu peitoral. Nossos
corpos molhados deslizavam um contra o outro, o atrito dos bicos dos seios

dela no meu peitoral estimulando-me mais uma vez, o que me deixou


maluco, e eu verbalizei isso, enterrando o meu rosto na curva do seu
pescoço:

— Você me enlouquece, ángélos.


Mordisquei a sua garganta enquanto meus dedos agarravam a bunda

dela com pressão, trazendo-a de encontro a minha pelve.


— Droga, mulher, eu preciso de você — disse em um sussurro,
tomando o lóbulo de sua orelha entre os meus dentes, puxando-o, enquanto

esfregava meu pau nela, grunhindo com a fricção.


— Me leve para cama, Aquiles — pediu.
Sem esperar resposta, colou nossos lábios outra vez em um beijo

urgente, ao passo que as suas mãos percorriam toda a extensão das minhas
costas, parecendo tão ávida quanto a sua boca.
— Está longe demais, agápi — ronronei, estremecendo ao sentir as

pequenas mordidas que ela deixava no meu ombro.


— Hm…
Lambeu meus lábios e deu-me um sorriso provocante.

— Então o que você está esperando para me fazer gozar outra vez?
Suas palavras atearam fogo nas minhas veias e voltei a pressioná-la

contra o azulejo, fazendo-a gemer. Ficamos nos encarando por alguns


segundos e, em um convite silencioso, Isis passou uma perna pelo meu
torso, se abrindo para mim. Não hesitei em ajudá-la, segurando-a para que

ela se mantivesse naquela posição que me daria mais acesso ao seu canal.
Por mais que eu quisesse explorá-la, minha mão livre agarrou o quadril dela
para controlar os nossos movimentos.
Encaixando meu pênis na entrada dela, penetrei-a num tranco, e o

nosso gemido em uníssono reverberou por todo o box quando finalmente


sentimos carne contra carne. O encaixe dos nossos corpos era tão perfeito

que parecíamos peças de um quebra-cabeça criadas exclusivamente um para


o outro.
Por um momento, eu apenas deixei que o prazer de estar dentro dela

percorresse cada uma das minhas células, mas quando Isis movimentou sua
pelve contra a minha, com um grunhido de prazer, sem me tirar
completamente, impulsionei meus quadris para frente e a invadi lentamente,

sentindo cada um dos músculos dela envolverem o meu pau. Gemi alto.
Quando tirei alguns centímetros e voltei a penetrá-la, fiz Isis
choramingar e suas unhas rasparam a minha pele. A carícia era selvagem,

mas foi um afrodisíaco no meu corpo, e outra vez me, deixando a minha
cabeça dentro dela, apenas para repetir os meus movimentos, sentindo a
tensão se acumulando nela a cada fricção.

Foi instintivo para mim segurar a sua coxa com mais força ao voltar a
me mexer, contendo-me para não acelerar demais, não queria que
terminasse rápido, não quando esperei tanto tempo para tê-la. Desejava

construir lentamente o prazer dela, ainda que a cada penetrar lento, eu me


sentia fodido.
Porra! Eu não podia ser egoísta com ela. Não outra vez, mas aquela
mulher me fazia perder completamente o controle sobre mim, tanto que
senti uma gotinha de suor escorrer pela minha coluna com o esforço que

fazia para me conter.


Com os olhos brilhando, provavelmente um espelho dos meus,

segurou meu rosto com as duas mãos e puxou minha cabeça de encontro a
sua, me beijando suavemente.

Suspirei contra a boca dela, fascinado pelo seu beijo, e acariciei sua
coxa, como se quisesse presenteá-la, e ela fez um barulhinho de deleite que
me fez estremecer.
Nossos lábios se moviam em sincronia, moldando-se perfeitamente,
produzindo pequenos estalos, que acompanhavam o entrar e sair do meu
pau no canal dela, cada vez mais úmido.

Quando aumentei um pouco o ritmo das minhas investidas e Isis


começou a acompanhar os meus movimentos, jogando os seus quadris para
frente, sua língua invadiu a minha boca, fazendo cócegas na parte inferior,
antes de encontrar a minha.
Nossas línguas deslizavam uma contra a outra, provocando-se,

provando-se, tornando-se mais urgente com nossas pélvis se chocando,


buscando o prazer que só o corpo um do outro poderia proporcionar. Sem
deixar de nos encarar, inflamados pela expressão um do outro, eu e Isis
ofegávamos, desesperados por alcançar o ápice.
Ela se agarrou em mim, tombando a cabeça para trás, batendo-a

contra o azulejo, quando ergueu um pouco mais a perna e eu a penetrei mais


fundo, apenas para retirar-me e tornar a invadi-la.
Suado, cada vez mais bambo e mais rígido, bombeando-me para
dentro dela, forcei-me a pensar em algo que não fosse aquela mulher, que
me recebia com tamanha volúpia em seu interior e que também gemia,
parecendo não apenas mole, mas também perdida na busca do próprio

êxtase, para não gozar logo.


Eu iria falhar. Estava alucinando em cada estocada, em cada estalar
dos nossos corpos, a cada vez que as costas dela batiam suavemente contra
o azulejo com o impacto.
— Théos! — Blasfemei alto, trincando os meus dentes com força,
tentando me conter.

Forcei-me a manter os meus olhos abertos, para olhar a expressão de


Isis, o lábio inferior preso entre seus dentes, como se ela quisesse conter os
próprios gemidos que se tornavam histéricos.
— Você me deixa louco — repeti, impulsionando o seu quadril para
frente para me receber ainda mais fundo, quando começou a contrair os
músculos do seu canal, apertando o meu pênis toda vez que entrava e saía
de dentro dela. — Théos, mulher, eu não consigo segurar mais…
— Goze para mim, Aquiles — pediu contra a minha orelha,
ondulando o seu corpo contra o meu para me receber, apertando meu pau
com destreza —, perca o controle...

Com um rugido, sem precisar de mais incentivo, me perdi no seu


corpo na busca insaciável pelo orgasmo. Tomando os seus lábios
furiosamente nos meus, enlaçando a minha língua na dela em um beijo
feroz, eu exigia daquela mulher a sua entrega.
Isis era minha. Só minha. E eu marcava o seu corpo a cada estocar, a
cada gemido que eu emitia por ela.

Segurando suas pernas com mais força, ajudei-a a impulsionar os


quadris contra os meus, acompanhando meus movimentos mais acelerados,
sentindo que ela ficava mais mole ao passo que seu canal ficava mais
retraído, oferecendo resistência para as minhas investidas.
Eu não tinha mais nenhum controle sobre mim. As mãos dela
pareciam torpes sobre o meu corpo.  Eu grunhia com o beijo, ofegava,

assistindo o desejo escurecer seus olhos, entrando e saindo, enlouquecendo-


nos, até que a safada me prendeu dentro de si, com movimentos de
pompoarismo, levando-me ao limite.
Não tinha mais forças para me conter. Meu corpo todo estava tenso,
meus músculos doloridos. O beijo me deixava sem fôlego.

— Aquiles! — murmurou baixinho o meu nome quando, com uma


última estocada, esvaí-me dentro dela.
Me senti primitivo por tê-la me chamando, sentimento que se tornou
mais feroz quando, enquanto o meu líquido a preenchia, falando meu nome
outra vez, os olhos de Isis se arregalaram e o corpo dela tremeu em

resposta, obrigando-me a segurá-la e prensá-la contra a parede ainda mais,


para que ela não caísse.
Porra! A nossa primeira vez não poderia ter sido mais perfeita.
Capítulo vinte e três

 
Me apoiando nos ombros de Aquiles, baixando a perna que ele

segurava, fechei os olhos enquanto o torpor proporcionado pelo êxtase


ainda se espalhava pelo meu corpo. Respirava fundo, tentando acalmar o

meu coração que parecia prestes a explodir, e senti uma gota de suor

escorrer por toda a minha coluna. Meus sentidos ainda estavam embotados,
mas estava bem consciente dos beijos dele na minha pele, sua barba me

arranhando suavemente, da sua mão forte segurando os meus quadris, e do

seu pênis que ficava flácido dentro de mim, mas que logo ele removeu.
Não sei quanto tempo permaneci naquele torpor, até que Aquiles

colou nossos lábios em um beijo exigente, ao qual apenas retribuí, deixando


que ele comandasse e fizesse o que quisesse da minha boca.

Meu corpo ganhou vida contra o dele novamente quando sua língua

rodopiou contra a minha, e eu senti o desejo voltando a convergir no meu


centro.

Não ofereceria nenhuma resistência se ele quisesse fazer sexo comigo

outra vez. Meus hormônios estavam em polvorosa. E esse homem era


gostoso. Muito gostoso. Um amante maravilhoso, bem atencioso.

— Mulher insaciável — falou contra a minha orelha em um tom

rouco e ofegante, enterrando os seus dedos em minhas nádegas.


Gemi, rebolando contra suas palmas, como se o convidasse a me

puxar em direção a sua pelve.


— Porra de mulher gostosa!

Não respondi, apenas emiti um suspiro baixinho quando Aquiles

mordiscou o meu pescoço, sentindo o meu corpo todo vibrar com a carícia,

com o roçar dos pelos dele na minha pele.

— Foi a melhor experiência da minha vida, sem nenhuma dúvida —

disse pausadamente enquanto subia com os lábios até pairar sobre a minha
boca.
— Fala isso só para me adular, Aquiles… — provoquei-o, mas por
dentro me sentindo poderosa por ele dar tanta importância assim ao que

tivemos, ainda que fosse mentira.

Sorri quando ele emitiu um bufar, contrariado.

— Não mentiria sobre isso, ángélos… — Roçou os lábios nos meus,

ateando pequenas fagulhas de desejo que, com um pouco mais, poderia se

transformar em um incêndio. — Foi muito além do que eu poderia


imaginar, e eu imaginei, Isis, várias vezes.

— Hm — meu sorriso ficou ainda maior —, continue, estou adorando

ouvir você falar.

— Não estou brincando, Isis. — Sua voz era séria. — Você foi

fantástica a cada segundo. Theós, mulher, não me recordo se um dia cheguei

a me sentir assim, se eu cheguei a ficar tão bambo.

Ergueu sua mão e segurou o meu rosto em concha com os seus dedos
trêmulos, e eu acabei suspirando com a reação dele a mim, suspiro que se

tornou um gemido quando a boca dele voltou a encontrar a minha em um

beijo carinhoso, o que fez com que lágrimas se formassem em meus olhos.

Meu coração bateu descompassado e várias emoções me varreram de

cima a baixo. Por breves segundos, imaginei como seria se as coisas entre

nós fossem diferentes, que houvesse algum sentimento além do carnal, mas
logo tratei de colocar esse pensamento para o fundo da minha mente e
apenas deixei-me levar pelo beijo, pelo roçar suave das pontas dos dedos de

Aquiles sobre os meus braços.


— Você faz isso comigo, Isis — completou, ao findar o beijo.

Me encarou fixamente enquanto continuava a acariciar meu braço.


Minha vontade era de cair no choro, porém, não queria estragar o nosso
momento.

Aquiles não tinha me forçado a nada, eu fiz sexo com ele porque quis.
Não houve promessas, apenas um prazer indescritível para ambas as partes,

então não fazia sentido eu me comportar como uma tola, ainda mais quando
já tive minha quota de transas casuais. E não seria diferente com o meu

chefe, seríamos um caso um para o outro e nada além disso. Ignorei o peso
do aro de prata no meu dedo anelar, aquele anel nada significava, além da
mentira que vivíamos.

— Está tudo bem? — questionou.


Franzindo um pouco o cenho, as mãos que tocavam o meu braço

desceram até alcançar o meu abdômen. Tocou o meu ventre abaulado,


escorregando as pontas dos dedos para cima e para baixo. Outra vez, não

soube o que sentir em relação àquela carícia, muito menos quando ele
pareceu estremecer e olhou para mim, os olhos verdes parecendo
insondáveis.
— Eu te machuquei, agápi? — perguntou, parecendo inseguro,

continuando a me acariciar. — Ou o bebê?


— Claro que não, Aquiles. — Tentei melhorar a minha expressão ao

dar um sorriso e também adotar um tom brincalhão: — Ele ou ela está bem
protegido pelo colo do meu útero. E dizem que fazer sexo é algo bem

saudável.
— Mesmo…?
Não respondi de imediato, apenas enlacei o pescoço dele com os dois

braços, fazendo com que os meus seios ficassem achatados contra o seu
peitoral, prendendo as duas mãos do grego entre os nossos corpos. O

gemido que Aquiles não conseguiu conter foi música para os meus ouvidos.
Dei um sorriso provocante, me sentindo poderosa pela excitação que
fazia com que ele sentisse.

— Tanto que estou disponível para mais uma rodada — adotei um


tom ingênuo, plantando um beijinho na sua clavícula.

— Gamó! — sussurrou algo que não sabia o significado, mas não me


importei, não quando eu parecia deixá-lo maluco ao subir com a minha

língua pela linha do seu pescoço, até alcançar o queixo.


— Mas vamos tomar um banho primeiro para nos limpar — falei
contra a boca dele, dando um selinho, antes de soltá-lo.
Passei por Aquiles e o bufar dele arrancou de mim uma risada, mas
antes que eu pudesse dar mais um passo, senti os braços dele me
envolverem por trás, como se fossem duas barras de ferro, colando o seu

peitoral nas minhas costas. O pau semiereto roçando nas minhas nádegas
fez com que eu me espichasse contra ele, o desejo no meio das minhas

pernas voltando a me atormentar.


Os pelos dos meus braços e nuca se arrepiaram automaticamente
quando o grego aproximou seu rosto da minha orelha. Me contorci em seus

braços quando ele soprou suavemente o meu ouvido, esfregando a minha


bunda no pênis de Aquiles, inflamando-o ainda mais.

— Só banho, Isis — murmurou, e eu não processei o que ele disse de


imediato.

Dando um beijinho no lóbulo da minha orelha, deixou um tapinha no


meu monte, que me excitou tanto que senti minhas pernas bambearem.
Rebolei contra ele.

— Banho — repetiu, e com uma gargalhada rouca e vingativa, me


soltou.

Chiei, fazendo o grego rir mais ainda quando passou por mim.
Pegando um frasco de xampu e um sabonete, dando um comando de voz,
enfiou-se debaixo do chuveiro.
Eu apenas encarei as nádegas brancas dele, incrédula e igualmente
desesperada.
— Você não vem, agápi? — Girou o tronco, passando o sabonete na

parte interna do braço.


Piscou maliciosamente para mim e eu revirei os olhos. Com um ou

dois passos, alcancei-o. Ele deixou o sabonete cair e me puxou contra seu
corpo, e eu, como uma tola, não o impedi de me dar um selinho, depois
outro, como se fôssemos um casal bobo de namorados.

— Vire-se — ordenou e eu arqueei minha sobrancelha para ele. —

Quero lavar os seus cabelos, Isis.


Continuei a encará-lo, mas, sem forças, obedeci. Primeiro, porque não

conseguia me privar dos carinhos que ele estava disposto a me dar,

segundo, não podia negar que daquela vez que Aquiles tinha secado os

meus cabelos, tinha sido bastante relaxante, mesmo que tivesse me deixado
tensa na mesma proporção. Por mais que eu não devesse, gostava da

sensação conflitante, então, não seria eu quem retrucaria o grego.

Um ofegar baixinho escapou dos meus lábios no momento em que


ele, dando um grunhido de prazer, despejou um pouco de xampu no topo da

minha cabeça e gentilmente começou a esfregar meu couro cabeludo,

formando uma camada de espuma, lavando mexa por mexa.


— Bom? — perguntou, divertido, quando suspirei outra vez.
Pensei em não responder, apenas para provocá-lo.

— Isis? — demandou, para depois me ameaçar: — Vou parar…


— Sabe que sim. — Embora duvidasse muito que Aquiles fosse

parar, respondi num tom  baixo e pastoso, bem como urgente.

Gargalhou e continuou a lavar meus cabelos. Sem pedir permissão,


assim que terminou de enxaguar os fios, Aquiles começou a deslizar o

sabonete pela minha pele lentamente, aproveitando para me acariciar.

Peguei-me estremecendo, emitindo vários sons que se tornaram mais

confusos quando o grego me tocou em zonas erógenas que nem mesmo eu


conhecia. Aquiles avivava o meu desejo ao explorar-me, deixando vários

beijos sobre a minha pele.

Minha vagina se contraía, querendo ser preenchida pelo pau rígido


que pulsava contra a minha bunda; meus pensamentos estavam virando um

torvelinho.

— Me leve pra cama, Aquiles — pedi em meio um arfar, apegando-


me ao último fio de racionalidade. — Eu preciso ter você…

Sem deixar de me acariciar, me secou rapidamente e, pegando-me no

colo como se eu não pesasse nada, levou-me para cama, pousando-me

suavemente contra o colchão.


Sem nenhum pudor, abri minhas pernas em um convite que eu sabia

que o meu amante não iria recusar. Apoiando os cotovelos contra o colchão,
baixou seu corpo contra o meu e me penetrou com um tranco firme,

arrancando um gritinho de mim quando entrou todo.

Removendo-se alguns centímetros, capturou os meus lábios em um


beijo urgente, sua língua rendendo a minha, antes de voltar a me penetrar,

dando-me aquilo que eu desejava quando me fez gozar pela terceira vez.
Capítulo vinte e quatro

 
— Não precisamos ir, sabia, ángelós? — Aquiles murmurou ao me

abraçar por trás, trazendo-me de encontro ao seu peitoral.


Não respondi.

Ele roçou a ereção contra a minha bunda e eu tentei ignorar o desejo

que se acumulou no meu baixo-ventre, querendo me concentrar na


maquiagem.

— Só terá um bando de velhos chatos e umas mulheres faladeiras —

ronronou contra a minha orelha, e meus dedos ficaram instáveis tanto


quanto as minhas pernas.
Senti-me sortuda por ele estar me segurando, pois eu poderia muito

bem cair.
—  E esse quarto está bastante interessante…

Colocando o rímel de lado, encarei os olhos verdes cheios de malícia

de Aquiles através do espelho.


Instantaneamente, fui tomada pelas lembranças de como ele havia me

prensado contra esse mesmo gabinete, me obrigando a manter os meus

olhos fixos na superfície espelhada enquanto ele entrava e saía de dentro do


meu canal até que nós dois chegássemos ao ápice. Tinha sido uma

experiência completamente erótica, e só de pensar na expressão do meu

homem ao chegar ao orgasmo, senti minha vagina pulsar, querendo sentir o


pau dele me preenchendo outra vez.

— O quarto, é? — provoquei-o, minha voz soando rouca. — Bom


saber.

Fez uma careta de desagrado, murmurando um palavrão em grego.

— Você pode ficar aqui se quiser.

Abri um sorriso igualmente malicioso e me esfreguei nele, e senti o

seu pau latejar. Segurou-me pelos quadris.

— Caralho, agápi — ofegou quando eu me inclinei sobre o gabinete,


arrebitando a minha bunda, como se tivesse me colocando de quatro para

ele.
— Nós viajamos até aqui para fechar negócios — fui pragmática,
começando a passar o batom nos meus lábios —, e já estamos há tempo

demais nesse quarto.

Rosnou e suas duas mãos seguraram as minhas nádegas com força, e

acabei borrando o meu batom.

— Olha o que você fez, Aquiles! — Dei um grito digno da mãe dele e

pousei a maquiagem sobre a bancada.


O safado riu ao me virar em direção a ele para me reivindicar em um

beijo possessivo, e não me deixou escolha a não ser retribuir. Deslizei a

minha língua pelos lábios quentes e macios, provocando-o, antes de saquear

a boca dele, faminta. O gemido baixo e rouco que emitiu quando toquei o

céu da boca dele foi combustível para a minha excitação. Suas mãos me

afagavam com posse, amassando o meu vestido, deixando um rastro de

calor por onde passavam.


— Temos que ir — murmurei, ofegante, quando resistir a ele tornava-

se cada vez mais difícil.

— Eles podem esperar.

Deslizou sua boca pela minha bochecha, ao passo que seus dedos

erguiam o meu vestido pelas minhas coxas.

Gemi quando esfregou seu pênis na minha calcinha.


— Sabe que não conseguiremos sair desse quarto se começarmos…

— Tentei me apegar ao meu fiozinho de racionalidade.


— Eu tenho toda a intenção de que isso ocorra, agápi mou.

Passou a língua pela minha orelha, provocando-me vários arrepios de


prazer.
— Mas eu tenho toda a pretensão de fecharmos um bom negócio

hoje, Aquiles — insisti, me detestando pela minha decisão.


Mesmo que eu fosse ficar toda assada, eu poderia passar minha vida

inteira na cama dele.


Parou de me beijar e ergueu o rosto franzido para me encarar.

— Mesmo?
Fiz que sim.
— Mulher gananciosa…

A comissura dos lábios dele se ergueram, lhe dando um ar ardiloso.


Arqueei a sobrancelha.

— Sorte sua que isso em você me excita. — Levou a mão ao próprio


pau. —  Muito!

— Sei. — Provoquei-o, dando de ombros.


— Théos, mulher!
Deu um tapinha de leve na minha bunda e eu rebolei.
— Vá se arrumar, Aquiles, não quero que ninguém mais veja você

pelado! — Me virei novamente em direção ao espelho, contendo um


suspiro ao ver que teria que fazer minha maquiagem do zero.

— Estava pensando em ir assim — brincou.


— Só por cima do meu cadáver — bufei ao pegar o algodão e o

demaquilante.
Riu da minha cara e eu revirei os olhos.
— Agora vá, temos uma aparência para manter — ordenei, e Aquiles

fez uma careta desgostosa.


Tentei não nutrir esperanças de que ele se incomodava com o uso das

minhas palavras, mas, parecia impossível. Tola!


Passei o produto na minha boca, removendo o borrado.
— Tudo bem, ángelós — concordou, não sem antes deixar uma série

de beijos pelo meu pescoço, fazendo com que eu choramingasse querendo


mais —, mas se prepare que mais tarde eu tenho planos para nós e, dessa

vez, eu não irei parar.


Mordeu o meu ombro.

— E quem disse que vou querer que você pare? — Minha voz soou
rouca.
— Caralho de mulher gostosa — rosnou.
Me desviei dele quando tentou raspar os dentes na minha pele
novamente. Foi a vez de Aquiles emitir um som irritado.
Ficamos nos encarando através do espelho até que ordenei outra vez

que ele fosse se arrumar, argumentando que estávamos atrasados. Ele saiu
pisando duro.

Aproveitei o momento para refazer a minha maquiagem rapidamente.


Assim que terminei, fiquei encarando o meu reflexo por minutos a fio.
Havia algo de diferente na minha aparência, meus olhos estavam mais

brilhantes, minha pele, mais viçosa.


— O que o sexo não faz? — Menti para mim mesma, e lutei para não

acabar cedendo à melancolia e às falsas esperanças de que poderíamos ter


um futuro juntos.

Sorri falsamente quando ouvi passos se aproximando, afastando


qualquer pensamento triste.
— Pronta, ángelós?

Virei-me para Aquiles, elegantemente vestido em seu terno cáqui, que


me encarava. Desceu o olhar lentamente, apreciando cada pedaço do meu

corpo, ainda que ele já tivesse me visto instantes atrás.


Por que o grego sempre me fazia sentir poderosa, a mulher mais
desejada, com um mero olhar? Por que ele…
— Sim. — Interrompi meus pensamentos, aproximando-me dele. —
Você está combinando comigo. Que brega!
Deu de ombros e deixou um beijo na ponta do meu nariz. Meu sorriso

ficou ainda mais abobado.


— Vamos?

Fiz que sim e deixamos o bangalô.


Enquanto caminhávamos, senti a mão dele apoiada em minha lombar,
pressão que se tornou mais intensa quando alcançamos o local onde alguns

convidados interagiam.

Senti que ficava vermelha com os olhares curiosos sobre nós, mas
obriguei-me a erguer o meu queixo, como se eu e o grego não tivéssemos

passado vinte e quatro horas trancados no nosso quarto.

Fitei Aquiles com o canto do olho e vi que, diferentemente de mim,

ele parecia extremamente tranquilo em seu papel de noivo apaixonado e


possessivo.

Cumprimentamos várias pessoas, e reconheci algumas delas como os

principais alvos do “meu noivo”.


Perguntas discretas a respeito do nosso casamento eram feitas, e tentei

responder com o máximo de normalidade possível. Não podia negar que o

fato de termos nos envolvido sexualmente parecia tornar tudo um pouco


mais fácil, ainda que as mentiras fossem pesadas.
Também tive que fazer uma nota mental com os nomes de algumas

pessoas que ainda não foram convidadas para a nossa cerimônia de


casamento e que seria uma gafe não os chamar, principalmente se eles

viriam a fazer negócios com o “meu marido”.

— Pensei que não veríamos vocês, Mavridis — o anfitrião da festa,


conhecido de um dos parceiros de Aquiles, falou em um inglês cheio de

sotaque, e me lançou um olhar malicioso.

A mulher ao seu lado deu uma cotovelada nele.

O grego me trouxe mais de encontro a seu corpo, e mesmo que eu não


fitasse o rosto dele, pude sentir a sua tensão.

— E perder a oportunidade de fechar grandes negócios? — O tom do

“meu noivo” foi seco.


— Não que faça muita diferença para você… — Deu de ombros,

falando dos milhões que Aquiles tinha, o que não era diferente da situação

dele.
— Não. — Continuou naquele tom desprovido de humor.

— Mas agora que temos um bebê a caminho, sempre é bom

pensarmos em aumentar o nosso patrimônio — menti, olhando para

Aquiles.
— Sem dúvidas, terão muitas fraldas para comprar. — A mulher foi

gentil e eu sorri para ela.


— Quero nem ver — Aquiles brincou, pousando a mão no meu

abdômen —, mas não poderia estar mais feliz por termos um bebê.

O meu olhar e o do meu amante se encontraram e eu engoli o meu


desconforto e a dor com essa mentira, que saía tão facilmente pelos lábios

dele. Quando ele começou a acariciar minha barriga com ternura, fitando-a,

o desalento tornou-se ainda maior dentro de mim.

— Nós não poderíamos estar mais nas nuvens — complementei o que


o grego disse, tentando disfarçar o meu pesar com um sorriso, odiando-me

pelas minhas palavras falsas. — Essa criança só concretiza ainda mais a

nossa união.
— Sim! — Aquiles murmurou e eu escutei um suspiro apaixonado,

provavelmente vindo da mulher.

— Mas vamos ao que interessa, Mavridis. — O anfitrião nos tirou do

transe, e o grego emitiu um bufar de desagrado, tirando a mão da minha


barriga. — Douglas me contou que você está expandindo a atuação da sua

seguradora para a América Latina com a compra de outra empresa. Quero

que você conheça uma pessoa que tem interesse em contratar os seus
serviços.

— E eu quero saber todos os detalhes do casamento e da gestação —

a mulher falou educadamente.


Contive a vontade de emitir um som de desagrado e um muxoxo.

