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HEBREUS

IN T R O D U Ç Ã O
Se confrontada com a escolha de algo bom ou algo obviamente ruim,
someme uma pessoa tola ou enganada escolheria a “ruim”. O bom
deveria vencer todas as vezes.
No próximo nível, porém, as escolhas tornam-se mais difíceis -
decidir entre o “bom” e o “melhor”. Novamente, neste caso, a escolha
lógica pareceria ser o “melhor”, mas a escolha náo é tão bem definida
quanto na situaçáo anterior: as diferenças entre as duas opções
podem parecer insignificantes, as razões para escolher o que parece
ser “melhor” podem náo ser convincentes, e ficar com o familiar
“bom” pode parecer confortável e conveniente. Desse modo, quando
deparadas com o manter o “bom” ou mudar-se para o “melhor”,
muitas pessoas permanecem com o que têm, porque, afinal, náo é
“ruim” .
A escolha seguinte é ainda mais difícil —decidir entre o “melhor” e
o “ótimo”, Novamente, a escolha óbvia deveria ser o “ótimo” todas as
vezes, mas muitos deixam passar o que é ótimo e se conformam, em
vez disso, com o “melhor”, ou simplesmente com o “bom”. Para eles,
é melhor ficar com o que conhecem.
O escritor da carta aos Hebreus tinha que convencer os leitores
a náo se conformarem com nada menos que o excelente de Deus
para suas vidas. Os judeus estavam familiarizados com a bondade
e a perfeição de Deus. Afinal, eles eram o seu povo escolhido, e
através deles Deus havia comunicado o seu amor e o seu plano para
o mundo. Eles eram objetos da aliança, da lei, do Tabernáculo e de
profundos rituais religiosos, e tinham sido abençoados com profetas
anunciando as mensagens de Deus e sacerdotes fazendo a obra de
Deus. O judaísmo foi o caminho de Deus, e era bom.
Mas Jesus, o Cristo, tinha vindo, cumprindo a lei, fazendo o
sacrifício perfeito, e iniciando a nova aliança. Cristo foi um profeta
melhor, um sacerdote melhor, e um sacrifício melhor. Na verdade. Ele
foi o “ó tím o ” definitivo. Muitos judeus tinham abraçado este novo
caminho, expressando a fé em Cristo (o “Messias”) como o Salvador
e Senhor. Contudo, o familiar judaísmo continuava a trazê-los de
volta. vMguns voltaram para o anúgo caminho, e outros tentaram
combinar o velho com o novo, formando um híbrido de judaísmo e
cristianismo. E assim eles estavam perdendo o ótim o de Deus.
HEBREUS / 578 Aplicação Pessoal

Hebreus é um documento magistral escrito aos judeus que estavam avaliando


Jesus, ou que estavam lutando com a fé cristã. A mensagem de Hebreus é que Jesus
é melhor, o cristianismo é superior, e Cristo é supremo e completamente suficiente
para a salvação.
Enquanto você lê Hebreus, capte a profunda mensagem deste livro tão
importante. O judaísmo pode não estar chamando você de volta, mas muitos
outros deuses e sistemas de credo clamam por atenção e tentam impor a lealdade.
Independentemente de suas reivindicações e promessas, saiba que só Jesus Cristo
é a verdade, e só Ele traz vida. Jesus é o ótim o, o único caminho (Jo 14.6). Não se
contente com nada menos que isto!

AUTOR
A autoria de Hebreus tem sido uma dúvida desde a sua publicação. N a verdade,
nenhum dos primeiros escritores que se referem a este livro menciona o seu autor. E
ninguém, desde os tempos antigos, foi capaz de identificar o autor.
Hebreus não cita a ninguém como o autor. A inclusão de Hebreus no cânon
do Novo Testamento veio da Igreja Oriental, já em 185 d.C., principalmente por
causa da crença tradicional de que Paulo o havia escrito. Clemente de Alexandria
descreveu a explicação de seu professor (Pantaenus) de por que Paulo náo usou o
seu nome nesta carta. Pantaenus supôs que Paulo evitou mencionar o seu nome por
reverência ao Senhor, que tinha sido o Apóstolo para eles (3.1). Clemente aceitou
esta explicação, e propôs que o original foi escrito em hebraico (aramaico) e que
Lucas o traduziu para o grego. Mas isto é uma conjectura.
O que, então, sabemos com certeza sobre o autor? A partir do conteúdo da
carta, aprendemos que o autor era um instrutor e um cristáo da segunda geração
(2.3). O escritor havia pensado muito e por muito tempo sobre uma interpretação
cristã do Antigo Testamento. O escritor era provavelmente um judeu de fala grega,
familiarizado com as Escrituras do Antigo Testamento e com as idéias religiosas
dos judeus. O autor afirma compartilhar a herança de sua história, tradições e
instituições sagradas (v. 1), e escreve sobre elas com um íntimo conhecimento
e entusiasmo. O autor parece ter conhecido o Antigo Testamento somente na
Septuaginta (antiga tradução grega do Antigo Testamento), que é seguida mesmo
onde diverge do hebraico. O fato de Hebreus conter ensinos que são “paulinos”,
juntamente com a menção de Timóteo em 13.23, parece sugerir que o autor
conhecia Paulo ou era ligado àqueles que eram próximos a ele. O autor usou o
grego com uma pureza de estilo e um vocabulário forte, e o estilo é diferente do
de qualquer outro documento do Novo Testamento. No entanto, os conceitos
fundamentais de Hebreus correspondem totalmente aos escritos de Paulo e João.
Além deste perfil limitado, a carta oferece poucas pistas de sua autoria.
Vários autores possíveis que se encaixam no perfil têm sido propostos ao longo
dos anos. Paulo é um deles, mas, embora o conteúdo de Hebreus náo contradiga os
escritos de Paulo, o estilo de Hebreus difere grandemente das cartas do apóstolo.
Uma outra sugestão é Barnabé, amigo e companheiro de Paulo de sua primeira
viagem missionária (veja At 9.27; 11.22-26; 12.25; 13.1-14.28; 15.1-41). Barnabé.
“Filho da Consolação”, era um levita (At 4.36) e estava totalmente familiarizado
com os rituais sacerdotais, que formam uma grande porção desta carta. Apesar deste
.’ n t d r i o do N o v o Testamento 579 / HEBREUS

forte endosso, porém, nâo há qualquer outra evidência ou apoio antigo para Barnabé
como autor.
AJguns sugerem Apoio, o pregador carismático mencionado de tempos em
tempos no Novo Testamento (veja At 18.24-28; 19.1; 1 Co 1.12; 3.4-6; 4.1,6;
16.12; T t 3.13), mas sabemos muito pouco sobre ele. Apoio era judeu, natural de
Alexandria, bem instruído, e bem versado nas Escrituras. Apoio conhecia a Timóteo
e foi instruído por Paulo, indiretamente, através de Priscila e Aquila (At 18.25,26).
Lutero propôs Apoio como o autor, e muitos estudiosos modernos inclinam-se
nesta direçáo, porque a epístola mostra o tipo de interpretações alegóricas que eram
proeminentes em Alexandria.
Finalmente, muitos outros nomes têm sido propostos. Cada um possui um
pouco de apoio: Silas, membro tanto dos círculos de Paulo como de Pedro e
possivelmente o co-autor ou secretário de 1 Pedro (há similaridades de estilo entre 1
Pedro e Hebreus); Filipe, o evangelista (o elogio do paulinismo aos cristãos judeus
em Jerusalém); Clemente de Rom a (redação quase idêntica em passagens entre
os seus escritos e Hebreus); Epafras (similaridades entre Colossenses e Hebreus);
Priscila (o anonimato da carta - teria sido difícil a igreja primitiva aceitar uma
autora mulher); Priscila e Aquila juntos (o uso do pronome “nós” em muitas
passagens; por exemplo, 5.11; 6.3,9,11,12; 8.1; 9.5; 13.18).
Não ter um autor conhecido é uma razão para a igreja primitiva ter sido lenta
para incluir Hebreus como uma Escritura Sagrada. Em última análise, o próprio
valor intrínseco de Hebreus ganhou o seu lugar no cânon. Nós só podemos
concordar com Orígenes, que declarou, no século III: “Mas quanto a quem
escreveu a epístola, só Deus sabe a verdade” (citado por Eusébio, História Eclesiástica
6.25.14).

DATA E C O N T E X T O
Escrita em aproximadamente 60 d.C.
Pelo fato de Clemente de Roma ter utilizado o texto de Hebreus, a carta deve
ter sido escrita antes de 95 d.C. Um argumento silencioso é a falta de qualquer
referência à destruição do Templo de Jerusalém, em 70 d.C. Certamente, em um
livro escrito para judeus, um acontecimento de proporções tão catastróficas teria
sido mencionado, especialmente visto que isto fortaleceria o argumento para a
superioridade de Cristo e a nova aliança sobre o ritual levítico. Hebreus deve ter sido
escrito antes de 70 d.C.
Um fator adicional importante para se estabelecer uma data para Hebreus é
a identificação da perseguição citada em 10.32-34. Três perseguições romanas
colocam-se como possibilidades: sob o governo de Cláudio, em 49 d.C.; sob o
governo de Nero, começando em 64 d.C.; e sob o governo de Domiciano, por volta
de 80 e 90 d.C. Note que a passagem não diz nada sobre a perda da vida. Muitas
pessoas morreram sob Nero e Domiciano, porém a perseguição sofrida pelos leitores
de Hebreus não parece ter envolvido o martírio (12.4). Em sua perseguição, Cláudio
expulsou os judeus de Roma, incluindo os cristãos judeus (entre os quais estavam
Priscila e Aquila - At 18.2). Durante esta expulsão, eles teriam sido escarnecidos
publicamente, e teriam perdido os seus bens. Este tratamento parece combinar com
a descrição do capítulo 10.
HEBREUS / 580 Aplicação Pessoal

Considerando todas as alternativas acima, Hebreus foi provavelmente escrito


por volta de 50 ou 60 d.C., antes da terrível perseguição de Nero. Esta data também
parece compatível com a declaração de que os leitores tinham ouvido o Evangelho
daqueles que tinham ouvido Jesus (2.3), e que Timóteo ainda estava vivo (13.23).

D E ST IN A T Á R IO S
Cristãos hebreus que podem ter estado pensando em retornar ao judaísmo.
O título “Hebreus” ou “Aos Hebreus” não fazia parte da escrita original, mas
aparece em algumas das cópias mais antigas. Entretanto, o título é apropriado,
considerando o contexto, que é estreitamente enfocado nas Escrituras do Antigo
Testamento e nas práticas religiosas judaicas. O escritor discutiu totalmente a adoração
no Tabernáculo, os sacerdotes e os sacrifícios, a aliança, e os heróis judeus, incluindo
Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, e outros. Referências à “descendência de Abraão”
(2.16), o argumento de que Jesus é superior a Moisés (3.1-19) e a ênfase no “repouso”
(4.1-11) teriam atraído os judeus e teriam tido pouco efeito sobre os gentios.
Tradicionalmente, pensava-se que a carta aos Hebreus tinha sido enviada aos
crentes que estavam em Jerusalém. Os cristãos judeus ali estariam sob muita pressão
para retornarem à sua antiga religião. E eles tinham sofrido severa perseguição.
O problema com esta opinião, porém, é que o forte caráter grego do livro não se
encaixaria tão bem com os leitores de Jerusalém quanto com aqueles que estivessem
fora da Palestina, especialmente visto que muitos dos judeus de fala grega tinham sido
expulsos de Jerusalém depois da morte de Estevão (At 8.1-3). Também devemos nos
lembrar de que a igreja de Jerusalém lutava continuamente com a pobreza, e aqueles
irmãos não teriam sido capazes de praticar a generosidade mencionada em 6.10,
10.34, e 13.16. Além disso, a vida religiosa judaica em Jerusalém era dominada pelo
Templo, ao qual o texto de Hebreus não faz nenhuma referência específica.
Um outro possível destino é Aexandria, no Egito. O apoio para esta hipótese vem
de sinais aparentes de uma perspectiva alexandrina em Hebreus: similaridades com
o estudioso judeu alexandrino Filo, o uso do Antigo Testamento, e o dualismo entre
arquétipos celestiais e cópias terrenas. Contudo, isto pode significar apenas que o autor
estava familiarizado com o pensamento alexandrino, e não que Alexandria fosse o seu
destino.
Muitos outros lugares têm sido sugeridos como possíveis destinos para Hebreus:
Colossos, Samaria, Cesaréia, Antioquia da Síria, Éfeso, Galácia, Chipre, Corinto e
Beréia. Nenhum deles tem muita evidência ou apoio.
Um destino provável é Roma. É onde Hebreus foi conhecido e citado pela
primeira vez. Em uma carta escrita à igreja coríntia, em favor da igreja romana.
Clemente de Roma revelou o seu conhecimento desta epístola. Certamente, as
referências à perseguição combinam com os leitores romanos. As saudações dos
crentes na Itália (13.24) também apontam para uma conexão romana. É bem
possível que o autor, escrevendo de outro local, conhecesse os crentes italianos
naquela cidade e estivesse enviando as suas saudações a Roma.

OCASIAO E PROPÓSITO
Apresentar a suficiência e a superioridade de Cristo aos cristãos hebreus que podiam
estar pensando em um retorno ao judaísmo.
C o m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 581 / HEBREUS

Náo sabemos de uma ocasião específica para a escrita desta importante carta,
mas não há dúvida de que crentes de todas as origens estavam sujeitos à perseguição
e pressão para renunciar à sua fé. Os crentes de origem judaica estavam vulneráveis
às dúvidas a respeito de Cristo, e ao pensamento de voltar aos seus antigos rituais
e ao velho modo de pensar. Muitos haviam sido perseguidos severamente por seus
compatriotas, taxados como hereges, e abandonados por suas famílias. Como eles
pensavam no passado, suas tradições e cerimônias judaicas devem ter parecido
maravilhosamente atraentes. Eles estavam tentados a se agarrar ao antigo enquanto,
talvez, professassem secretamente o novo. Desta forma, eles provavelmente pensavam
que poderiam ter tanto o judaísmo como o cristianismo.
O propósito da epístola aos Hebreus, portanto, era lembrar e convencer os
leitores da suficiência e da superioridade de Cristo (9.14), adverti-los do perigo de se
afastarem de Cristo (2.3), e exortá-los à fidelidade (3.6).
Embora a maioria dos cristãos ocidentais não enfrente severa perseguição da
família, dos amigos, e da sociedade em geral, às vezes eles olham de forma saudosa
para a sua vida anterior a Cristo. Embora não sejam tentados a voltar a uma antiga
religião, eles podem se sentir atraídos por um velho estilo de vida, pelo materialismo,
ou pelo culto cultural à própria imagem.
Hebreus fala desta tentação, com a clara mensagem de que só Cristo traz a
salvação, só Cristo traz o perdão, e só Cristo satisfaz. E somente Ele merece a nossa
adoração, culto, e louvor.

M E N SA G E M
A principal mensagem deste livro (como apresentada a partir de 1.4-10.18) é que
Jesus é superior aos anjos (1.4-2.18), superior aos antigos líderes judeus (3.1-4.13),
e superior aos sacerdotes judeus (4.14-7.28). Cristo supera o judaísmo porque Ele
possui uma aliança melhor (8.1-13), um santuário melhor (9.1-10), e um sacrifício
pelos pecados mais suficiente (9.11-10.18).
Tendo estabelecido a superioridade de Cristo, o escritor prossegue para as
implicações práticas de se seguir a Cristo. Os leitores são exortados a permanecerem
firmes em sua nova fé, a consolarem uns aos outros, e a aguardarem com expectativa
a volta de Cristo (10.19-25). Eles são advertidos sobre as conseqüências de rejeitar
o sacrifício de Cristo (10.26-31), e sáo lembrados do galardão pela fidelidade
(10.32-39). Então, o autor explica como viver pela fé, dando exemplos de homens
e mulheres fiéis na história de Israel (11.1-40), e dando consolação e exortação para
a vida cotidiana (12.1-17). Esta seção termina comparando a antiga aliança com a
nova (12.18-29). O escritor conclui com exortações morais (13.1-17), um pedido de
oração (13.18,19), uma bênção, e saudações (13.20-25).
Os temas principais na carta de Hebreus incluem: Superioridade de Cristo; Sumo
Sacerdote; Sacrifício; Promessa; Maturidade; Fé; e Perseverança.
Superioridade de Cristo (1.1-14; 2.5-3.6; 4.14-5.10; 6.13-10.18). Hebreus
revela a verdadeira identidade de Jesus como o Deus encarnado. Jesus é a autoridade
suprema. Ele é maior que qualquer anjo ou religião. Como o divino Filho de Deus,
Jesus é superior a qualquer líder judeu (tal como Abraão, Moisés ou Josué). Como
o homem e mediador perfeito para com Deus, Ele é superior a qualquer sacerdote.
Como aquele que suportou o sofrimento e a tentação, mas sem pecado. Ele nos
HEBREUS / 582 Aplicação Pessoal

conhece totalmente. Jesus é a completa revelação de Deus. E Ele tem sido exaltado à
destra de Deus (1.3), coroado de glória e honra (2.9).

IMPORTÂNCIA PARA H O JE. Em nossa sociedade competitiva, todos parecem


obcecados para vencer e se identificar com o “melhor”. Em nossa sociedade pluralista,
estamos cientes das diversas religiões e pontos de vista. Em todas estas desordens,
porém, devemos manter os nossos olhos em Cristo, lembrando-nos de que só Ele
pode perdoar pecados e dar a vida eterna. Jesus assegurou o seu perdão e a sua salvação
através de sua morte na cruz e de sua ressurreição. Não aceite outra alternativa ou
substituto, não importa quão atraente possa parecer. Você já entendeu que Cristo é
superior a tudo e a todos?
Sumo Sacerdote (3.1; 4.14-5.10; 6.19-8.6; 9.6-10.22; 13.11-13). No Antigo
Testamento, o sumo sacerdote representava os judeus diante de Deus. Ele fazia
sacrifícios de sangue para expiar os pecados do povo diante de Deus. Uma vez
por ano, no Dia da Expiação, o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos, no
Templo, para fazer expiação pelos pecados de toda a nação. O sumo sacerdote
aproximava-se de Deus apenas uma vez por ano, mas Cristo está sempre à destra de
Deus, intercedendo por nós.

IM PORTÂNCIA PARA H O JE. Jesus Cristo está sempre disponível para nos ouvir
quando oramos. Ele nos liga a Deus. Na verdade, não há nenhum outro caminho
para nos chegarmos ao Pai, exceto através do Filho. Pelo fato de Jesus ter vivido uma
vida sem pecado, Ele foi o substituto perfeito para morrer pelos nossos pecados. E
Ele é o Sumo Sacerdote perfeito, tendo oferecido a si mesmo em sacrifício. Jesus é o
nosso representante perfeito perante Deus. Jesus garante o seu acesso a Deus Pai. Ele
intercede por você, de forma que você pode ir ao Pai com ousadia, apresentando as
suas necessidades. Quando você peca e se sente fraco, pode ir confiantemente a Deus
em busca de perdão e ajuda. O que está lhe impedindo de ir ao Pai?
Sacrifício (1.3; 2.9; 7.27; 9.12-14,24-28; 10.5-22). Os sacrifícios do Antigo
Testamento tinham que ser perfeitos: animais sem quaisquer ferimentos ou defeitos.
Estes animais eram mortos sobre o altar, e o seu sangue era espargido pelos pecados
do povo. Jesus, o divino Filho de Deus e o perfeito Filho do Homem, morreu
na cruz, derramando o seu sangue para assegurar o perdão para todo o povo. O
sacrifício de Cristo foi o cumprimento definitivo de tudo que os sacrifícios do
Antigo Testamento representavam.

IM PORTÂNCIA PARA H O JE . Pelo fato de Cristo ser o sacrifício perfeito pelo


pecado, os nossos pecados estão completamente perdoados —do passado, do
presente e do futuro. Cristo removeu o pecado que nos separava da presença e da
comunhão com Deus. Nós não recebemos este perdão automaticamente; devemos
aceitar o sacrifício de Cristo em nosso favor. Crendo em Cristo, você não é mais
culpado; você foi limpo e sarado. Seu sacrifício abriu o caminho para você ter a
vida eterna. O que você pode fazer para expressar a sua gratidão a Cristo por seu
profundo amor por você, e por sua obra na cruz?
Promessa (4.1-11; 6.13-20; 7.18-25; 8.6-9.22; 10.15,16). Deus fez uma
promessa santa, uma aliança, com Abraão. Nesta aliança, Deus prometeu abençoar
C o m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 583 / HEBREUS

Abraáo, fazer da descendência de Abraão uma grande naçáo, e abençoar o mundo


inteiro através dele. Deus também prometeu estar com o seu povo e lhe dar repouso.
Embora o povo freqüentemente tenha falhado em cumprir a sua parte na aliança,
Deus sempre manteve a sua: através de Abraáo, veio a nação de Israel, e por fim, o
Cristo. Além disso. Deus levou o seu povo para a Terra Prometida, e no final Ele os
levará para o seu repouso eterno.

IMPORTÂNCIA PARA H OJE. A antíga aliança feita com Abraão estava ligada à
nação de Israel. A nova aliança de Deus, assegurada por seu Filho, está disponível a
todos aqueles que depositam a sua confiança em Cristo. vVlém disso, a nova aliança
oferece um perdão completo e a vida eterna. Os crentes podem ter esperança no
futuro por causa da obra perfeita e maravilhosa que Jesus Cristo fez por eles. No final,
eles terão o descanso perfeito no céu. Independentemente de suas circunstâncias e
dificuldades, você pode ter esperança em Cristo. Se você confiou nele para a salvação,
as promessas da aliança aplicam-se à sua vida.
Maturidade (2.11-13; 5.11-6.3). Embora o povo de Deus esteja salvo do pecado
e receba a vida eterna quando confia em Cristo como Salvador, ele recebe a tarefa
de prosseguir e crescer na fé. Freqüentemente, porém, alguns crentes permanecem
imaturos, alimentando-se apenas de “leite”, e não de “alimento sólido”, e discutindo
sobre questões básicas (6.1). Através de um relacionamento vivo com Cristo, porém,
08 crentes podem viver uma vida irrepreensível, ser usados poderosamente por Deus,
e amadurecer em sua fé.

IM PO RTÂ N CIA PARA H O JE . O processo de amadurecimento da nossa fé


requer tempo e disciplina. A comunicação diária com Deus, através da oraçáo
e do estudo de sua Palavra, produz a maturidade. Quando formos maduros em
nossa fé, não seremos desviados ou facilmente abalados pelas tentações ou pelas
preocupações deste mundo. Se você se encontra discutindo questões de estilo
de vida, fé, dons espirituais, e os tempos do fim, você pode ser espiritualmente
imaturo. Não se contente em permanecer como um bebê espiritual. O que você
pode fazer para crescer na fé?
Fé (11.1-40; 13.1-21). A Bíblia, do princípio ao fim, é um livro que está
relacionado à fé. Muitos creram em Deus e receberam bênçãos multiplicadas na
terra. Outros creram em Deus e foram perseguidos, torturados e martirizados
por causa de sua fé. Deus espera que o seu povo vá até Ele com fé, e viva pela fé,
independentemente das circunstâncias ou das conseqüências. A fé é a firme confiança
em Deus e em suas promessas. A maior promessa de Deus é que as pessoas podem ser
salvas do pecado e ter a vida eterna através de Cristo.

IM PORTÂNCIA PARA H O JE. Aqueles que confiarem em Jesus Cristo para a


salvação serão completamente transformados por Deus, que mudará a sua situação
da culpa para o perdão, da morte para a vida, e do desespero para a esperança. Uma
vida de obediência e confiança agrada a Deus. Quanto mais você conhecer a Deus,
mais confiará nele. Quanto mais você confiar, mais esperará em suas promessas.
Perseverança (2.1-4; 3.1-19; 4.11-16; 6.4-12; 10.19-39; 12.1-29). Não era fácil
ser um cristão no século I, especialmente um cristão de origem judaica. Os crentes
HEBREUS / 584 Aplicação Pessoal

que vieram a ter fé em Cristo saindo do judaísmo eram condenados ao ostracismo


por suas famílias, e perseguidos pelos líderes religiosos. Quando os romanos
começaram a perseguir os cristáos, eles tomaram os seus bens, os prenderam, e
os torturaram. Estes crentes sentiram uma tremenda pressão para renunciar ao
cristianismo, combinar as doutrinas cristãs com o judaísmo, ou serem cristãos
secretos. Hebreus, portanto, adverte contra a apostasia e contra a volta aos velhos
hábitos e às velhas crenças; a mensagem deste livro desafia os crentes a perseverarem
até o fim.

IM PO R TÂ N CIA PARA H O JE . A fé permite que os cristáos enfrentem as


tribulações. A fé genuína inclui o compromisso de permanecermos fiéis a Deus
quando estivermos sob fogo. A perseverança edifica o caráter e leva à vitória.
Você pode ter vitória em suas provações se mantiver o foco em Cristo e não
desistir. Que pressões você sente para retornar ao seu antigo modo de vida, e ao
seu antigo sistema de crença? O que você pode fazer para manter os seus olhos
em Cristo, e não em suas lutas? Permaneça fiel a Cristo, e ore pedindo ao Senhor
perseverança.

ESBO Ç O D E HEBREUS
I. A Superioridade de Cristo (1.1-10.18)
A. Cristo é maior que os anjos
B. Cristo é maior que Moisés
C. Cristo é maior que o sacerdócio do Antigo Testamento
D. A nova aliança é maior que a antiga

II. A Superioridade da Fé (10.19-13.25)

HEBREUS 1
JESU S CRISTO É O FILHO D E DEUS /1.1-3
Hebreus 1.1-10.18 apresenta uma série de seções mostrando como Cristo é superior aos
aspectos chave do judaísmo. A nova aliança mostra-se muito superior à antiga. O escritor
de Hebreus relatou que Jesus Cristo, o Messias, iniciou tuna nova era, que estava sendo
guardada há muito tempo. Cristo trouxe paz espirimal e um Reino espirimal. Jesus Cristo,
o Messias, já começou o seu Reino na terra nos corações de seus seguidores. No capítulo
1, Cristo é apresentado como a revelação definitiva e superior de Deus. Isto pode nos
encorajar grandemente e ajudar a evitar que nos afastemos da nossa fé em Cristo.
C o m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 585 / HEBREUS

1 .1 0 escritor divide a história em dois segmentos Cristo não só criou o universo (1.2), Ele
ou eras: antes de Cristo e depois de Cristo. Ele também o sustenta. Cristo trouxe o mundo
chama o tempo anterior a Cristo de ant^amente. à existência pela sua Palavra (Gn 1-2), e
Durante aquela época, Deus usou profetas para Ele sustenta o mundo com a sua Palavra
revelar a sua mensagem ao povo. Os leitores onipotente (veja II.3). Cristo guia o mundo
judeus originais da carta teriam se lembrado de em direção ao seu futuro designado - o tempo
que Deus havia Mado muitas veres e de muitas em que Ele o receberá como a sua herança
maneiras aos seus pais, durante os tempos do (1.2). Pelo fato de Cristo sustentar todas as
Antigo Testamento. Deus havia falado a Isaías em coisas, nada na criação é independente dele.
visões (Is 6), a Jacó, em um sonho (Gn 28.10- Todas as coisas são unidas de uma maneira
22), e a Abraão e Moisés, pessoalmente (Gn 18; coerente e lógica, sustentadas e preservadas,
Êx 31.18). Deus havia ensinado Jeremias através impedidas de se dissolverem no caos.
de lições ilustrativas (Jr 13) e havia ensinado o Somente nele e pela palavra do seu poder
povo através do casamento de um profeta (Os encontramos o princípio unificador de toda
1—3). Em outras passagens. Deus havia revelado vida. Ele é transcendente sobre todos os
a sua direçáo ao povo através de uma coluna de outros poderes.
nuvem e uma coluna de fogo (Êx 13.21) e os O Senhor Jesus é capaz de fazer isto
havia guiado nas tomadas de decisão através do porque, depois de morrer e ressuscitar, Ele
Urim e do Tumim (veja Êx 28.30; Nm 27.21). voltou ao céu e assentou-se no lugar de
mais elevada honra. A morte de Jesus tinha
1.2 O mesmo Deus que falou através dos realizado o que todos os sacrifícios de animais
profetas havia falado agora pelo Filho, ou nunca poderiam fazer - purificou o povo da
seja, através de Jesus Cristo. Jesus completou mancha do pecado. Esta declaração revela o
e cumpriu a mensagem que foi originalmente tema central da carta: o sacrifício superior,
trazida pelos profetas e pelos patriarcas. A suficiente e perfeito de Cristo pelos pecados.
frase “a quem Deus constituiu herdeiro de Nenhum sacrifício pelo pecado poderia
tudo” refere-se a Jesus como um herdeiro que ser maior do que o sacrifício oferecido pelo
assumirá a sua posição como príncipe do novo Criador - a sua morte na cruz. Jesus purificou
Reino. Referir-se a Cristo como o herdeiro 0 mundo do domínio do pecado e tomou
lhe confere a mais elevada honra e posição. para si a penalidade pelos nossos pecados
Esta passagem alude à realeza do Filho, que é individuais ao morrer em nosso lugar.
mencionado em Salmos 2.8. Nenhuma outra penalidade precisa ser paga.
Jesus trabalhou com Deus para criar o Nós podemos ser completamente purificados
mundo: por quem fez também o mundo (veja por causa da obra que Cristo fez.
também Jo 1.2; I Co 8.6; Cl 1.15,16). Jesus Agora Cristo está assentado à destra da
estava ativo no princípio dos tempos como o Majestade, nas alturas. Citando Salmos
agente da criação, e Ele agirá no fim dos tempos 1 lO.I, o escritor combinou dois pensamentos
como o herdeiro (veja SI 2.8; Rm 8.17; G14.7). do Antigo Testamento, expressando a grandeza
de Deus e a posição de Cristo. Assentar-se à
1.3 Sob a aparência humana de Jesus como destra de um monarca era ser o “segundo no
um carpinteiro judeu que se tornou pregador, comando” - literalmente, “o braço direito”.
estava o resplendor da glória de Deus. Jesus Isto oferece um retrato do poder e da
faz mais que meramente refletir a imagem de autoridade de Cristo sobre o céu e a terra (veja
Deus; Ele é Deus. Tudo que está relacionado também Mc 16.19; Rm 8.34). Salmos IIO.I
a Jesus expressa exatamente a imagem da é um texto crucial e proporciona uma força
pessoa de Deus. Portanto, Ele torna a essência condutora neste livro. E a única passagem na
e a natureza de Deus claras para nós (Jo 1. 18). Bíblia Sagrada onde outra pessoa além de Deus
Os profetas só podiam dizer ao povo aquilo é descrita como entronizada em poder. Este
que eles viram e ouviram. Jesus é o próprio versículo tornou-se um dos textos principais
Deus —a sua mensagem vem diretamente da para a igreja primitiva, que o utilizou como
fonte divina. um argumento para a divindade de Cristo.
HEBREUS / 586 Ap l i c a ç ã o P e s s o a l

CRISTO É M AIOR D O Q U E OS A N JO S / 1.4-14


Os anjos sáo servos de Cristo. Eles desempenham um papel vital no mundo de hoje
como espíritos ministradores enviados para servir àqueles que aceitam a salvação que
é concedida por Deus. Deus Pai chama Jesus Cristo de seu Filho Único e ordena aos
anjos que adorem a seu Filho. Se Deus, que está acima de todos, dá tal louvor a Jesus
Cristo, como é que nós poderíamos louvá-lo menos?

