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RESUMO

Síndrome do Ovário Policístico - SOP

Trata-se de um distúrbio endócrino multigênico caracterizado por


hiperandrogenismo (aumento dos androgênios, os hormônios com
característica masculinizante), o hirsutismo (o crescimento excessivo dos
pêlos, causado pelo hiperandrogenismo), disfunção ovariana e alterações
morfológicas nos ovários.
Caracterizada por alta prevalência, visto que, à nível mundial, a SOP
afeta entre 5 a 20% das mulheres em idade reprodutivas, sendo que o
hirsutismo está presente em 65 a 75% destas mulheres e a prevalência de
acnes entre 15 a 25%. Além disso, apresenta um forte componente
genético, sendo mais de 100 genes relacionados à SOP. Sendo que ter
uma mãe ou irmã com SOP, aumenta o risco de desenvolver em 30 a 50%.

1. CARACTERÍSTICAS DA SOP:

Hiperandrogenismo, aumento dos hormônios masculinizantes,


causando hirsutismo, aumento da acne (principalmente pelo DHT e IGF-1),
alopecia (queda capilar) e seborréia (inflamação do folículo piloso
caracteriza pelo excesso de oleosidade).
Oligo (alteração no ciclo menstrual) ou amenorréia (ausência de
menstruação por determinado período), gerando a Síndrome da
hiperestimulação ovariana.
RESUMO
Ovários policísticos podendo causar disfunção menstrual,
subfertilidade e hiperplasia do endométrio.

2. CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO E DIAGNÓSTICO:

Os critérios de classificação dividem a doença em diversos fenótipos,


sendo o critério de Rotterdam o mais utilizado. Sendo que o fenótipo A é o
mais severo até o fenótipo D que o menos severo. Foi realizada uma
interseção entre o critério de Rotterdam e critérios relacionados à
reprodução humana das sociedades americana e européia.

Diagnóstico por ARSM/ESHRE (2018):


RESUMO
Critério de Ferriman para avaliar o hirsutismo:
Utilizo este critério, em consulta com a paciente, para avaliar a
quantidade de pêlos em cada região e diagnosticarmos o grau de
hirsutismo da mulher, de acordo com o referido.

Para cada região coloco um score, dentre o grau 1 até o grau 4. Ao


final, somo todas as regiões corporais, obtendo um score total, sendo a
severidade do hirsutismo, se severo, moderado ou normal.

3. FISIOPATOLOGIA DA SOP:
Se manifesta clinicamente na vida adulta, após a maturação do eixo
hipotálamo-pituitária-adrenal. Sendo uma disfunção multigênica e
endócrina caracterizada pelo aumento na liberação pulsátil de GnRH.
RESUMO
A SOP possui característica endócrina, o aumento da liberação do
GnRH, um hormônio do hipotálamo que estimula diversos eixos
hipotalâmicos e hipofisários. Há uma relação entre o hipotálamo e a
hipófise, sendo que o GnRH contribui de forma intensa para isto.

No hipotálamo:

A imagem demonstra a relação entre o hipotálamo e a adeno-


hipófise, temos o aumento do hormônio GnRH, de forma pulsátil, na
mulher com SOP. O GnRH estimula a adeno-hipófise a produzir,
naturalmente, LH, o hormônio luteinizante, e FSH, o hormônio folículo
estimulante, relacionado com o crescimento e desenvolvimento folicular.
Na SOP, há um aumento do LH e FSH, por características patológicas
da doença, o FSH não se altera tanto, podendo até estar mais reduzido do
que o normal, enquanto o LH, estará muito aumentado na paciente.
O LH estimula o aumento dos andrógenos pelas células da teca, o
FSH estimula, principalmente, o aumento do estradiol. Na célula da teca
ocorre a produção natural de progesterona, sendo o principal hormônio
que realiza feedback negativo com o GnRH, ou seja, com o aumento da
progesterona, há redução do GnRH.
O aumento dos andrógenos pela célula da teca, estimulado pelo LH,
causa feedback negativo no estradiol e na progesterona. Desta forma,
reduz os níveis de estradiol e progesterona.
RESUMO
Além disso, o hormônio antimulleriano, o AMH, responsável por
reduzir a expressão da enzima aromatase, a qual converte os andrógenos
em estrógenos. Como o AMH diminui a expressão da aromatase, há maior
redução dos níveis de estradiol e progesterona.
Com os andrógenos aumentados pela produção tantos das células
da teca quanto da adrenal e por algumas alterações relacionadas ao
tecido adiposo, há o quadro de hiperandrogenismo. Com o aumento dos
hormônios andrógenos, há também aumento do desenvolvimento dos
folículos, caracterizando os ovários policísticos.