Parecia que só havia esses dois assuntos para se falar comigo. A minha
decisão de ajudar Aquiles a fechar um bom negócio estava indo para o ralo,

pelo jeito.

Olhei para o meu “futuro marido” e vi que ele continha uma carranca,
com certeza queria que eu estivesse próxima para passar a mão em mim

displicentemente, mesmo que todos pudessem ver.

Antes que eu conseguisse dizer qualquer coisa, negando a oferta e

dizendo que preferia conversar a respeito de transações comerciais, a


anfitriã enlaçou o meu braço e saiu me puxando em direção a um grupo de

mulheres, me afastando do “meu noivo”. Demorou apenas alguns segundos

para que elas me bombardeassem com perguntas, ao ponto de me deixarem


desnorteada.

Respondi todas as questões com um sorriso falso estampado no rosto,

e desejei ter escutado Aquiles e ter permanecido com ele no quarto até o

final da viagem, ainda que pudesse ser considerado falta de educação nossa.
Sem dúvida, ser beijada e devorada pelo grego teria sido muito mais

prazeroso do que ficar repetindo como nós dois nos conhecemos e as

minhas expectativas para ser a mulher do milionário.


Capítulo vinte e cinco

 
— Obrigada por nos convidar, filha — minha mãe falou

animadamente, em um tom bem mais alto do que seria considerado educado


pelo ambiente que estávamos.

Contive um bufar, o que faria Kaius ralhar comigo por estar

atrapalhando aquele momento, e emergi em pensamentos.


Agatha não havia sido nada sutil em pressionar Isis, indagando, no

almoço de domingo da semana passada, quando seria a próxima consulta

dela, perguntando sobre o ultrassom e o quanto era especial ver o bebê e


escutar seu coraçãozinho. Mesmo que minha noiva estivesse
desconfortável, ela acabou convidando meus pais para nos acompanhar.

Tentei acalmá-la, dizendo que estava tudo bem, mas na cabeça da minha
noiva era como se meus pais fossem descobrir que eu não era o pai, questão

que para mim era irrelevante.

Desde a festa corporativa, que foi uma tremenda perda de tempo em


termos financeiros, mas que eu deveria estar agradecendo o anfitrião babaca

por ter proporcionado, de uma maneira indireta, uma oportunidade de eu e

Isis ficarmos juntos, nós dois praticamente vivíamos como um casal.


Fazia duas semanas que, depois da correria do dia a dia, o que incluía

lidar com a minha mãe e sua obsessão pelos mínimos detalhes da cerimônia

de casamento, que ou eu dormia na casa de Isis, ou a fazia se contorcer na


minha cama enquanto eu satisfazia minha pequena monstrinha, que parecia

insaciável, mas que era tudo o que eu poderia querer em uma parceira.
Exaustos e ofegantes, ficávamos abraçados, nossas pernas entrelaçadas,

conversando, trocando beijos e carícias, até que nós dois acabássemos

caindo no sono.

Embora nenhum de nós falasse no futuro, ele estava mais do que claro

para mim.

Apesar de não ser averso ao casamento, não imaginava que me


sentiria tão satisfeito ao saber que, em menos de três meses, eu subiria ao

altar e me casaria com Isis. A ideia que tinha me gerado repulsa no início,
agora era capaz de fazer o meu coração bater acelerado e, se fosse honesto,
me pegava ansioso pela data e, por que não dizer, pela lua de mel, que seria

na minha villa em Mykonos.

Também havia aquele serzinho que crescia dentro da barriga de Isis

que me deixava confuso em relação aos meus sentimentos. Toda vez que

tocava na barriga de Isis, eu sentia meus dedos ficarem trêmulos e surgia

uma ânsia dentro de mim por algo que não tinha certeza se conseguiria
explicar, meus instintos de proteção pareciam vir à tona, bem como uma

possessividade irrefreável, como se aquela criança fosse minha, e estava

disposto a massacrar quem me contrariasse.

O fato de Isis ainda se considerar uma mãe solo, e ignorar a

responsabilidade afetiva que eu teria pela criança, me incomodava bastante,

tanto quanto o fato de saber que ela ainda tentava contato com o bosta do

genitor da criança, mas sem obter nenhuma resposta.


Porra! Era egoísmo e ridículo da minha parte, mas, por mim, esse cara

nunca mais chegaria próximo da Isis e do bebê. Os dois estavam melhor

sem ele, e tinham a mim…

— Parece distante, filho — minha mãe falou, interrompendo meus

pensamentos, e com o canto do olho, vi que Isis conversava com o meu pai.

Segurou o meu rosto e me encarou. Os olhos azuis pareciam


emotivos, como se estivesse prestes a chorar. Enquanto eu os encarava, em
silêncio, tive a impressão de que o brilho que havia neles era quase que um

reflexo do meu.
Meu coração disparou, bombeando tão forte que a qualquer momento

achei que ele sairia para fora do peito.


— Está pensando no seu bebê? — Acariciou a minha bochecha, a
comissura dos lábios dela se erguendo em um sorriso suave.

— Sim, mamãe — minha voz saiu rouca —, ainda mais que será a
primeira vez que vou vê-lo e escutar o seu coraçãozinho.

— Isso é vergonhoso, Aquiles! — meu pai falou em um tom baixo


que não escondia a severidade, e eu encarei o homem com expressão

sisuda. — É um absurdo você não ter ido em nenhuma consulta com a sua
futura esposa.
— Eu sei — concordei com Kaius pela milésima vez, assumindo a

minha culpa.
Isis já teve duas ou três consultas, mas, em todas elas, mesmo que eu

tenha dito à “minha noiva” que eu estaria sempre ao lado dela, não pude
comparecer, preso em uma reunião ou em algum compromisso.

Apenas perguntar depois como foi a visita ao obstetra e deixá-la


contar todos os detalhes, cada uma das emoções que sentiu durante o
ultrassom, estava ciente que era muito pouco que fazia por ela e pelo bebê.

Ainda que Isis nunca tivesse me culpado ou reclamado, dizendo que muitas
gestantes iam desacompanhadas, ficando grata só pelo fato de eu querer

saber sobre a saúde dela e da criança, o mínimo que podia fazer, eu deveria
ser mais companheiro dela, o amigo que tinha dito que era, o homem dela

no sentido mais estrito da palavra.


Me senti amargo ao pensar na minha covardia.

— Deveria priorizar a sua família, filho — continuou naquele mesmo


timbre de voz, ficando de frente para mim, quando a minha mãe foi se
sentar próximo a Isis para tagarelar. —Não há reunião, negócios ou dinheiro

que justifique você ter perdido esses momentos.


— Eu… — Não soube o que dizer perante a reprimenda.

— Sei que é adulto, capaz de fazer as próprias escolhas, Aquiles, só


não quero que se arrependa no futuro de não ter estado onde você era
necessário. — Sua expressão se suavizou ao deixar tapinhas nos meus

ombros.
As palavras dele eram como receber um soco na boca do estômago,

um golpe que eu merecia.


— Prometo que nunca mais irei perder uma consulta, papai — me

comprometi, mais comigo mesmo do que com Kaius.


— Conto com isso, filho.
Deu mais dois tapinhas em mim, antes de se sentar ao lado da minha

mãe para aguardar o médico chamar Isis.


Como eu era o único de pé, me obriguei a me acomodar ao lado de
Isis, e mesmo não olhando para ela, foi automático segurar a mão dela, que
estava sobre seu colo.

— Está tudo bem, Aquiles? — sussurrou a pergunta no meu ouvido.


Olhei para ela, percebendo que minha noiva me olhava de modo

estranho.
— Sim, por que não estaria?
Arqueou a sobrancelha para mim.

— Sua mão está suada.


Merda! Tinha me esquecido disso.

Tive vontade de afastar minha mão, como se isso escondesse meus


sentimentos, mas mantive meus dedos entrelaçados aos dela.

Abri e fechei a boca sem saber o que dizer.


— Estou um pouco nervoso — decidi confessar em um tom baixo,
torcendo para que ela não me escutasse.

Covarde!
— Mesmo?

Fiz que sim com a cabeça e um brilho rapidamente cruzou as feições


dela, antes que Isis voltasse a sua atenção para a minha mãe, que puxou
assunto com ela.
Não prestei atenção no teor da conversa, preso nas várias sensações
que me percorriam, como o suor que cobria as minhas palmas, o meu
coração acelerado, e a minha expectativa da médica chamar Isis e o

ultrassom finalmente começar, para que eu pudesse ver a imagem do bebê


de Isis, para que eu escutasse os ecos do coraçãozinho daquele pequeno ser

que mexia comigo.


Os minutos, para mim, se passavam lentamente e quando foi chamada
outra pessoa ao invés de Isis, eu emiti um som frustrado, passando a mão

livre na minha barba.

Bufei, depois de um tempo. Porra! Por que demora tanto?


— Calma, filho, daqui a pouco é a vez da Isis. — minha mãe falou,

melhor, quase gritou, suas pulseiras balançando ao movimentar a mão.

Olhei para Agatha, atônito por ela ter dito isso em voz alta.

— Está tão nervoso assim, Aquiles? — Isis perguntou suavemente.


— Você acharia estranho se eu dissesse que sim? — questionei

baixinho para que meus pais não ouvissem, fitando o rosto de Isis.

Várias emoções percorreram os olhos azuis, e os segundos pareceram


suspensos quando ela não me respondeu de imediato.

— Claro que não…

Apertou minha mão com mais força e me deu um sorriso que fez com
que eu voltasse a respirar, algo que nem sabia que tinha parado de fazer.
Não sei como lidaria se a resposta dela fosse negativa. Éramos amigos,

amantes, mas será que somente esses fatos justificavam minha ansiedade
por estar presente na consulta dela? Por ela sentir os meus dedos trêmulos?

Não sabia dizer e temia também a minha resposta.

— Senhorita Davis — a médica finalmente a chamou, não dando


nenhuma chance nem a mim nem a Isis de dizer mais alguma coisa. Escutei

a minha mãe batendo palminhas, entusiasmada.

— Vamos? — Sem esperar resposta, continuando a sorrir para mim,

Isis se ergueu, obrigando-me a fazer o mesmo.


Entramos no consultório que, embora não fosse tão pequeno,

aparentava ser minúsculo com a presença de nós quatro.

— Vejo que hoje veio a família toda — a médica falou, divertida,


após Isis nos apresentar. Em seguida, se sentou numa cadeira e minha mãe

na outra.

Não me passou despercebido certa curiosidade em seus olhos, mas ela


era discreta o suficiente para não comentar o fato de estarmos todos ali.

Coloquei-me atrás de Isis, massageando os seus ombros, como se

quisesse que ela relaxasse, sendo que era eu quem necessitava me acalmar.

Minha respiração ficava mais curta a cada instante, meus dedos ainda mais
trêmulos. Temia ter uma síncope.
Olhei para o meu pai e percebi que ele me fitava, curioso. Meu

desconforto pareceu ficar ainda maior.

— Podemos ficar, doutora? — Agatha perguntou em um tom


persuasivo. — Ou iremos atrapalhar?

— Claro que sim, senhora Papanastasiou-Mavridis — começou a

mexer no computador —, ainda mais que existe a chance de vermos o sexo

do bebê.
Minha mãe ficou eufórica, e meu pai riu.

— Você trouxe o resultado dos exames que eu pedi, senhorita?

— Claro.
Abriu a bolsa e puxou de lá um envelope, entregando para a médica,

que removeu os papéis de dentro. Me senti apreensivo, mas a cada

comentário positivo eu sentia o peso sobre meus ombros diminuir.

— Sua vitamina D está excelente, mas o seu nível de Ferro está bem
aquém do que o recomendado — comentou.

Meu coração deu um salto e antes que pudesse me conter, soltei:

— Isso é grave, doutora?


— Por enquanto, não, senhor Mavridis, mas, se não cuidarmos, o

bebê poderá nascer com um peso baixo ou com anemia. — Fez uma pausa.

— Irei receitar um suplemento de ferro, e iremos acompanhar

quinzenalmente para ver se precisaremos de alguma alternativa.


— Entendo…

A médica continuou a falar e outra vez tive a sensação de que os


minutos voltaram a passar lentamente.

Dei um suspiro de alívio quando finalmente a médica pediu que Isis

se erguesse e fosse até a maca. Enquanto ajudava minha noiva, ouvi um


fungar baixinho, seguido de soluços, e franzi o cenho ao constatar que era a

minha mãe. O ultrassom nem havia começado e ela já tinha começado a

chorar. O seu rímel estava todo borrado.

Pela primeira vez, senti certo peso por ter mentido que aquela criança
era minha, mas logo a sensação foi massacrada quando o sentimento de

possessividade me invadiu ao pensar novamente que, independentemente de

qualquer coisa, eu era o pai.


Ajudei Isis a se acomodar. Apesar do sorriso dela sempre me cativar,

meu olhar alternava entre minha noiva e a tela onde o ultrassom seria

mostrado.

Para a minha ânsia, demorou um pouco para a doutora preparar o


equipamento e passar o gel na barriga de Isis, que estremeceu um pouco

com a sensação gelada. Meus dedos voltaram a entrelaçar com os da minha

noiva, e ela os segurou com mais força ao senti-los escorregadios.


Quando a médica começou a deslizar o ultrassom, fiquei preso a tela,

sentindo um misto de emoções no momento em que uma silhueta apareceu


em meio a imagem em preto e branco e os ecos rápidos ecoaram no meu

ouvido.

Théos! Se antes meu coração batia rápido, eu sentia, agora, como se

estivesse correndo uma maratona, acompanhando aqueles tum-tum-tums


que saíam do aparelho.

Enquanto fitava o bebezinho de Isis, não percebia nada a minha volta

além dele e do calor da palma da minha mulher contra a minha. O choro da


minha mãe, os comentários da médica, o som de satisfação do meu pai não

passavam de zumbidos em meio àquele ressonar forte, tão forte ao ponto de

fazer um homem como eu ficar com as pernas bambas e querer se postar de

joelhos.
Quando minha mãe comentou sobre aquele momento, achava que era

apenas um exagero dela, afinal, ela aumentava as situações, mas estava

errado, completamente errado.


Ver e ouvir o meu bebê era tocante. Visceral.

O sentimento confuso que carregava dentro de mim pela criança

tornou-se mais forte e se espalhou por cada célula do meu corpo.

— Você ouviu, filho? — A voz embargada da minha mãe furou


aquele meu torpor.

Olhei para ela, que estava apoiada no meu pai, a maquiagem ainda

mais borrada, deixando a sua expressão engraçada. Kaius tinha um sorriso


enorme no rosto.

— O quê? — sussurrei.
— É um menino!— Fungou. — Você terá um lindo menininho e eu

um lindo netinho!

Engoli as várias emoções, que eram uma grande avalanche dentro de

mim, e olhei para Isis que sorria e chorava ao mesmo tempo, extasiada; essa
imagem dela ficaria gravada na minha alma. Achei que nunca a veria mais

linda do que quando estava em êxtase nos meus braços, mas, outra vez,

estava enganado. Isis nunca ficaria tão espetacular como estava agora. Bem,
talvez quando tivesse seu filho nos braços superasse esse momento.

Ainda mais emocionado, ergui a mão que estava entrelaçada à minha

e levei aos lábios.


— Não importa se é menino ou menina, eu… — Não consegui

terminar.

No entanto, eu não precisava de palavras, pelo menos achava que não,

já que eu e Isis parecíamos nos comunicar através do olhar.


— Obrigado, agápi — murmurei, expondo os meus sentimentos.

Ela abriu os lábios surpresa, como se fosse dizer algo, mas apenas

sorriu.
O ultrassom terminou rápido demais na minha visão, mas o meu

torpor permaneceu. Enquanto Isis se limpava e subia o zíper da calça, me


deixei ser abraçado por uma Agatha chorosa, que murmurava várias coisas
desconexas, e por um Kaius orgulhoso que me dava vários tapas nas costas.

— Podemos ir? — Escutei a voz de Isis. — Estamos atrapalhando a

doutora, ela precisa chamar outras pacientes.


— Claro! — Minha mãe enganchou o braço no dela antes que eu

pudesse pegar a mão a Isis, e eu bufei, contrariado.

Resignado, despedindo-me da médica, segui as duas para fora.


Agatha, que ainda não tinha cumprimentado minha noiva do jeito que

queria, parou Isis no hall e a abraçou com força, seus soluços convulsivos

chamando ainda mais a atenção dos presentes que, desde que chegamos, já

nos olhavam com curiosidade, provavelmente por nos reconhecerem por


sermos “famosos” e ricos e aparecermos sempre na mídia.

Balancei a cabeça. Minha mãe era assim e não havia como mudar

isso.
— Precisamos comemorar — Kaius praticamente gritou, o que me

surpreendeu.
Diferente de Agatha, meu pai sempre foi bastante controlado, para
contrapor o temperamento de mamãe, mas, em relação ao neto, ele mais

parecia um garoto empolgado, principalmente quando envolveu minha


noiva nos seus braços, tirando os pés de Isis um pouco do chão. Depois de
baixá-la, deixou um beijo em cada bochecha dela, algo que não costumava
fazer.
— Sim — minha mãe concordou.

Ela gargalhou e meu pai também caiu na risada. Finalmente Isis


estava livre, então pude envolver a cintura da minha mulher.
— E também começar a planejar o enxoval do bebê, o quartinho… —

fez uma pausa do seu tagarelar e perguntou: — Vocês já pensaram em um


nome?
— Ainda não, mas tenho certeza que decidiremos logo…— Isis

respondeu suavemente e eu vi os olhos dela brilharem.


— Philippos— interrompi-a num sussurro
Estava consciente de que não cabia a mim decidir o nome do bebê

dela, na verdade, nem tinha o direito de palpitar, mas não consegui me


controlar.
— Philippos? — Isis me fitou e eu pensei ter visto várias emoções

passarem nos olhos azuis.


Fiz que sim com a cabeça.

— É um nome lindo. — Seus lábios se ergueram em um sorriso, e sua


expressão pareceu tão sonhadora, que eu acabei sorrindo. — Philippos.
Gosto muito desse nome.
Encarando Isis, senti meu coração disparado. Lágrimas surgiram nos
meus olhos com a emoção intensa, mas não choraria, o que me
envergonharia na frente de todos, mas, porra, meu ángélos havia aceitado o

nome que eu tinha sugerido!


Minha mãe, batendo palminhas pela centésima vez no dia, chamando

mais atenção sobre nós, desfez o transe em que estávamos.


— É perfeito, filho! — Meu pai concordou, dando-me mais tapinhas.
— Philippos Mavridis!

— Davis — Isis completou.


Era uma provocação ao meu pai, que tinha esquecido do sobrenome
dela, já que, na Grécia, a primeira criança, sempre recebia o sobrenome do

avô paterno. Gargalhamos da careta de Kaius, que logo se transformou num


sorriso abobado.
— Vamos? — meu pai insistiu. — Conheço um café excelente

próximo daqui.
— Esqueceu, homem? — minha mãe deu um tapa no ombro dele,
balançando a cabeça em negativa. — Isis não pode com cafeína.

— Er… Confeitaria?
— Excelente! — Agatha soltou uma risadinha entusiasmada.

— Não há nada que eu gostaria mais de comer agora do que uma fatia
de bolo — minha noiva falou maliciosamente e levou a mão à barriga,
acarinhando o seu bebê. — Me deu um desejo súbito por doce...
Gargalhando, esperamos Isis passar na recepção para marcar a

próxima consulta e saímos da clínica, indo em direção ao estacionamento.


Combinando o local onde nos reencontraríamos, eu e Isis entramos no
meu carro e os meus pais, no de Kaius. Isis não disse nada quando ficamos

a sós. Com o canto do olho, a vi fitando sua barriga antes de levar as mãos
ao abdômen, imersa em si mesma.

Senti meus dedos trêmulos contra o volante e minha respiração


começar a ficar curta. Quis rir de mim mesmo ao constatar o crescer dos
meus sentimentos por aquela mulher e o seu bebê.
Capítulo vinte e seis

 
— Não sei como a sua mãe consegue lidar com isso — falei pela

milésima vez, ao sair do banho de banheira, que embora tenha sido bastante
gostoso, não me deixou completamente relaxada.

Amarrando o roupão na cintura, encontrei Aquiles sentado em uma

poltrona com um jornal na mão, que ele logo pousou na mesinha, sua
atenção voltando-se para o meu corpo, devorando-me e deixando-me

arrepiada e com as pernas bambas.

Sem cerimônia, com passos vacilantes, aproximei-me dele e sentei-


me escrachada no colo de Aquiles, envolvendo o pescoço dele com os dois
braços.

O grego segurou a minha cintura com uma mão, enquanto a outra se


infiltrava pelo roupão, e começava a afagar as minhas costas, provocando

vários arrepios na minha pele. Ainda que estivesse cansada demais para

fazer sexo hoje, era incrível a forma como ele conseguia começar a me
excitar só com o mero roçar das pontas dos dedos sobre mim, como o meu

desejo por Aquiles não diminuía mesmo depois de termos transado várias

vezes, até estarmos exaustos para continuar.  Eu gostava de sexo, e ele


nunca me recusou.

Ainda que o grego estivesse me deixando confusa em relação aos

meus sentimentos, algo que não deveria estar desenvolvendo por um


amante, as mentiras se tornando cada vez mais uma bola de neve, tentava

não pensar muito nisso e apenas aproveitar o que temos no momento,


dizendo a mim mesma que estava bem com isso.

— É tanta coisa! — Suspirei, tentando voltar ao assunto que comecei

quando saía do banheiro. — Isso que a maior responsabilidade é de Agatha,

por ser a cerimonialista e mãe do noivo. Fora que ela tem as outras noivas

também para cuidar… — Quando o dedo dele roçou na lateral do meu seio,

me concentrar naquilo que dizia se tornou bem difícil.


— Ela está acostumada a lidar com essas dores de cabeça, ángélos, e

gosta muito. — Deslizou a boca pelo meu queixo e eu não resisti mais, me
esfregando nele. — Sem as “noivas” dela, acho que minha mãe ficaria
insuportável.

— Hm.

Acariciei seu pescoço, sabendo o quão sensível era aquela região,

arrancando dele um ofegar.

— Eu não aguento mais ajustar meu vestido de noiva — murmurei,

depois de um tempo em que ficamos apenas imersos no carinho um do


outro.

— Não deve ser tão ruim…

Não respondi quando a mão que estava no meio seio deslizou para

baixo até alcançar o meu abdômen, e começou a acariciar o volume

grandinho de quase cinco meses.

Sempre que ele “tocava” o meu bebê, eu imaginava enxergar várias

emoções no semblante dele, que iam desde uma ternura excessiva, um


senso de proteção, e até mesmo amor pelo meu pequeno Philippos que me

dava a certeza que estava delirando.

Aquiles poderia ter um carinho pela criança, mas amar? Querê-lo

como um filho?

Eu sabia que era ir longe demais e fantasiar com algo que nunca

aconteceria. Então por que eu sentia uma pontada de dor no peito? Certa
decepção?
Não poderia exigir nada de Aquiles, não quando ele já me deu muito

com aquela mentira.


Meu bebezinho tinha avós maravilhosos que, ainda que o menininho

estivesse longe de nascer, já o amavam de todo o coração e o mimavam,


comprando não apenas roupinhas, mas também vários brinquedos, que
demoraria anos para que ele conseguisse brincar.

Antes que as lágrimas tomassem os meus olhos, o que geraria um


interrogatório sem fim por parte do meu amante, tentei voltar ao assunto

que eu havia começado:


— Não, não é — respondo, suspirando com a carícia de Aquiles —,

mas não sei quantas vezes vou ter que ir experimentar o vestido. Ele é o
sonho de qualquer mulher, mas sua mãe sempre acha algum defeitinho.
— Ela consegue ser muito perfeccionista quando quer, eu que o diga!

— disse, seus lábios se curvando para cima, como se o fato o divertisse.


Acabei rindo.

— Agatha é maravilhosa — defendi minha sogra, dando tapinhas no


ombro do grego —, mas ela está me fazendo pensar seriamente se vou

querer me casar outra vez.


A expressão dele se fechou em uma carranca instantaneamente.
Senti um friozinho na boca do estômago. Será que Aquiles detestava

a possibilidade de o nosso relacionamento acabar? Ele estava com ciúmes


de mim?

Uma esperança tola, que não fazia o menor sentido, ganhava força em
meu interior, mas tentei fazer de tudo para reprimi-la, dizendo a mim

mesma que era uma reação natural, principalmente o silêncio dele. Que
amante gostaria de ter a pessoa com quem você está transando falando de

outro relacionamento? Nem eu gostaria de ouvir o grego falando de outra


mulher hipotética do seu futuro.
— Desculpe pelo comentário, Aquiles — toquei a barba dele e o

acariciei, tentando consertar o meu erro —, só estou cansada, estressada...


— Hm… posso te fazer relaxar, agápi. — A expressão dele pareceu

se suavizar, seus lábios voltando a se curvar, dessa vez em um sorriso


malicioso, o que me foi um alívio.
— Mesmo?

Mordi os lábios. O desejo parecia falar mais alto do que o cansaço e


foi instintivo para mim roçar o meu sexo, protegido apenas pela calcinha

fina, no pênis dele, que, embora não estivesse ereto, começava a ganhar
vida debaixo de mim.

— Só uma massagem, ángélos.


Fiz muxoxo. Emitindo uma risada gostosa, ele segurou o meu nariz,
brincando comigo.

— Levante-se e tire a roupa — ordenou em um tom levemente rouco.


Ergui-me em um pulo, ainda que eu também tivesse uma veia mais
controladora do que submissa na cama, e Aquiles sabia que eu não
conseguia resistir quando ele ordenava que eu ficasse pelada na sua frente.

Com um sorriso provocante, sabendo que era observada pelo grego,


que se acomodou melhor na poltrona, segurei a ponta do laço que fechava o

roupão e o rodei, insinuando-me.


Um gemido baixo escapou pelos lábios dele enquanto lentamente eu
desenlaçava o cinto.

— Isis… — O tom dele era de advertência, cheio de impaciência, e


foi a minha vez de soltar uma gargalhada.

Continuando a provocá-lo, finalmente desatei as amarras, revelando-


me pouco a pouco até passar um braço pela manga e depois o outro.

Quando ele deu tapinhas no cós da calça, indicando a ereção


crescente, joguei o roupão de seda nele, que esticou o braço e pegou-o no
ar, apesar de toda a sua atenção estar na minha calcinha.

— Deixe-a aí — comandou com um grunhido quando fiz que ia


baixá-la. — Vá para a cama, Isis.

Sem esperar minha resposta, ergueu-se e caminhou em direção a


cômoda para pegar um óleo, que eu havia comprado e ainda não tínhamos
usado. Aquiles era um homem conservador em relação aos brinquedos

sexuais e estimulantes, então cada um que entrava era um avanço. Corri


para a cama dele e sentei na beirada do colchão, fechando as pernas quando
senti uma comichão no meu baixo-ventre ao olhar para a ereção marcada
pelo tecido do moletom. Suspirei ao tentar convencer o meu corpo que seria

apenas uma massagem relaxante e alguns beijinhos. Nada de sexo por hoje!
— Esse é comestível? — perguntou, subindo em cima da cama e

posicionando-se atrás de mim.


