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Esse livro foi uma das iniciativas da Associação Centro Cultural Kàjre, da aldeia
Pedra Branca, de resgatar e registrar nossa cultura para que ela se mantenha
sempre viva, nos mostrando o caminho da “vida boa”. Essa iniciativa contou
com o financiamento da Secretária de Cultura do Estado do Tocantins.

A Associação Centro Cultural Kàjre, apoia e desenvolve diversos trabalhos de

fortalecimento cultural, como o registro de festas, histórias e cantigas, feitos
pelo grupo audiovisual indígena Mentuwajê Guardiões da Cultura, a organização
da venda dos artesanatos tradicionais, a revitalização da educação tradicional e
agora pela primeira vez, o registro escrito de uma de nossas histórias.

Hartãt é o nosso guerreiro mais antigo, a Kàjre1 foi um presente dele, e passa 1
Kàjre: machadinha
a partir daí a viver sua própria história entre nós, sendo cobiçado e causando de pedra, semi lunar
importantíssima
diversas guerras com os povos da água.
para o povo Krahô.

Na década de 40 a Kàjre foi alvo da cobiça de um pesquisador, que por meio de

troca ou roubo, levou a machadinha da aldeia. Durante anos a machadinha ficou
desaparecida, deixando um vazio entre nós que já não tínhamos como cantar
suas cantigas nem fazer sua festa.

Na década de 80, um antropólogo ouviu um velho cantando uma cantiga muito

bonita e perguntou do que se tratava. O velho contou-lhe então a história da
Kàjre, contou do sumiço da machadinha e explicou certinho como ela era.
Ouvindo a história ele lembrou de uma machadinha Krahô que tinha visto no
Museu Paulista e contou para os velhos.

“Houve uma comoção no pátio. Até o velho parou de cantar (não sei como, mesmo
cantando ele conseguira escutar a conversa) e veio saber de mais detalhes. Pela
descrição do antropólogo, tudo indicava que se tratava da tão almejada Kàjre.” 2 2
FernandoSchiavini
- De longe toda
serra é azul
Os velhos se reuniram e decidiram que precisávamos trazer nossa Kàjre de volta.
Com a ajuda de nossos amigos Carla, Sérgio e Paulo César, a machadinha foi
fotografada de dentro do museu, então tivemos a confirmação de que aquela
era mesmo a Kàjre.

7
 Nós sabíamos que lá não era lugar para deixar a Kàjre, pois quando Hartãt recebeu
mesmo estão esperando eu chegar lá com a machadinha, eu aguentei até o fim e
a machadinha, foi alertado de que ela não gosta de ficar parada, ela gosta do
peguei.3 3
Discurso feito
movimento, da cantoria e do calor do corpo humano. No museu ela ficou durante pelo cacique Pedro
anos parada, sentindo o frio e o silêncio. Por isso fomos à São Paulo e ficamos Penõ, na cerimônia
Durante uma das muitas reuniões, realizadas com a reitoria da USP, foi feita
meses acampados na USP, morando junto aos estudantes. Vários mẽhĩ passaram de entrega da
a proposta de que nós fizéssemos uma réplica da Kàjre para usarmos em machadinha-
por lá, mas não aguentavam ficar muito tempo longe da aldeia, na confusão e no
nossas festas e cantorias. Contam que Pedro Penõ respondeu ao reitor, que trecho retirado do
barulho da cidade.
encomendaria uma replica na aldeia e ficaria a esperando em São Paulo. Quando Programa de Índio
a replica chegasse ele entregaria ao museu e levaria a Kàjre de volta para aldeia.
Pedro Penõ, uma grande liderança da aldeia Pedra Branca, foi quem ficou todo
tempo junto com seu filho Osvaldo, lutando e esperando para voltar para aldeia
O cacique Aleixo Pohi, outra grande liderança fundamental em nossa luta
com a Kàjre.
respondeu assim:
“Queremos que o museu nos forneça a lama para produzirmos a machadinha,
Índio Kraho, da tribo é que viemos buscar a nossa festa e fiquei até o fim, aguentei até
porque não sabemos em que lugar encontrá-la. O cabo e o enfeite, nós
o fim. É que quando a machadinha saiu de lá , da aldeia, não foi com maior dificuldade
colocamos.”4 4
Cacique Aleixo
que fizeram, a machadinha foi pega lá mesmo, na aldeia, sem trabalho nenhum e Pohi- Folha de São
veio pra cá, aqui no museu paulista. Disseram que foi o Dr Harold Shultz, disseram Paulo- 29/05/1986
Uma funcionária do museu, revoltada com as noticias que lia na mídia, que
que guardaram essa machadinha no museu paulista. Então eu sou mais velho e veja
diziam que nós não dávamos muita importância para a machadinha, entregou
a rapaziada nova, o índio novo, eles já estão perdendo todo o ritual, todo o costume,
à Pedro Penõ uma cópia do termo de doação da machadinha ao museu feita por
tudo aquilo que quando a machadinha está dentro da aldeia, funciona, já está
Harold Shultz (conhecido até hoje na aldeia como Dr. Haroldo). Nesse termo “Dr.
desaparecendo. Eu tive minha ideia e a rapaziada que ainda não a conheceram, que
Haroldo” relatava que a machadinha tinha sido retirada da aldeia Pedra Branca,
ainda não a viram, fizeram muito apelo ai comigo e fizemos a combinação de 3 dias.
e encontrava-se muito bem cuidada pelo seu guardião, toda envolta em algodão,
Ai eu vim atrás dessa machadinha, até que cheguei aqui na capital São Paulo, e agora
guardada dentro de um cesto. Quando Penõ leu esse termo durante uma audiência
a machadinha demorou, pra mode eu pegar. E sofri e sofri, não é sofrimento, eu não
promovida pelo Conselho Universitário, ganhamos vários adeptos à nossa causa,
estou passando mal de fome, eu sofri é de saudade da família. Está acontecendo, eu
e finalmente em junho de 86 o reitor da USP aceitou nos devolver a machadinha,
não sei o que está acontecendo por lá, é muito custoso, minha família. É que eu que
porém em regime de comodato, no qual o museu não reconhece até hoje a Kàjre
cuido desse povo lá, e quando eu saio assim, eles ficam muito preocupados, e assim
como nosso bem.

“ Saí da prisão hoje. Saí da cadeia. Não era para eu ficar preso, de repente, buscando
o meu ritual nativo, a minha segurança nativa, o meu verdadeiro nativo, aquilo que é
sagrado. É meu sagrado. Deus deixou único, único Kàjre. Não existe fábrica de Kàjre,
não existe escritura nenhuma no Kàjre. Vejam bem! Kàjre não é escriturado. Porque
não existe fábrica, essa é uma obra da natureza e se eu vim pegar, é porque Deus
deixou foi pra mim. Deixou foi pra mim, é meu ritual. Ficou uma parte bonita agora
pra mim e ficou feio pra vocês senhoras e senhores, porque o que vocês me deram
foi uma lição, que integra a minha verdadeira força.”5
5
Discurso feito
Com a ajuda de muitos amigos, que nos acompanharam e nos apoiaram em nossa pelo cacique Aleixo
luta, trouxemos nossa machadinha para o lugar de onde ela nunca deveria ter Pohi na cerimônia
de entrega da
saído. Uma grandiosa festa foi feita na Aldeia Pedra Branca para receber a Kàjre machadinha-
de volta. Nosso coração finalmente voltava para aldeia, onde se encontra até trecho retirado do
hoje, tendo como guardião Martim Penõ Cuhêhkê. Programa de Índio

8 9

Foto 1 Aldeia Pedra Branca

 Esse livro conta a história do Hartãt e da chegada da machadinha em nossas
vidas, muitas outras histórias da Kàjre não estão nesse livro, mas esperamos
trabalhar para que em breve possamos registrá-las.

O DVD que acompanha o livro contém o livro digitalizado, uma das cantigas da
Kàjre, cantada por Raimundo Zezinho Pohprà e Domingos Crate e a História do
Hartãt em vídeo, contada por Domingos Crate e registrada pelo nosso grupo
audiovisual Mentuwajê Guardiões da Cultura.

As publicações literárias em mẽhĩ jarkwa (nossa língua materna) são

pouquíssimas, o que dificulta inclusive o trabalho das escolas, que sofrem com
a falta de material didático apropriado. Esperamos que a publicação bilíngue
da História do Hartãt, sirva como suporte didático em todas as escolas Krahô e
incentive o registro e a publicação das diversas outras histórias do nosso povo.

Foto 2 Cantor cantando com coral de mulheres

Foto 3 Correndo com a Tora da Batata

10 11
 Foto 4 Cantor cantando com a machadinha Foto 6 Apresentação de Hôxwa na Festa da Batata

