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FACULDADE CTA – CENTRO DE TREINAMENTO ACADÊMICO

ESTÉTICA INTEGRATIVA COM INJETÁVEIS

Sabrina Pereira dos Santos Amaral

O Uso Terapêutico da Toxina Botulínica no Tratamento da Paralisia Facial Periférica

São Paulo
2024
Sabrina Pereira dos Santos Amaral

O Uso Terapêutico da Toxina Botulínica no Tratamento da Paralisia Facial Periférica

Trabalho de conclusão de curso


apresentado à faculdade CTA, como parte
dos requisitos para a formação em
estética integrativa com injetáveis.

Orientadora: Profa. Fernanda Pazian

São Paulo
2024
RESUMO
A Paralisia Facial de Bell é uma condição incapacitante que afeta milhões de
pessoas, causando uma disfunção motora e comprometimento estético, muitas
vezes originada por uma resposta inflamatória no nervo facial, decorrente de
infecções virais ou bacterianas, comprimindo estruturas ósseas. A toxina botulínica
é um agente biológico obtido laboratorialmente, sendo uma substância cristalina
estável, liofilizada em albumina humana e apresentada em frasco a vácuo estéril,
para ser diluída em solução salina. A toxina botulínica emergiu como uma
intervenção terapêutica eficaz para o tratamento dessa condição. Esse trabalho teve
como objetivo analisar as melhores evidências científicas a respeito do uso
terapêutico da toxina botulínica no tratamento estético da paralisia facial de Bell. De
acordo com os estudos revisados, os resultados evidenciaram que o tratamento com
a toxina botulínica tipo A reduziu as assimetrias faciais, resultando em melhorias
significativas na aparência e no bem-estar psicológico das pacientes. Entretanto, a
revisão revela divergências nos resultados devido a variações nas doses
administradas, técnicas de aplicação e etiologia da paralisia facial. A compreensão
dessas diferenças é crucial para a determinação da melhor abordagem terapêutica,
considerando a apresentação clínica individual e o tempo de início dos sintomas dos
pacientes.
ABSTRACT
Bell's Facial Paralysis is a debilitating condition affecting millions of individuals,
causing motor dysfunction and aesthetic compromise, often stemming from an
inflammatory response in the facial nerve due to viral or bacterial infections,
compressing bony structures. Botulinum toxin is a biologic agent obtained in the
laboratory, a stable crystalline substance lyophilized in human albumin and presented
in a sterile vacuum vial, to be diluted in saline solution. Botulinum toxin has emerged
as an effective therapeutic intervention for this condition. This study aimed to analyze
the best scientific evidence regarding the therapeutic use of botulinum toxin in the
esthetic treatment of Bell's facial paralysis. According to the reviewed studies, the
results demonstrated that treatment with botulinum toxin type A reduced facial
asymmetries, resulting in significant improvements in patients' appearance and
psychological well-being. However, the review reveals discrepancies in results due to
variations in administered doses, application techniques, and the etiology of facial
paralysis. Understanding these differences is crucial for determining the best
therapeutic approach, considering the individual clinical presentation and onset time
of patients' symptoms.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................5

2 OBJETIVO.......................................................................................................................................7

3 METODOLOGIA..............................................................................................................................8

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................................................9

5 CONCLUSÃO.................................................................................................................................12