— Sim — disse, perdendo o meu fôlego, só por saber que ele estava
tão próximo a mim.

— Hum!

Me remexi na cama quando as pontas dos dedos tocaram suavemente


na minha pele ao reunir os meus cabelos para fazer um coque no topo da

minha cabeça, uma habilidade que ele vinha se mostrando cada vez mais

preciso.

Escutei o som dele abrindo a tampa do frasco e depois um gemido.


— É bom!

— Mesmo?

A resposta dele foi me oferecer um pouco para eu experimentar.


Sentindo o meu sexo se contrair, deslizei a ponta da língua pelo dedo dele,

capturando o óleo, que tinha gosto de baunilha, para depois tomá-lo em

minha boca, como se fosse o seu pênis.


— Você é má, Isis — disse com a voz rouca, baixando a mão.
Minha resposta foi rir, para acabar gemendo logo em seguida quando,

passando um pouco de produto sobre os meus ombros, Aquiles deixou uma


mordida suave, para depois plantar um beijo.

— Você é mau! — Choraminguei quando ele repetiu o gesto.

— Estamos quites, ángélos — murmurou. Podia imaginar que ele


sorria, como o predador que era.

Senti um calafrio quando ela aplicou uma boa quantidade de líquido e

começou a fazer a massagem de fato.

— Porra, isso é bom! — Não contive o palavrão ao sentir as mãos


fortes sobre os meus ombros, aplicando uma pressão que não era forte, mas

também não era suave demais.

— Fico feliz que goste, agápi.


Deixou um beijinho na minha nuca para depois baixar as mãos para

massagear as minhas costas. Meu corpo arqueou contra o dele em um

espasmo ao sentir uma gota gelada percorrer a linha da minha coluna em


contraste com o calor das mãos habilidosas, que acompanhavam o deslizar

da gotinha.

— Minha única queixa é não ter pedido para você fazer isso antes —

resmunguei.
Gargalhou baixinho e continuou a massagem, percorrendo cada

centímetro das minhas costas, destruindo todos os nós de tensão do meu


corpo ao passo que criava uma outra na minha vagina.

Fechei os olhos, apenas aproveitando a pressão dos dedos dele,

gemendo, suspirando, ficando cada vez mais mole.


— Onde aprendeu essa habilidade? — acabei soltando a pergunta

quando ele massageou a minha lombar, me arrependendo no segundo

seguinte.

Não queria saber da lista de mulheres que foram afagadas por ele,
ainda que tivesse a minha lista de homens.

— Em lugar algum…

Passou o óleo pela lateral do meu corpo, e eu perdi a concentração


quando ele roçou a lateral dos meus mamilos.

— Tá brincando? — Minha voz saiu alta e esganiçada, e eu girei o

pescoço para encará-lo.

— Não. Você é a primeira pessoa em que eu faço uma massagem.


Me girou e continuou a deslizar os dedos, e eu gemi.

— Não quero nem ver como será quando treinar mais... melhor, quero

sim! — comentei baixinho.


— Vai ser um prazer continuar testando minhas habilidades em você,

ángélos — falou, divertido, ao substituir as mãos por beijinhos.

A barba roçando na minha pele fez com que eu fechasse as minhas

pernas e as esfregasse uma na outra.


— Minhas costas irão agradecer no final da gestação.

Mordi os lábios quando ele me lambeu.


— Hmmm... Muito bom.

— É…

Fechei os olhos, o que tornou as sensações mais intensas. O calor dos


lábios dele, em contraste com o frio do óleo, provocava vários arrepios em

mim.

Começou a alternar beijinhos, lambidas e mordidinhas que me

arrancavam não apenas suspiros e gemidos, mas também faziam com que
ondulasse meu corpo em direção a boca e a barba de Aquiles. Eu sentia

cada centímetro tenso, meus seios subiam e desciam cada vez mais rápido e

eu aguardava o momento em que ele deixaria algum beijinho na curva dos


meus mamilos. Tombei a cabeça para trás quando finalmente deu-me aquilo

que eu queria.

Continuou aquelas carícias sensuais, me deixando mais mole até que

parou abruptamente.
— Por que parou? — Chiei um protesto.

— Deite de lado na cama, Isis, quero acariciar a sua barriga —

ordenou.
— Aquiles? — disse depois de me levantar para olhar para ele.
Meu coração começou a retumbar no peito. Várias emoções

diferentes transpassavam o meu corpo.

— Por favor — pediu, ajeitando o travesseiro para mim.

Tentando dominar os meus sentimentos, fiz o que ele pediu e deitei de


lado, sem me importar com o óleo que impregnava a minha pele.

Observei-o levar o frasco até a cômoda e ir em direção ao banheiro

para lavar as mãos. Um suspiro baixinho deixou os meus lábios quando,


deitando bem próximo a mim, Aquiles levou a mão ao meu abdômen.

Um nó se formou na minha garganta enquanto ele acariciava o meu

ventre volumoso, olhando-o como se estivesse vendo algo precioso, algo

precioso para ele.


— Por que está chorando, agápi? — perguntou, parecendo

preocupado, sem parar com as suas carícias.

Levei a mão ao meu rosto, sentindo as minhas bochechas úmidas.


— Eu não sei — menti. — Devem ser os hormônios. Você sabe que

eu ando chorando por tudo.

Aquiles ficou me encarando por um tempo, parecendo nada

convencido disso, e eu torci para que ele não insistisse. Como eu falaria
para o grego que eu desejava que ele amasse o bebezinho que havia dentro

de mim como se fosse seu próprio filho? Que estava me apaixonando por

ele e que viver aquela farsa de noivado e casamento seria a minha ruína?
— Quando você se sentir segura para me dizer, estarei aqui para

ouvir, agápi — sussurrou antes de curvar o rosto na minha direção e deixar


um beijinho.

Engoli em seco com o seu comentário que mostrava toda sua

paciência, mas também não fiz nenhum movimento para responder.

Continuou a acariciar a minha barriga, arrancando vários suspiros de


mim. Era um momento tão doce, que eu me pegava também suspirando

apaixonadamente pelo homem gentil e carinhoso.

Oh, meu Deus! Eu poderia ficar ali por horas!


Infelizmente, meu estômago tinha outros planos e fez um barulho

alto.

— O que você quer jantar? — Colocou uma mexa do meu cabelo


atrás da orelha.

— Salada Caesar?

— E frango grelhado?

Apenas sorri para ele e, com um último selinho, ele rolou para o lado
e saiu da cama, indo para fora do quarto, para pegar seu celular e fazer o

pedido da comida; ele tinha certa mania de deixar o aparelho em outro lugar

da casa, não no quarto.


Aproveitei aqueles poucos minutos sozinha para me recompor, mas,

ainda que eu não mais chorasse, não consegui diminuir a minha ânsia de
que as coisas pudessem ser diferentes entre mim, Aquiles e o meu bebê.
Capítulo vinte e sete

 
— Acorda, Aquiles…

Ele emitiu um som baixo, mas não se mexeu.


— Você precisa levantar, se não quisermos nos atrasar — falei mais

alto, porém ele não abriu os olhos.

Com um suspiro, deixei vários beijinhos na parte interna do seu


braço, sabendo que uma hora ele iria acabar acordando.

Aquiles, às vezes, conseguia ser bem melindroso, principalmente

quando tinha que ir comigo resolver as coisas do casamento, coisas que


pareciam se multiplicar por faltar pouco mais de quinze dias para acontecer.
Tínhamos uma hora para levantar, fazer a higiene matinal e tomar café da

manhã para encontrarmos Agatha no buffet. Ainda não havíamos decidido o


menu, somente o bolo, que teria pequenas decorações de olho grego,

conhecido por eles como Mati, para tirar o mau olhado, e o sabor seria de

mel, gergelim e marmelo.


— Aquiles?

O sacudi, mas nada.

Bufando, começando a ficar impaciente, toquei a boca dele com a


minha e o safado, abrindo os olhos, intensificou o contato ao deslizar a

língua pelos meus lábios e saquear a minha boca. Sem vontade própria,

deixei-me beijar por Aquiles, suspirando quando as mãos dele percorreram


as minhas costas e alcançaram a minha bunda. Sem hesitar, deixando um

tapinha nas minhas nádegas, trouxe-me de encontro ao seu corpo rígido,


minha barriga sendo um empecilho para que eu sentisse Aquiles por

completo.

Sua língua controlava a minha, sua boca exigia tudo que eu tinha para

dar, enquanto seus dedos espalhavam calor por onde tocava. Protestei

quando ele parou.

— Assim está melhor — falou, divertido, seus olhos cheios de


malícia.
— Você não presta, Aquiles! — Bufei e ele me deu um sorriso
cafajeste, que sempre me persuadia a fazer aquilo que o grego queria.

O cretino sabia que tinha muito poder sobre meu desejo e meu corpo.

Dei um tapa nos seus ombros e tentei me desvencilhar dele, porém

seu braço era quase uma barra de ferro contra a minha cintura.

— Temos que nos levantar se… — Interrompeu-me ao deixar um

beijinho na ponta do meu nariz e deslizar seus lábios pelo meu maxilar.
Inconscientemente, eu ofereci meu pescoço para ele, que riu antes de

deixar uma série de beijos e mordidas pela minha pele, baixando a cabeça

lentamente.

Eu sentia que começava a arder por Aquiles. Deus!

— Vamos nos atrasar… — Tentei argumentar, antes que ele roubasse

toda a minha capacidade de raciocinar, me tornando sua refém através dos

beijos, dos toques, até que eu pedisse que ele me preenchesse, ainda que
meu corpo quisesse justamente isso.

— Mesmo? — sussurrou contra o meu ouvido.

Lambeu a parte de trás da minha orelha e eu gemi.

— Aquiles… — mal reconheci a minha própria voz ao sentir os

dedos dele ganhando vida sobre meu corpo.

Arfei ao cravar as minhas unhas no seu braço no momento em que ele


sugou a base do meu pescoço. Tentei protestar, interromper o grego, mas
estava perdida, fodida quando ele foi baixando até enterrar o rosto no vale

dos meus seios.


Ele riu quando estufei o peito, pedindo para que ele tomasse em seus

lábios os bicos, que estavam túrgidos e doloridos.


Eu adorava ter sua boca sobre mim naquela região, e aproveitaria
enquanto podia, já que quando começasse a amamentar, meus seios seriam

do meu pequeno.
Senti uma comichão me varrer de cima a baixo quando me deu o que

eu queria, capturando a auréola em sua boca e começando a sugá-la.


Gemendo baixinho, enterrei meus dedos nos seus cabelos curtos,

incentivando-o a continuar, e Aquiles me brindou ao aumentar a velocidade


da sua sucção, enquanto com a outra mão acariciava o mamilo
negligenciado por ele.

— Hm — gemi ao sentir o dedo dele pinçar o bico e puxá-lo,


provocando um pouco de dor, mas muita excitação.

Ele grunhiu, rodopiando a língua pelo mamilo que sua boca dava
atenção, ao passo que ele beliscava, traçava círculos lentos e me fazia

choramingar, aumentando a minha necessidade por mais do que ele poderia


me dar.
Levei a minha mão a sua lombar, tentando puxá-lo mais de encontro

ao meu corpo, querendo sentir a ereção dele, mas minha barriga me


impedia.

Enquanto continua a explorar com a boca meus seios, a mão livre


deslizou pelo meu corpo, até alcançar a minha vagina. A expectativa me

consumiu e, assim que voltou a sugar o meu bico lentamente, dei um


gritinho ao sentir seu dedo percorrendo minhas dobras, atormentando-me,

até que eu falasse o nome dele baixinho, implorando que me penetrasse;


— Sempre pronta... — Agitou o indicador dentro de mim, espalhando
minha excitação, e eu espichei o meu corpo quando ele encontrou o meu

clitóris. — Caralho, ángélos.


Não respondi, apenas me esfreguei na sua mão, desesperada,

buscando um alívio para aquele ardor crescente, e ele começou a esfregar


de cima a baixo aquele ponto. Eu arqueava e rosnava baixinho quando o
grego não intensificou o movimento que fazia sobre a minha carne, me

deixando mais tensa, sua sucção no meu seio era igualmente lenta.
Quando aumentou um pouco mais a intensidade da sua chupada e das

suas carícias, minhas unhas se tornaram praticamente garras na pele dele,


arranhando, fazendo vergões que provavelmente incomodariam. Com

Aquiles, eu perdia o senso e acabava extrapolando, agindo de forma


selvagem. Meus sentidos ficavam cada vez mais atordoados, mas, ainda
assim, não era o suficiente. Eu precisava tê-lo dentro de mim, me

preenchendo, e agora.
— Aquiles… — Arranhei o grego novamente, impulsionando os
meus quadris para frente, roçando na ereção dele, fazendo com que ele
soltasse um gemido abafado contra o meu peito.

Sua expressão ansiosa era um espelho da minha. Ele lambeu o vale


entre os meus seios, fazendo com que eu me contorcesse, minha vagina

contraindo, e, sem precisar implorar ainda mais para ter o seu pau dentro de
mim, ele se posicionou de um jeito que a minha barriga não fosse uma
barreira aos nossos movimentos.

Aquiles ergueu a minha perna, passando-a pela lateral do seu corpo,


de modo que eu ficasse aberta para ele, encaixando quadris com quadris,

mas ainda sem mergulhar dentro de mim. Eu sabia que deveria interrompê-
lo, que nós dois passaríamos vergonha por chegarmos atrasados no

compromisso, algo que detestava, mas, presa na espiral de desejo, apenas


segurei-me nele, suspirando baixinho quando, agarrando-me pela bunda, o
grego me penetrou.

Senti todos os meus músculos se esticando para acomodá-lo e o


grunhido dele quando alcançou o fundo fez o meu corpo estremecer, um

som rouco me deixando.


— Me beije, Isis — ordenou, arfando, ao se retirar lentamente e
voltando a me penetrar, repetindo o movimento.
Puxei o ar com força para os pulmões, e, agarrando o braço dele,
fechei os olhos e acompanhei aquele vai e vem delicioso, subindo e
descendo minhas ancas. Os estalos de pelve contra pelve, os sons que se

tornavam incoerentes a cada deslizar ecoavam nos meus ouvidos,


intensificando as sensações de ter o pênis dele me preenchendo.

— Agápi! — ordenou em um tom rouco ao cravar os dedos na polpa


da minha bunda, e eu fitei os olhos verdes repletos de desejo.
Quis rir do seu jeito mandão, mas, como eu também era viciada nos

beijos dele, segurei o rosto dele e trouxe sua boca para a minha, tragando o

som áspero e afoito que o deixou quando nossos lábios se tocaram.


Deu um tapinha na minha bunda e meu corpo todo vibrou com o

impacto, meu canal se fechando sobre o pau dele em um espasmo.

Brincando com o grego enquanto acarinhava sua barba, beijei-o

morosamente enquanto acariciava os seus fios curtos, acompanhando as


investidas dele, que se tornavam mais rápidas, buscando o ápice.

Minhas paredes, excitadas, se contraíam, tentando prender o pênis

dele em meu interior. O suor parecia impregnar a minha pele e a dele, e nos
fazia deslizar um pelo outro, exigindo de nós mais energia. Minha mente

ficava embotada ao receber suas investidas e meu corpo movia-se pelo mais

puro instinto, conhecendo muito bem o de Aquiles. Concentrar-me nos


beijos tornava-se difícil, bem como manter aquele ritmo. Eu queria devorá-

lo, cedendo ao desespero que me consumia.


— Isis — murmurou, me puxando pelas nádegas para recebê-lo e eu

aproveitei os lábios entreabertos para saquear a boca dele, dando vazão a

minha fome desmedida.


Toquei o céu da boca dele, sentindo-me poderosa e ainda mais

excitada ao fazer o meu homem gemer, antes de encontrar a língua ávida

pela minha. Meus dedos ganharam vida percorrendo o corpo forte e, com o

meu tato, eu senti os músculos dele ficarem tensos à medida que nós dois
nos amávamos, as penetrações tornando-se mais urgentes.

Me corrigi. Eu fazia amor com ele e me entregava a cada investida.

Não quis pensar no fato de que ele também levava pedaços do meu
coração a cada segundo que passava; apenas, mais uma vez, me doei a ele

de corpo e alma, devorando sua boca, tomando aquilo que Aquiles tinha

para me oferecer.
Ele retribuiu o beijo, e nossos lábios, mãos e corpos passaram a se

mover na mesma sincronia. Nossas pélvis encontravam uma na outra no

meio do caminho, os sons dos nossos gemidos ecoavam pelo quarto. Nossas

respirações se mesclavam uma com a outra.


Sob meu tato, eu sentia Aquiles cada vez mais rígido. Seu pênis

pulsava dentro de mim a cada penetração, o meu corpo ficando bem


próximo de estilhaçar, principalmente quando ele tomou o controle do beijo

para si, devorando os meus lábios com a mesma fome com a qual entrava e

saía de mim, mas faltava algo. Eu estava bem próxima do precipício, mas
não conseguia me jogar nele. Meu corpo todo antecipava por esse

momento, desejando explodir.

— Aquiles — choraminguei, fincando as minhas unhas nele enquanto

ele me bombeava, parecendo prestes a se esvair.


Arfando, ele ergueu um pouco mais a minha perna e ajeitou-se,

ganhando uma nova posição que roubou o meu fôlego. Seu pau roçando no

meu clitóris fez com que eu mordesse os lábios com força, e não pensasse
em mais nada além de alcançar o êxtase.

Porra! Aquiles era gostoso, insaciável e meu.

Continuando a arranhá-lo, tentei impulsionar meus quadris com um

ritmo mais forte, ajudando Aquiles a entrar e sair, mas a fricção no meu
ponto de prazer me deixava bamba e roubava as minhas forças, tanto que eu

apenas conseguia respirar e ofegar. Os movimentos pélvicos que o levavam

completamente à loucura teriam que ficar para depois.


Aquiles segurou minhas ancas com mais força, movendo-me, e eu

agradeci aos céus pelo grego ser um bom amante e fazer todo o trabalho

para mim.  Me deslizava pelo seu pau, fazendo com que gemêssemos até

que, tomando a minha boca em um beijo furioso, que provavelmente


deixaria meus lábios sensíveis, e com uma última estocada, o grego nos

levou ao ápice. Rugindo, derramou-se dentro de mim, continuando a me


bombear enquanto eu permanecia completamente mole e fechava os olhos,

me afundando no prazer e naquelas sensações poderosas.

Senti Aquiles retirar seu pênis e os braços dele me envolvendo, mas


não abri meus olhos. Eu fiquei lutando por ar, recebendo os carinhos dele,

sentindo sua respiração quente contra a minha pele suada.

— Nóstimo — ouvi Aquiles murmurar a palavra que, segundo ele,

significava gostosa em grego, e dei um sorriso abobado, me sentindo


adulada.

Tocou os meus lábios suavemente, deixando vários selinhos, e baixou

a mão, para acariciar o meu abdômen redondo, como vinha fazendo com
mais recorrência depois de eu ter dito que eu senti o Philippos se mover

dentro de mim. Aquiles estava doido para sentir o bebê chutar, ainda mais

que a doutora tinha dito que os chutes seriam perceptíveis para pessoas

externas. Eu não conseguia lidar com essa ânsia dele, muito menos com as
sensações e os anseios que isso causava em mim. 

Tentei não pensar nisso ou estragaria o momento. Tinha escapado

daquela conversa há duas semanas, não conseguiria fugir pela segunda vez.
Abri os olhos e, sorrindo para Aquiles, dei um beijo longo nele, me

sentindo poderosa quando arranquei um som gutural dele.


— Poderia ficar o dia inteiro nessa cama… — Abriu um sorriso

travesso.

Só então recordei do nosso compromisso que seria em… sem saber as

horas, saí do abraço dele com um giro e peguei o celular sobre a mesa de
cabeceira.

— Droga! Estamos superatrasados! — resmunguei.

Aquiles riu e, antes que eu pudesse me levantar, ele me trouxe para si.
— Você ouviu o que eu disse? — ralhei quando o grego continuou a

gargalhar.

— Minha mãe não vai se importar se atrasarmos um pouco, ángélos.

Os gregos não se preocupam com isso…


— Mas eu me importo, Aquiles!

— Fora que podemos pular o café da manhã, não vamos ter que

experimentar várias coisas? — continuou, como se ignorasse meu


desespero.

Revirei os olhos, não me dignando a responder, e tentei me levantar,

mas sem sucesso.

— Gatinha mal-humorada — ronronou contra a minha orelha —,


você precisa ser mais afagada?

Deixou um tapa na minha bunda.

— Aquiles, estou falando sério… 


— Eu também, agápi… — Tomou o lóbulo da minha orelha entre os

dentes e o puxou.
Suspirei, sentindo as labaredas voltarem a crepitar no meu baixo-

ventre.

— Deus!

Gargalhou.
— Estou apertada… — contei uma mentirinha.

Sem dúvidas, se eu me sentasse no vaso, provavelmente iria

conseguir fazer xixi, prova viva disso eram as vezes que escapava um
pouco de urina sem querer.

Foi a vez de ele rosnar e me soltar.

Levantei-me e rindo da cara dele, por ter conseguido enganá-lo, e fui


para o banheiro, mas nem cheguei a sequer alcançar a soleira, pois Aquiles

me envolveu com os seus braços fortes, e, com a gentileza de sempre, me

arrastou para cama outra vez…


Capítulo vinte e oito

 
— Tem certeza de que não querem subir? — perguntei para os meus

sogros, que tinham me dado uma carona de volta para o meu apartamento
depois da prova do menu e me acompanharam até a entrada do prédio. —

Posso preparar um café para vocês.

Minha sogra balançou a mão, fazendo com que as suas pulseiras


extravagantes, que ela nunca deixava de usar, fizessem aqueles barulhos

engraçados.

— Eu quero descansar um pouco antes de encontrar a minha outra


noiva. — Piscou para mim, dando uma risadinha que não enganava
ninguém.

Para o meu desespero e vergonha, Kaius tinha decidido ir com a


esposa provar os canapés na festa do meu casamento. Tínhamos mentido

para os dois, dando uma desculpa que beirava o ridículo, dizendo que o

nosso atraso se devia ao trânsito sempre infernal, mas para o meu


constrangimento, nenhum deles acreditou. Talvez fosse pelo sorriso lascivo

que Aquiles tinha no rosto que deixou mais que claro que o motivo era

outro, menos o engarrafamento. Esse sorriso deve ser um mal de família, já


que o patriarca grego tinha um igual na cara nesse momento.

— Sei… — murmurei.

Quando pisquei de volta, a risada da minha sogra tornou-se mais alta,


e eu abri os braços para me despedir dela. Ela me envolveu em um abraço

apertado, repleto de carinho, que sempre despertava várias emoções em


mim. Agatha me tratava como se de fato eu fosse sua filha, e nada que eu

fizesse poderia retribuir aquela ternura.

— Divirta-se — sussurrei maliciosamente no ouvido dela antes que

eu ficasse melancólica com o pensamento de que eu não merecia esse

carinho.

— Pode ter certeza que vou — cochichou, como se contasse um


segredo, e nós duas desgramamos a rir.
— O que é tão engraçado, senhoras? — Kaius perguntou, parecendo
curioso, e nós duas apartamos o abraço. — Espero que não estejam falando

mal de mim.

— Coisas que você não precisa saber, ou talvez você já saiba… —

minha sogra respondeu ao virar-se para ele e apoiar as duas mãos no peito

largo.

Meu sogro segurou-a pelo pescoço com uma mão e, baixando o seu
rosto, a beijou como se não houvesse mais ninguém além dos dois ali.

Minha sogra suspirou e se agarrou nele, perdendo completamente a noção

do pudor. Quando a mão de Kaius alcançou a bunda dela, Agatha deu um

gritinho.

— Aqui, não, Kaius — a voz dela era ofegante ao deixar tapinhas nos

ombros dele, e ele grunhiu, irritado.

Dei uma gargalhada.


— Você e o Philippos ficarão bem, filha? — Agatha se virou na

minha direção e Kaius envolveu a sua cintura.

Os dois pareciam preocupados, já que havia dito que minha coluna

começou a me incomodar. Eles amavam tanto o meu bebê que a culpa por

mentir sempre estava me aferroando.

— Sim, só preciso tomar o remédio que a médica passou e descansar.


— Levei a mão ao abdômen, sorrindo ao sentir a movimentação dele dentro
da minha barriga.

— Tudo bem então — minha sogra voltou a se desvencilhar do


marido para me dar outro abraço e um beijinho em cada lado do meu rosto,

e eu retribuí.
— Se precisar, pode me ligar, filha. Estou sempre à disposição de
você e do meu neto. — Kaius deixou um beijo na minha testa.

— Obrigada. 
Me senti tocada pelas suas palavras. Saber que poderia contar com

eles quando Aquiles não pudesse estar ao meu lado me emocionava.


Mais e mais, Agatha e Kaius tornavam-se minha família. Os laços que

nos uniam eram fortes, principalmente com a matriarca grega. Ela era para
mim a mãe que nunca tive, uma amiga que, infelizmente, eu não podia
confidenciar tudo…

— Me liga mais tarde, Isis? — Agatha perguntou, me tirando daquele


pequeno transe.

— Claro.
— Então até logo. — Jogou beijinhos no ar.

Dando uma risadinha, entrei no meu prédio.


A primeira coisa que fiz ao chegar no apartamento, depois de jogar a
minha chave e bolsa no aparador, foi remover as sapatilhas que torturavam

os meus pés.
— Bem melhor assim — falei comigo mesma, movimentando os

dedinhos.
Descalça, caminhei até a cozinha para resolver o meu outro problema,

e tomei o remédio com um pouco de água. Suspirando, caminhei até o meu


quarto e me deitei, sem me preocupar em remover a roupa. Como desejei

que Aquiles estivesse ali para me fazer uma massagem nos meus pés, mas
como ele estava resolvendo um problema urgente na seguradora, uma
possível fraude milionária que um dos segurados estava tentando aplicar na

empresa, o que me deixou com a decisão de escolher todo o menu que seria
composto por vários pratos típicos gregos.

— Mamãe ama você, filho — cochichei, levando a mão a minha


barriga ao sentir um chute, contando os segundos para que ele pudesse
ouvir e reagir a minha voz. — O meu amor por você é gigante…

Fiquei naquele torpor até que o som do interfone fez com que eu
parasse de declarar o meu amor pelo serzinho na minha barriga.

— Quem será que é? — Falei para o meu bebê.


A campainha tocou outra vez.

— Com certeza um mal-educado que bateu no lugar errado —


resmunguei.
Mal-humorada, tirei o monofone do gancho e atendi.

— Sim?
— Isis? — Escutei a voz de Benedict.
Dei um passo para trás, chocada por ele estar ali.
O que ele estava fazendo no meu prédio?

— Isis? — Insistiu, com uma voz urgente, quando eu permaneci


muda. — Posso subir?

