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Colégio Moderno – Ciência Política 12º IV

Parlamentarismo
É o regime político no qual a autoridade máxima reside no ramo legislativo
(encarnado num parlamento ou assembleia), de cujo apoio direto ou indireto o poder
executivo está dependente. O Governo responde politicamente perante o Parlamento.

Esta natureza pode concretizar-se de diversas formas: investidura do primeiro-


ministro votada no Parlamento; programa de Governo votado no Parlamento; moções
de censura e confiança de cuja votação depende a continuidade do executivo, por
exemplo. Não há uma separação nítida entre os poderes executivo e legislativo. Por
vezes há até a exigência de os próprios membros do Governo provirem do Parlamento
(isto é, terem sido eleitos deputados).

Nestes sistemas o chefe de Estado e o chefe de Governo são pessoas diferentes e com
funções completamente distintas. O Chefe de Estado, quer seja hereditário ou eleito
(diretamente ou, mais frequentemente, pelo Parlamento), costuma ter um papel mais
representativo e cerimonial, cabendo a governação ao primeiro-ministro (que pode
chamar-se presidente do Governo, ou presidente do Conselho, por exemplo).

Existem, em linhas amplas, dois tipos de sistemas parlamentares.

• O sistema de Westminster, oriundo do Reino Unido e usado em vários países


da Commonwealth, promove um estilo de debate mais disputado, com maior
relevância para o plenário do que para as comissões parlamentares. Nele a
eleição pode ser proporcional ou por maioria simples (o first past the post
empregue no Reino Unido, em que a eleição é em círculos uninominais a uma
volta, ganhando o candidato mais votado ainda que não tenha maioria de
votos), mas sempre com grande grau de individualização do candidato e
identificação entre eleito e eleitor.
• O sistema utilizado na maioria dos países da Europa Ocidental nasceu na
Alemanha e promove a decisão por consenso após debate, em comissões
parlamentares. As eleições são proporcionais, em listas partidárias. Os
deputados escolhidos para ministros, neste sistema, resignam ao lugar no
hemiciclo. E os ministros e o Governo debatem com o Parlamento
periodicamente (exemplo, o debate quinzenal do PM português).

Dentro do parlamentarismo há, ainda, espaço para diversidade de regimes no que toca
às condições em que o Governo pode decidir a dissolução da Assembleia e a rigidez
dos prazos eleitorais.

Um Parlamento é uma assembleia eleita que redige, debate, aprova, altera ou revoga
leis, com base em votações maioritárias. Pode ter uma ou mais câmaras. A Câmara
Baixa, geralmente mais poderosa, é eleita diretamente e é responsável pela elaboração
da maioria das leis. A Câmara Alta (ou Senado) pode ser eleita através de um sistema
diferente, ou parcialmente nomeada, e costuma ter menos poderes (confirmação e
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revisão de leis, por exemplo) ou servir para uma representação paritária entre várias
regiões, ou Estados de uma federação.

Vantagens
Os defensores do parlamentarismo afirmam que a aprovação de leis é mais rápida,
pois o Governo depende do apoio da legislatura, havendo uma maior identificação
entre o executivo e a maioria parlamentar (ao contrário do sistema presidencialista,
em que o executivo e o parlamento são eleitos em atos eleitorais separados). Uma vez
que o Governo é escolhido pelo povo, com base num programa político (pelo menos
em teoria), se ele tiver maioria parlamentar (o que é o caso mais frequente nos
regimes parlamentaristas) é mais provável que tenha bases para implementar esse
programa sufragado pelo povo. Logo, dizem os defensores, o regime é mais
democrático, porque se vota mais em ideias e menos em políticas.

Outra vantagem, insistem, é que é mais fácil ter representadas as minorias. Isto ganha
particular importância em países muito divididos do ponto de vista étnico ou religioso,
chegando a haver quotas para as várias fações.