REFERÊNCIAS................................................................................................................................13
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1 INTRODUÇÃO
A paralisia facial é uma condição debilitante que afeta milhões de pessoas em
todo o mundo, resultando em disfunção motora, comprometimento estético e
impacto significativo na qualidade de vida e é caracterizada pelo enfraquecimento ou
paralisia dos músculos de uma hemiface. Em geral, ocorre em razão de uma
resposta inflamatória no nervo facial, que causa um edema e é comprimido por
estruturas ósseas (BENTO, 2018).
A paralisia de Bell, também conhecida como paralisia facial periférica
idiopática, uma condição neurológica repentina que afeta os nervos faciais,
resultando em fraqueza ou paralisia súbita dos músculos de um lado do rosto.
Descrita pela primeira vez por Charles Bell no século XIX, essa condição é
caracterizada por um início rápido, unilateral, fraqueza facial repentina que pode
afetar desde a incapacidade de fechar o olho do lado afetado até a assimetria do
sorriso. Diversas causas, incluindo traumas, tumores e distúrbios neurológicos,
infecção bacteriana ou viral que atingem o nervo facial, por exemplo, herpes
simples, herpes zoster, Epstein-Barr, citomegalovírus, adenovírus e o vírus da
rubéola, podem desencadear essa condição incapacitante. (KRAUL 2017)
Nesse contexto, a toxina botulínica emergiu como uma intervenção
terapêutica eficaz e inovadora no tratamento da paralisia facial. O sistema nervoso
autônomo possui em sua composição os chamados neurônios colinérgicos. A
neurotransmissão desses neurônios pode ser explicada a partir de 6 etapas, sendo
elas: Síntese; Armazenamento; Liberação; Ligação da Acetilcolina (ACh) ao
receptor; Degradação do neurotransmissor na fenda sináptica; Reciclagem de colina
e acetato.
A toxina botulínica do tipo-A (TBA) é um agente biológico obtido
laboratorialmente, sendo uma substância cristalina estável, liofilizada em albumina
humana e apresentada em frasco a vácuo estéril, para ser diluída em solução salina.
A TBA, é uma neurotoxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum, uma
bactéria anaeróbia, que produz oito tipos sorológicos de toxina, sendo a tipo-A a
mais potente e por isso a mais utilizada clinicamente. Ela age na terceira etapa da
neurotransmissão dos neurônios colinérgicos, que é a liberação da acetilcolina.
Possui sua ação sob as proteínas SNARE que são essenciais para a secreção do
neurotransmissor. Logo, a administração de toxina botulínica impede a
despolarização do músculo estriado esquelético pela falta de acetilcolina.
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Atualmente existem oito tipos sorológicos diferentes, porém, por se mostrar mais
potente nos tratamentos, o tipo A, é a mais utilizada nos tratamentos estéticos e
terapêuticos (ACOSTA et al., 2015).
O nervo facial tem sua origem no forame estilomastóide e emerge na face
emitindo 7 ramos, sendo um ramo posterior, um ramo inferior e cinco ramos
anteriores. O ramo posterior é chamado de nervo auricular posterior que inerva os
músculos auriculares. O nervo inferior, chamado de ramo digástrico, inerva o ventre
posterior do músculo digástrico e o músculo estilo-hioideo. Os ramos anteriores que
são responsáveis por inervar os músculos da face, atuando na expressão facial, são
divididos em ramo temporal, ramo zigomático, ramo bucal, ramo mandibular
marginal e ramo cervical. (TORTORA; DERRICKSON, 2016)
A primeira descrição de Paralisia Facial Periférica (PFP), foi descrita pela
primeira vez por Charles Bell em 1821. Em geral, todos os episódios de PFP
passaram a ser chamados de Paralisia de Bell em homenagem ao autor. Entretanto,
ao descobrir outras causas para essa manifestação clínica, manteve-se a
denominação de Paralisia Facial Periférica. (ORSINI, 2017)
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2 OBJETIVO
Este trabalho tem como objetivo realizar uma revisão literária abrangente e
crítica sobre o uso terapêutico da toxina botulínica no tratamento da paralisia facial,
analisando seus efeitos na recuperação funcional e estética da musculatura facial,
considerando diferentes etiologias da paralisia e seu impacto na qualidade de vida
dos pacientes.
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3 MÉTODOS
Trata-se de uma revisão sistemática que seguiu os passos recomendados da
Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-Analyses-PRISMA. A
formulação da pergunta de pesquisa adotou-se a estratégia PICO. Assim, a
pergunta que norteou o estudo de revisão sistemática foi “O uso de toxina botulínica
é eficaz no tratamento dos sintomas da paralisia facial periférica?” Para responder
tal pergunta, buscou-se por estudos nas respectivas bases de dados como Pubmed,
Scopus, Cinahl, Clinical Trials, Scielo e Web of Science, por meio dos descritores
em inglês, selecionados na Medical Subject Headings- MeSH. Logo após a
catalogação, analisou os estudos por meio do CONSORT (Consolidated Standards
of Reporting Trials) e STROBE (Strengthening the Reporting of Observational
Studies in Epidemiology) sendo a amostra final do estudo de 13 artigos.
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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo Unno et al., (2005), o uso de toxina botulínica tipo A, vem sendo
utilizada com resultados positivos. A toxina botulínica tipo A, atua diretamente sob o
músculo afetado, facilitando o relaxamento e posteriormente, a diminuição da dor.
Salles AG et al., (2009), publicou os resultados do ensaio clínico randomizado
que teve início em 2005 e avaliou o uso da toxina botulínica em 25 pacientes com
paralisia facial de longa data. Os pacientes foram divididos de forma aleatória em
dois grupos, sendo o Grupo A que realizou sessões de terapia miofuncional antes da
aplicação da toxina botulínica e o Grupo B que realizou a terapia miofuncional após
a aplicação da toxina botulínica. A pontuação do lado não paralisado tratado com
toxina botulínica foi significativamente menor após 1 mês; caiu de um valor inicial de
19,4 ± 0,39 para 14,34 ± 0,56 (P < 0,001). Após 6 meses, o escore (19,64 ± 0,34)
retornou ao valor basal (P = 0,369). Já o escore da hemiface paralisada apresentou
aumento significativo, de 5,06 ± 1,38 para 9,68 ± 1,01 após 1 mês (P < 0,001). Após
6 meses, foi de 8,66 ± 1,01, significativamente superior ao valor basal (P < 0,001),
representando um aumento de 18% deste lado. Esses resultados foram ilustrados
na Figura 1.
Figura 1 - Pontuação clínica média para cada hemiface

Fonte: SALLES AG, TOLEDO PN, FERREIRA MC (2009)