1.4 O escritor inicia aqui uma série de jamais disse a qualquer anjo o que disse a
argumentos que provam a superioridade Jesus.
de Jesus Cristo sobre os anjos. Os anjos sáo A primeira citação, “Tu és meu Filho,
seres espirituais criados por Deus e estáo sob hoje te gerei”, vem de um salmo de coroação.
a sua autoridade (Cl 1.16). Eles ajudam a Salmos 2.7 também foi citado no batismo
executar as obras de Deus na terra, trazendo de Jesus (Mc 1.11) e na transfiguração (Mc
as mensagens de Deus ao povo (Lc 1.26; Ap 9.7), bem como em 2 Pedro 1.17. O salmo
14.6-12), protegendo o povo de Deus (Dn era originalmente cantado na coroação de
6.22; Mt 18.10), oferecendo encorajamento um novo rei (talvez originalmente de Davi
(Gn l6.7ss.), dando direção (Êx 14.19), e Salomão). Este salmo foi usado durante
executando punições (2 Sm 24.16), séculos da história judaica como um cântico de
patrulhando a terra (Zc 1.9-14), e lutando adoração. Os rabis judeus dáo um significado
contra as forças do mal (2 Rs 6.16-18; Ap mais profiando ao cântico - um significado
20.1,2). Outros ensinos judaicos populares que ansiava pela vinda do Messias. Pelo fato
durante a época do Novo Testamento diziam de o Messias ter cumprido as promessas do
que os anjos levavam os pedidos das pessoas Antigo Testamento, o escritor entende que
a Deus e intercediam por elas. Por causa de estes versículos do Antigo Testamento se
todas estas crenças sobre anjos, os judeus os aplicam a Cristo.
honravam grandemente. No entanto, Hebreus Deus falou as palavras: “Eu lhe serei
enfatiza que Cristo e a sua obra superam em por Pai, e ele me será por Filho” a Davi
muito os anjos e as suas obras. Jesus criou o com respeito a Salomão (2 Sm 7.14; 1 Cr
mundo, sustenta o mundo, revela a glória 17.13). Embora Salomão tenha cumprido
de Deus, torna Deus conhecido, e provê o estas palavras, Hebreus ilustra que Cristo as
sacrifício perfeito pelos pecados. Nenhum cumpriu definitivamente e completamente.
anjo pode realizar qualquer uma destas obras. Em Joáo 7.42, os líderes religiosos discutiram
Cristo é muito maior do que os anjos sobre a autoridade de Jesus e aludiram a esta
porque herdou mais excelente nome do que passagem em Samuel, que dizia que o Messias
eles. O “nome” que Ele recebeu é contrastado deveria vir da família de Davi. Os títulos “Pai”
com os nomes dos anjos. Naquela época e e “Filho” revelam uma distinção entre estes
cultura, os nomes capturavam a essência de dois membros da Divindade. Eles também
uma pessoa (veja Gn 27.36). O “nome” que revelam o relacionamento especial do Filho
Jesus recebeu foi “Filho”. Este nome identifica com o Pai. Nenhum anjo pode reivindicar tal
que o seu relacionamento com Deus, o seu relacionamento.
poder para perdoar os pecados das pessoas e a
sua habilidade de tornar Deus conhecido sáo 1.6 O escritor diz que Deus introduz no
incomparáveis à capacidade de qualquer ser mundo o Primogênito. Nas famílias judaicas,
criado. o filho primogênito possuía a posição de mais
elevado privilégio e responsabilidade. Como o
1.5 Começando aqui, em 1.5, e continuando primogênito da criação, Jesus supera qualquer
até 1.13, o escritor acompanha sete citações ser criado. Por causa disto, o escritor não teve
do Antigo Testamento. O escritor apresenta problemas em atribuir a Cristo as palavras:
duas citações dos Salmos, dizendo que Deus “E todos os anjos de Deus o adorem”.
C o m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 587 / HEBREUS

Esta é uma porção de Deuteronômio 32.43, iniqüidade. Deus expressou alegria ao ungir
do “Cântico de Moisés”, encontrada na o perfeito Rei e Sacerdote.
Septuaginta (a antiga versão grega do Antigo
Testamento). Ela náo é encontrada na versão 1.10-12 Estas palavras de Salmos 102.25-
hebraica ou em algumas traduções baseadas 27 foram originalmente usadas em relação
no hebraico. Todas as citações em Hebreus sáo a Deus Pai, mas são usadas aqui para
da Septuaginta. No texto originai do Antigo descrever o Deus Filho. Jesus é tanto o Filho
Testamento, “o” (a ele) refere-se ao Pai. Pelo como o Criador. Ele é eterno e soberano e,
fato de somente Deus dever ser adorado, este portanto, digno de louvor. Hebreus celebra a
versículo é uma prova adicional de que Jesus permanência de Cristo, contrastando-o com
tem uma posição maior do que os anjos - ele a natureza temporária do mundo. O mundo
é Deus. parece permanente para nós, mas ele um dia
envelhecerá como uma roupa. O mundo,
1.7 Esta citação de Salmos 104.4 retrata como a roupa, será enrolado e desaparecerá.
os anjos como ministros. Ao descrever os Cristo, porém, será sempre o mesmo. Seu
anjos como ventos e labaredas de fogo, a lugar é permanente, e Ele substituirá este
Palavra continua a mostrar a superioridade mundo que está desaparecendo e que dará
de Jesus, contrastando a sua glória eterna lugar a um novo céu e a uma nova terra (veja
com o caráter temporário dos anjos. 12.26-28; Ap 21).
“Vento” e “fogo” servem como metáforas
para ilustrar a condição dos anjos como 1.13 Hebreus continua mostrando como a
seres criados. posição elevada de Cristo o torna superior
aos anjos. Esta declaração (citada a partir de
1.8,9 Estas palavras celebram a posição do Salmos 110.1) dizia que o Messias triunfará
Filho. Outra vez, o escritor citou um salmo sobre todos os seus inimigos, porque Ele é
(45.6,7) que teve asua origem na corte judaica. instruído a se assentar à destra de Deus. Esta
Este salmo seria cantado no casamento de um posição pertence a Cristo, e não a qualquer
judeu. Ao celebrar o alto ofício de rei, o povo ser criado. Os maiores arcanjos estáo diante
referia-se ao rei como “um deus”. Este título de Deus (Lc 1.19; Ap 8.2), mas a nenhum
era usado como uma menção à posiçáo do rei é permitido assentar-se, porque assentar-se
como representante de Deus. O título que ao lado de Deus significa igualdade.
o povo, de forma imperfeita, colocava sobre Deus prometeu colocar os inimigos de
o rei judeu era perfeitamente verdadeiro em Jesus por escabelo de seus pés. Este é um
relaçáo a Cristo. retrato que mostra Cristo completamente
Que o seu “trono subsiste pelo séculos vitorioso sobre os seus inimigos. A honra
dos séculos”, é uma expressão que enfatiza a de Jesus não pode ser suplantada, e nenhum
exaltação de Jesus. Seu reino é caracterizado anjo aproxima-se de sua honra.
pela eqüidade, bem como pelo amor por
aquilo que é certo e pelo ódio por aquilo 1.14 Cristo possui o direito de se assentar
que é errado. Somente Cristo possui tal à destra de Deus (1.13), enquanto os anjos
amor pela justiça e ódio pela iniqüidade. são seus servos. Os anjos são espíritos
Cristo é superior a qualquer outro ser ministradores que são envidados por
espiritual. Estas qualidades permitiram que Deus para servir a favor daqueles que
Jesus fosse ungido com óleo de alegria. Os háo de herdar a salvação. O propósito
judeus ungiam os seus reis e sacerdotes com dos anjos é servir; o propósito de Cristo
óleo santo. Esta descrição, portanto, traz é reinar. O fato de os anjos nos servirem
consigo um significado duplo, revelando deveria nos encorajar quando nos sentimos
que Jesus tinha sido ungido rei e sacerdote. desprezados e esquecidos. Pelo fato de
Ele pôde ser um sacrifício pelos pecados Deus nos amar, Ele envia os seus anjos
porque Ele era perfeito e aborrecia toda para nos ajudar.
HEBREUS / 588 Aplicaçã o Pessoal

HEBREUS 2
UM A ADVERTÊNCIA C O N TR A SE DESVIAR / 2.1-4
Aqueles que viajam por estradas náo gostam do surgimento repentino de sinais
de advertência, mas a viagem poderia ser perigosa sem estes avisos. O autor de
Hebreus apresenta uma série de advertências ao longo de toda a carta. Elas não
são luzes fortes, mas são gritos de: “Perigo!” Se náo dermos atenção aos avisos, não
escaparemos. Cristo anunciou a salvação, seus seguidores a confirmaram, e Deus
testificou a respeito dela.

2.1 A carta aos Hebreus foi escrita para (veja 1.1-3). Os crentes do Antigo Testamento
encorajar os cristãos judeus a nâo se desviarem que seguiam a Deus recebiam bênçãos, e
da fé. Se estes cristãos não tomassem cuidado, aqueles que desobedeciam a Deus recebiam
a pressão dos judeus descrentes ou outras punições. Se isto foi verdadeiro em relação à
influências poderiam fazer com que eles promessa trazida pelos anjos, então ninguém
se desviassem da verdade. Estas palavras que se mostrar indiferente à mensagem
encorajavam os leitores a ouvirem com muita escapará do castigo de Deus.
atenção, para que não perdessem o seu rumo. Três testemunhas provam a autenticidade
O que eles deveriam ouvir.^ A verdade da desta tão grande salvaçáo e a razáo pela qual
mensagem: a salvação só é possível através de os leitores náo deveriam ser indiferentes a ela:
Jesus Cristo.

2.2 Os versículos 2-4 explicam por que os 1. O próprio Senhor Jesus, e não anjos ou
cristãos deveriam prestar muita atenção à pessoas, anunciou esta salvaçáo (veja Lc
sua fé. Se desconsiderar a lei de Moisés trazia 19.9; Jo 4.22).
punição, então desconsiderar o Evangelho
traria uma punição muito maior.
2. Aqueles que o ouviram falar, testemunhas
“A palavra ialada pelos anjos” refere-se à lei do
Antigo Testamento. O relato de anjos entregando oculares do ministério de Jesus, passaram
a lei de Deus e colocando-a em açáo fazia parte adiante a mensagem de Jesus. Estes leitores
do dogma judeu e do dogma dos primeiros (e aparentemente o autor) náo tinham
cristáos (veja G1 3.19). Embora o livro de Êxodo visto a Cristo em carne. Eles são como
náo mencione anjos, os judeus acreditavam que nós; náo vimos a Jesus pessoalmente.
Deus operou através de anjos para dar a Moisés Baseamos a nossa crença em Jesus nos
os Dez Mandamentos (veja At 7.53). Deus deu relatos de testemunhas oculares que foram
a lei para governar a vida dos crentes do Antigo
registrados na Bíblia (veja Jo 20.29).
Testamento. Aqueles que criam em Deus e
obedeciam às suas instruções recebiam a sua
3- Deus testificou da mensagem por sinais,
bênção, enquanto que aqueles que se rebelavam
e milagres, e várias maravilhas, e dons do
descobriam que as pessoas eram punidas por toda
Espírito Santo. Estas coisas não foram dadas
transgressão e todo ato de desobediência (veja
por Deus para glorificar os apóstolos, ou para
Lv 26). Ao longo de todo o Antigo Testamento,
maravilhar o povo. Antes, Deus demonstrou
Deus impôs estas leis, abençoando o povo que o
o seu poder através dos apóstolos com estes
seguia e condenando o povo que o rejeitava.
eventos extraordinários, testificando assim
sobre a verdade da grande salvação que os
2.3,4 Como Cristo supera os anjos, a
apóstolos proclamavam. Os dons servem
mensagem de Cristo supera a mensagem deles
C o m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 589 / HEBREUS

como um lembrete constante aos crentes e muitos testificam de sua veracidade e poder
pelos séculos de que o Evangelho da salvaçáo mesmo hoje. Desviar-se desta verdade (2.1)
é verdadeiro. Ele foi anunciado e confirmado, seria tanto uma tolice como um desastre.

JESU S, O HO M EM / 2.5-18
Jesus veio como um ser humano para que pudéssemos ver, na forma humana, como
Deus é. Jesus, por sua vez, como um ser humano, experimentou as mesmas tentações
que todas as pessoas experimentam, mas Ele náo pecou. Entâo, como um ser
humano, Ele experimentou a morte. Através de sua vida na terra e de seu sacrifício
na cruz, Jesus tornou-se um irmão para toda a humanidade e um Sumo Sacerdote
que sofreu em favor do povo pecador. Através de sua ressurreição, Ele foi exaltado à
destra de Deus. Agora devemos viver através de seu exemplo.

2.5 A expressáo “o mundo futuro” refere- Embora Deus tenha dado aos homens
se ao Reino futuro que Cristo iniciou e que a autoridade sobre todas as coisas (Gn
herdará totalmente na sua segunda vinda. 1.28), o pecado entrou no mundo e os
O mundo futuro náo será controlado pelos impediu de cumprir este mandamento (Gn
anjos, mas por Cristo. Os anjos continuarão 3.17-19). Ainda náo vemos que todas as
a servir como servos de Deus. Estas palavras coisas lhe estejam sujeitas porque náo
enfatizam ainda mais a superioridade que o experimentaremos a perfeição neste mundo.
Filho tem sobre os anjos (1.13,14). Ainda não vemos a Jesus reinando na terra,
mas podemos imaginá-lo em sua glória
2.6-8 O escritor substancia as palavras de 2.5 celestial. Ele é o Senhor de tudo e de todos,
citando aqui Salmos 8.3,4, um salmo que fala e um dia reinará na terra como faz agora no
da insignificância dos seres humanos, assim céu.
como de sua grandeza. Comparadas com o
poder de Deus e a majestade de sua criação, 2.9 Embora náo tenhamos visto cumprido
as pessoas são insignificantes. Contudo, Deus o que o salmista escreveu no Salmo 8, nós
coroou as pessoas de glória e de honra quando vemos Jesus. As palavras do salmo, que foram
Ele as criou à sua imagem (Gn 1.27). Deus anteriormente aplicadas apenas aos homens,
também deu às pessoas a responsabilidade aqui sáo aplicadas ao Messias. Jesus tornou-
e uma tremenda autoridade sobre todas as se homem, feito um pouco menor do que
coisas (Gn 1.28). Deus tinha reservado este os anjos. Ele foi o línico que viveu a vida
papel principal para as pessoas. A frase “tu o humana como planejado: sem pecado e em
fizeste um pouco menor do que os anjos” perfeita comunháo com Deus. Antes de
mostra a superioridade humana sobre todas as Cristo, as palavras do Salmo 8 náo tinham
outras coisas criadas, exceto os anjos. Porém, sido totalmente percebidas, mas elas foram
devido aos pecados que praticaram, as pessoas completamente cumpridas em Cristo. Jesus
fracassaram em viver à altura de seu potencial, náo foi feito um pouco menor do que os
cumprir corretamente esta responsabilidade, anjos em sua categoria ou posiçáo, mas Ele
ou usar sabiamente a sua autoridade. O é descrito desta forma porque se tornou
salmo citado aqui se referia originalmente à parte do mundo físico, isto é, Ele tornou-se
humanidade e ao seu papel na criação, e o salmo humano.
era considerado messiânico. O autor pode ter Por causa da vida perfeita de Cristo e de
pensado no sentido duplo que está incluído seu sacrifício pelos pecadores, Ele está agora
nas palavras filho do homem, mostrando que coroado de glória e de honra. Cristo é digno
Jesus cumpriu o papel e o destino originalmente de receber estas recompensas porque ele sofreu
comissionados às pessoas. Jesus fez aquilo que a paixáo da morte por nós. Por meio de uma
os homens náo foram capazes de fazer. explicação adicional sobre esta morte, o escritor
HEBREUS / 590 Aplicaçã o Pessoal

elaborou a sua frase: Para que, pela graça de descobrirão que Jesus não se envergonha de
Deus, provasse a morte por todos. Jesus viveu chamá-los de membros de sua família (Lc
e morreu fisicamente. Jesus morreu por todos 9.26).
em todo o mundo, mas nem todos seráo salvos.
A única maneira de as pessoas serem salvas e 2.12 Os dois próximos versículos apresentam
de receberem o galardão de Deus é crerem “no três citações do Antigo Testamento para
Senhor Jesus Cristo” (At 16.31). mostrar o relacionamento entre Jesus e os
crentes. Jesus identificou-se prontamente com
2.10 Cristo, o líder perfeito, foi capaz de o povo de Deus.
cumprir o que nenhum outro ser humano Enquanto estava na cruz, Jesus citou as
foi capaz de cumprir. A expressão “muitos palavras de abertura do Salmo 22 (veja Mt
filhos” refere-se a 2.6-8. Embora as pessoas 27.46). Estas palavras de abandono no início
tenham sido comissionadas a governar a terra, deste salmo abrem caminho para palavras
os pecados que cometeram as impediu de de louvor no final, as quais são citadas aqui.
desempenhar esta tarefa. O sacrifício de Jesus A morte e a humilhação de Jesus na terra
traz os seus irmãos e irmãs humanos à glória terminaram em vitória, anunciando àqueles que
que um dia será restaurada às pessoas, em seu creram, seus irmáos e irmãs, quáo maravilhoso
Reino futuro. é o nome de Deus (2.11). “Anunciar um nome”
Pelo fato de Deus ter feito todas as coisas, significa revelar o caráter desta pessoa. Atribuir
Ele determina que sacrifício é necessário pelo a Jesus as palavras deste salmo messiânico
pecado. Ele, o Criador do mundo, determinou significa que Jesus, através de sua humanidade,
o que era necessário para a salvação. Pelas revelou o caráter de Deus. A frase “no meio da
aflições de Jesus, Deus pôde trazer as pessoas congregação”, citada aqui a partir da Septuaginta
à salvação. Jesus não precisava sofrer pela (a versão grega do Antigo Testamento hebraico),
sua própria salvaçáo, porque Ele é Deus. traz a mesma palavra grega que no Novo
A sua obediência perfeita (que o levou ao Testamento é traduzida como “igreja”.
caminho do sofrimento) demonstra que Ele
foi o sacrifício completo e perfeito por nós. 2.13 Estes versículos, originalmente registrados
Através do sofrimento, Jesus completou a em Isaías 8.17,18, aqui sáo aplicados a Cristo,
obra necessária para a nossa salvação. mostrando, além de todos os demais detalhes,
a identificação de Cristo com a humanidade.
2.11 Os cristãos são aqueles a quem Jesus Isaías foi perseguido, e a sua mensagem foi
santifica. Esta ação é definitiva. Nós fomos rejeitada pelo povo. Isaías exortou o povo a não
santificados - separados para o serviço a Deus. ouvir falsos conselhos, mas somente a Deus.
O nosso pecado foi derramado sobre Cristo Como Isaías, Cristo coloca a sua confiança
em sua crucificação; a sua justiça é derramada em Deus Pai. Cristo aceita prontamente o
sobre nós em nossa conversáo. Isto é o que os seu relacionamento com os filhos que Deus
cristáos querem dizer quando falam da expiação lhe deu. Estes sáo os seus “filhos” espirituais,
que Cristo fez pelo pecado. Embora Deus nos aqueles que são chamados de seus irmáos e
veja como completamente santos através do irmãs (2.11), o povo de Deus (2.12). Como
sacrifício de seu Filho, devemos crescer em aqueles que foram fiéis a Deus nos dias de
nossa santidade ao vivermos para Deus durante Isaías, devemos permanecer fiéis a Cristo,
toda a nossa vida. ignorando os conselhos que poderiam nos
Nós, que fomos separados para o serviço distrair enquanto o seguimos.
a Deus, purificados, e santificados por Jesus,
temos agora o mesmo Pai que Ele tem. Por 2.14 Depois de elaborar o seu caso de que
Deus ter adotado todos os crentes como seus Cristo havia se tornado um ser humano, o
filhos, Jesus não se envergonha de chamar escritor explicou por que essa associação e
os crentes de irmãos e irmãs. Aqueles que identidade eram importantes. A morte é o
não se envergonham de Jesus, aceitando-o medo comum e a experiência final de todas
alegremente como Senhor e Salvador, as pessoas, e somente como um ser humano.
C o m e n t á r i o do N o v o Testamento 591 / HEBREUS

feito de carne e sangue, é que Cristo poderia judeus como gentios. Os descendentes de
morrer, porque somente morrendo Ele Abraão sáo todos aqueles que compartilham
poderia aniquilar o poder do diabo, que tinha a fé de Abraão. Cristo não se tornou um anjo;
o império da morte. A sua morte e o seu Ele tornou-se um homem, a fim de ajudar os
retorno à vida mostraram que a morte tinha homens.
sido derrotada (Rm 6.9).
O pecado e a morte estáo interligados; o 2.17 Jesus Cristo tornou-se semelhante a
pecado resulta na morte. Somente aniquilando nós, seus irmáos e irmãs, para que pudesse
primeiro o poder do pecado é que Cristo ser misericordioso e fiel Sumo Sacerdote.
poderia entáo aniquilar o poder da morte. No Antigo Testamento, o sumo sacerdote
Ele realizou ambos através de sua morte e era o mediador entre Deus e o povo. Mas a
ressurreiçáo. Através destes atos. Cristo deu morte e a ressurreição de Jesus inauguraram
0 golpe final tanto em Satanás quanto na uma nova aliança. Sob a antiga aliança, os
morte. Embora Satanás ainda possua grande sumos sacerdotes tinham que se apresentar
poder sobre este mundo, ele está mortalmente diante de Deus uma vez por ano. A morte
ferido. Deus permite que Satanás trabalhe, de Jesus trouxe o perdão de uma vez por
mas o limita (veja Jó 1.12; 2.6; Ef 4.27; 6.11; todas para aqueles que nele crêem. Cristo
1 Tm 3.7; Tg 4.7; 1 Pe 5.8,9). Assim como a executou perfeitamente e completamente as
salvação é parcialmente percebida agora e será obrigações de um sumo sacerdote. Por isso, o
totalmente percebida depois, no Reino de escritor o chama de Sumo Sacerdote, o nosso
Deus, Satanás ainda está operando, mas um representante diante de Deus.
dia será destruído (Ap 20.10). Jesus tornou-se semelhante a nós em
tudo, exceto na natureza pecaminosa -
2.15 As pessoas sempre foram escravas do Jesus nunca compartilhou esta parte da
medo da morte. No final, porém, a morte humanidade (4.15; 7.26). Somente desta
atinge a todos. Através de Cristo, no entanto, forma Ele poderia oferecer um sacrifício para
não precisamos mais ter medo de morrer e da expiar os pecados do povo. Este sacrifício foi
morte. Cristo morreu e ressuscitou, e somente a sua vida. Um Deus santo não pode ignorar o
desta forma Ele poderia libertar a humanidade. pecado; assim, o pecado da humanidade tinha
Pelo fato de Cristo ter morrido e ressuscitado, que ser punido. No Antigo Testamento, Deus
nós não precisamos mais ser escravizados pelo pediu que o seu povo sacrificasse animais
medo de morrer. Sabemos que, pelo fato de (animais “perfeitos”, saudáveis e sem defeitos)
Jesus Cristo ter ressuscitado, nós também para expiar os seus pecados. No momento
ressuscitaremos. Nós morreremos fisicamente, certo. Deus lidou de uma vez por todas com
mas recebemos a promessa de novos corpos o pecado e com a sua conseqüência final - a
e uma nova vida na eternidade com Deus. morte e a separação eterna de Deus. Em vez
Assim, a morte torna-se a entrada para uma de mandar toda a humanidade para a punição
nova vida (1 Co 15.55,57; 2 Co 5.8). eterna, o próprio Deus tomou o castigo sobre
si mesmo (Rm 8.3). O pecado tinha que ser
2.16 Os anjos não eram os objetos da graça punido, mas Jesus derramou o seu sangue —
de Deus. Deus enviou Jesus para morrer pelas deu a sua vida - para tirar os nossos pecados,
pessoas, a descendência de Abraáo, que para que não tivéssemos que experimentar a
estavam perdidas em seus pecados (Rm 5.8). morte espiritual. Seu sacrifício transforma a
Alguns acreditam que esta frase só se refira nossa vida e o nosso coração e purifica o nosso
aos judeus, mas Jesus tinha explicado que é interior.
através da fé nele que as pessoas se tornam a
verdadeira descendência de Abraão (Jo 8.37- 2.18 Jesus veio à terra como um ser humano;
39; veja também G1 3.29). Jesus nasceu como portanto, Ele entende as nossas fraquezas
um judeu, um descendente de Abraão. A e nos mostra misericórdia. Por ter sido
sua morte e ressurreição trouxeram a oferta totalmente humano, Jesus mesmo, sendo
de salvação para toda a humanidade - tanto tentado, padeceu. Este sofrimento refere-se
HEBREUS / 592 Aplicação Pessoal

nâo só à cruz, mas também às tentações que em oraçáo, antes da sua crucificação. Tendo
Jesus experimentou durante toda a sua vida passado por todas as provas e tentações
- desde as tentações de Satanás, no deserto, da vida humana, Jesus pode nos socorrer
até às gotas de sangue que Ele derramou quando estamos sendo tentados.

HEBREUS 3
CRISTO É M AIOR D O Q UE M OISÉS / 3.1-19
Moisés sempre foi altamente reverenciado pelo povo judeu, pela igreja cristá, e até
mesmo nos filmes de Hollywood. Mas Jesus deve receber muito mais honra e glória
do que Moisés. Aquele que entregou a lei, Moisés, serviu a Deus fielmente. Mas Cristo
foi muito mais que um servo —ele é o Filho de Deus. Ele tem o completo comando
da casa de Deus, a igreja. Como cristáos, fazemos parte da casa de Deus, e Cristo é o
responsável por nós. Devemos reconhecê-lo como a nossa mais alta autoridade.

3 .1 0 capítulo 2 diz que somos irmãos e irmás a Deus. Jesus agora serve como o mediador
juntamente com Cristo. Nós pertencemos a entre as pessoas e Deus (um tema desenvolvido
Deus, o que significa que somos separados em 8.6; 9.15; 12.24). Estas palavras teriam sido
por Jesus para servir a Deus. Por causa deste especialmente significativas para os cristáos de
relacionamento, estamos ligados ao céu origem judaica.
(2 . 10).
Em 2.1, o escritor advertiu os cristáos a 3.2 Poucas pessoas nas Escrituras tiveram
náo se “desviarem” de sua fé. Este versículo dá estes três papéis: profeta, sacerdote, e líder.
uma ordem que ajudará os crentes a evitar este Moisés foi um homem assim, e foi honrado
desvio; Considerai a Jesus Cristo. Esta ordem pelos judeus. Moisés foi fiel, e toda a sua casa
vem de um forte verbo grego que significa (de Deus) lhe foi confiada (veja também Nm
“fazer uma reflexão atenciosa e diligente”. O 12.7). A vida e os escritos de Moisés atestam
texto de Hebreus chama Jesus de Apóstolo e a sua fidelidade. Para o povo judeu, Moisés
Siuno Sacerdote de Deus. Jesus foi enviado foi um grande herói; ele havia liderado os
como representante de Deus. Deus enviou seus antepassados, os israelitas, da servidão do
Jesus à terra como um Mensageiro; Jesus Egito até a fronteira da Terra Prometida. Ele
voltou ao céu como o nosso Sumo Sacerdote foi o profeta através do qual Deus entregou a
(um papel apresentado em 2.17,18). Ele veio, lei, e ele tinha escrito os cinco primeiros livros
entregando a mensagem de Deus para as do Antigo Testamento. E muito provável que
pessoas; e retornou, levando as pessoas de volta a expressáo “toda a sua casa” se refira ao povo
C o m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 593 / HEBREUS

escolhido de Deus, no meio do qual Moisés foi meramente um servo. A obra de Moisés foi
exerceu o seu ministério. Moisés havia servido uma ilustração das verdades que Deus iria revelar
a Deus fielmente, e o escritor de Hebreus depois. Moisés escreveu os cinco primeiros livros
honrou a Moisés, comparando-o ao Senhor do Antigo Testamento, registrando a história de
Jesus, que fisi fiel a Deus, que o constituiu. Israel. Mas esta história náo estava completa; as
Moisés conduziu o povo de Israel para fora palavras de Moisés apontam para frente, para o
da servidão do Egito; Cristo nos conduz para que estava por vir —o cumprimento através do
fora da escravidão do pecado. Ambos foram Filho de Deus.
fiéis à obra que Deus lhes deu a fazer. Cristo, o Fillio fiel, é superior a Moisés, assim
como um filho é superior ao servo. Embora ambos
3.3 Moisés foi um servo humano; Jesus Cristo tenham sido constituídos (3.2), e embora ambos
é digno de uma honra maior por ser a figura tenham sido fiéis, Moisés foi um servo, enquanto
central da fé, o próprio Deus. Embora Moisés Cristo está sobie sua própria casa, referindo-se
tenha servido fielmente na casa de Deus (entre à igreja, os crentes. Aqueles que fazem parte da
o povo de Deus) e tenha merecido o crédito casa de Deus tornaram-se participantes desta
por seu trabalho, Jesus merece muito mais bênçáo através da fé em Cristo. Cristo torna a
glória, porque Ele criou a casa e possui a glória nossa salvação segura, mas esta salvaçáo vem com
do próprio Deus (1.3). Moisés trabalhou na uma responsabilidade solene de conservarmos
casa, mas Jesus administra a casa. firme a confiança e a glória da esperança até
Os cristãos de origem judaica respeitavam ao fim. Aqueles que professam a Cristo devem
Moisés como um dos maiores mensageiros de demonstrar a verdadeira fé. Deus tinha exigido
Deus. A fim de mostrar que Cristo era superior fidelidade do grande líder Moisés e até mesmo do
à antiga aliança, o escritor tanto comparou como próprio Filho. Todo o povo de Deus, a sua casa,
contrastou Jesus e Moisés. Por causa da fidelidade os irmáos e irmãs de Cristo, devem permanecer
de Moisés, ele é digno de grande honra. Porém, fiéis. Cristo vive em cada crente; Ele nos ajudará
até mesmo o grande líder Moisés está longe de a permanecermos corajosos e esperançosos até o
ser igual a Cristo. Através de Moisés, o líder que fim. Nós náo somos salvos por sermos constantes
entregou a lei. Deus deu a antiga aliança. Mas ela e firmes em nossa fé, mas a nossa coragem e
foi meramente uma sombra daquilo que estava esperança revelam que a nossa fé é real. Sem
por vir (lO.I). Moisés foi um intermediário, o esta fidelidade duradoura, nós poderíamos ser
líder e intercessor do povo (veja Êx 32.11; Nm facilmente levados pelos ventos da tentaçáo, das
14.13); ele não poderia salvar a alma das pessoas. falsas doutrinas, e das perseguições.
Jesus realizou a nova aliança, pela qual a salvaçáo
poderia ser oferecida a todos os que crêem. 3.7-9 Deus, através do Espírito Santo, é o
verdadeiro autor do Antigo Testamento (veja
3.4 Se o edificador merece mais louvor do que também 10.15). O Espírito Santo inspirou os
a casa (3.3), quanto mais louvor Deus merece, profetas e os antepassados (1.1). O Espírito
por ter edificado todas as coisas - no que se Santo usou a citação do Salmo 95 (descrito
refere náo só à naçáo judaica ou à igreja cristá, nos parágrafos seguintes) para falar aos crentes
mas a toda a criação. A mudança de chamar hebreus do século I, e ele também se aplica
Jesus de edificador (3.3) para chamar a Deus de aos crentes de hoje.
edificador afirma a divindade de Cristo. Estes A citação vem de um salmo de adoração
primeiros leitores, que estavam considerando usado como uma abertura para a adoração na
a possibilidade de abandonar o cristianismo e sinagoga, na noite de sexta-feira e na manhã de
retornar às suas raízes e leis judaicas, estavam sábado. A primeira parte do salmo convoca o
correndo o risco de louvar mais à “casa” do que povo de Deus a adorá-lo. A segunda parte deste
ao edificador. Tal açáo os desviaria efetivamente salmo (a parte que é citada aqui) adverte o povo
daquele que é Deus, Jesus Cristo. de que os adoradores só podem adorar a Deus
se não estiverem se rebelando contra Ele.
3.5,6 Este texto repete o pensamento de 3.2 - Os leitores hebreus conheciam bem a
que Moisés foi fiel em toda a sua casa, mas ele história. A geração que deixou o Egito tinha
HEBREUS / 594 A p l i c a ç ã o Pessoal

testemunhado milagres espantosos, contudo Hb 4.4-9); (2) a terra prometida de Canaã


tinha perdido a fé em Deus. Eles estavam prestes (Dt 12.8-12; SI 95); (3) a paz com Deus
a entrar na Terra Prometida, mas ficaram com agora por causa do nosso relacionamento com
medo do relatório dos espias, que iâlava de Cristo pela fé (Mt 12.28; Hb 4.1,3,8-11); e
cidades muradas e homens gigantes. Naquele (4) a nossa futura vida eterna com Cristo
ponto, eles rebelaram-se, endurecendo os seus (Hb 4.8-11). Todos estes significados eram
corações, recusando-se a confiar que Deus provavelmente familiares aos leitores desta
os ajudaria a tomar a terra que Ele lhes havia carta, que eram cristãos de origem judaica.
prometido (Nm 13.26-14.38). A incredulidade
deles os impediu de receber as recompensas e 3;12 A lição da experiência de Israel aplica-se a
bênçãos que Deus tinha para eles. Embora Deus todos os crentes. Os leitores ainda não haviam
os tivesse resgatado miraculosamente do Egito se revoltado contra Cristo ou se desviado
e tivesse demonstrado o poder e o cuidado que dele, mas estavam correndo o risco de seguir
Ele dedica ao seu povo, este povo desobedeceu o exemplo da rebelião de Israel. Os israelitas,
a Deus. Não só naquele momento, mas durante que, com seus próprios olhos, tinham visto
todos os quarenta anos de peregrinação no grandes milagres da máo de Deus, tinham
deserto, o povo constantemente testava a se apartado de Deus. Os cristãos devem ter
paciência de Deus. Ele continuava a operar cuidado para não caírem no mesmo laço.
milagres em favor deles; eles continuavam a Nenhum cristão está imune de se desviar de
endurecer os seus corações contra Ele. Deus ou de rejeitá-lo. Às vezes, as pessoas
Os leitores originais desta carta estavam desviam-se gradualmente (como em 2.1-4); às
prestes a abandonar a Cristo e retornar vezes, elas rebelam-se. Nós, crentes, devemos
ao judaísmo. Esta passagem os lembrava vigiar cuidadosamente a nossa vida cristã.
das conseqüências de endurecer os seus Um coração mal e infiel leva a
corações contra Deus, usando o exemplo conseqüências terríveis; ele faz com que uma
de seus ancestrais. Esperava-se que estes pessoa se aparte do Deus vivo. Como ilustrado
cristáos aprendessem com os erros de seus pélos israelitas, corações duros podem causar
antepassados. Os crentes sáo advertidos: Se rebeliáo. Desviar-se do cristianismo implica
ouvirdes hoje a sua voz, náo endureçais o em mais do que desviar-se de um sistema
vosso coraçáo. Corações endurecidos podem de crenças ou um conjunto de doutrinas;
ser o resultado da desobediência, da rebelião, significa desviar-se de Deus.
da falta de confiança, da negligência em
relação à adoração, da recusa a se sujeitar, e da 3.13 Uma salvaguarda que pode impedir que
ingratidão pelo que Deus tem feito por nós. os crentes se desviem de Deus é: Exortai-vos
uns aos outros todos os dias. Os crentes
3.10,11 A rebelião deixa Deus indignado, devem continuamente lembrar uns aos outros
conforme expresso nestas palavras do Salmo de se afastarem do pecado e permanecerem
95. Deus não ignora o pecado; o Senhor age concentrados em Cristo. As pessoas não
contra ele e o pune. Deus indignou-se porque podem viver como cristãs em um vácuo. Os
eles sempre erram em seu coraçáo. O povo cristãos precisam uns dos outros, para que
continuamente se desviava de Deus em nenhum deles se endureça pelo engano do
suas atitudes, pensamentos, e crenças. Se os pecado contra Deus. Protegemo-nos contra
corações do povo tivessem honrado a Deus, o engano do pecado verificando (1) as nossas
eles teriam confiado era Deus e entrado na intenções e desejos particulares comparados
Terra Prometida. Mas a sua rebelião levou às intenções e desejos de um grupo de amigos
ao castigo. Os israelitas perderam a chance cristãos de confiança e (2) as intenções
de entrar na Terra Prometida quando Deus e desejos do nosso grupo comparados às
disse: “Náo entraráo no meu repouso”. O doutrinas da Palavra de Deus.
repouso de Deus tem vários significados nas
Escrituras: (1) o sétimo dia da Criação e o 3.14 A fé é uma jornada. Os crentes devem
sábado semanal que o comemorava (Gn 2.2; ser fiéis até o fim, confiando em Deus de
C o m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 595 / HEBREUS

uma forma táo firme quanto aquela que conduzir o povo para fora, contudo eles se
tínhamos quando cremos, no princípio. rebelaram contra Deus. Os israelitas rebeldes
Com o passar do tempo, náo devemos deixar fracassaram e náo entraram na Terra Prometida
que as dúvidas e os temores nos afastem do porque não creram na proteção de Deus (veja
Senhor. O escritor estava preocupado porque Nm 13—14). Então, Deus os enviou para o
a fé de alguns destes cristáos hebreus estava deserto para vagarem por quarenta anos.
vacilando. Ele lhes rogou que permanecessem Aqueles que se rebelaram caíram (morreram)
firmes, para que, no final, pudessem se tornar no deserto, sem nunca terem experimentado
participantes de Cristo. Os leitores judeus a Terra Prometida. A patente oposição a Deus
de Hebreus iriam entender esta imagem dè fé, gera resultados catastróficos, impedindo a
porque foi a experiência real da geração que entrada no repouso de Deus. Não devemos
havia saído do Egito, no Êxodo. Através da menosprezar a ira de Deus.
infidelidade e da rebeliáo, os israelitas haviam
perdido as bênçãos de Deus. O escritor volta- 3.18,19 A geração rebelde de israelitas
se para este tema nos versículos seguintes. náo pôde entrar no seu lugar de repouso
(a Terra Prometida) por causa da sua
3.15 Repetindo uma citação usada em 3.7, o incredulidade. Mas esta “incredulidade” era
escritor continua a lembrar o povo de que náo mais que apenas um processo mental; a sua
devem endurecer os seus corações. Quando incredulidade fez com que desobedecessem.
os israelitas se rebelaram no deserto, eles não Há uma forte ligação entre a incredulidade (a
confiaram em Deus, nem foram fiéis até o atitude subjacente) e a desobediência (a açáo
fim. Os cristãos devem ser fiéis. A palavra resultante). Tanto as suas açóes como as suas
(de 3.13) “hoje” mostra a urgência desta crenças os condenaram.
mensagem. Hoje podemos agir; não sabemos A naçáo havia sido resgatada do Egito,
o que acontecerá amanhã. (Para mais detalhes havia visto a salvaçáo de Deus, e havia recebido
sobre corações endurecidos, veja o comentário a esperança de uma nova terra. Contudo, eles
sobre 3.7-9.) tinham sido desobedientes. Os cristáos foram
resgatados do pecado, viram a salvaçáo de Deus, e
3.16,17 A ilustração do escritor assinala que um receberam a esperança da vida eterna. Para aqueles
bom começo não garante um final vitorioso. que rejeitam a Cristo, a penalidade é maior do
Se o povo pôde se rebelar contra Deus mesmo que aquela que foi infligida sobre os israelitas.
depois de ter, na verdade, ouvido a sua voz, A penalidade é a rejeição de Deus. Assim como
o perigo de enfraquecer é real para qualquer Cristo foi maior do que Moisés, aqueles que
cristão. Os israelitas viram as pragas que rejeitam a Cristo receberão uma punição maior
Deus enviou sobre o Egito, antes de Moisés do que aqueles que rejeitaram a Moisés.
HEBREUS / 596 A pl i ca çã o Pessoal

HEBREUS 4 . 1-13

O REPOUSO PRO M ETID O AO POVO DE DEU S / 4.1-13


O final do capítulo 3 explica que os israelitas que se rebelaram contra Deus nunca
entraram “no seu repouso” (referindo-se à Terra Prometida, mencionada em
3.18,19). Tendo mostrado que Jesus é superior ao grande líder Moisés, o autor
passou para um outro grande líder israelita, Josué. O servo de Deus Josué conduziu
Israel para a Terra Prometida, contudo ele não proporcionou o verdadeiro “repouso”
de Deus (veja 4.8). Alguém maior do que Josué realizou esta obra gloriosa.