Foto 5 Mulher carregando um cofo Foto 7 Homem preparando um moquém

12 13
 Kàjre ita jahkre keatre. Pê mam mẽ
panquêtjê mã kàjre ita hahkre keatre
hanẽ. Pea mã pê mẽ panquêtjê nõ
Hartãt ita ajco Kàjre ita xa nã apu
ipa nẽ cumã hahkrepej. Nẽ jũmã amjĩ
kãm hapac to nẽ mõn mẽ panquêtjê
wỳr cato, nẽ hikwatu, nẽ ihkra. Pea,
nẽ curea ihprêc. Pea, nẽ ajco ihkrĩ,
nẽ ajco apu awji prô ikre kat pyckrã
mã ajco ihkrĩ, nẽ apu awji prô.
Mã jãmãn mẽhwawỳ mẽ mẽhtàmxwỳ
amẽ awja hê, nẽ jãmãn amcro kwỳh
kãm mẽ pryre, nẽ amcro kwỳh kãm
mẽ pryre curan nare nẽ mẽ hũhkãm
mẽ ajpẽn to pra, nẽ mẽ ajpẽn to
mẽ hapôj. Pea mã mẽ ihcukij:
Hartãt- Hàpà! Pê hõt pê
cute mẽ ampore ton?
Mẽhĩ - Nare te amẽ ihcukwỳr, nẽ
mẽ hũhkãm mẽ ajpẽn to cator.
Pea mã xwahnã harkwa kãm
pra nẽ xwahnã mẽ cumã:
16
Eu não sabia dessa machadinha.
Os nossos antigos também não
sabiam sobre essa machadinha.
Tinha um mẽhĩ 1 antigo, chamado
Hartãt, que morava perto dessa
machadinha e conhecia sua história.
Esse mẽhĩ foi viver em uma aldeia
dos antigos, onde se casou e teve
filhos. Lá ele envelheceu em sua
casa, na aldeia, onde ficava sentado
à sombra, enfeitando as flechas.
Seus genros e netos saiam para
caçar. As vezes matavam alguma
caça, as vezes não, voltavam sem
nada. Então Hartãt perguntava:
Hartãt - Olá! Será que
arrumaram alguma coisinha?
Mẽhĩ - Não, caçamos muito,
mas chegamos sem nada!
Assim, Hartãt começava
a falar para eles:
1
Mẽhĩ: Palavra com a qual os Krahô se auto
denominam.
 Hartãt - Hỳj! hỳj...! Mẽ iwawỳ mẽ ikra
mẽ itàmxwỳ ma ca mẽ hanẽ...Pê
nãm ikàxà, ite amjĩ to ikre kà cahhêc
xà kãm, icuràhti kãm wa jũmã amã...
xãm nare... nãm hã ra quêt mẽ
gẽa to mẽ pa jũrkwa kênre ita wỳr
mẽ gẽa to ate mẽ amjĩ to apipẽ...
Quêt icuràhti kãm wa jãmãm kãm
ijatê nẽ to amjĩ mã intuwati nõr,
nẽ jãmãm amjĩ mã kãm ihcahôn, nẽ
ite ihkur, nẽ ite to iprar nẽ icuhhê
tũm jito kãm ite nõr, nẽ ite pa jõ cô
ita wỳr iprar nẽ ixwỳr, nã wa jũmã
amãn to... Nãm hã ra mẽ gẽa to
hapỹ nẽ mẽj pẽn to mẽ acator…
Pea ajco ihkrĩ, nẽ apu hanẽ, mã hipêr
mẽ hujahêr to mõ nẽ, nẽ cute mẽ
ampo curan nare.Nẽ hapỹ nẽ mẽ hũh
kãm mẽ cator mã hipêr mẽh cukij:
Hartãt - Hàpà! Pê hõtpê cute
mẽ ampore nã cator?
Mẽhĩ - Nare mẽ hũh kãm mẽ cator,
nẽ cute mẽ ampo curan nare.
18
Hartãt - Ei! Ei! Meus genros, meus
filhos, meus netos, vocês ficam aí
na mesma! Se eu estivesse no lugar
onde nasci, onde quebrei minha
casca, onde ficou meu cordão
umbilical, eu não diria nada, vocês
mesmo é que chegariam aqui nas
nossas casinhas... No lugar onde eu
deixei meu cordão umbilical, quando
dava vontade de comer carne eu
matava uma caça, mesmo que
jovem. Assava, comia, colocava a
carne em um galho, ia banhar no rio
e voltava... É isso o que posso dizer
para vocês, que chegaram agora...
Assim, desse modo, ele ficava
na aldeia e sempre que seus
parentes iam caçar, não matavam
nada. Chegavam sem nada e
novamente Hartãt perguntava:
Hartãt - Olá! Será que
encontraram alguma coisinha?
Mẽhĩ - Não! Não matamos
nada, voltamos sem nada!
 Pea mã xwahnã hipêr arkwa kãm mõr:
tHartãt - Hỳj, hỳj mẽ iwawỳ mẽ ikra
mẽ itàmxwỳjê ma ca mẽ hanẽ... nãm
ca rỳ quêt mẽ gẽa to mẽ ajpẽn to
mẽ acator ti nã wa jũmã mẽ amãm
to, pê icuràhti kãm ite amjĩ to ikre
kà cahhêc xà kãm wa jũmã amãn
to, nẽ quêt curi mã poonẽ mãrhã
ijakàn pê ihtỳj apu ajcamẽ ...
Pea mã xuahnã ihpijajõ ita te
harkwa jẽa nã impar, nẽ apu
ihkwỳhnõ mã ikwỳhnõ:
Ihpijajõ - Ahxy cu mõn amjĩ caxuw
awpre-quêttijê kãm pa, quê ahxy
ihcuràhti kãm cute amjĩ to ihkre kà
cahhêc xà wỳr pa to mõ cu curi ahkô
pĩ. Rỳ imã harkwa ita nã impar ca ca.
Pea mã xwahnã cumã.
Ihkwỳhnõ - Pec quê
hãmẽrẽ, hacu mẽrẽ.
Nẽ ma xwahnã ihkwỳhnõ mẽ
ipihpror to mõ, mã xwahnã ihtỳj
ikre kat pyckrã mã jỹ nẽ apu
awjiprô, mã xwahnã cute caxuw
ihkwỳhnõ mãn xahnã cumã.
20
Mais uma vez Hartãt falou:
Hartãt - Ei! Ei! Meus genros, meus
filhos, meus netos, vocês ficam
sempre na mesma! Logo vocês
mesmo chegaram e o que é que
eu posso dizer? No lugar onde
eu deixei meu cordão umbilical,
onde eu quebrei minha casca... O
que eu posso dizer é que neste
momento, lá existem muitas
caças andando no mesmo lugar.
Assim, teve um genro que entendeu
essa história e contou para um amigo:
Genro - Amigo, vamos escutar
nosso sogro, ver se ele poderia nos
levar para conhecer o lugar onde
ele deixou seu cordão umbilical,
onde quebrou sua casca. Eu já não
quero mais escutar suas histórias!
Assim o amigo disse para ele:
Amigo - Tá bom! Então vamos!
E foram andando juntos para a casa
do Hartãt, onde o encontraram
sentado à sombra da parede da
casa, enfeitando uma flecha. Daí
o genro pediu ao amigo para que
cumprimentasse Hartãt primeiro:
 Ihkwỳhnõ - Hàpà ca jê jỹ?
Pea mã cute kàj mã mẽ
hõmpun,nẽ mẽ cumã.
Hartãt - Ỹhỹ wa jỹ.
Pea mã curea mẽ cumã:
Ihpijajõ - Hã pàjquêt, wa ampo nã
ajpên apijajõ mẽ imõr nare, wa ite
apijajõ mẽ ajpẽn to ihêmpej nẽ ma
nẽ mẽ jêhcukij to mõ, ca ahxy jêh
curàhti, jêh te amjĩ to ihkre kà cahhêc
xà wỳr ahxy mẽ ito acahi xãm wa
curi ihpijajõ mẽ, wahxy mẽ ahkôpĩ.
Xwahnã hõ cute mẽ cumã harkwa
to hajỹr,mã xwahnã Hartãt jipô,
nẽ mẽ cumã ipinkrên nẽ jỹ nẽ mẽ
kãmpa.Nẽ cute amjĩ kãm hapac
xà jicu xà mã hahêr nẽ mẽhkôt
ihkrã cator nẽ mẽ cumã:
Hartãt - Pea quê xãmte hõ mẽ jê te
mẽ amjĩ kãm hapac xà te hajỹr?
Ihpijajõ - Ỹhỹ, hõ ite mẽ hajỹr.
Hartãt - Waha cormãn mẽ jê mã
jũmãn nare, atỳj mẽ jê mẽ mõ, waha
ipê huprequêtre amjĩ kãm ijapac xà
jicu xà mã hahê, nẽ hĩrã pê mẽ jê mã.
Ihpijajõ - Hã, tahna, pea mã apu
ihkwỳhnõ mã hacu, ra pahte
jêmpar cu ahkri mõn xwa.
22
Amigo - Olá Sogro! Você
está sentado aí?
Hartãt olhou para cima e respondeu:
Hartãt - Sim, estou sentado.
Lá mesmo, eles conversaram:
Genro - Então sogro, eu e seu
genro viemos aqui para combinar.
Viemos te perguntar, se você pode
nos levar para conhecer o lugar
onde ficou o seu cordão umbilical...
onde você quebrou sua casca...
Quando o genro falou dessa
proposta, Hartãt ficou de cabeça
baixa, quieto, sentado e escutando.
Depois de pensar muito na ideia,
levantou a cabeça e falou:
Hartãt - Então vocês estão
pensando dessa forma?
Genro - Sim, desse jeito.
Hartãt - Eu não vou falar nada
agora, vocês podem ir, deixa que
o sogro de vocês vai pensar bem.
Depois eu mesmo vou dizer.
Genro - Tá bom, nós já escuta
mos nosso sogro, vamos banhar.

