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Introdução ao Direito Constitucional |

Introdução

DISCIPLINA
INTRODUÇÃO AO DIREITO
CONSTITUCIONAL

CONTEÚDO

Controle Difuso de
Constitucionalidade no Brasil

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Introdução ao Direito Constitucional |

Introdução

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Introdução

Sumário
Sumário------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3
1 Introdução --------------------------------------------------------------------------------------------------- 4
2 Controle de constitucionalidade ----------------------------------------------------------------------- 4
2.1 Princípios norteadores ------------------------------------------------------------------------------------------------- 5
2.2 Formas de inconstitucionalidade ------------------------------------------------------------------------------------ 6
3 Espécies de controle de constitucionalidade ------------------------------------------------------- 7
3.1 Controle difuso de constitucionalidade ---------------------------------------------------------------------------- 8
3.2 Caso Madison vs. Marbury -------------------------------------------------------------------------------------------- 9
3.3 Controle de constitucionalidade no Brasil ---------------------------------------------------------------------- 11
4 Conclusão --------------------------------------------------------------------------------------------------- 14
5 Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------------------ 15

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Introdução

1 Introdução
Por muito tempo o mundo viveu a sombra de regimes absolutistas, sob o comando
de reis e imperadores, que monopolizavam todo o poder em suas mãos. Contudo, na
tentativa de limitar o poder arbitrário dos monarcas, buscando uma efetividade maior
dos direitos humanitários, a população torna-se, cada vez mais, adepta dos
movimentos constitucionalistas que despontavam na época. Depois que as primeiras
constituições foram proclamadas, tornaram-se a lei máxima dos Estados, assegurando
direitos e garantias fundamentais a população.

Todas as normas presentes no ordenamento jurídico brasileiro já nascem com uma


presunção relativa de constitucionalidade. No entanto, caso seja observada alguma
violação ou inconsistência no texto legal, a norma estará sujeita ao controle de
constitucionalidade, que poderá ser realizado antes da norma entrar em vigor, de
forma preventiva, ou depois de sua entrada em vigor, hipótese em que o controle será
realizado de forma difusa ou concentrada.

O controle de constitucionalidade seguirá alguns princípios específicos e se oporá a


todas as formas de inconstitucionalidade da norma, realizado pelo Congresso
Nacional no Legislativo, pelo veto do Presidente da República no Executivo e,
excepcionalmente, pelo Supremo Tribunal Federal no Judiciário se realizado antes da
norma entrar em vigência, ou pelo Poder Judiciário, através do sistema concentrado
ou difuso, se a norma já estiver vigente.

2 Controle de constitucionalidade
De acordo com Dimitri Dimoulos e Soraya Lunardi (2016) o movimento
constitucionalista surge durante os séculos XVIII e XIX, e pode ser definido como “a
proposta e reivindicação política de limitar o poder do Estado mediante a criação de
uma Constituição que não possa ser modificada pelo legislador e garanta os direitos
dos cidadãos e a democracia representativa”. É nesse contexto que surge a presunção
de constitucionalidade das normas, pois, presume-se que o legislador, ao elaborar as
leis, se atente as premissas constitucionais, já que ela é a lei maior e goza de presunção
absoluta de constitucionalidade.

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Controle de constitucionalidade

No entanto, embora deva, não é exatamente assim que ocorre na vida prática, tanto
que no século XX, após a independência dos Estados Unidos da América, surge o
sistema de controle difuso de constitucionalidade das leis, através do caso Madison
vs. Marbury, se expandindo, posteriormente, para a Europa Ocidental, mais
especificamente na Áustria que, não seguiu o modelo estadunidense de controle de
constitucionalidade, mas criou o controle concentrado de constitucionalidade.

Nas palavras de Bernardo Fernandes (2020), “o controle de constitucionalidade visa


garantir a supremacia e a defesa das normas constitucionais (explícitas ou implícitas)
frente a possíveis usurpações, devendo ser entendido como a verificação de
compatibilidade (ou adequação) de leis ou atos normativos em relação a uma
Constituição, no que tange ao preenchimento de requisitos formais e materiais que
as leis ou os atos normativos devem necessariamente observar”.

