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Grandes

Queimados
Jorge Alexandrino, Richard Nascimento,
Thales Mol, Thales Rodrigues
Introdução
Definição
-Alteração do revestimento cutâneo decorrente de trauma térmico, químico ou
elétrico
- Pode se estender desde epiderme/derme até estruturas profundas (
subcutâneo, fáscia, tendões, músculos, ossos).
Fisiopatologia
Aumento permeabilidade capilar: edema e hipovolemia

Liberação de citocinas, com efeitos sistêmicos para superfície corporal queimada


extensa, como:
- Broncoconstrição
- Redução contratilidade miocárdica
- Vasoconstrição periférica e esplâncica
- Imunossupressão relativa ( perda barreira cutânea, umunodepressão celular e
humoral
- Aumento excessivo (2-3x) do gasto energético basal
Resposta Sistêmica - SIRS
Epidemiologia
Quarta causa global de trauma
Maior risco com menor nível socioeconômico
Maioria são queimaduras leves (67% ocupando < 10% da superfíce corporal)
Maior causa é queimadura por exposição à chama ( > 5 anos) e escaldamento (<5
anos)

75 % ocorrem no ambiente familiar


13% ocorrem no trabalho

95% acidenteais
2% agressões
1% autoinfligido
Primeiro Grau
Em geral, acomete a epiderme;
Características: dor; eritema;
Tratamento:
• Analgesia;
• Hidratação;
• Melhora em 48-72 horas;
• Regeneração em 7 dias.
Segundo Grau
Acomete a epiderme e derme;
Características:
 Dor, eritema;
 Presença de bolhas;
 Leito rosado ou rosa pálido;
 Pode acometer anexos – dependendo
da gravidade.

Desbridar ou não desbridar as flictenas?


Segundo Grau
Para o ATLS: NÃO! Quando esse paciente chega em um serviço de
queimados o cirurgião plástico realiza desbridamento.
Tratamento:
• Analgesia;
• Hidratação;
• Curativo;
• Queimaduras predominantemente superficiais: conduta
tende a ser mais conservadora com manejo clínico
• Se, predominantemente, 2º grau profundo: internar paciente
para avaliar conduta potencialmente cirúrgica.
Terceiro Grau
Acomete epiderme e derme;
Por vezes, há destruição dos tecidos
subcutâneos, músculos e ossos.
Características:
• Indolor
• Branco nacarado/carbonizado;​
• Firme, coriáceo;
• Evolui com formação de cicatriz;
• Adjacências com queimadura de
segundo e primeiro grau.
Terceiro Grau
Tratamento:
 Cirúrgico;
 Tempo de cicatrização maior que 3 - 4 semanas
demonstra correlação com o aumento do risco
de infecção.
Cálculo superfície
corporal queimada
Considerar apenas áreas
acometidas por 2° e 3° grau;

Regra dos 9 (Wallace)


Cálculo superfície
corporal queimada
Diagrama de Lund & Browder
 Varia de acordo com a idade.
Grandes queimados
Considera-se um grande queimado um paciente com queimadura de 2° ou 3° grau
que possuem:
> 15% SCQ (superfície corporal queimada) em crianças;
> 20% SCQ em adultos;

Tratamento:
- Avaliação Inicial e Secundária -
- Protocolo ABCDE
E = Exposição
- Remover roupas e objetos do corpo;
- Avaliação da superfície corpórea queimada;
Tratamento
- Analgesia;
- Início da fase de expansão volêmica:
> Cristalóide aquecido (Ringer lactato) ou SF 0,9%;

> Fórmula de Brooke Modificada: 2mL x Peso x % SCQ


Metade nas primeiras 8h do trauma;
Outra metade nas 16 horas subsequentes.

- Controlar a temperatura da sala de atendimento;


- Coleta de exames gerais de admissão;
- Vigiar sinais de intoxicação (CO, cianeto, metemoglobinemia);
- Vacinação de tétano;
- Avaliação da cirurgia plástica e serviço social.
Tratamento - Considerações
Crianças
- Fórmula: 3 mL RL x Peso x SCQ;
- Se < 30kg, acrescentar glicose na solução (evitar quadros de hipoglicemia).

Cuidados de feridas e curativos:


- Limpeza e desbridamento das feridas.
- Uso de curativo estéril e adequado, como curativos
de prata e hidrocoloides.
- Considerar enxertos e uso de substitutos dérmicos.

Manejo das complicações:


- Infecções e prevenção de septicemia.
- Tratamento de cicatrizes e contraturas.
- Gerenciamento da dor crônica
Tratamento - Considerações
Parâmetros para Avaliar Hidratação:
Diurese
- 0,5 mL/kg/h no adulto
- 1 mL/kg/h na criança
- 1 a 1,5 mL/kg/h em queimaduras elétricas
x Rabdomiólise
x Risco de lesão renal aguda por obstrução
Frequência cardíaca
- Taquicardia por Choque hipovolêmico ou dor?
x PAI (pressão arterial invasiva)
x Lactato
Tratamento - Escarotomia
Escarotomia
- Identificar se o paciente é candidato ainda no ABCDE
- Identificar dificuldades na respiração ou perfusão
Tratamento - medicação

O nitrato de cério pode ser associado a Sulfadiazina de prata


Tratamento – abordagem cirúrgica
Não cirúrgico
- 1° grau;
- 2° grau superficial;