As alterações relacionadas ao tecido adiposo:

A mulher com SOP tende a ter acúmulo da gordura corporal maior


do que das não portadoras desta doença. Além disso, há um processo de
compartimentalização desta gordura de forma diferente.
Pelo aumento dos hormônios andrógenos, a mulher começa a
acumular gordura de forma "mais semelhante" ao acúmulo no homem,
visto que o homem e a mulher possuem diferenças na composição
corporal, sendo que o homem tende a acumular 2 vezes mais gordura
visceral do que a mulher, e apresenta uma quantidade menor de gordura
subcutânea do que a mulher.
RESUMO
A mulher com SOP possui maior acúmulo da gordura visceral,
extremamente prejudicial e nociva para saúde, por sua característica pró-
inflamatória, principalmente, pela maior presença de ácidos graxos
saturados na região e pelo infiltrado de algumas células do sistema
imunológico.
Normalmente, a insulina liga-se ao seu receptor, chamado de IRS1 e
ocorre o processo de fosforilação dessa serina, realizando uma sinalização
normal da insulina.
Com a sinalização correta da insulina, há inibição da lipólise e
aumenta a translocação de GLUT-4, os transportadores de glicose
presentes no tecido adiposo e muscular.
Com o aumento das citocinas pró-inflamatórias na SOP, há redução
da captação de glicose mediada por insulina e, também, redução de
algumas citocinas anti-inflamatórias, como a adiponectina. Com isso, há
falha no processo de redução da lipólise mediada pela insulina. Ou seja, a
insulina não está conseguindo inibir muito bem a lipólise (a lise/quebra do
tecido adiposo).
Portanto, ocorre aumento do estímulo da lipase hormônio sensível,
quebrando a molécula de triacilglicerol em ácidos graxos livres e glicerol.
O aumento dos ácidos graxos livres gera um processo de resistência
periférica à insulina, já o aumento do glicerol está associado ao aumento
do processo de gliconeogênese.
Por outro lado, este processo inflamatório altera a expressão de
alguns microRNAs, como o microRNA 223 (miR-223) e o microRNA 93
(miR-93), os quais aumentam a produção de GLUT-4. Com a redução da
produção de GLUT-4, há redução da produção da proteína que transporta
a glicose para dentro da célula. Com a redução da produção destes
transportadores, há aumento da glicose fora da célula, circulando pela
corrente sanguínea, a glicemia. Com aumento da glicemia, há aumento
dos níveis de insulina. Portanto, pelo processo inflamatório, há aumento
da glicose, dos ácidos graxos livres e do glicerol na corrente sanguínea.
Ou seja, com o aumento da gordura visceral, do aumento das
citocinas pró-inflamatórias (como o TNF-alfa e a IL-6), há um defeito na
RESUMO
sinalização de insulina, com isto, há aumento da glicose, dos ácidos graxos
livres e do glicerol fora da célula, circulando pelo sangue.
A hiperinsulinemia:

O aumento da insulina, a hiperinsulinemia, estimula o fígado a


aumentar a produção de triacilglicerol e colesterol. Além disso, reduz
algumas proteínas transportadoras, como a globulina ligadora de
hormônios sexuais (SHBG) que transporta diversos hormônios, como a
testosterona, e a redução do IGFBP1, que transporta o IGF-1. Com isto, há
aumento dos níveis de testosterona e IGF-1 (fator de crescimento
semelhantes à insulina). O IGF-1 aumenta a expressão da enzima 5-alfa-
redutase, a enzima que converte a testosterona em DHT. Desta forma, há
maior concentração de andrógenos, hormônios que geram características
masculinizantes nesta mulher.
Há aumento da liberação de LH pela glândula pituitária. Por outro
lado, há aumento da obesidade, quadro inflamatório e defeitos intrínsecos
na sinalização insulínica.
A insulina, negativamente, reduz o SHBG. Positivamente, aumenta a
produção dos andrógenos pela glândula adrenal (na zona reticulada do
córtex da adrenal) e pelas células da teca ovarianas.
RESUMO

Na adrenal, temos o córtex e a medula. O córtex subdivide-se em 3


zonas, sendo que 1 destas zonas é estimula pela insulina, na qual há
produção de andrógenos, como o DHEA. De forma geral, há aumento na
concentração dos andrógenos, visto que há estímulo da produção dos
andrógenos, assim como há redução das proteínas que se ligaram a estes
andrógenos, como a redução da SHBG.