— O que você quer? — Meu tom foi ríspido.


— Conversar…
— Depois de eu passar cinco meses implorando para que pudéssemos

fazer isso? De insistir que você fizesse o mínimo? Depois de você rejeitar o
seu filho? — Dei uma gargalhada. — Você está brincando comigo, não é?

— Me desculpe, Isis, fui um babaca…


— E continua sendo — cuspi.

— Eu sei. Eu errei e quero consertar as coisas…— Pareceu sem


graça, mas isso não amenizou em nada a minha irritação.
— Não sei se você pode… — murmurei.

— Me deixe pelo menos tentar, baby, pelo nosso bebê…


— Meu bebê, e ele tem um nome… — rosnei, ciente de que estava

perdendo a cabeça, e que, pelo meu menininho eu deveria ser mais


maleável, já que, ele continuava sendo o genitor.
— Mesmo? É um menino?

Engoli a alfinetada e fiquei em silêncio.


— Posso subir? — Voltou a pressionar.
Deveria dizer que não, mas acabei concordando. Desejei ter o apoio
de Aquiles ao meu lado para enfrentar essa conversa que, sem dúvidas,

seria bastante chateante e me deixaria com uma dor de cabeça daquelas.


Duvidava muito que Benedict estivesse arrependido de algo.

Soltando um som resignado, fui abrir a porta para ele. O olhar dele,
que me percorreu de cima a baixo, como se ele tivesse esse direito, me
enojou. Engolindo a onda de náusea, dei um passo para trás, e fiz um gesto

para que ele entrasse. Como se estivesse na própria casa, foi direto para o

meu sofá, sentando-se nele, sem esperar ser convidado. Revirei os olhos.
— Então, sobre o que você quer conversar? — Fui direto ao ponto ao

sentar-se na minha poltrona.

— Não vai nem me oferecer um café, baby?

— Você não é uma visita, Benedict — retruquei, arqueando a minha


sobrancelha para ele.

— Já foi mais carinhosa, Isis. Eu não estava errado, afinal de

contas… — Estalou a língua. 


— O que você quer dizer com isso? — Meu tom era defensivo.

Toquei a minha barriga, querendo proteger o meu Philippos.

— Esse filho é meu mesmo?


— Se você veio até aqui só para me dizer isso, melhor ir embora,

Benedict… — falei entre dentes, e me levantei.


— Ou é uma bela golpista? — a pergunta fez com que eu parasse.

Fiquei olhando para ele, atônita.

— O quê!? — Dei um grito.


A tensão dominava o meu corpo e eu forcei-me a respirar fundo,

tentando acalmar-me. Ficar nervosa não ajudaria em nada e só faria mal ao

meu bebê.

— Não é você que está de casamento marcado com um milionário,


baby? — Gargalhou, como se tivesse contado uma piada, e me deu um

sorriso jocoso. — E o melhor: esperando um filho dele?

Sentando novamente no meu lugar, engoli em seco, desconfortável


com a mentira, e Benedict riu ainda mais.

— Como o grande magnata dos seguros conseguiu acreditar nessa?

Pensei que homens como ele fossem mais espertos. Que otário!
— Se você veio aqui apenas para me ofender, Benedict, pode ir

embora. — Apontei em direção a porta, e mesmo que eu estivesse

desconfortável, eu não iria me justificar com um escroto. — Saia!

Deveria ter imaginado que ele não viria me ver por finalmente criar
vergonha na cara e querer cumprir o seu papel de pai, mas se dar o trabalho

de se deslocar só para isso, era ridículo.


— Eu vim te fazer uma proposta…

Tamborilou os dedos no braço do sofá e foi a minha vez de rir, e ri

tanto, tanto, que estava quase chorando. A careta que ele fez era impagável.
— Acha mesmo que aceitaria uma proposta sua?— É um tolo. —

Minha voz soou esganiçada.

— Você não tem escolha, Isis. — Jogou alguns fios de cabelo para

trás e deu-me um sorriso irritante.


Minha sobrancelha se ergueu.

— Mesmo? — Demonstrei minha descrença.

— Não se você não quiser que o nome do seu “noivinho” seja


ridicularizado.

Olhei para a expressão triunfante de Benedict, e soube que ele não

estava brincando. Por um momento, meu coração pareceu parar de bater.

— Eu...
— Dê-me um milhão de dólares, ou eu vou convocar a mídia e falar

que o filho é meu…

— Você está louco? — Saltei da cadeira, e comecei a caminhar, me


sentindo acuada. — Eu nem tenho essa quantia!

— Mas o seu noivo tem…

— O meu noivo — repeti —, não eu…

Deu de ombros.
— Sem dúvidas você consegue manipulá-lo, afinal nós dois sabemos

que é muito boa de cama, só não sei continua tendo a mesma performance
com essa barriga. — Acariciou a barba, parecendo pensativo.

— Chega, Benedict! — gritei, a raiva que eu tentava controlar, vindo

à tona. — Vá embora!
Balançou a cabeça em negativa.

— O que será que a avó e sogra do ano irá achar do escândalo

envolvendo o nome da família? — zombou. — Será que ela vai adorar

saber pelas revistas de fofocas que o pai do “netinho” querido dela é outro
homem?

Fiquei paralisada no lugar e senti como se o meu sangue congelasse

nas veias. Não sabia se era coisa da minha cabeça, mas o meu bebê pareceu
mais agitado. Forcei-me a respirar devagar, fazendo com que o meu coração

apertado bombeasse mais cadenciado.

— E o que o CEO todo poderoso achará de saber que foi enganado?

Que enquanto dormia com ele, você trepava comigo?


Quis rir da cara dele, mas não consegui, pois a perspectiva de Agatha

e Kaius descobrirem minhas mentiras, que eu os enganei, era dolorosa

demais.
— Que o filho dele não passa de um bastardo? — acrescentou.
O comentário de Benedict deu forças para que eu fosse até ele e

desferisse um tapa forte no seu rosto, deixando uma marca vermelha na sua

pele branca. Meus dedos latejaram com o impacto.

Benedict me encarou, atônito. Levantou-se e levou a mão à bochecha


para massageá-la. Ele não acreditava que eu tinha sido capaz de bater nele.

— Isis…

— Nunca mais fale assim do meu bebê! — gritei.


Senti lágrimas se formando em meus olhos e, sem nenhum controle,

elas deslizaram pela minha face. Era muita dor.

— Nosso, baby! — Um sorriso lento começou a se formar nos lábios

dele.
— Ele não é seu! — sussurrei.

Abracei minha barriga, como se quisesse proteger meu bebê dele, e

até de mim mesma e das mentiras que vivia mergulhada nos últimos meses.
— Você não o quer, e nunca quis. Você pode o ter gerado, mas

Philippos é meu!

Benedict riu da minha cara e deu de ombros.

— De qualquer forma, as coisas não estão boas para você, Isis. Você
não tem escolha a não ser me dar o dinheiro, baby. Um milhão de dólares

não é nada para esse cara. Não são vocês que estão dando uma festa

milionária? — continuou a zombar.


Engoli em seco e quis me encolher.

— Saia! — murmurei, cedendo ao desespero enquanto cutuquei o


peitoral dele, só para aumentar o tom da minha voz e gritar: — Saia!

— Seja inteligente, Isis… ninguém precisa saber do nosso segredo.

Sentindo raiva de mim mesma e dele, balancei a cabeça, como se

fosse um cãozinho tentando se livrar de uma sarna. As lágrimas pareciam


chuvinha, espalhando-se.

— Acha que sou idiota, Benedict? — Mal reconheci a minha voz, que

era tomada de um amargor, enquanto algo dentro de mim se quebrava com


a realidade: a de ter machucado pessoas.

Era como se eu acabasse de receber uma facada, e quem me

apunhalou foi eu mesma.


— Acha mesmo que acreditarei que depois que eu te der o dinheiro,

você vai me deixar em paz? — continuei, vendo o olhar dele vacilar. —

Deixar as pessoas que eu amo em paz?

Chacoalhei de novo cabeça, o que fez a minha têmpora pulsar de dor.


— Não sou burra, por mais que você ache que sou…

— Não precisa ser assim…

— Saia! — gritei novamente.


Ele passou a mão pela barba. 
— Vou te dar um tempo para pensar, baby. Tenho certeza de que você
vai voltar a razão, e pensará melhor naquilo tudo que você vai perder. —

Deu um sorriso que me deu náuseas.

Rosnei, enfurecida.
Erguendo a mão como se estivesse se rendendo, ele se moveu pelo

ambiente pequeno, alcançando rapidamente a saída.

— Ficarei aguardando a sua ligação, Isis. — Piscou para mim e a bile


subiu queimando pelo meu esôfago.

Assim que a porta se fechou com um baque, ainda chorando, eu corri

para o banheiro e coloquei tudo para fora, sentindo a minha garganta

queimar.
Não sei quanto tempo fiquei ali, me sentindo derrotada, com uma dor

absurda apertando meu peito, sentindo aquele gosto amargo da culpa, de ter

traído duas pessoas boas, até que, respirando fundo várias vezes, tentando
ficar bem pelo meu bebê, me levantei e, após dar descarga, lavei a minha

boca e escovei os dentes.


Eu sabia o que tinha que fazer, por mais doloroso que fosse e
significasse trair o homem que passei a amar.

 
Capítulo vinte e nove

— Ti diálo[25]! Gamó! — praguejei, sentindo-me extremamente


irritado, sabendo que meu empregado não compreenderia meu linguajar. 
— O que disse, senhor Mavridis? — A voz do responsável por

gerenciar uma pequena companhia pesqueira que eu tinha na região norte


soou temerosa.
Eu provocava temor em vários funcionários e era conhecido pela

minha intolerância a erros, mas Roberto, que trabalhava para mim há anos e
era um dos meus melhores funcionários, já havia se acostumado com meu
jeito. Se havia uma palavra que poderia defini-lo era competência, e eu
gostava muito de pessoas competentes, por isso o respeitava.
— Senhor?

— Mantenha-me informado se houver mais algum problema — menti


e não traduzi os palavrões.

— Claro, senhor. Boa noite.


— Boa noite.
Desliguei a ligação. Jogando o celular em cima da mesa, me afundei

na minha cadeira de couro e passei a mão na minha barba curta.


Além da questão com a possível fraude de uma apólice de seguro, que
seria investigada pela polícia americana, do erro na logística do transporte

de uma carga peixes, que gerou a perda da mercadoria, ainda tinha uma
infinidade de outros contratempos para resolver.
Não podia negar que muitas vezes adorava o trabalho frenético, mas

os e-mails que tinha que responder e a atenção que tinha que dar para a
resolução de problemas, nesse momento que vivia, não me apetecia, não
quando a essa hora, eu poderia estar na cama com a minha mulher,

acariciando os seus cabelos, deixando beijos pelo seu corpo, ouvindo a sua
risada e tocando a sua barriga, torcendo para sentir o primeiro chute do meu

bebê, mas não, tudo o que eu tinha eram essas porras para resolver, que me
obrigariam a ficar no escritório até tarde.
Merda! Talvez eu devesse ouvir o meu pai e…
Antes que eu pudesse completar o pensamento, o meu ramal que faz a

comunicação interna dentro da empresa tocou. Franzi o cenho, pois não


havia ninguém trabalhando no prédio além de mim e dos seguranças.
Pensei em ignorar, mas a curiosidade foi maior.

— Sim? — Não desejei nem boa noite.


— Boa noite, senhor. Só para avisar que seus pais estão subindo.

Franzi o cenho, confuso. O que eles estavam fazendo aqui?


— Obrigado — falei, pousando o fone no gancho.
Minha confusão não diminuiu com o passar dos segundos, pelo

contrário, fiquei subitamente ansioso. Mil possibilidades passaram pela


minha cabeça, mas um pressentimento de que não gostaria de saber o
porquê de eles estarem ali me assolou. O assunto deveria ser sério, eles

ligariam se não fosse nada demais.


Senti pânico ao pensar que algo poderia ter acontecido com Isis ou
com o meu bebê, mas eles não viriam juntos até aqui se esse fosse o caso,

não é?
Fiquei ainda mais nervoso quando, sem cerimônia, meu pai girou a
maçaneta e abriu a porta, deixando uma Agatha chorosa, fungando, passar

primeiro. Kaius tinha uma expressão severa na face, uma que indicava que
ele não estava no melhor dos humores.
— O que aconteceu? — perguntei, me erguendo de um salto, sem

esperar que os dois se sentassem, o silêncio deles e o choro de mamãe me


incomodando.
— Você me decepcionou e muito, Aquiles. — A voz de Kaius soou

áspera. Ao fitar os seus olhos, vi aquele olhar amargo que nunca imaginei
ser direcionado a mim.
Engoli em seco, e como um garoto assustado, eu desviei o olhar em

direção ao rosto da minha mãe, que tinha se sentado. Só havia tristeza em


suas feições.

— Como você pôde fazer isso? — meu pai continuou naquele tom,
mas, que se tornou mais fraco à medida que falava. — Eu te criei para ser
um homem, filho, não um covarde… um mentiroso.

Não precisava perguntar sobre o que Kaius estava falando, eu já


sabia. Meus pais haviam descoberto a minha farsa sobre o meu casamento.
Como e por quem tenho certeza de que me contarão em breve.

Puxei o ar com força e sentei-me de volta na minha cadeira,


desafrouxando o nó da minha gravata, que de repente pareceu que era uma
forca envolvendo o meu pescoço.

— Entendo.
— Só irá dizer isso em sua defesa? — Meu pai bateu o punho na
mesa com força. — É menos homem do que eu imaginava…
— O que você quer que eu diga, pai? — falei. — Eu me sentia
pressionado a me casar e eu acabei soltando a mentira de que eu estava me
envolvendo com Isis. Vocês não foram nada sutis em me levar ao limite.

— Eu só queria o seu bem, que você fosse feliz, que encontrasse o


amor que um dia eu encontrei — minha mãe pronunciou em um tom fraco,
e isso foi como receber um coice. Preferia mil vezes suas extravagâncias,

do que aquilo.
— Sei que errei, não apenas por te pressionar a algo que você não
queria, mas também por te levar a mentir e fazer com que Isis mentisse

também… — ela prosseguiu. — Isis estava em um momento tão frágil,


grávida de um homem que não quis o bebê dela, sozinha… Théos! Tadinha
da minha menina...

Levou as duas mãos ao rosto e chorou ainda mais, sentindo dor pela
mulher que agora considerava como filha. Meu pai envolveu os ombros

estreitos da minha mãe, que apoiou a cabeça contra ele, e Kaius deixou
vários beijinhos no topo da cabeça dela.
— Isis nunca esteve sozinha, mãe, sempre estive ao lado dela —

murmurei quando o choro se tornou baixo.


— E o preço que você a fez pagar pelo seu apoio, filho? — meu pai
falou, balançando a cabeça em negativa. — Deveria te virar as costas por

usar uma mulher dessa forma.


— E seria mais do que justo, pai. — Não agiria como se fosse
inocente, por mais que pensar em não ter mais contato com Kaius fosse

bastante doloroso.
Porra! Eu amava o meu pai, mas eu pagaria pelo meu erro, ou melhor,
pelo acerto, considerando que minhas mentiras me deram Isis e um filho.

Ainda assim, seria doloroso não poder mais conversar com ele e ver jogos
do Panathinaikos nos domingos, mas eu merecia essa punição.
— Sim — concordei outra vez —, deveria…

— Como você conseguiu fingir tão bem, Aquiles? — Minha mãe


trocou de assunto. — Como fingiu os olhares, as carícias, o desejo… Agora
não importa, não é mesmo? Está tudo acabado…

— O que você disse? — Senti meu sangue congelar nas veias e meu
corpo ficar instantaneamente rígido.
— Ela pediu para cancelar todos os preparativos do casamento — me

respondeu, voltando a chorar.


Fiquei mais rígido no meu assento, e uma dor surda me invadiu.

Eu não queria acreditar nos meus ouvidos. Não! Isis não podia estar
colocando um fim no nosso relacionamento.
— Mesmo que vocês não estejam mais juntos e que você não seja o

pai, Philippos será o meu neto e nada mudará isso… — Minha mãe
continuou a falar, mas eu não processava suas palavras.
— Não, nada mudará. Philippos será um Mavridis. Ele pode não levar
o meu sobrenome, mas ele será o meu neto e sempre considerarei Isis como

uma filha! — meu pai falou.


— Sim… — Agatha concordou.

Minha mãe me olhou estranho quando eu não disse nada, tombando


um pouco a cabeça.
— Está tudo bem, filho? Você está pálido e trêmulo.

— Não, não estou bem... — Minha voz saiu rasgada. Meu coração
parecia se partir ao meio.
Colocando os cotovelos sobre a mesa, apoiei a minha cabeça nas

minhas mãos.
Caralho! Não me recordava se alguma vez senti tanta angústia, tanta
dor.

Porra! Isis terminava comigo através da minha mãe!


Meu peito doeu ainda mais, tornando difícil respirar. O que viria a
seguir? Isis se demitiria? Ela me tiraria da vida dela e do meu bebê para

sempre? A perspectiva era tão amarga, e, como se fosse possível, senti mais
dor.

Olhei para a mulher à minha frente e a vi trocar um olhar com o meu


pai, que também parecia estranho.
— Não sabia, filho? — Kaius questionou em um tom neutro.
— Não, pai…

— Não está feliz por estar solteiro? Afinal, você não precisa mais se
casar — continuou ele.
— Droga, pai! — Uma sobrancelha dele se ergueu. Talvez eu tivesse

falado alto demais com ele, fodendo mais a minha situação, mas não era
mais um garotinho. — Sabe que estou sofrendo, eu…

Baixei minhas mãos, derrotado.


— Por quê, filho?
— Eu a amo, pai — confessei, dizendo em voz alta aquilo que nunca

pronunciei. Não estava apenas apaixonado, paixão era uma palavra fraca
para descrever o que sentia por ela e por Philippos.
— Eu amo a Isis e o meu bebê — continuei. — E eu preciso dos dois

na minha vida. Porra! Eles não podem sair assim… Eu…


A expressão de Kaius pareceu se suavizar e Agatha me olhou com
ternura.

— Você disse isso a ela, filho? — minha mãe perguntou, ternamente.


Fiz que não.
— Não sei por que ela pediu para cancelar o casamento, Aquiles, e

muito menos porque ela não conversou com você ainda, mas se disser a ela
como se sente, talvez você tenha uma chance… — completou.
— Eu… — A esperança pareceu crescer dentro de mim, ao mesmo
tempo que, pela primeira vez, eu senti medo. Tinha medo que a mulher que
eu amo me rechaçasse.

Vi Kaius dar a volta na mesa e, para a minha surpresa, pousar a mão


dele sobre o meu ombro.
— Eu deveria te renegar por ter usado uma mulher, filho — repetiu

—, mas não me decepcione outra vez não sendo o homem que eu te criei
para ser. Não seja um covarde, não deixe de lutar para ter a sua família,
Aquiles, com medo de um não que pode nem vir a acontecer — disse, com

voz firme. Deu vários tapinhas em mim e fitou-me com um semblante sério.
— Sim…

— E por que você não foi ainda? — Abriu um sorriso compreensivo,


e eu soube que, embora meu pai não fosse me perdoar tão facilmente e que
ainda voltaria a tocar no assunto, ele não ficaria com raiva de mim para

sempre.
Não precisei de nenhum outro incentivo. Pegando a minha carteira na
gaveta da mesa e a colocando no bolso da calça, levantei-me. O abracei e

depois fui deixar um beijo na bochecha molhada da minha mãe, que me


desejou boa sorte, e saí apressado da sala.
Não pensei mais no trabalho e nos problemas que tinha que resolver.

Foda-se o dinheiro, foda-se tudo o que não fosse Isis e o meu bebê.
Enquanto o elevador descia, senti meu coração bater acelerado,
minhas palmas suarem com o nervosismo, por isso decidi não ir com meu

carro, não estava em condições de dirigir.


Ao chegar na rua, parei o primeiro táxi que vi e entrei no veículo,
dando o endereço de Isis. Rezei silenciosamente para todos os deuses que

conhecia, pedindo que a mulher que eu amava me desse uma segunda


chance, e, dessa vez, para se tornar a minha esposa de verdade.
Capítulo trinta

 
Me encolhi em posição fetal, ignorando a pontada nas costas,

sentindo o meu peito doer como nunca antes e as lágrimas deslizarem pela
minha bochecha, incontrolavelmente. Sabia que contar a verdade para

Agatha seria difícil, mas machucou muito mais ter a compreensão dela, ao

vê-la chorar por mim ao escutar minha história. Ouvi-la dizer que,
independentemente das mentiras que contei, que estaria ao meu lado, que

laços de sangue não importavam para ela e que Philippos seria para sempre

o seu netinho do coração, insistindo que eu não tivesse dúvidas, que tanto
ela quanto Kaius iriam querer participar da vidinha dele, me emocionou por

demais.
Eu não tinha direito de receber tamanha generosidade dos dois, sabia

que não era digna, mas meu bebê merecia tê-los em sua vida. Ao mesmo

tempo que o meu coração sangrava por ter brincado com os sentimentos
deles, eu sentia mais carinho por eles, melhor, amor. Agatha e Kaius eram

os pais que nunca tive, e eu os amava, tanto quanto amava Aquiles.

Aquiles…
Pensar no grego fez com que eu chorasse ainda mais, e eu senti como

se houvesse um ácido no meu estômago, que subia por todo o meu esôfago

me corroendo, deixando a minha boca com um gosto ruim.


Sabia que deveria ligar para ele, explicar que não pude continuar com

a mentira, e também colocar um fim na nossa relação, mas era uma covarde
que não estava pronta para ficar sem os beijos dele, sem o seu abraço, sem o

sorriso dele, sem o seu corpo, sem o seu toque gentil...

— Ainda vai doer muito mais, não é, querido? — Levei a mão ao

abdômen ao continuar sentindo meu bebê agitado. — Principalmente por ter

que continuar trabalhando para ele…

Suspirei dolorosamente.
— E quando ele encontrar outra pessoa?
O pensamento foi como uma facada no peito, que roubou
momentaneamente o meu ar.

Não pense nisso, Isis. Você só vai se machucar ainda mais…

— Tarde, querida, já é muito tarde… — murmurei em meio a um

choramingar quando imagens dele ao lado de várias modelos percorreram a

minha mente. Mesmo que não devesse, já odiava todas elas.  — Tola.

Continuei a me torturar, até que, mais uma vez, o meu interfone


tocou.

— Não acredito que Agatha largou tudo só para vir me consolar, mas

ser abraçada e mimada vai ser bom … — falei baixinho, erguendo-me

lentamente, meu corpo só querendo ficar deitado, minha lombar não

ajudando.

A perspectiva de receber um pouco de afeto fez com que eu andasse

mais depressa e fosse atender.


— Oi!

— Isis… — Aquiles falou em um tom baixo e ofegante.

Fechei os olhos, uma dor aguda me atingindo em cheio.

Deus! Como eu não queria que o fim chegasse, mas o destino parecia

querer outra coisa para mim. Amaldiçoei-o.

— Posso subir, ángélos?


Respirei fundo, tentando controlar minhas emoções. Por mais que eu

quisesse, negar só adiaria o inevitável.


— Sim…

Ele não falou mais nada, então forcei-me a caminhar até a porta. Dava
passos vacilantes, me sentia como se estivesse indo para o cadafalso. Mal
abri a porta e os braços do grego me envolveram, me abraçando com força.

Eu desmoronei contra ele, chorando, ao passo que tentava guardar na minha


mente a sensação de sentir, pela última vez, o calor do seu corpo, a força

dele, o seu cheiro, tudo dele.


Não ofereci nenhuma resistência quando, segurando meu rosto

molhado com as duas mãos, me puxou para um beijo cheio de urgência. Sua
língua movia-se contra a minha desesperadamente, seus lábios exigentes.
Deixei-me levar por aquele último beijo como se fosse morrer sem ele,

ainda que o gosto de Aquiles fosse agridoce. Minhas mãos passaram a tocá-
lo, memorizando a sua musculatura.

— Théos, Isis — murmurou, seus lábios deslizando pelo meu queixo,


pescoço, seus braços voltando a me envolver —, não podemos terminar

assim, agápi.
Mais dor.
— Não podia mais viver uma mentira, Aquiles — falei baixinho. —

Eu… — Não consegui explicar, as palavras me faltavam.


— Eu sei, você foi muito corajosa, ángélos…

Deixou vários beijinhos no meu rosto e eu quis rir da sua fala, era
tudo, menos corajosa.

Quis desviar o olhar, mas o grego voltou a segurar o meu rosto,


mantendo os nossos olhos fixos. Vi dor, melancolia e tristeza, sentimentos

que me deixaram mal por ele. Odiava ver o homem que amava sofrendo,
mesmo que não compreendesse por que Aquiles parecia tão infeliz.
— Não precisamos mais viver uma mentira, Isis — seu tom era

urgente, ele parecia extremamente aflito —, não mais.


— Não é assim, Aquiles…

— Eu te amo, Isis. Eu te amo e acho que sempre te amei, mas era tolo
demais para admitir, para aceitar. — Acariciou a minha face e meu coração
pareceu bater em uma sintonia diferente da causada pela dor. — Eu tentava

convencer a mim mesmo que era uma obsessão, apenas desejo, mas nunca
foi apenas isso. Há tantas coisas que admiro em você, tantas que quero em

você, tantas que desejo compartilhar com você, agápi. O meu maior anseio
é compartilhar todos os malditos segundos da minha vida com você.

— Sua vida não é maldita. — Funguei, minhas lágrimas passando a


ser de felicidade.
— Ela será detestável e impiedosa sem você, ángélos mou. — Beijou

a minha testa. — Não me condene a uma vida vazia e…


Pareceu inseguro e miserável ao dizer:
— Entendo se você não quiser tornar esse casamento real…
— Eu te amo, Aquiles — sussurrei e foi a minha vez de deixar um

beijo no queixo barbeado. — Eu te amo como o amigo que você sempre foi
para mim, te amo como o meu amante, e amo ainda mais pelo homem que

você é.
Ele riu, parecendo eufórico.
— Isso é um sim? — Olhou-me, expectante. — Você aceita ser a

minha esposa, minha mulher de verdade, Isis? Você quer passar toda a sua
vida ao lado de um homem idiota que demorou demais para enxergar os

próprios sentimentos? Que precisou de uma mãe enchendo o saco para que
ele se casasse, que necessitou fingir um noivado e um casamento de mentira

para enxergar o que sentia? Que quase perdeu a mulher que ama pela
própria burrice?
Eu quis dizer que sim mil vezes. Na verdade, embriagada pelas

sensações de descobrir que eu era amada por Aquiles, o sim estava na ponta
da minha língua, porém contive-me a tempo. Não era justo aceitar, não sem

antes contar sobre a ameaça de Benedict. Chega de mentiras para mim.


— Isis? — Vi a felicidade e a animação dele morrendo pouco a
pouco.
— Não há nada que eu queira mais, Aquiles, do que ser a sua mulher,
mas precisamos conversar primeiro. — Levei a mão a minha barriga, e
acariciei o volume.