Pea nẽ ma cô mã mẽ mõ, nẽ mẽ
amjĩ mã mẽ harẽn to mõ.
Ihpijajõ - Hã quêha ihtỳj jê amjĩ
kãmpa cu mõn ihcuràhti kãm ahkôpĩ.
Pea mã apu ihkwỳhnõ mã, nẽ ma
mõn mẽ wỳr, nẽ ma mẽ mõ. Tahnã
awcapàt mã hõtkêt, mã mẽ hỹrmã
cator, cute amjĩ kãm hapac xà jicu
xà mã hahêr nẽ mẽ hỹrmã cator.
Pea mã mẽ hakrãh kãm ãmjĩ nã mẽ
to xa mẽ hũhnã kjêjê to xa. Pea
mã mẽ hỹrmã kwỳ nẽ mẽ hỹrmã
cator nẽ xwahnã amẽ cukij.
Hartãt - Hàpà mẽ, mẽ
iwawỳ? ca mẽ jê mẽ xa?
Mẽhĩ - Ỹhỹ.
24
E foram andando até o rio,
conversando sobre o assunto.
Genro - Ele vai pensar e nos levar
para conhecer o lugar onde
deixou seu cordão umbilical.
Então ele e seu amigo banharam e
foram embora. Anoiteceu e no outro
dia bem cedo, Hartãt saiu e foi para
o pátio, ele já tinha pensado muito.
Lá, cada um estava em seu grupo.
Assim Hartãt chegou no grupo
dos genros e lhes perguntou:
Hartãt - Bom dia meus genros!
Vocês já estão aqui?
Mẽhĩ - Sim.
31-Hartãt - Hã mẽ iwawỳ pori
mẽ jê te mẽ imãn xa atãn wa ipê
huprequêtre te ra amjĩ jatuj xà
mã hahêr, ite amjĩ kãm ijapac
xà ton par, pea jê mẽ kãmpa.
Tahna, tahna jêhte ra amjĩ caxuw
mẽ ikrã cator crinã wa jũmã mẽ jê
mã, pea ca hõ mẽ hanẽ . Ita kãm
capẽr jõxwỳn mã quê mẽ aprõre
mã quê, pry caxuw amẽ amã hakỳre
ata jarê, nẽ cô mã mẽ haxà quê kra
impej, quêhkra mẽ to api. Quêha, cô
mã mẽ haxàr to ajkrut jirô pê caha
ra mam mẽ càhà to mẽ apa nẽ mẽ
haxô, pea cuha ihkôt mẽ pa cato.
32-Ihpijajõ - Hã! Tahnã jũmã xàj nare!
33-– Pea mã curea apu ihpijajõ mẽ apu
ajpẽn mã nẽ cute mẽ capẽrjõxwỳn
mãn. Pea mã capẽr jõxwỳn, xwahnã
rỳ pyjê mã cute harkwa kujahêc.
31-Hartãt - Então meus genros,
sobre aquele assunto que vocês
me falaram, como eu sou o
sogro, pensei muito, muito
mesmo, então me escutem.
Tá bom meus genros, vocês já
abriram o meu pensamento e o
que é que eu posso dizer, se vocês
estão pensando assim... Hoje o
avisador vai falar para as mulheres
arrancarem as mandiocas e colocá-
las na água até que fiquem boas para
tirar do molho. Depois elas devem
colocar as mandiocas de novo na
água e tirar. Levem as mandiocas já
secas no sol, na frente. Pendurem
em um local afastado, que no
outro dia, os outros vão atrás.
32-Genro - Tá! Não tem problema!
33-– Naquele momento, Hartãt
e o genro discutiram e falaram
com o avisador. Disseram para o
avisador informar as mulheres.
25
 Capẽr - Hỳj...Hỳj...Mẽ iprõ
mẽ itàmxwỳjê........
Ajco amjĩ nã ikãmpa...
Rỳ jũmã pa capô xàh te
acaxuw imãn ton nare...
Pea ampo to ca mẽ amjĩ kãmpa..
Ita kãm caha mẽ pa jõ xakỳre....
Cô mã mẽ haxà..... Quêha
impej.... Caha mẽ to api.......
Nẽ hipêr hahpãn xàhnã........
Hipêr mẽ haxà......
Quêha impej, caha mẽ to api...... Nẽ
hipêr hahpãn xàhnã mẽ haxà........
Pea quêha mẽa pjê mẽ cato.....
Aprequêt te hõ imã hajỹr......
Pea mã pyjê te ajpẽn mãn, nẽ
rỳ pur mã mẽ ajkôt pra, nẽ cute
amẽ kwỳr jarên,nẽ cute côh kãm
amẽ haxwỳr. Mã apu irerec mã
mẽ to hopir, nẽ hipêr hapỹ mã
mã hahpãn xàhnã cute mẽ haxàr
mã irerec mã cute mẽ to hopir.
Pea mã mam itajê ra incrà.
Pea mã amẽ cumã:
26
Avisador - Ei!... Ei!... Minhas
esposas, minhas netas, escutem
o que eu vou dizer....
Hartãt me pediu que
avisasse vocês...
E vocês não pensem
de outra forma...
Hoje vocês vão arrancar mandioca
e colocar de molho no rio...
Quando elas ficarem prontas
tirem do molho...
E coloquem outras de
molho no lugar ...
Quando estas ficarem prontas
tirem do molho...E coloquem mais
outras de molho no lugar...
Os maridos de vocês vão sair...
Foi assim que Hartãt me disse...
Então as mulheres se reuniram, foram
para a roça, arrancaram as mandiocas
e botaram de molho no rio. Quando as
mandiocas ficaram prontas, tiraram e
colocaram outras de molho no lugar.
As mandiocas que as mulheres
colocaram de molho primeiro,
ficaram secas. Então Hartãt disse:
 Hartãt - Hã! Rỳmã ahkri mam càhà to
mẽ mõ nẽ juri ate mẽ to ihkĩn xà itar
mea xô. Pea quêha apẽ, caha hipêr
ihkôt ihnõ to mẽ mõn mẽ axô, pea
quê ha apẽ cuha ihkôt mẽ pa cato.
Pean curea amẽ ajpẽn mã, nẽ cute
amẽ hõh càhà to hohcuprõn. Nẽ ma
mẽ to mõ, nẽ juri cute amẽ càhà
haxôr itar, cute amẽ haxôr. Nẽ ihpĩn
mẽ ajpẽn to tẽ nẽ mẽ ajpẽn to cator.
Apẽ mã hipêr cute amẽ càhà tur,
nẽ hipêr mẽ to mõ, nẽ cute ihkwỳ
capehnã amẽ haxôr, nẽ mẽ ajpẽn
to tẽ nẽ mẽ ajpên to mẽ ipôj. Nẽ
apẽ mã ihkôt mẽ cator, nẽ mẽ
mõn juri cute mẽ cuprõn xà itar
mẽ cuprõ, nẽ cute mẽ cuprõn par.
Mã curea Hartãt ita amẽ cumã.
Hartãt - Hàpà! Pê ra mẽa
cunea te mẽ cuprõn par?
Mẽhĩ - Ỹhỹ! Ra mẽ ikràr
catêjê cunea te mẽ cuprõn,
nẽ ra kãm mẽ jê pit jikaj!
Hartãt - Hã! Tahnã jũmã xàj nare!
Pean xwahnã ma mẽ mõ, mẽ
mõ... Pê juri mẽ càhà xãm itar
mẽ cator.Pean curea amẽ hõt,
nẽ apẽ mã hipêr amẽ cumã:
28
Hartãt - Certo! Levem logo os cofos
com mandioca seca na frente, até
o lugar onde vocês escolherem
deixá-los. Amanhã levem os outros
cofos e deixem no mesmo lugar.
No outro dia nós sairemos.
No mesmo momento o grupo
combinou, todos arrumaram
seus cofos e saíram em direção ao
lugar que escolheram. Chegando
lá, deixaram os cofos e voltaram
para aldeia correndo com a tora.
No outro dia, novamente carregaram
os cofos até o lugar escolhido,
colocaram junto aos outros e
voltaram para aldeia correndo com
a tora. No dia seguinte o chamador
do grupo saiu da aldeia e caminhou
em direção aos cofos. No meio do
caminho ele parou e esperou até
que o restante do grupo chegasse.
Quando todos chegaram, Hartãt disse:
Hartãt - Olá! Então todos
vocês chegaram?
Mẽhĩ - Sim! Nós todos que queremos
ir, estamos aqui, só te esperando!
Hartãt - Certo! Não tem
nenhum problema!
Então foi assim que eles partiram...
Andaram... Andaram até chegarem
ao local onde deixaram os cofos
e por lá dormiram. Quando o
dia amanheceu, Hartãt disse:
 Hartãt - Hã! Ita caxuw ca hipêr
mẽ amjĩ mã mẽ càhà jaxôr pa.
Pea mã xwahnã ma càhà to mẽ
mõn hipêr juri cute mẽ cumã
hujahkre xà itar cute mẽ haxôr.
Nẽ apẽ mã ihkôt mẽ to mõ.
Hartãt - Hã! Itar ca ma mẽ mõn poori
hatuj xàre atar, curi ca mẽ càhà jaxô.
Pea mã ma mẽ mõ, ih
hêmpej xahkôt mẽ mõn juri hatuj
xà itar càhà to mẽ cator. Pen
mac nã cute mẽ inxôr, nẽ ihpĩn
mẽ ajpẽn to mõn mẽ cator.
Apẽ mã ihkôt hipêr mẽ mõ càhà
nõh to mõn cute mẽ inxôr. Apẽ,
pea mã ihkôt mẽ mõ, nẽ pen
mac nã mẽ hohhuc. Pea mã
apẽ mã xwahnã amẽ cumã.
Hartãt - Hã! Hã ite jũmãn nare! Itar
wa jê mã apu harẽn to ipa, itar ca atỳj
amẽ camõcre cahhêc to mẽ apa. Côt
ra mẽr into to aprã, nẽ jũhkãm cuto.
30
Hartãt– Certo! Hoje nós vamos
levar os cofos para outro lugar,
mais próximo ao nosso destino.
O grupo andou com os cofos
até o lugar indicado por Hartãt
e lá os penduraram. Quando
amanheceu eles seguiram viagem.
Hartãt - Certo! Daqui vocês vão
até a cabeceira do rio, é lá que
vocês vão colocar os cofos.
O grupo seguiu o caminho indicado
por Hartãt, levando os cofos até a
cabeceira do rio, perto de um lugar
onde existiam muitos tipos de mel.
Lá, deixaram os cofos e voltaram.
No dia seguinte levaram os outros
cofos e colocaram no mesmo
lugar, perto do mel. No outro dia,
o grupo saiu andando em direção
à cabeceira do rio, onde estavam
os cofos que deixaram primeiro.
Chegaram e rancharam perto do mel.
Quando amanheceu, Hartãt disse:
Hartãt - Certo! Eu não mudei de
ideia! Aqui, como eu sempre disse
para meu genro, cada um de vocês
vai sair quebrando cupim. Talvez