Nos ovários:
Na célula ovariana, a ligação do LH ao seu receptor na célula da
teca, ocorre a entrada do colesterol dentro da célula, visto que são
RESUMO
hormônios esteroidogênicos. O colesterol é transformado em
pregnenolona que vai se transformar em 17-hidroxipregnenolona que se
transforma em DHEA, o dehidroepiantrosterona. O DHEA sofre ação da
enzima 3beta-desidrogenase até formar a androstenediona.

Tanto a androstenediona é direcionada para as células da granulosa,


sofrendo a ação da aromatase e sendo convertido em estrona que é
convertido em estradiol. Quanto a androstenediona sofre ação da 17beta-
HSD se transforma em testosterona, a qual é direcionada para a célula da
granulosa, sofre ação da aromatase e é convertida em estradiol.
No entanto, há muito LH para pouco FSH. Sendo que o FSH liga-se
ao seu receptor da célula da granulosa, aumentando a expressão da
aromatase, o processo que ocorre na fisiologia.
Na fisiopatologia da SOP, isto não acontece, pois a redução da
produção de aromatase pela queda no FSH. Além disso, o hormônio
antimulleriano, o AMH, também bloqueia um pouco da expressão da
enzima aromatase. Ou seja, por diversas vias, há favorecimento dos
andrógenos, aumento de androstenediona e de testosterona, redução
significativa do estradiol e da estrona, ou seja, dos estrogênios e a da
progesterona.
RESUMO
O excesso de androgênios possui correlação com a adiposidade
abdominal, sendo que cerca de 50% das mulheres com SOP possuem
sobrepeso ou obesidade.
Estudo que demonstra a correlação da obesidade e alguns
biomarcadores da SOP:

O estudo foi realizado com 330 mulheres, sendo 165 com SOP e 165
no grupo controle, com idade entre 14 a 45 anos. Foram avaliados
parâmetros bioquímicos (hormônios, marcadores, andrógenos, insulina
glicose e perfil lipídico), índice de massa corporal.

Foi demonstrado que quanto maior o IMC, maior o percentual das


mulheres do SOP e maior o quadro de resistência à insulina. Além disso:
RESUMO

Demonstrando que a adiponectina possui efeito protetor. A


adiponectina melhora a sensibilidade à insulina, possui ação anti-
inflamatória, ativa a AMPK no fígado, músculo e outros órgãos, regula a
termogênese e a homeostase energética. Já a leptina:

A leptina, um hormônio principalmente produzido pelo tecido


adiposo, ligando-se aos receptores hipotalâmicos chamados de LepRb,
presentes no núcleo ventromedial e dorsomedial do hipotálamo,
demonstrando correlação positiva com o HOMA, o IMC, a testosterona
total e os triglicerídeos. Quanto mais tecido adiposo, maior a inflamação.
A leptina atua na regulação da saciedade, no balanço energético, na
fertilidade, sendo também o "start" do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano,
hipotálamo-hipófise-gonadal ou hipotálamo-hipófise-adrenal, que
RESUMO
estimula a liberação de GnRH. Porém, em um quadro de obesidade,
principalmente quando dá excesso de marcadores pró-inflamatórios, há o
processo de resistência à leptina, sendo um dos fatores responsáveis pelo
elevado consumido alimentar e baixa sinalização da saciedade.
Ainda, a IL-6 correlacionou-se de forma positiva com o HOMA,
enquanto a SHBG de forma negativa. Visto que, normalmente, as
mulheres com SOP reduzem o SHBG, reduzindo o HOMA.

4. CARACTERÍSTICAS DA MULHER COM SOP:


RESUMO
A mulher com SOP possui aumento da insulina em jeju, aumento do
LDL, aumento do AMH, aumento dos triglicerídeos, redução da SHBG,
aumento do colesterol total. Sendo que não houve diferença na
adiponectina, leptina, resistina, grelina, PCR e IL-6 entre os grupos.

5. EXAMES BIOQUÍMICOS:
Quais os principais exames bioquímicos para analisar o quadro
clínico de uma mulher com SOP?

Caracterizado pelo aumento da testosterona, redução do SHBG,


normalidade ou redução do FSH, aumento do LH, aumento do AMH,
aumento de hemoglobina glicada, glicemia e insulina em jejum, redução
da 17-hidroxiprogesterona, aumento do cortisol e ACTH (pelo aumento do
GnRH), ainda, aumento de andrógenos, como o sulfato de
dehidroepiandrosterona (DHEA-S) e a androstenediona. Além destes,
pode solicitar o HOMA-IR ou realizar o cálculo entre glicemia e insulina, e
também solicitar a função tireoidiana, a qual inicia com o TRH, que
estimula o TSH que estimula a produção de T4 e de T3 pela glândula
tireoide, podendo ser afetado pela SOP.
RESUMO
Na mulher com SOP temos alterações em diversos parâmetros,
sendo um ciclo. São alterações na glicemia em jejum, aumento dos
triglicerídeos, redução do HDL, aumento da circunferência da cintura,
aumento da pressão arterial (resultado do processo fisiopatológico
instalado).
Ou seja, todas essas alterações caracterizam, também, a Síndrome
Metabólica.