Ele pareceu confuso.


— Entendo. — Respirou fundo. — Sobre o que você quer falar?

Sabia que não havia uma maneira fácil de contar, e que ele não
gostaria.
— Benedict esteve aqui hoje — comecei.

— Mesmo? E o que ele queria? — O tom dele soou frio, mas sabia

que sua raiva não era direcionada a mim, mas àquele canalha. Semicerrou
os olhos, fazendo cara de poucos amigos, antes de começar a andar pelo

hall comum dos apartamentos. Até então, nem tinha percebido que estava

tendo uma conversa importante e íntima onde todos poderiam ver. 

— Me chantagear — soltei de uma vez depois de entrar no meu


apartamento, sendo seguida por ele, que fechou a porta atrás de si.

— Ele o quê? — Os dentes dele trincaram e eu senti a tensão que

havia no seu corpo.


— Benedict falou que se eu não desse a ele um milhão de dólares, ele

faria um escândalo na mídia, dizendo que o bebê não é seu…

— Gamó! — Não precisava saber grego para entender que ele falava
um monte de palavrões.
Aquiles espumava de raiva, ao andar de um lado para o outro. Evitei

olhar para o grego para não acabar zonza.


— Foi por isso que você contou a verdade à minha mãe? —

perguntou, depois de vários minutos, estancando no lugar.

— Era melhor ela saber por mim do que pela mídia. Seria ainda mais
humilhante seus pais descobrirem por meio de um site de fofocas que o tão

sonhado neto não é seu filho. — Não escondi minha dor.

Não disse nada, apenas voltou a andar. Depois de uns segundos, parou

na minha frente. Suas mãos automaticamente foram ao meu abdômen. A


raiva que havia nos olhos verdes pareceu se dissolver à medida que ele

tocava o meu ventre abaulado.

— Não importam o que digam, ángelós, Philippos é meu filho e eu o


amo. — Seu tom estava embargado.

Continuou a me acariciar, e várias emoções me transpassaram, meu

coração batendo acelerado.


— Aquiles… — Chorei, emocionada.

— Ele é meu filho! — continuou naquele mesmo timbre. — Benedict

pode fazer escândalo e dizer o que quiser, nada irá apagar o amor que sinto

por essa criança, agápi. Ele pode não ter o mesmo sangue que o meu, mas
eu sou e sempre serei o pai dele. Serei eu quem levantará de madrugada

para trocar as fraldas dele, serei eu quem ouvirá as primeiras palavrinhas,


que verá os primeiros passos, que irá brincar com ele, fazendo-o rir, sou eu

quem irá levá-lo para escola quando ficar mais velho, será eu que darei

conselhos e o abraçarei quando ele precisar. Sabe por quê? Porque eu o


amo.

— Meu Deus! — sussurrei, entre lágrimas, emocionada, e envolvi o

grego em um abraço, prendendo as mãos dele entre os nossos corpos.

Aquiles tinha inúmeros defeitos, muitos deles não poderiam ser


relevados, mas, naquele momento, tudo o que eu sentia por ele era amor.

— Obrigada por amar o meu bebê, Aquiles…

— Philippos é nosso bebê, agápi, e eu que agradeço por deixar não só


eu, mas também meus pais, fazerem parte da vida dele. — Deixou um beijo

na ponta do meu nariz e sorriu, fazendo com que eu sorrisse também.

— Eu amo você, Aquiles.

Envolvi o pescoço dele com mais força, tentando me colar mais a ele,
e ele segurou a minha cintura.

— E eu amo vocês dois, agápi mou.

Baixou a cabeça e capturou os meus lábios em um beijo doce,


celebrando o nosso amor. Usando a ponta da língua, entreabri a boca dele

para mim e, percorrendo os dentes dele, finalmente a saqueei,

intensificando o contato, suspirando e me derretendo contra ele. Saber que

não era o nosso último beijo tornava-o mais delicioso.


— Tive tanto medo de te perder, Isis — disse entrecortado, pousando

a sua testa na minha. — Fiquei apavorado perante a ideia de não ter mais
vocês dois ao meu lado, de não ter a minha família.

— Aquiles… — Sentia que podia voltar a chorar novamente.

— Você aceita se casar comigo, Isis? — perguntou outra vez, num


tom rouco, que tinha uma pontinha de insegurança. — Quer ser a minha

esposa? Eu prometo te amar até que minha pele fique enrugada, minhas

costas curvadas e meus cabelos brancos.

— Mas você já tem alguns cabelos brancos, Aquiles — provoquei-o.


Ele resmungou e eu não contive uma gargalhada.

— O escândalo não será um problema? — questionei, recordando-me

de algo: — A gente não começou essa mentira por conta disso? Digo, por
causa da reputação da empresa da sua mãe?

Ele balançou a cabeça em negativa.

— Não, e tenho certeza de que meus pais não dão a mínima para os

comentários também — fez uma pausa e seus lábios se curvaram em uma


expressão jocosa. — Pensando bem, acho que minha mãe nunca esteve

preocupada com a empresa dela. No fundo, ela conseguiria abafar os

falatórios sozinha, Agatha é muito astuta.


— Sim, demais.

— Acho que era só uma maquinação para me ver casado…


— Posso imaginar Agatha tramando contra você…

— É… — Fez uma careta e nós dois caímos na risada.

— Seu pai…?

— Você o conhece, ele não vai querer se indispor com a minha mãe.
— Sorriu, sem vergonha.

— Fato!

Nós dois rimos.


— E então, você me aceita como seu marido?

— Sem nenhuma dúvida.

Colei nossos lábios em um selinho, mas o grego me puxou para um

beijo possessivo que acabou sendo estragado pela minha risada.


Oh, meu Deus! Eu iria me casar com o homem que me amava!

— Por que está rindo, ángélos?

— Temos que ligar para a sua mãe para não cancelar o casamento.
— Duvido muito que ela tenha cancelado algo, agápi, sabe como ela

é — falou displicentemente e deu de ombros.

Voltamos a rir.

— Você conseguiu resolver todos os problemas da empresa, amor?


Levei os meus dedos aos cabelos curtos, massageando seu couro

cabeludo, e os olhos verdes dele brilharam. Ele me deu um sorriso lascivo.


— Não, amor... — Arfou e suas mãos deslizaram pelas minhas costas

até alcançar a minha bunda.


Sorri abobada pelo grego me chamar de amor também, mas logo fiz

biquinho.

— Que pena. — Deixei um beijo no pescoço dele.

— Hm — gemeu quando repeti a carícia —, acho que estou mais


aberto a ouvir sua sugestão.

Dei uma risadinha.

— Massagem?

— Em mim, nóstimo[26]? — Agarrou as minhas nádegas e eu suspirei.

A pegada de Aquiles era maravilhosa e ela seria só minha.


— Claro que não — murmurei contra a orelha dele —, em mim.

— Hum, melhor ainda, Isis.

Emitiu uma risada rouca, que fez o meu corpo todo estremecer, e eu
não precisei de mais nada para dar a mão para ele e puxá-lo em direção ao

meu quarto.

Eu estava mais do que ansiosa para ter o meu corpo beijado pelo meu
homem, porque eu sabia que Aquiles não iria resistir, e muito menos eu.
Capítulo trinta e um

 
— Vamos ver um filme, agápi mou, no noticiário e nesses programas

de entrevistas não tem nada de bom — Aquiles falou suavemente,


acariciando a parte de trás das minhas pernas, e eu senti cócegas quando ele

alcançou os meus joelhos, sorrindo por saber que há muito tempo ele já me

chamava de amor.
— Sabe que de vez em quando gosto de ver tv.

— Sei — respirou fundo e soltou o ar devagar como se estivesse

falando com uma criança teimosa —, mas você vem se estressando sem
necessidade.
Franzi o cenho e emiti um som de desagrado, que se tornou um

suspiro de deleite quando ele subiu os dedilhares e alcançou a minha


virilha. Foi impossível conter os arrepios prazerosos que me percorreram

quando ele traçou círculos lentos pela pele sensível.

— Deixe esse cara para lá, ángélos — pediu —, ele não pode nos
atingir. Esse babaca é um verme que só quer um minuto de fama.

— É…

— E a minha equipe de advogados já está cuidando de tudo, amor.


Eles vão tomar todas as providências cabíveis.

Contra isso eu não tinha argumentos.

Fazia três dias que Benedict havia dado uma primeira entrevista a um
programa sensacionalista falando da paternidade do meu bebê, o que gerou

um grande estardalhaço, escândalo que ganhava proporções ainda maiores a


cada dia que passava, alimentado pelo nosso silêncio e pelas declarações

cada vez mais absurdas dele, que fazia o papel de vítima. Até mesmo alegar

que eu o proibi de acompanhar a minha gestação Benedict me acusou, o que

era um grande absurdo, ainda mais que várias foram as vezes que insisti na

presença dele.

Eu era a megera da vez.


Andar sem guarda-costas tornou-se praticamente impossível. Não me

surpreenderia se tivessem vários paparazzi acampados do outro lado da


calçada, esperando o momento que eu sairia.
— Ele se arrependerá de ter aberto a boca e ter mexido com os

Mavridis, ainda mais quando ele for processado em milhões por calúnia e

difamação — falou, convicto.

— Nem casa própria ele tem — sussurrei.

— Não é problema nosso…

Dando um beijo na minha perna, pegou o controle da televisão e


mudou de canal, colocando em um programa infantil.

— Hey, eu estava assistindo! — Levantei-me desajeitadamente, a

camisa social dele subindo até a linha da minha cintura.

— Não está mais, agápi. — Encarou-me com um ar de diversão.

Revirei os olhos e, no automático, passei minhas pernas em torno das

coxas grossas dele, sentando-me escrachada no seu colo.

Enlacei o seu pescoço e ele me deu um beijinho nos lábios.


—  Você não pode me proteger de tudo, Aquiles.

— Quem disse que não? — Passando as mãos por dentro da camisa,

acariciou o meu abdômen, roubando a minha fala.

Philippos, que se movia na minha barriga, pareceu tornar-se mais

agitado ao toque dele. Poderia ser um pensamento idiota o meu, mas era

como se o menininho sentisse, pela pressão exercida e pelo tamanho das


mãos, que era o grego que o acariciava.
Acabei suspirando, apaixonada pelo meu homem que era o pai de

coração do meu bebê.


Parecia um verdadeiro sonho saber que Aquiles me amava e também

ao meu menininho, que seríamos uma família.


— Você sentiu isso? — Aquiles murmurou, um sorriso bobo surgindo
em seus lábios. — Ele chutou!

— Mesmo?
Acabei retribuindo o sorriso e, sem saber se conseguiria sentir meu

bebê chutar, deslizei meus dedos em direção ao ventre abaulado, tocando-o.


— Não senti nada… — Emiti um muxoxo depois de um tempo.

Ele riu, e eu fiz uma careta, mas acabei sorrindo também.


— Ele ainda vai me incomodar bastante com seus movimentos —
tagarelei. — E dizem que dói.

— Não sabia que era tanto desconforto… — Pareceu aflito.


— Valerá a pena. — Foi a minha vez de aproximar meus lábios dos

de Aquiles e o beijar.
Um calor gostoso surgiu no meu corpo quando, moldando nossas

bocas suavemente, a língua dele invadiu a minha boca e tornou o beijo mais
profundo.
Sua mão alcançou meu mamilo e seus dedos roçaram na curva do

meu peito. Gemi contra os seus lábios quando Aquiles estimulou o bico do
meu seio, deixando-o duro e dolorido.

— Por que parou? — Queixei-me quando ele interrompeu o beijo e


voltou a tocar a minha barriga.

— Nós não vamos ver o filme, agápi? — respondeu, zombeteiro.


— Eu estava vendo outra coisa…

— Deixe de ser teimosa, Isis, esqueça esse assunto. — Ficou sério.


— Como se você também ignorasse… — retruquei.
Ele ergueu uma das mãos e brincou com uma mecha do meu cabelo.

— Por que não foca no fato de que em alguns dias você será a minha
mulher? — Seu tom era provocante ao mudar de estratégia.

Pensar que no próximo domingo eu estaria casada com Aquiles fez


com que um friozinho surgisse no meu estômago.
— Pensei que já era a sua mulher — provoquei-o, mordiscando o seu

queixo.
— Isis… — Semicerrou os olhos.

Joguei a cabeça para trás e ri, como uma garotinha.


Ele segurou o meu rosto e puxou-me em direção a sua boca, dando-

me outro beijo que me fez derreter no colo dele; eu pensei que


desmancharia de prazer ao sentir seu pênis crescendo debaixo de mim.
Rebolei nele.
— Não vamos fazer amor agora, Isis — sussurrou, as duas palmas
enterrando-se nas minhas nádegas, impedindo-me de prosseguir.
— Por que não? — Fiz-me de inocente.

Curvou-se para beijar o meu pescoço e eu fiquei toda arrepiada.


— Sabe muito bem por quê, safada, não está com a minha camisa à

toa — ronronou.
— Posso removê-la…
— Seu homem precisa de um descanso, nóstimo…

— Não parece.
— Théos, mulher…

— Mas aceito uma massagem nos pés.


Deixei um beijo na ponta do nariz de Aquiles e voltei para o meu

lugar, colocando as pernas em cima das coxas dele.


— Não vai começar? — Mexi os dedinhos, incentivando-o.
— Vou me casar com uma dominadora… — Beijou um dos meus pés.

— E eu com um gostosão que sabe muito bem usar as mãos…


— Só as mãos? — rosnou.

Não respondi.
— Agápi…
Gargalhei estridentemente.

— Tudo! — Continuei a rir.


— Melhor assim… — falou, convencido, e qualquer réplica que eu
teria morreu quando pressionou a parte do meu calcanhar.
Gemi.

— Muito bom! — Continuei a incentivá-lo para que ele não parasse.


Aquiles riu e usou o polegar em toda a minha sola, e só saí do transe

quando uma musiquinha infantil animada alcançou o meu ouvido.


Olhei para a tv, vendo que ainda estava no canal de desenho.
— Não ia ver um filme? — Ergui um pouco o meu tronco para

encarar o grego.

Ele parou de me massagear e me encarou.


— Está te incomodando?

— Não — voltei a deitar no sofá para que ele continuasse a fazer

massagem —, só é estranho você deixar no desenho, não combina muito

com você.
— Programação infantil fará parte da minha vida, então acostume-se

comigo vendo desenhos, filmes e brincando. Eu quero todos esses

momentos com o meu filho, inclusive jogar futebol no jardim — comentou


suavemente e eu senti uma onda de ternura me afogar.

— Nenhum de nós dois tem um jardim — comentei, suspirando

perante o toque delicioso.


— Talvez devêssemos comprar uma casa…
— Com piscina? — Deveria estar argumentando que eu não tinha

dinheiro para comprar uma casa nem se eu desse meu apartamento como
entrada e financiasse o restante em várias prestações.

— Se você quiser. Te dou tudo o que você desejar, ángélos.

Me senti adulada e envaidecida.

— Moussaka[27] — falei, depois de um tempo.

— Moussaka?
— Me deu vontade de comer um bom pedaço de moussaka…

— Hm.

— Baklava também…
Senti a minha boca salivar ao pensar na massa folhada recheada de

nozes e canela.

— Vontade de grávida, amor?

— Uhum…
— Seu desejo é uma ordem, ángélos — adotou um tom brincalhão e

tirou as minhas pernas de cima dele, se levantando.

— Já disse que te amo hoje?


— Pode repetir, agápi — curvou-se para roçar os lábios deles no meu

—, nunca vou cansar de ouvir você dizendo que me ama, da mesma forma

que nunca vou me cansar de fazer você gritar o meu nome.


— Safado! — Deixei um tapa na bunda dele.
— Sempre! Por você.

— Hm... — dei um sorriso malicioso —, então ande logo com o

pedido que estou ficando com fome.


Com um beijinho, virou-se e começou a caminhar pela sala.

Contemplei por um tempo a bunda emoldurada pelo tecido preto justo

da cueca, pensando no quanto aquele homem era gostoso, muito gostoso.

Eu era uma mulher de sorte.


Levei a mão à minha barriga e senti um pequeno chute de Philippos.

Me senti mais felizarda ainda.


Capítulo trinta e dois

 
— Não precisa ficar nervosa, filha, vocês já são casados aos olhos de

Deus — minha sogra falou num tom de voz mais alto, tentando vencer o
som das buzinas dos carros que faziam parte do cortejo até a igreja em

Liberty Street e também do seu comunicador.

— Eu sei — murmurei —, mas a gente só se casa uma vez.


— Não é muito verdade isso — Maia falou divertida com seu sotaque

grego forte —, muitas pessoas se casam várias vezes. Minha tia materna,

por exemplo,…
— Menina! — minha sogra gritou com ela, interrompendo-a. — Não

fale assim!
— Só estou tentando ajudar, tia… — Deu de ombros e nós duas

caímos na risada com a expressão desgostosa da minha sogra.

Embora eu e Maia ainda não pudéssemos ser chamadas de amigas, eu


gostava do bom humor da grega, que era minha madrinha de casamento e

casada com o primo que Aquiles mais adorava.

— Não vejo em que você está ajudando, está trazendo azar! —


resmungou, estalando a língua, e rimos ainda mais. 

— Não me recordo dessa superstição, tia — provocou-a.

De fato, um casamento grego tinha várias superstições e ritos, o que


me apavorava um pouco, já que não queria cometer uma gafe. Um dos ritos,

por exemplo, começou enquanto eu me arrumava em meio a várias


mulheres da família que faziam uma verdadeira festa, cantando, dançando e

conversando alto. Quando terminaram de arrumar meu cabelo e fazer a

maquiagem, as pessoas bateram palmas e eu tive que permanecer sentada,

observando a madrinha dançar em torno de mim, segurando uma almofada

vermelha com alguns objetos de prata que ela me apresentava, mas eu não

sabia bem o que era.


Agatha tirou-me dos meus pensamentos ao dizer algo em grego, o que

era incompreensível para mim, e Maia gargalhou ainda mais. A matriarca


fez um bico enorme.
— Mas voltando ao assunto — minha sogra ignorou a outra mulher e

esticou os braços na minha direção, pegando as minhas mãos que estavam

sobre a minha barriga —, você está uma noiva linda, filha. Meu filho vai

ficar louco para te despir.

Nós três gargalhamos, já que era um fato. Eu poderia estar cheia de

remela nos olhos, com a cara amassada, com os pés inchados, que para
Aquiles, eu sempre seria desejável.

— Vocês se amam, filha, e não tem nada mais importante do que

isso…

— Verdade — sussurrei, meu coração batendo mais forte.

O som das buzinas pareceu mais estridentes e não prestei atenção no

que as duas falavam. Olhei pela janela, percebendo que já estávamos quase

chegando à Catedral, que teve que ser reconstruída, já que ela tinha sido
destruída pelos ataques de 11 de setembro.

Não demorou muito e o carro que estávamos passou pela equipe de

segurança que fechava todo o perímetro.

— Ainda pode fugir, Isis — Maia brincou quando o veículo

estacionou. Não respondi, pois sabia que era uma provocação, já que,

cercada de convidados e guarda-costas, seria algo praticamente impossível.


— Não tem graça… — minha sogra disse em meio a um bufar.
O chofer abriu a porta para nós e as duas mulheres saíram primeiro. O

nervosismo pareceu se tornar mais intenso dentro de mim.


— Está pronta? — Agatha perguntou e eu assenti.

Ainda que a saia do meu vestido não fosse muito volumosa, um dos
tios do Aquiles, Dante, me ajudou a sair do veículo e deixou um beijo em
cada uma das minhas bochechas.

Detalhista, minha sogra ajeitou o véu, que tinha amassado um pouco.


Dante se colocou ao meu lado e, assim que eu pousei minha mão em

seu braço, uma música começou a tocar.


Respirei fundo, tentando controlar as emoções que estavam em

polvorosa, e deixei que o tio dele me conduzisse em direção a entrada da


igreja, para dar início a celebração. Maia também nos seguia, apesar de que
ela não participaria tão ativamente da cerimônia, somente o marido dela.

Assim que vi Aquiles me esperando junto a um grupo de homens,


segurando o buquê de flores, meus olhos se encheram de lágrimas e o

retumbar do meu coração estava tão alto, que parecia sobrepujar o


burburinho dos convidados e a música.

Nem mesmo os flashes produzidos pela equipe de fotógrafos e por


dois ou três paparazzi, que foram convidados para cobrir a cerimônia e a
festa para mostrar com exclusividade em revistas de moda e de casamento,

captaram a minha atenção.


Eu só olhava para meu futuro marido, que mesmo estampando um

sorriso enorme no rosto barbeado, parecia emocionado e ansioso. Sorri, não


contendo as minhas lágrimas.

Depois de cumprimentar o tio com um aperto de mão, entregou-me o


ramalhete.

— Está linda, ángélos. Esplêndida — falou com a voz embargada,


assim que ergueu o meu véu, não sem antes deixar seu olhar percorrer todo
o meu corpo, me devorando. 

— Obrigada — murmurei, sentindo a vergonha me invadir quando


me lançou outro olhar malicioso. — Você também está lindo.

Deixou um beijo na minha palma e ficamos nos encarando por uns


instantes, antes de nos virarmos para o sacerdote, que tinha uma barba
comprida e usava uma espécie de chapéu preto, que pediu que eu e Aquiles

déssemos nossas mãos. Ele repetiu uma espécie de bênção três vezes, que
não compreendi nenhuma palavra, e, em seguida, nos orientou a segui-lo

para dentro da igreja, como em uma espécie de procissão. Só então os


convidados puderam tomar seus lugares. Os noivos, depois dos religiosos,

sempre entram primeiro, de acordo com a tradição grega.


Suspirei ao contemplar o mármore branco da arquitetura em contraste
com a decoração, que contava com inúmeros pedestais, que se assemelham

a colunas gregas, com arranjos de flores cremes no tom champagne. Ainda


que o sol não houvesse se posto, inúmeros castiçais com velas iluminavam
todo o ambiente, deixando-o mais romântico. Teria que agradecer
novamente aos padrinhos por terem preparado tudo aquilo.

Em poucos minutos, com o casal de padrinhos postado ao nosso lado,


a cerimônia de casamento se iniciou, com cânticos sendo entoados em três

línguas pelos cinco padres. Não prestei atenção nos ritos litúrgicos, só
estava consciente do homem ao meu lado, no calor da sua palma contra a
minha, da felicidade daquele momento em que eu me tornava cada vez mais

dele, e das lágrimas que não conseguia controlar.


— Está trêmulo… — sussurrei, quando o sacerdote permitiu que

trocássemos as alianças, que no ritual ortodoxo não era tão importante


quanto no católico.

— Você também, agápi — falou com os olhos verdes brilhantes de


diversão.
Para a risada de todos, desrespeitando o momento, deixou um selinho

nos meus lábios. Não contive uma risadinha antes de me virar novamente
para o sacerdote.

Prosseguindo o ritual, o homem pegou duas coroas douradas atadas


por uma fita de uma bandeja cheia de amêndoas, e abençoou o adorno antes
de colocar uma coroa sobre a minha cabeça. Depois de coroar Aquiles
como o rei do nosso pequeno reino, meu marido se inclinou na minha
direção.
— Nada mais irá nos separar, agápi mou. Mais do que nunca, agora

você é minha. Essa fita representa que estamos unidos, para sempre, de
corpo e alma — sussurrou contra a minha orelha, e eu tive que me conter

para não estremecer na frente dos religiosos.


— Sou uma mulher feliz por ser sua para sempre… — Abri um
sorriso e ficamos nos encarando, como se não houvesse mais ninguém além

de nós dois ali.

Voltamos a encarar os sacerdotes quando o padrinho chamou a


atenção discretamente de Aquiles com um pigarrear.

— A mulher deve temer o marido… — o homem paramentado disse

depois de um tempo, e eu recordei-me da tradição de discordar do seu

marido.
Pisei no pé de Aquiles, e ele emitiu um som abafado.

— Essa doeu, ángélos! — Aquiles falou alto, para que todos os

convidados ouvissem.
A risada deles ecoou por todo o ambiente. Eu e o amor da minha vida

nos entreolhamos, sorrindo, parecendo dois bobos.

Durante o restante da leitura dos textos litúrgicos, as coroas foram


trocadas entre nós por três vezes pelo padrinho. Mesmo que a formalidade
tivesse vários detalhes, a cerimônia passou como um borrão para mim, e

quando dei por mim, estávamos sendo conduzidos pelos sacerdotes para dar
três voltas em sentido anti-horário no altar. Quando completamos a última,

paramos de frente ao religioso, que fez a benção final, sendo seguido pelos

outros, que a repetiram.


— Pode beijar a noiva.

Levando a mão à minha bunda, Aquiles puxou-me em direção ao seu

corpo, e eu emiti um arfar de surpresa. Antes que pudesse protestar pela

impropriedade, os lábios dele cobriram os meus em um beijo que nada tinha


de recatado para uma igreja. Sua boca deslizava contra a minha como se

fosse um homem faminto. E ele era, fazia mais de doze horas que nós não

nos beijávamos, não nos tocávamos. Correspondi ao contato, suspirando


quando a língua de Aquiles encontrou a minha avidamente, roubando o meu

fôlego. A única coisa que me fez parar foi o fato de ele agarrar a minha

nádega com possessividade.


— Aqui não, Aquiles — murmurei contra a bochecha dele.

Rosnou e, segurando o meu rosto com as duas mãos, me deu outro

beijo, dessa vez, muito mais suave e contido, mas que foi capaz de

despertar várias emoções no meu interior. Seus dedos baixaram lentamente,


até que estivessem no meu abdômen.

Philippos reagiu, chutando a minha barriga.


— Eu amo você, Isis. — Arfou. — Posso não ter um repertório de

frases bonitas para me declarar, mas acho que essas três palavras são fortes

o suficiente. Prometo honrá-la a cada dia da minha vida, e também


demonstrar meus sentimentos com atitudes, não só perante a você, mas

também perante o nosso filho.

As lágrimas retornaram com força e eu o abracei.

Na cerimônia, poderíamos não termos trocado votos, mas essas


palavras ficariam eternizadas na minha memória, como se fossem uma jura.

— Eu também amo você, Aquiles — disse, chorosa. — Eu prometo

mostrar com gestos cada uma dessas palavras no nosso para sempre.
Voltou a me beijar, selando o nosso futuro, que seria repleto de amor.

Logo fomos chamados pelo padrinho para que começássemos a

receber as felicitações, que acontecia ainda dentro da igreja, momento em

que recebíamos envelopes com dinheiro, enquanto o casal de padrinhos


presenteava as mulheres solteiras com pacotinhos de amêndoas, que

representavam saúde, longevidade e fertilidade.