elas ainda existam, talvez já tenham
ido embora para outro lugar.
 Pea mã xwahnã cute mẽ ajpẽn mãn.
Pea mã xwahnã Hartãt mẽ cumã:
Hartãt - Hã! Quê inxy intepti nẽ
acjêj, nẽ harkwa picapônti hanẽ, ca
mẽ to xwỳj nõh kãmã! Nẽ mẽ kãm
atẽm nõh kãmã! Cuhy mã! Pean
ihkwỳ mã hõtpê, pea quê ajtea
harkwa tetetre acjêj, ca ajtea mẽ
imã ihkwỳ cupure, pen re to hanẽ.
Pea mã curea hamũ amẽ ipa. Camõcre
cucàcà! Nẽ pen cunea apu acjêj! Mã
ihkĩn xà te, mẽ to amjĩ jakrentu.
Nẽ cute amẽ to krat to hipu,
ampo kĩn kãm mẽ to amjĩ jakre.
Pean ajtea mẽ cumã penre cupu nẽ mẽ
to cumã mõ, mã apu cuku, nẽ ihkrẽr.
Apẽ mã hipêr mẽ càhà to mõ,
mẽ to mõ, nẽ amxô jĩpàr nã mẽ
to hohhuc. Nẽ mẽ cumã:
Hartãt - Hã! Hã ite jũmãn nare! Itar
wa jê mã apu harẽn to ipa, itar ca atỳj
amẽ pĩhkre kãm ipoc to amẽ apa. Côt
ra mẽr into to aprã, nẽ jũhkãm cuto.
32
O grupo combinou e se reuniu.
Hartãt disse então:
Hartãt - Certo! Se for a abelha
vermelha que estiver entrando, com
a boca aberta, vocês não podem
mexer! Nem triscar! É fogo! Se
vocês virem à abelha com boca bem
transparente entrando, tirem um
pouquinho de mel, que é o jataí.
Então, lá onde tem muito cupim, o
grupo começou a procurar. Tinham
muitos cupins, onde moravam
abelhas de todos os tipos. Quando
o grupo viu todos aqueles cupins,
logo se animou e tirou muito mel,
tanto que passou do peso que eles
aguentavam levar. As cuias já estavam
cheias , mas como eles gostavam
muito de mel continuaram pegando.
Então separaram o mel de jataí
e levaram para Hartãt. Quando
chegaram ao acampamento,
entregaram o mel e Hartãt
comeu até que acabasse tudo.
No outro dia, seguiram viagem
carregando os cofos. Andaram
até que rancharam na terra
dos ratos. Hartãt disse:
Hartãt - Certo! Eu não mudei de
ideia! Como eu sempre disse para
vocês, meus genros, aqui cada um
de vocês vai tocando fogo no oco
das árvores. Talvez os ratos estejam
lá, talvez já tenham ido embora.
 Pea mã curea amẽ amxô jĩpàr kãm
ihpôc to ipa, nẽ cute ihkĩn kãm amẽ
to amjĩ jakrentu. Nẽ mõn mẽ to cator
nẽ cute amẽ caxuw kĩj mã mẽ cumã:
Hartãt - Quêta kij ita! Quê kij ita
kãm impej nare! Kãm mẽ caxuw
cuto nẽ mẽ tahnã camôcre
pytxwỳ quê haka. Ca mẽ to cumã
icahy, nẽ mẽ tahnã amẽ hõmĩ.
Pea mã cute amẽ cuhôn nẽ tahnã
amẽ hamĩr nẽ amẽ cuku.
Apẽ mã hipêr amẽ cuku. Nẽ cute amẽ
càhà ton, nẽ amẽ kãm ihcawe, nẽ
curea cute amẽ amjĩ jahkàhnã kajpê
amẽ haxôr. Tahnã hapỹ mã mẽ mõr
caxuw nõ rom. Pea nẽ hipêr mẽ mõ...
nẽ xepti jõ kên itar mẽ càhà xôr .
Nẽ hapỹ mã mẽ mõ. Pea nẽ apẽ mã
ihkôt mẽ mõ, nẽ xepti jõ kên itan
mẽ hohhuc. Pea mã amẽ cumã:
Hartãt - Hã! Itar ca mẽ ijikaj! Wa
cahxy mõn kẽn kãm ahkôpĩ! Côt mẽr
ra into to aprã nẽ ra jũhkãm cuto.
34
Então o grupo começou a tocar fogo
no oco das árvores. Mataram muitos
ratos, gostaram tanto que mataram
mais ratos do que aguentavam levar.
Voltaram para o rancho e começaram
a fazer o moquém. Hartãt disse:
Hartãt - Deixa esse moquém!
Moquém não presta para rato!
Façam uma fogueira e coloquem
cupim por cima para formar brasa.
Depois coloquem os ratos por
cima e enterrem para assar.
Fizeram uma fogueira e colocaram
cupim no fogo até que virasse
brasa, para assar os ratos.
Lá mesmo os comeram.
No outro dia comeram novamente,
depois fizeram os cofos e colocaram
neles o que restou dos ratos.
Penduraram os cofos lá mesmo,
nas árvores, e foram rumo à
serra dos morcegos, deixar os
cofos com a massa de mandioca.
Depois voltaram para o lugar onde
deixaram os ratos moqueados.
No dia seguinte, seguiram
viagem... Caminharam até que
rancharam na serra dos morcegos,
onde deixaram os cofos no dia
anterior. Hartãt disse então:
Hartãt - Certo! Aqui vocês ficam
me esperando! Eu vou até a
serra observar! Talvez eles ainda
existam, talvez já tenham ido
embora para outro lugar.
 Nẽ xwahnã ma hõhkô pĩr xahnã
mõn xêpti kre itar cator, mã xwahnã
ra xêpti catihti pit ajpẽn cãmxê
mã cute hõmpun. Nẽ ma hapỹ mã
mõn cator nẽ amẽ cumã harẽ.
Hartãt - Hã! Hõtpê! Hõtpê jũhkãm
cutor nare! Pea ca ajmãc mẽ
ampo-hô pre catea to hanẽ.
Nẽ mẽhpôc catea to hanẽ.
Pea mã xwahnã, cute mẽ ihpre
catea to hajỹr. Nẽ kẽn kre kôt mẽ
curu nẽ mẽ irun par. Nẽ amẽ pĩh
kryjre kẽhkẽn, pea mã amẽ cumã.
Hartãt - Quêtta! Amẽ pĩh
kryjre kêhkẽn nõh kãmã! Pĩh
catea, ca amẽ ihkẽhkẽ!
Pea mã cute mẽ kãm ihpôc…
mã xêpti johkeat nẽ ihpỳm,
nẽ cute cuhy pĩr to mõ.
Mã hamũ amẽ ihcura, mẽcmã
ampo kĩn kryj nã, mã cute amẽ
to amjã krentu . Pean ma mẽ to
mõ nẽ me to cator. Nẽ hamũ cute
amẽ caxuw kij, mã amẽ cumã:
36
Então Hartãt saiu andando para
observar. Chegando lá, ele viu
só morcegos grandes, gritando.
Voltou para o acampamento
e contou para todo grupo.
Hartãt - Sim! Eles estão lá! Ainda
não foram embora para outro lugar!
Cada um faça um feixe grande de
folhas secas. Para dar muito fogo!
Cada um do grupo, fez o feixe
grande de folhas secas e colocou
todas as folhas na toca do morcego.
Depois, cada um quebrou uma
vara pequenina e Hartãt disse:
Hartãt - Não! Não quebrem
as varas pequenas! Quebrem
as varas grandes!
Tocaram fogo... Caíram muitos
morcegos... Caíram tantos
que o fogo quase apagou.
O grupo começou então, a matar
os morcegos que caíam. Eles
ficaram tão contentes que mataram
muitos ratos, tantos que passou do
peso que eles aguentavam levar.
Então foram para o acampamento
fazer a moquém. Hartãt disse:
 Hartãt - Quêta kij ita! Quê kij ita
kãm impej nare! Kãm mẽ caxuw
cuto nẽ mẽ tahnã camôcre
pytxwỳ quê haka. Ca mẽ to cumã
icahy, nẽ mẽ tahnã amẽ hamĩ.
Mã curea cute amẽ xêpti jamĩr
mã apu hàr mã amẽ cuku.
Apẽ mã hipêr amẽ cuku. Nẽ cute
amẽ cahà ton, nẽ amẽ kãn ihcawe,
nẽ curea cute amẽ amjĩ jahkàhnã
kajpê amẽ haxôr. Tahnã hapỹ nẽ
mẽ mõr caxuw nõ rom. Pea nẽ mẽ
mõ nẽ hipêr crapejre jõ rom itar
mẽ càhà xôr. Nẽ hapỹ mã mẽ mõ.
Pea nẽ apẽ mã ihkôt mẽ mõ. Nẽ
crapejre jõ rom itar cô itan mẽ
hohhuc. Pea nẽ amẽ cumã:
Hartãt - Hã! Hã! Itar cumẽ, itar
ca atỳj côn tohkà nã amẽ kre
caxun to mẽ apa, côt ra mẽr into
to aprã nẽ ra jũhkãm cuto.
Ca quêt mẽ! Ajtea ajpên
mẽ imã ihcujprỳhti nõhto
ajkrut nẽ mẽ to imã mõ.
38
Hartãt - Deixa esse moquém!
Moquém não presta para morcegos!
Vocês só vão fazer uma fogueira e
colocar cupim por cima. Depois é só
espalhar a brasa do cupim, colocar
os morcegos e cobri-los com terra.
Lá mesmo, como ensinou Hartãt,
eles assaram os morcegos na brasa
do cupim. Quando os morcegos
ficaram prontos, o grupo comeu.
De manhã bem cedo, o grupo
levantou e comeu mais morcegos.
Cada um do grupo fez um cofo,
colocou os morcegos e pendurou o
cofo em cima da árvore, pensando
que iriam voltar pelo mesmo caminho.
Seguiram viagem. Andaram...
Andaram até que chegaram na mata
da paca, onde colocaram os cofos
e voltaram para o acampamento.
No dia seguinte, seguiram andando
novamente até chegarem à
mata da paca, onde acamparam
perto do rio. Hartãt disse:
Hartãt - Certo! Certo! É aqui que
vamos ficar. Aqui cada um de vocês
vai observar a toca da paca na beira
do rio e cutucá-las com uma vara.
Talvez elas ainda existam, talvez já
tenham ido embora para outro lugar.
Vocês é quem decidem, mas
tragam dois filhotes de paca
separados para mim.
 Pea mã xwahnã hamũ amẽ kre
caxun to ipa. Mã pran mrõ, mã
mẽ caxwỳ. Ampo kĩn tỳj kãm cute
mẽ ihkwỳ jipej, nẽ ajtea cute
mẽ cumã ihkrahti to ipijakrut nẽ
