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Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício


ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
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PREENSÃO MANUAL ENTRE MEMBRO DOMINANTE E NÃO DOMINANTE EM ATLETAS


DE ALTO RENDIMENTO DE JUDÔ
1,3
Gabriel Andrade Paz
1,3
Marianna de Freitas Maia
1
Felipe Luis dos Santos Santiago
1,2
Vicente Pinheiro Lima

RESUMO ABSTRACT

A força isométrica é utilizada com frequência Hand grip between dominant and non
por atletas de Judô, todavia, evidências dominant limb in high-performance judo
prévias indicam que pode haver diferença athletes
entre os membros dominantes e não
dominantes. O objetivo do estudo foi verificar Isometric force is often used by Judo athletes,
se existe diferença entre força de preensão however, previous evidences indicates that
isométrica máxima (Fmáx) absoluta e relativa may be differences among dominant and non
entre o membro dominante e não dominante dominant limbs. The purpose of this study was
em atletas de alto rendimento de Judô. A to determine whether there is difference
amostra foi composta por 21 atletas between maximal isometric absolute and
competidores em nível nacional de ambos os relative force (Fmax) between the dominant
sexos. Para verificar a Fmáx utilizou-se um and non dominant limb of high-performance
dinamômetro manual através de três judo athletes. The sample was composed of 21
repetições de 10 segundos. Quanto a Fmáx athletes competing at the national level of both
absoluta no membro dominante (FmaxD) genders. To evaluate the Fmax was used a
verificou-se média de 51,69 ± 9,93 hand dynamometer through three repetitions of
kilogramas/força (kgf), no membro não 10 seconds. The absolute Fmax of dominant
dominante (FmaxND) a média foi de limb (FmaxD) showed an average of 51.69 ±
50,46±9,36 kgf para os homens. Nas 9.93 kilograms/force (kgf), the non-dominant
mulheres foi verificada média de 35,12 ± 6,93 limb (FmaxND) the average showed 50.46 ±
kgf para FmaxD e no membro não dominante 9.36 kgf for men. In women group, was
36,50±6,30 kg/f de FmaxND, todavia não se observed an average of 35.12 ± 6.93 kgf for
observou diferença significativa entre FmaxD e FmaxD and non-dominant limb 36.50 ± 6.30
FmaxND nos dois grupos. Na Fmax relativa kgf for FmaxND, however no significant
para os homens verificou-se média de difference were observed between FmaxD and
0,64±0,12 kgf*Kg-1 no membro dominante FmaxND in both groups. In the relative Fmax,
(FmaxRD) e 0,63±0,13 kgf*Kg-1 para Fmax the men showed an average of 0.64 ± 0.12
relativa no membro não dominante kgf*kg-1 in the dominant limb (FmaxRD) and
(FmaxRND). Para as mulheres observou-se 0.63 ± 0.13 kgf*kg-1 on the non-dominant limb
média de 0,55±0,15 kgf*Kg-1 de FmaxRD e (FmaxRND). The women group showed an
0,56±0,10 kgf*Kg-1 para FmaxRND, o teste t average of 0.55 ± 0.15 kgf*kg-1 of FmaxRD
pareado não indicou diferença significativa and 0.56 ± 0.10 kgf*kg-1 for FmaxRND, the
entre FmaxRD e FmaxRND nos dois grupos. paired t test indicated no significant difference
Conclui-se que no presente estudo, o between FmaxRD and FmaxRND in both
programa de treinamento dos Judocas parece groups. In conclusion, the Judo athletes
fortalecer a Fmáx de maneira similar entre os training program may strengthen the hand grip
membros dominantes e não dominantes. Tal for dominant and non dominant limb in a
achado pode estar associado às similar way. The data observed in the current
características do programa treinamento dos study may be associated to the athletes
atletas. training program characteristics.

Palavras-chave: Artes marciais, Judô, Key words: Martial Arts, Judo, Hand grip,
Preensão manual, Treinamento desportivo, Training, Athletic performance.
Desempenho atlético.