Pam, que não quis ser a minha madrinha por achar que ela destoaria
das pessoas chiques, o que era uma besteira, se aproximou e me deu um

abraço apertado, e eu fui às lágrimas novamente. Ela era uma das poucas

pessoas que convidei, já que não fazia questão de ter meus parentes ao meu

lado.
Sob uma chuva de arroz, de gritos e música animada, quase uma hora

depois, conseguimos entrar na limusine para irmos em direção a nossa festa,


que prometia e muito…
Capítulo trinta e três

 
— Tem um pouco de arroz aqui, agápi… — Aquiles murmurou

quando o carro começou a andar, tocando o meu véu.


— Tem em você também. — Dei uma risadinha, dando umas

batidinhas no ombro dele, fazendo com que alguns grãozinhos caíssem no

chão do carro.
— Está infestada!

Removeu a coroa da minha cabeça, jogando-a para o lado, e em

seguida tentou desprender o véu, que estava preso ao meu cabelo.


— Vai estragar meu penteado! — ralhei, já que o grego, com um

bufar, começou a puxar o tecido, encontrando alguma dificuldade na tarefa.


— E estragar a…

Antes que pudesse completar ou até mesmo reagir, ouvi a renda se

rasgando e senti parte do meu penteado se desfazendo. Gemi.


Em questão de segundos, eu estava sentada sobre o colo dele,

escarranchada, mesmo que a saia do vestido fosse um empecilho para os

meus movimentos.
— Aquiles! — sussurrei o nome dele, sabendo que deveria estar

brigando com o grego, não apreciando o seu toque.

— Fica linda de qualquer jeito, Isis, mas muito mais após ser bem-
amada por mim — segurou-me pelo queixo e me deu um sorriso lascivo.

Sua boca encostou na minha e Aquiles começou a mover lentamente


seus lábios contra os meus enquanto gentilmente sua mão afagava as

minhas costas. Provávamos o encaixe das nossas bocas, deixando selinhos

que estalavam e provocavam pequenas fagulhas dentro de mim.

Segurei nos ombros dele quando o carro deu uma freada, que mesmo

não sendo tão brusca, me pegou de surpresa, pois tudo em mim se derretia

com o beijo do meu marido. Seu braço me enlaçou com força, dando-me
firmeza, ao passo que a sua boca se tornou mais exigente. Eu me abri para

ele, recebendo sua língua com um suspiro de deleite. Os dedos que


seguravam meu queixo embrenharam-se pelos meus cabelos e habilmente
desfizeram o restante do penteado, soltando as últimas mechas que estavam

presas no coque. A única coisa que permaneceu na minha cabeça foi o

enfeite preso na lateral.

Agarrando um punhado de fios, inclinou um pouco a minha cabeça e

ganhou um novo acesso a minha boca, conseguindo intensificar ainda mais

o beijo. Nossos lábios não davam trégua um ao outro, nossas línguas


buscavam o controle o qual nenhum dos dois estava disposto a ceder. Os

gemidos escapavam das nossas gargantas sem nenhum comedimento. Os

grãos de arroz foram completamente esquecidos.

Estremeci no colo de Aquiles quando segurou possessivamente a

minha coxa e apertou-a. Se eu estivesse nua, com certeza deixaria marcas

na minha pele. Provavelmente, ele danificou o tecido, mas, embriagada

pelas sensações do seu toque, da sua boca, naquele momento, não me


importava. Passei a me esfregar nele, sentindo o ardor começar a surgir no

meio das minhas pernas.

— Amor! — choraminguei quando seus lábios começaram a deixar

um caminho de beijos e lambidas pela minha pele; não pude negar que

estranhei não ter a barba dele roçando em mim.

— Senti sua falta — murmurou, mordiscando a minha garganta —, e


também do seu cheiro, do seu pescoço...
Minha resposta foi fincar as unhas no smoking dele e tombar minha

cabeça para trás, apreciando os arrepios provocados pelo calor dos seus
lábios contra o friozinho do ar-condicionado.

Fechando os olhos, passei a rebolar desajeitadamente no colo dele,


odiando as camadas de tecido que me impediam de sentir a rigidez de
Aquiles. Eu poderia rasgá-las em vários pedaços.

— Porra de mulher gostosa.


Ele que era muito gostoso. E meu. A ideia de que éramos um do outro

para sempre foi o meu último pensamento coerente que tive.


Aquiles chupou a região próxima a minha clavícula e senti sua palma

contra os meus ombros, logo os dedos dele começaram a baixar a alça do


meu vestido, e foi instintivo para mim ajudá-lo, desnudando um seio. Arfei
ao sentir a língua dele rodopiando sobre o bico túrgido, tornando-o mais

duro. O grunhido excitado do meu homem ao me lamber me levou a mais


um nível de prazer, e eu quis presenteá-lo com a minha entrega, com um

orgasmo. Sim, Aquiles era um perfeito cavalheiro que sempre colocava o


meu prazer em primeiro lugar. Várias vezes ele tinha apenas me feito gozar,

sem receber nada em troca. Bom, segundo o grego, me deixar ofegante,


bamba e satisfeita já era um presente.
Quando ele tomou o meu mamilo em sua boca, passando a sugá-lo

com agilidade, eu tive que morder os lábios para conter um grito, a


realidade de onde estávamos caindo sobre mim. Abri os olhos. Mesmo com

o meu corpo todo parecendo prestes a entrar em combustão, segurei a


cabeça do grego e tombei um pouco para trás, afastando os lábios dele do

meu mamilo.
O som do mundo à minha volta ecoou nos meus ouvidos. Como fui

capaz de ignorar os carros buzinando?


Aquiles apoiou o queixo no meu peito e me encarou, parecendo um
pouco contrariado.

— Que foi, ágape mou? — Traçou círculos lentos pelas minhas


costas.

— Estamos no carro!
— Que que tem?
— O motorista… — sussurrei, envergonhada ao pensar que tínhamos

gemido alto. E não foi pouco.


— Ele não pode nos ver, nem nos escutar, Isis… 

Baixou a cabeça e deixou um beijo no meu mamilo. Me contorci com


o calafrio de desejo que percorreu toda a minha espinha. Segurei seu rosto

com mais força, em um misto de sensações controvérsias, sem saber se era


para ele prosseguir ou não, a razão e a ânsia duelando entre si.
— Estamos a caminho da nossa festa — tentei raciocinar,

principalmente por ele continuar a me provocar com a língua.


— Não me importo com ela — falou em meio as chupadas.
Gemi, sentindo a minha vagina se contrair com um espasmo.
— Sua mãe se importa, e, de alguma forma, também é importante

para mim essa comemoração. Eu não posso chegar mais amassada do que já
estou. — Meu tom era ofegante

— Já disse que você fica linda…


— Aquiles! — O interrompi com um grito.
— Tudo bem… — Surpreendendo-me, com um último beijo no meu

mamilo, ele ajudou-me a colocar o vestido de volta.


— Obrigada. — Sorri para ele, e adotando um tom malicioso, disse:

— Prometo que te compensarei na lua de mel.


Pensar que ficaríamos sozinhos na villa isolada dele, de frente ao mar,

por uma semana, fez com que um friozinho de antecipação me percorresse.


— Tenho certeza que sim, agápi…
Pousando as duas mãos sobre a minha bunda, abriu um sorriso lascivo

que me fez querer me entregar ao grego ali mesmo.


O puxei para mais um beijo sôfrego, o que fez com que emitíssemos

sons baixinhos de prazer, e saí do colo de Aquiles. Ele aninhou-me em seus


braços e eu nem me preocupei em me recompor, consciente que não havia
nada que eu pudesse fazer a respeito da minha maquiagem borrada, dos

cabelos embaraçados e do vestido amassado. Seria constrangedor aparecer


assim na frente de todos, mas a felicidade que sentia por estar com o grego
era maior do que o meu próprio pudor.
Apaixonada, dentro do abraço do homem que eu amava, ergui um

pouco o meu rosto e o encontrei me encarando, sorrindo.


— Eu amo você, Aquiles — sussurrei, sabendo que estava sendo

repetitiva, já que havíamos dito que nos amávamos na igreja. Acariciei o


meu abdômen, que estava sendo bastante chutado por Philippos.
— Eu também amo vocês dois. — Plantou vários beijos no topo da

minha cabeça.

Me derreti ainda mais contra ele e passei o restante do trajeto até a


mansão dos meus sogros, onde ocorreria a festa, assim. O trânsito, como

sempre, tinha estado infernal, principalmente pelo número de pessoas indo

para o mesmo local.

— Obrigada, amor — falei quando ele estendeu a mão para me ajudar


a sair da limusine.

— Théos! — Minha sogra gritou assim que eu pisei no pavimento de

pedras, olhando-me de cima a baixo. — Você está péssima!


Dei um sorriso amarelo para ela.

— Mãe! — meu marido disse em um tom perigoso e escutei Kaius

bufar, pronto para defender a esposa.


— Preciso da maquiadora e da cabeleireira, em cinco minutos —

disse no comunicador, ignorando Aquiles.


Ouviu alguma coisa e balançou a cabeça, mesmo que ninguém que

estivesse do outro lado pudesse ver.

— Não quero nenhum fotógrafo tirando fotos dela assim — ela


continuou em um tom que exigia obediência. — Minha nora não vai sair

descabelada nas revistas, como se tivesse acabado de sair de um motel.

Fiquei vermelha.

— Caralho, mãe! — sibilou meu marido.


— Aquiles! — Meu sogro o advertiu.

— Veja só o que você fez com ela! — Agatha se virou para o filho e

cutucou o peito dele, semicerrando os olhos. — Não podia se controlar ou


esperar a lua de mel?

Ele deu de ombros e senti uma pontada de culpa me invadindo. Eu

também tinha sido uma participante ativa para estar nesse estado desastroso.
— Esses Mavridis… — minha sogra emitiu um som indignado,

fazendo não apenas com que Aquiles risse, mas Kaius também.

Ela continuou a chacoalhar a cabeça.

— Vamos, filha, antes que todos os convidados vejam seu estado…


Sem esperar uma resposta e nem mesmo minha madrinha chegar,

pegou-me pela mão e saiu me arrastando de modo nada discreto. Vários


convidados me olhavam, assustados, e um paparazzi tentou tirar uma foto,

mas logo foi retirado do local pelos seguranças. A cara irritada da minha

sogra me fez prever que o homem iria pagar caro pela audácia. Percorremos
os cômodos que já conhecia muito bem, e percebi que eles estavam todos

decorados com rosas brancas. Logo chegamos no quarto que eu e Aquiles

costumávamos usar, e a equipe já estava a postos.

— Desculpe-me por isso, querida, não quis estragar a festa — falei,


me sentando na cadeira para que a maquiadora refizesse tudo, a culpa ainda

pulsando dentro de mim.

Olhei para Agatha com o canto do olho e continuei:


— Sei o quanto é importante para você e para a imagem da empresa

que tudo corra perfeitamente.

— Bobagem, filha, os contratempos acontecem — falou em um tom

suave, indo até mim para dar uns tapinhas na minha mão.
— Esse eu poderia ter evitado…

— Eu já fui jovem... bem, ainda sou jovem — deu uma risadinha —,

e essas coisas não estão no nosso controle.


— É! — Fechei os olhos como a maquiadora pediu.

— Nada é mais importante do que ver meus filhos felizes e

apaixonados — disse em meio a um suspiro, confirmando aquilo que

Aquiles tinha dito.


— Obrigada.

Continuamos a tagarelar sobre os detalhes da cerimônia e esperei a


maquiagem da minha sogra ser retocada também, já que o rímel dela estava

borrado pelas lágrimas. Infelizmente, quanto ao tecido delicado da saia do

meu vestido, não houve nada que eu pudesse fazer a não ser aceitar que
ficaria amarrotada. Aproveitamos e paramos para tirar mais fotos.

De braços dados, rindo de algo engraçado que minha sogra contava,

caminhamos em direção a festa, e antes mesmo que chegássemos ao

gramado, o som de uma linda música infiltrou-se nos meus ouvidos. Sorri,
abobada. Coloquei a mão na boca, surpresa, sem acreditar naquilo que os

meus olhos viam ao entrar na tenda onde a festa acontecia.

Não podia negar que, durante todo o preparativo e organização, eu


tentei imaginar como ficaria, porém a realidade superou tudo o que eu

poderia ter visualizado mentalmente. Estava em choque, sem acreditar que

aquela era mesmo a minha festa.

Como eles conseguiram colocá-lo ali eu não sei, mas um lustre


enorme pendia no centro da tenda, e ainda tinham outros menores

espalhados por todo o teto. A luz amarela que incidia sobre os cristais os

faziam parecer pequenas estrelas cintilando sob o céu, que, por falar nisso,
se tornava cada vez mais escuro com o chegar da noite. Todo o espaço
estava decorado com arranjos de bronze com uma profusão de rosas brancas

e azuis no topo, o que tornava o ambiente ainda mais romântico.

Se alguém ainda duvidava da capacidade da minha sogra de organizar

uma festa, ela, hoje, dava provas do quanto estavam enganados. Cada
detalhe parecia surreal, até mesmo as mesas redondas forradas com uma

toalha branca imaculada e as cadeiras de ferro combinando eram perfeitas.

— Oh, Meu Deus! — falei, emocionada, ao tocar as pétalas de uma


flor que enfeitava as colunas de bronze da tenda, que eram um charme à

parte.

— Gostou, filha? — minha sogra perguntou, e eu pude ouvir orgulho

no seu tom.
Virei-me para ela, olhando-a atônita.

— Se gostei? — murmurei. — Será o casamento do século…

— Me adula, querida.
A risada estridente de Agatha chamou a atenção de todos e eu acabei

sorrindo. No fundo, ela sabia que tinha feito a maior festa do ano. Ela

combinou luxo, elegância e romantismo em cada detalhe. 

Estava tão imersa em meu deslumbramento, que tomei um susto ao


sentir dois braços fortes envolvendo a minha cintura abaulada. Ele deu um

beijo no meu pescoço, arrepiando-me, e minhas mãos automaticamente o

acariciaram.
— Vocês demoraram demais, estava quando indo atrás das duas! —

disse contra a minha orelha de modos que as pessoas próximas não


ouvissem.

— Aquiles! — Minha sogra deu um gritinho.

— Confesso que eu também, agápi — Kaius falou, parecendo alegre,

depois de bebericar seu copo de whisky.


— Kaius! — Outro grito, e todo mundo caiu na risada.

Um casal de parentes que não havia nos cumprimentado na igreja

veio nos dar as felicitações. Entre toques inapropriados e também beijos do


meu marido, o que arrancava gracejos dos convidados, cumprimentamos

algumas pessoas que continuavam a estender-nos envelopes. Em meio a

brincadeiras e risos, parávamos para fotos e selfies e rodopiávamos no


ritmo da música dançante, tentando não trombar nas crianças que corriam

pela tenda. Definitivamente, não precisávamos de uma pista de dança, até

mesmo Kaius, que era um homem reservado, fazia movimentos engraçados,

e ficava cada vez mais alto pela bebida.


Vez ou outra, eu acariciava a minha barriga, sentindo o meu

bebezinho agitado, como se também estivesse gostando da festa e quisesse

participar. Fiquei emocionada em pensar que Philippos teria uma família


enorme e festiva que o acolheria, assim como estavam me recebendo.

Seríamos Mavridis de coração.


Vários brindes foram feitos em nossa homenagem. Até mesmo alguns
parceiros de negócios do grego se soltaram. Achei um pouco engraçado

quando eu e Aquiles cortamos o bolo e servimos um pedaço na boca um do

outro, para o delírio da família dele, que bateu palmas e assoviou. O


palhaço do meu marido acabou passando um pouco do recheio de mel no

canto dos meus lábios apenas para, com um olhar malicioso, lamber-me ali,

provocando várias comichões no meu interior e a risada de todos. Ah, eu


revidaria! Sorri com esse pensamento.

Não podia negar que estava adorando cada segundo daquela animação

que, de alguma forma, me era estranha. O cansaço e as limitações do meu

corpo pela gravidez não pareciam me afetar ainda, mas sabia que, mais
tarde, cobraria o seu preço.

— Para que é isso? — perguntei, ofegante, quando a minha sogra

apareceu com umas notas de dinheiro coladas uma na outra, que esperava
de coração que fossem falsas, formando uma espécie de colar, e colocou em

nós.
— É para atrair prosperidade durante a nossa primeira dança, e
também exibir nossos presentes — meu marido sussurrou, deixando um

beijo estalado na minha bochecha, e eu o encarei, atônita.


— Entendi.
Achava um pouco estranho, mas não disse nada. Mesmo percebendo
que teríamos a atenção de todos sobre nós, acabei contagiada pela animação
da minha sogra.

Depois de me envolver com vários “colares” de dinheiro, Aquiles me


puxou para a pista de dança. Uma pontada de insegurança me dominou por
não termos ensaiado nenhuma coreografia, que aumentou quando o ritmo

típico de uma canção folclórica, tocada pela banda grega, ecoou nos meus
ouvidos.
— Relaxe, ángélos — disse olhando-me nos olhos. Aquiles me deu a

mão e apertou meus dedos suavemente. — Como não sou lá um bom


dançarino, então a chance de nós dois fazermos todo mundo rir é alta.
— Isso não ajuda em nada. — Franzi o cenho, quase imitando os

bufares dele.
Comecei a me mover, tentando acompanhar os movimentos de
Aquiles, que realmente pareciam não ser tão coordenados.

— Só sinta!
Pegando-me desprevenida, girou-me desajeitadamente, fazendo a saia

do meu vestido rodar, até que eu parasse em seus braços, arfando. Apoiei
rapidamente minhas mãos no peitoral firme. O sorriso dele para mim fez
com que eu acabasse soltando uma gargalhada e colocasse toda a minha

atenção no homem a minha frente que, animado e relaxado, era bem


diferente do tubarão dos negócios sério e arrogante. Tentando acompanhá-
lo, então girei, movimentando os pés com cuidado, rebolei brincando com o
tecido do vestido, e bati palmas.

Trocávamos selinhos e passamos a rir um do outro, já que éramos


péssimos na dança, mesmo que não tivesse uma coreografia marcada.

Quando balancei as imensas tiras de dinheiro, Aquiles teve que parar


para respirar, de tanto que gargalhava. Aproveitei a distração do meu
marido e fui até os meus sogros e os convidei para dançarem conosco.

Logo, uma grande corrente de dançarinos se formou em torno de nós,


gritando, cantando e batendo palmas.
Continuei com eles até que os meus pés não aguentaram mais e minha

boca ficou seca, clamando por água, mas não se passou nem meia hora, e eu
já estava me movendo nos braços do meu amado outra vez.
Capítulo trinta e quatro

 
Acordei com o estardalhaço feito por um pelicano branco e com o

som das ondas se quebrando na barreira de pedras. Ainda de olhos


fechados, rolei no colchão em busca do corpo de Isis, que costumava

dormir na beirada da cama, quase caindo dela. Quando não senti o calor da

pele macia, muito menos escutei o resmungo sonolento por odiar ser
acordada, encarei o vazio e bufei.

Poderia ser uma reação patética da minha parte, até mesmo ridícula,

já que nem sempre estaríamos juntos, mas a minha mulher sabia que
gostava de ser ela a primeira coisa que eu via ao despertar. Voltei a

praguejar.
Passando a mão no meu queixo, sentindo a minha barba, que voltava

a crescer depois do meu pai ter me barbeado no dia do meu casamento,

sentei-me na cama e eu senti meu corpo todo enrijecer, principalmente meu


pau, ao encontrar a minha mulher de pé e de costas para mim, parecendo

imersa na vista do Mar Egeu. Eu não dava a mínima para a paisagem, toda a

minha atenção estava na calcinha pequena, que não cobria nada da bunda
dela e a deixava sexy pra caralho, e na rendinha de uma cinta-liga que

envolvia a sua coxa.

Eu babava por ela, e a cada segundo que passava comendo Isis com
os olhos, eu ficava mais duro.

Porra! Isis era gostosa. E uma caixinha de surpresa.


Se fosse honesto, eu não me importava muito com lingeries e essas

coisas, já que preferia que ela estivesse toda nua, mas talvez devesse rever

os meus conceitos, pois, além de fodidamente excitado, eu me sentia muito

lisonjeado ao ser agradado por ela.

— Bom dia, amor — falou, ao se virar para mim.

— Bom dia — respondi em um tom rouco depois de olhar os seios,


inchados pela gravidez, erguidos pelo sutiã rendado.
Baixei minha vista ainda mais, prestando atenção na barriga dela, até
que meu olhar parasse na vagina, tampada por uma calcinha que mal a

cobria.

Me movi na cama, sentindo desconforto no meu pau, que pulsava ao

roçar no meu abdômen, e um desejo insano de rasgar a peça com os dentes

me tomou; necessitava sentir outra vez o gosto da excitação da minha

esposa.
— Perfeita…

Eu ficava cada vez mais ofegante ao percorrê-la de cima a baixo, não

conseguindo manter minha atenção em um só ponto.

— Feliz que amou. É o seu presente de casamento— disse em um

tom provocante.

— Théos! — murmurei, abobado.

Infelizmente, tivemos que adiar a nossa viagem por dois dias, já que,
depois de dançar bastante durante a festa, minha esposa acabou um pouco

indisposta pelo cansaço. Como nada é mais importante do que o bem-estar

de Isis, resolvi mudar um pouco os planos. Por mais ansioso que eu

estivesse para ela conhecer minha villa, nunca a faria viajar se não estivesse

completamente bem.

Sorri lascivamente. Cada segundo de espera valeu muito a pena.


Isis começou a andar na minha direção, e não perdi nenhum

movimento dos seus quadris enquanto levava a mão ao meu pênis e dava
algumas bombeadas, querendo um pouco de alívio para a minha rigidez.

— Pare, Aquiles — ordenou, chegando próximo de mim. — Deite no


centro da cama.
Curioso com o que aconteceria logo a seguir, fiz o que ela pediu,

colocando minha cabeça sobre as minhas mãos, convidando Isis a fazer o


que quisesse com o meu corpo.

Ela subiu no colchão e veio para cima de mim, me dando uma visão
privilegiada dos seus seios. Deixei um beijo na pele exposta e ela pegou o

meu pulso, estendendo o meu braço.


— O que está fazendo? — questionei quando senti o metal frio contra
a minha pele.

De alguma forma, meu corpo e minha mente intuíram o que ela iria
fazer, tanto que não ofereci resistência, pelo contrário, tudo em mim ficou

ainda mais em alerta, e uma vozinha me dizia que estava ferrado.


Isis não respondeu, apenas me deu um beijo, antes de fazer o mesmo

com o meu outro punho, amarrando-o na cabeceira da cama.


Automaticamente, impulsionei os meus quadris para frente, roçando
minha excitação na sua calcinha, arrancando dela um som baixinho de

prazer que atiçou o meu lado selvagem que desejava mais do que tudo
beijá-la, tocá-la e fazer amor com ela. Tentei me erguer, porém as algemas

me impediam, e eu soltei um som frustrado.


Gamó! Ainda que confiasse em Isis, era a primeira vez que ficava em

uma posição tão vulnerável, e eu não sabia se gostava ou não. Por um lado,
tinha a adrenalina da situação e a antecipação do que poderia acontecer, por

outro, tinha a minha personalidade controladora, que gostava de ter pelo


menos um domínio mínimo sobre a situação.
Eu queria muito tomar o meu presente, então tentaria esperar e…

— Isis — implorei por migalhas ao sentir sua língua quente e úmida


deslizando pelo meu pulso, deixando-me ainda mais tenso, sedento.

— Gosta? — Lambeu a parte de trás da minha orelha, arrepiando


todos os meus pelos.
— Sa-be que si-m — gaguejei quando ela voltou a subir, mordiscando

a parte de cima da minha orelha.


A risada rouca, sexy, no meu ouvido deixava todos os meus músculos

ainda mais tensos, e novamente mexi minha pelve, querendo suas paredes
úmidas me comprimindo.

Arfei, me sentindo no Olimpo quando, se ajeitando em cima de mim,


minha esposa roçou o seu sexo na minha ereção, repetindo o movimento ao
apoiar as duas mãos no meu peito.
— Isso, agápi mou — não reconheci minha própria voz, quando, com
um gemido, ela continuou a se esfregar em mim.
Inclinou o rosto na direção do meu para iniciar o beijo que ela não

havia me dado quando acordei. Seus movimentos eram lentos perante a


minha fome, e eu me peguei tentando controlá-lo mesmo com as minhas

limitações, mas falhei.


Diferente de mim, Isis não tinha nenhuma urgência em deslizar a sua
boca pela minha, deixando-me mais sedento debaixo dela. Lambeu os meus

lábios e, refém dela, os abri, querendo a língua dela deslizando contra a


minha. Com uma risada, provocou-me, voltando a me lamber, deixando a

minha boca formigando por mais.


— Gostoso…

Esfregou-se no meu pau e tomou um dos meus lábios entre os dentes,


puxando-o até que estalasse, arrancando um grunhido de mim, som que se
tornou mais alto quando saqueou a minha boca e me beijou com toda ânsia

que tinha, sua língua enroscando na minha com urgência, dando-me o que
queria.

Ofegante, movimentei os braços automaticamente para tocá-la,


esquecendo dos empecilhos.
Frustrado e inflamado ao mesmo tempo, dando-me por vencido,

apenas acompanhei o rodopiar das línguas, o mover das bocas, ficando


alucinado ao sentir as pontas dos dedos dela acariciando-me tão suavemente
que poderia comparar ao roçar de uma pena.
Me consumia pela intensidade do beijo, apreciando o calor do corpo

dela contra o meu, os pequenos suspiros que emitia, o barulho de


respirações entrecortadas, e aqueles olhos azuis, que me fitavam com

malícia e desejo. Os lábios pareciam ter vida própria e se buscavam mais


lentamente, se acariciando, se amando, até que ela começou a baixar a
cabeça, beijando o meu queixo e descendo os lábios pela minha garganta,

enquanto suas unhas raspavam no meu bíceps.

No momento que ela alcançou a base do meu pescoço, deixando um


beijinho suave para depois cravar os seus dentes na minha pele, senti uma

gota de sêmen ir percorrendo por toda a minha ereção e um ruído visceral

escapou pelos meus lábios junto a um arfar.

Fechei os olhos. A sensação de ter a boca dela sobre mim provocou


vários espasmos, meus pelos se arrepiaram e todo o meu corpo entrou em

combustão.

Sem acanhamento, Isis lambia e beijava cada pedaço do meu tronco,


indo e voltando, enquanto seus dedos me ofereciam outros estímulos. Quase

perdendo a razão, abri os olhos quando, conhecedora do meu corpo, os

lábios bem-feitos se fecharam no bico do meu peito e ela deu uma


sugadinha de leve.
Uma gota de suor percorreu toda a minha coluna e eu quis que ela se

esfregasse em mim, me fazendo gozar contra o seu sexo, porém a malvada


não me daria o que queria, a risada ofegante dela era a prova viva disso.

Isis continuou a me atormentar, sua língua atrevida me levando ao

inferno, enquanto os dedos brincavam com os pelos do meu peitoral,


puxando-os.

— Caralho, Isis!