O controle de constitucionalidade é o meio utilizado para aferir a compatibilidade das


normas infraconstitucionais e, eventualmente, de Emendas Constitucionais com os
preceitos indicados na Magna Carta. Assim, Flávia Bahia (2017) defende que “em suma,
o controle de constitucionalidade visa proteger a supremacia da Constituição, a
unidade do ordenamento jurídico e os nossos direitos e garantias fundamentais. A
fiscalização, portanto, visa verificar a compatibilidade material e formal das normas
produzidas no País para com a CRFB/88”.

2.1 Princípios norteadores

Assim como diversos aspectos no direito, o controle de constitucionalidade possui


alguns princípios básicos que o norteiam, são os princípios da supremacia da
constituição, da presunção de constitucionalidade e da rigidez constitucional. Todo o
processo de constitucionalidade deve seguir essas diretrizes.

PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO


Esse princípio confere a Constituição um status superior com relação a outras
normas, vedando que o conteúdo de outras leis infrinja as premissas constitucionais.

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Controle de constitucionalidade

Nas palavras de Flávia Bahia (2017) “as leis em sentido amplo devem se conformar
formal e materialmente em face dessas regras maiores”.

PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE


Embora toda lei já nasça com um presunção relativa de constitucionalidade,
produzindo todos os seus efeitos, poderá ser declarada inconstitucional se for
contra o texto constitucional, pois, de acordo com Flávia Bahia (2017) “somente
gozam de presunção absoluta as normas constitucionais originárias (ADI 185).
Eventuais conflitos serão resolvidos com base nos princípios integradores”.

PRINCÍPIO DA RIGIDEZ CONSTITUCIONAL


O princípio da rigidez constitucional se comunica com o princípio da supremacia da
constituição, pois, já que a Magna Carta ocupa uma posição superior com relação a
outras normas, a alteração do seu texto não deve ser tão simples, é preciso seguir
um procedimento solene, já que as premissas lá contidas servirão como base para
todo o ordenamento jurídico infraconstitucional.

2.2 Formas de inconstitucionalidade

Para que a norma seja declarada inconstitucional, é preciso que exista alguma violação
ao texto constitucional que, poderá ocorrer de diversas formas. Seguindo a doutrina
de Flávia Bahia (2017), a inconstitucionalidade da norma poderá ser total ou parcial,
por ação ou omissão, ou no seu aspecto material ou formal, esta última se
subdividindo em objetiva/propriamente dita e subjetiva/orgânica. No entanto, é
válido destacar que, cada doutrinador confere uma classificação distinta para as
diversas formas de inconstitucionalidade da norma, então, é possível que, no decorrer
dos seus estudos, você se depare com nomenclaturas distintas ou com novas formas
de classificação.

Assim, a inconstitucionalidade total da norma é verificada quando o texto da lei ou


do ato normativo viola completamente o texto constitucional. Por outro lado, a
inconstitucionalidade parcial, como o próprio nome já diz, é corrompido em partes
e não na sua integralidade. Além disso, no caso da nulidade parcial, Flávia Bahia (2017)
destaca que, após retirado o trecho inconstitucional da norma, poderá ocorrer duas
situações: a lei continuar válida e perdurar somente com a parte remanescente ou, se
dependente da parte inválida, considerar-se inválida na sua integralidade, embora não

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Espécies de controle de constitucionalidade

seja completamente inconstitucional.

Além disso, a norma será declarada inconstitucional por ação, através de uma
conduta ativa do legislador que, elabora leis em desacordo com o texto constitucional,
geralmente essa forma de inconstitucionalidade será combatida por meio de Ação
Direta de Inconstitucionalidade (ADI). Já a inconstitucionalidade da norma por
omissão, ocorre quando o legislador deixa de fazer algo, se mantem inerte diante de
determinada situação em que a lei exija que ele se manifeste.

Neste sentido, Bernardo Fernandes (2020) afirma que “a omissão, atualmente, vem
sendo classificada como total (absoluta) ou parcial. A omissão total ocorre na hipótese
de ausência de norma para viabilizar direito previstos na Constituição, ou seja, nesse
caso o legislador realmente não empreendeu a providência legislativa devida. Já a
omissão parcial ocorre quando existe ato normativo, mas é insuficiente (insatisfatório)
para a viabilização adequada de direitos previstos na Constituição”. A
inconstitucionalidade por omissão é combatida através da Ação Direta de
Inconstitucionalidade por Omissão, o chamado ADO, que discute a inexistência de lei
para regular determinada matéria.