4.1 Embora a geração seguinte de israelitas estava misturada com a fé naqueles que a
(depois daqueles que pecaram e morreram ouviram. A mensagem de Deus não deve
no deserto) tenha entrado e possm'do a terra, somente ser ouvida; ela também deve estar
isto era apenas uma sombra do “repouso” final combinada com a fé, para que seja eficaz.
que estava por vir. O povo judeu recusou o
plano de Deus e rejeitou o seu Salvador; desta 4.3 Já foi explicado que os judeus do Antigo
forma, a promessa de entrar no seu repouso Testamento tinham falhado em entrar no
ainda permanece - Deus tornou este repouso “repouso” de Deus (veja o comentário sobre
disponível aos cristãos. Visto que Deus tinha 3.10,11,18,19). Contudo, esta promessa de
impedido que os israelitas rebeldes entrassem repouso ainda permanece (4.1). Somente
em seu “repouso”, a promessa está aberta para aqueles que crêem podem entrar no lugar
aqueles que permanecerem obedientes a Ele. de repouso de Deus. Crer em Jesus Cristo
A promessa não foi cumprida, mas também pode parecer algo fácil, que quase não requer
não foi revogada. Porém, os cristãos podem esforço, apenas um sinal com a cabeça,
aprender com o erro trágico dos israelitas. uma oraçáo rápida ou encaminhar-se para a
O escritor de Hebreus advertiu os leitores frente em um culto da igreja. Embora fazer
de como seria grave desviarem-se de Cristo, uma profissão de fé em Cristo seja simples,
dizendo: Temamos, pois, que porventura... crer verdadeiramente em Cristo conduz a
pareça que algum de vós fique para trás. uma vida de compromisso e discipulado que
Assim como Deus rejeitou os israelitas rebeldes colocará o crente em desavença com o mundo
com base na incredulidade que demonstraram ganancioso, egoísta, cruel, e que tenta se
(3.19), Ele rejeitará aqueles que se desviarem apoderar do poder. As pessoas que crêem em
de Cristo, que se recusarem a crer nele, ou que Jesus descobrem que cada dia exige um esforço
se recusarem a segui-lo. total. Aqueles que crêem desta maneira entram
no lugar de repouso de Deus. Para aqueles
4.2 Os judeus do Antigo Testamento que falham em crer, há uma dura advertência
receberam a mensagem de Deus no grande (veja também 3.11,18,19; 4.5). Pelo fato de
livramento do Egito e na aliança dada a os israelitas não terem tido a fé necessária
Moisés, no Monte Sinai. Estes crentes do para receber o descanso de Deus quando Ele
Novo Testamento receberam estas Boas o ofereceu. Deus, em sua ira, jurou que eles
Novas do lugar de repouso de Deus na pessoa jamais entrariam naquele descanso. A ira de
de Jesus Cristo, através de sua morte na cruz Deus não é rancorosa ou reacionária. Antes, a
e de sua ressurreição. Os judeus tanto da era sua ira surge da perfeição de seu caráter. Visto
do Antigo Testamento como da era do Novo que Deus é perfeito, Ele ira-se com o pecado.
Testamento tinham recebido um comunicado A incredulidade dos israelitas fez com que eles
de Deus. Mas, para muitos, a mensagem nada perdessem o direito ao repouso prometido de
lhes aproveitou. Por que não? Porque ela náo Deus, embora as obras do Senhor estivessem
Comentário do N o v o T e s t a m e n t o 597 / HEBREUS

acabadas desde a fundação do mundo. escritor outra vez advertiu seus leitores a
Tudo o que Deus faria já tinlia sido planejado nâo endurecerem os seus corações (veja o
e previsto. A questáo é que o repouso de Deus comentário sobre 3.7-9).
tem estado disponível ao seu povo desde o A frase “determina, outra vez, um
início dos tempos. O “repouso” oferecido certo dia” significa que o tempo de repouso
na Terra Prometida retratava meramente o chegará, e de fato já chegou, porque o tempo
repouso verdadeiro e final que haverá no céu é hoje. Na época em que o Salmo 95 foi
para aqueles que crerem. escrito (e ele foi parcialmente citado neste
versículo), ninguém tinha entrado no repouso
4.4 Gênesis 2.2 registra que, no sétimo dia, completo de Deus. Muitos judeus podem ter
depois de criar o universo. Deus repousou, acreditado que já haviam recebido o repouso
náo porque estivesse cansado, mas para indicar de Deus, por habitarem na terra de Canaá.
o término da criação. O mundo era perfeito, Mas o escritor argumenta que isto náo pode
e Deus estava satisfeito com ele, de modo que ser assim. Josué e os israelitas estabeleceram-
Ele repousou. Isto não significa que Deus se em Canaã e realmente alcançaram períodos
tenha se tornado ocioso; Jesus ensinou que de paz e prosperidade. Contudo, se este
Deus ainda trabalha (Jo 5.17). O repouso de tivesse sido o repouso prometido de Deus,
Deus é tanto a paz presente com Deus como não falaria, depois disso, de outro dia de
a alegria eterna e futura, quando a criação será repouso. Em outras palavras, não teria havido
renovada, cada traço de pecado, removido, e nenhuma necessidade desta renovação da
o mundo, tornado perfeito outra vez. Aqueles promessa registrada aqui, do salmo escrito
que crêem se juntarão a Deus em seu repouso por Davi. Se Deus pretendesse ter apenas um
e, um dia, serão restaurados a uma condição reino terreno, Ele nâo teria prometido um
perfeita. O nosso repouso em Cristo começa “outro dia”. Portanto, o repouso nâo estava na
quando confiamos que Ele completará a sua terra, mas no Reino eterno de Deus.
obra boa e perfeita em nós.
4.9 A palavra “portanto” indica que o que se
4.5,6 Porém, para aqueles que não crêem, o segue é uma conclusão lógica a partir daquilo
autor repete a sua advertência que foi expressa que a precedeu. As palavras “repouso especial”,
em outra passagem, tirada do Salmo 95 (veja em algumas traduções, são uma única palavra
também o comentário sobre 3.10,11,18,19; em grego, ocorrendo apenas aqui em toda
4.3). O povo de Deus, que tinha visto a Bíblia em grego. O tipo de repouso que o
grandes milagres no êxodo do Egito, jamais autor descreveu é diferente do que os israelitas
entrou no repouso de Deus. Ter grandes esperavam. Este repouso refere-se ao que
líderes, como Moisés, Josué, e Calebe, nâo Deus fez quando terminou a criação (veja o
encobre a incredulidade e a rebeliáo do povo. comentário sobre 4.4,10). Resta ainda este
O pecado do povo nâo só impediu que eles repouso. Ele ainda náo foi realizado, como o
possuíssem a terra, como também impediu autor explicou acima.
que eles tivessem uma íntima comunháo Por que este repouso era tâo importante
com Deus. Devemos ter cuidado para náo para os leitores desta carta? Os leitores, que
acreditarmos que somos cristáos só porque eram cristãos de origem judaica, tinham
pertencemos a uma igreja boa, ou porque duas razões importantes para aguardar
temos uma boa família cristá. Os israelitas, o ansiosamente pelo repouso. (1) A história
povo escolhido de Deus, não entraram por judaica estava repleta de peregrinações e
causa da desobediência a Deus. Mas isto náo tumultos políticos. Descansar finalmente nas
significa que o lugar de repouso de Deus náo promessas plenas e cumpridas de Deus seria
exista mais. Ele ainda está à nossa espera, à uma grande consolação. (2) Os cristáos no
espera do povo de Deus. século I freqüentemente se deparavam com
privações e dificuldades, com a animosidade
4.7,8 A humanidade nâo perdeu a sua chance dos agentes de Satanás, e com a tarefa de
de salvação com o fracasso de Israel, mas o carregar a “cruz” —identificando-se com Jesus.
HEBREUS / 598 Aplicação Pessoal

Aqueles que se converteram da fé judaica ao possuíssem. Todos os crentes devem desenvolver


cristianismo freqüentemente incorriam na ira diligentemente a sua fé, procurando obedecer
de outros judeus (enfrentando a excomunhão) a Jesus dia a dia, aproximando-se de Deus
e de suas famflias (sendo repudiados). Entrar através de experiências na vida (Fp 2.12). Náo
no repouso de Deus que foi prometido é uma há nenhum momento - enquanto vivermos na
grande promessa - ali a luta cessará, e a dor terra - no qual um cristáo “chegue” à perfeita
desaparecerá. espiritualidade. Todos os dias, o povo de Deus
Contudo, este repouso permanece está fazendo uma escolha, aproximar-se de
somente para o povo de Deus. Embora o povo Deus ou afastar-se dele.
judeu, a quem foi oferecido originalmente o Entretanto, a mensagem aqui é uma
repouso, o tivesse recusado, o plano de Deus advertência às pessoas que se mostrassem
não poderia ser frustrado; Deus o ofereceu a preguiçosas em sua vida espiritual. A
outros - tanto judeus como gentios que crêem preguiça pode fazer com que uma pessoa
em Jesus Cristo como Salvador. (Este ensino caia na desobediência, e qualquer pessoa que
é similar à parábola de Jesus da grande ceia, desobedecer a Deus cairá. As pressões de hoje
registrada em Lucas 14.15-24.) tornam fácil ignorar ou esquecer as lições do
passado. Mas o autor aconselha os leitores
4.10 O autor mostrou que o repouso permanece a se lembrarem das lições que os israelitas
para o povo de Deus - os cristãos (4.6,9). Este aprenderam a respeito de Deus, para que
repouso permanece, e as pessoas encontrarão evitem repetir os erros dos israelitas.
repouso de suas obras. Este “repouso de
suas obras” começa agora, ou os crentes 4.12,13 Deus sabe se fazemos ou não todos
têm que esperar pelo céu? Alguns sugerem os esforços possíveis (4.11), e se temos ou não
que ele começa depois da morte, citando verdadeiramente chegado à fé em Cristo; náo
'Apocalipse 14.13. Muito provavelmente, há criatura alguma encoberta diante dele.
porém, os crentes experimentam o repouso Podemos enganar a nós mesmos ou a outros
de Deus nesta vida presente, mas o receberão cristáos no tocante à nossa vida espiritual,
completamente e plenamente depois da mas não podemos enganar a Deus. Ele sabe
morte, quando chegarem ao céu. As “obras” quem nós realmente somos porque a Palavra
das quais os crentes podem repousar não de Deus é viva e eficaz. A Palavra de Deus
significam inatividade. Afinal, os crentes não pode ser desprezada nem desobedecida.
têm muito trabalho a fazer neste mundo, a Os israelitas que se rebelaram aprenderam da
fim de divulgar o Reino de Deus. O termo maneira mais difícil que, quando Deus fala,
“obras”, portanto, pode se referir a cessar de eles devem ouvir. Ir contra Deus significa
tentar trabalhar para a salvação. Muitos destes encarar o juízo e a morte.
leitores judeus haviam sido criados sob o A Palavra de Deus é viva, transforma
sistema farisaico de leis rígidas e da guarda de vidas, e é dinâmica quando opera em nós.
ordenanças. Estes cristãos de origem judaica As exigências da Palavra de Deus requerem
podiam repousar destas obras, confiando na decisões. Nós nâo só a ouvimos, mas deixamos
obra que o Senhor Jesus Cristo fez. O repouso que ela molde a nossa vida. Pelo fato de a
prometido para os crentes é o mesmo que o Palavra de Deus ser viva, ela aplicava-se a estes
repouso de Deus, e tem a mesma certeza; será cristãos judeus do século I, como também se
o mesmo repouso que Deus desfrutou depois aplica aos cristãos de hoje. A maioria dos livros
de criar o mundo (veja 4.4). pode se parecer com artefatos empoeirados
colocados simplesmente sobre uma estante,
4.11 Esta declaração é um paradoxo intencional; mas a Palavra de Deus, reunida nas Escrituras,
Procuremos, pois, entrar naquele repouso. vibra com vida.
Precisamos nos esforçar para obter o que é A Palavra de Deus penetra através da nossa
nosso por promessa, mas que ainda náo é nosso fachada exterior e revela o que está em nosso
por experiência. A boa terra foi prometida aos interior, no mais profundo de nosso ser. A
filhos de Israel, mas só seria deles quando eles a metáfora da espada de dois gumes retrata a
C o m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 599 / HEBREUS

Palavra de Deus que penetra até à divisão da de um lutador que aplica uma “gravata”.
alma, e do espírito... e é apta para discernir os A Palavra de Deus penetra como uma
pensamentos e intençóes do coração, revelando espada, expondo-nos a Deus, a quem devemos
o que realmente somos por dentro. Nada pode explicar tudo o que fizermos. Todas as pessoas
ser escondido de Deus; também náo podemos devem prestar contas a Deus, mas sem aparências
nos esconder de nós mesmos, se estudarmos exteriores ou tentativas de argumentar. Estas
sinceramente a Palavra de Deus. Ela alcança o palavras advertem que os crentes devem tomar
nosso interior atravessando a nossa vida exterior, cuidado para não se desviarem, mas obedecerem
assim como uma espada atravessa a pele. a Deus com sinceridade. Deus é o supremo juiz.
Dois pensamentos sáo apresentados pela Este versículo pavimenta o caminho para a
frase “todas as coisas estáo nuas e patentes próxima seção, que descreve Jesus Cristo como o
aos olhos de Deus”. (1) Não podemos dar nosso Sumo Sacerdote. Com a nossa vida despida
desculpas, justificativas, ou razões - todas diante de Deus, estaríamos irremediavelmente
as coisas sáo vistas exatamente como são. perdidos sem Cristo. Pelo fato de Jesus ter
Ninguém pode enganar a Deus. (2) Somos tomado o nosso juízo e servido como o nosso
expostos, impotentes e indefesos diante de advogado para com Deus, podemos descansar
Deus. A palavra refere-se a um golpe paralisante em segurança na presença de Deus.

HEBREUS 4 .1 4 -5 .1 0

CRISTO É O N O SSO SUM O SACERD O TE / 4.14-5.10


Estes versículos logicamente seguem 2.17-3.1. A seçáo interveniente explica como
Jesus é maior do que Moisés e Josué, dois dos grandes líderes de Israel. Jesus é maior do
que a lei que Moisés deu; Ele dá um repouso maior do que o repouso que Josué deu ao
conquistar a Terra Prometida. O escritor prossegue para mostrar como Jesus também
é maior do que qualquer um no sacerdócio judeu, uma outra parte importante da
herança judaica. O nosso Sumo Sacerdote misericordioso e fiel, Jesus Cristo, tornou-se
como nós a fim de morrer por nós, oferecendo o sacrifício definitivo pelo pecado.

4.14 Para os leitores cristãos judeus, o interceder junto a Deus pelos pecados da
sumo sacerdote tinha sido a sua mais nação (Lv 16). Mas Jesus é um grande
elevada autoridade religiosa. O sacerdócio Sumo Sacerdote, melhor que todos os
começou com Arão, irmão de Moisés (Ex sumos sacerdotes de Israel. Aqui estáo as
28.41). Somente o sumo sacerdote podia razões:
HEBREUS / 600 Ap l i c a ç ã o P e s s o a ':

• Os sumos sacerdotes eram homens que Jesus entende as nossas fraquezas. Não apenas
podiam oferecer sacrifícios, mas que não isso, mas Ele também em tudo foi tentado,
podiam fazer nada para tirar o pecado. mas sem pecado. Jesus, em sua humanidade,
Jesus deu a sua vida e morreu como o sentiu a luta e a realidade da tentação. O
texto em Mateus 4.1-11 descreve uma série
sacrifício supremo e final pelo pecado.
específica de tentações do Diabo, mas Jesus
provavelmente enfrentou tentações ao longo
• O sumo sacerdote podia entrar no de toda a sua vida terrena, assim como nós as
Santo dos Santos somente uma vez por enfrentamos (veja 1 Jo 2.16).
ano para fazer a expiação pelos pecados
da nação. Jesus penetrou nos céus e 4.16 Através de sua morte na cruz, o nosso
tem acesso irrestrito a Deus Pai. grande Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, abriu
o acesso a Deus. Agora as pessoas podem se
• Os sumos sacerdotes eram humanos e aproximar de Deus diretamente por causa
do sacrifício que Jesus fez pelos pecados. Por
pecadores. Jesus intercede a Deus pelas
Jesus ter dado a sua vida para fazer isto a nosso
pessoas como o Filho de Deus, que nâo
favor, cheguemos, pois, com confiança ao
tem pecado, o qual é, ao mesmo tempo, trono da graça de Deus. Este versículo é um
humano e divino. convite aberto para considerarmos a Deus
como um grande aliado e um verdadeiro
• Os sumos sacerdotes eram as amigo. Sim, Deus ocupa um trono, um lugar
autoridades religiosas mais elevadas para de poder e autoridade, mas é um trono de
os judeus. Jesus tem mais autoridade do um Deus misericordioso. “Graça” significa
que os sumos sacerdotes judeus, porque favor imerecido. A nossa capacidade de nos
Ele é tanto Deus como homem. aproximarmos de Deus nâo vem de nenhum
mérito próprio que tenhamos, mas depende
inteiramente dele. Ele é o nosso Pai, que nos
• As pessoas nâo podiam se aproximar
ama como seus filhos. Do trono de Deus,
de Deus, exceto através de um sumo não receberemos ira, nem seremos ignorados;
sacerdote. Quando Jesus morreu, o antes, poderemos alcançar misericórdia
véu que separava o Santo dos Santos e achar graça, a fim de sermos ajudados
no Templo foi rasgado em dois, em tempo oportuno. Deus está atento
indicando que a morte de Jesus Cristo às nossas necessidades. Nenhum pedido
tinha aberto o caminho para que as é insignificante, e nenhum problema é
pessoas pecadoras pudessem se chegar à pequeno demais. Deus promete ajudar-nos
no momento certo —no tempo dele. Isto nâo
presença do Deus santo.
significa que Deus promete resolver todas
as necessidades no exato momento em que
Por causa de tudo o que Jesus Cristo
o buscarmos. Tampouco significa que Deus
fez e está fazendo por nós, retenhamos
apagará as conseqüências naturais de qualquer
firmemente a nossa confissão. Permita que
pecado que foi cometido. Significa, porém,
Jesus seja o seu Sumo Sacerdote; somente Ele
que Deus ouve, cuida, e responderá do seu
pode lhe proteger do juízo inevitável (descrito
modo perfeito, em seu tempo perfeito.
em 4.12,13). Cristo é um Sumo Sacerdote
fiel que representa todos aqueles que confiam
5.1 Os leitores hebreus teriam conhecimento
nele.
de que todo sumo sacerdote, tomado
dentre os homens, é constituído a favor dos
4.15 Pelo fato de Jesus, o nosso Sumo
homens nas coisas concernentes a Deus. Um
Sacerdote, ter-se tornado como nós. Ele
sumo sacerdote tinha duas tarefas principais:
experimentou a vida humana de uma forma
representar Deus junto ao povo, ensinando a
completa. Ele cansou-se, teve fome, e enfrentou
Palavra de Deus, e representar o povo junto a
as limitações humanas normais. Dessa forma.
C o m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 601 / HEBREUS

Deus, ao fazer a expiação pelos seus pecados honra, mas foram honrados pela seleção de
(Lv 1-4; 16). O sumo sacerdote servia como Deus, assim também Cristo não se glorificou
o “chefe” sobre todos os outros sacerdotes, de a si mesmo, para se fazer sumo sacerdote.
modo que ele era encarregado de apresentar Cristo também foi escolhido por Deus, como
os dons do povo a Deus e oferecer os seus demonstrado pela citação de Salmos 2.7: “Tu
sacrifícios pelos pecados. Todo pecado exigia és meu Filho, hoje te gerei”. Cristo tornou-
uma penalidade e um sacrifício para que o se Sumo Sacerdote e preencheu perfeitamente
adorador recebesse o perdão. Nenhuma pessoa os requisitos desta função imprescindível.
podia oferecer um sacrifício sem o attxílio de
um sacerdote como um mediador. A idéia do 5.6 Embora Cristo tenha preenchido os
mediador é central na Bíblia. Os homens, requisitos acima para se tornar o Sumo
sujeitos a pecar e por natureza inclinados a Sacerdote perfeito, Ele não possuía um
pecar, precisam de uma mediação para que requisito significativo: Ele não nasceu na tribo
estabeleçam um relacionamento com o Deus de Levi, nem era da descendência de Arão.
santo. Jesus era da tribo de Judá (veja Gn 49.10;
Mt 2.6; Ap 5.5). Apenas levitas podiam ser
5.2 O sumo sacerdote judeu era apenas um sacerdotes, e apenas os descendentes de Arão
ser humano, estando ele mesmo rodeado de podiam ser sumos sacerdotes, no sistema
fraqueza, como as outras pessoas. Este versículo judaico. A carta aos Hebreus, porém, diz
retrata um sumo sacerdote que, totalmente como o sacerdócio de Cristo era maior do que
ciente de sua própria pecaminosidade e o sacerdócio de Arão, citando Salmos 110.4:
mortalidade, se identifica e lida ternamente “Tu és sacerdote, eternamente, segundo a
com aqueles que ele representa, embora sejam ordem de Melquisedeque”. Estas palavras,
ignorantes e errados. O conhecimento do vindas do inspirado salmista Davi, predisseram
sacerdote em relação às pessoas é intenso, que o Messias viria de uma linhagem de
pessoal, e enfático. sacerdotes que não se originava em Arão. Este
tema é discutido extensivamente no capítulo
5.3 O sumos sacerdote deveria entender como a 7. Os sacerdotes na linhagem de Arão não
sua tarefa era humilde, dentre todas as pessoas - e eram sacerdotes para sempre. Jesus, porém,
quão vital era o papel que ele desempenhava. Sem
é sacerdote eternamente. Além disso, os
a sua mediação, o povo pereceria. Ele tinha que,
descendentes de Arão eram sacerdotes, mas
tanto pelo povo como também por si mesmo,
fazer oferta pelos pecados. O sumo sacerdote, náo reis. Os reis de Israel não podiam ter as
embora ocupasse uma posição honrosa e de funções de sacerdote (aqueles que tentaram
prestígio como mediador entre Deus e o povo, náo sofreram conseqüências terríveis, tais como
estava absolvido da penalidade pelo seu próprio Saul, em 1 Samuel 13.8-14, e Uzias, em 1
pecado. Ele também não estava em uma categoria Crônicas 26.16-21).
especial de seres humanos, ou isento da iei.
5.7 Os sumos sacerdotes tinham que ser
5.4 A posição de sumo sacerdote tinha em si humanos (e, dessa forma, capazes de se
uma honra especial, e ninguém podia se tornar compadecer daqueles que eles representavam),
um sumo sacerdote só porque o quisesse. O e tinham que ser chamados por Deus. Cristo
sumo sacerdote tinha que ser chamado por preencheu estes dois requisitos (4.15; 5.5,6).
Deus, como Aráo (Êx 28.1-3). Arão, irmão A humanidade de Jesus permitia que Ele se
de Moisés, serviu como o primeiro sumo compadecesse de nós. Para mostrar isto, o
sacerdote de Israel. O texto em Levítico 8 e 9 escritor lembrou os leitores de como Jesus,
descreve a cerimônia de ordenação para Arão e nos dias da sua carne, agonizou enquanto se
seus filhos. A “santidade” deles vinha somente preparava para enfrentar a morte (Lc 22.41-
de Deus, e não de seu papel sacerdotal. 44). Embora Jesus tenha clamado a Deus,
pedindo para ser livrado, Ele estava preparado
5.5 Como os sumos sacerdotes do Antigo para sofrer humilhações, a separação de seu
Testamento não tomaram para si mesmos a Pai, e a morte, a fim de fazer a vontade de
HEBREUS / 602 A p l i c a ç ã o Pessoí

Deus Pai. Ele ofereceu, com grande clamor sua perfeição foi colocada à prova e mostrou-
e lágrimas, orações e súplicas. Ele sabia se triunfante. Pelo fato de os homens
que tinha sido enviado para morrer, mas, em experimentarem o sofrimento e a morte.
sua humanidade, enfrentou grande temor e Cristo tornou-se totalmente humano, como
tristeza sobre o que sabia que iria acontecer. também experimentou estas características
Em sua humanidade, Ele náo queria morrer, da humanidade. Compartilhando a
mas sujeitou-se à vontade de Deus Pai, e este nossa experiência de sofrimento. Cristo
ouviu as suas orações. Jesus sofreu a extrema compartilhou a nossa experiência humana
agonia e a morte em sua submissáo a Deus. de forma completa. Por Cristo ter vivido,
Mas as suas orações foram respondidas, pois morrido, e ressuscitado, Ele tornou-se a causa
Ele foi salvo do poder da morte. Ele venceu a de eterna salvaçáo para todos os que lhe
morte através da sua ressurreiçáo. obedecem. Estas últimas palavras advertiram
aqueles que iriam se desviar de Cristo e voltar
5.8 Nos reinos de qualquer regime antigo, a um sistema inferior. A salvaçáo vem somente
nenhum príncipe sofre; o príncipe da coroa para aqueles que obedecem como Cristo
é especialmente criado e preparado para o obedeceu - com total submissão a Deus e à
reinado. Mas Jesus, embora fosse o Filho de sua vontade, mesmo diante do sofrimento.
Deus, aprendeu a obediência, por aquilo
que padeceu. A lição desconcertante deste 5.10 Voltando ao tema de 5.6, Jesus foi
versículo é que Deus mesmo, nascido de designado como sumo sacerdote, segundo
ascendência humana, realmente aprendeu a ordem de Melquisedeque. Todos os
algo em meio ao sofrimento que passou. O sacerdotes na família de Aráo precisavam
Deus onisciente precisava aprender? Jesus de mediação pelos seus próprios pecados.
aprendeu sobre a condição humana. Este Todos os sacerdotes humanos morreram
conhecimento trouxe mais compaixão do que e foram sucedidos por outros. Mas Jesus
inteligência, mais identificação pessoal do que foi fundamentalmente diferente. Jesus náo
informação mensurável. precisava de uma mediaçáo por defeitos morais
Como Jesus, os crentes freqüentemente pessoais. Jesus morreu, mas ressuscitou para
aprendem a obediência através do sofrimento nunca mais morrer. Ninguém sucedeu Jesus;
(veja 12.2-11). Este exemplo de Cristo encorajou Ele é um sacerdote para sempre. Ele é tanto
os leitores a permanecerem firmes e a não se humano como divino, aperfeiçoado através
desviarem da fé em períodos de sofrimento. do sofrimento, capaz de entender as nossas
Assim como Cristo foi aperfeiçoado através de fraquezas. É bem diferente do sacerdócio
seu sofrimento, os cristãos também o serão. de Arão, de forma que o escritor compara o
sacerdócio de Cristo com a “ordem segundo
5.9 O autor da nossa salvaçáo foi qualificado Melquisedeque.”
como um Sumo Sacerdote perfeito através do O tema de Melquisedeque é adiado até
sofrimento. A palavra “perfeito” náo se refere o capítulo 7 para que o escritor faça uma
ao estado sem pecado de Jesus; Jesus já era observação parentética com relaçáo ao estado
perfeito antes de enfrentar o sofrimento. A espiritual dos leitores.
l e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 603 / HEBREUS

HEBREUS 5 .11 — 6.20

U M C H A M A D O P A R A O C R E S C I M E N T O E S P I R I T U A L / 5 .1 1 - 6 .1 2
O e scrito r p o ste rio rm e n te e x p lo rará o sac e rd ó c io de C risto (cap ítu lo 7 ), m a s a q u i
ele in te rro m p e a d isc u ssã o p a ra d a r ao s leitores u m c h a m a d o ao d e sp e rtam e n to . O s
c o n c e ito s q u e se se g u e m n e sta c a rta serão e n te n d id o s p e lo s c ristão s q u e crescem ,
e n âo p o r aq u e les q u e se m a n tê m e sta g n ad o s. O s c ristáo s n ão d e v e m ser casu ais
q u a n d o se trata d a Palavra d e D e u s; as p e sso a s d e v e m o u v ir ate n ta m e n te . A carta aos
H e b re u s d e safia c o n tin u a m e n te os cristãos a perseverarem e m su a fé.

5.11 No que diz respeito ao papel de Cristo 5.13 Estes cristãos imaturos ainda estavam
como Sumo Sacerdote, há muito mais se alimentando com leite, isto é, eles não
que o escritor gostaria de dizer. Em vez de haviam crescido em sua fé. Eles permaneciam
trabalharem arduamente por sua fé, estes inexperientes e incapazes de aphcar o seu
cristãos estavam escolhendo a estrada mais fácil. conhecimento à sua vida e de fazer o que é
O escritor ilustra este fato ao dizer que isto é “de certo. Tinham recebido instruções suficientes,
difícil interpretação, porquanto vos fizestes mas ainda estavam agindo como crianças.
negligentes para ouvir”. Aparentemente, o
escritor conhecia pessoalmente muitos crentes 5.14 Este versículo contrasta aqueles que
judeus que se encaixavam nesta descrição, são espiritualmente infantis (5.13) com
ou tinha ouvido falar da indisposição que aqueles que são espiritualmente perfeitos.
eles demonstravam para aplicar alguns destes Estes crentes perfeitos são chamados assim
conceitos importantes sobre a sua fé. porque têm os sentidos exercitados para
discernir tanto o bem como o mal. Os
5.12 Aparentemente, eles tinham sido cristãos cristáos espiritualmente perfeitos examinam-
por muito tempo; tanto tempo, que deviam se constantemente, desviam-se do pecado, e
estar ensinando a outros. No entanto, eles aprendem quais ações, pensamentos e atitudes
tinham sido preguiçosos em sua fé e precisavam agradarão a Deus.
de alguém para lhes ensinar novamente os
primeiros rudimentos das Escrituras. Não 6.1-3 Depois de admoestar os leitores pela
é de admirar que eles estivessem em perigo espiritualidade infantil que demonstravam, o
de se desviar (2.1)! Em vez de explorarem e escritor indicou que “o verdadeiro alimento”
aprofundarem o conhecimento que tinham a estaria chegando. O escritor não cederia à
respeito de Cristo, em vez de tentarem agradar imaturidade deles, provendo-os somente com
a Deus através de suas ações, eles pensavam em leite, porque apresentar as doutrinas básicas
abandonar a Cristo quando enfrentavam alguma sob uma nova forma náo os ajudaria a resistir
oposição. A expressão “primeiros rudimentos” à tentaçáo de se desviar de Cristo. Eles deviam
refere-se à mensagem simples do Evangelho e ganhar um entendimento mais profundo,
às crenças básicas da fé. Em vez de ensinarem movendo-se para além dos rudimentos da
a outros, estes crentes precisavam aprender doutrina de Cristo.
tudo outra vez. Eles eram como meninos, ainda Naturalmente, os crentes não “derxam”
bebendo leite, em vez de crescerem, comendo estes ensinamentos, como se náo precisassem
sólido mantimento - os ensinos mais difíceis mais deles; os ensinamentos elementares são
da Palavra de Deus, tais como o significado da essenciais para que todos os crentes entendam.
posição de Sumo Sacerdote de Cristo (o qual o Os ensinamentos elementares a respeito de
escritor tinha começado a discutir, e continuará Cristo incluem a importância de se desviar
a discutir no capítulo 7). das obras mortas e de colocar a nossa fé em
HEBREUS / 604 Aplicação Pessoal

Deus. Outra instrução básica incluía batismos, Deus, e tinha se parecido com um membro
imposição das mãos, ressuneição dos mortos e do povo de Deus; contudo, nunca entrou
juízo etemo. Estes cristãos precisavam se mover na Terra Prometida. O escritor náo queria
para além destes rudimentos de sua fé, para um que os cristãos caíssem na mesma categoria
entendimento de Cristo como o Sumo Sacerdote
e experimentassem o mesmo destino.
perfeito e o cumprimento de todas as profecias do
Antigo Testamento. Em vez de discutirem sobre os
méritos respectivos do judaísmo e do cristíanismo, 4. Uma outra interpretação razoável surge
eles precisavam buscar um entendimento mais por ligar esta porção das Escrituras com
profimdo de Deus, esmdando os conceitos mais 10.25-31 (uma outra severa advertência). O
difíceis de sua Palavra. escritor de Hebreus estava advertindo contra
um tipo específico de apostasia: abandonar
6.4-6 Vamos considerar primeiro o sujeito a Jesus como o sacrifício perfeito pelos
destes versículos. O escritor descreveu certas pecados e retornar aos sacrifícios de animais
pessoas com quatro frases: (1) uma vez
como um meio de expiar os pecados. Desta
iluminados; (2) provaram o dom celestial;
forma, a severa advertência é para aqueles
(3) participantes do Espírito Santo; e
(4) provaram a boa palavra de Deus e as cristãos de origem judaica que haviam
virtudes do século futuro. O escritor estava originalmente aceitado a redenção de Cristo
dizendo que é impossível que tais pessoas através de seu sangue derramado e então
sejam restauradas ao arrependimento, caso reverteram a sua opinião para oferecer o
se enfraqueçam. Há quatro interpretações sangue de touros e bodes como um meio de
principais desta passagem. purificar os seus pecados.