Eu arfava, cada gominho do meu abdômen se retesando com o raspar

da unha, e na minha posição precária, vi minha esposa deslizar seu corpo


contra o meu, me dando uma visão privilegiada do topo dos seus seios.

Senti os dedos finos envolvendo o meu pênis, começando a subir e

descer pela extensão melada pelo pré-gozo. Habilidosamente, Isis


trabalhava no meu pau, percorrendo da cabeça à base, fazendo minha carne

pulsar contra a sua mão, ficando mais dura. Gemendo, passei a erguer e

descer meus quadris, pedindo com o meu corpo que ela aumentasse o ritmo
e a fricção das suas carícias. Por um momento, continuou com a cadência

lenta, que me era uma espécie de tortura que só me colocava mais aflito. E

o olhar devasso dela, puta merda, me fazia suar frio.

— Caralho!
Estremeci ao sentir a língua dela substituir seus dedos e Isis brincar

com a minha glande, lambendo toda a minha cabeça vagarosamente.


Voltei a mover meus braços, para poder segurá-la pelos cabelos e

incentivá-la a começar a me chupar, querendo o orgasmo, esquecendo-me

em meio ao prazer das malditas algemas. Praguejei, mas, no segundo


seguinte, gemi quando a ponta da sua língua roçou na minha fenda e

capturou uma gota do meu sêmen. Pensar na sua saliva misturando-se ao

meu líquido foi como atear fogo nas minhas veias. Sentia-me cada vez mais

tenso, precisando de mais.


— Théos, Isis! — choraminguei em meio a um arfar, implorando.

Mantendo meus quadris suspensos, rocei meu pau nos lábios dela e,

atendendo ao meu pedido, seus lábios se fecharam em torno da minha


glande e ela passou a sugar a ponta, fazendo com que eu descolasse minhas

costas do colchão. Arqueei a minha pelve contra a sua boca quando ela

adotou uma cadência frenética, apenas para diminuir a intensidade logo a

seguir.
Meu peito parecia prestes a explodir, cada respirar queimava os meus

pulmões.

O gemido de prazer que Isis emitiu ao ir me tomando mais fundo fez


com que eu perdesse o fio de racionalidade. Arfando e soltando sons

incoerentes, passei a me mover por instinto, subindo e descendo os meus

quadris, tentando adotar o meu próprio ritmo, embora fosse difícil sem

poder controlá-la por estar com os punhos presos.


A cada estocada que dava, eu sentia meu pau deslizar com mais

facilidade por conta de sua saliva, alcançando a garganta. Minha mulher me


engolia, sem engasgar, tomando breves segundos para inalar ar, permitindo-

me buscar o meu próprio alívio.

Meus grunhidos ecoavam pelo quarto junto com os ruídos causados


pelo metal das algemas contra a madeira. Os suspiros de Isis deixavam-me

saber que ela estava adorando me chupar, e que provavelmente estava

molhada por me dar prazer. Conhecendo-me melhor do que ninguém,

sabendo que eu estava por um fio, passou a sugar-me com mais intensidade,
alternando com lambidas, enquanto sua mão voltou a rodear meu pênis.

Aplicando mais pressão, o que fez com que mais líquido saísse pela

minha ponta, seus dedos passaram a subir e descer pela minha extensão.
Nossos gemidos se tornaram mais altos, acompanhando o estalar do meu

corpo contra o colchão.

— Goze, amor — ordenou com um ofegar, quando eu estava

chegando no meu limite.


Após mordiscar a cabeça do meu pau, voltou a me engolir o máximo

que pôde e, segurando-o pela base, começou a subir e descer, até que, não

aguentando mais, debatendo-me contra a cabeceira da cama, baixei o meu


quadril só para impulsioná-lo novamente logo em seguida, sentindo que

esvaía dentro da garganta dela.


Rugi, como uma besta selvagem acorrentada, quando minha mulher

tomou todo meu gozo, sem cuspir, e caí na cama, todo molhado de suor,

com os braços pendurados.

Tentei olhar para Isis enquanto ela continuava a lamber, sugar, a me


masturbar, até que eu estivesse flácido.

— Me beije — pedi, sem fôlego.

Como uma gatinha, ela subiu pelo meu corpo, friccionando sua
vagina no meu pau, emitindo um som ofegante de prazer. Deitou-se sobre

mim e me deu um sorriso de contentamento. Fazendo malabarismo,

contornei seus lábios com a minha língua, antes de me infiltrar dentro da

sua boca, sentindo o meu gosto nela. Deixou-me controlar o beijo, e eu a


amei com a minha boca, tentando retribuir o prazer que ela havia me dado.

Resmunguei quando quis tocar os cabelos dela e não pude. Isis

gargalhou e, deixando um beijinho na ponta do meu nariz, sentou nos meus


quadris e usou meu peitoral como apoio. Ela estava gloriosa.

— Não vai me soltar? — perguntei depois de contemplá-la por uns

instantes, o desejo voltando a se apoderar de mim por tê-la encaixada sobre

o meu pau.
Os olhos azuis dela brilharam.

— Não sei…
Fez uma cara inocente e voltou a rir quando minha expressão se

transformou numa careta.


— Não sabe o quão sexy fica estando amarrado, Aquiles, então me

sinto tentada a deixá-lo assim. — Brincou com os pelos do meu peito e

mordeu os lábios de maneira provocante.

— Gamó! — grunhi.
— Muito sexy — falou, voltando a se inclinar para beijar o meu

pescoço.

— Isis…
— E me dá várias ideias…

Capturou uma gota do meu suor com os lábios.

— Mesmo? — Meu corpo reagiu a ideia.


— Pena que você não está interessado!

Fez beicinho e saiu de cima de mim.

— Eu não disse isso! — chiei.

— Será que não? — Provocou-me ao começar a remover uma


algema.

— Sabe que não, mulher!

Estava exasperado, mas também excitado, com as inúmeras


possibilidades que passaram pela minha cabeça.
— Pode me prender quando quiser, ángélos, meu corpo é todo o seu
— sussurrei.

Gemeu quando dei um beijo no topo do seio dela, aproveitando que

ela se oferecia para mim. Com a mão liberta, aproveitei para tocar a pele
sedosa dela, deixando vários beijinhos nela, roubando a sua concentração.

No momento em que Isis terminou de me soltar, passei um braço pela

cintura dela e, tomando cuidado com Philippos, tombei seu corpo contra o
meu, fazendo os olhos azuis dela se arregalaram de surpresa.

Enterrando meus dedos nos fios úmidos pelo suor, antes que Isis

dissesse qualquer coisa, voltei a beijá-la, provocando-a da mesma maneira

que tinha feito comigo, deixando selinhos que só a excitariam ainda mais.
Acariciando seu couro cabeludo, até mesmo dando puxões e

intensificando o contato das bocas, exigindo sua volúpia, comecei a

acariciar as costas dela.


Ficando cada vez mais desesperado, colando-a mais a mim, deixei

meus dedos vagarem e irem em direção a sua calcinha.


— Aquiles — gemeu meu nome no instante que puxei o elástico
alojado entre as nádegas e o soltei, fazendo o tecido estalar contra sua pele.

Repeti o movimento, arrancando um rebolado dela ao infiltrar minha


língua na sua boca convidativa, tomando-a com fome. Minha esposa me
retribuía, esfregando como podia a sua vagina contra o meu pau, sua língua
deslizando contra a minha me deixando perdido, embriagado. Ela me
deixava pronto em questão de minutos, mas tomaria todo o meu tempo em
proporcionar prazer a ela.

Diminuí a intensidade do beijo, bem como das carícias que fazia nos
seus cabelos, e senti as unhas dela ficando na minha pele, sua boca tentando
acelerar nosso ritmo, porém não deixei.

— Malvado!
Ri, então, provocando-me, esfregou-se em mim e eu mordisquei o
queixo dela, deixando uma trilha de beijinhos pelo seu rosto enquanto subia

com as mãos, brincando com o sutiã.


— Gosto muito — falou, parecendo ficar incoerente.
Isso despertou ainda mais minha ânsia, então tornei a beijá-la,

roubando todos os gemidos dela com os meus lábios. Com certa


dificuldade, abri o fecho do seu sutiã. Enfiei a mão na nádega dela quando a
safada aproveitou minha desconcentração para devorar minha boca.

— Faça algo, Aquiles — mandou, voltando a sentar contra a minha


pelve.

Sem esperar uma resposta, removeu rapidamente o sutiã e apoiou-se


em mim, começando a se estimular no meu pau, mesmo que ainda estivesse
usando a calcinha. Por um momento, apenas contemplei a imagem dos seios
nus dela balançando, ficando mais ofegante enquanto ela se movia sobre
mim, mexendo os quadris para frente e para trás.
Porra! Com os cabelos soltos, mordiscando os lábios, minha esposa

não sabia o quão linda ficava me cavalgando em busca do próprio prazer.


Não sabia o quanto eu latejava, querendo-a, o quanto eu amava ser

um voyeur do desejo dela, mas ela não parecia concordar comigo, pois
levou a minha mão ao seu peito, me fazendo participar da sua busca cega
pelo ápice, algo que nunca poderia negar.

Segurando-a pelo quadril, ajudando-a nos movimentos de vai e vem,


acariciei lentamente a curva deliciosa de um mamilo, contornando-o com a
ponta do dedo, sabendo que ali despertava-a ainda mais.

Quando fiz o caminho de volta, querendo encontrar a lateral do seio,


ela gemeu e tombou um pouco a cabeça para trás, movendo a sua pelve
incontrolavelmente, dominada pelas sensações.

Sua pele ficava cada vez mais suada, a cinta-liga na sua coxa
escorregando a cada movimento, seus cabelos ficando emaranhados. Os
olhos azuis, que nem por um momento deixaram de me fitar, pareciam

tomados por várias sombras.


Ela sussurrou algo incoerente para depois emitir um gritinho no

momento em que meus dedos beliscaram o bico do seu peito, puxando-o.


— Amor — sussurrou, perdida.
Confiando em mim e no meu aperto firme nas suas ancas, levou a
própria mão ao seu outro seio e começou a se acariciar, massageando a

carne entre seus dedos, fazendo a minha boca salivar, ao mesmo tempo que
sangue se acumulava na minha ereção.
Théos! A cada segundo ela me surpreendia e, outra vez, Isis roubava

o meu controle.
Quis mais do que nunca a fazer gozar apenas com a fricção dos

nossos corpos. Segurando-a mais firme, sentindo que minha esposa ficava
mole em cima de mim, adotei um ritmo insano, fazendo com que o sexo
dela deslizasse contra a minha ereção.

Eu emitia um som gutural a cada roçar e ficava endoidecido ao sentir


a umidade dela transpassando o tecido fino da calcinha indo para o meu
pau, misturando-se ao meu próprio desejo.

Choramingando, esfregou a auréola, acompanhando os movimentos


que fazia, e eu, em contramão, apenas dedilhava o formato do seio,
oferecendo outra forma de estímulo que a levou bem próximo ao precipício.

Senti que estremecia quando nossos corpos quase se encaixaram.


Usava todo o meu autocontrole para não dar vazão aos meus anseios, mas
eu estava perdendo a batalha.

— Por favor, Aquiles — implorou.


Quando pediu outra vez, Isis libertou o homem que estava sempre

faminto por ela. Depois de torcer suavemente o botãozinho duro, deslizei a


minha mão, percorrendo a sua barriga. Parei um instante ao sentir um
pequeno chute do meu filho, mas o gemido de Isis fez com que, ainda

movimentando-a sobre mim, infiltrasse o dedo indicador dentro da sua


calcinha e a penetrasse, buscando pelo seu clitóris, sentindo todas as suas
paredes tensas.

Sem gentileza alguma, esfreguei o ponto que a faria se convulsionar,


arqueando minha pelve contra a dela, e ela me brindou com um soluço.

Continuei minhas carícias, sentindo a umidade dela impregnar o meu dedo,


observando cada uma das suas expressões, capturando os seus barulhos,
extasiado.

— Goze para mim, agápi — brinquei com ela, repetindo suas


palavras, mas ela pareceu não me ouvir.
Poderia puni-la por isso, mas apenas prossegui acariciando-a,

deixando-a mais tensa com o atrito no meu pênis. Para minha surpresa, com
uma pressão mais suave, minha mulher estremeceu, deixando-se de se tocar,
e alcançou o clímax.

Meu corpo todo vibrou ao sentir os pequenos espasmos que a


percorriam. Ainda precisando tê-la, removi o meu dedo de dentro dela e,
com apenas alguns puxões, rasguei a calcinha de renda ao meio, o impacto
ricocheteando na sua pele. Ela me fitou, atônita, mas logo me deu aquele
sorriso safado que era a minha ruína. Meu gesto brusco, pelo jeito, a deixou
excitada.

Não contendo mais o meu desejo por afundar-me nela, encaixei meu
pau na sua fenda e penetrei-a com um impulso. Um grunhido selvagem
escapou pelos meus lábios ao sentir a lubrificação dela e todos os músculos

se esticarem para me acomodar. Seu gemido e as unhas dela fincando no


meu peito, me arranhando, era um deleite a parte. Movendo-a um pouco,
tornei a sair e entrar com um tranco.

Continuei a me movimentar dentro dela, sem medir a velocidade das


minhas estocadas, precisando sentir Isis me apertando e meu líquido a
preenchendo. Meu pau latejava a cada investida e a cada som baixinho que

minha mulher emitia quando nossas pelves se chocavam furiosamente.


Como se soubesse o que desejava dela, passou a contrair seu aparelho

pélvico, oferecendo mais resistência ao vai e vem do meu pênis, e quando a


posição não era mais o suficiente para ela, inclinou seu corpo e nós dois
gememos quando alcancei mais fundo.

— Caralho, mulher!
— Hm!
Segurei-a pelas nádegas enquanto aquela deusa rebolava no meu pau,

fazendo com que eu soltasse mais palavrões.


Fechei os olhos, tentando pensar em outras coisas para não ir rápido
demais, porém aquela mulher era muito para mim, e sentir o desespero dela

por outro orgasmo não me ajudava.


Voltei a encará-la ao escutar seu suspiro quando eu me tirei completamente
de dentro dela, para depois me enfiar no seu interior com força e

continuamos a nos mover. Como conseguimos, eu não sabia dizer, mas logo
nossas bocas estavam coladas, nossas línguas se provando e provocando,
tão urgentes quanto nossos corpos suados e ofegantes.

Aquele beijo, em meio a fusão dos nossos corpos, parecia ser tudo o
que precisávamos, para que, com mais uma penetração, chegássemos juntos
no ápice do prazer.
Capítulo trinta e cinco

 
Suspirei, me movendo contra a espreguiçadeira, ao contemplar a vista

da villa grega do meu esposo. A piscina de borda infinita parecia fluir para
as águas cristalinas do mar Egeu que, exageradamente, meu marido falava

que era da cor dos meus olhos, o que estava muito longe de ser verdade,

mas não importava, não quando eu estava no paraíso.


Já tinham se passado quatro dias desde que chegamos ali e tínhamos

ainda mais uma semana pela frente, mas, para mim, aqueles dez dias seriam

muito pouco. Estava completamente apaixonada não só pelas praias de


Mykonos, mas por cada pedacinho da ilha, que era muito maior do que

imaginava.
Era impossível não ficar suspirando quando eu e Aquiles

caminhávamos de mãos dadas pela Matoyanni Street, calçada por pedras

brancas e repleta de árvores com florezinhas rosas, mas era principalmente


por Little Venice que eu mais me derretia. Tinha ficado surpresa quando

soube que na ilha havia um bairro cheio de casinhas do século XVIII, que, à

semelhança da cidade italiana Veneza, era bastante romântica.


Estava seriamente pensando em pedir a Aquiles para passarmos uma

noite hospedados lá, mas temia que ele achasse que eu não gostava da

mansão dele, o que seria um pensamento absurdo. Quem sabe eu não


poderia convencê-lo de outras maneiras…

Sorri, maliciosamente, imaginando várias formas de recompensá-lo,


como talvez deixando que ele me algemasse novamente e me levasse ao

delírio com a sua boca e toques.

Um calorzinho surgiu no meu baixo ventre, mas logo foi substituído

pelo amor que sentia por Philippos, que começou a chutar freneticamente

dentro de mim.

Olhei minha barriga descoberta que, ao invés de ficar com um tom


dourado bonito pelo sol, estava avermelhada, ainda que a tenha lambuzado

de protetor solar.  Dei de ombros.


— Menino inquieto — murmurei para o meu bebê, acariciando o meu
abdômen, curtindo os pequenos pontas-pés que, na verdade, não me

incomodavam.

Sorrindo, fechei os olhos por algum tempo, apenas aproveitando o sol

que batia sobre a minha pele, ouvindo os barulhos das ondas batendo nas

pedras e dos pássaros, e curtindo aquele momento com o serzinho em meu

ventre.
O som de passos me tirou daquele transe e eu fitei o meu marido, que

caminhava até mim, com aquele sorriso safado e olhar faminto, carregando

uma bandeja.

Senti minha boca salivar, e não era pelo homem gostoso, mas, sim,

pelos sorvetes artesanais produzidos por uma sorveteria famosa da região

que ele trazia. Esperava que ele não tenha esquecido de comprar o de

melancia, senão teria que fazê-lo voltar até lá.


— Você foi rápido — comentei, continuando a olhar para o meu

homem, franzindo o cenho ao ver que a única coisa que cobria seu corpo

era uma sunga preta que marcava bem seu pau. — Espero de verdade que

você não tenha ido assim.

— Assim como?

Arqueei a sobrancelha para ele, vendo seu pênis endurecer sob o meu
olhar.
— Vestido assim. — Apontei para a peça, sentindo uma pontada de

ciúmes infantil.
— Algum problema? — perguntou em um tom neutro.

— Aquiles! — gritei com ele, imitando o jeito da Agatha, e meu


marido riu.
— Está com ciúmes, ángelos? — Pousou a bandeja sobre uma

mesinha e eu vi que havia vários potinhos de sorvete sobre ela.


Era uma provocação, mas eu acabei retrucando:

— Devo sair assim também?


Fiz um gesto, mostrando o meu corpo coberto apenas pelo biquíni

pequeno, e não precisava olhar para o seu rosto para saber que ele encarava
cada centímetro de pele, meus pelos se arrepiando, inconscientemente, eram
prova disso.

— Claro que não. — Seu tom baixo e perigoso fez com que eu
voltasse a encarar o seu rosto.

A carranca dele era medonha, mesmo assim, acabei rindo do meu


marido que bufou, irritado, antes de se inclinar na minha direção e me dar

um beijo possessivo. Os lábios dele eram duros, exigentes. Sem se importar


com o tecido, os dedos dele acariciavam o meu mamilo, deixando o bico
túrgido. Ele continuou a me afagar e a deslizar a língua na minha até que eu

acabasse gemendo e o segurasse pelo queixo, aprofundando mais o beijo.


— É minha e de mais ninguém, entendeu, agápi?

— Você também é meu, gostosão. — Peguei na bunda dele e apertei,


suavemente.

Ele soltou uma risada e voltou a roçar os lábios nos meus.


— De fato!

— Bom garoto — brinquei com ele.


Riu ainda mais.
— Qual você quer primeiro?

— Melancia… — falei, me acomodando melhor na espreguiçadeira,


sabendo que ele iria me servir.

— O único que não trouxe!


— Sério? — Fiz biquinho.
— Infelizmente não tinha, amor. — Contive a vontade de chorar

assim que ele disse isso.


Eu estava com vontade, o pareceu se tornar ainda maior por eu não ter

o meu objeto de desejo.


Durante toda a gestação, sempre me deu uma vontade enorme de

comer determinada coisa. Aquiles tinha satisfeito cada uma delas, menos
dessa vez.
— Não fique chateada, agápi, experimente esse — deixou um beijo

na minha testa e pegou uma colherzinha para que eu experimentasse outro


sabor na bandeja.
Abri minha boca para ele e Aquiles me serviu um pouco de sorvete de
morango. Suspirei, sentindo o sabor da fruta explodir na minha língua, e

meu homem sorriu para mim, antes de me oferecer um pouco mais.


— Hum! — Gemeu depois de lamber o pouco de sorvete que sujava a

minha boca.
O olhar malicioso provocou-me vários calafrios. O desejo entre nós
dois pulsava e parecia não ter um fim.

Entre beijos, lambidas e carícias provocantes, Aquiles serviu-me


todos os sabores que trouxe, degustando-os através dos meus lábios e

emitindo sons ofegantes.


Sentia seu pênis ficando cada vez mais rígido, e isso deixava o meu

corpo todo prestes a entrar em combustão. Como seria vê-lo removendo os


laços do meu biquini com a boca e fazer sexo ali, na espreguiçadeira?
Apesar da ideia me excitar, ainda estava amuada.

— Théos, ángelos! O que eu faço com você?


Dei um sorriso amarelo, muito sem graça por estar me comportando

como uma criança. Ele pegou a minha mão e deixou um beijo no dorso.
— Tenho uma ideia, agápi…
— Mesmo? — Não escondi a minha esperança.
Fez que sim com a cabeça, dando-me um sorriso arrogante, de quem
tinha a autoconfiança nas alturas.
— Eles têm várias franquias espalhadas por Atenas, tenho certeza que

em uma delas iremos encontrar o sabor que você deseja…


Acariciou a minha barriga, olhando para baixo e sorrindo, apaixonado

pelo filho que mais do que nunca, era dele.


Sempre que eu via Aquiles tão encantado por Philippos, até mesmo
conversando com ele, várias emoções me percorriam e faziam-me amá-lo

ainda mais.

— Mas é longe — obriguei-me a ser racional.


— Nada que um helicóptero não resolva.

Outra beijoca, e eu franzi o cenho.

— Parece mesqui… — Colocou um dedo sobre os meus lábios.

— Por que não me espera na piscina enquanto eu resolvo isso? —


murmurou contra a minha orelha.

— Eu…

— De preferência sem o biquíni…


Mordeu a minha orelha e roçou o dorso da mão na lateral do meu

mamilo, e eu estremeci no lugar, sentindo minha vagina se contrair.

— E o que você planeja fazer? — Ergui meu rosto para encarar a face
dele, encontrando apenas lascívia. 
— Nadar, é claro.

Piscou para mim, e eu bufei, empurrando o seu ombro, indignada,


enquanto ele gargalhava alto. Com um último beijinho, pegando a bandeja,

foi para dentro da casa.

Resmunguei, mas, sabendo que estávamos sozinhos ali, não hesitei


em ficar nua e entrar na água fria que contrastava com o calor do sol.

Meu marido voltou rapidamente, já nu, e, sem me decepcionar, tomou

o meu corpo, meus lábios e minha alma com os seus beijos, com os olhares

quentes e fome. Enquanto seu pau deslizava para dentro de mim, a agitação
da água oferecendo um estímulo a mais, acabei esquecendo-me da minha

vontade insana pelo tal sorvete de melancia.


Capítulo trinta e seis

 
— Tome, filho, uma dose vai te fazer bem — meu pai falou, parando

na minha frente, impedindo-me de andar.


Olhei para ele, incrédulo, quando vi que me estendia um copo duplo

de whisky.

— Não preciso disso — disse em um tom mais ríspido do que


deveria, mas estava muito ansioso.

Kaius arqueou uma sobrancelha para mim.

— Tem certeza? — provocou-me, levando o copo aos lábios e


bebendo tudo em um gole. Contive um grunhido irritado.
— Deveríamos estar a caminho do hospital! — exclamei bem alto,

para que minha esposa ouvisse.


— Aquiles! Nem parece que sou eu que estou tendo as contrações —

retrucou no mesmo volume que eu, emitindo uma risada que fez com que

eu fechasse a cara.
Não ajudou em nada para aplacar minha irritação Agatha falar o

típico “homens” dela. Acabei resmungando e meu pai me fuzilou com o

olhar.
Ignorando-o, caminhei com passos pesados até onde Isis estava

sentada, precisando verificar como minha mulher estava. Para o meu

desespero, fazia umas duas horas que ela tinha começado a sentir as
contrações. Por mim, já estaríamos na maternidade, mas tanto ela quanto a

minha mãe temiam que fossem contrações falsas, como tinha acontecido
anteontem, e aguardavam para saber se ficariam mais frequentes, indicando

que finalmente havia chegado o momento.

Por mais que tentasse, não conseguia controlar meus batimentos

cardíacos, muito menos a minha ansiedade de ter o meu filho em meus

braços. Cada segundo que passava era pura aflição.

— Você está bem? — Toquei o rosto dela, que estava bastante sereno,
enquanto a outra mão deslizava carinhosamente pelo seu abdômen.
Mesmo que fosse a quinta vez que eu perguntava isso, precisava ter
certeza.

— Filho, você vai acabar deixando-a nervosa também — minha mãe

falou em um tom suave, mas que não escondia sua advertência. Desprezei o

comentário.

— Sim, amor! — Minha mulher sorriu para mim, tocando a minha

mão.
O gesto me dava um pouco de conforto, mas nem tanto.

Minutos se passaram, até que ela fez uma careta de dor, que atingiu a

minha alma e me deixou ainda mais em pânico.

— Está tudo bem, querido… — ela disse antes que eu pudesse

questionar. Dei um sorriso fraco.

Mais uma hora correu no relógio. Eu já estava suando frio.

— Ops! Acho que realmente chegou a hora.


Assim que minha esposa disse isso, eu senti que congelava no lugar,

porque, para o desgosto da minha mãe, eu tinha voltado a andar pela sala

como um animal enjaulado. Ignorando as palminhas de Agatha e o grito

eufórico do meu pai, virei meu corpo em direção a Isis, vendo a calça dela

molhada.

Théos! Tinha chegado a hora! Estremeci, minha respiração ficando


mais curta, meus dedos completamente suados.
— Vá se trocar, filha, eu mando limpar tudo. — Antes que eu pudesse

reagir, minha mãe tomou o controle da situação.


— Obrigada! — Assisti minha esposa se levantar e fazer uma careta

de dor.
— Não vá desmaiar, filho — meu pai ordenou, dando tapinhas nos
meus ombros, o que me tirou do transe. — Vá ajudar sua esposa.

Obedeci sem pestanejar, embora não tivesse certeza se eu era a


melhor pessoa para ajudá-la nesse momento. Felizmente, entre caretas e

dores, minha mulher não precisou tanto de mim. Sem dúvidas, quando eu
estivesse mais calmo, eu me acharia um grande palerma por ter me

comportado dessa forma vergonhosa. 


O caminho até a maternidade mais conceituada de Atenas, já que
decidimos que nosso bebê nasceria na Grécia e depois pediríamos a

cidadania americana, durou uma eternidade para mim.


Tinha tentado oferecer algum apoio ao deixar que Isis segurasse

minha mão com força, porém sabia que era muito pouco. Tudo o que mais
queria era tomar o sofrimento e incômodo dela para mim.

Várias vezes tive que respirar fundo, procurando acalmar meu


coração e as emoções. Eu estava eufórico, com medo, ansioso, tudo ao
mesmo tempo, e odiando ouvir os gemidos de dor de Isis com as contrações

que vinham em intervalos cada vez mais curtos.