Ainda, é possível que ocorra a inconstitucionalidade material da norma, quando “a


espécie normativa, no todo ou em parte, contraria o conteúdo de normas ou princípios
constitucionais” (BAHIA, 2017). Ademais, a norma também poderá ser declarada
inconstitucional no seu aspecto formal, verificada no processo legislativo da norma
– inconstitucionalidade formal objetiva ou propriamente dita – ou quando houver
vícios de competência – inconstitucionalidade formal subjetiva ou orgânica –, ou seja,
em suma, o vício formal está associado a formação da lei ou do ato normativo e pode
ser classificado como objetivo/propriamente dito ou subjetivo/orgânico.

3 Espécies de controle de constitucionalidade


Conforme vimos anteriormente, o controle de constitucionalidade pode ser analisado
por duas matrizes ou sistemas de controle distintos. O primeiro idealizado pela
Suprema Corte Americana, deu origem ao controle difuso de constitucionalidade,

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Espécies de controle de constitucionalidade

através do julgamento do caso Madison vs. Marbury, e a segunda, elaborada pelo


jurista e filosofo Hans Kelsen, na promulgação da Constituição da Áustria em 1920,
promovendo o controle concentrado de constitucionalidade.

O controle concentrado de constitucionalidade das normas é idealizado pelo austríaco


Hans Kelsen, na elaboração da Constituição da Áustria em 1920. Esse sistema presume
a criação de uma “Corte” ou de um “Tribunal Constitucional” que, será o único órgão
legítimo para analisar os casos de inconstitucionalidade, daí o nome, controle
concentrado, pois, todos os casos se reúnem em um único local. Além disso, a
declaração de inconstitucionalidade gerará efeitos ex nunc, cabendo a Corte
Constitucional a prerrogativa de anulá-lo. No entanto, esse modelo não será objeto
do nosso material de estudo, portanto não vamos nos aprofundar muito neste tópico,
quanto no controle difuso de constitucionalidade.

3.1 Controle difuso de constitucionalidade

A origem do controle difuso de constitucionalidade tem suas origens na Suprema


Corte Americana, aproximadamente em 1803, durante o julgamento do famoso caso
Madison vs. Marbury, é nesse contexto que surge a ideia de supremacia da
Constituição, assim como o controle de constitucionalidade das leis, o qual,
posteriormente, seria classificado como difuso. Na ocasião, conforme destaca Nathalia
Masson (2020), “o relator, juiz John Marshall, afirmou a prevalência da Constituição
enquanto norma fundamental do País e, por consequência, a obrigatoriedade para
todos os órgãos judiciários americanos de decidirem em harmonia com ela”.

Nas palavras de Bernardo Fernandes (2020) o controle difuso de constitucionalidade,


seguindo o modelo norte-americano, é feito por todos os membros do Poder
Judiciário – todos os juízes e tribunais – de forma hodiernamente, por isso recebe o
nome de controle difuso. Além disso, o autor destaca ainda que, neste modelo, o
controle é sempre aplicado a casos concretos, que de alguma forma passariam pelo
controle judicial, através do “desempenho comum de sua função jurisdicional,
controlando-se a constitucionalidade de modo incidental e gerando efeitos
tradicionalmente intitulados de inter partes” e ex tunc, “sendo o ato normativo
considerado inconstitucional desde o dia em que surgiu no ordenamento”, diferente

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Espécies de controle de constitucionalidade

do que ocorre no modelo austríaco (controle concentrado), cuja decisão produz


efeitos erga omnes e ex nunc.

No mesmo sentido, mas de forma suscinta, Flávia Bahia (2017) também define o
controle difuso de constitucionalidade como aquele “exercido por via de exceção ou
de defesa e permite que qualquer órgão do Poder Judiciário tenha competência para
realizar, no caso concreto, a análise sobre a compatibilidade do ordenamento jurídico
com o ordenamento constitucional”.

Ademais, de acordo com Nathalia Masson (2020) “nesta modalidade de controle, em


que se faz a fiscalização concreta de constitucionalidade, qualquer juiz ou Tribunal do
Poder Judiciário possui competência para verificar a legitimidade constitucional dos
atos estatais, não havendo nenhuma restrição quanto ao tipo de processo. Além disso,
a autora destaca ainda que, “nessa via de controle, o juízo de verificação da
compatibilidade da norma com o texto constitucional não é a questão principal
(objeto da ação), mas, tão somente, uma questão prejudicial, isto é, um antecedente
lógico a ser resolvido antes de se passar a questão principal”.