No século I, um pagáo que investigasse o


1. Uma interpretação declara que esta passagem cristianismo e então voltasse para o paganismo
significa que os cristãos podem perder a sua se separaria completamente da igreja. Mas,
salvação. No entanto, esta interpretação é para os cristáos judeus que decidiram
negada por outras passagens das Escrituras retornar ao judaísmo, a separação era menos
(vejajo 10.27-29; Rm 8.38,39). óbvia. O seu estilo de vida permanecia
relativamente inalterado. Porém, desviando-
se deliberadamente de Cristo, eles estavam se
2. Alguns interpretam esta passagem como
desligando do perdão de Deus.
hipotética: “Se isto fosse possível”. Mas, E impossível que estas pessoas sejam
se esta passagem fosse apenas hipotética, restauradas, aquelas que já professaram ser
então a advertência seria desnecessária. cristãs e já experimentaram todos os lindos
dons descritos nestes versículos, e entáo se
3. Uma outra interpretação é de que o escritor desviaram de Cristo. Por que? Porque elas de
pode ter tido a intenção de ilustrar alguém novo crucificam o Filho de Deus e o expõem
que parecia ser um cristáo, mas que, na ao vitupério. Estas pessoas mostraram desprezo
por Cristo através de suas açóes deliberadas. Seria
verdade, nunca foi um verdadeiro seguidor
como crucificar pessoalmente a Cristo outra
de Cristo. Todas as frases descritivas
vez. Muitos têm discutido sobre se alguém que
poderiam se referir a alguém que não se desvia de Cristo pode ser restaurado a Cristo.
está realmente na fé. Esta interpretação Alguns apontam para esta passagem para provar
é aceitável quando considerada em um que um apóstata não pode ser restaurado. Mas os
contexto maior. Hebreus 3.16-19 relembra “apóstatas” náo são o sujeito aqui. Esta passagem
como cada judeu, vivendo no deserto, refere-se a pessoas que andam com Cristo por
tinha visto o grande poder de Deus, tinha algum tempo e então passam a andar em outra
comido do maná, tinha acompanhado a direção, rejeitando a Cristo. Estas pessoas nunca
poderão ser restauradas porque elas não desejarão
C o m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 605 / HEBREUS

ser restauradas. Elas escolheram endurecer seus coisas melhores estáo na nova aliança, através
corações contra Cristo. Não é impossível que de Jesus Cristo. Não haveria motivo para
Deus as perdoe; antes, é impossível que sejam voltar às “coisas antigas” do judaísmo que não
perdoadas, porque não se arrependerão de seus poderiam trazer a salvação.
pecados.
Para os cristãos hebreus, estes versículos 6.10 Embora os crentes náo precisem
revelavam o perigo de retornar ao judaísmo e, trabalhar para receber a salvaçáo como um
dessa maneira, cometer uma apostasia. Aqueles pagamento, a salvação deve mudar suas vidas
que rejeitarem a Cristo nâo serão salvos. Cristo para que naturalmente queiram servir a Deus,
morreu uma vez por todos aqueles que crêem. fazer boas obras, e promover o avanço de seu
Ele não será crucificado outra vez. Reino. Embora o crente possa não receber
um galardão e aplausos imediatamente neste
6.7,8 Nestes versículos, uma ilustração de mundo. Deus conhece os esforços que são
lavoura descreve posteriormente o argumento feitos por amor e no ministério: Ele não se
de 6.4-6. Alguém que abandona a Cristo pode esquecerá do trabalho árduo que cada crente
ser comparado com um campo que produz faz por Ele. Um exemplo deste trabalho
espinhos e abrolhos. Uma terra assim se árduo era o cuidado destes crentes por outros
recusará a produzir uma boa colheita, náo cristãos. Como discutido em outra passagem
importando quanta atenção ela tenha; ela é no Novo Testamento, o que os crentes fazem
reprovada. Assim acontece com aqueles que por outros é feito para Deus (Mt 25.35; Rm
náo perseveram até o fim (6.11); a sua puniçáo 12.6-18; 1 Jo 4.19-21), As boas obras não
é real e garantida - o lavrador condenará a terra garantem a salvação, mas a salvação muda a
com maldição e o seu fim é ser queimada vida do povo de Deus, levando-o a fazer boas
(veja também Mt 3.10; Jo 15.1-6). obras.
No entanto, o crente que permanece com
Deus, procurando se aproximar dele, pode 6.11 O serviço de amar os outros
ser descrito como aquele que produz erva mencionado em 6.10 deve ser continuado
proveitosa e recebe a bênção de Deus. Assim até ao fim. Quando o povo de Deus o serve,
como ambas as terras recebem a chuva, ambos está praticando uma ação que o agrada. Os
os grupos recebem o interesse e o cuidado de crentes têm trabalho a fazer no mundo e
Deus. Entretanto, apenas tmi grupo é genuíno. devem continuar mostrando o cuidado no
crescimento e serviço. Por que? Para que a
6.9 Após argumentar que é possível que não- completa certeza da esperança se realize.
cristãos pareçam verdadeiros cristãos, o escritor Em outras palavras, servimos, nâo a fim de
continua dizendo, em outras palavras: “Nós náo chegarmos no céu (como em algumas religiões
cremos realmente que isto se aplique a vós”. As do mundo), mas porque somos assegurados da
duras advertências sáo agora equilibradas com plena realização do que esperamos e porque
uma nota consoladora. O escritor garante aos amamos aquele que nos deu esta garantia.
leitores que as terríveis advertências de tragédia A nossa convicção deve produzir ações que
e perda espiritual não serão, felizmente, mostrem a nossa verdadeira natureza. Nós
decretadas contra os crentes hebreus. A não servimos meramente pelos benefícios ou
confiança no Lavrador e um estudo positivo do pelos princípios humanitários, mas porque
solo vencem a preocupação anterior do escritor a nossa esperança está em nossa vida futura
sobre o aparecimento de ervas daninhas (neste com Cristo.
caso, os cristãos que sentiam vontade de voltar
ao ritual religioso anterior). Mas estes cristãos 6.12 O oposto de ser cuidadoso é tornar-se
devem avançar em sua fé cristá. Eles não podem espiritualmente negligente (veja 5.11). Os
ser preguiçosos, mas agora devem prosseguir. A crentes devem estar crescendo e servindo
frase “de vós, esperamos coisas melhores e diligentemente, e nâo devem se acomodar,
coisas que acompanham a salvaçáo” refere- obrigando os outros a fazer o trabalho. Para
se à nova aliança, em comparação à antiga. As evitarem tornar-se inativos ou indiferentes.
HEBREUS / 606 Aplicação Pessoal

os crentes fariam bem em ser imitadores posteriormente no capítulo 11; veja também
dos que, pela fé e paciência, herdam as 13.7). O exemplo deles deve ser ativamente
promessas de Deus. O escritor antecipa imitado, e não meramente aprendido e
o exemplo de muitos seguidores de Deus reconhecido. Imitar os exemplos de fé em
do Antigo Testamento (que são discutidos Deus que estas pessoas fornecem ajudará a

A S P R O M E S S A S D E D E U S T R A Z E M E S P E R A N Ç A / 6 .1 3 - 2 0
D e p o is d e en c o ra ja r o s leitores a im ita re m o u tra s p e sso a s fiéis, o e scrito r ofereceu
u m e x e m p lo d o A n tig o T e sta m e n to q u e valeria a p e n a im itar: A b raáo . O s leitores
p o d ia m co n fia r n as p ro m e ssas d e D e u s p o r q u e A b raá o co n fio u e fo i re co m p e n sa d o .

6.13,14 Para estes leitores cristáos de origem que o homem e a mulher fazem um ao outro
judaica, um exemplo bem conhecido de alguém são testemunhados por outras pessoas, que são
que “herdará as promessas de Deus” por causa então obrigados a considerar as duas pessoas
da “fé” e da “paciência” (6.12) era Abraão. Deus responsáveis por suas promessas. Mas, ainda
havia feito uma promessa a Abraáo, que está mais que isto, o juramento é feito diante de
registrada em Gênesis 22.17: “Certamente, Deus - alguém superior mantém as pessoas
abençoando, te abençoarei e, multipUcando, responsáveis por seus votos. Segue-se, entáo, o
te multiphcarei”. Náo era realmente necessário fim de toda contenda por causa do juramento.
para Deus jurar que Ele manteria a sua Nós exigimos uma autoridade superior porque
promessa, porque Deus não pode mentir ou sabemos que a dificuldade de manter promessas
quebrar a sua Palavra. No entanto. Deus fez a pode exaurir os nossos recursos e esforços.
promessa, jurando pelo maior padrão e com a
maior responsabilidade possível - jurou por si 6.17 Os homens freqüentemente precisam de
mesmo. Abraáo não poderia ter recebido uma promessas seladas com juramentos, de modo
garantia maior do que esta. que Deus fez isto por nós, querendo mostrar
mais abundantemente a imutabilidade do
6.15 O antídoto do autor para a apostasia é seu conselho. Abraão náo viu os seus milhões
esperar pacientemente. Abraáo esperou com de descendentes enquanto estava vivo, mas
paciência, e esta paciência foi recompensada. ele realmente teve um filho - o início daquele
A espera paciente de Abraão durou vinte cumprimento. Abraão não só teve incontáveis
e cinco anos - da época em que Deus descendentes na naçáo judaica, mas os seus
lhe prometeu um filho (Gn 17.16) até o descendentes vieram a incluir todas as pessoas
nascimento de Isaque (Gn 21.1-3). Pelo que abraçam a fé (G13.7-9). O cumprimento da
fato de as nossas aflições e tentações serem , promessa de Deus a Abraão deveria convencer
freqüentemente muito intensas, elas parecem os crentes de que todas as promessas que Deus
durar uma eternidade. Tanto a Bíblia Sagrada lhes fez também seráo cumpridas.
quanto o testemunho de cristáos maduros
nos encorajam a esperar que Deus aja em 6.18 Deus confirmou a sua promessa com
seu tempo certo, mesmo quando as nossas um juramento (6.17), e estas duas coisas sáo
necessidades parecem grandes demais para imutáveis, porque é impossível que Deus
que possamos esperar. As promessas de Deus minta. Deus nos proporciona segurança por
sempre se cumprem —podemos confiar nele. causa de seu próprio caráter. A paciência é a
nossa parte, por meio da qual nos mantemos
6.16 Esta descrição de fazer um jiu-amento firmes e confiantes na sua promessa.
tem sido transmitida por séculos, de forma A frase “nós os que pomos o nosso
que hoje entendemos o conceito de uma refugio em reter a esperança proposta”
forma completa. Mesmo em cerimônias de retrata uma pessoa que fugiu para uma das
casamento modernas, os juramentos (votos) cidades de refúgio, que forneciam proteção
C o m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 607 / HEBREUS

da puniçáo que lhes seria infligida. Cristo o caminho para a presença de Deus através de
provê o lugar mais seguro, a esperança em que sua morte na cruz. A sua morte rasgou a cortina
confiamos, a consolação de que precisamos. em duas partes (Mc 15.38), permitindo que
Devemos nos firmar em sua promessa, os crentes entrem diretamente na presença de
agarrando-a, recusando-nos a soltá-la, não Deus. Aquilo que somente o sumo sacerdote
importando o que possa acontecer ao nosso podia fazer anteriormente. Cristo fez e permite
redor. Para mais detalhes sobre esta promessa, que nós façamos também. Deste modo, a obra
veja o comentário sobre 6.11,12. sumo sacerdotal de Cristo foi diferente da
obra de qualquer outro sacerdote. Os outros
6.19,20 Esta confiança (citada em 6.11,12,18) sacerdotes tomavam os sacrifícios dos outros e
é como uma âncora forte e digna de confiança os representavam na presença de Deus. Agora,
para as nossas almas, segura e firme. Esta através de Cristo, podemos nos aproximar do
confiança nas promessas de Deus nâo só nos trono com confiança (10.19). Repetindo o
mantém seguros, mas nos conduz através da tema abordado em 5.5-10, o escritor mais uma
cortina do céu, levando-nos ao interior do véu vez descreve Jesus como o nosso eterno Sumo
de Deus. O interior do véu refere-se ao Santo Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque.
dos Santos, no Templo judeu. Uma cortina era Uma explicação desta comparação vem a seguir,
posta na entrada deste ambiente, impedindo no capítulo 7.
que alguém entrasse, ou até mesmo que tivesse Note o papel crucial de Jesus ao comunicar
um rápido vislumbre do interior do Santo dos e garantir as promessas eternas de Deus para
Santos, onde Deus residia entre o seu povo nós. As promessas, uma expressão do caráter
(veja também 9.1-8). O sumo sacerdote podia santo de Deus, sâo eternamente válidas. Jesus
entrar ali apenas uma vez por ano (no Dia da ativa as promessas, eliminando o impedimento
Expiação), para ficar diante da presença de Deus (pecado) que as torna ineficazes. Pelas promessas
e expiar os pecados de toda a nação (veja 5.1-3). de Deus e pela intercessão de Jesus, os crentes
Mas Jesus já entrou ali em nosso favor, abrindo sâo incorporados à família de Deus.

HEBREUS 7
M E L Q U I S E D E Q U E É C O M P A R A D O A A B R A Á O / 7 .1 - 1 4
A p ó s as ad v ertên cias d a d a s e m 5 .1 1 - 6 .1 2 , o c a p ítu lo 7 re to m a o te m a d e 5 .1 0 , q u e
d iz q u e C risto fo i c o n stitu íd o S u m o S a ce rd o te se g u n d o a o rd e m de M e lq u ise d e q u e .
Je su s C risto é su p e rio r a M e lq u ise d e q u e e a q u a lq u e r o u tra a u to rid a d e religiosa,
tan to e m p o siç ã o q u a n to em au to rid a d e . N e s ta d isc u ssã o , o a u to r m o stra q u e o
sac e rd ó c io levítico , m u ito fam iliar ao s leitores ju d e u s , fo i su b stitu íd o p o r u m a n o v a
o rd e m d e sacerd o tes, q u e fo ra m p re fig u rad o s e caracterizad o s p o r M e lq u ise d e q u e .

7.1,2 A descrição de Melquisedeque vem de tanto no ofício de rei como no de sacerdote.


Gênesis 14.18-20. Ele parece ter sido um Salém pode ter se tornado posteriormente
homem extraordinário que serviu ao seu povo a cidade de Jerusalém. A designação “Deus
HEBREUS / 608 A p l i c a ç ã o Pe s s o .

Altíssimo” significa que Melquisedeque de Melquisedeque, a justiça e a paz andam


adorava o único Deus verdadeiro. juntas. Portanto, Melquisedeque representa
Esta passagem refere-se à época em que os mesmos traços de caráter que o Messias, o
Abraáo regressava da matança dos reis. Senhor Jesus Cristo, que revelou a justiça e a
Quatro reis na região de Abraão tinham paz de Deus.
se unido e conquistado Sodoma e outras Quem foi Melquisedeque? Durante anos,
cidades vizinhas (Gn 14.1-11). O sobrinho muitos acreditaram que ele fosse o próprio
de Abraão, Ló, e sua família moravam em Cristo aparecendo em forma humana a
Sodoma. Quando ouviu que Ló e sua família Abraão —o que é tecnicamente chamado de
tinham sido capturados, Abraão mobilizou “cristofania” (um aparecimento de Cristo no
318 homens para a batalha. Com um ataque Antigo Testamento). Isto parece improvável
surpresa, Abraão e seu pequeno grupo de porque foi dito que Melquisedeque se
homens libertaram Ló e os outros que tinham assemelha a Cristo (7.3). Uma antiga
sido capturados (Gn 14.12-16). interpretação judaica dizia que ele era um ser
Depois de derrotar os quatro reis, angelical, mas não há qualquer evidência em
Abraão tornou-se o homem mais poderoso Gênesis, em Salmos 110.4 ou em Hebreus
naquela terra, e Melquisedeque lhe saiu ao para apoiar esta teoria. A melhor interpretação
encontro e o abençoou. Então, Abraão deu a é que Melquisedeque era um sacerdote-rei
Melquisedeque o dízimo de tudo quanto tinha histórico, não-judeu, que viveu nos tempos
ganho na batalha, porque Melquisedeque era antigos e que era um símbolo e um tipo de
sacerdote do Deus Altíssimo. Dando o dízimo Cristo.
a Melquisedeque, Abraão estava entregando a
sua oferta ao representante de Deus. Embora 7.3 Para apoiar o argumento, o autor de
estes dois homens fossem estranhos um ao Hebreus usou o que não é dito em Gênesis
outro, eles compartilhavam uma característica 14, tanto ou mais do que aquilo que é dito.
muito importante: ambos adoravam e serviam A Bíblia não fornece uma genealogia para
ao único Deus, que fez o céu e a terra. Este foi Melquisedeque, nem um registro de sua
um momento de grande triunfo para Abraão. morte. Embora a Bíblia não forneça detalhes
Ele tinha acabado de derrotar um exército e sobre a vida de Melquisedeque, é muito
tinha libertado um grande grupo de cativos. Se provável que ele tenha sido um rei e um
ele tivesse alguma dúvida em sua mente sobre sacerdote humano que realmente teve pais e
quem havia lhe dado a vitória, Melquisedeque que, portanto, nasceu e por fim morreu. A
teria lhe esclarecido, lembrando-lhe das teologia e a tipologia judaica, porém, só sáo
promessas do Senhor (Gn 14.20). Abraão construídas sobre aquilo que o texto bíblico
reconheceu que ele e este homem adoravam diz. Por náo haver nenhum registro de pai,
ao mesmo Deus. ou máe, ou genealogia, no texto bíblico, é
Os leitores originais de Hebreus teriam como se ele nâo os tivesse. Pelo fato de o texto
reconhecido que Melquisedeque era maior não registrar princípio de dias nem fim de
que Abraão, porque ele era capaz de receber vida, é como se Melquisedeque nunca tivesse
dízimos e de abençoar (veja 7.7). Este nascido ou morrido. A comparação é feita
argumento pode não transmitir a mesma força entre a ordem sacerdotal de Melquisedeque
lógica para os leitores de hoje como transmitiu e a de Arão, que dependia inteiramente
na época, mas estes primeiros crentes judeus da genealogia. Os sacerdotes na família de
entenderam o argumento. Arâo sucediam-se por ocasião da morte
Uma das razões pelas quais Melquisedeque do sacerdote anterior, tornando a data da
é tão significativo é que o seu nome significa morte extremamente importante. Nenhum
“rei de justiça” (o sufixo deste nome, dos aparatos do sacerdócio de Arâo (Êx 39)
“quisedeque”, significa “justiça”). Ele é foi aplicado a Melquisedeque, exceto a sua
também o “rei de paz”, porque Salém nomeação por parte de Deus. Desta forma,
significa “paz” (o termo “Salém” pode ser Melquisedeque prefigura o Senhor Jesus
traduzido como “paz”). No nome e na posição Cristo, que é o emissário especial de Deus.
C o m e n t á r i o do N o v o Testamento 609 / HEBREUS

Sem qualquer registro de princípio ou outras tribos suprissem as necessidades dos


fim, Melquisedeque, sendo feito semelhante levitas através de ofertas - desta forma, a lei
ao Filho de Deus, permanece sacerdote de Moisés ordenava que os levitas deveriam
para sempre (veja também SI 110.4). O texto receber o dizimo do povo. Estes recursos
em Hebreus náo diz que Jesus se assemelhava eram destinados ao seu sustento - eles
a Melquisedeque, mas que Melquisedeque se estavam recebendo recursos dos seus irmãos
assemelhava a Jesus. Melquisedeque fiai um judeus, que também eram descendentes de
homem real, um servo de Deus, cuja história é Abraáo. Estas ofertas vinham de pessoas que
registrada no livro de Génesis de fiarma a fazê- eram “iguais” a eles.
lo semelhante àquele que viria e cumpriria Melquisedeque nâo era sequer parente de
completamente os ofícios de sacerdote e rei e Levi, contudo ele recebeu dízimos de Abraão.
que seria verdadeiramente um sacerdote para Para compreender este argumento, precisamos
sempre. entender que Abraáo representa toda a sua
naçáo. O primeiro sumo sacerdote de Israel,
7.4 Por maior que Abraáo tenha sido, o texto Arâo, descendia de Levi (a tribo de sacerdotes),
em Hebreus diz que Abraáo reconheceu e Levi descendia de Abraáo. Portanto, se
quáo grande era este, dando-lhe os dízimos Abraáo reconheceu Melquisedeque como
dos despojos da batalha. O argumento seu superior, entâo Melquisedeque também é
segue uma lógica simples aqui. A força do superior a todos os descendentes de Abraáo,
argumento depende inteiramente desta incluindo a linhagem de sacerdotes. Isto torna
premissa: seres superiores recebem ofertas o sacerdócio de Melquisedeque maior que o
de seres inferiores, um argumento muito sacerdócio judaico. Melquisedeque náo tinha
persuasivo para os leitores originais. Visto que parentesco com Levi, nem Jesus o tinha, pois
Melquisedeque recebeu o dízimo de Abraão, o Senhor nasceu da tribo de Judá.
Melquisedeque era superior a Abraáo (veja Os sacerdotes e os levitas deviam a sua
7.7). Pelo fato de Melquisedeque ser superior, posiçáo ao seu nascimento; eles deviam o
o autor argumentará que o sacerdócio que recebimento dos dízimos às provisões que
vem de Melquisedeque deveria ser maior do constavam na lei de Deus. Melquisedeque,
que o sacerdócio que vem de Abraáo, que porém, aparece na história como uma figura
é o “patriarca” de toda a naçáo judaica. Da solitária. Ele recebeu o dízimo, nâo por
mesma maneira, o Senhor Jesus está em uma causa da provisão que constava na lei, mas
classe totalmente diferente dos profetas, anjos, porque Abraáo reconheceu a sua grandeza.
sacerdotes, e patriarcas. Melquisedeque, por sua vez, reconheceu que
a sua posição era superior, porque abençoou
7.5,6 A principal premissa de 7.4 é explicada o que tinha as promessas.
pela lei judaica. No Antigo Testamento,
quando Deus começou a ensinar aos israelitas 7.7 Para os leitores originais, esta lógica
as suas leis. Ele também estava ensinando garantia a conclusão. Melquisedeque, como
ao seu povo a maneira como adorá-lo. Para um sacerdote do Deus Altíssimo, tinha o poder
cooperar nesta tarefa, o Senhor precisava de de abençoar. Portanto, Melquisedeque devia
ministros que administrassem as operações do ser superior a Abraáo, que foi abençoado. Uma
Tabernáculo e ajudassem o povo a manter o bênção era um ritual significativo transmitido
seu relacionamento com Deus. Os filhos de dos pais para os filhos, bem como de pessoas
Levi foram separados e dedicados para servir proeminentes para as menos proeminentes.
a Deus. A tarefa que os levitas receberam Desse modo, segue-se que aquele que tem o
implicava em que eles nâo teriam tempo poder para abençoar é obviamente maior do
para manter uma porção de terra para si, de que aquele que está sendo abençoado.
forma que, quando as tribos receberam terras
(conforme o registro no livro de Josué), os 7.8-10 A força do argumento continua com
levitas nâo receberam nenhuma parte destes suposições que náo sáo táo persuasivas hoje
territórios. Antes, Deus ordenou que as quanto eram no século I.
HEBREUS / 610 Aplicação Pessoal

Primeiro, Melquisedeque é comparado Deus nâo poderiam ser alcançados através do


aos sacerdotes levitas, que recebiam os sacerdócio do Antigo Testamento, porque,
dízimos, mas que acabariam morrendo. Pelo desde o princípio, este tinha o propósito de
fato de as Escrituras nâo registrarem a morte ser uma sombra daquilo que estava por vir.
de Melquisedeque, é como se ele continuasse Quando viesse este caminho melhor, o antigo
vivendo (veja 7.3). Pelo fato de nâo estar caminho se tornaria obsoleto (veja Hb 8.7ss.).
registrado que Melquisedeque morreu, Um novo caminho significaria uma nova lei
o seu sacerdócio estende-se para sempre, e um novo sistema (7.12). Deus náo poderia
ao contrário dos levitas, que morreram e simplesmente prover um outro sacerdote
transmitiram o seu serviço aos seus filhos. humano; antes, Ele proveu algo novo.
E nisto que Melquisedeque se assemelha a
Cristo, que realmente vive e serve para sempre. 7.12 As provisões para o sacerdócio levítico
O que o autor afirma sobre Melquisedeque “a eram dadas na lei - incluindo seus deveres,
partir do registro” Jesus cumpre em pessoa e ordenações, roupas etc. Mas a lei nâo podia
poder. Tendo morrido na cruz e ressuscitado, prever uma mudança no sacerdócio, tal como
Jesus vive e nunca mais morrerá. um novo sacerdote surgindo da tribo de Judá
Segundo, Melquisedeque é comparado aos (como o Senhor Jesus Cristo, 7.13). Portanto,
sacerdotes levitas, que lhe pagaram um dízimo mudando-se o sacerdócio, necessariamente
através de seu ancestral Abraáo. Os levitas sáo se faz também mudança da lei.
representados por seu ancestral Abraão, pois, Poucas coisas eram tâo estáveis quanto
embora Levi ainda nâo tivesse nascido, a a lei do Antigo Testamento. Reis vieram e se
semente de onde ele veio estava nos lombos de foram; sumos sacerdotes morreram e deram
Abraáo quando Melquisedeque recebeu dele o lugar a novos sumos sacerdotes. Mas a lei
dízimo. Quando Abraão deu a Melquisedeque nunca mudou. Entretanto, a lei do j\ntigo
a décima parte de seu despojo, os levitas nâo Testamento nâo é a palavra final de Deus;
nascidos também participaram da açâo. Desse ela era, na verdade, preparatória. O próprio
modo, Melquisedeque também seria maior Senhor Jesus Cristo tornou-se a palavra final.
do que os levitas e os sacerdotes levitas. Este A lei nâo foi mudada, mas foi cumprida; deste
princípio de solidariedade corporativa era modo, as suas partes cerimoniais tornaram-se
muito popular nos costumes do Oriente e do obsoletas (tais como o sistema de sacrifício
Oriente Médio, e é freqüentemente visto no de animais). As leis cerimoniais foram
Antigo Testamento quando bênçáos e castigos substituídas pelo próprio Cristo, que foi o
sâo dados aos filhos dos filhos. Abraáo foi sacrifício final e suficiente.
um grande homem, e seus descendentes Cristo nâo é apenas um outro sacerdote
serviram como sacerdotes aceitáveis. Mas no antigo sistema; antes, o sistema inteiro
Melquisedeque foi maior, e, portanto, o seu foi mudado, com Cristo como o Sumo
sacerdócio foi melhor. Sacerdote no novo sistema. Para os cristáos
que estavam se inclinando ao judaísmo, estas
7.11 Em 7.11-19, o escritor procura mostrar palavras serviriam como um lembrete de que
como o sacerdócio levítico e o sistema ritual os seus antigos caminhos judaicos tinham sido
de sacrifícios eram insuficientes para salvar o cumpridos e substituídos pelo precioso Cristo.
povo. Portanto, este sistema era meramente
uma preparação, uma figura, do que viria e se 7.13,14 Pela lei, apenas os levitas podiam servir
cumpriria. Se o sacerdócio levítico tivesse sido como sacerdotes (veja o comentário sobre 7.5,6).
suficiente, o autor pergunta: Que necessidade Aquele de quem estas coisas se dizem, Jesus,
havia logo de que outro sacerdote se pertence a outra tribo - Ele procedeu de Judá
levantasseí O sacerdócio levítico náo poderia (Lc 2.4; 3.31,33). Judá, uma das doze tribos de
permitir que o povo se aproximasse de Deus, Israel, era a maior tribo (Nm 1.20-46), e era a
porque apenas os sacrifícios de animais tribo de onde a maioria dos reis de Israel tinha
realmente náo poderiam fazer nada para vindo (veja Gn 49.8-12). Posteriormente, Judá
remover os pecados. Assim, os propósitos de foi uma das poucas tribos a voltar para Deus,
C o m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 611 / HEBREUS

depois de um século de cativeiro sob um poder não pode trazer a salvação. Os descendentes de
estrangeiro hostil. Também foi profetizado que Levi foram ordenados para ser sacerdotes, mas
Judá seria a tribo através da qual viria o glorioso Deus proclamou que o Messias viria através
Messias (Mq 5.2). da tribo de Judá. Esta é mais uma prova de
Este é um único exemplo, mas indiscutível, que o sacerdócio levítico era temporário. O
de que a lei cerimonial do Antigo Testamento melhor Sumo Sacerdote ainda estava por vir.

C R I S T O É S E M E L H A N T E A M E L Q U I S E D E Q U E / 7 .1 5 - 2 8
S é c u lo s d e p o is d e M e lq u ise d e q u e , o sa lm ista p re d isse q u e o M e ssias se ria u m
sac e rd o te se g u n d o a o rd e m d e M e lq u ise d e q u e (SI 1 1 0 .4 ). M a is d e m il a n o s m ais
tard e, o a u to r de H e b re u s c ito u o salm ista. M e lq u ise d e q u e n âo fo i o sac e rd o te final.
A râ o ta m b é m n áo fo i. C risto to rn o u -se o sac e rd o te p e rfe ito e final. E le é aq u e le q u e
n o s p e rm ite segu i-lo q u a n d o E le e n tra n a p re se n ç a d e D e u s Pai.

7.15-17 Os sacerdotes do Antigo Testamento 7.18,19 A lei tinha limitações. Se a lei tivesse
eram vitais para a vida espiritual de Israel, mas sido o caminho perfeito para Deus, todas
eram imperfeitos e temporários. Somente um as pessoas teriam podido entrar no Santo
sacerdote poderia cumprir o plano de Deus. dos Santos de Deus. Da maneira como as
O escritor exphcou sobre este outro sacerdote situações haviam sido definidas, apenas o
que já veio. Ele é semelhante a Melquisedeque sumo sacerdote podia entrar na presença
e tem um sacerdócio segundo a ordem de de Deus - apenas uma vez por ano. Mesmo
Melquisedeque - como descrito em 7.1-10. assim, os sacrifícios nâo podiam expiar
Sendo da ordem de Melquisedeque, Jesus completamente o pecado. Mas Deus já havia
Cristo era tanto sacerdote como rei. Ele não planejado um modo melhor: o precedente
se tornou um sacerdote pertencendo à tribo mandamento é ab-rogado por causa da
de Levi. Assim como Melquisedeque era um sua fraqueza e inutilidade. Nâo havia nada
sacerdote gentio, da mesma forma Jesus não inerentemente errado com o sistema, porque
se encaixava no padráo hebraico. Como foi 0 próprio Senhor Deus o havia criado. A
descrito em 7.13,14, Jesus nâo nasceu na tribo finalidade deste sistema era prefigurar o que
de Levi, mas na tribo de Judá. Porém, Ele Deus faria através de seu Filho.
tornou-se um sacerdote segundo a virtude da Além disso, a lei a nenhuma coisa
vida incorruptível, que não pode ser destruída. aperfeiçoou. Isto nâo significa, porém, que a
Porque nâo há qualquer registro nas Escrituras lei nâo tivesse um propósito. A lei ensinava
sobre a morte de Melquisedeque, é como se ele as conseqüências do pecado (veja Rm 3.20;
nunca tivesse morrido. Esta é uma tipologia a 5.20) e direcionava as pessoas a Cristo (veja
respeito do Senhor Jesus - a morte náo pôde Gl 3.24,25). Mas guardar a lei nâo pode
dominá-lo. Ele morreu, mas ressuscitou para salvar ninguém. Se o antigo sistema nâo
nunca mais morrer. Como resultado, Ele podia realizar nada pelas pessoas pecadoras, o
jamais cessará o seu ministério sacerdotal. que elas podiam fazer? Os leitores do século
Jesus está absolutamente qualificado como um 1 precisavam perceber que uma melhor
sacerdote eternamente. Aquele que nunca esperança tinha se tornado disponível - uma
morre tornou-se o Sumo Sacerdote final, e o esperança que permitia que as pessoas se
seu sacrifício consertou para sempre a ruptura aproximassem de Deus.
que o pecado humano criou entre o Deus todo-
poderoso e a humanidade pecadora. Cristo 7.20-22 Deus náo precisava fazer um
é imortal, cumprindo a profecia de Salmos jiu-amento porque Ele não pode mentir.
110.4. O antigo sacerdócio era incompleto e Contudo, fazendo um juramento, o Senhor
agora está abolido. acrescentava a ênfase de que aquilo que
HEBREUS / 612 Aplica ção Pessoal

Ele disse seria definitivamente assim (veja Segundo, Jesus está vivendo sempre
também 3.11; 4.3; 6.17). Na questáo para interceder a Deus em favor dos crentes.
normal do sacerdócio levítico, os homens Como o nosso Sumo Sacerdote, Cristo é o
eram constituídos com base na lei. Mas nosso advogado, o mediador entre nós e Deus.
isto não se deu com Jesus. Deus ordenou Seu propósito é interceder por aqueles que
o sacerdócio de Jesus com um juramento: seguem a Deus. Ele cuida dos nossos interesses,
“Jurou o Senhor e náo se arrependerá: apresentando os nossos pedidos ao Pai. Cristo
Tu és sacerdote eternamente” (citado em faz intercessão perpétua por nós diante de Deus.
Salmos 110.4). Nenhum juramento similar A presença contínua de Cristo no céu como o
e explícito é mencionado no estabelecimento Sacerdote-Rei nos garante que os nossos pecados
do sacerdócio de Arão (Êx 28). A questáo de foram pagos e esquecidos.
Deus fazer um juramento, que se soma ao
poder de sua Palavra, sublinha o argumento 7.26 Concluindo o pensamento iniciado em
de que Jesus é verdadeiramente superior, de 7.23-25, o escritor explicou outra vez que o
todas as maneiras —Ele é o único Salvador. sistema do Antigo Testamento foi substituído
Este “juramento” enfatiza que de tanto por um sacrifício pleno e final. Jesus é o sumo
melhor concerto Jesus foi feito fiador. O sacerdote que nos convinha porque Ele é:
nome “Jesus” enfatiza este ponto. O escritor
não estava falando sobre Melquisedeque, ou
qualquer sumo sacerdote terreno, mas sobre o Santo, significando que Jesus não
Filho de Deus, que está agora assentado à destra conheceu pecado. Jesus cumpriu
de Deus. Portanto, Ele é o “fiador” de Deus para perfeitamente tudo o que Deus é e
nós. Jesus garante o nosso perdão por parte de
tudo o que Deus exigia em um sumo
Deus, e garante a nossa aceitabilidade perante
sacerdote que traria a salvaçáo para
Deus. Pelo fato de Jesus viver eternamente, o
melhor concerto é permanente. pessoas pecadoras (veja 4.15).

7.23,24 O historiador Josefo estimava que Inocente, significando que Ele nâo
oitenta e três sumos sacerdotes serviram a tem maldade e é completamente
Israel, desde o primeiro sumo sacerdote, irrepreensível. Durante a sua vida terrena,
Arão, até a queda do segundo Templo, em 70 mesmo quando enfrentou a tentação,
d.C. Cada um serviu em seu ofício, e por fim Jesus permaneceu completamente
morreu. Mas Jesus permanece eternamente.
obediente a Deus e completamente sem
Outra vez, o escritor contrastou as muitas
pecado (vejaTg 1.27).
pessoas com aquele que é perfeito (veja
também 1.1-3). Todo sumo sacerdote passaria Imaculado, isto é, Ele permanece
o seu ofício para o seu sucessor. Cristo náo; puro mesmo quando lida com pessoas
o seu sacerdócio é perpétuo. Só Jesus é pecadoras em um mundo corrompido
qualificado para se tornar um sacerdote (veja 1 Pe 1.4).
perpétuo para toda a raça humana.
Separado dos pecadores, porque a vida
7.25 Dois temas retratam o ministério de Jesus sem pecado de Jesus o separa da criação
para a comunidade de crentes. Primeiro, Jesus
pecadora. Contudo, foi somente através
pode também salvar perfeitamente os que
de sua separaçáo e de sua pureza, que
por ele se chegam a Deus. Ninguém pode
acrescentar nada ao que Jesus fez para nos salvar; Ele pôde agir em nosso favor.
os nossos pecados do passado, do presente e
do futuro estão todos perdoados. Além disso, Feito mais sublime do que os céus. Ele
Jesus está com o Pai como a garantia de que é maior do que qualquer outro sumo
os nossos pecados estáo perdoados e que temos sacerdote, porque Ele representa as
acesso a Deus. pessoas na própria sala do trono de Deus.
C o m e n t á r i o do N o v o Testamento 613 / HEBREUS

7.27 O argumento final em favor da completado a obra de redenção. Você não


superioridade de Jesus mostra o contraste entre tem que procurar uma outra maneira para
a natureza essencial dos sacerdotes e a natureza ter os seus pecados perdoados —Cristo foi o
essencial de Jesus Cristo. Os sacerdotes sob a sacrifício final em seu favor.
antiga aliança eram meramente seres humanos
pecadores; portanto, eles tinham que oferecer 7.28 Os siunos sacerdotes constituídos sob
um sacrifício, primeiramente, por seus a lei de Moisés não eram perfeitos; eles eram
próprios pecados, antes de poderem oferecer limitados pela fraqueza humana. Eles não
sacrifícios pelos pecados do povo. E isto podiam trazer os pecadores à presença perfeita
tinha que ser feito cada dia, porque nenhum de Deus. Mas Deus constituiu uma outra
sacrifício podia remover permanentemente a maneira e a garantiu com um juramento (veja
mancha do pecado. 7.21). Este “juramento” foi cumprido e o novo
Jesus, porém, era completamente sem sacerdócio veio depois da lei, porque a lei tinha
pecado, nunca necessitando oferecer um sido substituída pela nomeação de seu Fillio,
sacrifício por si mesmo, nem precisando que foi constituído perfeito para sempre.
repetir o seu sacrifício. Quando Ele se A medida que entendemos melhor o
sacrificou pelos pecados, o seu sacrifício sistema sacrificial judaico, vemos que a morte
perfeito apagou a penalidade que é trazida de Jesus serviu como a perfeita expiação pelos
como conseqüência dos pecados de uma vez nossos pecados. A sua morte nos traz a vida
por todas, encerrando o sistema sacrificial. eterna. Como seria insensível, frio e teimoso
Ele perdoou os pecados - cometidos no recusar o maior dom de Deus. Os leitores
passado, no presente, e no futuro. Os judeus originais seriam loucos se abandonassem o
não precisavam voltar para o sistema antigo cristianismo e voltassem a um sistema que
porque Cristo, o sacrifício perfeito, havia estava agora obsoleto.