Os apologistas do parlamentarismo são pensadores como o britânico Walter Bagehot


(1826-1877), que elogiou este regime por criar debates sérios, permitir a mudança de
governo sem a necessidade de eleições (a legitimidade para tal reside no parlamento)
e por permitir eleições quando necessário, não num sistema fixo, que Bagehot
considerava pouco natural. Pensemos numa situação de bloqueio parlamentar, em que
o Governo não tem uma maioria suficiente e a oposição não coopera.

Escritos de Juan Linz, Fred Riggs, Bruce Ackerman ou Robert Dahl defendem que o
povo está mais a salvo de autoritarismos no regime parlamentar do que no
presidencialista. Esta ideia é reforçada pelo facto de, no Terceiro Mundo, os países
que se converteram ao parlamentarismo terem resultado mais frequentemente em
democracias do que os que mantiveram regimes presidencialistas.

Críticas ao parlamentarismo
Há quem lastime que o chefe do Governo, nos sistemas parlamentaristas, não seja
eleito universalmente, como o Presidente num regime presidencialista. A população
vota para eleger um Parlamento e é dele que nasce o Governo. Ora, os potenciais
primeiros-ministros são líderes partidários eleitos por uma escassa minoria da
população (os militantes). As campanhas eleitorais são, frequentemente, centradas nos
líderes, o que acaba por minar a ideia de que se vota em ideias, mais do que em
pessoas.

Outra crítica comum é que, se um eleitor quiser apoiar um partido para governar, mas
preferir o candidato de outra formação para representar o seu círculo eleitoral no
parlamento, fica numa situação complicada. Isto resolve-se, nalguns casos, com
sistemas eleitorais que combinam círculos locais e um círculo nacional, que evita
desperdício de votos nos círculos mais pequenos. Note-se que, num sistema
parlamentar com círculos uninominais (como o britânico), é possível um partido
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vencer as eleições, a nível nacional, e o seu líder (e aspirante a primeiro-ministro)


perder no seu círculo, ficando excluído do Parlamento e do Governo.

A faculdade de o Governo marcar eleições ou dissolver o Parlamento é vista como


uma desvantagem pelos que argumentam que, nesse caso, o Executivo fica em
vantagem sobre a oposição, podendo escolher a data que mais lhe convém (atenção,
que esta prerrogativa do Governo nem sempre é arbitrária, existindo quase sempre
restrições e limites). É certo que tal perverte, de certa forma, o espírito democrático, e
pode ser obviado estabelecendo datas fixas para as eleições parlamentares.

Origens do parlamentarismo
O parlamentarismo é uma solução claramente oposta ao direito divino dos reis ou
déspotas (a não ser que o Parlamento se porte como mera caixa de ressonância do
Governo como em muitas ditaduras e até, por vezes, em democracias, quando o
partido no poder abdica do espírito crítico).

Desde que existem sociedades humanas, sempre houve conselhos que apoiavam o
líder. De início eram compostos pelos membros mais velhos de cada tribo. Os
próprios reis, como vimos ao estudar o nascimento dos Estados, faziam-se valer de
conselhos de nobres e clérigos, de cujo poder precisavam para reforçar o seu.

Há indícios de que na antiga Mesopotâmia e na Índia havia assembleias que


funcionavam como parlamentos primitivos. Na Grécia antiga, a cidade-Estado de
Atenas tinha na ἐκκλησία (ekklesia, assembleia) a sua instituição mais importante, na
qual, teoricamente, qualquer cidadão podia participar. Note-se que não estamos a falar
de democracia representativa (a função atual dos parlamentos), mas de democracia
direta. A República Romana também estabeleceu assembleias legislativas que tinham
a última palavra em assuntos como eleição de juízes, penas capitais, declarações de
guerra e paz, alianças militares, etc. O Senado romano controlava os orçamentos e a
política externa.

Outros Parlamentos ancestrais são o Witenagamot (reunião de sábios) na Inglaterra


anglo-saxónica (os primeiros documentos hoje conhecidos datam do século VI mas a
instituição existiria antes) e o Alþing, na Islândia, que nasceu em 930 e ainda hoje
funciona, sendo o Parlamento mais antigo do mundo.

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