mẽ to mõ, nẽ mẽ to cator.
Nẽ curea cute amẽ ihcucàc. Nẽ mẽ
caxuw kij, nẽ amẽ homĩr mã impej,
mã cute amẽ cuprãr nẽ amẽ cuku.
Apẽ mã hipêr amẽ cuku, nẽ curea
cute amẽ tahnã càhà, nẽ amẽ haxôr.
Pea mã xwahnã hipêr amẽ cumã nẽ
hipêr mẽ mõ.Ita caxuw mã ra mẽ
cupê hõn cri to mõ, mã xwahnã ra
mẽ hõ, mea mã mẽ mõ. Pea mã ra
xwahnã crôh pry, cute pjê jõhpôc
mã cute mẽ hõmpun nẽ mẽ cumã.
Ihpijajõ - Krahtũmjê? Pàjquêt?
Hartãt - Hê!
Ihpijajõ - Mẽr pom ihpry
ita? Ampo mã?
Hartãt - Ahxy, ahxy! Wa
ahxy ihpry pupu mã!
Pea nẽ apu ihpar pupu, nẽ mẽ cumã:
40
O grupo começou então a cutucar
a toca da paca. Quando a paca
saía da toca e caía no rio, eles a
furavam e matavam. O grupo ficou
contente e matou muitas pacas.
Mataram dois filhotes de paca e
levaram separados para Hartãt.
O grupo chegou ao acampamento,
fez uma fogueira e começou a
tratar a paca. Eles fizeram um
moquém para colocar as pacas
e quando elas ficaram prontas,
tiraram do moquém e comeram.
No outro dia comeram mais. O
que restou da carne de paca, eles
colocaram nos cofos e penduraram.
Hartãt disse para o grupo que
continuasse andando junto com
o que restou da comida, que já
estava acabando. Eles andaram
um pouco e viram o rastro do
porco queixada, que passou em
bando, então o genro disse:
Genro - Sogro! Sogro!
Hartãt - Oi!
Genro - O que é esse
rastro? O que é isso?
Hartãt - Calma, deixa eu ver o rastro!
Hartãt viu o rastro e
disse para o genro:
 Hartãt - Quêta! Quêta! Ita mã
crôkrãcaprêc mã, ca kãm mẽ tẽ,
nẽ amjĩ caxuw mẽ ihcyt nẽ ca
nẽ mea nõ acator nare. Ita mã
ajpẽn nã incryc xi, nẽ hoprê.
Pea nẽ hipêr mẽ mõ, mã ra ita ihpry,
mã cute mẽ hõmpun, nẽ mẽ cumã
Ihpijajõ - Krãhtũmjê? Pàjquêt?
Hartãt - Hê!
Ihpijajõ - Mẽr pom ihpry
ita? Ampo mã?
Hartãt - Ahxy, ahxy! Wa
ahxy ihpry pupu mã!
Pea nẽ apu ihpar pupu, nẽ mẽ cumã.
Hartãt - Quêta! Quêta! Ita mã crôre
mã ihpry, huphêre ata mã, ca nẽ
mẽ ihnõ pro nare, ca mẽ ihnõ curan
nare. Quêta! Quêha jũhnã tamã
ihpry waha hĩrã pê mẽ jê mã harẽ.
Ajco mẽ to hajỹr to mõ. Pea mã
quêt crôa ihpry mã mẽ cumã.
42
Hartãt - Não! Não! Esta é a
pegada do porco queixada, se
vocês atacarem e triscarem nele,
ninguém escapa. Este porco é
muito bravo e anda em bando.
Eles seguiram andando e
tinham outros rastros no
caminho. O genro disse:
Genro - Sogro! Sogro!
Hartãt - Oi!
Genro - O que é esse
rastro? O que é isso?
Hartãt - Deixa, deixa eu ver!
Deixa eu ver o rastro!
Ele viu o rastro e disse ao genro:
Hartãt - Não! Não! Esta é a pegada
do caititu, ele é ligeiro, ninguém
pega ele não! Deixem porque
ninguém mata ele não! Onde tiver
rastro do porco próprio para comer,
eu vou contar para vocês, genros.
Assim, Hartãt foi andando e
mostrando as coisas para o grupo.
Andaram até que viram o rastro
do porco certo, o genro disse:
 Ihpijajõ - Mẽr ita krãhtũmjê?
Pea mã xwahnã cumã:
Hartãt - Ahxy, ahxy! Wa
ahxy ihpry pupu mã!
Nẽ apu ipry pupu nẽ mẽ cumã.
Hartãt - Hã! Hã! Ita mã quêt tê! Ita
ca atỳj amẽ ihcura. Nẽ mã mẽ to amjĩ
kôt hakop, ca mẽ to amjã kre, nẽ
mẽ to jũmãn nare! Ihtwỳm crinare!
Pea mã xwahnã curea mẽ ihkôt
mẽ hàr mã tapi hatujxà kãm
carẽc kãm apu amjĩrẽ mã xwahnã
curea cute mẽ kãm ihtẽm, nẽ mẽ
ihkwỳ jipej nẽ mẽ to cator.
44
Genro - Este é o rastro, sogro?
Hartãt disse:
Hartãt - Deixa! Deixa eu ver o rastro!
E foram ver o rastro.
Hartãt - Certo! Certo! Esse é o
bom! Podem matar, mas não
matem muitos! Se vocês matarem
muitos, nós não vamos dar
conta de comer, porque essa
carne tem muita gordura!
O grupo foi atrás do porco, eles
estavam bem próximos, na cabeceira,
em um lugar onde havia muita
lama. Eles encontraram os porcos
rolando na lama e lá mesmo os
atacaram. Mataram muitos porcos
e andaram até o acampamento.
 Nẽ curea cute amẽ hõmĩr nẽ amẽ
hĩ pit kur ihtwỳm kôt mã. Pea nẽ
curea mẽ hõt. Mã apẽ mã xwahnã
curea cute amẽ haxôr. Pea nẽ mẽ
mõ. Mã xwahnã cagãti, pa xà kôt
mõn mẽ to xa, mã hõpahkre ti apu
hikwa. Pea mã xwahnã mẽ ihcukij.
Ihpijajõ - Pàjquêt ampo pry
mã hõh carãhti ita.
Mã xwahnã mẽ cumã:
Hartãt - Ampo nare! Cagãti
mã! Impeaj ata mã!
46
No acampamento, eles moquearam,
mas só comeram a carne do
porco, separando a gordura.
Então, lá mesmo eles dormiram.
Quando amanheceu,eles penduraram
os cofos no acampamento mesmo
e então andaram. Andaram
até chegarem à um lugar onde
haviam muitas trilhas, abertas
pela cobra grande. Então eles
perguntaram para Hartãt:
Genro - Sogro, que bicho
fez essa trilha?
Hartãt respondeu:
Hartãt - Não é outra coisa! É
cobra grande! É cascavel!
 Pean mẽ mõ, mã ra tônkreryti
pa xà. Mã mẽ cumã harẽ, ita mã
tônkreryti mã, ra pjê nõ mã mẽ pa
xàr. Nẽ xwahnã curea mẽ cumã
hũjarẽn to mõ. Mã pyt, pea mã mẽ
to hõhkôpĩr to mõ. Nẽ mẽ cumã:
Hartãt - Hã! Itar cu amẽ pa jikwa!
Kyre pê amẽ ajpẽn mã acakôc.
Nẽ amẽ acakôc tỳj nõ kãmã. Xãm
cura ajtea pjêh nõ kãm mẽ mõ.
Pean curea amẽ to ihhêmpej,
pean curea amẽ hihkwa. Pea
mã xwahnã ra tônkreryti increr
to mõ. Mã xwahnã mẽ cumã:
Ihpijajõ - Pàjquêt!
Hartãt - Hê!
Ihpijajõ - Ampo mã increr to mõ?
Hartãt - Ampo nare! Wa mẽ amã
harẽ!Ita mã tônkreryti! Mã ma
pry ata jê nõ kôt mã increr to
mõ. Ma ihtỳj hõ prãr to mõ, nẽ
ra cute mẽ pa jakren to mõ.
Amẽ cumã harẽn to hanẽ nẽ curea
hõtpê amẽ hõt. Mã apẽ mã rỳ mẽ
mõr, ihtỳj mẽ hõpàn to mẽ mõ. Nẽ mẽ
mõ… Mã mẽ tahnã awcapàt, mã mẽ
hohhuc. Pea mã pàrhĩtti ra xa nẽ cre.
48
Eles saíram andando e logo chegaram
na trilha da lacraia. Hartãt disse para
o grupo que aquela era uma lacraia
e que eles já estavam entrando em
outras terras. Eles iam andando e
Hartãt ia mostrando todas as coisas
para o grupo. Quando entardeceu,
eles estavam escolhendo o local do
acampamento, então Hartãt disse:
Hartãt - Certo! Aqui é que nós
vamos deitar! Falem bem baixinho.
Não falem muito alto porque
estamos em terras estranhas.
Lá no rancho, Hartãt explicou para
o grupo sobre a terra estranha e
então eles deitaram para dormir,
então escutaram a lacraia andando
e cantando. O genro disse:
Genro - Sogro!
Hartãt - Oi!
Genro - O que é que vem cantando?
Hartãt - Não é outra coisa! Eu vou
contar para você! Esta é uma lacraia!
Ela vai cantando por uma daquelas
trilhas. Vai procurando seu alimento,
ela já está passando por nós.
Hartãt contou sobre a lacraia e
então eles dormiram. Quando
amanheceu o dia, continuaram
andando, comendo todos os tipos
de alimentos que achavam pelo
caminho. Andaram...Andaram até
que anoiteceu, aí eles acamparam e
escutaram a árvore Pàrhĩti2 cantar.
2
Pàrhĩti: árvore do mato, de grande porte e
espinhenta, conhecida como Barrigudo.
 Ihpijajõ– Pajquêt! Ampo
cupẽ mã cre ita?
Hartãt - Pàrhĩti mã xan cre! Wa
jê mẽ ajtea pjêh nõh kãm curea
mẽ mõ. Nẽ amẽ acakôc tỳj nõ
kãmã, nẽ amẽ akàr nõh kãmã.
Mã mẽ to ihhêmpej to mõ, nẽ curea
mõn mẽ hõt. Mã apẽ, mã crow pôc
wỳr mẽ mõ.Nẽ mõn mẽ cator.
Mã xwahnã crow pàr pyxit nẽ
ihcuhhê, mã pryre jara tahnã
ihcuhhê mã ipôc hapôj nẽ to
caxàrtu. Pea mã curea amẽ cumã:
Hartãt - Hỳ! Hỳ Iwawỳ! Ita wa jãmãn
ikrĩ nẽ amã harẽn to ikrĩ. Caha
hamũ tẽ nẽ tahnã xa, nẽ hamũ
tẽ, nẽ hapỹ nẽ tẽ nẽ hipêr tahnã
xa, nẽ ajpên tẽ. Quê ita mã jãmãn
ato capa, wa hapỹ mã apãnre mã
rỳmã ikuc pẽ. Ra inã hõhkêt to
mõ, mãrhã ra apãnre ito hapac.
Ihpijajõ - Hã! Tahna Pàjquêt!
Nẽ jũmã xàj nare.
50
Genro– Sogro! O que é aquilo
que está cantando?