Horas depois, já na sala de cirurgia, com a equipe correndo de um

lado para o outro para iniciar o parto, eu poderia muito bem ter uma
síncope.

— Temos que relaxar, amor — Isis sussurrou para mim e eu encarei


os olhos azuis que, depois de tanta espera, revelava a sua ansiedade.

Felizmente, a peridural diminuiu e muito o desconforto causado pelas


contrações.
— É muito difícil! — comentei, deixando um beijo na sua testa

suada, colocando uma mecha que escapou para dentro da touca.


— Eu sei... — Suspirou. — Estou doida para olhar o rostinho dele,

para tocá-lo...
— Beijá-lo… — completei.
— Sim! — Abriu um sorriso sonhador, e eu estremeci com a

intensidade do amor que havia na expressão dela.


Isis estava linda, brilhando tanto que ofuscava até mesmo as estrelas.

— Podemos começar, mamãe? — A obstetra perguntou em inglês, e


meu coração bateu com mais força.

Que os Deuses me dessem forças! Eu estava prestes a desabar!


Ela assentiu e eu peguei a mão dela com os meus dedos
escorregadios, lançando um olhar pela sala e encontrando os meus pais
abraçados, contemplando tudo através de uma enorme parede de vidro, já
que só eu pude entrar.
— Você sente o seu corpo começar a querer expulsar o seu bebê

naturalmente mesmo com a anestesia? — A médica perguntou.


— Sim.

— Então inspire e expire acompanhando os movimentos — instruiu.


Isis segurou minha mão com mais força e fez o que a mulher disse.
— Não tenho que empurrar? — minha esposa perguntou depois de

um tempo, seu cenho se franzindo em confusão.


Eu entendia muito pouco de partos, mas achava que tinha.

— Se você sentir necessidade, pode, mamãe, mas não prenda a


respiração — explicou a enfermeira, que estava ao lado dela e monitorava

os batimentos e outras funções vitais do corpo.


— Okay!
Quando Isis emitiu um gemido minutos depois e seu rosto se

contorceu um pouco, eu tomei a sua dor para mim. Era como se fosse eu
sendo rasgado ao meio, não a minha esposa. Usei todas as minhas forças

para não cambalear.


— Você está sendo corajosa, agápi, mais do que eu serei na vida, Isis
— sussurrei, distribuindo beijinhos pelo seu rosto.
Ela olhou para mim e me deu um sorriso, antes de voltar a inspirar e
expirar.
Continuei a sussurrar palavras de incentivo.

Não sei quanto tempo havia se passado, mas eu beirava a aflição ao


ver os sons que minha mulher emitia ficando mais altos, acompanhando a

sua dor.
— Está vindo, mamãe — a obstetra falou, e eu vi uma onda de alívio
percorrer as suas feições enquanto eu ficava mais trêmulo.

Lágrimas se formavam em meus olhos e uma emoção forte preenchia

o meu corpo. Se eu achava que já amava Philippos, só então descobri


realmente a força daquele sentimento. Não tinha palavras para descrever o

que se passava comigo, e isso que nem havia olhado para o seu rostinho

ainda, ou tocado os seus dedinhos, sentido o seu cheirinho…

— Falta pouco, meu amor. — Levei a mão dela aos lábios quando ela
inspirou e expirou fundo outra vez, voltando a focar na mulher que amava.

— Você ouviu o que a médica disse?

Não me respondeu, apenas voltou a respirar e soltar o ar devagar.


Repetiu o processo várias vezes, e eu perdi a noção de quantas, até que um

som estridente ecoou na sala.

As emoções que havia em meu peito se tornaram ainda mais fortes e


eu não contive mais as minhas lágrimas, principalmente ao ver que Isis
também se entregou ao pranto ao ouvir o chorinho do nosso bebê. Se

escutar o coração dele batendo no ultrassom foi algo mágico, aquele som
que representava o início de uma vida, a vida de um serzinho tão amado por

nós, era muito mais.

— Théos! — murmurei, paralisado, apertando a mão dela com força,


não prestando atenção naquilo que a obstetra falava a respeito do peso dele

e o comprimento.

— Meu bebê! — Isis sussurrou ao me encarar.

Ficamos absortos, olhando um para o outro, abobados, até que um


técnico se aproximou com um pacotinho no colo. Minha esposa sorria e

chorava ao mesmo tempo. O cansaço em suas feições pareceu ter se

evaporado em meio a expectativa de ver o rosto do bebê.


— Quer segurá-lo, mamãe? — questionou em inglês.

— Por favor!

Sentou-se na maca e estendeu os braços para receber Philippos. Por


um momento só contemplei, através das minhas lágrimas, Isis fitar o nosso

bebê amorosamente. Eu perdi o meu fôlego quando ela deixou um beijinho

na sua testinha, e eu soube que eternizaria essa imagem dos dois para

sempre no meu coração, que parecia prestes a explodir.


— Ele é lindo — ela comentou.
Finalmente olhei para o rostinho do meu pequeno e tive que me

segurar na maca para não ir ao chão. Com um topete preto no topo da

cabecinha, a expressão franzida pelo choro e ainda sujo dos líquidos, ele era
realmente lindo, muito lindo. E eu poderia cair de joelhos perante a ele. O

gios mou[28]!
— Tão lindo quanto a mãe — sussurrei.

— Ele não se parece muito comigo... — Pelo tom dela, parecia

insegura, e eu não gostei muito do temor dela com relação a isso. Deixou
outro beijo na testa de Philippos.

Realmente se parecia e muito com o homem que, depois de receber

vários processos por calúnia e difamação, sumiu do mapa. Covarde!

— Não, não parece — respondi com a voz embargada, não querendo


que aquele momento fosse estragado por aquele filho da puta.

Com certa hesitação, toquei a mãozinha enrugada, sentindo um

choque de várias emoções ao ter a pele delicada contra a minha. Nunca


imaginei que isso fosse possível, mas era como se eu fosse um novo

homem, um completo.

— Mas ele é lindo, agápi, e sempre será o outro dono do meu

coração. Eu serei eternamente o melhor amigo dele, o protetor, o


confidente, o conselheiro, o pai dele... — continuei, deixando as emoções

falarem por mim.


Minha esposa soluçou quando inclinei para beijar a mãozinha

lambrecada dele, e ficamos naquele momento em família até que o


enfermeiro se aproximou, dizendo que Philippos precisava ter a sua

primeira mamada, o que seria bom para ambos. Tentei prestar atenção nas

instruções dadas pelo homem, mas não conseguia deixar de fitar o


pequenino, ainda mais quando ele encontrou o bico do seio de Isis e passou

a sugá-lo, pelo menos eu achava que sim.

A cena de mãe e filho pele contra pele, a ternura no olhar da minha

esposa, bem como o sorriso bobo dela, levou-me às lágrimas outra vez.
Querendo fazer parte daquele momento poderoso, deixei um beijo na

testa suada de Isis, e toquei os dedinhos bem-feitos do garotinho, que se

moveram com o contato. Suspirei.


— Quer segurá-lo? — Isis perguntou depois de ter passado um tempo

que ele havia terminado de mamar.

— Eu…

Engoli em seco ao sentir os meus dedos ficarem um pouco trêmulos.


Philippos parecia tão frágil, tão molinho... Eu temia machucá-lo com as

minhas mãos que agora me pareciam desastradas demais.

— Aquiles?
— Sim… — meu tom soou embargado.

Respirei fundo várias vezes para controlar os meus temores.


O enfermeiro me explicou como faríamos para passar o bebê do colo

dela para o meu, e em um minuto eu tinha o dedo indicador e o polegar de

uma mão em contato com a cabecinha, enquanto o anelar e o mínimo da

outra apoiavam suas costinhas.

— O bampás se agapáei[29] — sussurrei para o meu primogênito,


controlando as minhas lágrimas para não o molhar. O amor pulsava a cada

batida do meu coração, incontrolavelmente, visceralmente.

Infelizmente, Philippos logo foi tirado do meu colo e levado para os

primeiros exames, enquanto a médica terminava com os cuidados pós-parto


de Isis, para que ela pudesse ir para o quarto e esperar nosso bebê lá.

Enquanto a obstetra cuidava da minha mulher, entrelacei meus dedos

novamente aos dela  e dei um beijo na ponta do seu nariz.


— Eu amo você e o nosso bebê! — falei pela milésima vez,

acariciando o rosto molhado dela com a minha mão livre.

— Eu também amo você, Aquiles.

Sorriu e eu rocei meus lábios nos dela, beijando-a suavemente,


comemorando a nossa família, torcendo que, no futuro, aumentasse ainda

mais.
Capítulo trinta e sete

 
— A água está boa, Kaius? — questionei meu marido que, enquanto

eu segurava o menininho, enchia a banheira para darmos banho no nosso


netinho.

— Está perfeita!

— Ótimo! Tudo que eu preciso está perto?


Com cuidado, levantei-me da poltrona e aproximei-me do trocador

para tirar o macacãozinho dele e depois a fralda.

— Pode fazer quase trinta anos que eu não dou um banho em um


bebê, agápi mou, mas ainda me recordo do que é preciso para dar um banho
em Philippos — Kaius disse suavemente.

— Ok.
Me senti um pouco sem graça, principalmente quando, depois de

deitar meu neto no suporte, com o canto do olho, vi que ele tinha pegado até

mesmo cotonete.
Comecei a remover a roupinha do Philippos. Estava bastante

empolgada em poder dar meu primeiro banho nele, e talvez estivesse sendo

exagerada com o meu zelo. Essa tarefa poderia parecer pouco significativa,
mas, para mim, era bastante especial já que através dela eu me conectava

ainda mais com o meu neto. Meu amor por ele se tornava ainda mais forte a

cada dia.
Mesmo que minha nora ainda estivesse se recuperando do puerpério e

do parto normal, eu só podia agradecer Isis por me permitir ter aqueles


momentos com o bebê. Quando dei à luz a Aquiles, nas primeiras semanas,

eu não deixava ninguém chegar perto, então sabia que ela nos dar essa

liberdade a sós com nosso netinho era um presente.

Poder tocá-lo, sentir o calor da minha pele contra a dele, me deixava

sempre à beira das lágrimas com a emoção, fora que também tinha um quê

de nostalgia e me fazia recordar do meu menininho que hoje era um homem


feito.
— Não precisa ficar amuada, amor, só não quero que você me ache
um inútil. — Kaius se aproximou de nós e tocou o meu ombro, tirando-me

dos meus pensamentos.

— Você não é inútil, sempre foi muito prestativo. — O defendi de si

mesmo, e fui pegar um lencinho umedecido para limpar o resto de pomada

antiassaduras nas dobrinhas de Philippos.

Virei-me para meu marido e pisquei para ele, que riu baixinho e
deixou um beijo estalado na minha bochecha.

Suspirei. Como era apaixonada por ele! Poderia passar milhares de

anos, mas eu tinha certeza de que ainda continuaria amando aquele homem,

como eu amo o meu filho, minha nora e, agora, o meu netinho.

— Você foi um excelente pai, Kaius, sempre presente, ajudando-me

em tudo, e tenho certeza que será o melhor avô do mundo!

— E você, a vovó mais coruja, ou melhor, já é. — Voltou a gargalhar,


ainda bem que não assustou Philippos.

— Sim, e pretendo ser ainda mais — retruquei, emocionada.

Ele poderia não ter o meu sangue, mas o menininho era um pedaço de

mim, e não havia nada no mundo que eu não faria por ele.

Assim que descobri que seria avó, soube que daria minha vida por

ele, e depois de tê-lo pegado no colo, dias atrás, tive ainda mais certeza
disso, da mesma forma que não tinha dúvidas que Kaius também faria o

mesmo.
Sem perder mais tempo com divagações, pegando Philippos no colo

como o pacotinho precioso que era, levei-o até a banheirinha, não contendo
um sorriso apaixonado ao ver as mãozinhas dele se mexendo.
Contive minha vontade de beijar os dedinhos e iniciei o banho pela

cabecinha, passando um pouco de água no seu topetinho. O cenho de


Philippos se franziu um pouco e eu pensei que o pequeno iria chorar, como

minha nora falou que poderia ocorrer, mesmo que o banho já fizesse parte
da rotina dele, mas ele apenas continuou a agitar as mãozinhas.

— Nosso neto é tão perfeito! Nunca vou me cansar de amá-lo —


Kaius sussurrou com a voz embargada, que não conseguia esconder o seu
orgulho.

Ele me passou um pedacinho de algodão para que eu pudesse passar o


sabão sobre a pele frágil.

— Sim — falei, não conseguindo conter a emoção.


Kaius tocou o pezinho dele e nosso neto o moveu, para o deleite do

meu marido.
— Espero que eles nos deem uma casa cheia de netos — murmurei,
limpando suavemente as dobrinhas dele.
— Algo me diz que sim, ainda mais quando os dois estão

apaixonados por ele, principalmente Aquiles. — Fez uma pausa, adotando


um tom conspiratório enquanto virava o bebê para limpar a parte de trás: —

E se for o caso, você pode maquinar outra vez.


— Kaius! — Tive que me conter para não gritar, o que incomodaria

meu neto.
Com o canto do olho, o vi dar de ombros.
— Não menti em nenhum momento, agápi mou, seu plano foi de

gênio, mas não é novidade nenhuma para mim, tudo em você é brilhante —
prosseguiu naquele tom de companheirismo.

Dei uma risadinha. Não adiantava negar, aquele homem me conhecia


bem, também, depois de mais de três décadas juntos, não tinha como ele
não ter desvendado cada faceta minha.

Senti o orgulho de mim mesma se espalhar pelo meu corpo, junto as


ondas de prazer por Kaius me achar fantástica.

— Foi espetacular, não? — admiti as minhas maquinações,


continuando a dar banho no bebê.

— Muito!
Embora a festa tenha sido um sucesso, sendo comentada bastante por
todos, atraindo vários novos clientes pelo mundo para minha agência, e

minha agenda de organização de casamentos para os próximos meses estar


fechada, a reputação da minha empresa nunca esteve em questão. Ainda que
eu tenha tido que usar todo o meu arsenal dramático, eu só quis dar uma
mãozinha para o meu filho, que, se dependesse dele, iria continuar solteirão

o resto da vida.
— Embora o plano do nosso filho também tenha sido excelente —

falou.
— Demais… — balancei a cabeça em negativa —, mas eu fico feliz
que, no fim, ele acabou se apaixonando de verdade e ganhou uma família

linda…
Nem por um momento imaginei que Aquiles fosse fingir um noivado

de mentirinha só para me enganar.


Nesse momento, o garotinho franziu o cenho, como se o banho não o

agradasse mais. 
— Eu mais… — Antes que pudesse completar a frase, nossa conversa
foi interrompida pelo choro baixinho do nosso netinho.

— Não, meu amor, vovó está quase terminando — sussurrei e tentei


dar o banho mais rápido possível enquanto Kaius tentava distraí-lo, falando

com ele.
Pouco tempo depois, seco, de fralda e roupinha limpa, entreguei meu
netinho para Isis, e eu e meu marido ficamos contemplando Philippos

enquanto mamava no peito da sua mamãe.


Poderiam me chamar de dramática, emotiva, tudo bem, eu realmente
era, mas acabei chorando, mais uma vez, ao fitar Aquiles, que parecia
completamente apaixonado e encantado pelo seu filho.
Epílogo

 
— O tempo passa tão rápido... — minha sogra comentou ao ver

Aquiles e Kaius correndo atrás das crianças e dos cachorros, que brincavam
e gritavam no imenso gramado da villa deles em Corfu, que era tão bonita

quanto a do meu marido.

— Sim… — Fui obrigada a concordar.


Muitas coisas haviam ocorrido ao longo desses seis anos.

Eu e Aquiles, o homem que a cada dia que passava amava mais,

havíamos comprado uma enorme mansão em Long Island, que ficava bem
próxima a casa dos vovôs corujas, que tentavam participar ativamente da

vida dos netos mesmo com os seus afazeres e negócios.


Lidar com a maternidade e com a minha carreira ao mesmo tempo

não foi fácil, mas, com o apoio e mentoria do meu marido, acabei me

tornando a presidente-executiva de uma das empresas do meu sogro, para o


desgosto do meu esposo, que queria que eu estivesse a frente de uma das

suas companhias, especialmente uma que ele havia injetado dinheiro há

dois anos.
Mesmo com as birras do grego e suas alfinetadas em Kaius, eu não

poderia estar mais satisfeita com a minha escolha. Eu me realizava

profissionalmente todos os dias, e tentava sempre melhorar o meu


desempenho e aprender mais com os dois.

No entanto, sem dúvidas, a maior surpresa nesse tempo todo era eu


ter ficado grávida de gêmeos, exatamente duas primaveras depois de ganhar

Philippos, para o deleite não apenas meu e de Aquiles, mas também do meu

sogro e principalmente de Agatha, que fez questão de traçar praticamente

toda a linha genealógica dos Mavridis e também dos Papanastasiou em

busca de gêmeos na família, que, para decepção dela, havia aos montes.

— Parece que foi ontem que eu estava segurando-os no colo, dando


frutas amassadas nas boquinhas deles…
Suspirou dramaticamente, balançando as suas pulseiras, e eu sorri,
pois já estava mais do que acostumada ao drama da minha sogra e melhor

amiga.

— Vocês não pensam em ter outro? — disse em tom de confidência,

que tinha também uma pontada de esperança. — Quem sabe tentar até

conseguir uma menina…

— Deus, Agatha! — Dei um gritinho, que rivalizava com os dela, e


encarei a minha sogra, atônita. — Acho que três está de bom tamanho!

Fez biquinho.

— Não custava tentar.

Agatha balançou a mão de jeito cômico, fazendo suas pulseiras

tilintarem outra vez, e eu acabei gargalhando, ela se juntando a mim logo

depois.

Continuamos a rir, e ficamos ali apreciando as brincadeiras dos


garotos, tagarelando sobre coisas sem importância.

— Você viu o noticiário? — Ela ficou séria de repente e eu voltei a

fitá-la. Provavelmente não gostaria muito do que Agatha falaria, já que ela e

seriedade não combinavam muito.

— O quê? — Não contive minha apreensão.

— Seu ex foi preso na fronteira da Colômbia com o Brasil tentando


entrar no país com drogas… — falou suavemente.
Fazia alguns anos que não ouvia falar de Benedict. Para ser exata,

depois que os advogados do meu marido o depenaram nos tribunais por


calúnia e difamação e que houve a audiência de custódia, em que eu e

Aquiles ganhamos a guarda unilateral do meu filho, ele havia evaporado.


Poderia pedir aos investigadores do meu marido para caçá-lo outra vez, mas
eu acabei concordando com Aquiles, que disse que não tínhamos que ter

esse homem como uma sombra na nossa felicidade, tínhamos que pensar só
na nossa família.

— Mesmo? — Não escondi a minha surpresa, embora de um homem


como ele se pudesse esperar de tudo.

— Sim… Ele vai ficar anos preso.


— Entendi.
— Bem feito! — completou, e a gargalhada dela ecoou por todo o

jardim.
— Vó, vó — o pequeno Lysandros começou a gritar por Agatha,

correndo na nossa direção sob a supervisão do pai e do avô. que estavam


atentos aos três.

Dois cachorros o seguiam, latindo freneticamente.


— Vovó — Philippos aumentou o coro, também correndo em nossa
direção.

— Que foi, ágapes mous?


A mulher abriu um sorriso enorme, já que não havia nada que ela

gostasse mais do que conversar e brincar com os netos, e eu acabei sorrindo


também. Ela abraçou um e depois o outro, deixando um beijo estalado na

bochecha dos meninos, o que os fez darem gritinhos.


Só tinha a agradecer a ela e a Kaius por nunca terem feito nenhuma

distinção entre o meu primogênito e os gêmeos, pelo contrário, eles os


mimavam e amavam da mesma forma.
— Binca na plaia? — Ícaro perguntou, balançando o pezinho, e

minha sogra pareceu ainda mais deliciada.


Agatha apertou a bochecha gordinha dele, dando atenção também

para um dos cachorros, que adorava cheirar o perfume dela.


— Vovô vai nos levar lá — Philippos falou num tom animado, dando
pulinhos no lugar.

— Pô favo — Lysandros pediu.

— Vai ser legal, pappoús.[30] — Meu primogênito tentou convencê-la.

— Por que não? — disse animadamente, se erguendo num salto.


Um eeeee de três pequeninos, misturado aos latidos dos cãezinhos,
voltou a soar junto com a gargalhada de Agatha, que deu a mão para

Philippos e Lysandros.
— E eu? Não vou ser convidada? — Fiz um bico enorme ao me

levantar.
— Sim, mamã. — Ícaro veio até mim e estendeu os bracinhos na
minha direção.
— Obrigada, meu amor — falei.

Pegando-o no colo, deixei um beijo na sua testa antes de começar a


seguir Agatha, que cantava uma música infantil em grego em meio aos sons

dos cachorros. Logo nos juntamos aos nossos maridos.


Depois de pegar algumas coisas dentro de casa, rindo, brincando,
cantando e nos divertindo, nós sete e dois cachorrinhos, componentes da

nossa grande família grega, tivemos outra tarde maravilhosa, dentre as


inúmeras que ainda teríamos durante as várias férias de verão que

passaríamos juntos.
 
Agradecimentos
 

Mãe, mais um livro terminado e eu aqui sem você, todos os dias,


sentindo a sua falta. É doloroso pensar que você não está aqui para ler mais

essa história, ou me pedir mais um capítulo, mas o amor que você sente por
mim me dá forças para continuar essa jornada. De algum lugar, sei que você
está torcendo por mim e comemorando cada uma das minhas pequenas

vitórias.
Amanda, irmã, não sei o que seria da minha vida sem você. As
palavras não conseguem definir o quanto te amo, o quanto eu sou grata por
você estar, dia após dia, me oferecendo consolo, me abraçando nas crises de

pânico, e também por ler o meu trabalho mesmo odiando esse tipo de
história. Você e minha mãe são os meus maiores amores.

Ana, Fadinha, que entrou na minha vida junto com o Pedro. Eu não
agradeço apenas o carinho enorme que você tem pelo meu trabalho, mas,

sim, o fato de você ser minha amiga. Sua amizade é a coisa mais importante
para mim. Sua torcida, seu carinho, seu abraço, são valiosos. Te amo,

amiga.

Um agradecimento especial para as meninas do meu grupo de


WhatsApp que se tornaram minhas verdadeiras amigas: Amanda, Franciara,
Eulália, Dina, Danny, Patrícia, Valdete, Iandra, Gisele, Edna, Fernanda,

Nedja, Débora, Cristina, Ionara, Glei, Yslai, Ju, Leila, Thaty, Wilzanete,
Helenir, Helineh, Tatiane, Talita, Rosi, Eryka, Mari, Roseane, Elisângela,

Dri, Vânia, Thais A., Valéria, Jennifer, Ellen, Caroline C., Mônia, Athina,

Adriana, Larissa, Patrícia, Abigail, Michelly, Caroline, Regina, Jéh, Nalu,


Rosana, Naiane, Cris, Danusa, Maria, Juscelina, Bianca, Kiola, Lauryen,

Laís, Natália, Luciana (Nana), Márcia, Isabella, Kelliane, Bárbara, Karol,

Roseane, Nay, Rose, Adriana, Edi, Beeh, Sirleni, Kaká, Jéssica Luiza,
Vanessa, Paulinha, Fabi, Erika, Juhh, Thamy, Sueli, Lizzi, Cami, Kelly,

Naiane, Vera, Isis, Ariane, Naira, Fátima, Fernanda, Eugênia, Lara, Eliaci,

Emily, Lindce, Geudyvania, Amanda Leite, Sandra, Amanda Regina,


Simone, e Isis.

Agradeço também as autoras Maria Amanda Dantas, Alicia


Bianchi, K. Fritiz, Monique Fernandes, Heidy Silva, Nathany Teixeira e

Danielle Viegas Martins pelo apoio, por ouvir meus desabafos e várias

vezes me ajudar a destravar.

Por fim, meu muito obrigada a você, leitora, que se interessou por

essa história, que gosta da minha escrita, que me manda mensagens nas

redes sociais, que vem bater um papo no direct. Vocês me motivam a trazer
mais mocinhos cadelas e apaixonados!
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Sinopse:  

Cowboy protetor e infértil + virgem + bebê fofo + segundas chances

Herdeiro de vários hectares de terras cultivadas, João Miguel desde criança

teve uma relação conturbada com o seu avô, Leôncio Fontes, um homem de
coração ruim que plantava maldade onde pisava.

Quando Leôncio demite vários trabalhadores, inclusive o Zé, um


empregado da fazenda que tem João como um filho e que ensinou ao

menino o amor pela terra, pelos animais e pelas pessoas, o garoto quase

cometeu uma besteira, mas é impedido pelo bondoso homem. Nesse mesmo
dia, o adolescente jurou, em meio a despedida, que faria de tudo pelo seu

pai de coração. O que o milionário não esperava era que essa promessa iria

ser cobrada, nove anos depois, por uma garota que fugiu com uma bebê que
não era dela e que precisava da sua proteção, muito menos que ao oferecer

refúgio para elas, o cowboy ganharia uma linda família inesperada…

Atenção: Livro independente com começo, meio e fim, sem gancho para outra história.
Sobre a autora
Mineira, se apaixonou por romances há alguns anos, quando

comprou e devorou um romance de banca que adquiriu em um

supermercado. Após aquela leitura, não parou mais de comprar livros e ler.
Encontrou no mundo da literatura um lugar de prazer e refúgio. E agora se

aventura em escrever suas próprias histórias.  


 
Siga Aline no Instagram:
https://www.instagram.com/autoraalinedamasceno/

 
 

 
 

[1]
Meu amor
[2]
Meu filho.
[3]
Deus
[4]
Meu anjo.
[5]
Prato feito com berinjelas, tomates e carne de cordeiro dispostos em camada em um refratário,
cobertas com molho branco. A moussaka é conhecida como lasanha grega.
[6]
Meu anjo.
[7]
Meu filho.
[8]
Caralho.
[9]
Analogia a tragédia grega Medeia, em que, cega pela rejeição do pai dos seus filhos que queria
casar com outra mulher, mata os filhos que teve com ele para se vingar.
[10]
Maldito!
[11]
Expressão francesa para designar composição de cores e elementos variados. No caso, é um prato
assado em que as cores e cortes dos legumes, frutas, ou frutos do mar, combinam entre si,
construindo uma composição harmônica de visual e sabor.
[12]
Pai.
[13]
Mãe.
[14]
Estou completamente louco por você, meu anjo.
[15]
Vovô.
[16]
Neto amado.
[17]
Mãe.
[18]
Perfeita.
[19]
Caralho.
[20]
Inferno, mulher.
[21]
Minha deusa.
[22]
Cristo.
[23]
Gostosa.
[24]
Muito gostosa.
[25]
Que inferno
[26]
Gostosa.
[27]
Espécie de lasanha feita com beringela, carne de cordeiro e especiarias.
[28]
Meu filho.
[29]
Papai te ama.
[30]
Vovó.

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