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo, v.7, n.39, p.208-214. Maio/Jun. 2013. ISSN 1981-9900.
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INTRODUÇÃO Dessa forma, a relação envolvendo


preensão manual e dominância de um dos
O Judô que conhecemos hoje não é lados do corpo é um dos aspectos a serem
uma arte marcial recente, foi criado por Jigoro observados no treinamento de atletas de Judô
Kano em 1882, possuindo como característica que pode ser medido.
um grande número de técnicas e bases Neste sentido, a aferição da força
filosóficas, que são de grande valor na máxima voluntária de preensão manual, ou
formação do praticante. Atualmente, o Judô é simplesmente dinamometria manual, consiste
uma das modalidades esportivas com grande em um teste simples e objetivo que tem como
popularidade entre adolescentes e adultos princípio estimar a função do músculo
jovens (Barsottini, Guimarães e Morais, 2006). esquelético (Hébert e colaboradores, 2010).
A técnica do Judô utiliza basicamente A dinamometria manual vem sendo
a força e o peso do oponente contra ele para reconhecida como uma técnica útil de
conquistar projeções de pontuação, e uma avaliação funcional e caracteriza uma medida
possível imobilização. de força isométrica, que envolve o emprego de
Durante a luta, o atleta necessita força sobre um objeto imóvel, ou seja, o
manter o adversário sobre controle através da músculo se contrai, permanecendo sob tensão
técnica conhecida como “pegada”, que constante por um curto intervalo de tempo,
envolve o movimento de preensão manual porém, há pouca alteração em seu
utilizado para segurar o kimono do adversário comprimento (Schlussel, Anjos e Kac, 2008).
(Franchini, 2001). Como visto anteriormente, os níveis de
Para a realização da pegada se faz força no movimento de preensão manual
necessária ação muscular predominantemente podem variar de acordo com o membro
isométrica, que consiste no tipo de ação dominante e não-dominante.
muscular onde o músculo mantém seu Adicionalmente, foram encontradas
comprimento e o torque de força interna é poucas publicações abordando a preensão
igual ao torque da força externa (Hamill e manual em populações de atletas,
Knutzen, 2009). considerando os resultados controversos
Para o judoca, então, realizar a observados em estudos prévios (Franchini,
pegada é preciso desenvolver a força 2001; Visnapuu e Jurimae, 2007).
muscular isométrica dos músculos envolvidos A pesquisa se torna relevante ao
neste gesto. apresentar aos sujeitos da amostra os seus
A geração de força depende entre resultados, que poderão ser utilizados em
outras coisas da área de secção transversa do programas de treinamento de força ou
músculo, e como a mesma depende do reabilitação.
comprimento ao qual o músculo é submetido, As evidências, possivelmente
é fácil imaginar que possa haver diferenças na auxiliarão os profissionais como
produção de força entre os lados do corpo, fisioterapeutas e profissionais de Educação
dependendo da mão de preferência Física para desempenharem as suas tarefas
(dominância) do indivíduo para realizar tarefas de trabalho com melhores condições de
cotidianas, como comer, escrever e carregar conhecimento e intervenção.
pesos (Boadella e colaboradores, 2005). Logo, o estudo possui como objetivo
Borges Junior e colaboradores (2009) verificar se existe diferença significativa entre
em estudo que comparou a força de preensão os níveis de força isométrica máxima (Fmáx)
isométrica máxima em diferentes modalidades absoluta e relativa do membro dominante e
esportivas observaram que no Judô, assim não dominante através de dinamometria
como em outras lutas, o membro dominante manual em atletas de alto rendimento de Judô.
apresenta melhor desempenho muscular, que
pode ser justificado pela maior intensidade e MATERIAIS E MÉTODOS
volume de treinamento aplicado ao membro.
Para Fry e colaboradores (2006), a A amostra foi composto por 21 atletas
especificidade do gesto motor associado à de Judô, sendo 13 atletas do sexo masculino e
modalidade esportiva é um fator que pode 8 atletas do sexo feminino que praticam a
influenciar as diferenças nos níveis de força de modalidade há no mínimo 8 anos e treinam de
preensão manual no membro dominante.