3.2 Caso Madison vs. Marbury

Em 1800, durante as eleições norte-americanas, os republicanos levaram a melhor e,


por várias razões, venceram a eleição presidencial com o candidato Thomas Jefferson.
Os federalistas, através do Presidente John Adams, em um último ato de esperança,
buscando manter uma parcela do seu político, propõe uma lei para nomeação de 42
juízes, em sua maioria federalistas, para atuar nos distritos de Columbia e Alexandria.

A lei é aprovada sem demora e, os nomes dos 42 juízes são confirmados um dia antes
da posse do novo Presidente. No último dia do seu mandato, o Presidente John Adams
assinou todos os atos de investidura, que deveriam ser entregues a todos os novos
juízes pelo Secretário de Estado John Marshall, o qual também assumiria o cargo de
Presidente na Suprema Corte Americana, ao final do mandado presidencial.

No entanto, devido ao pouco tempo, Marshall não conseguiu entregar todos os atos

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Espécies de controle de constitucionalidade

de investidura aos juízes, e o novo secretário, James Madison, do recém-empossado


Thomas Jefferson, se recusou a entregar os atos faltantes, dentre os quais se
encontrava o do Sr. William Marbury. Os atos de investidura não entregues foram
excluídos e, diante da recusa de Madison em entregar o seu, Marbury ingressou com
uma ação originária perante a Suprema Corte Americana, requerendo uma ordem de
mandamus para submeter Madison a entregar o ato de investidura que lhe era de
direito.

O caso foi julgado em 1803 e a Suprema Corte entendeu que Marbury tinha direito à
investidura do cargo, com base na decisão do Congresso que autorizava a posse dos
juízes. Contudo, frente a decisão favorável, era necessário que houvesse um
instrumento capaz de garanti-la, como o writ of mandamus – mandado de segurança
–, cujo a Suprema Corte teria capacidade e competência para apreciar e julgar. Porém,
ao analisar a dita competência, o Marbury verificou que, havia um conflito entre o art.
3.º da Constituição e a decisão do Congresso que baseou a sentença que lhe foi
favorável (§ 13 do Judiciary Act de 1789).

Assim, diante do conflito entre uma lei infraconstitucional editada pelo Congresso e o
artigo da Constituição, o Juiz Marshall chegou a duas alternativas, a primeira era de
que a Constituição é uma lei suprema, incapaz de ser modificada e toda norma que
for contrária a ela será desconsiderada – ou declarada inconstitucional. Por outro lado,
a segunda alternativa é de que a Constituição se equipara as leis comuns e pode ser
modificada como o legislador bem entender, hipótese que, obviamente não foi aceita
pela corte.

Além disso, de acordo com Bernardo Fernandes (2020), diante do caso em concreto,
a suprema corte americana ficou entre duas possibilidades, a primeira estava
relacionada com a “adoção do critério cronológico, no qual lei posterior (ordinária
originada do parlamento ou de ato executivo) revoga lei anterior (no caso, norma
consubstanciada na Constituição)”, ou, como segunda alternativa, os magistrados
poderiam adotar o “critério hierárquico, no qual lei posterior (inferior originada do
parlamento ou de ato do executivo) não prevalece sobre lei anterior (superior
consubstanciada na Constituição)”.

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Espécies de controle de constitucionalidade

Por fim, nas palavras de Luiz Marinoni (2019) “o precedente firmado em Marbury vs.
Madison afirmou a superioridade da Constituição, outorgando-lhe caráter de lei que
subordina todas as outras. A partir daí, demonstrou que o judiciário, ao se deparar
com lei que contraria a Constituição, deve deixar de aplicá-la, simplesmente pela
circunstância de lhe incumbir interpretar as leis e eliminar os conflitos entre elas”. A
tese desenvolvida pelo juiz, na apreciação do caso foi tão importante e inovadora que,
posteriormente, ficou conhecida como a doutrina Marshall, dando origem ao controle
difuso de constitucionalidade que, posteriormente, influenciaria a doutrina Brasileira.