HEBREUS 8
C R I S T O É O N O S S O S U M O S A C E R D O T E / 8 .1 -1 3
O ca p ítu lo 7 e x p lic o u q u e Je su s é u m sacerd o te m a io r q u e q u a lq u e r sacerd o te
q u e fo sse d e sce n d en te d o p rim e iro s u m o sac e rd o te de Israel, A rão . O a u to r ag o ra
re su m e a s u a m e n sag e m : o q u e ele v in h a d ize n d o é q u e C risto é su p e rio r a to d o s n o
sac e rd ó c io ju d a ic o . A d e sp e ito d a q u ilo em q u e os crentes ju d e u s tin h am c o n fia d o
an te rio rm e n te p a ra a salv ação , tu d o se ria m e ra m e n te u m a s o m b r a d a re alid ad e , e
n âo a p ró p r ia realid ad e. A q u e la s o m b r a a g o ra é c o m p le ta m e n te s u b stitu íd a p e la
re a lid ad e d e C risto c o m o S u m o S ace rd o te.
HEBREUS / 614 Aplicação Pessoal

8.1 Jesus é o nosso sumo sacerdote, o qual ter alguma coisa que oferecer. Ele ofereceu
está assentado no lugar de maior honra nos a sua própria vida a Deus em nosso lugar -
céus à destra de Deus. Este retrato de Cristo é o presente perfeito, que nunca poderá ser
um argumento essencial para a sua divindade superado. Ele ofereceu-se a si mesmo na cruz
em Hebreus. Este lugar, à direita de Deus, (7.27). O sacrifício de Cristo é completamente
pertencia a Cristo porque Ele era mais do que suficiente, isto é, todos os pecados estão
simplesmente um sumo sacerdote; Ele é o abrangidos na sua oferta definitiva a Deus.
Filho de Deus. “Céus” refere-se ao santuário Portanto, o seu papel como sacerdote, o seu
celestial (veja 8.2), a morada de Deus, o último sacrifício e o seu serviço a Deus, superam o
e eterno destino de todos aqueles que crêem plano que havia sob a antiga aliança.
(4.1; 6.19,20; 11.10; 12.22), e, portanto, uma
realidade ainda maior do que o que vemos. 8.4 Sob o antigo sistema judeu, os sacerdotes
Este mundo atual é uma mera representação eram escolhidos somente da tribo de Levi,
ou sombra do que virá (veja 8.5). Por causa e os sacrifícios eram oferecidos diariamente
disto, o ministério de Cristo será maior do que no altar para o perdão dos pecados. Este
o dos sacerdotes que serviram no Tabernáculo sistema não teria permitido que Jesus fosse
ou no Templo terrenos, como veremos no sacerdote, pois, de acordo com a lei, um
versículo seguinte. sacerdote deveria descender da tribo de Levi,
e não de Judá (veja 7.12-14). O uso do verbo
8.2 O versículo 1 descreve a exaltação de no tempo presente na frase “havendo ainda
Cristo á direita de Deus; o versículo 2 descreve sacerdotes que oferecem” indica que esta
o seu serviço. O Cristo exaltado é o ministro carta foi escrita antes de 70 d.C., quando
do santuário no céu. Jesus serve assumindo o Templo de Jerusalém foi destruído e os
o seu lugar de direito como nosso Salvador e sacrifícios foram extintos. Mas o sacrifício
Mediador. O seu lugar no céu garante o nosso perfeito de Jesus já tinha acabado com a
lugar ali também. Cristo retornou à presença necessidade de sacerdotes e sacrifícios. Cristo
de Deus no céu, o verdadeiro tabernáculo, o foi nomeado Sumo Sacerdote de um sistema
qual o Senhor fundou, e náo o homem. Deus novo e melhor que permite que o povo de
nos permite entrar na mesma sala do trono e Deus entre diretamente na presença de Deus.
levar a Ele a nossa adoração e os nossos pedidos.
Este “verdadeiro” tabernáculo, ou lugar de 8.5 Os sacrifícios oferecidos pelos sacerdotes
adoração, náo significa que o Tabernáculo e serviam apenas de exemplar e sombra das
o Templo na terra eram falsos, mas que eram coisas celestiais. Isto continua a demonstrar
sombras imperfeitas do verdadeiro e perfeito a insignificância dos serviços terrenos dos
lugar de adoração (8.5). Antes da vinda de sacerdotes judeus. Certamente, era um
Cristo, o sumo sacerdote só podia entrar em trabalho importante, mas o seu serviço era
um lugar especial, o Santo dos Santos, para apenas um exemplo do que estava por vir.
estar na presença de Deus. Hoje, através da Deus deu a Moisés o modelo para o
oração, nós podemos entrar na sala do trono tabernáculo, e Moisés foi aconselhado a
do céu, e um dia nós viveremos eternamente segui-lo cuidadosamente, tendo sido avisado
na presença do Senhor. Conseqüentemente, para fazer tudo conforme o modelo que
os caminhos “antigos” do sacerdócio judeu Deus lhe tinha mostrado (veja Êx 25.40).
não mais existem; eles foram substituídos por Este santuário terreno tinha o objetivo de
Jesus, o Caminho, a Verdade, e a Vida (Jo refletir, ainda que de modo imperfeito, o
14.6). tabernáculo celestial. A carta aos Hebreus
não tenta descrever o céu, mas nos mostra
8.3 O trabalho do sumo sacerdote era como Cristo serve de uma maneira melhor e
oferecer dons e sacrifícios. Os sacerdotes mais pessoal do que qualquer outro sacerdote
eram nomeados para oferecer sacrifícios poderia fazê-lo. Como o Templo de Jerusalém
para a expiação dos pecados, de modo que ainda não tinha sido destruído, usar o sistema
Cristo, como nosso sumo sacerdote, deveria de adoração como exemplo teria provocado
C o m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 615 / HEBREUS

um grande impacto sobre o seu público podia proporcionar à humanidade pecadora


original. O seu Templo, com tudo o que eles um relacionamento com Deus. Na sua época,
sabiam a respeito do Tabernáculo original entretanto, o antigo concerto foi necessário.
construído por Moisés, tinha sido uma Mas agora ele precisava ser substituído por um
imagem imperfeita que tinha a finalidade de concerto melhor, conforme profetizado por
dar às pessoas a oportunidade de apreciar a Jeremias e citado nos versículos seguintes.
realidade celestial que um dia pertenceria a
cada uma delas. 8.8 Uma vez que o povo quebrava
continuamente o concerto de Deus, ficou
8.6 Embora os sacerdotes que descendiam de patente que o antigo concerto náo duraria
Aráo possuíssem um trabalho de grande honra para sempre, por nâo ser perfeito. Uma parte
e dignidade, o ministério que Jesus recebeu é do concerto envolvia a observância às leis
superior (mais excelente) ao dos sacerdotes de Deus; no entanto, os israelitas decidiram
que servem às leis do antigo concerto. O desobedecer (veja Jr 7.23,24). Quando eles
ministério de Jesus e o novo concerto sáo deixaram de cumprir os requisitos que lhes
superiores (ou melhores) por diversas razões: foram impostos, quebraram a aliança. Deus,
entretanto, prometeu um novo concerto,
• Eles satisfazem e substituem que nâo estaria repleto de leis sobre sacrifícios
completamente o ministério dos e outras responsabilidades externas. Ao
sacerdotes e o antigo concerto; contrário, ele trazia a reconciliaçáo espiritual,
produzindo mudanças no interior das
pessoas.
• Eles sáo eternos, porque Jesus é Sumo
Os versículos 8 a 12 citam Jeremias
Sacerdote para sempre; 31.31-34, a mais longa citação do Antigo
Testamento no Novo Testamento. Jeremias
• Eles não exigem mais sacrifícios; profetizou sobre uma época futura quando
um concerto melhor seria estabelecido,
• Eles realizam o que todos os outros porque o primeiro concerto, dado a Moisés
sacrifícios náo conseguem realizar - a no Monte Sinai, era imperfeito e provisório.
verdadeira expiação do pecado; Os israelitas não conseguiam se manter fiéis
a ele, porque os seus corações não tinham
sido verdadeiramente modificados. Esta
• Eles dão à humanidade pecadora a
transformaçáo no coração exigia o sacrifício
oportunidade de ter um relacionamento completo de Jesus, para remover o pecado,
pessoal com Deus (veja 8.10,11). e a morada permanente do Espírito Santo.
Quando entregamos as nossas vidas a Cristo,
Este melhor concerto está confirmado o Espírito Santo introduz em nós um desejo
em melhores promessas, que o autor irá de obedecer a Deus.
comentar com mais detalhes em 8.10-12.
8.9 O antigo concerto foi quebrado, não
8.7 A necessidade de um segundo concerto uma vez, mas muitas. Os pais dos leitores
dá a entender que o primeiro era defeituoso. judeus tinham sido milagrosamente salvos da
Isto significa que Deus ordenou a Moisés e escravidão no Egito. No deserto, eles tinham
Arão que iniciassem um meio de adoração recebido as leis de Deus e tinham feito um
que era equivocado ou mal idealizado? Nâo, concerto de obediência. No entanto, eles
mas o antigo concerto, de muitas maneiras, não permaneceram naquele concerto, e com
preparava e apontava para a dinâmica do esta desobediência, eles invalidaram a sua
novo concerto (veja 7.11-19; também Rm participação no acordo. Entristecido e ofendido
3,4,9-11). O antigo concerto foi substituído pela desobediência voluntária do seu povo
porque não era eterno, era insuficiente para escolhido. Deus náo atentou para eles. Isto
lidar completamente com o pecado, e náo significa que eles enfrentaram as conseqüências
HEBREUS / 616 Aplicação Pessoal

do pecado, em vez de receberem as bênçáos da maior”. O novo concerto traz um novo


obediência. Embora Deus possa ter permitido relacionamento entre as pessoas e Deus,
tais conseqüências, Ele nunca abandonou o seu fazendo de cada crente um sacerdote ( I
povo. Ao contrário, Ele prometeu algo melhor Pe 2.5,9). Cada crente tem acesso a Deus
para aqueles que permanecessem fiéis.
por meio da oração. Cada crente consegue
compreender as promessas de salvação
8.10-12 Sob o novo concerto de Deus, a lei
de Deus está dentro de nós. Ela já náo é mais de Deus, conforme reveladas na Bíblia,
um conjunto externo de regras e princípios. porque tem a Deus como uma presença
O Espírito Santo nos lembra das palavras de viva no seu coração. Naturalmente, ainda
Cristo, ativa as nossas consciências, influencia haverá a necessidade de professores, mas
as nossas motivações e os nossos desejos, e faz cada crente será capaz de conhecer a Deus
com que sintamos vontade de obedecer. Agora - e não somente os sacerdotes, ou alguns
nós desejamos realizar a vontade de Deus com poucos privilegiados.
todo o nosso coraçáo e a nossa mente.
Este novo concerto possibilita quatro
4. O novo concerto possibilita o perdão
provisões:
total dos pecados; “Serei misericordioso
1. O novo concerto possibilita a transformaçáo para com as suas iniqüidades e de
interior: “Porei as minhas leis no seu seus pecados e de suas prevaricações
entendimento e em seu coraçáo as náo me lembrarei mais”. As pessoas do
escreverei”. Isto significa ter um novo antigo concerto tinham o perdão dos
“coraçáo”, e com ele, um novo sentimento pecados (veja Êx 34.6-8; Mq 7.18-20),
de intimidade com Deus, em que Ele mas tinham tido um perdão incompleto e
é conhecido como Pai e os cristãos sáo efêmero, conforme demonstra a incessante
conhecidos como filhos e herdeiros de Deus. necessidade de realizar sacrifícios pelos seus
Este novo coraçáo irá levar o relacionamento pecados. No novo concerto, o pecado e o
das pessoas com Deus a um nível pessoal (e seu efeito de separação entre as pessoas e
não somente por meio de intermediários). Deus são ehminados. Deus varre os pecados
Ter estas leis escritas nos nossos corações da memória e os considera como se nunca
significa que vamos desejar obedecer a Deus. tivessem acontecido. O impacto do pecado
é completamente superado, tornando
2. O novo concerto possibilita a intimidade possível aos crentes receber as bênçãos
com Deus: “Eu lhes serei por Deus, e prometidas. Já não há nenhum obstáculo
eles me seráo por povo”. Isto revela um para o nosso relacionamento com Deus.
relacionamento positivo e íntimo entre
Todas as quatro características produzem
Deus e o seu povo. No primeiro concerto,
uma justiça verdadeira que não poderia ser
as pessoas deixavam continuamente conhecida sob o antigo concerto.
de estar à altura deste relacionamento.
No novo concerto, este relacionamento 8.13 A introdução de um novo concerto
está garantido por meio de Jesus Cristo. significa que Deus tornou velho o primeiro. O
Embora a promessa sempre estivesse ali, velho foi cumprido por Cristo e completado
ela agora tem um significado mais novo e por Ele; portanto, não mais era necessário.
rico graças à provisão de Cristo. Sistemas antigos, sacrifícios antigos e o antigo
sacerdócio agora não têm mais valor para
selar a aprovação de Deus. “Agarrem-se ao
3. O novo concerto possibilita o
antigo concerto, se quiserem”, adverte a carta
conhecimento de Deus: “Todos me aos Hebreus, “mas vocês estâo se agarrando a
conhecerão, desde o menor deles até ao uma sombra, uma bolha prestes a arrebentar.
^ n t á r i o do N o v o Testamento 617 / HEBREUS

um momento passado na história. O antigo que rinha dito ao seu povo anteriormente. Ao
concerto tinha servido ao seu propósito e contrário, o Pai enviou o seu Filho como o
em breve seria apenas uma lembrança. Não cumprimento do antigo concerto. A vinda de
se pode viver no passado, de modo que a Jesus tinha sido parte do plano de Deus desde
escolha real é clara; aceitem o novo concerto a Criação (veja Gn 3.15). Os discípulos nâo
ou nenhum.” compreenderam completamente como Jesus
Deus não muda de idéia. Ele não enviou cumpria as Escrituras até depois da sua morte
o seu Filho para revogar, abolir ou anular o e ressurreição (Lc 24.25-27).

HEBREUS 9
A N T I G A S R E G R A S S O B R E A A D O R A Ç Ã O / 9 .1 -1 0
O final d o cap ítu lo 8 explica q u e o an tigo co n certo (o u prim eiro) fisi to rn ad o ob so leto
pelo novo concerto. E ste cap ítu lo co m e n ta aq u ele an tigo con certo. A m e d id a q u e os
israelitas tin h am ap re n d id o as leis d e D e u s e c o m o d e v iam ad o rá-lo . D e u s lhes tin h a
d a d o in stru çõ es p a ra con stru ir u m lu gar p a ra ad o ração (8 .5 ; v eja Ê x 2 5 .4 0 ). C h a m a d o
T ab ern ácu lo , este ed ifício m óvel viajav a co m os h ebreu s d u ran te a su a p e regrin ação à
T erra P rom etid a. E le to rn o u -se o lugar em q u e D e u s vivia entre eles.

9.1 Os leitores originais de Hebreus teriam para cuidar dos outros elementos localizados
conhecido tudo sobre as leis para o culto nesta sala. O candeeiro, ou menorá, era
divino (ou adoração) que eram exigidas pelo um candelabro com sete braços que ficava
primeiro concerto. O primeiro concerto no lado sul da sala (Êx 25.31-40; 37.17-
também tinha provisão e instruções para 24). As suas lâmpadas queimavam noite e
um santuário terrestre (primeiramente, o dia e forneciam luz para que os sacerdotes
Tabernáculo, e em seguida, o Templo). desempenhassem as suas funções. A luz
também simbolizava a presença de Deus. O
9.2 O tabemácvdo que o povo de Deus usava menorá ainda continua sendo um símbolo
para a adoração foi construído enquanto os importante da fé judaica.
israelitas peregrinavam a caminho da Terra A mesa era feita de madeira e revestida
Prometida. Era uma estrutura portátil que com puro ouro (Êx 25.23-30; 37.10-16).
podia ser desmontada e carregada quando o Nesta mesa, ficavam os páes da proposição.
povo ia de um lugar a outro. As instruções de Uma vez por semana, no sábado judeu, um
Deus para a construção do Tabernáculo estâo sacerdote entrava no Santuário e colocava
em Êxodo 25-31. doze pães frescos sobre uma mesa pequena.
O Tabernáculo tinha duas salas: uma sala Estes pães simbolizavam a presença de
interior (chamada Santo dos Santos) e uma Deus em meio ao seu povo, como também
sala exterior. O sacerdote em serviço entrava o seu cuidado afetuoso em atender às suas
na primeira sala, chamada Santuário, necessidades físicas. O pão só deveria ser
diariamente, para a comunhão com Deus e consumido pelos sacerdotes em serviço.
HEBREUS / 618 Aplicação Pessoal

9.3,4 Além da primeira sala, o Santuário, incluídas, na Arca estavam as duas tábuas de
havia um véu (descrito em Êxodo 26.31-33). pedra com os mandamentos escritos nelas.
Este véu evitava que qualquer pessoa entrasse Estas duas tábuas de pedra foram colocadas
ou até mesmo desse uma olhada no interior na Arca no Monte Sinai. Quando a Arca foi
da segunda sala, chamada Santo dos Santos, colocada no Templo de Salomão, somente as
o que simbolizava que as pessoas pecadoras tábuas dos Dez Mandamentos ainda estavam
náo podiam se aproximar do Deus santo. dentro dela (1 Rs 8.9).
O véu formava a separaçáo entre o Deus
santo e as pessoas pecadoras (veja 6.19). Os 9.5 A seguir, o autor descreveu os querubins
leitores originais teriam sabido a respeito da glória, que adornavam o topo da Arca do
do magnífico véu do templo de Herodes. Concerto (Êx 25.18-22). Querubins são anjos
Ele era feito de linho torcido azul, púrpura, poderosos. Uma das funções dos querubins é
e carmesim. Havia figuras de querubins servir como guardiões. Estes anjos guardavam
bordadas nele. O Santo dos Santos era onde o caminho para a árvore da vida (Gn 3.24),
o próprio Deus residia. Somente o sumo como também para o Santo dos Santos (Êx
sacerdote podia entrar no Santo dos Santos, 26.31-33). As criaturas que carregavam
e somente uma vez por ano (no Dia da o trono de Deus em Ezequiel 1 podem
Expiação), para fazer a expiação dos pecados ter sido querubins. Com suas asas abertas
de toda a nação. sobre a cobertura da arca, também chamada
Os elementos no Santo dos Santos propiciatório, estas duas estátuas de ouro
incluíam um incensário de ouro colocado supostamente suportavam a presença invisível
junto ao véu, do lado de fora, pois era de Deus. A glória da presença de Deus pairava
usado diariamente (veja Êx 30.6-8; 37.25- sobre a Arca do Concerto (veja Êx 40.34-36;
28; 40.5). O sumo sacerdote queimava Lv 16.2).
incenso ali duas vezes por dia. A Arca do O propiciatório era também o trono da
concerto era feita de madeira de cetim, misericórdia. Ele era importante porque era
coberta de ouro toda em redor (Êx ali que o pecado era removido. O sangue do
25.10-22; 37.1-9). A Arca simbolizava sacrifício realizado no Dia da Expiação era
o concerto de Deus com o seu povo. No espargido sobre a sua cobertura pelo sumo
Dia anual da Expiação, o sumo sacerdote sacerdote (Lv 16.15-17), e o povo então
entrava no Santo dos Santos para espargir recebia o perdão de Deus.
sangue sobre a tampa da Arca (que era a Os leitores originais deviam estar
parte superior do propiciatório), para bastante familiarizados com os aparatos do
expiar os pecados de toda a naçáo. Tabernáculo. A intenção náo era fazer um
A própria Arca do Concerto continha comentário sobre estas coisas, de modo que
certos objetos sagrados. Descrito antes o autor explicou: “Das quais coisas náo
em Êxodo 16.32-35, o vaso de ouro, que falaremos agora particularmente”.
continha o maná, simbolizava o cuidado de
Deus em prover alimento para o seu povo no 9.6 Tendo lembrado as pessoas da disposição
deserto. Ele pode ter sido perdido quando os básica dos recintos sagrados do Tabernáculo,
filisteus capturaram a Arca e a conservaram o autor chega ao motivo deste comentário.
consigo durante algum tempo (veja 1 Sm Os sacerdotes entravam regularmente no
4-6). A vara de Arão, que tinha florescido, primeiro tabernáculo - oferecendo incenso
foi descrita antes em Números 17.1-11. diariamente (veja Êx 30.7), expondo os
Esta vara mostrou que os descendentes de pães da proposição no sábado (Lv 24.8,9),
Arão tinham realmente sido escolhidos e arrumando os pavios das lâmpadas para
por Deus para cuidar do sacerdócio. mantê-las acesas (Êx 27.20,21).
Ela dava autenticidade à sua autoridade
como sacerdotes. Esta vara também foi 9.7 Além destes serviços regulares, o sumo
provavelmente perdida durante o controle da sacerdote entrava no s^undo tabernáculo,
Arca pelos filisteus (veja 1 Sm 4-6). Também que é o Santo dos Santos, mas somente uma
C o m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 619 / HEBREUS

vez no ano, no Dia da Expiaçáo. Este dia era 9.9 Este antigo sistema era simplesmente uma
observado rigidamente (veja Lv 23.26-32), e alegoria para o tempo presente. Sob o antigo
ninguém tinha a permissão de entrar no Santo concerto, o povo não tinha acesso direto a
dos Santos em nenhum outro dia. Neste dia, Deus. Mas, sob o novo concerto, disponível por
o sangue espargido sobre o propiciatório, na intermédio de Cristo, o povo de Deus pode ter
Arca do Concerto, simbolizava a expiação dos acesso direto a Deus e está livre da cidpa. Esta
pecados da nação (Lv 16.15-30). Como parte culpa nunca tinha sido completamente aliviada
do nmal anual, o sacerdote entrava no Santo dos no antigo concerto, em que se oferecem dons
Santos com o sangue de um novilho. Este sangue e sacrifícios que, quanto à consciência, náo
servia para expiar os seus próprios pecados. A podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço.
seguir, o sacerdote dekava o recinto e retornava Estes sacrifícios simbolizavam a expiação do
com o sangue de um bode. Este sangue expiaria pecado e possibilitavam uma maneira para
os pecados que o povo tivesse praticado por que as pessoas pudessem continuar com a
ignorância. O sangue que o sacerdote trazia ao adoração a Deus, mas os sacrifícios nâo podiam
Santo dos Santos era espargido no altar do incenso transformar as vidas e os corações das pessoas.
e na face do propiciatório. (Na época dos leitores
originais, a Arca do Concerto estava desaparecida, 9.10 O autor continua mostrando por que o
de modo que o sacerdote simplesmente espargia antigo sistema de sacrifícios por intermédio
o sangue no Santo dos Santos.) dos sacerdotes era inadequado. O povo tinha
que observar as leis alimentares e as leis de
9.8 A cerimônia realizada no Dia da Expiação limpeza cerimonial até que Cristo viesse com
revelava que o povo nâo tinha acesso direto a o novo caminho de Deus, que seria muito
Deus. As pessoas comuns nâo podiam nunca melhor. As leis relacionadas com os alimentos
estar na presença de Deus e tinham que (ou manjares), as bebidas e várias cerimônias
depender do sumo sacerdote. Um espesso véu de purificação (ou abluçóes) (Lv 10.8,9,11;
bloqueava o Santuário; conseqüentemente, 15.4-27; Nm 19.7-13) tratavam-se somente
este lugar náo estava descoberto. O caminho de regras externas (ou justificações da carne)
ainda nâo tinha sido revelado - Cristo faria que eram exigidas sob o antigo concerto.
isto. Enquanto se conservava em pé o Deus substituiu este antigo sistema
primeiro tabernáculo, ou seja, enquanto o com a finalidade de corrigir as limitações
antigo sistema ainda estivesse sendo usado, as que ele apresentava. Esta ordem começou
pessoas nâo poderiam ter acesso direto a Deus. com o novo concerto em Cristo, em que
O Espírito Santo deu a entender que as leis de Deus foram escritas nos corações
o sistema de sacrifícios era ineficiente para das pessoas (veja o comentário sobre 8.10-
promover a comunhão desimpedida com Deus, 12). Talvez alguns dos leitores originais
e que um dia as pessoas teriam um novo tipo estivessem considerando retornar a algumas
de relacionamento com Deus que efetivamente leis cerimoniais. A carta aos Hebreus destaca
removeria o pecado. O antigo concerto indicava que estas regras já não mais são necessárias
o que Cristo faria no novo concerto. nem benéficas espiritualmente.

C R I S T O É O S A C R I F Í C I O P E R F E I T O / 9 .1 1 - 2 8
S o b o p r im e ir o c o n c e rto , o s p e c a d o s e ra m e x p ia d o s te m p o ra ria m e n te p e lo sa n g u e
de n o v ilh o s e b o d e s. S o b o se g u n d o c o n c e rto , o sa n g u e d o sa c r ifíc io s u p r e m o ,
Je s u s C r is to , e x p io u to d o s o s p e c a d o s d o s cre n tes. S o b o p r im e ir o c o n c e rto , o
sa n g u e tin h a q u e ser d e rr a m a d o e o fe re c id o a D e u s re p e tid a s vezes. S o b o n o v o
c o n c e rto , o sa n g u e d e Je s u s fo i d e rr a m a d o u m a ú n ic a vez. S o b o a n tig o c o n c e rto ,
o sa c e rd o te e s p a r g ia fisic a m e n te o sa n g u e so b re o s c e rim o n ia lm e n te im p u r o s . S o b
o n o v o c o n c e rto , a q u e le s q u e c rê e m e m C r is to e stâ o c o b e rto s p e lo se u sa n g u e , q u e
fo i d e rr a m a d o h á d o is m il an o s.
HEBREUS / 620 A p l i c a ç ã o Pe s s o. . .

9.11 Embora, sob o antigo concerto, o 23; At 10.15; 21.28). Mas a oferta somente
povo adorasse por aproximadamente mil possibilitava uma purificação cerimonial
e quinhentos anos. Deus possibilitou um temporária.
novo caminho, que veio porque Cristo se
tornou o sumo sacerdote. Cristo cumpriu 9.14 Se o antigo método de purificações
perfeitamente e completamente tudo o que cerimoniais permitia que as pessoas fossem
tinha sido exemplificado sob o antigo concerto purificadas (como descrito em 9.13), quanto
(descrito em 9.1-10). Cristo veio como um mais o sangue de Cristo purificará a nossa
sacerdote do novo concerto, que era chamado consciência. O sacrifício de Cristo fez mais
os bens futuros. do que purificar cerimonialmente, que é tudo
Como sumo sacerdote. Cristo também o que as cinzas podiam fazer; Ele purificou
serviu no Tabernáculo, mas o seu ministério fiai as consciências. Quando o povo sacrificava
em um maior e mais perfeito tabernáculo, animais. Deus levava em consideração a
náo feito por mãos, isto é, náo desta criaçáo. fé e a obediência das pessoas, purificava-
0 ministério de Cristo por nós era na presença as do pecado, e as fazia “cerimonialmente”
de Deus, um lugar onde o sangue de bodes puras e aceitáveis, de acordo com a lei do
e bezerros náo teria efeito. Isto novamente Antigo Testamento. Mas o sacrifício de
revela a superioridade de Cristo. Cristo transforma as nossas vidas e as nossas
consciências e nos torna puros interiormente.
9.12 Esta imagem vem dos rituais do Dia O seu sacrifício é infinitamente mais eficiente
da Expiaçáo descritos anteriormente. Assim do que os sacrifícios de animais.
como um sacerdote entrava no Santuário O sangue de Cristo purificou os seus
terreno. Cristo levou sangue ao Santuário seguidores das obras mortas. Antes de
celestial. Porém, Ele náo levou o sangue de seguirem a Cristo, as pessoas estão cheias
bodes e bezerros, mas o seu próprio sangue. de pensamentos, atos e comportamentos
Com este sangue. Ele efetuou uma eterna pecaminosos. Estas obras contaminam as
redenção. A obra verdadeira foi realizada na pessoas, fazendo com que precisem da expiação
cruz. (veja 6.1). Podia ser que os leitores originais
Os crentes sáo perdoados com base no tivessem dificuldade em confiar no perdão de
derramamento do sangue de Jesus - Ele Cristo e sentissem a necessidade de fazer alguma
morreu como o sacrifício perfeito e final. coisa por si mesmos. De modo similar, hoje, os
(Veja também Rm 5.9; E f 1.7; 2.13; Cl 1.20; cristáos freqüentemente tentam apaziguar suas
1 Pe 1.18,19.) O sacrifício de Cristo foi táo consciências, realizando boas obras, doando
perfeito e eficiente, que nunca precisará ser dinheiro, vivendo à altura das expectativas dos
repetido. seus líderes, ou assumindo responsabilidades
extras. Para os leitores originais e para nós,
9.13 O sacrifício de Cristo foi superior a a mensagem é clara: as nossas consciências
qualquer dos sacrifícios oferecidos sob o podem estar puras por causa do que Cristo
antigo concerto. Sob o antigo concerto, os fez.
sacerdotes ofereciam touros e bodes como O objetivo de toda purificação era
sacrifício (veja o comentário sobre 9.7). permitir que as pessoas servissem ao Deus
“A cinza de uma novilha” refere-se a uma vivo. Agora que os pecados estão perdoados,
cerimônia descrita em Números 19.1-10. nós podemos adorar verdadeiramente e
Esta cerimônia era realizada quando alguém livremente. Náo estamos limitados a atos
estava impuro e precisava ser purificado. externos; nós podemos adorar em espírito. A
Esta cerimônia servia para purificar uma nossa adoração náo precisa ser intermediada
pessoa impura; conseqüentemente, ela podia por um sacerdote; nós podemos adorar a
santificá-las quanto à purificação da came. Deus sozinhos, com acesso ilimitado a Ele.
Uma pessoa ritualmente impura náo podia
participar de cerimônias judaicas até que 9.15 Por Cristo ter se oferecido a Deus (9.14),
estivesse purificada (veja também Mc 7.15- Ele é Mediador de um novo testamento (ou
C o m e n t á r i o do N o v o Testamento 621 / HEBREUS

concerto). Como o nosso Sumo Sacerdote, soberano do universo. Ele é completamente


Cristo atua como o mediador, ou advogado, santo. Como o santo Juiz de tudo, Ele condena
entre nós e Deus. Ele intercede por todos os o pecado e o julga merecedor da morte. Na
que crêem, cuidando dos seus interesses e época do Antigo Testamento, Deus aceitava
apresentando os seus pedidos a Deus. a morte de um animal como substituta da do
Como Cristo serve como nosso Mediador, pecador. O sangue do animal derramado era
todos os chamados recebem a promessa da a prova de que uma vida tinha sido dada em
herança eterna. A expressão “os chamados” lugar de outra. Assim, por um lado, o sangue
refere-se a todos os que crêem em Jesus Cristo simbolizava a morte do animal, mas também
e aceitam o seu sacrifício em seu nome. O simbolizava a vida que tinha sido poupada
fato de que são “chamados” aponta para como resultado (veja também 9.22).
a iniciativa de Deus de dar a salvação. A
herança é o objetivo final do novo concerto - 9.19 Esta passagem descreve o sacrifício do
os crentes, um dia, vivendo no céu com Deus. concerto do Sinai (Êx 24.3-8). Havendo
Esta herança durará para sempre. Moisés anunciado a todo o povo todos os
A morte sacrificial de Cristo salva não mandamentos segundo a lei, ele selou o
apenas os que morreram depois de Cristo, concerto com sangue. O sangue que selou o
mas também os que morreram debaixo do concerto, o sangue dos bezerros e dos bodes,
prhneiro testamento (ou concerto). As foi misturado com água para simbolizar
pessoas da época do Antigo Testamento foram purificação. Lá purpúrea foi atada a ramos
salvas por meio do sacrifício de Cristo, embora de hissopo e usada para espargir o sangue
este sacrifício ainda nâo tivesse acontecido. sobre o livro das leis de Deus e todo o povo.
Aqueles que ofereciam sacrifícios de animais Na cerimônia aqui descrita, Moisés espargiu
imaculados estavam antecipando a vinda de a metade do sangue dos animais sacrificados
Cristo e a sua morte pelos pecados. Não fazia sobre o altar, para mostrar que o pecador
sentido retornar ao sistema de sacrifícios depois podia novamente se aproximar-se Deus,
que Cristo tinha vindo e tinha se tornado o porque alguém tinha morrido no seu lugar.
sacrifício perfeito e final. A seguir, Moisés espargiu a outra metade
do sangue sobre o povo, para mostrar que a
9.16,17 Estes dois versículos apresentam um punição pelo seu pecado tinha sido cumprida
pensamento explicativo que mostra quando e que eles podiam se unir a Deus. Por meio
o novo concerto foi realmente iniciado. Por deste ato simbólico, foram confirmadas as
meio de um jogo de palavras, o autor fala de promessas de Deus a Israel e ensinou-se a
alguém que deixa um testamento. A palavra respeito da futura morte sacrificial de Cristo.
para “testamento” é a mesma palavra usada
em outras passagens com o significado de 9.20,21 Da mesma maneira que Moisés
“concerto”. O novo concerto foi herdado pelo aspergiu com sangue o tabernáculo e todos
povo de Deus através da morte de Cristo. os vasos do ministério, também Cristo
Basicamente, Ele deixou o novo concerto derramou o seu sangue para confirmar o
no seu testamento. Quando Ele morreu, o testamento (ou concerto). Assim como o
concerto foi recebido pelo povo de Deus. antigo concerto rinha sido selado com sangue,
Quando Jesus Cristo morreu, o testamento também o foi o novo concerto. Esta citação
foi levado a efeito e a herança prometida (a foi adaptada da Septuaginta (a versão grega do
salvação e a vida eterna) foi recebida. A sua Antigo Testamento), de Êxodo 24.8.
morte também forneceu o sangue necessário
para colocar em vigor o novo concerto. 9.22 O sangue de um sacrifício simbolizava
purificação e perdão; conseqüentemente,
9.18 Para entender a razão pela qual o quase todas as coisas, segundo a lei, se
primeiro concerto náo foi consagrado sem purificavam com sangue. Na verdade, sem
sangue, precisamos entender a perspectiva da derramamento de sangue não há remissão.
Bíblia sobre o pecado e o perdão. Deus é o Juiz Por que o perdão exige o derramamento de
HEBREUS / 622 Ap l i c a ç ã o P e s s o a l

sangue? Este náo é um decreto arbitrário por 9.25 Diferentemente dos sacerdotes. Cristo
parte de um Deus sedento de sangue, como náo se ofereceu muitas vezes, como o sumo
alguns sugeriram. Náo há símbolo maior de sacerdote terreno, que cada ano entrava no
vida do que o sangue, porque o sangue nos Santuário e oferecia o sangue de um animal.
mantém vivos. Jesus derramou o seu sangue O sacrifício de Cristo invalidou qualquer
- deu a sua vida - pelos nossos pecados para outro sacrifício.
que náo tivéssemos que passar pela morte
espiritual, a separaçáo eterna de Deus. Jesus é 9.26 Se o sacrifício de Cristo tivesse seguido
a fonte de vida, e náo de morte. Ele deu a sua o padrão do antigo concerto, Ele teria que
própria vida para pagar a penalidade por nós, padecer muitas vezes. No entanto, o sacrifício
para que pudéssemos viver. de Cristo deu início a um novo concerto e foi
o sacrifício perfeito. Como resultado, Ele uma
9.23 O santuário terreno e tudo o que nele vez se manifestou e, fazendo isto, aniqviilou
havia eram, de uma maneira que nós náo o pecado para sempre. O pecado está mais do
compreendemos completamente, figuras que simplesmente expiado; ele está destruído.
das coisas que estão no céu. Assim como as Ele está perdoado e esquecido.
figuras tinham que ser purificadas, também
as próprias coisas celestiais tinham que ser 9.27,28 Cada pessoa vive na terra e, a seguir,
purificadas, com sacrifícios melhores do morre uma vez, vindo, depois disso, diz o
que estes. Esta purificaçáo de coisas celestiais autor, o juízo. Todas as pessoas comparecerão
pode ser mais bem compreendida como uma diante de Deus. Aquelas que seguem a Cristo
referência à obra espiritual de Cristo por nós. têm esperança. Os cristãos sabem que, da
Naturalmente, os “sacrifícios melhores” eram, mesma maneira como a morte e o julgamento
na verdade, um único sacrifício. A verdadeira são certos, também o é a sua esperança (9.28).
obra espiritual do perdão continua na presença Todas as pessoas morrem fisicamente, mas
de Deus quando Ele nos perdoa, graças à Cristo se ofereceu uma vez, para tirar os
morte de Cristo em nosso lugar. Por que o pecados de muitos, para que não precisemos
tabernáculo celestial precisava ser purificado? morrer espiritualmente. O sacrifício de Cristo
O céu e a presença de Deus já são sagrados, foi o momento decisivo na história. As palavras
de modo que isto provavelmente se refere “uma vez” indicam o caráter total e definitivo do
ao povo purificado de Deus, que agora pode sacrifício de Jesus. “Muitos” refere-se a todos -
permanecer na presença de Deus. toda a humanidade (veja 2.9).
Jesus subiu ao céu e da mesma maneira
9.24 Os sacerdotes trabalhavam em um aparecerá segunda vez. Pelo fato de sua
santuário feito por mãos, simbólico. morte ter resolvido a questão do pecado de
Cristo, no entanto, entrou no mesmo céu, forma completa e definitiva, Ele náo precisará
para agora comparecer perante a face de cuidar dos nossos pecados novamente. Aquela
Deus. Em meio a referências a sacerdotes, obra foi concluída. Na verdade, em sua
tabernáculos, sacrifícios, e outras idéias segunda vinda, Ele irá trazer a salvação aos
pouco familiares para nós, encontramos esta que o esperam fervorosamente. Quando Jesus
descrição de Cristo como o nosso advogado, voltar, Ele irá proclamar os benefícios plenos
comparecendo à presença de Deus por nós. da salvação. A frase “os que o esperam”
Nenhum sacerdote ou santo intermediário transmite uma advertência, um lembrete
é necessário. Cristo é o nosso representante para que os leitores permaneçam fiéis a
perfeito. Ele está do nosso lado e ao lado de Cristo durante o seu período de provações e
Deus. Ele está ali agora, sempre disponível. perseguições na terra.
C o m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 623 / HEBREUS

HEBREUS 10
o SA C R IF ÍC IO D E F IN IT IV O D E C R IS T O / 10.1-18
A n te rio rm en te a C r is to , o s sacrifício s d e a n im a is o c o rria m “to d o s o s a n o s” , n o D ia
d a E x p ia ç ã o , le m b ra n d o ao p o v o d a s u a cu lp a. N o n o v o c o n c e rto en tre D e u s e o seu
p o v o . D e u s p ro m e te q u e E le n âo se le m b ra rá m a is d o s n o sso s p e c a d o s, p o r c a u sa d o
sacrifício ú n ic o de C risto .