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6 a 7 vezes por semana, no mínimo 4 horas uma bola (Visnapuu e Jurimae, 2007). Para o
por dia e são competidores em nível nacional. posicionamento dos sujeitos, foram adotadas
Pela característica e n amostral é as referências sugeridas pela Sociedade
assumido que o estudo possui o caráter de Americana de Terapia da Mão (ASHT): os
validade interna. sujeitos permaneceram sentados com a
Os sujeitos da amostra foram coluna ereta, mantendo o ângulo de flexão do
selecionados de forma intencional de acordo joelho em 90º. O ombro foi posicionado em
com o perfil que se desejou caracterizar. O n adução e rotação neutra, com o cotovelo
amostral foi determinado de forma não flexionado a 90 graus, com a articulação
probabilística (Bisquerra, Sarriera e Martínez, radioulnar em posição neutra e punho em
2004). posição anatômica, podendo movimentá-lo até
Foi realizada uma pesquisa descritiva 30º de extensão. O membro superior foi
de acordo com a descrição de Thomas, mantido suspenso no ar com a mão
Nelson e Silverman (2007). posicionada no dinamômetro, este último
Como critérios de inclusão foram sustentado pelo avaliador.
adotados: atletas praticantes de judô há pelo Depois de posicionados os sujeitos
menos quatro anos, sessões mínimas de foram instruídos a realizar a preensão manual
treinamento de três vezes por semana e com com máximo de forca possível durante 10
graduação a partir da faixa roxa. segundos, com flexão total do 2° ao 5° dedos
Como critérios de exclusão nenhum sobre a região palmar, inibindo a ação do
voluntário poderia apresentar dor e distúrbios polegar. O procedimento foi repetido três
musculoesqueléticos nas articulações das vezes com intervalo de dois minutos entre as
mãos, cotovelos, ombros e estar realizando tentativas (Visnapuu e Jurimae, 2007).
qualquer tipo de técnica de redução de massa Durante a coleta o individuo foi incentivado
corporal no período da avaliação que viessem verbalmente.
a interferir na performance (Fabrini e O tratamento estatístico foi realizado
colaboradores, 2010). através do programa SPSS 20.0 (Chicago, IL,
O estudo foi realizado na Universidade USA) e a análise descritiva incluiu média e
Castelo Branco (UCB), em data e horário desvio padrão. Na estatística inferencial para
estabelecido previamente com os determinar possíveis diferenças entre os
participantes, sabendo que para a realização valores dos lados dominantes e não
do estudo foi respeitada a lei 196/196 do dominantes realizou-se o teste de normalidade
Conselho Nacional de Saúde (Brasil, 1996), de Shapiro-Wilk e o Teste t pareado para os
que dispõe sobre as normas de pesquisa com dados paramétricos. Destaca-se que foi
seres humanos no Brasil. adotado o valor de p<0,05.
Por esse motivo, o mesmo foi
encaminhado à comissão de ética do curso de RESULTADOS
Educação Física da UCB para a devida
liberação sob o protocolo de nº 2011/006 e Na Tabela 1 são apresentados dados
todos os participantes assinaram o termo de de idade, estatura, massa corporal total e
consentimento livre e esclarecido. índice de massa corporal (IMC) que
O instrumento utilizado no estudo foi caracterizam a amostra através dos valores
um dinamômetro hidráulico de mão média e desvio-padrão.
(Chattanooga, Coréia) configurado na segunda Os resultados obtidos através da
posição. O aparelho estava dentro das dinamometria manual são apresentados na
condições de aferição indicadas pelo Tabela 2 incluindo os valores médios de força
fabricante. absoluta máxima de preensão manual do
A dominância de membros foi membro dominante (FmaxD) e força absoluta
determinada através do conhecimento da mão máxima de preensão manual do membro não
que o atleta utiliza para escrever ou lançar dominante (FmaxND).