Hartãt - É a árvore Pàrhĩti que
está cantando! Nós já estamos
andando em outras terras. Não
falem muito alto, nem gritem.
Hartãt andou ensinando ao grupo,
até que eles acamparam para dormir.
No dia seguinte, seguiram andando
até que chegaram ao buriti fogo.
Lá, existia só um pé de buriti e
quando os pássaros triscavam
nele, ele soltava fogo e queimava
os pássaros. Então Hartãt disse:
Hartãt - Venha! Venha genro! Isto
é o que venho contando sempre
para você! Você vá até lá e fique um
pouco no pé de buriti. Saia, ande
um pouco e volte ao pé de buriti.
Depois volte junto ao grupo.
Talvez esse buriti fogo te queime,
aí eu poderei voltar logo e mostrar
minha cara para a sua sogra. Já
se passaram vários dias e sua
sogra deve estar preocupada.
Genro - Tá! Certo sogro!
Não tem problema!
 Pean ma tẽ nẽ xa, nẽ cute pànti nã
amjĩ ton, nẽ rỳ hỹr mã ihkàr to tẽ:
Crat! Crat! Crat! Nẽ cute crow pôc
jahkà cakwin nẽ xaari hapỹ mã tẽ,
mã hakànpê crow pôc hapôj nẽ
ihpec, pea mã hipêr tẽ nẽ cute to
hajãr, nẽ hahkà nã hãm krãn, nẽ
hapỹ mã ihtor nẽ tẽ nẽ hohhuc.
Nẽ hapỹ mã hẽa nã xa nẽ hã:
Ihpijajõ - Pàjquêt! Quê nẽ ampo
ito jũmãn nare! Pryre te amjĩ
jahkre kêt kôt mã to hanẽ! Ma
ijẽa mã wa, wa ha itỳj acaxwỳjre
mã ikuc ita to amjĩ pẽ.
Pea mã cumã.
Hartãt - Hã! Tahnã nẽ jũmã xàj
nare! Hã cormã! Hac mẽ!
Pean ma mẽ mõ, nẽ cuhkà
cajcàr nã mẽ to cator. Pê ajco
hĩpô jipôc ri ihcuhhê. Pea mã
pê Hartãt ihwawỳ mã hanẽ:
Hartãt - Hã! Hã! Côt ita mã
jê caprêc wa ipar tuware ri
mã apãnre mã amjĩ pẽ.
52
O genro saiu do grupo, se
transformou em arara e voou
rumo ao buriti fogo, gritando: Crat!
Crat! Crat! Quando ele triscou no
buriti fogo, começou a sair muito
fogo da árvore e ele saiu voando
para o outro lado. Quando o fogo
diminuiu, ele voltou voando, triscou
mais uma vez no buriti fogo e
voou rumo ao grupo. Chegando
no grupo, ele se transformou
novamente em gente e disse:
Genro - Sogro! Nada pode acabar
comigo! Os bichos é que são
bestas, por isso é que matam eles!
Mas eu sou gente e vou mostrar
minha cara para sua filha.
Hartãt disse:
Hartãt - Certo! Não tem
problema! Aguarde! Vamos!
Eles seguiram viagem até chegarem
à árvore cuhkà cajcàr3 , que ficava no
meio de uma lagoa. Aí Hartãt disse:
Hartãt - Certo! Certo! Talvez essa
árvore possa acabar com você,
aí eu poderei voltar logo, sem
perder o rastro, e ver sua sogra.
3
Cuhkà cajcàr: árvore do brejo, conhecida
como pindaíba.
 Pea mã cumã:
Ihpijajõ - Hã! Tahnã jũmã xàj nare!
Pean cute xêrêrêti nã amjĩ ton, nẽ
hỹrmã tẽ, nẽ ihhô jimõc nã hãm
krãn nẽ hamũ tẽ. Pea mã hakàn pê
hõmjĩ xa te cô cahhy, nẽ hapỹ mã
hãm pej nẽ xa. Pea mã hipêr cute
to hajãr nẽ tẽ nẽ hohhuc nẽ cumã:
Ihpijajõ - Hã! Pàjquêt quê nẽ ampo
ito jũmã nare! Wa ha itỳj hapỹ mã
acaxwỳj wỳr ikuc ita to icato.
Pea mã cumã:
Hartãt - Hã! Tahnã jũmã xàj nare!
54
O genro disse:
Genro - Certo! Não tem problema!
Então, ele se transformou no pássaro
xêrêrêti4 e voou até pousar em um
galho da árvore cuhkà cajcar. Ficou
um pouco e saiu voando para o outro
lado. Quando o genro saiu do galho,
a árvore sentiu e balançou até cair
na água. Depois se levantou, ficando
em pé novamente. Quando a árvore
ficou em pé, ele voltou e repetiu tudo
o que já havia feito: pousou no galho
e saiu voando para o outro lado.
A árvore balançou, caiu na água e
tornou a ficar em pé. O genro então
voou rumo ao grupo, transformou-
se novamente em gente e disse:
Genro - Certo! Sogro, nada pode
acabar comigo! Eu vou voltar para
mostrar minha cara para sua filha.
Hartãt disse:
Hartãt - Certo! Não tem problema!
4
Xêrêrêti: passáro pequeno, de peito amare-
lo, conhecido na região como bem-ti-vi.
 Pean hipêr mẽ mõ...Xwahnã ra
ampo kôt mẽ to hapôj to mõ. Nẽ
cuhêxê nã mẽ to cator, mã pê
xwahnã ajco: Kit! Kit! Kit! Nẽ ajco
ipan amjã cjê. Pea pê hipêr cumã:
Hartãt - Hã! Hã, iwawỳ! Ita wa jãmãn
amã harẽn to ipa, côt ita mã jê
caprêc, wa rỳ mã apãnre mã amjĩ pẽ.
Pea mã cumã:
Ihpijajõ - Hã! Tahnã jũmã xàj nare!
Nẽ cute junti nã amjĩ ton, nẽ tẽ, nẽ
cute hapkôc. Pea pê cuhêxê te ajco
amjĩ jacjê nẽ hapỹ mã ihprĩn ipa,
pê hipêr tẽ nẽ cato, nẽ huprequêt
mã harkwa ata to ihcakôc.
Ihpijajõ - Hã! Pàjquêt pryre te amjĩ
jakre quêt kôt mã apu to hanẽ.
Wa ha hapỹ mã ikuc ita to icato.
Nẽ pê mã huprequêt mã to incryc
japôj to mõ. Nẽ pê ajco cumã:
Hartãt - Cormã!Cormã!
56
O grupo seguiu viagem novamente.
Eles andaram, passando por lugares
perigosos, até que chegaram ao lugar
onde ficava o cuhêxê5. Disse que a
linha do arco estava indo e voltando,
fazendo Kit! Kit! Kit! Indo e voltando...
Indo e voltando...Então Hartãt disse:
Hartãt - Certo! Certo meu genro!
Isto é o que eu venho sempre
lhe contando, talvez essa linha
do arco poderá acabar com
você e eu voltarei logo para me
apresentar para sua sogra.
Então ele disse :
Genro - Tá bom! Não tem problema.
Ele se transformou em Beija-
Flor e voou, passando rasante
e triscando a linha do arco, que
ficou rodopiando. Retornou
rápido, voltou a se transformar
em gente e falou para o sogro:
Genro - Certo Sogro! Os animais não
sabem que a linha faz isso. Talvez
eu volte com essa minha cara.
Isso fez com que o sogro ficasse
com raiva e dissesse:
Hartãt - Aguarde ! Aguarde!
5
Cuhêxê: linha usada no arco.
 Nẽ hipêr mẽ mõ, nẽ cacot nã mẽ
to cator. Pea pê cacot ajco: Xum!
Xum! Xum! Nẽ ajpẽn jahpa, nẽ ihprĩn
ajpẽn jahpa, nẽ ajco côh kãm mrõ.
Pea mã mõn mẽ xa, nẽ amẽ hõmpu,
mã curea hipêr mẽ cumã:
Hartãt - Hã! Hã Iwawỳ! Ita wa jãmãn
apu amã harẽn to ipa. Quê jãmãn
ita mã acatut jaxà, wa rỳ mã hapỹ
mã, amjã xà, xam ra inã hohkêt.
Pea mã pê ihwawỳ xwahnã Tepkritti
nã cute amjĩ ton, nẽ hỹr mã tẽ, nẽ
hapkôc, nẽ hamũ tẽ, pea pê hakàn
pê ajco côh to apu jũmã, nẽ hapỹ mã
ipincrên to mõ pê hipêr to hanean,
pea nẽ tẽ nẽ hohhuc, nẽ cumã:
Ihpijajõ - Hã Pàjquêt! Pryre te
amjĩ jahkre kêt kôt mã, cumã
amjĩ hõ. Wa ha itỳj ikuc ita
to ihcaxwỳjre wỳr icato.
58
Continuaram a andar e chegaram até
o Cacot . Os cacot6 faziam: Xum! Xum!
Xum! Se revezando devagarinho,
subindo, descendo e batendo na água.
Eles chegaram mais perto e
ficaram parados, olhando. Lá
Hartãt falou novamente :
Hartãt - Certo! Certo genro! Estou
sempre lhe falando isto . Talvez
o cacot possa furar suas costas.
Daqui mesmo, eu voltarei pra aldeia,
porque já se passaram muitos dias.
Então o genro se transformou em
Tepkritt7 e voou rasante, triscando o
cacot, que intensificou suas batidas
na água. Quando os cacot diminuíram
as batidas, voou novamente por baixo
deles, voltou para o mesmo lugar,
transformou-se em gente e disse:
Genro - Certo Sogro! Os animais não
sabem, por isso eles se entregam.
Vou voltar a aparecer com esta
minha cara para sua filhinha.
6
Cacot: flecha de cabeça redonda, com
função ritual em festas específicas e
usualmete usada para matar passarinho.
7
Tepkritt: pássaro conhecido como
Mergulhão ou Martinho Pescador.
 Pea pê cumã:
Hartãt - Hã! Tahnã jũmã
xàj nare! Cormã!
Nẽ hipêr mẽ mõ, nẽ cuhkryt kà nã mẽ
cator. Mã pê cuhkryt kà ita ajco harêt
to ipa nẽ ajco pjê cahhy. Pê hipêr cumã
Hartãt - Hã iwawỳ! Ita wa apu
amã harẽn to ipa, quê ita mã
jê catêc wa ipry tuware ri mã
hapỹ mã apãnre mã amjĩ pẽ.
Pea mã cumã:
Ihpijajõ - Hã! Tahnã jũmã xàj nare!
Nẽ hipêr cute juntycti nã amjĩ
ton, nẽ tẽ nẽ hapkôc, pea mã