10.1,2 O antigo sistema da lei de Moisés Os sacrifícios, no entanto, eram necessários


simplesmente oferecia a sombra do que porque as pessoas náo viviam de acordo com
estava por vir. A imagem exata das coisas as leis que Deus lhes tinha dado.
é o novo concerto, descrito em 8.10-12, Aplicando a Cristo as palavras de Salmos
inclusive o acesso direto a Deus. Por não ser a 40.6-8, Cristo veio para oferecer o seu corpo
lei o plano final, ela nunca pode aperfeiçoar na cruz por nós como um sacrificio plenamente
(tornar perfeitos) os ofertantes. Se os aceitável a Deus. A maneira nova e viva de
sacrifícios pudessem ter tornado as pessoas Deus para que nós o agrademos náo vem com
perfeitas, eles náo precisariam ser repetidos a observância às leis cerimoniais, ou mesmo
continuamente, cada ano. Ao contrário, apenas com a abstenção do pecado, mas
eles teriam deixado de se oferecer, porque, mediante a nossa atitude de nos voltarmos a
uma vez purificados os ministrantes, nunca Ele com fé, pedindo o perdão, seguindo-o com
mais teriam consciência de pecado. Mas a amorosa obediência. Isto foi o que distinguiu
natureza incessante dos sacrifícios provava a o sacrifício de Cristo. Ele seguiu a vontade de
sua incapacidade de purificar os ministrantes, Deus Pai, obedeceu-o, e ofereceu o sacrifício
remover a sua culpa, e possibilitar uma perfeito da obediência perfeita.
proximidade com Deus. Somente o sacrifício Todo o Antigo Testamento (o livro)
de Cristo pode purificar as pessoas de uma tinha escrito sobre Cristo e sua vinda. A lei e
vez por todas (veja 9.12). Somente o sacrifício o sistema de sacrifícios eram uma sombra do
de Cristo pode remover a culpa do pecado e que estava por vir. Cristo cumpriu a lei, como
oferecer consciências limpas (veja 9.14). também as profecias que anunciavam a vinda
do novo concerto.
10.3,4 A repetição diária e anual dos
sacrifícios recordava o povo dos seus pecados 10.8,9 Estes dois versículos repetem as
e ensinava-o que é impossível que o sangue idéias de 10.5-7, reforçando o contraste
dos touros e dos bodes tire pecados. Os entre o modo antigo e o novo. Deus não
sacrifícios de animais forneciam apenas um quis os sacrifícios segundo a lei de Moisés.
meio temporário de lidar com o pecado até Deus nunca tinha planejado que o sistema
que Jesus viesse para lidar com ele de forma antigo fosse o sistema final. Ao contrário,
final e permanente. Ele forneceu um novo sistema, um novo
concerto, por intermédio de Cristo, que
10.5-7 Embora fossem necessários sacrifícios obedeceu a Deus e voluntariamente entregou
para pagar o preço do pecado, esta citação a sua vida como o sacrifício perfeito. Cristo
revela que Deus nunca se agradou de tira o primeiro concerto para estabelecer o
tais sacrifícios - “Sacrifício e oferta não segundo. Abandonar o primeiro sistema para
quiseste”. Em muitas passagens da Bíblia, estabelecer outro muito melhor significava
Deus revelou que náo queria os sacrifícios de abolir o sistema de sacrifícios contido na lei
uma pessoa que não tivesse um coração justo. cerimonial. (Isto nâo significa a eliminação
Deus queria que o seu povo obedecesse a Ele. da lei “moral” de Deus, contida nos Dez
HEBREUS / 624 A p l i c a ç ã o Pessoal

Mandamentos.) A lei cerimonial preparava o sendo santas. O versículo 14 compara


povo para Cristo. Com a vinda de Jesus Cristo, os crentes (que estão sendo santificados)
este sistema já náo era mais necessário. com as pessoas que se recusam a crer ~ os
“inimigos” mencionados no versículo 13.
10.10 Pela sétima vez em menos de dois Embora sejamos santificados quando
capítulos, a expressáo “uma vez” é usada para aceitamos Cristo como Salvador, Deus nos
destacar o caráter definitivo do sacrifício de santifíca continuamente. Em Cristo, estamos
Cristo. livres da punição do pecado (o juízo) e do
Deus quer que o seu povo seja poder do pecado (a compulsão para pecar,
santificado. O Deus de Israel e da igreja a morte). Mas, enquanto ainda vivemos
cristá é santo — Ele estabelece o padráo na terra, não estamos livres da presença do
para a moralidade. Santidade significa ser pecado (as tentações) e da possibilidade de
completamente devotado ou dedicado a pecar (os fracassos). Somos salvos pela graça de
Deus, consagrado para o seu uso especial, Deus, mas ainda precisamos crescer. Podemos
e separado do pecado e da sua influência. encorajar este processo de crescimento
A santidade vem de um desejo sincero de aplicando deliberadamente as Escrituras
obedecer a Deus e da devoçáo incondicional a todas as áreas da nossa vida, aceitando a
a Ele. As qualidades de Deus nos fazem disciplina e a orientação que Cristo nos dá,
diferentes. Um seguidor de Cristo torna-se e entregando a Deus o controle dos nossos
“santo” (santificado) pela oblaçáo do corpo desejos e objetivos.
de Jesus Cristo. Náo podemos nos tornar
santos sozinhos, mas Deus nos dá o seu 10.15-17 Mais uma vez, a carta aos
Espírito Santo para nos ajudar a obedecê- Hebreus afirma que o Espírito Santo é o
lo e para nos dar o poder para derrotar o autor do Antigo Testamento (veja também
pecado. 3.7; 9.8). Citando novamente Jeremias
31.33,34 (como em 8.10-12), o autor de
10.11,12 Aqui está novamente o tema Hebreus faz a conexão entre o sacrifício
de lO.I, de que os sacerdotes tinham que de Cristo e o novo concerto. Aqui vemos
oferecer sacrifícios diariamente (cada novamente uma ligação íntima entre o
dia). Estes sacrifícios nunca podiam tirar perdáo dos pecados e a capacidade de
pecados. Por outro lado, o nosso Sumo conhecer a Deus. O novo concerto e o
Sacerdote ofereceu a si mesmo a Deus como novo sacrifício trouxeram o perdão de
um linico sacrificio pelos pecados, válido uma maneira melhor do que aquela que o
para sempre. O sistema de sacrifícios não sistema levítico podia proporcionar. Com
podia remover completamente o pecado; os pecados perdoados, os cristáos agora
o sacrifício de Cristo fez isto. Cristo agora podem entrar na real presença de Deus. A
está assentado à destra de Deus (veja o culpa que permanecia sob o antigo concerto
comentário sobre 1.3,13; 8.1). Ele pode agora foi permanentemente removida.
se assentar ali porque o seu sacrifício foi
completamente suficiente para se encarregar 10.18 Cristo perdoa completamente, de
da questáo do pecado. modo que não há necessidade de confessar
os pecados passados repetidas vezes. Como
10.13,14 Desde aquela ocasião, Cristo crentes, podemos ter a certeza de que
espera até que os seus inimigos sejam os pecados que confessamos e aos quais
postos por escabelo de seus pés (veja renunciamos são completamente perdoados e
também 1.13; SI 110.1). Cristo pagou esquecidos. Pelo fato de os pecados terem sido
o preço dos nossos pecados e, com uma remidos, náo há mais necessidade de oblaçáo
só oblaçáo, aperfeiçoou para sempre pelo pecado. Deus náo exige mais sacrifícios
os que são santificados. Os crentes são para fazer as pessoas aceitáveis a Ele, porque o
aperfeiçoados para sempre porque sáo sacrifício definitivo de Cristo torna as pessoas
novas criaturas a quem Deus vê como aceitáveis.
Comentário do N o v o Testamento 625 / HEBREUS

UM CHAM ADO A PERSEVERANÇA / 10.19-39


A primeira seçâo, 1.1-10.18, tratou da superioridade de Cristo. A segunda seçáo,
10.19-13.25, trata da responsabilidade da igreja de viver na fé. O autor aplica as
doutrinas que foram comentadas até este ponto.

10.19,20 Por meio da morte de Cristo por ousadia, livres da culpa, graças à obra de
cada um de nós, temos ousadia para entrar Jesus Cristo. Podemos ir até Deus sem
no Santuário (aqui com o sentido de Santo duvidar, confiando que Ele irá nos ouvir e
dos Santos) pelo sangue de Jesus. Os crentes responder.
têm acesso ao santuário celestial, isto é, eles
têm livre acesso a Deus. Cristo agora está
Tendo o coração purificado da má
assentado à direita de Deus como o nosso
Sumo Sacerdote neste santuário celestial consciência com o sangue de Cristo. Esta
(veja 6.19,20; 8.1,2; 9.11,12,24). O sangue é uma linguagem sacrificial. Sob o novo
refere-se a Jesus dando a sua vida por nós (veja concerto, os corações e as consciências
9.12,14; 10.19,29; 12.24; 13.12,20). Este são purificadas (veja 9.14). Isto difere
incentivo à ousadia é notável porque, sob o do antigo concerto pelo fato de que a
antigo concerto, o Santo dos Santos estava consciência fica completamente purificada,
vedado à visáo pelo santo véu. Mas a morte
e não parcialmente ou temporariamente.
de Jesus, no seu corpo humano, consagrou
o acesso a Deus. Quando Jesus morreu na
O corpo lavado com água limpa. A imagem
cruz, o véu do Templo (que tinha substituído
o Tabernáculo) rasgou-se de alto a baixo (Mc de uma ação exterior retrata, na verdade,
15.38), revelando assim a gloriosa realidade uma purificaçáo interior. Assim como o
de que os crentes agora têm livre acesso a batismo é apenas um sinal exterior que
Deus. Pela sua carne, Jesus abriu o novo e representa a purificação que Deus realiza
vivo caminho. Ele é verdadeiramente “o dentro de nós, também este ato de lavar-
caminho” (Jo 14.6). se se refere a uma purificaçáo interior do
pecado. Uma vez purificados, os cristãos
10.21,22 O que Cristo fez pelos cristáos é o
podem se aproximar de Deus.
foco das três exortações seguintes - a primeira,
sobre a sua fé em Deus (10.21,22), a segunda,
10.23 Os leitores foram incentivados a reter
sobre a sua esperança na sua salvaçáo (10.23),
firmes a esperança - uma referência tanto
e a terceira, sobre o seu amor uns pelos outros
àquilo em que eles acreditavam a respeito de
(10.24,25).
Deus como ao que diziam aos outros. Quando
Devido ao relacionamento dos crentes
se convertiam e eram batizados, os primeiros
com este grande Sumo Sacerdote, eles podem
cristãos confessavam aquilo em que criam a
ir diretamente à presença de Deus. O autor
respeito de Cristo. Aqui, eles são instruídos
incentiva os leitores a se apresentarem diante
a se agarrar ao que tinham declarado
de Deus com as seguintes características:
anteriormente, sem vacilar. Os cristãos
tinham bons motivos para se agarrarem à sua
Verdadeiro coraçáo. Náo devemos ir
confissão: fiel é o que prometeu. Deus fez
indiferentes, ou com motivações ou a promessa; como Deus é fiel, sabemos que
pretextos inadequados, mas com uma aquilo que Ele prometeu irá acontecer.
adoração pura, completa, e sincera.
10.24,25 A palavra “estimular” significa
Em inteira certeza de fé. Os cristãos “incentivar fortemente”, “animar”, ou “incitar
podem se apresentar a Deus com uma agitação”. Os cristãos precisam incitar ou
estimular uns aos outros em duas áreas; (1)
HEBREUS / 626 Aplicação Pessoal

Caridade (ou amor) - não uma emoção, mas Cristo em favor do judaísmo. Ela aplica-se,
uma decisão, independentemente dos nossos entretanto, a qualquer pessoa que se afaste
sentimentos. Devemos agir com amor em de Cristo para outra religião, ou que, tendo
relação a outros crentes; (2) Boas obras - compreendido a obra de expiaçáo de Cristo,
obras realizadas para o bem de outros. deliberadamente se afasta dela (Mc 3.28-30).
Os crentes também não devem deixar a Sob o antigo concerto, os judeus tinham esta
congregação. Alguns cristáos (naquela época, ameaça de puniçáo, se rejeitassem o caminho
como também hoje) não freqüentavam de Deus (veja também Nm 15.30,31).
as reuniões da igreja. Qualquer que fosse Não existe outro sacrifício aceitável para o
o motivo, estes crentes estavam tentando pecado além da morte de Cristo na cruz. Se,
sobreviver por conta própria. Retirar-se da depois de ter compreendido a mensagem do
força coletiva é fazer um convite ao desastre. Evangelho, alguém rejeita deliberadamente o
Tal situaçáo é semelhante à situaçáo de um sacrifício de Cristo, esta pessoa não pode ser
soldado em uma batalha que fica para trás, salva, porque Deus não forneceu nenhum
afastado do restante do seu pelotáo, e se torna outro nome sob os céus para a salvaçáo (veja
um alvo fácil. At 4.12).
Finalmente, os crentes devem admoestar
uns aos outros. Estas palavras revelam que 10.27 Para os que rejeitaram a Cristo, o
os cristáos sáo responsáveis uns pelos outros. único futuro que há é uma expectação
Os cristãos não podem estar preocupados horrível do juízo de Deus, ou seja, o
exclusivamente com o seu próprio bem-estar ardor de fogo que há de devorar os seus
espiritual; eles também devem incentivar os adversários. Na carta aos Hebreus, a
outros a permanecerem fervorosos no seu mensagem da esperança que os cristãos têm
amor e ativos no seu serviço a Deus. Este está em destaque. Eles podem esperar pela
estímulo deve acontecer mais e mais à medida sua salvaçáo, que é garantida. Entretanto,
que vemos que se vai aproximando aquele aqueles que não seguem a Cristo também
Dia. Este “Dia” (a volta de Cristo) é garantido; têm uma garantia. Eles irão enfrentar a ira de
Cristo irá voltar. Ao longo dos séculos, muitos Deus, sentida no “ardor de fogo” do inferno.
cristáos foram desestimulados por acreditarem Deus promete puniçáo eterna àqueles que o
que Cristo já teria voltado. Mas Cristo náo rejeitam (veja Is 26.11; Ap 20.11-15).
se esqueceu, nem modificou os seus planos.
Os cristáos devem viver como se o Senhor 10.28 Sob o antigo concerto, qualquer
fosse retornar a qualquer momento. Cristo pessoa que quebrantasse a lei de Moisés
náo deve nos encontrar descuidados na nossa era condenado à morte. Tudo o que era
devoção e preparo. necessário era a palavra de duas ou três
testemunhas. Isto queria dizer que a
10.26 Esta é a segunda grande advertência pessoa tinha rejeitado a autoridade da lei
contra a apostasia (vej a a primeira, em 6.4-6). Mosaica; isto era táo sério quanto um ato
Para aqueles que receberam o conhecimento de idolatria. Havia sacrifícios possíveis
da verdade do Evangelho e ainda assim para pecados que náo fossem intencionais,
rejeitam a Cristo, as conseqüências são mas, se alguém rejeitava voluntariamente o
graves. Para aqueles que aprendem a verdade concerto de Deus e procurava outro deus,
e pecam voluntariamente, já não resta não havia misericórdia nem sacrifício
mais sacrifício pelos pecados. Quando as possível (Dt 17.2-7). Se Deus exigia a
pessoas rejeitam deliberadamente a oferta morte física para quem infringisse o antigo
de salvaçáo de Cristo, elas estão rejeitando concerto, podemos ter a certeza de que a
o presente mais precioso de Deus. Elas estáo puniçáo para este caso no novo concerto
rejeitando o único sacrifício que poderia seria muito maior (10.29).
salvá-las.
Esta advertência foi dada a cristãos 10.29 Aqueles que rejeitam a Cristo e
judeus que se sentiram tentados a rejeitar a deliberadamente continuam a pecar (10.26)
e m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o (,17 / HEBREUS

irão receber um terrível castigo, pior do que desobedecem a Ele. A santidade de Deus e
o castigo daqueles que se recusavam a seguir a sua perfeita justiça exigem que Ele puna
o antigo concerto. Aqueles que tratavam os que pecam. Somente a Deus é permitida
assim o antigo concerto recebiam a morte a vingança, pois somente Ele é perfeito, e
física (10.28). Entretanto, aqueles que tratam Ele é ofendido por aqueles que o rejeitam.
o novo concerto (e a Cristo) com desprezo Para aqueles que ouviram o Evangelho e
receberão algo muito pior do que a morte o trataram com desprezo. Deus diz: “O
física. Por serem grandes as bênçãos sob o Senhor julgará”. Eles serão julgados por
novo concerto, um castígo ainda maior terem rejeitado a misericórdia de Deus.
espera aqueles que zombam dele. A carta aos Estas citações mostram que horrenda
Hebreus transmite um forte aviso e faz três coisa é cair nas máos do Deus vivo. O poder
acusações específicas contra estas pessoas: de Deus é impressionante, e a sua punição
é terrível. Estas palavras nos dão uma idéia
1. Elas pisaram o Filho de Deus. Recusar-se da impressionante santidade de Deus. Ele é
a aceitar o sacrifício da sua vida por nós é soberano; o seu poder é ilimitado; Ele fará tudo
demonstrar desprezo e desdém em relaçáo o que promete. Aqueles que rejeitam o concerto
serão punidos. Para estes, cair nas mãos de
a Cristo. A palavra para “pisar” é vivida e
Deus será uma experiência terrível. Eles não
dá a idéia de um forte antagonismo.
terão mais desculpas. Eles irão descobrir que
estavam errados, mas entâo será tarde demais.
2. Elas tiveram por profano o sangue do
testamento, como se fosse comum (ou 10.32-34 Depois de uma severa advertência, os
“impuro”). O sangue do testamento ou leitores são encorajados através da lembrança
concerto refere-se ao sangue de Cristo de que as suas ações passadas demonstram a
e, conseqüentemente, à sua morte. A sua fé genuína. Lembrar-se da fidelidade que
importância do sangue já foi estabelecida demonstraram no passado deveria incentivá-
los a perseverar na fé. Como muitos cristãos,
em versículos anteriores (7.22; 9.15-18;
estas pessoas sentiram um amor profundo
10.12-18). Como o sangue ratificava o
quando ouviram falar a respeito de Cristo pela
concerto, rejeitar o sangue consagrado de primeira vez. A lembrança desta proximidade
Cristo representava a rejeição definitiva. e do seu profundo desejo de servir a Deus
deveria encorajá-las durante os períodos
3. Elas fizeram agravo ao Espírito Santo, difíceis.
que traz a graça de Deus ao seu povo. O Durante aqueles dias passados, estes
sacrifício de Cristo está ligado ao Espírito crentes tinham permanecido fiéis mesmo
Santo; portanto, zombar do sacrifício suportando grande combate de aflições.
Eles tinham sido insultados e maltratados
de Cristo é a mesma coisa que insultar
publicamente (feitos espetáculo com
e enfurecer o Espírito Santo (veja 9.14).
vitupérios e tribulações). Durante aquele
Isto eqüivale a blasfemar contra o Espírito período difícil de perseguição, eles tinham
Santo (vejaMt 12.31,32). incentivado uns aos outros a permanecerem
firmes, ajudando os companheiros de fé que
10.30,31 O maior castigo (10.29) virá assim foram tratados. Aparentemente, os
das mãos de Deus. Duas linhas citadas destinatários desta carta tinham arriscado
do cântico de despedida de Moisés, em a sua própria reputação e posição social
Deuteronômio 32, enfatizam esta verdade. porque se compadeceram dos que estavam
Neste cântico, Moisés advertiu o povo contra nas prisões.
a apostasia e a falta de fé. O juízo de Deus Além disto, quando houve a espoliação
virá e será severo: “Minha é a vingança, eu dos seus bens, eles permitiram o fato com
darei a recompensa”. Deus, o Soberano do gozo. O texto nâo afirma se este ato foi
universo, tem o direito de punir aqueles que realizado pelo governo local ou por vizinhos
HEBREUS / 628 Apl ic a çã o Pesso.i

enfurecidos. Seja como for, o autor destaca fiéis a Deus são os justos, que vivem da fé.
a boa atitude que as pessoas conservaram. Estas pessoas irão perseverar até o fim. No
Naquela ocasião, elas foram capazes de entanto, aqueles que recuam perdem a bênção
suportar porque sabiam que tinham nos celestial, porque provam que não pertencem à
céus uma possessão melhor e permanente. família de Deus. As pessoas que abandonam
A palavra “melhor” significa “superior a fé cristá em meio a perseguições estarão
em qualidade e em realidade” . Os crentes perdendo o objetivo final da salvaçáo - a vida
confiaram nas promessas de Deus, que eterna com Cristo.
mostram que haverá grandes recompensas Quando o profeta Habacuque escreveu
futuras. estas palavras proféticas, o mal e a injustiça
pareciam ser predominantes em Israel. Como
10.35,36 Os problemas não cessaram para Habacuque, os cristãos freqüentemente se
os crentes, de modo que eles precisavam sentem irritados e desencorajados quando
continuar a ter paciência. O autor implora: vêem o que está acontecendo no mundo.
Não rejeiteis, pois, a vossa confiança no Habacuque reclamou vigorosamente a Deus
Senhor; isto é; Não abandonem a sua fé em sobre esta situação. A resposta que Deus
tempos de perseguição, mas mostrem, por deu a Habacuque é a mesma que Ele daria a
meio da paciência e persistência, que a sua fé nós: “Tenha paciência! Eu colocarei os meus
é genuína e sincera e que vocês irão continuar planos em prática na ocasião que me for mais
a fazer a vontade de Deus. Uma fé assim adequada”. O que há de vir (Cristo) virá e
significa descansar naquilo que Cristo fez no não tardará.
passado, mas também significa confiar naquilo
que Ele irá fazer no presente e no futuro (veja 10.39 O autor sabe que estes leitores náo são
Rm 8.12-25; Gl 3.10-13). Fazer isto resultará daqueles que se retiram para a perdição
em um grande galardão - alegria hoje e e selam o seu destino. Estas pessoas são
posses celestiais no futuro do qual a maior insensíveis e rebeldes e rejeitam a Cristo
bênção é a vida eterna. como o Salvador (10.29). Na verdade,
os leitores crêem para a conservação da
10.37,38 Uma das promessas que os crentes alma. Este voto de confiança prepara os
irão receber (10.36) é a volta de Cristo. Com crentes para aprender com os exemplos
esta citação de Habacuque 2.3,4, os leitores de fé e perseverança que serão citados no
são lembrados de que o dia se aproxima (veja próximo capítulo. Viver pela fé é muito
também 10.25). Esta segunda vinda de Cristo melhor do que meramente cumprir rituais
e todas as bênçãos que vêm com Ele superam e regras. Os exemplos de fé do capítulo 11
qualquer desconforto enfrentado pelos podem nos desafiar a crescer na fé e a viver
crentes nesta vida. Aqueles que permanecem em obediência a Deus todos os dias.

HEBREUS 11
GRANDES EXEMPLOS D E FÉ / 11.1-40
O capítulo 11 serve como um parêntese; 12.1 retoma o tema da última parte do
capítulo 10. As palavras de 10.39, a respeito daqueles que crêem, levam à descrição
da fé que faz com que os cristãos perseverem e não percam a esperança diante de
perseguições e provações.
C o m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 629 / HEBREUS

11.1 Neste capítulo tâo conhecido e alcançam testemunho. Em outras palavras,


maravilhoso, a fé é explicada como sendo o eles recebem a aprovação de Deus. O restante
firme fundamento de que as coisas que se do capítulo apresenta exemplos de homens e
esperam irâo acontecer. A fé inicia-se quando mulheres que receberam a aprovação de Deus
se crê no caráter de Deus, ou seja, que Ele é devido à sua fé.
quem diz ser. A fé culmina com a crença e a
confiança nas promessas de Deus, ou seja, que 11.3 Aqui está um exemplo de fé. A fé nos
Ele irá fazer o que diz que irá fazer. Para os permite entender que os mundos, pela
crentes, no entanto, a “esperança” é um desejo Palavra de Deus, foram criados. Deus criou
baseado na certeza, e a certeza está baseada no o mundo a partir do nada somente pela
caráter de Deus. sua palavra criativa. Crer neste fato requer
A fé é a prova das coisas que se nâo percepção espiritual, que só recebemos pela
vêem, significando que nós temos plena fé. Esta passagem nos lembra de que toda a
confiança de que Deus irá cumprir as suas criaçáo foi nova, e nâo feita de materiais pré-
promessas, mesmo que ainda nâo vejamos existentes. O mundo visível não foi feito do
nenhuma evidência. Nestas promessas, estão que é aparente. Deus trouxe o universo à
incluídas a vida eterna, as recompensas existência a partir do nada; Ele declarou que
futuras, o céu, e assim por diante. A fé ele devia existir, e ele existiu (veja Gn 1). Nós
considera que estas coisas sâo tâo reais quanto compreendemos isto pela fé, e nâo porque
o que pode ser percebido com os olhos. Esta vimos acontecer, mas porque compreendemos,
convicção sobre as promessas nâo-visíveis de com base no que lemos nas Escrituras e com
Deus permite que os cristãos perseverem na base no nosso relacionamento com o Pai
sua fé, independentemente da perseguição, da amoroso, que o mundo foi criado com um
oposição, e das tentações. propósito e que nós fazemos parte desse
propósito.
11.2 As pessoas que têm fé agradam muito Os crentes judeus que Üam esta carta
a Deus. Mas a fé nâo significa algo que estavam pensando em retornar ao judaísmo.
precisemos fazer para poder obter a salvaçáo Muitos podem ter desejado retornar porque
como um pagamento por aquilo que fizemos. a natureza “visual” dos rituais e dos sacrifícios
Se isto fosse verdade, entâo a fé seria apenas fazia a sua fé parecer mais real. O cristianismo,
mais uma obra, e as obras humanas jamais entretanto, baseava-se em tantas realidades
podem trazer a salvaçáo (Gl 2.16). Na verdade, invisíveis, que muitos cristáos judeus podem
a fé é uma dádiva que Deus nos concede, ter chegado a duvidar da sua realidade. A
porque Ele está nos salvando (Ef 2.8). carta aos Hebreus mostra que as “verdades
Mesmo nos tempos dos antigos (a invisíveis” do cristianismo sâo mais reais e
época do Antigo Testamento), a graça, e nâo mais garantidas do que aquilo que pode ser
as obras, era a base da salvação. E por isto
que a carta aos Hebreus diz: “É impossível
que o sangue dos touros e dos bodes tire 11.4 Caim e Abel foram os dois primeiros
pecados” (10.4). Deus pretendia que o seu filhos de Adáo e Eva (veja Gn 4.2-5). Caim,
povo o visse além dos sacrifícios de animais, um lavrador, trouxe a Deus uma oferta da
porém eles freqüentemente colocavam a sua terra. Abel, um pastor, trouxe os primogênitos
confiança no cumprimento das exigências da das suas ovelhas. O sacrifício de Abel (um
lei. Quando Jesus triunfou sobre a morte, Ele animal substituto) era um sacrifício maior
anulou as acusações contra os crentes e abriu e teve a aprovação de Deus. Portanto, Abel
o caminho para o Pai (Cl 2.12-15). Porque alcançou testemunho de que era justo (veja
Deus é misericordioso, Ele nos dá fé. Seria Mt 23.35). Devido à fé de Abel, ele ainda
trágico transformar a fé em uma obra e tentar fala através do seu exemplo.
desenvolvê-la por nossa própria conta!
Quando os crentes têm fé, ou seja, 11.5 Enoque é o próximo exemplo de fé (veja
quando eles têm confiança em Deus, Gn 5.20-24). Enoque alcançou testemunho
HEBREUS / 630 A p l i c a ç ã o Pes

de que agradara a Deus e, como resultado, (veja também Mt 24.37-39; Lc 17.26,27;


foi trasladado ao céu para náo ver a morte. 1 Pe 3.20; 2 Pe 2.5). Os primeiros crentes
Esta passagem afirma que Deus o trasladara podiam aprender esta lição com Noé, que
da vida terrena para a vida celestial. Enoque náo exigiu nenhuma evidência física do que
é um dos dois personagens do Antigo iria acontecer, mas simplesmente confiou em
Testamento que nunca morreu (o outro Deus e obedeceu.
é Elias, 2 Rs 2.11,12). Deus decidiu levar
Enoque sem que ele morresse porque Enoque 11.8 Abraáo é o próximo exemplo de fé do
viveu pela fé. Ele foi um homem justo que foi Antigo Testamento. No livro de Gênesis, a
elogiado como alguém que agradou a Deus. sua fé está registrada em 15.6, e a carta aos
Hebreus já mencionou a sua fé em 6.13-15.
11.6 Deus dava a sua aprovação a estas pessoas Duas outras passagens notáveis do Novo
do Antigo Testamento devido à sua fé (11.2). Testamento falam de Abraão: Paulo usou
Na verdade, sem fé é impossível agradar a Abraáo como um exemplo da justificação
Deus. Esta declaração teria funcionado como pela fé (Rm 4); Tiago usou Abraão como
uma advertência àqueles cristáos hebreus cuja um exemplo de fé que resulta em obras (Tg
fé estava hesitante. Ninguém (nem Abel, 2.20-24). A carta aos Hebreus explica que
Enoque, ou qualquer outra pessoa) consegue pela fé Abraáo obedeceu, e descreve três atos
agradar a Deus sem fé. A fé é um requisito resultantes da fé de Abraáo: (1) ele mudou-
indiscutível. Todos os rituais não significam se para uma nova terra (11.8); (2) ele foi pai
nada sem a fé. na sua velhice (11.11); (3) ele estava disposto
“Aproximar-se de Deus ” aqui tem duas a obedecer à ordem de Deus de sacrificar o
pressuposições: (1) A pessoa precisa crer seu único filho (11.17). Abraáo demonstrava
que Ele existe e, a seguir, (2) crer que Ele é a sua fé por meio dos seus atos. A sua fé o
galardoadordos que o buscam sinceramente. justificou diante de Deus.
Crer que Deus existe é apenas o começo; até A fé de Abraão é vista, em primeiro
mesmo os demônios crêem na existência lugar, na sua obediência em sair de sua terra
de Deus (Tg 2.19,20). Deus náo estará de e ir para vun lugar que havia de receber de
acordo com um mero reconhecimento da sua Deus por herança. Abraáo partiu com base
existência. Ele quer um relacionamento pessoal na promessa de Deus, sem saber para onde
e dinâmico com você que irá transformar a ia (veja Gn 12.1-9). Abraáo confiou nas
sua existência. promessas que Deus lhe fez de bênçáos ainda
maiores no futuro. A vida de Abraáo era cheia
11.7 Os exemplos de fé do Antigo Testamento de fé.
continuam com Noé, que, pela fé, acreditou Os crentes podem se sentir encorajados
nos avisos de Deus sobre coisas que ainda com o exemplo de fé de Abraáo. Deus pode
náo se viam (Gn 6-9). Noé teve fé, e por essa nos pedir para abandonarmos um ambiente
razão preparou a arca. A fé de Noé condenou seguro e familiar para realizar a sua vontade;
o resto do mundo porque ela mostrou o que Ele pode nos pedir para realizarmos tarefas
faltava às pessoas. Aqueles que não tinham fé difíceis. Mas nós podemos ter a certeza de
enfrentaram o julgamento de Deus; os que que o resultado será sempre para o nosso bem
tinham fé foram salvos. Noé é a primeira e nos levará para mais perto dele.
pessoa da Bíbha a ser chamada de “justo” -
ele foi feito herdeiro da justiça aos olhos de 11.9 Abraáo viveu pela fé pelo resto de sua vida,
Deus (veja Gn 6.9). Dizer que Noé foi justo continuando a confiar em Deus enquanto vivia
e irrepreensível não quer dizer que ele nunca na terra que Deus lhe tinha prometido. Esta terra
tivesse pecado. Na verdade, isto quer dizer que devia ser sua “por herança” (11.8), mas Abraáo
ele amava e obedecia incondicionalmente a nunca possuiu a terra. Ao contrário, ele viveu na
Deus. Durante algum tempo, Noé caminhou “sua” terra como em terra alheia, morando em
passo a passo na fé como um exemplo vivo cabanas. Ele náo construiu cidades nem tomou
para a sua geração e para as gerações futuras posse da terra, tampouco fizeram isto seu filho
' m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 631 / HEBREUS