Tabela 1 - Caracterização da Amostra de atletas de Judô de ambos os sexos.


2
N Idade Estatura (m) Massa (kg) IMC (kg/m ) Anos de Prática
Mulheres 8 19,88 ± 1,80 1,62 ± 0,57 65,91 ± 15,29 25,11 12,50 ± 3,46
Homens 13 29,46 ± 11,3 1,74 ± 0,07 82,4 ± 24,55 27,22 20,76 ± 11,13

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Tabela 2 - Fmax absoluta de preensão manual no membro dominante e não dominante.


N FmaxD (kgf) FmaxND(kgf)
Mulheres 8 35,12 ± 6,93 36,50 ± 6,30
Homens 13 51,62 ± 9,93 50,46 ± 9,36

Tabela 3 - Fmax relativa de preensão manual no membro dominante e não dominante.


-1 -1
N FmaxRD (kgf*Kg ) FmaxRND (kgf*Kg )
Mulheres 8 0,55 ± 0,15 0,56 ± 0,10
Homens 13 0,64 ± 0,12 0,63 ± 0,13

Nos homens em relação à dominância leitura rápida e direta, além de serem portáteis
verificou-se que 10 eram destros e 3 sinistros. (Caporrino e colaboradores, 1998; Moreira e
Quanto aos níveis de FmaxD, observou-se colaboradores, 2001). Segundo Spijkerman e
uma média de 51,69 ± 9,93 kilogramas-força colaboradores (1991), a padronização dos
(kgf), já na FmaxND a média foi de 50,46 ± posicionamentos e técnicas para avaliação
9,36 kgf, todavia o teste t pareado não indicou deve levar em conta o estímulo visual, as
diferença significativa entre FmaxD e instruções, as posturas e as posições, as
FmaxND. quais podem levar diferenças nas medidas de
No grupo das mulheres todas eram força. Esta padronização foi rigorosamente
destras e quanto a força isométrica máxima de seguida durante as medições.
preensão manual verificou-se valores médios Como visto nos resultados, não foi
de 35,12 ± 6,93 kgf para FmaxD, e média de observada diferença significativa entre os
36,50 ± 6,30 kgf para FmaxND. O teste t valores de FmaxD e FmaxND no grupo dos
pareado também não indicou diferença homens e das mulheres no presente estudo.
significativa entre as variáveis FmaxD e Em estudo de Borges Junior e
FmaxND. colaboradores (2009) com atletas
Na tabela 3 são apresentados os competidores de Judô foram verificados níveis
valores médios e desvio-padrão da Fmax semelhantes de FmaxD (50,44 ± 4,98) entre
relativa do membro dominante (FmaxRD) e homens e mulheres, por outro lado, a FmaxND
Fmax relativa do membro não dominante (45,1± 9,70) apresentou diferença significativa.
(FmaxND) para os atletas do sexo masculino e De acordo com Franchini (2001) e
feminino. Oliveira e colaboradores (2006), a prática de
Na força relativa para os homens modalidades como Judô e Jiu-Jitsu promovem
verificou-se média de 0,64 ± 0,12 kgf*Kg-1 um aumento da resistência muscular no
para FmaxRD e 0,63 ± 0,13 kgf*Kg-1 para movimento de preensão manual em ambas as
FmaxRND, o teste t pareado não indicou mãos, e que o aumento da frequência do uso
diferença significativa entre FmaxRD e da mão esquerda possibilita um aumento
FmaxRND no grupo dos homens. Para as significativo dos níveis de força.
mulheres observou-se média de 0,55 ± 0,15 Tal hipótese pode vir a justificar os
kgf*Kg-1 de FmaxRD e 0,56 ± 0,10 kgf*Kg-1 níveis semelhantes de FmaxD e FmaxND
para FmaxRND, também não foi verificada verificados nos grupos atletas do sexo
diferença significativa entre FmaxRD e masculino e feminino no presente estudo.
FmaxRND no grupo das mulheres. Em estudo Gomes e colaboradores
(2007), que verificou força de preensão
DISCUSSÃO manual em pilotos da força aérea brasileira,
também não verificou diferença significativa
Como visto não se verificou diferença entre o membro dominante e não dominante,
significativa nos níveis de Fmáx entre o onde o treino diário específico pode produzir
membro dominante e não dominante para adaptações musculares evidentes,
atletas do sexo masculino e feminino. Tais melhorando a condição e as funções
achados contrariam a hipótese inicial baseada musculares, estas adaptações traduzem-se no
na diferença entre Fmáx de prensão manual ganho de força muscular principalmente da
entre membro dominante e não dominante. Os musculatura intrínseca da mão.
dinamômetros manuais, como referem outros Em estudo de Visnapuu e Jurimae
autores, são de fácil utilização por serem de (2007), que verificou a influência de