6. SÍNDROME METABÓLICA:
Artigo de revisão sistemática e meta-análise:
RESUMO
De acordo com o artigo, a prevalência da Síndrome Metabólica varia
de acordo com o critério escolhido, sendo uma prevalência de 23,5% no
critério NCEP-APT III. Foi demonstrando que o risco de mulheres com SOP
serem diagnosticadas com Síndrome Metabólica aumentou em 2,6 vezes
utilizando o critério NCEP-ATP III.
Portanto, as mulheres com SOP apresentam maior prevalência de
Síndrome Metabólica quando comparadas as mulheres sem a doença.
Ressaltando a importância de estratégias de prevenção para a SM,
sobretudo, em relação ao HDL baixo e aumento da circunferência da
cintura, os quais são parâmetros comuns em mulheres com SOP e SM,
visando reduzir a gordura visceral, aumentar o HDL (responsável pelo
transporte reverso do colesterol, para tentar reduzir o risco
cardiovascular).

6. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO:
Existem vários formas de tratamento da SOP, sendo a principal o
equilíbrio entre a alimentação a prática de exercícios físicos e o uso de
fármacos, de acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas
para a Síndrome dos Ovários Policísticos, de 2019. O uso de fármacos,
principalmente, se a mulher estiver metabolicamente desregulada. Sendo
que o uso do fármaco depende das alterações prevalentes no quadro
clínico, não necessariamente o tratamento requer o uso de fármacos.

Metformina
É o principal medicamento utilizado, um anti-hiperglicêmico oral de
primeira linha, utilizado no tratamento de diabetes do tipo 2.
RESUMO

Como é a ação da metformina?

Em situação fisiologicamente normal, o glucagon é um hormônio


liberado pelas células alfa do pâncreas, principalmente, em estágios de
hipoglicemia, períodos mais catabólicos. O glucagon liga-se ao seu
receptor, ativando a adenilato ciclase, gastando ATP para aumentar o
AMPc que estimula o aumento da PKA. A PKA, por sua vez, estimula o
processo de gliconeogênese, ou seja, a formação de glicose por
compostos que não carboidratos, como o glicerol, piruvato e a alanina.
RESUMO
Quando o indivíduo utiliza a metformina, esse fármaco entra na
célula pelo transportador OCT1, inibe o complexo 1 da cadeia
transportadora de elétrons na mitocôndria, e, também, reduz a síntese de
FAD. Desta forma, há redução nas concentrações de ATP dentro da célula,
aumento do ADP e aumento do AMPc.
Com o aumento de AMPc, há bloqueio da adenilato ciclase,
reduzindo a PKA, ou seja, redução do processo de gliconeogênese. Ainda,
o aumento de ADP estimula o aumento de AMPK dentro da célula, sendo
uma das suas funções, estimular as sirtuínas, alguns fatores transcricionais
relacionados ao aumento da oxidação de gordura e, também, a AMPK
reduz a síntese de colesterol e de triglicerídeos, estimula a síntese da
enzima acetil-CoA carboxilase, responsável por inibir a lipogênese
hepática e estimular a oxidação de gordura no fígado.
Resumindo, a metformina reduz a quantidade de energia gerada
pelo hepatócito, desta forma, reduz o processo de gliconeogênese, tendo
menos glicose sendo formada, menor formação de gordura e maior
oxidação de gordura.

Por exemplo, nos ovários, vai reduzir a testosterona e aumentar a


SHBG, proteína que se liga a ela, portanto, a testosterona livre e a
biodisponível, vão reduzir.
RESUMO
Em um contexto geral, melhora a sensibilidade à insulina, aumenta
a tolerância à glicose, melhora a ovulação, regula o ciclo menstrual e,
também, estimula a perda de peso.

E quais são seus efeitos colaterais?