e seu neto, Isaque e Jacó. Este trabalho seria recompensou a sua fé com um filho cujos
deixado aos seus descendentes, centenas de anos descendentes se tornaram uma naçáo com
depois. Mas Abraão creu na promessa de Deus tantas pessoas, que, como as estrelas do
de que, no final, todo o país pertenceria a ele céu, e como a areia inumerável que está
e a seus descendentes (At 7.5). Durante todo na praia do mar, náo se podiam contar. Isto
aquele tempo, eles compreenderam que a terra fazia parte do concerto de Deus com Abraão
não seria o seu destino final. A sua verdadeira (Gn 22;17; veja também Gn 12.2; 15.5). O
casa estava no céu. Isaque e Jacó, herdeiros com contraste é feito entre Abraão (um homem)
ele da mesma promessa de Deus, também se e seus incontáveis descendentes (os judeus e,
lembraram daquela promessa e viveram pela fé. no final, todos os cristãos), e tudo isto se deve
à fé de um único homem. Deus tinha sido
11.10 Abraão viveu pela fé (11.9) porque verdadeiramente fiel à sua promessa.
esperava a cidade que tem fundamentos,
da qual o artífice e construtor é Deus, ou 11.13 Todos estes fiéis descritos até agora
seja, a cidade que Deus planejou e construiu. morreram sem terem recebido as promessas
O verbo “esperar” dá a idéia de estar ansioso que Deus lhes tinha feito - a promessa
por aquela cidade e esperar por ela. Esta náo da nova e eterna cidade (veja 11.10), Mas
era uma cidade terrena, mas uma cidade com estes heróis viram e acolheram a promessa
fundamentos eternos. Isto contrasta com as mesmo vendo-a de longe. Estas pessoas de fé
cabanas em que Abraão vivia. Esta cidade, morreram sem receber tudo o que Deus tinha
embora ainda invisível, estende-se até a prometido, mas elas nunca perderam a sua
eternidade; conseqüentemente, é permanente visáo do céu (11.16). A sua esperança futura
e segura. Ter Deus como seu construtor não era por esta terra. Assim, confessaram
significa que tudo será perfeito. Assim que eram estrangeiros e peregrinos na terra.
como Abraão estava confiante, nós também A sua “confissão” não era uma receptividade
podemos estar. passiva, mas sim uma declaração e um
pronunciamento ativos, devido à sua fé em
11.11 Foi preciso fé para que tanto Abraão Deus.
como Sara confiassem na intervenção de
Deus nos seus corpos físicos, porque ambos 11.14-16 O mundo que está por vir será
estavam fora da idade de gerar filhos. Além melhor do que este mundo atual. Estes eram
disto. Sara tinha sido estéril quando era mais estrangeiros e peregrinos, mas não estavam
jovem. Deus prometeu a Abraão um filho, procurando retornar à sua antiga casa na
mas Sara, a princípio, duvidou de que pudesse terra. Ao contrário, eles estavam procurando
engravidar na sua velhice. Abraão tinha 101 um lugar melhor, a pátria celestial, uma
anos, e Sara, 90, quando Isaque foi concebido terra sua, que eles viam de longe (11.13).
(Gn 17.1,15,16; 21.1-7). Mas Abraão teve Servindo a Deus e andando com Ele nesta
por fiel aquele que iho tinha prometido. A terra, eles sabiam que este mundo não era o
fidelidade de Deus retoma o tema de 10.23. seu lar e esperavam ansiosos por aquele lugar
As promessas de Deus (náo importando o melhor. Devido à fé destas pessoas. Deus não
quão improváveis ou até mesmo impossíveis se envergonha de se chamar seu Deus (veja
possam parecer quando examinamos as também Êx 3.6), e já lhes preparou uma
nossas circunstâncias) são dignas de confiança cidade (vejajo l4.2ss.).
porque podemos confiar no caráter de Deus.
Deus não pode mentir, e Ele não irá fazer uma 11.17-18a Abraão confiou tanto nas promessas
promessa que náo pretenda cumprir. de Deus, que, quando Deus lhe ordenou
que oferecesse Isaque (seu único filho) em
11.12 Abraão e Sara tornaram-se pais por sacrifício, ele obedeceu. Abraão passou naquela
causa da sua fé. A eles, não importava o fato prova porque estava disposto a fazer o que
de que pudessem parecer velhos demais para Deus pediu. Quando Deus prometeu que
ter filhos. Por terem crido em Deus, Ele muitos descendentes nasceriam por meio de
HEBREUS / 632 A p l i c a ç ã o Pe s s c . : .

Isaque, Abraáo creu. Porém, ao comando de 11.22 José, um dos filhos de Jacó, foi vendido
Deus, Abraáo levou Isaque ao altar, amarrou-o, como escravo pelos seus irmãos invejosos (Gn
colocou-o no altar, e estava a ponto de sacrificá- 37). Depois José foi vendido novamente - desta
lo, mas Deus interveio no último minuto, vez, para um oficial do Faraó do Egito. Devido
poupando Isaque (Gn 22.1-19). Embora à fidehdade de José a Deus, ele foi promovido
ele náo entendesse a ordem de Deus, a sua para um alto posto no Egito. Embora José
obediência foi imediata e completa. pudesse ter usado a sua posição para construir
um império pessoal, ele lembrou-se da
11.18B-19 Abraáo tinha crido na promessa promessa de Deus a Abraão. Depois de ter
de Deus de fazer nascer uma grande naçáo a se reconciliado com seus irmãos, José trouxe
partir de Isaque; portanto, Abraáo considerou a sua família para perto de si. José creu na
que Deus era poderoso para até dos mortos promessa de Deus de que os filhos de Israel
o ressuscitar. Abraão até mesmo tinha dito iriam sair do Egito e retornar a Canaã. Ele
aos seus servos que o rapaz voltaria vivo (veja tinha tanta certeza disto, que lhes recomendou
Gn 22.5). Como resultado da fé de Abraáo, que levassem os seus ossos consigo quando
ele figurativamente recebeu seu filho de volta partissem, para que ele pudesse ser sepultado
dos mortos (ele o recobrou). Quando estava na Terra Prometida (Gn 50.24,25; Êx 13.19; Js
no altar, Isaque estava como morto, mas Deus 24.32). Como Isaque, José deu estas instruções
o poupou e o devolveu a Abraão. quando estava próximo da morte. Mesmo no
seu leito de morte, José perseverou na sua fé,
11.20 Outros patriarcas sáo comentados em esperando ansiosamente pelas promessas que
11.20-22. Pela fé, Isaque abençoou Jacó Deus tinha feito.
e Esaú. Deus escolheu o filho mais jovem,
Jacó, para continuar com o cumprimento 11.23 Os pais de Moisés estáo incluídos
da sua promessa a Abraão (veja Gn 25-36, entre estas excelentes pessoas de fé. Pela fé, eles
a respeito da história de Esaú; a história reconheceram que a máo de Deus estava sobre
de Jacó prossegue até o final do livro de Moisés e que ele era um menino formoso (veja
Gênesis). A história antiga sobre enganos, Êx 2; 12; 14). Os pais de Moisés desobedeceram
ambição, direitos de primogenitura e bênçáos ao rei pela fé, não temendo o que o rei poderia
náo vem ao caso aqui. Os versículos 20 e 21 fazer com eles se descobrisse que tinham estado
falam da “bênçáo” que os pais idosos davam escondendo seu filho por três meses. Faraó
aos seus filhos. Devido ao engano, Isaque tinha ordenado que todos os meninos nascidos
abençoou Jacó (o filho mais moço) em lugar dos escravos hebreus deveriam ser mortos.
de Esaú, mas isto teria acontecido de qualquer Deus usou este ato corajoso dos pais de Moisés
maneira, pois este era o plano de Deus. Esaú para colocar seu filho, o hebreu escolhido por
também recebeu uma bênção. A questáo é Ele, na casa de Faraó.
que Isaque confiou em Deus no tocante às
coisas futuras. 11.24,25 A grande fé de Moisés também foi
revelada por meio da sua difícil decisáo. Por
11.21 Isaque abençoou Jacó e Esaú; os filhos intermédio da providência divina, Moisés foi
de Jacó tinham se tornado os pais das doze criado pela filha de Faraó como um membro
tribos de Israel. Jacó, quando já estava idoso da própria casa de Faraó (Êx 1—2)! Embora
e próximo da morte, acreditou na promessa Moisés tivesse recebido uma excelente
feita a Abraão e abençoou todos os seus educação egípcia, com riqueza e posiçáo
filhos, como também dois de seus netos - social, ele rejeitou esta herança, escolhendo,
cada um dos filhos de José (Gn 48.1-22). antes, ser maltratado com o povo de Deus
Como no caso de Isaque, Jacó abençoou “fora do que, por um pouco de tempo, ter o gozo
de ordem”; isto é, ele abençoou o filho mais do pecado. Moisés sabia que náo podia tomar
moço antes do mais velho, pela fé, percebendo parte em um modo de vida fácil e confortável
que este era o plano de Deus. Esta bênçáo foi enquanto seus companheiros hebreus estavam
conduzida por Deus. escravizados. Devido à sua fé, Moisés sabia
i t d r i o do N o v o T e s t a m e n t o 633 / HEBREUS

que o conforto terreno não era o objetivo final Quando o povo de Israel avançou pelo
da sua vida. mar Vermelho, os egípcios foram atrás, mas
sem fé. Como resultado, todos os soldados do
11.26,27 O grande segredo de Moisés era o exército se afogaram (veja Êx 14.5-31). Este
fato de que ele antecipava o cumprimento das exemplo dos egípcios poderia ser um aviso
promessas de Deus. Moisés é um exemplo àqueles que pensavam em se afastar de Cristo.
de que a fé exige que as pessoas deixem Deus pune severamente aqueles que não
seus próprios desejos de lado por Cristo. vivem pela fé nele. Aqueles que andam pela
Ele era motivado porque tinha em vista fé, mesmo em meio a “mares” de dificuldade
a recompensa que Deus lhe daria. Embora ou medo, teráo a sua fé recompensada.
Moisés náo conhecesse pessoalmente Jesus
Cristo, ele sofreu para realizar a vontade de 11.30 A peregrinação dos israelitas pelo
Deus e para proclamar o caminho de redençáo deserto é omitida aqui porque náo demonstra
de Deus para os hebreus; conseqüentemente, a fé dos israelitas. Na verdade, Hebreus 3-4
esta passagem trata do sofrimento de Moisés ressalta que as pessoas náo tiveram fé durante
pelo Messias. Como a história de salvaçáo e este período, e por essa razão receberam a
redençáo de Deus continuou até Cristo, o punição de Deus.
sofrimento de Moisés está ligado à causa de No entanto, depois da peregrinação,
Cristo. Em lugar de fazer do Egito e deste as pessoas tiveram fé e obedeceram a Deus,
mundo o seu lar, Moisés deixou o Egito e foi quando marcharam em volta de Jericó
adiante, porque íicou firme, como vendo o durante sete dias e os muros caíram. A
invisível. Pela fé, ele estava certo daquilo que ordem de marchar ao redor da cidade durante
náo podia ver (11.1). sete dias deve ter parecido ridícula (veja Js 6),
mas o povo teve fé em Deus e seguiu as suas
11.28 A fé de Moisés o incentivou a ser o instruções. A sua fé os encorajou a obedecer a
porta-voz de Deus aos hebreus. Por meio Deus. Quando obedeceram a Deus, tiveram a
desta fé, Moisés ordenou ao povo de Israel sua primeira vitória.
que celebrasse a Páscoa. Este incidente foi a
última de uma série de pragas que devastaram 11.31 Quando Josué planejou a conquista
o Egito. Os hebreus seguiram as instruções de de Jericó, ele enviou espias para investigar as
Deus, transmitidas por Moisés, de marcar com fortalezas da cidade. Estes espias encontraram
sangue as portas das casas, para que o Anjo Raabe, que os escondeu. Raabe é uma inclusão
da Morte não matasse os seus primogênitos. estranha nesta “galeria da fé”, porque ela era uma
O “sangue” era de um cordeiro morto como mulher gentia e uma meretriz (leia a história em
parte da refeiçáo da Páscoa. Naquela noite, o Josué 2 e 6). Mas ela demonstrou a sua fé em
filho primogênito de cada família que não teve Deus, recebendo os espias e confiando que Deus
sangue nas portas foi morto. O cordeiro teve pouparia a ela e à sua família quando a cidade
que ser morto para que fosse obtido o sangue fosse destruída (Js 2.9,11). A fé de Raabe foi
que iria protegê-los. (Isto foi um prenúncio do recompensada: ela e sua família foram salvas. E,
sangue de Cristo, o Cordeiro de Deus, que deu o que é ainda mais importante, ela veio a ser uma
seu sangue pelos pecados de todas as pessoas.) antepassada de Jesus. Nós vemos o seu nome
em Mateus 1.5 - ela foi a máe de Boaz. A fé de
11.29 O povo de Israel deixando o Egito Raabe, a despeito dos seus pecados anteriores,
fornece o próximo exemplo de fé. Pela fé, contrasta com aqueles que se recusam a se voltar
passaram o mar Vermelho, como por terra para Deus e obedecê-lo.
seca. A visáo do mar Vermelho abrindo-se e a
necessidade de passar pelo leito do mar entre 11.32-35 A lista de heróis continua. O
paredes de água devem ter sido aterrorizantes. Antigo Testamento registra as vidas de muitas
Mas, com a liderança de Moisés e a sua própria pessoas que tiveram grandes vitórias; algumas
fé, o povo de Israel prosseguiu e foi libertado são mencionadas aqui. Nenhuma destas
do Egito. pessoas foi perfeita; na verdade, muitos dos
HEBREUS / 634 Aplicação Pessoal

seus pecados estão registrados no Antigo cumprimento de algumas das promessas


Testamento. Porém, estas estâo incluídas de Deus, como a ocupação e a posse da
entre aquelas que creram em Deus: Terra Prometida.

• Gideáo, um dos juizes de Israel, ficou • Eles fecharam as bocas dos leões. Daniel
famoso por conquistar o exército foi salvo das bocas dos leões (Dn 6). Esta
midianita com apenas trezentos homens afirmação também pode se referir a Sansáo
armados com buzinas e cântaros (Jz (Jz 14.6) ou a Davi (1 Sm 17.34,35).
6.11-8.35).
• Eles apagaram a força do fogo.
• Baraque serviu com Débora (também Sadraque, Mesaque e Abede-Nego
juíza de Israel) na conquista do exército foram salvos incólumes das chamas
do general Sísera, de Hazor Qz 4.4-23). furiosas de um forno (Dn 3).

• Sansáo, outro juiz, foi um poderoso • Eles escaparam do fio da espada. Elias
guerreiro contra os inimigos de Deus, (1 Rs 19.2-8) e Jeremias (Jr 36.19,26)
os filisteus (Jz 13-16). tiveram esta experiência.
• Jefité, ainda outro juiz, libertou Israel
dos amonitas (Jz 11.1-33). • D a fi:aqueza, eles tiraram forças. Ezequias
foi um dos que recuperaram forças, depois
• Davi, o amado rei de Israel e um de muito enfermo (2 Rs 20).
poderoso guerreiro, trouxe paz a Israel, • Na batalha se esforçaram, puseram
tendo derrotado todos os seus inimigos. em fugida os exércitos dos estranhos.
Isto é uma referência a Josué, a muitos
• Samuel, o último juiz de Israel, foi um dos juizes de Israel, ao rei Saul, e ao rei
líder muito sábio. Ele também foi um Davi.
profeta. Samuel e todos os profetas
serviram abnegadamente a Deus, • Alguns receberam, pela ressurreiçáo, os
transmitindo as suas palavras a um povo seus mortos. A viúva de Sarepta recebeu
que estava freqüentemente em rebelião. seu filho de volta dos mortos, através
de Elias (1 Rs 17.17-24), e a mesma
Estas pessoas demonstraram que a fé pode
coisa aconteceu com a mulher sunamita,
realizar muitas coisas:
através de Eliseu (2 Rs 4.8-37).
• Eles venceram reinos. Durante todos
Nós também podemos obter a vitória pela
os seus anos na Terra Prometida, os
fé em Cristo. Podemos ter experiências similares
israelitas tiveram grandes líderes que àquelas dos santos do Antigo Testamento; é
trouxeram vitórias contra seus inimigos. mais provável, entretanto, que as nossas vitórias
Pessoas como Josué, todos os juizes e o estejam diretamente relacionadas com o papel
rei Davi foram grandes guerreiros. que Deus deseja que desempenhemos. A sua
vida pode náo incluir o tipo de acontecimentos
• Eles praticaram a justiça. Muitos dos dramáticos aqui registrados, mas certamente
juizes, como também líderes, tais como inclui momentos em que a sua fé é posta à
prova. Dê testemunho nestes momentos,
Neemias, administraram justiça ao povo.
publicamente e honestamente, e, desta forma,
incentive a fé de outras pessoas.
• Eles alcançaram as promessas de Deus. Embora os exemplos acima mencionem
Algumas pessoas realmente viram o grandes vitórias, existe uma que pode nâo
’ n t d r i o do N o v o T e s t a m e n t o 635 / HEBREUS

parecer vitória. Outros crentes foram torturados, Supostamente, Manassés mandou serrar
não aceitando o seu livramento, se isto a árvore ao meio com Isaías dentro dela.
significasse afastar-se de Deus. Estas pessoas
fiéis experimentaram as bênçáos e suportaram • Mortos a fio de espada - embora
persegui0es para alcançar uma melhor
alguns dos profetas tivessem escapado
resstureiçâo. Estas pessoas viveram pela fé porque
à morte pela espada, outros não
sabiam que conquistar o mundo e conseguir
o sucesso neste mundo não era o seu objetivo. conseguiram (veja 1 Rs 19.10).
Elas esperaram uma vida melhor, que começaria
depois da morte. Esta promessa de imia vida Muitos dos seguidores de Deus que
melhor as incentivava durante a perseguição e viveram antes de Cristo e muitos que viveram
outras difictJdades. depois de Cristo foram perseguidos. Eles
andaram vestidos de peles de ovelhas e de
11.36-38 Estas descrições podem se cabras. Muitos estiveram desamparados,
aplicar a muitas pessoas que viveram pela aflitos, e foram maltratados. Alguns tiveram
fé - inclusive algumas que faziam parte da que vagar e se esconder nos desertos. Apesar
comunidade dos leitores originais desta das suas dificuldades, o autor de Hebreus
epístola. Muitos cristáos foram perseguidos e afirma que foram homens dos quais o
punidos pela sua fé. Eles foram: mundo náo era digno. Estas pessoas foram
grandes homens e mulheres de fé.
• Alvo de escárnios - como Eliseu (2 Rs
11.39 Todas as pessoas mencionadas
2.23-25), Neemias (Ne 2.19; 4.1), e
pessoalmente e aquelas a que se fez alusão
Jeremias (Jr 18.12). foram aprovadas por Deus pela fé. Estas
pessoas esperavam uma época melhor e a
• Açoitados - como Jeremias (Jr 37.15). salvação, mas náo alcançaram a promessa
de Deus. Naturalmente, elas viram algumas
• Acorrentados em cadeias e prisões das promessas de Deus sendo cumpridas, mas
- como José (Gn 40.15), Sansão (]z náo as promessas a respeito do novo concerto
16.21), Micaías (1 Rs 22.26,27), e do reino eterno prometido. Estas pessoas
não viveram para ver a chegada do Reino,
Hanani (2 Cr 16.7-10), e Jeremias (Jr
mas a sua cidadania futura estava garantida.
37.16; 38.6).
Desta forma, elas foram capazes de suportar
o sofrimento.
• Apedrejados - como Zacarias (2 Cr O capítulo 11 de Hebreus tem sido
24.20.21). De acordo com Jerônimo, chamado a “galeria dos heróis da fé”. Sem
Jeremias foi apedrejado nas mãos de dúvida, o autor surpreendeu os seus leitores com
judeus egípcios porque denunciou a esta conclusão: estes poderosos heróis judeus náo
idolatria deles. receberam a recompensa plena de Deus porque
morreram antes que Cristo viesse. No plano de
Deus, tanto eles quanto os cristáos (que também
• Serrados ao meio - como Isaías,
estavam suportando grandes provações) seriam
supostamente. Embora não possamos
recompensados juntos.
saber com certeza, a tradição (a partir
do livro apócrifo A Ascensão de Isaías, 11.40 Esta “alguma coisa melhor” que Deus
capítulos 1-3) diz que o profeta Isaías tem em mente refere-se ao novo concerto. Os
foi serrado ao meio por ordem do antepassados não receberam esta bênção; na
rei Manassés, porque tinha predito verdade, ela está relacionada com aqueles que
a destruição do Templo. Isaías, a vivem depois da morte e ressurreiçáo de Cristo,
princípio, tinha escapado e se escondido pois Ele é aquele que trouxe o novo concerto e as
novas promessas (veja os comentários sobre 1.2).
no tronco de uma árvore nas colinas.
HEBREUS / 636 Aplicação Pessoal

Existe uma solidariedade entre os estão vivos, mas também somos um só


crentes (veja 12.23). Os crentes do Antigo com todos aqueles que já viveram. Um dia,
e do Novo Testamento receberão o prêmio todos os crentes irão compartilhar a bênção
juntos. Não somos apenas um só no corpo prometida em Cristo. Entâo, eles serão
de Cristo, juntamente com todos os que completos e perfeitos nele.

HEBREUS 12
A DISCIPLINA D E DEUS PROVA O SEU AM OR / 12.1-13
A carta aos Hebreus, até 10.19, descreveu a superioridade de Jesus Cristo e do
novo concerto. O trecho de 10.19 a 13.20 descreve a responsabilidade da igreja
à luz da superioridade de Cristo. No capítulo 11, as pessoas fiéis da história dos
judeus sâo apresentadas como exemplos de uma perseverança paciente, à espera
das promessas de Deus.
O capítulo 12 contém sugestões a respeito da situaçáo dos crentes a quem
esta carta foi escrita. Eles foram incentivados a não se desviar (2.1), porém neste
capítulo podemos perceber uma comunidade cansada da perseguição, lutando para
permanecer forte em um ambiente cada vez mais hostil, mas enfraquecida talvez ao
ponto de desistir e se afastar da fé.

12.1 Os crentes fiéis ao longo dos séculos O primeiro passo da preparação para a
(capítulo 11) agora sâo como uma grande corrida exige que os corredores se despojem
nuvem de testemunhas da vida da fé. Eles de todo embaraço ou peso que possa torná-
nâo sâo “testemunhas” como se fossem meros los mais lentos. Os cristãos devem estar “em
espectadores, olhando para nós lá do céu e boa forma espiritual” e devem ser capazes
observando a vida dos crentes; na verdade, de correr a corrida desimpedidos (veja 1 Co
eles sâo testemunhas através do registro 9.25; 2 Tm 2.3,4). Muitos “embaraços” ou
histórico da sua fidelidade, que encoraja “pesos” podem não ser necessariamente atos
constantemente aqueles que vivem depois pecaminosos, mas podem ser coisas que
deles. A vida destes grandes crentes, os seus nos retêm, como o uso do tempo, algumas
exemplos e a sua fidelidade a Deus, sem ver as formas de diversão, ou determinados
suas promessas, falam a todos os crentes sobre relacionamentos. Porém, é especialmente
as recompensas de permanecer na “carreira”. importante que nos desembaracemos do
Esta metáfora é de uma maratona, uma prova pecado que táo de perto nos rodeia e que
de força e comprometimento, uma descrição prejudica o nosso progresso. Pecados como a
adequada das vidas destes crentes sofredores. avareza, o orgulho, a arrogância, a luxúria, os
C o m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 637 / HEBREUS

mexericos, a desonestidade e o roubo podem em nossos ânimos. As dificuldades podem nos


fazer com que os crentes se desviem do seu levar ao desânimo e até mesmo ao desespero.
curso espiritual. Portanto, eles devem correr, Quando enfrentarmos dificuldades e desânimo,
com paciência, a carreira que está proposta nâo devemos deixar de ver o quadro completo.
por Deus. Eles não escolhem o percurso; é Nós não estamos sozinhos; Jesus está conosco.
Deus quem o determina. Muitos suportaram circunstâncias muito
mais difíceis do que nós temos enfrentado. O
12.2 Jesus, o nosso exemplo, concluiu a sua sofrimento nos educa para a maturidade cristã,
carreira de maneira perfeita. Por Ele estar na desenvolvendo a nossa paciência e tornando
linha de chegada, os cristãos devem olhar doce a nossa vitória final.
para Ele, afastando os olhos de quaisquer
distrações ou opções. E dele que a nossa fé 12.4 Aqui nós temos uma idéia da situação dos
depende, do princípio ao fim (Ele é o autor leitores, quando o autor menciona o combate
e consumador da fé). Jesus foi o primeiro contra o pecado. Este “combate” refere-se
a obedecer perfeitamente a Deus, e desta nâo a lutas pessoais contra a temação, mas
forma. Ele iniciou o novo concerto (veja sim à sua luta contra as pessoas pecadoras.
também 2.10). Ele definiu o curso da fé, Assim como Cristo lutou contra os pecadores
correu a carreira em primeiro lugar (6.20), (12.3), nós, cristãos, também lutamos
e agora espera que nos juntemos a Ele no contra a oposição dos náo-crentes hostis, e,
final, incentivando-nos ao longo de todo o às vezes, até mesmo contra a oposição que
caminho. Ele também é aquele que nos leva ao vem de companheiros de fé. Durante a sua
nosso objetivo, porque Ele foi feito o perfeito luta, os cristãos judeus não tinham tido que
Sumo Sacerdote, por meio do seu sofrimento combater até ao sangue, isto é, até a morte.
e obediência (veja 2.10; 5.8). Ele suportou Estes leitores estavam enfrentando tempos de
uma morte vergonhosa na cruz. Mas Jesus perseguição difíceis, mas nenhum deles tinha
suportou todo este sofrimento pelo gozo que ainda morrido pela sua fé. Por mais difíceis
lhe estava proposto. Ele manteve seus olhos que sejam estes tempos, eles nâo se comparam
no objetivo do curso que lhe foi indicado, a com as dificuldades que Cristo enfrentou.
realização do seu trabalho sacerdotal e o seu
lugar à destra do trono de Deus no céu. 12.5,6 Os tempos difíceis podem ser um
Saber que uma grande recompensa estava resultado da correção (ou disciplina) de Deus.
por vir para o povo de Deus dava a Jesus Na verdade, a correção é tão importante, que
grande alegria. Ele não olhou para os seus o autor a explica como a experiência normal
desconfortos terrenos, mas manteve seus dos crentes. Os crentes devem ter se lembrado
olhos fixos nas realidades espirituais invisíveis. das palavras de Provérbios 3.11,12, que
Como Cristo, nós devemos perseverar em dizem; Filho meu, náo desprezes a correçáo
tempos de sofrimento, olhando para Ele do Senhor e náo desmaies quando, por
como o nosso modelo e concentrando-nos no ele, fores repreendido; porque o Senhor
nosso destino celestial. corrige o que ama e açoita a qualquer que
recebe por filho. Ele preocupa-se conosco o
12.3 Quando estes crentes eram tentados a se suficiente para nos ajudar a amadurecer. Como
concentrar nas suas dificuldades, ao ponto de um pai amoroso. Ele quer que fiquemos longe
considerarem abandonar a sua fé, a carta aos daquilo que nos magoaria e que trilhemos o
Hebreus os incentivava a pensar naquele que caminho que leva à maturidade. Algumas
suportou tais contradições dos pecadores vezes, isto envolve a correção.
contra si mesmo. Cristo foi ridicularizado,
açoitado, espancado, cuspido, e crucificado. 12.7,8 Pelo fato de Deus prometer corrigir
Ainda assim. Ele não se entregou à fadiga, ao a seus filhos, os crentes devem suportar a
desânimo, ou ao desespero. sua divina correçáo. A única outra escolha
Concentrando-nos em Cristo e no que Ele seria recusar-se a suportá-la, franzir o rosto,
fezpornós, nãoenfraqueceremos, desfalecendo ficar deprimido, ou desistir completamente.
HEBREUS / 638 Ap l i c a ç ã o Pes

Seria muito melhor lembrarmo-nos de por nós. Os seus esforços nos lembram da
que, quando Deus nos corrige. Ele está nos perfeição da correção de Deus - ela é sempre
trataado como seus filhos. Os cristãos irão para nosso proveito (Rm 8.28,29; 1 Co
sentir a correção de Deus. Aqueles que não 10.13).
são corrigidos são bastardos e não filhos. De A correção de Deus também significa que
acordo com a lei romana, os filhos ilegítimos somos participantes da sua santidade. A
também não recebiam qualquer herança ou correção pode náo ser agradável, mas ela traz
reconhecimento a que um filho legítimo tem grandes recompensas. Participar da santidade
direito. Quando percebemos a correção de refere-se ao nosso crescimento. A correção de
Deus, podemos nos sentir encorajados pelo Deus ajuda os cristãos a se tornarem cada vez
fato de que somos realmente filhos de Deus. mais como Cristo, amadurecidos e completos
(vejaMt 5.48; 1 Jo 3.2).
12.9 A analogia entre os pais humanos e o
Pai celestial está fi-eqüentemente presente 12.11 Embora toda correção, ao presente,
nos ensinos de Jesus (veja Mt 7.9-11; 21.28- não pareça ser de gozo, os cristãos podem
31; Lc 15.11-32). Aqui os pais segundo a reagir a ela lembrando-se do resultado final
carne sâo comparados com o nosso Pai dos da correçáo. Certamente, a correçáo é de
espíritos. Os versículos 7 e 8 descrevem o tristeza; se náo fosse assim, ela teria pouco
valor da correção e afirmam que todos os efeito no combate ao pecado ou na nossa
filhos de Deus a suportarão; os versículos transformação interior. O resultado da
9 e 10 ensinam a correspondência entre correção, entretanto, faz com que a dor valha
a correção de Deus e a correção dos pais a pena: um üruto pacífico de justiça. Quando
terrenos. Todas as pessoas (ou, pelo menos, a correção limpa o pecado da nossa vida, ela
a grande maioria) tiveram pais humanos nos conduz pelo caminho que leva à justiça e
que as corrigiram. Raramente, esta correção à santidade. A paz prometida refere-se tanto
é resultado de crueldade; ao contrário, os a uma tranqüilidade interior como a uma
pais afetuosos corrigem tendo em mente os satisfação (Fp 4.11,12; Tg 1.4), em qualquer
melhores interesses para os seus filhos. Como circunstância (Fp 4.6,7).
resuhado, nós os reverenciamos.
Se respeitamos a correção dos nossos pais 12.12,13 Esta passagem retrata vividamente
terrenos, náo nos sujeitaremos muito mais Deus como um treinador exigente que força
ao nosso Pai celestial? Sujeitar-se à disciplina os nossos limites, incentivando-nos a ir além
de Deus significa nâo tentar esquivar-se dela, daquilo que pensamos conseguir atingir.
inventando desculpas ou insensibilizando Mãos cansadas desejam parar de trabalhar.
os nossos corações; antes, significa permitir Os cristáos estavam no limite da exaustão
que a correção nos deixe de joelhos diante completa; a moral estava baixa. Em vez
de Deus, para que Ele possa nos ensinar de admitirem a derrota, os cristãos devem
as lições que preparou para nós. Quando se levantar, fazendo um esforço, estando
tivermos esta atitude com relação à correção sempre dispostos a resistir. A correção ou
de Deus, nós viveremos para sempre — o a perseguição não devem causar medo aos
que é uma referência à nossa capacidade de cristãos; ao contrário, os tempos difíceis
aproveitar verdadeiramente esta vida e esperar devem incentivá-los a resistir. Em lugar de
ansiosamente a eternidade com Deus. baterem em retirada, os cristãos devem tornar
a se levantar - mesmo quando os joelhos e as
12.10 Os pais terrenos são imperfeitos. pernas estâo fracos e desconjuntados -, na
Algumas vezes, eles corrigem quando náo expectativa confiante da volta de Cristo (veja
deveriam fazê-lo, ou o fazem de maneira 10.37).
errada, e outras vezes, eles deixam de corrigir A maioria das “veredas” encontradas
quando deveriam fazê-lo. Mas a maioria deles na natureza acompanham as curvas do
fez como bem lhes parecia, durante o pouco terreno. Uma vereda direita, no entanto,
de tempo em que tiveram responsabilidade possivelmente terá sido construída por
C o m e n t á r i o do N o v o Testamento 639 / HEBREUS

alguém que fez o esforço de mover as rochas, para remover os obstáculos que podem estar
nivelar o terreno, e até mesmo eliminar os pelo caminho.
pequenos pedregulhos que machucariam os Como foi dito nesta epístola, os cristáos
pés de alguém. Esta imagem de uma vereda têm a responsabilidade de incentivar uns aos
direita une-se com a “justiça” (12.11) que outros e ajudar aqueles que sáo fracos. Se os
acontece na vida de uma pessoa que suportou leitores originais estavam considerando um
a correçáo e trabalhou para remover qualquer retorno aos costumes judaicos, o seu exemplo
obstáculo que impediria o seu progresso. O se mostraria desencorajador para os novos
trabalho árduo obviamente ajuda, mas tem cristáos. Em vez de percorrerem um caminho
ainda outro benefício para aqueles que estão reto e limpo, eles estariam acrescemando
vindo atrás. Alguém que está vindo atrás pode empecilhos e obstáculos à viagem, já bastante
verdadeiramente estar fraco e manquejar. difícil. Os crentes não devem viver tendo em
Nós podemos ajudá-lo a náo se desviar, mente unicamente a sua própria sobrevivência
incentivando-o e trabalhando arduamente - outros iráo seguir o seu exemplo.

UM CHAM ADO PARA O UVIR A DEU S / 12.14-29


Os crentes foram incentivados a suportar o sofrimento como parte do plano de Deus
para eles e a continuar andando com Deus em santidade e justiça. Eles também
precisam ter determinadas atitudes e responsabilidades para com as pessoas deste
mundo - tanto os companheiros de fé como os náo-crentes (alguns dos quais podem
até mesmo ter sido seus perseguidores).