hakànpê apu pjê cahhy, nẽ ihpec
to mõ, pê hipêr hỹrmã tẽ.
Nẽ hapỹ mã cato, nẽ tẽ nẽ xa, hẽa nã
nẽ hipêr cumã harkwa ata to ihcakôc.
Mã kãm mẽhkôt mẽ mõ itajê amẽ
hõmpu. Nẽ hipêr mẽ mõ. Nẽ mĩĩti nã
mẽ cator, mã harkjêcti nẽ hikwa, mã
pryre pran nẽ harkwa mã acjêj mã
pê ajco cuku. Pea mã hipêr cumã:
60
Ele disse:
Hartãt - Certo! Não tem
problema! Aguarde!
Continuaram andando, até que
chegaram ao lugar onde ficava o
couro de anta. O couro da anta ficava
no chão, levantando e abaixando,
esperando para cair em cima dos
animais que passavam desavisados.
Hartãt - Certo, genro! É isso
que eu sempre digo para você!
Isso poderá matar você! Aí eu
voltarei depressa, para mostrar
minha cara para sua sogra.
E ele disse:
Genro - Certo! Não tem problema!
Então transformou-se de novo em
beija- flor preto, passou rasante
por baixo do couro da anta e foi
para o outro lado, deixando o
couro da anta quicando. O couro
ficou quicando, até que diminuiu a
velocidade e ele passou novamente
por baixo do couro da anta.
Voltou até o grupo, se transformou
em gente novamente e falou a
mesma coisa. Eles ficaram olhando,
depois andaram até chegarem ao
lugar onde ficava o grande jacaré.
O jacaré estava com a boca aberta,
esperando os bichos passarem e
entrarem em sua boca, para que
ele os comesse. Hartãt disse:
 Hartãt - Hã iwawỳ! Ita wa apu jê
mã harẽ, quê ita mã jê krẽ. Wa
rỳ mã apãnre wỳr amjã xà.
Mã curea hipêr cute Tepkritti nã amjĩ
ton, nẽ tẽ, nẽ harkwa japkôc, mã
hakàn pê harkwa to apu ajpẽn cahhy,
mã hipêr hapỹ mã tẽ nẽ cute harkwa
japkôc, nẽ tẽ nẽ xa. Nẽ harkwa ata
to cumã ihcakôc. Pea pê cumã:
Hartãt - Cormã! Cormã!
Pea nẽ cuwatôw wỳr mẽ to mõ
nẽ mõn mẽ to cator. Mã xwahnã,
ra pryre hamũ apu kãm ihcuhhê.
Pryre to amjĩ mã ahtỳj, nẽ ihtỳj pran
cumã acjêj, mã ihtô. Pea mã cumã:
62
Hartãt - Certo genro! Isto é o que
venho sempre lhe dizendo! Isso
poderá comer você! Logo eu voltarei
para o lugar onde está sua sogra!
Lá ele se transformou de novo, agora
em um pássaro pequeno, que voa
sobre as águas para comer os peixes.
Passou rasante pela boca do jacaré
e saiu do outro lado, deixando o
jacaré abrindo e fechando a boca à
procura da caça. Ele ficou do outro
lado, esperando o momento de
passar de novo voando pela boca do
jacaré. Depois ele transformou-se em
gente e repetiu a mesma conversa
para o sogro. Então Hartãt disse:
Hartãt - Aguarde! Aguarde!
O grupo saiu andando... Guiados
por Hartãt, chegaram à um lugar
onde havia muita lama e lá eles
viram muitos bichos atolados, os
animais passavam achando que
a terra era seca. Hartãt disse:
 Hartãt - Hã! Iwawỳ! Côt ita
mã jê juwahi. Wa rỳ mã hapỹ
mã apãnre wỳr amjã xà.
Pea mã cute xwahnã, wyrwytre
nã amjĩ ton, nẽ ihtor nẽ hamũ
ihkàr to tẽ nẽ cuwatôw jipôcri tẽ
nẽ hohhuc nẽ ihtỳj apu tahnã mõ.
Nẽ hipêr ihtor nẽ hamũ itar tẽm
hohhuc, nẽ apu mõr krãn nẽ ihtor
nẽ tẽm hohhuc, nẽ harkwa to.
Ihpijajõ - Hã pàjquêt! Pryre te
amjĩ jahkre kêt kôt mã, cumã
amjĩ hõ. Waha itỳj ikuc ita to
acaxwỳjre mã amjĩ pẽ.
Pea mã hipêr cumã:
Hartãt - Hã!Hã Tahnã jũmã
xàj nare! Cormã!
Nẽ hipêr hêjamror nã mẽ to cator.
Mã ra kãm pryre jara crà, apu kãm
harij. Mã xwahnã hêjamror ita ihkre
cati to ipa nẽ ajco hapỹ mã ihkre kryj
to ipa. Pea mã curea hipêr cumã:
64
Hartãt - Certo, genro! Talvez
essa lama cole você! Logo eu
voltarei para sua sogra.
Então ele se transformou no pássaro
galinha d’água, voou cantando,
sentou na lama e depois saiu
andando tranquilo. Voou novamente,
sentou na lama e mais uma vez saiu
andando tranquilo, então ele falou:
Genro - Certo sogro! Os animais é
que são bestas, por isso se entregam
à lama. Eu vou voltar e mostrar
minha cara para sua filhinha!
Hartãt continuou dizendo:
Hartãt - Certo! Certo! Não tem
nenhum problema! Aguarde!
Seguiram até chegarem à teia de
aranha, onde viram muitos pássaros
mortos, pendurados. presos à teia.
Os buracos da teia de aranha, abriam
e fechavam, abriam e fechavam,
pegando os pássaros que passavam
voando. Hartãt continuou dizendo:
 Hartãt - Hã iwawỳ! Ita wa apu jê
mã harẽ, côt ita mã jêhpro! Wa rỳ
mã hapỹ mã apãnre mã amjĩ pẽ.
Mã cumã :
Ihpijajõ - Hã!Tahnã jũmã xà nare.
Pean curea cute juntycti nã amjĩ
ton, mã ra ihkre kri to tẽ, nẽ hapỹ
mã ihkre cati mã tẽn ihkre mã hàr
nẽ hapôc mã cator mã hakàn pê apu
ajpẽn pro. Nẽ hapỹ mã ipikrên to
mõ, mã hipêr cute to hajãr nẽ curea
harkwa ata to huprequêt mãn:
Ihpijajõ - Hã Pàjquêt! Quê nẽ ampo
ito jũmãn nare! Pryre te amjĩ jahkre
kêt kôt mã ihpro, pean ijẽa wa, waha
itỳj ikuc ita to ihcaxwỳj mã amjĩ pẽ.
66
Hartãt - Certo, genro! É isto que
eu sempre te digo, talvez essa teia
possa te pegar! E eu chegarei logo,
para me mostrar para sua sogra.
Ele disse:
Genro - Certo! Não tem
nenhum problema!
Lá mesmo, ele se transformou em
beija-flor preto, voou em direção à
teia, e assim que ela abriu, passou
por ela e foi para o outro lado. A
teia então começou a abrir e fechar,
abrir e fechar, cada vez mais rápido
tentando pegar o beija-flor. Depois,
quando a teia foi diminuindo a
velocidade, ele voltou voando e
passou novamente pela teia. Quando
chegou ao grupo, continuou com
o mesmo papo para o sogro:
Genro - Certo, sogro! Não tem
nada que possa me pegar! Os
bichos não sabem de nada, por
isso são pegos. Eu sou gente e vou
mostra minha cara para sua filha.
 Pea mã cumã:
Hartãt - Hã cormã! Wa nẽ
cormãn jê mã jũmãn nare!
Nẽ hipêr amcrôcrôti wỳr mẽ
to mõ nẽ mõn mẽ to cator.
Nẽ curea hipêr cumã:
Hartãt - Hã! Ita wa apu jê mã harẽ!
Namhã hamũ he! Ma tẽ nẽ hĩkjê mã
acato nẽ hapỹ nẽ tẽ. Quê ahheaj
to ita mã jê to capa, wa hapỹ
mã ipar tuware ri mã amjã xà.
Pê hĩrã pê ajco ampo to curêhto
mõ, pea mã ihpijajõ harkwa ita
kãm incryc nẽ xa nẽ apu rĩt mã
tapi ita wỳr hatujxà nẽ tapi ita
wỳr ihnõ, mã ihcajpu amcrôcrô
ita mã pê pryre ajco pra pê ajco to
capa. Pea mã apu amjĩ kãmpa.
Nẽ rỳ cute cukryt nã amjĩ ton nẽ
hatujxà wỳr tẽ nẽ apu carẽc kãm
amjĩrẽ nẽ rỳ amcrôcrô cajpu ihtẽm
nẽ ihtẽm krãn nẽ cute amjã xàr nẽ
carẽc kãm hikwa nẽ amjĩ nã carẽc
nã côh to ihcuhkwỳr nẽ amjã cjê nẽ
to amjĩ mã pjên crôcrô co to mõ nẽ
ma hĩkjê mã cator, nẽ hapỹ nẽ ihkôt
tẽ nẽ cator. Nẽ hipêr harkwa to.
68
Hartãt disse:
Hartãt - Certo, aguarde! Eu
não te digo nada, genro!
E continuaram andando até chegarem
à um lugar onde a terra fervia,
queimando os animais que passavam
por ali. Lá Hartãt disse novamente:
Hartãt - Certo! É isso que eu
sempre te digo! Olhe aqui! Vá lá
para o outro lado e volte. Talvez
isto vá te queimar, genro, e aí eu
voltarei , enquanto nosso rastro
ainda não tiver desaparecido.
Hartãt sempre falava sobre as coisas
que poderiam acabar com a vida do
genro por isso ele ficou chateado,
olhando para os lados e imaginando
em qual bicho iria se transformar
para atravessar a terra quente.
Ele se transformou em anta e foi para
um lugar onde havia uma nascente
e muita lama. Lá ele rolava na lama
para esfriar seu corpo e andava
um pouco sobre a terra quente.
Voltava, se resfriava e andava um
pouco mais, até que conseguiu
atravessar a terra quente. Então ele
voltou até onde estava o grupo e
disse de novo as mesmas coisas.
 Ihpijajõ - Hã Pàjquêt! Pryre te
amjĩ jakreh kêt kôt mã to capa,
pean ijẽa wa, waha itỳj ikuc
ita to acaxwỳj wỳr icato.
Hartãt– Hã! Wa nẽ jê mã
cormãn jũmãn nare!