As perturbações gastrointestinais, como náusea, diarreia, vômito,
desconforto abdominal e perda de apetite. A acidose lática, pela inibição
da conversão de piruvato em glicose e pela inibição da cadeia
transportadora de elétrons, ocorre o aumento da oxidação da glicose,
podendo causar a acidose lática, vale ressaltar que não é um quadro tão
comum de ocorrer, sendo mais frequente em pacientes com distúrbio
renal.
A hepatotoxicidade, conhecida como hepatotoxicidade
idiossincrática, acontece raramente, porém, é um caso muito grave. A
pancreatite aguda, em doses muito altas ou pacientes portadores de
insuficiência renal. A deficiência de vitamina B12, sendo que o uso
contínuo do fármaco está associado a casos de anemia perniciosa pela
deficiência de B12.
A alteração da coagulação pela inibição dos fatores que afetam o
sistema circulatório e o aumento da fibrinólise. Há um efeito colateral
simultâneo e positivo com a associação da metformina e do uso de
contraceptivos orais, principalmente se for uma mulher fumante,
aumentando o risco para o sistema cardiorespiratório.
A hipoglicemia, principalmente em altas doses, pela redução da
gliconeogênese do fígado. A versão XR, liberada de forma mais gradual,
reduz este risco.

Anticoncepcional
Muito utilizado na SOP, sendo um dos tratamentos iniciais. No
entanto, será que deve ser o 1° medicamento de escolha?
No ciclo menstrual, o 1° dia da menstruação é caracterizado pela
fase folicular. Por volta do 14°, temos o pico ovulatório, começando a fase
lútea. A fase folicular é marcada por dois hormônios, FSH, o qual aumenta
a expressão de aromatase para produzir estrogênio. Ao final da fase
RESUMO
folicular, há elevação da concentração de estrogênio, aumentando a
expressão de receptores de LH na célula da teca, a célula que recebe o LH.
Após o pico do LH, por volta do 14° dia na mulher com o ciclo de 28 dias,
há formação do folículo e início do corpo lúteo.
A fase lútea é caracterizada pelo aumento da progesterona e do
estradiol, sendo os níveis de progesterona bem maiores. Quando não
ocorre a fecundação, há redução da progesterona e estradiol, ocorre a
descamação do endométrio e início da menstruação, iniciando um novo
ciclo.

A contracepção oral é dividida em fármacos estrogênicos,


progestinas ou com apenas um progestágeno. Sua principal ação é inibir a
ovulação para que não haja fecundação. Ao comparar o ciclo menstrual de
mulheres que usam pílulas e que não usam:
RESUMO

A mulher que usa o anticoncepcional e não ovula, possui


praticamente a mesma quantidade de estrogênio e progesterona ao longo
de todo o ciclo, podendo gerar diversas alterações metabólicas negativas.

Mecanismo de ação no uso de anticoncepcional:

O GnRH estimula a liberação de FSH e LH pela adeno-hipófise. Com


isto, há aumento do LH nos ovários estimulando a produção de
RESUMO
andrógenos e de FSH estimulando a produção, principalmente, de
estrógenos. Com a utilização da pílula contraceptiva:

Ocorre bloqueio na adeno-hipófise e um bloqueio hipotalâmico em


relação à produção de GnRH, desta forma, há menos gonadotrofinas, com
a redução na síntese dos hormônios ovarianos. Em relação aos efeitos
progestagênicos, afeta o muco cervical, alteração do endométrio e tubos
uterinos, por isso, seus efeitos contraceptivos.
Em relação ao seu mecanismo de ação, ao ligar-se a um receptor
progestagênico terá seu efeito desejado. Porém, ele também pode se ligar
a outros receptores, como o receptor de androgênico e o receptor de
estrogênio, por isso pode causar diversas alterações metabólicas. Se o
anticoncepcional ligar-se a receptor de androgênico, tendo uma alteração
em relação a queda de cabelo e aumento da produção de sebo pelas
glândulas sebáceas.
Caso se ligue à um receptor de estrogênio, os principais efeitos
serão em relação às células endometriais. Ligando-se à um receptor
glicocorticóide, ativa o sistema de coagulação e se for um receptor de
mineralocorticóide, aumenta a retenção de sódio e de água, aumentando
a retenção hídrica, aumentando o peso corporal.
RESUMO
Classificação dos anticoncepcionais, de acordo com sua
origem:
RESUMO