12.14 Em primeiro lugar, os crentes devem 1 2 .1 5 C om o os cren tes lid am com


seguir a paz com todos. Os crentes devem relacionamentos pessoais na igreja local, eles
ter relações táo pacíficas quanto possível com devem procurar cuidar uns dos outros. Fazendo
os seus vizinhos e colegas não-crentes, como isto, ninguém se piiva da graça de Deus, A
também ter relações harmoniosas dentro palavra “graça” aqui se refere a todos os benefícios
da igreja. Certamente, eles não devem ser que Deus concedeu aos seus filhos. Os crentes
causa de dissensáo. A comunháo cristã deve devem incentivar uns aos outros a se apropriarem
ser caracterizada pela paz e pela edificação destas bênçãos, pois elas os ajudaráo a permanecer
recíproca (veja 1 Ts 5.11). firmes. Com muita fi^eqüência, os crentes “privam-
Além de procurarem a paz, os crentes se” porque não estão cientes das promessas, dos
também devem procurar viver uma vida ensinos, ou da orientação de Deus.
de santificação (veja também 12.10). A menção à raiz de amargura vem da
“Santificação” significa a devoçáo ou a linguagem de Deuteronômio 29.18,19.
consagração ao serviço de Deus. Na prática, a Moisés avisou que, no dia em que os hebreus
nossa santificação significa honrar a Deus na decidissem se afastar de Deus, seria plantada
maneira como tratamos os outros - amigos, uma raiz que produziria fel e absinto. Se uma
vizinhos, cônjuge, filhos, até mesmo inimigos pessoa supõe ter as bênçãos de Deus e passa
—e na maneira como administramos os nossos a desobedecer, isto planta uma erva daninha
negócios, as nossas finanças etc. A santificação que começa a crescer descontroladamente,
faz com que o comportamento, os pensamentos chegando a resultar em uma colheita de
e as atitudes dos cristãos e dos náo-crentes tristeza e dor. Mas os crentes devem ter
sejam diferentes. A nossa santificação, que nos cuidado para que isto não aconteça. Os
foi possibilitada graças à morte e ressurreiçáo cristáos náo devem permitir que as pessoas
de Cristo, nos permitirá ver o Senhor como que minam a fé continuem na igreja. A sua
Ele realmente é, quando estivermos com Ele influência pode não ser perceptível no início,
para sempre. mas ela virá (veja também 2 Pe 2).
HEBREUS / 640 Apli ca çã o Pessoa,

12.16,17 Embora náo haja menção da acampados na base do monte Sinai, Deus
imoralidade de Esaú no Antigo Testamento, estava preparando a nação para receber os
alguns judeus consideravam os casamentos Dez Mandamentos. Deus ordenou que
com mulheres do povo heteu uma ninguém, nem mesmo um animal, tocasse o
imoralidade e até mesmo uma fornicação (Gn monte, sob pena de morte (Êx 19.12,13). O
26.34,35; 27.46; 28.49; 36.2). A imoralidade fogo, a escuridão, as trevas e a tempestade
sexual não tem lugar entre os cristãos e não descrevem a cena impressionante no monte,
deve ser tolerada na igreja. Ninguém deve pois o próprio Deus desceu ali para falar com
subestimar o poder da imoralidade sexual. Moisés (Êx 19.18-21). Uma chama de fogo
Deus deseja proteger o seu povo para que não envolveu a metade superior da montanha;
se prejudique, nem prejudique os outros. isto evidenciou a presença do Senhor. O som
Os crentes também são instruídos a de trombeta veio da montanha e fez o povo
observar que ninguém seja profano, como tremer (Êx 19.16,19). Eles pediram que
Esaú. Esaú não seguiu os exemplos daqueles Deus lhes náo falasse mais (Êx 20.18,19). O
que têm os seus olhos fixos nas recompensas temor fez com que o povo implorasse para que
celestiais (veja capítulo 11). Em lugar de se Moisés fosse o único mediador. Os israelitas
importar com o seu direito de primogenitura, pensaram que iriam morrer se Deus falasse
que tinha grande valor espiritual, ele, por diretamente com eles (veja Dt 5.25-27).
um manjar, vendeu o seu direito de O antigo concerto, com a sua exibição
primogenitura (veja Gn 25). do poder assombroso de Deus, ainda não era
O direito de primogenitura era uma superior ao que Deus tinha planejado para o
honra especial conferida ao filho homem novo concerto. O antigo concerto provocava
primogênito. Ao negociar este direito, Esaú somente medo nas pessoas; elas imploravam
mostrou um completo desrespeito pelas para nâo ter que se aproximar pessoalmente
bênçãos espirituais que teriam vindo através de Deus. Deus, por sua vez, não permitia
deste direito, se ele o tivesse conservado. que elas se aproximassem. Deus oferecia
Devido à sua atitude, querendo ele ainda agora alguma coisa nova (12.22). Retornar ao
depois herdar a bênção de seu pai, foi sistema antigo seria tolice.
rejeitado... foi tarde demais. O pecado de
Esaú foi a sua impulsividade e o completo 12.22 Em vez de vir a um monte ameaçador
desrespeito pela sua herança espiritual. Assim de medo e de morte, chegastes ao monte
como Esaú teve pouca consideração pelos Siáo. O monte Siâo representa uma nova
assuntos espirituais, a igreja deve tomar comunidade e um novo relacionamento com
cuidado com as pessoas que se unem à igreja Deus, a cidade do Deus vivo, a Jerusalém
mas não têm uma preocupação real com os celestial (descrita em Apocalipse 3.12; 21.2).
assuntos espirituais. Os crentes aqui vivem com Deus e podem
Aqueles que rejeitam o caminho de Deus adorá-lo sem reservas. Nesta cidade, muitos
nâo terão uma segunda chance quando chegar milhares de anjos em alegre assembléia
a oportunidade para que outros herdem a adoram continuamente a Deus. A nova
sua bênção espiritual. Nenhuma quantidade Jerusalém é a futura morada do povo de
de apelos diante do trono de Deus fará com Deus. Todos os cristãos terâo um novo
que o Senhor mude de idéia sobre o destino relacionamento no reino futuro de Deus.
daqueles que o rejeitarem enquanto viverem Tudo será novo, puro, e seguro.
na terra.
12.23 Os cristãos não entram em um
12.18-21 Aqui novamente se compara o concerto no qual alguém como Moisés
antigo concerto com o novo, comparando o precisa subir ao monte para se encontrar com
monte Sinai terreno (12.18-21) com o monte Deus. Ao contrário, nós chegamos à igreja
Sião celestial (12.22-24). dos primogênitos de Deus. A assembléia
A cena descrita nesta passagem vem de significa a congregação e refere-se à reunião dos
Êxodo 19. Quando os israelitas estavam crentes, que foram escolhidos por Deus para
C o m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 641 / HEBREUS

os propósitos especiais de amá-lo, obedecê-lo, Em contraste com o sangue redentor de


e adorá-lo. Nós já náo mais estamos separados Cristo, o sangue de Abel é retratado como
dos anjos, mas nos unimos a eles em louvor a pedindo vingança. Abel é mencionado
Deus. Todos os crentes sáo primogênitos de aqui porque o seu sacrifício é o primeiro
Deus, pois todos recebem a promessa da sua mencionado na Bíblia e porque este sacrifício
herança (Ef 1.11). forneceu o ímpeto para o sistema sacrificial
Sendo seus filhos, nossos nomes estáo do antigo concerto. O sangue de Abel pedia
inscritos nos céus, no Livro da Vida (Lc vingança; o sangue de Cristo fala “melhor”,
10.20; Fp 4.3; Ap 3.5; 13.8; 17.8; 20.12,15; chamando todas as pessoas ao arrependimento.
21.27). Os cristáos sáo cidadáos celestiais, A morte de Cristo trouxe paz e esperança.
oficialmente registrados e inscritos. Embora O sangue de Cristo trouxe o fim do antigo
os cristáos adorem a Deus em espírito agora, concerto e selou o novo.
um dia eles fixarão residência no céu e o
adorarão face a face. 12.25 Se as pessoas se recusam a seguir o novo
Nós não precisamos de um intermediário; concerto de Deus, elas rejeitam o seu plano.
vamos ao próprio Deus. Nós temos livre Porém, mais do que o plano, elas rejeitam
acesso a Deus (4.16; 6.19,20; 7.25; 10.19- o próprio Deus. Tal atitude é final e trágica,
21). Por nossos nomes estarem escritos, nós de modo que o autor uma vez mais adverte
náo temos medo deste Deus, que é o Juiz os seus leitores; Vede que náo rejeiteis ao
de todos. Embora os cristáos sejam julgados que fala. Isto continua a refletir a imagem
(9.27), não precisamos ter medo disto, impressionante do monte Sinai, mencionada
porque Cristo sofreu a puniçáo em nosso em 12.18-21. Naquela ocasiáo, os israelitas
lugar. O julgamento que enfrentaremos será que rejeitaram o que na terra os advertia
para recebermos recompensas com base no (Moisés), náo escaparam à puniçáo de Deus.
que fizemos durante a nossa vida na terra. Se eles não escaparam, sendo Moisés um
Podemos esperar ansiosamente por uma mero mensageiro terreno, entáo quáo terrível
eternidade gloriosa, pois nos foi prometido é o perigo de punição eterna para aqueles que
que, quando morrermos, estaremos com os se desviam daquele que é dos céus.
espíritos dos justos aperfeiçoados. O termo
“espíritos” refere-se à parte espiritual das 12.26 Quando Deus fez o primeiro concerto,
pessoas (veja 12.9), mas náo aos anjos, pois sua voz moveu a terra (Êx 19.18). Salmos
os crentes foram aperfeiçoados através da 68.8 também descreve um terremoto
morte do Salvador (12.2). Este é o dia que acompanhando a revelação de Deus no monte
nós esperamos, quando Deus tornará todos Sinai. Deus promete que Ele ainda uma vez
os crentes perfeitos e eles teráo alcançado a comoverá, não só a terra, senão também
sua plenitude. Na morte, os cristãos chegam à o céu (citando Ageu 2.6). Por ocasião do
linha de chegada da sua corrida. No final, não fim do mundo. Deus fará a terra tremer
há medo, mas alegria, justiça, a graça de Deus, novamente. Este tremor representa outro
e a vida eterna na cidade celestial de Deus. grande cataclismo na terra que acompanhará
a revelação de Deus a todas as nações. Este
12.24 Os crentes também vêm a Jesus, julgamento divino irá arprmti^nj-.
t. 'ifjccíüaíior àe uma nova aliança entre se recusaram a ouvir a Deus e que enfrentarão
Deus e o povo. O único acesso a Deus é por o seu julgamento. Mas, para nós que seguimos
intermédio de Jesus Cristo, que é “o caminho” a Deus e somos membros do novo concerto,
(Jo 14.6). Este novo concerto ultrapassa em este será um momento de gloriosa expectativa,
muito o antigo concerto; ninguém que quando esperamos que o nosso rei retorne e
entendesse o novo concerto poderia jamais estabeleça o seu reino eterno.
escolher inteligentemente voltar ao modo
antigo. Nós chegamos ao sangue da aspersão, 12.27 Quando Deus fizer a terra tremer
porque somente por meio dele nós podemos novamente, Ele o fará pela última vez. Um
receber o gracioso perdáo de Deus. dia. Deus irá fazer este mundo tremer, e
HEBREUS / 642 Aplicação Pessoal

tudo será completamente destruído (Mc Deus, e nâo pelo seu próprio esforço, ou por
13.31; 2 Pe 3.7). Naquela ocasiáo, as coisas qualquer outro meio que nâo seja a bondade
móveis seráo destruídas - a terra, o universo, de Deus. Por termos este tipo de reino,
animais, pessoas, e tudo o que puder ser visto. devemos servir a Deus agradavelmente e
Somente o que pertence ao reino de Deus adorá-lo com reverência e piedade. Quando
ficará inabalável. Estas coisas permanecerão, adoramos verdadeiramente a Deus, nós o
pois pertencem à cidade celestial. fazemos em todo o tempo - nâo apenas nos
No final, o mundo se desintegrará, e só cultos aos domingos, onde cantamos alguns
restará o reino de Deus. Aqueles que seguem hinos, ofertamos, ouvimos uma pregação,
a Cristo sáo parte deste reino inabalável e e dedicamos algum tempo à oração. A
resistirão ao tremor, à separação, e ao fiago. verdadeira adoração inclui todos os atos de
Quando nos sentirmos inseguros quanto todos os dias. Obedecendo a Deus, a nossa
ao fiituro, podemos obter confiança através vida torna-se um sacrifício vivo de adoração
destes versículos. Não importa o que aconteça ao nosso Senhor (veja Rm 12.1,2).
aqui, o nosso fiituro está construído sobre uma
fiindaçáo firme que nâo pode ser destruída. 12.29 Deus é merecedor da nossa gratidão
Não deposite a sua confiança naquilo que e da nossa adoração porque Ele é um fogo
será destruído; antes, edifique a sua vida em consumidor. Esta descrição pode ser extraída
Cristo e no seu reino inabalável. (Veja Mt de Deuteronômio 4.24. Deus reina sobre tudo
7.24-27, para a importância de edificar sobre e destruirá aquilo que é temporário. Tudo o que
um alicerce sólido.) é imperfeito e limitado pelo tempo terminará.
Somente o novo concerto e aqueles que fizerem
12.28 Como este mundo virá a desaparecer parte dele é que irâo sobreviver. Dificilmente
um dia, a fé concentra-se nas promessas poderia haver uma conclusão mais assustadora
celestiais. O futuro, o mundo invisível, é, para esta carta a estes leitores cristãos de
na verdade, mais real do que o mundo atual. origem judaica, que estavam considerando
Este mundo em que vivemos hoje pode ser a possibilidade de abandonar a fé. Deixar de
abalado e destruído, mas os crentes estâo ouvir a Deus e recusar-se a aceitar tudo o que
recebendo um Reino que não pode ser Ele tem feito é uma atitude que traz a catástrofe
abalado. Os cristãos o recebem pela graça de à vida das pessoas.

HEBREUS 12
PALAVRAS FINAIS / 13.1-25
Depois de dar instruções para que os seus leitores procurassem a paz e a santidade
(12.14-29), a carta aos Hebreus apresenta três instruções que lidam com a vida social
de um cristão (13.1-3). Este capítulo final apresenta uma série de exortações a respeito
da vida social, privada e religiosa dos crentes. Os leitores são incentivados a realizar um
rompimento definitivo com o judaísmo. O Cristo imutável permanece sendo o nosso
Sumo Sacerdote, como também o sacrifício perfeito. Todas as pessoas precisam da
salvação que está disponível somente por intermédio do Senhor Jesus Cristo.
C o m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 643 / HEBREUS

13.1 A primeira instrução é: Permaneça a pela sua fé. Jesus disse que os seus seguidores
caridade fraternal. Os primeiros cristãos seriam seus representantes quando visitassem
enfrentavam perseguição e ódio do mundo; pessoas na prisáo (Mt 25.36). Outros que
era de se esperar que, dentro da igreja e na eram maltratados - espancados, assaltados,
comunhão com os irmãos cristãos, eles atacados, ou humilhados - também
pudessem encontrar amor e incentivo. A precisavam ser lembrados. Os crentes devem
igreja deve ser um refugio para os crentes. O sofrer com eles e compartilhar a sua tristeza
mandamento de amar uns aos outros náo era (veja também 1 Co 12.26; 2Tm 1.16).
novo (veja Lv 19.18; Jo 13.34,35). Os crentes
devem amar uns aos outros com base no amor 13.4 Além destes mandamentos para a vida
sacrificial de Jesus por eles. Um amor assim social dos cristãos (13.1 -3), a carta aos Hebreus
traz as pessoas a Cristo e conserva os crentes também inclui mandamentos para a vida
fortes e unidos em um mundo hostil a Deus. privada. Os crentes têm a responsabilidade de
Jesus foi um exemplo vivo do amor de Deus, venerar o matrimônio e o leito sem mácula.
e nós devemos ser exemplos vivos do amor de Isto inclui as promessas de amar eternamente,
Jesus (veja também Rm 12.10; 1 Ts 4.9; 1 Pe de permanecer fiel, seja em pensamentos,
1.22; 2 Pe 1.7). atitudes, ou atos, e de apoiar e sustentar um
ao outro.
13.2 A segunda instrução é; Náo vos A carta aos Hebreus apresenta duas
esqueçais da hospitalidade para com maneiras específicas para “ser fiel” (versão
estranhos. Este tipo de hospitalidade era NTLH). Os crentes podem se afastar da
importante porque naquele tempo as prostituição e do adultério. A prostituição
hospedarias eram caras, além de serem centros e o adultério têm destruído casamentos por
de práticas pagãs e atividades criminosas. Esta milhares de anos. Os mandamentos de Deus
hospitalidade também ajudava a transmitir o contra tais atos (dados pata o próprio bem do
Evangelho, porque os missionários itinerantes povo) têm estado em vigor por praticamente
poderiam ir a mais lugares e ministrar a mais este mesmo tempo (veja Êx 20,14,17; Jó
pessoas se nâo tivessem que se alojar em 24.15-24; Pv 5.15-23). Os cristãos, entretanto,
hospedarias. Estes “estranhos” que deveriam devem conservar os seus padrões elevados
ser hospedados, entretanto, não deviam ser (Mt 5.27,28). O escritor de Hebreus afirma
pessoas que trabalhassem contra o reino de que, mesmo que as conseqüências não sejam
Deus; ou seja, os crentes nâo deveriam receber imediatas, os indivíduos promíscuos incorrerão
em suas casas falsos pregadores ou ensinadores na ira de Deus - certamente. Deus os julgará.
(2Jo 10,11; 3 Jo 5-9).
Um incentivo adicional a este tipo de 13.5 Outro mandamento para a vida privada
hospitalidade vem do registro bíblico de dos crentes dizia respeito às necessidades
que, com a sua hospitalidade, alguns, não o materiais: Sejam vossos costumes sem
sabendo, hospedaram anjos. Isto aconteceu avareza. Isto também foi recomendado por
com Abraão (Gn 18.1-14) e Ló (Gn 19.1- Jesus (Mt 6.24; Lc 16.13) e Paulo (1 Tm
3). A hospitalidade estendida aos anjos 3.3; 6.10). Os desejos materiais e a avareza
e recebida por eles mostra a importância sâo um grande mal, porque eles mostram
da hospitalidade que os cristãos devem dependência do dinheiro, e não de Cristo. O
oferecer uns aos outros. E melhor oferecer materialismo é a antítese dos capítulos 11-12,
hospitalidade generosamente do que perder a onde se enaltece uma vida que procura as
oportunidade de receber anjos. recompensas celestiais em lugar das terrenas.
O materialismo também demonstra que a
13.3 A terceira instrução concentra-se pessoa se preocupa mais com aquilo que pode
nos presos. Já houve uma alusão a esta ver do que com as promessas espirituais, que
recomendação em 10.32-34. Os crentes devem nâo podem ser vistas.
se compadecer dos prisioneiros, especialmente O antídoto da avareza é a satisfação, de
de (mas sem se limitar a) cristáos aprisionados modo que o autor diz: Contentai-vos com o
HEBREUS / 644 Aplicação Pessoal

que tendes. Novamente, este mandamento 13.8 Embora os tempos e os líderes mudem,
foi dado por Jesus (Mt 6.31-34) e Paulo (Fp Jesus Cristo náo muda. Jesus Cristo é
4.11; 1 Tm 6.6). A nossa satisfação deve ser o mesmo em todas as épocas. Ele serviu
com o que Cristo nos dá, e náo com o que fielmente ontem (morrendo na cruz para
podemos conseguir por nós mesmos. Onde expiar os nossos pecados; veja 2.17,18). Ele
o dinheiro falha. Deus náo falha. Porque ele serve fielmente hoje (intercedendo por nós
disse: Náo te deixarei, nem te desampararei. à máo direita de Deus; veja 4.14-16; 7.25).
Quando a fé nos lembra de que Deus está no Ele permanecerá fiel eternamente. Por causa
controle, nós nos lembramos de que temos do que Ele fez no passado e do que faz no
tudo aquilo de que precisamos. presente, Ele é suficiente para qualquer
necessidade que qualquer crente venha a ter
13.6 O dinheiro náo pode dar segurança (veja também 1.12).
(13.5); somente Deus pode verdadeiramente Os líderes humanos têm muito a nos
nos ajudar. Embora náo tenhamos a garantia ensinar, e podemos aprender muitas coisas
de possuir coisas terrenas, nós temos a à medida que seguimos os seus exemplos
garantia de que Deus é o nosso ajudador. (13.7). Porém, devemos sempre manter
Ele cuida do seu povo e lhe dá tudo de que os nossos olhos em Cristo, o nosso líder
ele precisa. Todo crente, juntamente com supremo. Diferentemente de todo e qualquer
o salmista (veja Sl 118.6), com confiança, líder humano, Ele jamais mudará. Cristo tem
pode dizer: O Senhor é o meu ajudador. sido e será sempre o mesmo. Em um mundo
Deve ter sido maravilhoso para estes repleto de constantes mudanças, podemos
crentes judeus perceber que, quando se confiar em nosso Senhor, que jamais mudará.
tornaram crentes, as promessas dos salmos
ainda podiam ser usadas como cânticos de 13.9 Uma vez que Cristo nunca muda, o novo
louvor! concerto que Ele iniciou também nâo pode
Quando temos confiança de que Deus nos mudar. Tome cuidado para não se deixar levar
ajuda, nós náo precisamos temer. Se o rei do por doutrinas várias e estranhas (veja 1 Tm
universo está ao nosso lado, o que nos pode 4.16; 6.3;Tt 1.9). Para isto, os crentes precisam
fazer o homem? E claro que os humanos estar familiarizados com os ensinamentos
podem tirar os nossos bens, nos maltratar, corretos. Hoje, os cristãos têm uma vantagem,
nos jogar na prisáo, ou até mesmo nos matar. pois têm toda a Bíblia e ferramentas para
Porém, os humanos não podem magoar as estudá-la. Quando ouvimos uma doutrina
nossas almas, nem afetar a nossa salvaçáo nova e interessame, devemos nos certificar de
(Mt 10.28). Com Deus nos ajudando, nós estudá-la e ter certeza de que é verdadeira.
verdadeiramente náo temos nada a temer! Muitas “doutrinas estranhas” surgiram
nos dias da igreja primitiva. Uma delas
13.7 A seguir, vêm instruções a respeito dizia respeito às regras sobre manjares, isto
da vida religiosa dos leitores (veja também é, alimentos. Aparentemente, alguns falsos
13.17,24). Os seus pastores tinham dado pregadores tinham estado ensinando a estes
exemplos para que os demais seguissem. Os convertidos judeus que eles ainda precisavam
pastores mencionados aqui provavelmente observar as leis e os rituais cerimoniais do
eram os cristãos fundadores, os anciãos do Antigo Testamento (como nâo consumir
grupo, que lhes falaram a Palavra de Deus determinados alimentos). Mas estas leis eram
pela primeira vez. Embora estes pastores inúteis para derrotar os maus pensamentos
já tivessem morrido, a sua influência e desejos de uma pessoa (Cl 2.23). O
continuava, como fica evidente pela existência coração, isto é, a força espiritual do crente
das comunidades de crentes. Estes pastores (referindo-se ao seu interior), vem da graça
tinham imitado o exemplo de uma grande de Deus, e nâo dos alimentos que ele come
nuvem de testemunhas crentes (12.1,2). Por ou deixa de comer. As leis cerimoniais podem
terem confiado no Senhor e terem feito o bem, influenciar o comportamento, mas náo são
as suas vidas eram dignas de ser imitadas. capazes de modificar o coração. Os alimentos
C o m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 645 / HEBREUS

cerimoniais podem cumprir um ritual, mas Cristo, eles saem a ele fora do arraial,
eles de nada aproveitam àqueles que deles levando o seu vitupério. Os leitores originais
participam. As transformações duradouras no podiam estar infelizes porque pareciam estar
comportamento começam quando o Espírito abandonando as suas raízes judaicas, mas eles
Santo passa a habitar em cada pessoa. Uma vez não poderiam continuar agarrados às suas
que a aprovação de Deus está garantida pela raízes e ainda adorar junto à cruz de Cristo.
graça, náo há nenhum valor em se observar O ridículo e a perseguição vinham dos judeus
estas leis cerimoniais. que náo criam em Jesus, o Messias. A maior
parte da carta aos Hebreus explica como
13.10-12 Retomando argumentos similares Cristo é superior ao sistema de sacrifícios.
utilizados ao longo de toda a carta, agora o Aqui está a implicação prática deste longo
autor compara Cristo e o novo concerto com argumento: talvez seja necessário sair do
o antigo concerto. Aqui há analogias adicionais “arraial” e sofrer com Cristo. Eles precisavam
entre a cerimônia do Dia da Expiaçáo e o deixar o confinamento seguro do seu passado,
sacrifício definitivo de Cristo na cruz (para das suas tradições, e dos seus cerimoniais, para
mais informações sobre o Dia da Expiação, veja que pudessem viver para Cristo.
os comentários sobre os capítulos 9 e 10). Nós
lemos como o sangue dos animais era trazido 13.14 A razáo dada para acompanhar o
pelo siuno sacerdote para o Santuário como sofrimento de Cristo é que náo temos
um sacrifício pelo pecado (veja 9.7). Este aqui, neste mundo, cidade permanente.
novo detalhe incluído aqui lembra os leitores Isto é mais do que um ponto de passagem;
de que os corpos dos animais sáo queimados isto nos fornece um tema essencial do Novo
fora do arraial. Os sacerdotes podiam comer Testamento sobre a nossa verdadeira cidadania
a carne dos sacrifícios que eram oferecidos (Fp 3.19-21; 1 Pe 1.17; 2.11). Náo devemos
diariamente, mas não do Dia da Expiação; ficar táo apegados às nossas posses terrenas
neste dia, os restos dos animais mortos eram a ponto de nos esquecermos de obedecer
queimados fora do arraial. a Cristo. A vida na terra é temporária. Náo
De modo similar, Jesus padeceu e é apropriado que os cristáos fiquem muito
morreu fora da porta da cidade (veja Mt confortáveis aqui. Empregos, dinheiro, lares
21.39; 27.31-33; Jo 19.20); isto refere-se à e diversões náo devem se tornar a parte mais
crucificação de Jesus, que ocorreu fora dos importante das nossas vidas.
muros da cidade. No entanto, o sacrifício Ao contrário, os cristãos devem ser como
de Cristo pôde santificar o povo pelo seu os heróis da fé sobre os quais se comentou no
próprio sangue. O sacrifício de Cristo foi capítulo l i e dedicar suas vidas buscando a
final e definitivo. Aqueles que ainda estavam cidade futura, que está no céu. Náo devemos
se apegando ao antigo concerto e aos seus ficar satisfeitos com este mundo nem apegados
embaraços (sacrifícios, alimentos cerimoniais) a ele, porque tudo o que somos e temos aqui é
não tinham o direito de participar do novo temporário. Em lugar disto, devemos esperar
concerto que Cristo selou com a sua morte. ansiosamente o reino vindouro. Somente o
As pessoas náo podem tomar parte nos dois nosso relacionamento com Deus e o nosso
concertos. Este era um tema importante para serviço a Ele permanecerão. Náo devemos
os cristáos hebreus, que estavam considerando acumular nossos tesouros aqui; devemos
a possibilidade de observar as leis cerimoniais acumulá-los no céu (Mt 6.19-21).
judaicas adicionalmente à sua fé em Cristo.
Retornando aos costumes judaicos para obter 13.15 A necessidade de sacrifícios de sangue
a aprovação de Deus, estas pessoas perderiam terminou com a morte de Jesus na cruz. Mas
o seu direito de participar do novo concerto. os cristáos têm um sacrifício que eles podem
oferecer sempre - aqui chamado sacrifi'cio
13.13 Quando os cristáos sofrem perseguição, de louvor. Deus quer que ofereçamos a nós
eles unem-se a Cristo no seu sofrimento. mesmos, e náo a animais, como sacrifícios
Quando os cristãos sofrem pela causa de vivos - deixando de lado diariamente os
HEBREUS / 646 Aplicação Pessoal

nossos próprios desejos para que possamos e tensão para os seus líderes por meio de
segui-lo. Nós fazemos isto pela gratidão que reclamações incessantes e conflitos pessoais.
sentimos por nossos pecados terem sido Como seriam bem-vindas a alegria, a ajuda e
perdoados. Nós fazemos isto por meio de a lealdade aos seus líderes!
Jesus Cristo, porque somente Ele torna os
nossos sacrifícios aceitáveis. Oferecendo 13.18,19 Aparentemente, o autor desta
continuamente este sacrifício de louvor, nós carta, como os seus leitores, tinha estado face
confessamos o seu nome e, desta maneira, a face com a perseguição. O autor diz que
mostramos que somos leais a Ele (veja ele e seus companheiros não tinham feito
também Rm 12.1,2). Como estes cristáos de nada de errado - temos boa consciência
origem judaica já náo adoravam mais com —, mas pede orações para poder continuar a
outros judeus, devido à sua fé em Jesus Cristo portar-se honestamente. Por ter esta pureza
como o Messias, eles podiam considerar o diante de Deus e esta pureza de motivações,
seu louvor e os seus atos de serviço como os o autor podia pedir livremente orações aos
seus sacrifícios. Estes eram sacrifícios que eles seus companheiros crentes. Na verdade, ele
podiam oferecer continuamente, em qualquer contava com elas. Isto nos dá uma idéia de que
lugar e a qualquer momento. o autor de Hebreus pode ter sido um antigo
líder da igreja que estava viajando por outra
13.16 Outro “sacrifício” que agrada a Deus região. Este líder pedia orações para que fosse
está no serviço aos outros. Com atos de restituído em breve aos seus leitores. Não
bondade e a divisão dos nossos recursos. sabemos o que o impedia de retornar, mas
Deus se agrada, mesmo quando isto passa aparentemente era algo importante. Qualquer
desapercebido. Especialmente em tempos de que fosse o problema, o autor contava com o
perseguição, os cristáos dependem uns dos apoio desta igreja, pedindo as suas orações.
outros (veja 10.24; 13.20). No texto original,
a palavra para comunicação tem o sentido de 13.20,21 Este cântico de louvor descreve a
ter disposição para ajudar uns aos outros. Fazer Deus como o Deus de paz. Esta característica
o bem (ou beneficência) e ter disposição para de Deus pode ter sido incluída para promover
ajudar uns aos outros sáo fortes golpes contra a harmonia e para sanar a desunião que havia
o egocentrismo dos nossos tempos. Os crentes entre os leitores. Talvez o autor desejasse
têm comunhão com outros crentes quando incentivar aqueles cuja fé estava hesitante
tornam os seus recursos disponíveis para aqueles devido à perseguição, ou enfatizar a paz entre
que estiverem passando por necessidades. as pessoas e Deus que Jesus estabeleceu na
cruz (esta paz deve permanecer entre o povo
13.17 Os membros da igreja têm a de Deus).
responsabilidade e o dever de obedecer aos Deus tornou a trazer dos mortos a nosso
seus pastores. Enquanto 13.7 se referia aos Senhor Jesus Cristo. Este fato prova que
pastores do passado, que já tinham morrido, Jesus foi um sacrifício e um Sumo Sacerdote
este versículo refere-se aos pastores atuais eficiente e eficaz e é superior a qualquer pessoa
das várias congregações. Pastores sábios e ou a qualquer coisa do antigo concerto. Na
que honram a Deus cuidam da igreja e têm verdade, sem a ressurreição, náo haveria o
em mente o melhor para os seus seguidores. novo concerto. A ressurreiçáo de Jesus dentre
Eles preocupam-se com as necessidades mais os mortos é o fato central da história cristá.
íntimas daqueles que fazem parte da sua Chamado aqui de grande Pastor das ovelhas.
comunhão. Estes líderes também assumem a Cristo tinha dado a sua vida pelas ovelhas (Jo
grande responsabilidade de velar pelas almas 10.11). O novo concerto eterno tinha sido
dos membros da sua congregação. Eles hão assinado com o seu sangue.
de dar conta a Deus. Devido a esta séria Esta oraçáo de encerramento contém dois
responsabilidade, os seguidores podem, de pedidos: primeiro, que Deus aperfeiçoe os
modo coletivo, aliviar enormemente o peso crentes em toda a boa obra, para fazerem
da liderança. Muitos crentes criam problemas a sua vontade (para mais informações sobre
C o m e n t á r i o do N o v o T e s t a m e n t o 647 / HEBREUS

boas obras, veja 10.24 e 13.16); segundo, Timóteo é incluído como co-autor de muitas
que Deus opere neles o que perante Ele é das cartas de Paulo às igrejas. Timóteo tornou-
agradável. Eles tinham começado a realizar se um líder importante da igreja primitiva,
obras que acompanhavam a sua salvação dando continuidade ao ministério da palavra
(6.9,10), mas agora precisavam amadurecer depois da morte de Paulo. Aparentemente,
nesta área. Assim, o autor ora para que Deus ele também foi aprisionado em determinada
os aperfeiçoe. ocasiáo, mas foi solto. O autor conhecia
Estes versículos (que contém trechos Timóteo, e se Timóteo chegasse a tempo, o
emprestados em parte de Isaías 63.10-14 e autor iria com ele ver os leitores.
Zacarias 11.4, na Septuaginta) incluem dois
resultados importantes da morte e ressurreiçáo 13.24,25 A maioria das cartas do Novo
de Cristo: (1) Deus opera em cada um de Testamento terminam com saudações do
nós para nos tornar o tipo de pessoa que lhe autor a outras pessoas da igreja e saudações
é agradável; e (2) Deus nos aperfeiçoa para de cristáos de uma localidade aos cristãos
realizarmos o tipo de trabalho que irá agradá- que recebem a carta. Assim, esta carta oferece
lo. Permita que Deus transforme o seu interior saudações do autor a todos os chefes (ou
e que lhe use para ajudar os outros. líderes) e todos os santos (ou os outros
crentes). Na época desta carta, a maioria
13.22 Esta carta tem a sua cota de das igrejas ainda fazia reuniões nas casas dos
mandamentos, apelos, repreensões, e crentes. Estas igrejas nas casas, que se situavam
advertências. Os leitores sâo incentivados a em diferentes localidades, precisavam ser
levar tudo muito a sério, mas com o espírito incentivadas sobre a sua união com todos os
correto, percebendo que o autor os ama e tem demais crentes. O pedido para saudar a todos
em mente somente o que é melhor para eles. os líderes e a todo o povo de Deus ressalta a
A carta incentivou os leitores a compreender importância da união. O autor, por sua vez,
o papel de Cristo como sacerdote e que o enviou saudações dos cristãos da Itália.
novo concerto é superior ao antigo. Estas Uma bênção final conclui a carta: A graça
palavras importantes podem fazer toda a de Deus seja com todos vós. A conclusão com
diferença entre o seu apego a Cristo ou o seu “graça” é um final adequado para esta carta. A
afastamento dele - a diferença, literalmente, aprovação de Deus nâo podia ser obtida por
entre a vida eterna e a perdição eterna. Sendo meio de cerimônias, ou seguindo o antigo
assim, o autor roga que os seus leitores o concerto. Na verdade, a graça de Deus vem por
ouçam com paciência e cuidado. meio do novo concerto.
A carta aos Hebreus é um chamado à
13.23 O Novo Testamento náo tem registro maturidade cristã, Ela destinava-se aos cristãos
da prisão de Timóteo, exceto nesta afirmação. judeus do século I, mas se aplica aos cristãos
Ele pode ter estado preso em Roma ou de qualquer época ou ambiente. A maturidade
em Éfeso. Este é provavelmente o mesmo cristã inclui fazer de Cristo o princípio e
Timóteo que era discípulo de Paulo e a quem o fim da nossa fé (o autor e consumador da
Paulo escreveu duas cartas, que agora estão nossa fé). Para crescer em maturidade, nós
contidas no Novo Testamento. (Para mais precisamos concentrar as nossas vidas nele,
informações sobre Timóteo, veja a Introdução nâo depender de rituais religiosos, não cair
à carta de 1 Timóteo.) novamente no pecado, nâo confiar somente
Timóteo viajou pelo império com Paulo, em nós mesmos, e náo permitir que qualquer
servindo como seu cooperador e algumas coisa se interponha entre nós e Cristo. Cristo é
vezes como seu mensageiro. O nome de suficiente e superior.

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