Em 2015, do Nascimento Remígio et al. realizaram um estudo em 55
pacientes com paralisia facial de longa data avaliando a eficácia de duas
apresentações de terapia com toxina botulínica. OnabotulinumtoxinA (grupo I) e
AbobotulinumtoxinA (grupo II) os componentes foram empregados com equivalência
unitária de 1:3 e aplicados na hemiface não paralisada, e o Índice de Incapacidade
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Facial (FII) foi aplicado pré-tratamento e 1 e 6 meses após o tratamento. Uma


melhora na pontuação da função social/bem-estar foi observada em 1 e 6 meses em
ambos os grupos, entretanto, isso só foi significativo no grupo I (Grupo I: pré-
tratamento 68,3 ± 7,7, 1 mês 74,1 ± 6,3, 6 meses 78,7 ± 5,3 ; Grupo II: pré-
tratamento 62,8 ± 10,0, 1 mês 66,1 ± 9,7, 3 meses 68,8 ± 9,4) Em contraste, apenas
o grupo I obteve benefício aos 6 meses no escore de função física (Grupo I: pré-
tratamento 74,0 ± 5,4, 1 mês 77,2 ± 5,4, 6 meses 80,0 ± 3,8; Grupo II: pré-
tratamento 73,7 ± 7,1, 1 mês 71,3 ± 6,4, 6 meses 75,0 ± 5,6). Ambas as toxinas
reduziram eficientemente a assimetria em pacientes com paralisia facial. Os efeitos
adversos foram maiores com abobotulinumtoxinA em uma proporção de
equivalência de 1:3. Não houve diferença estatisticamente significativa entre os dois
grupos de tratamento (p > 0,05 em todos os momentos)
Goldoni, Silva, Rocha (2017) ao realizarem um estudo de caso, com uma
paciente de 49 anos de idade, que há sete anos sofria com o quadro de assimetria
facial decorrente de paralisia de Bell sem sintomas pré-existentes. Optaram para o
tratamento o uso de fios de ácido polilático (PLA) e polidioxanona (PDO), ácido
hialurônico e toxina botulínica. A toxina botulínica foi utilizada para o tratamento das
rugas e harmonização do sorriso. Após o fim do tratamento, houve um resultado
satisfatório, permitindo uma melhora não só na aparência, mas também no âmbito
psicológico e social de forma positiva e corroborando para uma melhor qualidade de
vida da paciente.
A análise dos estudos selecionados revelou uma gama variada de resultados
e informações relevantes sobre o uso terapêutico da toxina botulínica no tratamento
da paralisia facial. Entretanto, cada caso deve ser avaliado de forma individual, pois
existem variações importantes dentro da apresentação clínica do paciente, como,
por exemplo, o tempo de início dos sintomas, que é um fator indispensável para
determinar a melhor opção terapêutica (FERREIRA MC, MARQUES DE FARIA JC,
2002).
Os estudos revisados apontam consistentemente para a eficácia da toxina
botulínica como uma intervenção terapêutica minimamente invasiva e promissora no
manejo da paralisia facial. Observou-se uma melhora significativa nos sintomas
motores e funcionais em pacientes submetidos à terapia com toxina botulínica,
corroborando achados anteriores na literatura. Os resultados demonstraram uma
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redução notável na assimetria facial e na melhora da função muscular em indivíduos


afetados por diferentes causas de paralisia facial (DE MAIO M, BENTO RF, 2007).
É importante destacar a variabilidade nos resultados entre os estudos
analisados. Esta divergência pode ser atribuída a diferenças na dose administrada,
na técnica de aplicação, na duração do tratamento e até mesmo na etiologia da
paralisia facial nos pacientes envolvidos. A heterogeneidade nos critérios de
avaliação dos desfechos também pode ter contribuído para as discrepâncias nos
resultados observados (FERREIRA MC et al., 2004) (ANGIBAUD G et al., 1995).
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5 CONCLUSÃO
Este trabalho identificou lacunas na pesquisa, incluindo a necessidade de
estudos longitudinais de longo prazo para avaliar a durabilidade dos efeitos da toxina
botulínica, bem como a comparação direta com outras modalidades terapêuticas
para a paralisia facial. Além disso, explorar protocolos de dosagem mais precisos e
aprofundar a compreensão dos mecanismos de ação da toxina botulínica podem
aprimorar sua aplicação clínica. Em síntese, os resultados revisados sugerem
fortemente que a toxina botulínica representa uma opção terapêutica eficaz e segura
no tratamento da paralisia facial. No entanto, considerações éticas, a variabilidade
de resultados e a necessidade de pesquisas mais abrangentes destacam a
importância de uma abordagem cautelosa e de estudos futuros para otimizar sua
aplicação clínica.
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REFERÊNCIAS
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Aplicação Prática. 1 ed. Rio de Janeiro, RJ: Thieme Revienter Publicações, 2018. p
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placebo controlado [tese]. São Paulo: , Faculdade de Odontologia; 2019 [citado em
2023-12-26]. doi:10.11606/T.23.2019.tde-09072020-113128.
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terapêutico para tratamento de assimetria facial causada por hipertrofia do músculo
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https://revista.uninga.br/uningareviews/article/view/1618
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evidências. Fisioterapia Brasil. 18. 667. 10.33233/fb.v18i5.1565.
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