Normalmente, a mulher com SOP utiliza um progestágeno e um


com etinilestradiol. O etinilestradiol reduz a esteroidogênese da adrenal,
favorecendo o aumento do SHBG e a redução da testosterona livre. Os
progestágenos bloqueiam os receptores androgênicos, reduzindo a ligação
do hormônio do receptor e reduz a atividade da 5-alfa-redutase, uma
enzima que converte a testosterona em diidrotestosterona.
Além disso, possui efeitos colaterais, os quais à longo prazo podem
aumentar o risco cardiovascular. Dentre eles, destaca-se o
tromboembolismo venoso, relacionado com os efeitos mediados pela
coagulação, incluindo o aumento dos fatores V, VIII, X, fibrinogênio
causando regulação negativa dos mecanismos de anticoagulação,
aumento o risco. Ainda, risco elevado de AVE (Acidente Vascular
Encefálico) e infarto, principalmente, em mulheres fumantes.
RESUMO
O aumento das dores de cabeça dependendo da fase, alterações do
humor, visto que, principalmente, a progestina pode estar associada ao
aumento da irritabilidade, fadiga e depressão. Visto que o estradiol está
relacionado ao aumento da serotonina e da neurogênese.
Algumas alterações no metabolismo lipídico, tais como o aumento
do LDL e as reduções do HDL, sendo que os fármacos de 3° geração
possuem estes efeitos reduzidos. Ainda, o aumento do peso,
normalmente associado a retenção hídrica. Os quadros de gengivite, visto
que, aparentemente, alguns esteróides alteram a flora bacteriana na boca,
os progestógenos podem aumentar a permeabilidade da mucosa oral,
irritando-a e causando a gengivite.
Tríade alimentação, exercícios e fármacos.

7. TRATAMENTO NUTRICIONAL:

O corpo é regulado pelo ciclo circadiano, o qual orquestra de forma


coordenada e cooperativa as relações metabólicas, de acordo com o
horário do dia. Ao analisar os efeitos do horário da ingestão alimentar na
resistência à insulina e no hiperandrogenismo em mulheres com SOP,
dividindo os participantes em grupo "café da manhã" (B) e "jantar" (D).
RESUMO

No estudo foram avaliados medidas antropométricas e exames


laboratoriais. Sendo que após 90 dias os resultados foram ótimos para o
grupo café da manhã, com resultado significativo (p<0,0001).
RESUMO

Ainda, o grupo que consumiu mais calorias pelo café-da-manhã,


obteve melhora em relação ao período de ovulação, principalmente entre
as semanas 9 e 12, mostrando que a distribuição de calorias priorizando o
maior consumo durante o dia, preferencialmente, no período matutino, a
alimentação irá melhorar a ovulação das mulheres com SOP.
RESUMO
Ao final do estudo, foi demonstrado maiores casos de ovulação no
grupo café-da-manhã do que no grupo jantar.

Estes resultados ocorrem pro diversos fatores, dentre eles, a


tolerância à glicose no período noturno é menor do que durante o dia.
Ainda, na SOP, as mulheres possuem um comprometimento da
sensibilidade à insulina, sendo ainda mais importante a crononutrição.
Em relação a distribuição de macronutrientes, as dietas tendem a
ser mais "low-carb", pela redução na sensibilidade à insulina. Vale
ressaltar que o plano alimentar deve ser "low-carb" em relação ao padrão
alimentar, sem restrições. Por exemplo, se consumia 300 g de
carboidratos ao dia, não teria como prescrever o plano com 30 g. A
redução deve ser gradual, retirando os açúcares simples, aumentando os
complementos, trabalhando o índice glicêmico dos alimentos e a carga
glicêmica das refeições.
A dieta cetogênica é muito utilizada em pacientes com SOP.
RESUMO
Ainda, foram utilizados alguns extratos de ervas para reduzir os
efeitos adversos da dieta cetogênica, como a constipação, dores de
cabeça, estresse, insônia e mau hálito. Foram avaliados IMC, massa gorda
e massa magra, tecido adiposo visceral, exames bioquímicos e o score de
hirsutismo (Ferriman Gallwey).

De acordo com os resultados, houve redução média de 9,43 kg no


peso e uma redução média no IMC após 12 semanas.

Ainda, houve redução significativa de 8,29 kg de massa gordura e


redução sutil da massa magra, sendo esperado pela grande queda da
insulina, que reduz o efeito da insulina em aumentar a retenção de sódio e
água, fazendo com que a mulher aumente a eliminação de água pela urina
e reduz a retenção hídrica. Mas, também, pode confundir no aspecto
relacionado à massa livre de gordura.
RESUMO

A redução significativa do tecido adiposo visceral (600 g) e da


circunferência de cintura após 12 semanas. Além da melhora de diversos
parâmetros bioquímicos.

Além disso, houve redução da testosterona total e livre e do DHEA-S, LH,


uma redução dos andrógenos e aumento do FSH. Houve uma redução no
RESUMO
padrão LH/FSH, aumento do estradiol e do SHBG, melhorando todos os
parâmetros hormonais.
RESUMO
Em relação a quantidade calórica, leve restrição de carboidratos e
ótima distribuição das calorias, principalmente, no período da manhã.
Além disso, a literatura demonstra o uso de magnésio, vitamina E, ômega-
3, coenzima Q10, vitamina D, berberina, selênio e mio-inositol.