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parâmetros antropométricos gerais e efeitos crônicos que envolvem a preensão


específicos na força de preensão manual em manual em atletas que utilizam as mãos como
atletas de handebol e basquetebol, observou ferramentas, como o Judô, é fundamental para
que em praticas esportivas que utilizam as oportunizar melhores condições de
mãos como ferramentas, o comprimento dos treinamento e/ou recuperação de lesões (Bara
dedos e perímetro da mão apresentam Filho e Garcia, 2008).
correlações significativas com a força máxima Um dos principais fatores que
de preensão manual, mas essa relação é influenciam na negativamente na qualidade de
dependente das características vida de atletas de alto rendimento de Judô são
antropométricas, ou seja, indivíduos com as lesões e quedas na performance, portanto
estatura mais elevada e maior quantidade de compreender os aspectos que influenciam a
massa corporal tendem a produzir níveis Fmáx no membro dominante e não dominante
maiores de força isométrica máxima de pode contribuir para desenvolver programas
preensão manual. de treinamentos de qualidade (Parreiras, Silva
De acordo Borges Junior e e Samulski, 2007).
colaboradores (2009), em geral, a mão Quanto a Fmáx relativa, verificou-se
dominante tem melhor desempenho, não que o desempenho dos atletas de Judô tanto
apenas no teste de força máxima, mas do sexo masculino quanto no sexo feminino
também tem menor variabilidade dos dados. está associado com a Fmáx,
Contudo apesar do consenso entre os independentemente de ser expressa de forma
pesquisadores do tema que a mão dominante absoluta ou relativa à massa corporal total.
apresenta melhor desempenho que a mão Observou-se também que a
não-dominante, este comportamento depende capacidade de gerar elevada tensão
das características do esporte. continuamente com os músculos flexores dos
Segundo Moreira e colaboradores dedos e o menor percentual de diferença entre
(2004), a maioria dos sujeitos destros os lados dominante e não dominante também
apresenta em média 10% de força a mais na são importantes para o desempenho nesse
mão dominante, enquanto que para sinistros esporte.
esta é a mesma para as duas mãos, sendo a Uma das limitações do presente
mão não dominante mais forte em 50% dos estudo foi o número de sujeitos participantes
casos. do estudo, que limita a reprodutibilidade dos
A partir dos resultados obtidos durante dados.
o teste de Fmáx no presente estudo, foi Adicionalmente, a dinamometria
verificado que as atletas de Judô possuem manual não oferece uma medida específica
níveis normais de preensão manual, e associada ao movimento de pegada do Judô,
constatou-se que a mão não dominante possui por outro lado, é um instrumento de fácil
força um pouco maior que a dominante em utilização que apresenta reprodutibilidade e
alguns casos. confiabilidade na medida (Moreira e
Contudo esse fato pode ser explicado colaboradores, 2001).
pelo fato dos atletas de Judô de alto nível Há de se considerar também o período
utilizar as duas mãos com frequência de treinamento em que os atletas se
semelhante durante treinamentos e encontravam durante o período de avaliação
competições. de força de preensão manual, pois as fases
Ainda sim a escassez de estudos que antecedem as competições são
referentes à preensão manual em atletas de frequentemente caracterizadas por redução
Judô é um fator limitante para explicar as aguda da massa corporal total que pode vir a
diversas adaptações morfológicas e efeitos interferir no rendimento do atleta, haja vista, a
crônicos do treinamento nos níveis de necessidade alcançar o no peso determinado
preensão manual em atletas (Franchini, 2001; pela sua categoria.
Borges Junior e colaboradores, 2009). A maioria dos estudos não
Diversos motivos desencadeiam o caracterizou tal cuidado na avaliação (Fabrini
abandono de carreira em esportes individuais, e colaboradores, 2010).
entre eles, o esgotamento, excessivo tempo
de dedicação e lesões. Desta forma,
compreender os mecanismos intrínsecos e