Cirúrgico
- Quando há baixa probabilidade de cicatrização em 3 semanas, ou os
resultados funcionais e estéticos sem cirurgia seriam ruins)
- 2° grau profunda;
- 3° grau.
Tratamento – Técnicas cirúrgicas
Excisão simples – queimaduras profundas e pequenas;
Excisão fascial
- Vantagens;
x Menos sangramento;
x Melhor controle de infecções invasivas e graves.
- Desvantagens;
x Linfedema;
x Maior deformidade corporal.
Tratamento – Técnicas cirúrgicas
Excisão tangencial seguida de enxertia de pele parcial – Padrão-Ouro
- Maior preservação tecidual;
- Maior sangramento (100 mL/1% SCQ desbridada);
x Por isso é importante limitar até 20% SCQ por cirurgia.
- Deve ser feito de maneira precoce – até 5° dia;
- Uma vez desbridado, faz-se o enxerto de pele (parcial);
x Lâmina;
x Malha;
Grandes queimados;
Maior área de cobertura.
x Priorizar áreas funcionais e estéticas;
Face, mãos, pés, articulações.
Tratamento - abordagem cirúrgica
Retalho

Amputação

Novas tecnologias – substitutos de pele


- Banco de pele (aloenxerto);
- Matriz dérmica acelular;
- Cultura de queratinócitos;
- Membrana amniótica;
- Xenoenxerto (pele porcina, tilápia).
Lesão das vias aéreas
Cursa com aumento da mortalidade;
Diagnóstico é clínico: tosse, rouquidão, estridor, odinofagia
- Ainda, observar:
x Queimadura intraoral,
de vibrissas e cílios;
x Impregnação carbonácea
na face e no escarro;
x Edema facial.
Lesão das vias aéreas - tratamento
O2 – 100%
Não é necessário intubar todo mundo
- Casos leves – O2 inalatório 100% em máscara
- Casos moderados a graves
x Avaliar via aérea definitiva se:
A- Franca insuficiência respiratória;
B- Piora progressiva do padrão respiratório;
C- Queimaduras extensas e profundas em face;
D- Rebaixamento do nível de consciência;
E- Queimaduras >40-50% SCQ.
Lesão das vias aéreas - intoxicação
Intoxicação por CO (monóxido de carbono)
- Em geral, a intoxicação ocorre em ambientes fechados
- Afinidade 24x > O2; meia-vida 4h
- Tratamento:
x FiO2 – 100%
x Câmera hiperbárica;
Reduz a meia-vida da carboxi-hemoglobina

Intoxicação por cianeto


- Alta suspeição e alta mortalidade
x Lembrar em pacientes em ambientes fechados que pegaram fogo
- Tratamento:
x O2 a 100% + hidroxicobalamina (vitamina B12)
Nutrição e suporte metabólico
Necessidades nutricionais aumentadas em pacientes queimados.

Manter em dieta zero nas primeiras 24h em queimaduras >30%


SCQ. Iniciar precocemente, assim que estabilizada a condição
hemodinâmica.

Preferencialmente pela via enteral, parenteral se


indisponibilidade de enteral.

Monitoramento do estado nutricional e apoio emocional.


Sequelas das queimaduras
Depende da gravidade e local da lesão
Mais comum = cicatrizes hipertróficas
- Tratamento:
x Malhas compressivas
x Hidratação

Contratura = contração da pele com


perda de função
Sequelas das queimaduras - tratamento
Se sobra tecido
- Ressecção + Fechamento Primário
- Rearranjo tecidual
x Plástica em Z (Zetaplastia)
Alongar uma cicatriz
Quebrar uma linha reta
Mover tecidos de uma área a outra
Obliterar ou criar uma fenda
Se falta tecido
- Enxertia
- Expansão tecidual
- Retalhos
- Uso de substitutos dérmicos
Queimadura elétrica - considerações
Oftálmicas ( em 5-20% dos casos )
- Catarata

Neuropsiquiátricas
- Neuropatia periférica
- Hiperatividade simpática
- Perda de memória
- Dor crônica
- Ansiedade
- Pesadelo
- Insônia
- Estresse pós-traumático
Reabilitação
Fisioterapia e terapia ocupacional para
recuperação funcional.

Suporte psicológico e cuidados emocionais.

Tratamento de cicatrizes e acompanhamento


a longo prazo.
Referências
Koyro KI, Bingoel AS, Bucher F, et al. Burn
Guidelines – An International Burn J. 2021;
2:125-139

Greenhalgh DG. Management of Burns. N


Engl J Med. 2019; 380 (24): 2349-2359.

Fraga M, Demário LA, Junior AH.


Queimaduras. In: Junior RS. Tratado de
Cirurgia do CBC. São Paulo: Atheneu, 2009
Koyro KI, Bingoel AS, Bucher F, et al. Burn
GVendrusculo TM, Balieiro CRB, Echevarria Guanilo
ME, et al. Queimaduras em ambiente doméstico:
características e circustâncias do acidente. Rev
Latino- Am. Enfermagem. Jun 2010; 18(3): 444-451.

Nascimento AB. Morais FS, Bezerra JS, et al. O uso


da pele de tilápia no tratamento de queimaduras.
Temas em saúde. Ed. Especial. João Pessoa:
Faculdade Santa Maria, 2020:128-143.

American College of Surgeons. Thermal Inuries. In


Advanced Trauma Life Support – ATLS, Student
Course Manual. 10th ed. 2018. P. 168-187
Obrigado!

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