3.3 Controle de constitucionalidade no Brasil

O sistema de controle de constitucionalidade adotado pelo Brasil mescla tanto o


modelo norte-americano quanto o modelo europeu (austríaco), com algumas
características próprias, de modo que poderá ser realizado de forma preventiva –
antes da norma entrar em vigor – ou de forma repressiva – depois que a norma já está
em vigência no ordenamento jurídico pátrio.

O controle preventivo é aquele realizado pelo Poder Legislativo, pelo Poder Executivo
e, excepcionalmente pelo Poder Judiciário, antes da norma estar vigente no
ordenamento jurídico pátrio. O legislativo atuará no controle preventivo através das
Comissões de Constituição, Justiça e Cidadania, as chamadas CCJ, a qual analisará e
colocará em votação o projeto de lei ou de emenda constitucional, de modo que, face
a um parecer negativo, a lei será arquivada definitivamente. Além disso, o controle
preventivo de constitucionalidade também será exercido pelo Presidente da
República, o qual, através do veto presidencial, considerará a norma, no todo ou em
parte, inconstitucional ou contrária ao interesse público.

No mais, de forma excepcional, o controle preventivo também poderá ser realizado


pelo Supremo Tribunal Federal, órgão de mais alta instância no sistema judiciário
brasileiro, o qual tem o dever de, entre outros, zelar pela Constituição Federal e evitar
a promulgação de lei infraconstitucionais que violem as diretrizes constitucionais,
fazendo cessar desde logo o seu processo legislativo. No entanto o órgão não age de
ofício, o controle preventivo de constitucionalidade será suscitado no STF quando um
parlamentar (Poder Legislativo), através das Comissões de Constituição e Justiça,

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Espécies de controle de constitucionalidade

impetra um mandado de segurança no Supremo, requerendo a suspensão do


procedimento legislativo de determinado projeto de lei inconstitucional.

São legítimos para impetrar mandado de segurança, nestas condições, os membros


do órgão parlamentar, cujo qual tramita o projeto de lei ou a proposta de emenda
constitucional que viola o texto constitucional ou que não observa o devido processo
legislativo constitucional. O controle exercido, neste caso, é o concreto, pois, trata-se
de uma suposta violação ao direito constitucional.

Por outro lado, o controle repressivo de constitucionalidade é aquele exercido pelos


órgãos jurisdicionais, quando a norma já se encontra vigente no ordenamento jurídico
brasileiro e, de acordo com a doutrina, pode ser classificado em controle difuso ou
concentrado. Nas palavras de Dimitri Dimoulis e Soraya Lunardi (2016), “enquanto o
controle político costuma ser preventivo, o judicial é prevalentemente repressivo,
verificando a constitucionalidade após a criação da norma ou ato”. Assim,
“constatando-se a inconstitucionalidade, a decisão derroga o ato inconstitucional”.

O controle difuso adotado pelo Brasil se assemelha ao modelo norte-americano, vez


que pode ser feito em qualquer processo que tramite pelo sistema judiciário, pouco
importando sua natureza, se é de matéria cível ou penal, ou se o ente possui natureza
pública ou privada. Através desse processo, o juiz analisa o pedido de
inconstitucionalidade da lei, suscitado por uma das partes do processo e determina
se o pedido é legitimo ou não. No controle difuso de constitucionalidade, a sentença
do magistrado terá efeito ex tunc – a decisão retroage até a data da norma, tornando-
a inválida desde a sua origem – apenas entre as partes interessadas na lide, ressalvada
a possibilidade de o Senado Federal estender o efeito a todos, através de uma
resolução, conforme dispõe o art. 52, inciso X da CF/88.

Neste sentido, Bernardo Fernandes (2020) no caso do controle de constitucionalidade


exercido pelo modelo difuso-concreto adotado pelo Brasil, “os efeitos,
tradicionalmente, são o ex tunc e inter partes, pois, o que se julga é um caso concreto
e nele se declara incidentalmente a inconstitucionalidade de uma lei, então, será
necessário que se produza efeitos retroativos e somente para as partes envolvidas”.

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Espécies de controle de constitucionalidade

No modelo incidental, o controle de constitucionalidade das normas é realizado


por todo e qualquer juiz. Além disso, nesse método a sentença que declara a
inconstitucionalidade de determinada norma ou ato atingirá somente as partes
interessadas na lide, ainda que a decisão seja fruto de um recurso extraordinário
interposto no Supremo Tribunal Federal.