Mio-inositol:
O mio-inositol, um isômero do inositol, atua estimulando a síntese
de hormônios tireoidianos nos folículos e melhora a sensibilidade à
insulina.
RESUMO
O mio-inositol pode ser obtido pela alimento ou ser sintetizado no
organismo pela glicose-6-fosfato.

Como ocorre esse processo de regulação no organismo?


A insulina se liga ao seu receptor ISR1, ativa uma proteína G
acoplada a um fosfolipídeo (GP). O fosfolipídeo já contendo inositol (GPI)
estimula o aumento do INS 2, um segundo mensageiro.
RESUMO
Além de ir para fora da célula, também é direcionado para dentro
da célula. Dentro da célula possui diversos efeitos, tais como, estimular a
molécula de inositol com 2 fosfatos, a PP2Ca, a qual estimula a atividade
da glicogênio sintase (GS), a enzima que estimula a síntese de glicogênio
hepático e muscular, estimulando o armazenamento de glicose e
glicogênio.
Por outro lado, a PP2Ca estimula a via do fosfatidilinositol 3
quinase, P110-P13K, ocorre um aumento da PDK. Com o aumento da PDK,
ocorre a redução da glicogênio sintase quinase, a qual impede o aumento
da glicogênio sintase e, também, o aumento da AKT, que estimula a
translocação de GLUT-4. Desta forma, há facilidade da entrada de glicose
para dentro da célula.
Portanto, ocorre o aumento da síntese de glicogênio na célula e,
também, o aumento da translocação de GLUT-4 dentro da célula.
Além disso, a molécula INS2 estimula a molécula PDHP (fosfatase
mitocondrial), que estimula a piruvato desidrogenase (PDH), aumentando
a utilização de glicose. Ou sejam, maior entrada da glicose, a qual será
transformada em glicogênio e também será mais utilizada.
Em relação aos estudos, o "Comparison of two insulin sensitizers,
metformin and myo-inositol, in women with polycistic ovary syndrome
(PCOS), com 46 participantes entre 18 a 28 anos com resistência à insulina
ou hiperinsulinemia e duração de 6 meses, foi suplementando em um
grupo 4g/dia de mio-inositol com 400 mcg/dia de ácido fólico e em outro
grupo o uso de 1.500 mg de metformina.
Após 6 meses ambos grupos reduziram IMC, a área sob a curva de
insulina e HOMA-IR, melhorando a sensibilidade à insulina. A área sob a
curva de insulina reduziu mais no mio-inositol do que na insulina. O índice
de Matsuda (mede a sensibilidade à ação da insulina), melhorou em
ambos grupos. A metformina levou as mulheres de um ciclo médio de 119
dias para 54 dias, já o inositol de 93 para 57 dias.
Quanto aos androgênios não houve alteração em nenhum dos
grupos, houve melhora do hirsutismo (12% no grupo da metformina e 20%
no grupo do inositol), melhora da acne, sendo 43% com metformina e 38%
RESUMO
com inositol. Portanto, o mio-inositol e a metformina foram igualmente
efetivos na melhora do IMC, sensibilidade à insulina e ciclo menstrual.
Quanto aos pontos negativos, a metformina apresenta efeitos
gastrointestinal indesejáveis e é "off-label" para a SOP. O inositol possui
custo elevado.

Em outro estudo, ao comparar o mio-inositol com ácido fólico e a


metformina, houve melhora da sensibilidade à insulina em jejum, do
HOMA-IR, dos níveis de testosterona e androstenediona, dos níveis de
SHBG, do IMC em ambos. Além disso, a metformina possui mas efeitos
colaterais, sendo que mulheres que usam metformina apresentaram 5 x
mais efeitos colaterais do que as mulheres que utilizaram o inositol.
Demonstrando que não houve diferença entre os efeitos de ambos,
durante uma curta duração do tratamento, em mulheres com SOP.

A berberina:
RESUMO
Trata-se de uma isoquinolina alcalóide proveniente de uma erva
chinesa, a coptis chinensis. A berberina possui amplo mecanismo de ação,
portanto, possui diversos efeitos metabólicos positivos.