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CONCLUSÃO 4-Boadella, J. M.; Kuijer, P. P.; Sluiter, J. K.;


Frings-Dresen, M. H. Effect of self-selected
De acordo com os resultados verificou- handgrip position on maximal handgrip
se que os atletas de Judô da amostra, no dia strength. Arch Phys Med Rehabil. Vol. 86.
da coleta, não apresentaram diferença Num. 2. p.328-331. 2005.
significativa nos valores de FmaxD e FmaxND,
tal resultado pode ser justificado pelo fato da 5-Borges Junior, N. G.; Susana, C. D.;
prática do Judô promover um aumento da Jonathan, A. D.; Affonso, C. K. S.; Yoshimasa,
resistência muscular de Fmáx nas duas mãos, S. J. Estudo comparativo da força de preensão
e que parece fortalecer a pressão manual isométrica máxima em diferentes modalidades
bilateral em atletas competidores, esportivas. Rev Bras Cineantropom
considerando não haver diferença significativa Desempenho Hum. Vol. 11. Num. 3. p.292-
entre os lados. 298. 2009.
Como visto a dominância não
influenciou os valores de Fmáx, todavia 6-Brasil. Conselho Nacional de Saúde.
durante o estudo tornou-se notório a Resolução nº 196/196: Diretrizes e normas
necessidade de se observar outras regulamentadoras de pesquisas envolvendo
características físicas para a uma melhor seres humanos. 10 de outubro de 1996.
quantificação dos resultados e um número
maior de atletas. Entre elas a dominância, pois 7-Caporrino, F. A.; Falopa, F.; Santos, J. B. G.;
na presente amostra apenas um atleta era Réssio, C.; Soares, F. H. C.; Nakacgima, L. R.;
sinistro e poucos estudos foram realizados Segre, N. G. Estudo populacional da força de
com esse grupo para verificar possíveis preensão palmar com dinamômetro. Jamar.
diferenças para com os atletas destros nos Rev Bras Ortop. Vol. 33. Num. 2. 1998.
valores de FmaxD e FmaxND.
Para futuras pesquisas recomenda-se 8-Fabrini, S. P.; Brito, C. J.; Mendes, E. L.;
incluir um número maior de atletas Sabarense, C. M.; Marins, J. C. B.; Franchini,
comparando as variáveis deste estudo entre E. Práticas de redução de massa corporal em
atletas iniciantes e de alto rendimento, assim judocas nos períodos pré-competitivos.
como, deve-se considerar um processo de Revista Bras Ed Física e Esporte. Vol. 24.
familiarização para a realização do teste de Num. 2. p.165-177. 2010.
dinamometria manual e possivelmente utilizar
instrumentos que possibilitem verificar a Força 9-Franchini, E. Judô: Desempenho
isométrica máxima de preensão manual competitivo. Barueri. Manole. 2001.
através de movimentos semelhantes aos
realizados na competição. 10-Fry, A. C.; Ciroslan, D.; Fry, M. D.; Leroux,
C. D.; Schilling, B. K.; Chiu, L. Z.;
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