Contudo, embora o controle difuso tenha como regra os efeitos ex tunc e inter partes,
esse aspecto tem sido muito questionado no ordenamento jurídico pátrio. Uma das
exceções a esse entendimento é o já citado art. 52, inciso X da Constituição Federal
que, confere a prerrogativa ao Senado Federal de “suspender a execução, no todo ou
em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal
Federal”, ou seja, ainda que a inconstitucionalidade da norma tenha sido declarada
por meio de uma decisão fruto do controle difuso, é possível estender seus efeitos a
todos (erga omnes), por meio de uma resolução. Muito embora, até mesmo a
disposição do artigo, seja questionada pela doutrina, pois, há quem diga que isso não
passa de um obstáculo a adoção do sistema de precedentes vinculantes em sede de
controle difuso de constitucionalidade.

Além disso, é válido destacar a importância da Emenda Constitucional nº 45/2004 no


reconhecimento do efeito vinculante as decisões proferidas pelo Supremo Tribunal
Federal. O § 2º do art. 102 da Constituição Federal, alterado pela EC nº 45/2004
determina que “as decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal
Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de
constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente
aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública Direta e Indireta, nas
esferas federal, estadual e municipal”.

Ainda, de acordo com o art. 103-A da CF, também incluído pela EC nº 45/2004, “o
Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de
dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional,

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Conclusão

aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito
vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração
Pública Direta e Indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder
à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei”. Desta forma, a decisão
proferida em sede de controle de constitucionalidade, embora difuso, se inserida no
rol de enunciados, produzirá efeito erga omnes, pois trata-se da chamada súmula
vinculante.

Assim, podemos observar atualmente que o Supremo vem tentando minimizar as


diferenças entre o controle de constitucionalidade difuso e concentrado, através de
jurisprudências sobre o tema. Conforme destaca Pimenta (2010) a resolução senatorial
tem a sua importância gradativamente reduzida diante do surgimento das súmulas
vinculantes, pois, é através delas que uma decisão proferida em sede de recurso
ordinário, pode ter seus efeitos ampliados por meio do controle difuso. É inegável a
eficácia geral do controle incidental no processo constitucional brasileiro, vez que tem
o intuito de aperfeiçoar a prestação jurisdicional, principalmente no que toca a
consolidação das jurisprudências dos tribunais superiores.

4 Conclusão
O controle de constitucionalidade surge inicialmente nos EUA, após os movimentos
constitucionalistas que marcaram os séculos XVIII e XIX, com o julgamento do famoso
caso Madison vs. Marbury, que acabou dando origem ao controle difuso de
constitucionalidade, legitimando a supremacia da Constituição e que todo o sistema
judiciário deveria decidir com base nela. No entanto, o modelo norte-americano não
foi aceito em todo o mundo e, posteriormente, na Europa Ocidental, mais
especificamente na Áustria, após a promulgação da Constituição do País, surge um
outro modelo de controle de constitucionalidade, o controle concentrado, idealizado
por Hans Kelsen.

Diferente do controle difuso em que todo o poder judiciário é capaz de apreciar e


aferir a constitucionalidade das normas, o modelo concentrado determina que o
controle de constitucionalidade será realizado por um único órgão, no caso do Brasil,
representado pelo Supremo Tribunal Federal que, além de zelar pelo texto

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Referências Bibliográficas

constitucional, tem o dever de evitar a promulgação de lei infraconstitucionais que


violem as diretrizes constitucionais.

O sistema de controle de constitucionalidade adotado pelo Brasil é o misto,


mesclando o modelo norte-americano e o modelo europeu (austríaco), com algumas
características próprias, de modo que poderá ser realizado de forma preventiva –
antes da norma entrar em vigor – ou de forma repressiva – depois que a norma já está
em vigência no ordenamento jurídico pátrio.

5 Referências Bibliográficas
BAHIA, F. Direito Constitucional. 3 ed. Recife: Armador, 2017.

BARROSO, L. R. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos


fundamentais e a construção do novo modelo. 9 ed. São Paulo: Saraiva Educação,
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Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

CLÈVE, C. M. A fiscalização abstrata da constitucionalidade no direito brasileiro. 2


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Referências Bibliográficas

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