Ao comparar os efeitos da berberina e da metformina:


RESUMO

Ao comparar a metformina e berberina, não houve diferença


significativa entre os dois tratamentos, apesar da berberina demonstrar
melhores resultados em relação ao IMC, LH, testosterona, HOMA-IR,
colesterol total e LDL.
Comparando metformina + berberina com metformina, a
associação de ambos resultou em redução do LH, a razão LH/FSH,
testosterona total. Apesar de não significativo, o grupo MET +BBR
apresentou melhores resultados em relação ao IMC, FSH e HOMA-IR.
Ao comparar o acetato de ciproterona (CTA) com berberina + CTA, a
associação de ambos demonstrou redução da circunferência da cintura,
LH, colesterol total, triglicerídeos, HOMA-IR, LDL, glicose e insulina em
jejum, além do aumento do HDL. A pesar de não significativo, o grupo CPA
+ BBR apresentou melhores resultados para IMC e testosterona.

Magnésio:
O magnésio é um mineral que participa de mais de 300 reações
metabólicas no corpo. Exerce antagonismo ao cálcio, sendo que o cálcio é
essencial para a maturação, diferenciação e ativação das células do
sistema imune. O magnésio também está relacionado ao metabolismo dos
carboidratos, principalmente, em enzimas quinases que são dependentes
de magnésio, da via glicolítica. Ainda, trata-se de um potente anti-
inflamatório por bloquear o NF-KB, um fator transcricional pró-
inflamatório, que aumenta a síntese de citocinas pró-inflamatórias.
RESUMO
A vitamina E também possui ação anti-inflamatória, principalmente,
pela supressão no NK-KB, da STA6 e da STA3, que estimulam o aumento
da resposta inflamatória.

Normalmente, as citocinas pró-inflamatórias fosforilam a IKB, um


ligante do NF-KB. Após fosforilar, ela se desliga do NF-KB, o qual é
direcionado para o núcleo, estimulando a síntese de citocinas pró-
inflamatórias, ou seja, retroalimentando o sistema inflamatório.
O ácido araquidônico sento metabolizado pela LOX e pela COX em
leucotrienos e prostaglandinas. Sendo que, com o maior consumo de
ômega-6, temos maior aumento de leucotrienos, tromboxanos,
prostaglandinas e lipoxinas da série par. E com maior consumo de ômega-
3, temos mais leucotrienos e prostaglandinas de série ímpar.
Se o indivíduo consome maior proporção de ômega-6 do que
ômega-3, há um quadro pró-inflamatório com metabolização do ácido
araquidônico em LTB4 e PGE2. Além disso, há aumento do estímulo da
JNK, uma proteína pró-inflamatória envolvida nos processos de apoptose.
A vitamina E e seus metabólitos, os tocotrienóis, reduzem a
resposta inflamatória por reduzir NF-KB, a STA 3 e a STAT 6. Além disso,
outros metabólitos da vitamina E reduzem PTB4 e PGE2. E, principalmente
o tocotrienol 13'- COOHs reduz a expressão da LOX e da COX. Além disso,
RESUMO
outros tocotrienóis reduzem a expressão da JNK, uma proteína pró-
inflamatória. Portanto, a vitamina E possui efeitos anti-inflamatórias.
Ao suplementar magnésio e vitamina E:
RESUMO

Cromo:
RESUMO

Por qual mecanismo o cromo promove estes benefícios?

O cromo aumenta um oligopeptídeo que contem cromo em sua


formação, ele é transportado pela transferrina. O oligopeptídeo
apocromodulina está inativo e precisa de 4 moléculas de cromo para ser
ativada. Esta apocromodulina melhora a sensibilidade do receptor por
estimular a fosforilação em serina e por inibir a fosfotirosina fosfatase,
melhorando a ligação da insulina em seu receptor IRS1.
RESUMO

Vitamina D:
RESUMO
RESUMO

A ação da vitamina D:
O FSH se liga ao seu receptor, estimula a produção de 3-BHSD (3β-
hidroxisteróide desidrogenase) que estimula a produção de progesterona
na célula da granulosa. Também aumenta a aromatase que estimula,
principalmente, a conversão de androstenediona em estrona e de
testosterona em estradiol. Além disso, o AMH se liga ao seu receptor que
estimula os fatores SMAD 1/5/8 e SMAD 1/5/8-P, que aumentam a
RESUMO
expressão de genes para receptor de AMH e genes que estimulam o
aumento de receptor de FSH.
A vitamina D, por outro lado, reduz a ativação dos fatores
transcricionais, a síntese de genes relacionados ao AMH, inibe o aumento
da expressão de receptor de FSH. Também, aumento o estímulo da 3-
BHSD, que aumenta a produção de progesterona.

Por outro lado, a deficiência de vitamina D reduz o SHBG,


aumentando a ação androgênica, favorece a obesidade, inflamação,
resistência à insulina e síndrome metabólica.
RESUMO

Ainda T3, T4 (frações livres), HOMA-IR.

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