Pea rỳ hahhũm nã kôc wỳr mẽ mõ, nẽ
kôc jarkwa mã mõn mẽ to hohhuc.
Mã kôc jarkwa mã carãre... Nẽ ahtu
jãmrẽare! Nẽ pĩ jãmrẽare! Pea mã
hapkôc ihprĩn hapôj. Mã cumã:
Hartãt - Hã iwawỳ! Ita wa apu jê
mã harẽ ijõhkôpĩr xà jahhũm mã,
côt quê ita mã jê pro, wa rỳ mã
hapỹ mã apãnre wỳr amjã xà.
Mã xa nẽ kãmpa.
Ihpijajõ - Hã! Tahnã jũmã xàj nare!
Pea mã curea hupre nõ jarkwa cator:
Impàjê - Ipijõjê! Wa jê capehnã!
Ampo nã ca jê pit ampo pê
hapôj to mõ. Ampo nã wa
pôj nẽ amjĩ jarẽn nare.
Pea mã xwahnã cumã:
Ihpijajõ - Impàjê! Apu hajỹr nõh
kãmã! Côt ca ikôt ampo mã amjĩ
hõ. Amjĩ nã imã ijupar kĩnare!
70
Genro - Certo sogro! Os bichos são
bestas, por isso eles se queimam.
Eu que sou gente chegarei com
essa minha cara para ver sua filha.
Hartãt - Certo! Eu não te
digo nada, genro!
Então começaram a andar rumo
ao fim da viagem e rancharam
perto do lugar de onde o vento sai.
Este lugar era muito limpo, não
tinha capim! Nem árvore! O vento
saía devagarinho. Hartãt disse:
Hartãt - Certo genro! Aqui já é o
final do meu conhecimento, isso
poderá te pegar e aí eu voltarei
para onde ficou sua sogrinha.
Ele ficou escutando.
Genro - Certo! Não tem
nenhum problema!
Lá mesmo, outro cunhado disse:
Cunhado - Cunhado! Eu também
quero participar! É só você quem
está passando por todos esses
perigos. Eu quero chegar na aldeia
e também ter o que contar.
Então ele disse:
Genro - Cunhado! Você não pode
pensar assim! Talvez você vá se
entregar e morrer nesses caminhos
que eu passei, e eu não quero
que o povo reclame de mim!
 Impàjê - Waha itỳj jê jamãr kêt nare.
Mã te, ihpijajõ cumã, mã tahnã
ahwa ta ahwỳ. Mã cumã:
Hartãt - Hã mẽrẽ! Jê ajco awca najco.
Pea mã xwahnã tẽn hamũ kôc
jũcarã mã mẽ hàr crinẽ.
Ihpijajõ - Hã! Ajco jê awca najco!
Pea rỳ mẽ tẽ, nẽ carãhti mã mẽ hàr
crire, nẽ mẽ cumã kà: Twa! Twa!
Twa! Pea mã kôc te... Tuuw!
Mã xwahnã ipijajõ te cỳt nẽ pup,
nẽ cator mã tee mã hapỹ nẽ cute
to amjã xàr nẽ ihkre ita mã to hàr.
Pean hamrẽ nẽ apu apê nẽ hopêt
to hi. Pea mã curea apu cumã:
72
Cunhado - Eu vou acompanhar
seus movimentos.
Ele tentou convencer o cunhado,
mas este insistiu em participar.
Então Hartãt disse:
Hartãt - Está certo! Mas
tome muito cuidado!
Eles foram e entraram um pouco no
lugar do vento, onde é tudo limpo.
Genro - Certo! Tome muito cuidado!
Então os dois começaram a andar
até que entraram um pouco no
grande limpo, lá eles gritaram
para o vento: Twa! Twa! Twa!
Aí o vento saiu de uma só vez... Tuuw!
O genro saiu rápido, mas o cunhado
não conseguiu e foi arrastado pelo
vento até a toca onde ele mora.
Lá o vento foi soprando, soprando
até parar. Então o genro falou:
 Ihpijajõ - Hã pàjquêt! Pryre te
amjĩ jakre kêt kôt mã! Pean ijẽa
wa! Waha itỳj ikuc ita to icato.
Hartãt - Hã tahnã! Tahnã! Hã rỳ quêt
jê te hajỹr to hajỹr. Nẽ jũmã wa jê
mã... hamrẽ. Pean ajupre te apu
hajỹr kãm mã cute tahnã hõhwỳr
kãm mã. Hamrẽ cumẽ hupre japê,
cuma mẽ mõ ca mẽ hõmpu.
Nẽ ma mõn kên puhnã mẽ
ipijarõ nẽ hopir xàh nã mẽ jỹ. Mã
xwahnã nẽ kôc jarkwa mã jỹ nẽ
mẽ hõmpu. Mã te mẽ cumã hũhto
apêt mã Hartãt xa nẽ mẽ cumã:
Hartãt - Quê! apre jĩ nare! Apre
carõ mã quê nẽ ihtẽm nare,
ma ra cute amjĩ mã haprôr.
Hã! Ra ate mẽ hõmpun!
Curỳ mã ahcri mẽ mõ.
Pean rỳ mẽ mõr... Nẽ Kàjre
kre ita capehnã mõn mẽ to jỹ.
Pea mã Hartãt mẽ cumã.
Hartãt - Hã! Itar ca arãcri mẽ jỹ!
74
Genro - Certo sogro! Os bichos
é que são bestas! Eu sou gente!
E mostrarei a minha cara!
Hartãt - Certo! Certo! Você não
pensou errado! Não tem problema!
Como eu poderei te dizer... Acabou.
Seu cunhado foi teimoso, por
isso é que ele se acabou. Vamos
procurá-lo para você ver.
Eles andaram, rodearam a serra,
subiram e sentaram. O cunhado
estava lá na porta da toca do vento,
olhando para o grupo, enquanto o
grupo ficava chamando o cunhado
com as mãos, então Hartãt disse:
Hartãt - Seu cunhado não é
mais gente! Ele é alma! Ele não
vem! O vento carregou ele!
Certo! Agora que vocês já
viram, vamos indo.
Seguiram andando... Rancharam
perto da serra onde mora a
machadinha. Então Hartãt disse:
Hartãt - Aqui vocês vão ficar calados!
 Pea mã cute amẽ amjĩ mã pĩh
kẽhkẽn nẽ amẽ to cuhôn nẽ curea
cute amẽ ampo kryjre ton nẽ amẽ
ihkur. Mã Hartãt mẽ cumã:
Hartãt - Caha mẽ awpa! Côt mẽr ra
intohto aprã nẽ ma ra jũhkãm mõ.
Pea mã ra awcapàt kôôre to tẽ,
mã Kàjre harkwa cator nẽ cre.
Kàjre ita increr to hanẽ.Pê ajco
cre nẽ ihcakôc, Kàjre ita:
Quê ja ropti rê quê mõ...
Quê ja ropti rê pa ca rỳ
rỳ tê rê quê mõ...
Ma hỳj majê... haj.... jê haj.....
Xy pa nẽ....
He xy pa nẽ ….....
Cumã kry xàhti cawpahti
cunĩti jarẽ nẽ pê mã quê garã
mã cumã kàjre jarẽ nẽ...
Pê cumã kàjre jarẽ nẽ pê mã nã mã
quêt cumã arũn prãm te mã cumã
arũn prãn te mã quêt gapac kre
nã mã rỳmã quê ate rỳ quêt jãmãn
acaràrà ti jê nõhto rỳ quêt amjĩ mã
kry xàhti cawpahti cunĩhti ate amjĩ
nã ihcujpãj ta acuhkwỳr re ri mã...
Ma hỳj mã jê... Haj. Jê haj...
76
Então, lá mesmo, o grupo
quebrou lenha, fez uma fogueira,
cozinhou um resto de comida e
comeu. Hartãt disse para eles:
Hartãt - Vocês vão ouvir! Talvez
elas estejam lá, talvez já tenham
ido embora para outro lugar.
Quando já estava anoitecendo a
machadinha começou a cantar. A
machadinha cantava e falava assim:
Ando cantando como uma onça
Ando com meus braços fortes de onça
Venham genros... Venham... Venham...
O mundo todo me escute.....
O mundo todo me escute...
A noite quando o frio e a escuridão
são grandes e dão medo, a
machadinha conta sua história....
A machadinha é inteligente,
é boa de memória e passa a
noite toda cantando mesmo
sentindo frio e medo, é assim
que a machadinha sempre faz.
Venham genros! Venham!
 Pea mã pê ajco mẽ Hartãt cukij:
Mẽhĩ - Ampo mã harkwa hapôj ita?
Pea pê mẽ cumã:
Hartãt - Ampo nare Kàjre mã! Ca
mẽ kãmpa, pom harkwa cator
nẽ amjĩ jarẽ, Kàjre mã! Cormã
quêha ihcakôc to apẽ tu.
Mẽhĩ - Pea quê!
Hartãt - Hã! mẽ tahnã awpa car
mea nõ hõt pê ihnõ kôt harẽ.
Pea mã curea cute mẽ impar to apẽ,
pea mã apẽ mã apu mẽh wawỳ mã.
Hartãt - Hã! Itar mẽ ijahkàhnã
mẽ jỹ. Wa mõn ahxy kãmpa.
Pean xwahnã ma mõn hỹrmã cator,
mã xwahnã ihtỳj nõ mã cumã:
Hartãt - Hàpà ijapar!
Pea mã ihkôt hỹr nẽ cute
hõmpun, nẽ cumã:
Kàjre - Ỹhỹ quêtti! Pê
xãmte quêtti camã ca?
78
Então eles perguntaram à Hartãt:
Mẽhĩ - O que é isto que
está cantando?
Hartãt disse:
Hartãt - Não é outra coisa, que não
a Machadinha! Escutem, ela mesmo
está cantando e dizendo que é a
Machadinha! Esperem aí que ela
vai cantar até de manhãzinha.
Mẽhĩ - Tá certo!
Hartãt - Certo! Prestem
atenção, talvez um de vocês
poderá cantar uma parte.
Eles ficaram lá, escutando
até amanhecer. Bem cedinho
Hartãt falou para os genros:
Hartãt - Certo! Fiquem aqui
sentados, me esperando,
que eu vou lá saber.
Hartãt foi andando até lá e ao
chegar encontrou a Machadinha
deitada. Então ele disse:
Hartãt - Olá meu sobrinho!
A machadinha se levantou,
olhou para Hartãt e disse:
Machadinha - Olá tio! Então
é você quem é o meu tio?
 Hartãt - Ỹhỹ! pa mã wa.
Kàjre - Hã Quêtti! jũhkãm pê
ca mõ? Cute hajỹr re nã, mã
ajamrẽare wa te amã ajkãmpa.
Hartãt - Ỹhỹ! Wa itar apu ipa, wa ita
wỳr apu ipa, nẽ ita caxu wa ma nẽ
mõ. Pê wa ma awryh kôt mã, cate
apu ijapê, pean wa ra hapỹ nẽ mõ.
Pea mã xwahnã cumã:
Kàjre - Pec quê?
Hartãt - Ỹhỹ!
Kàjre - Hã!
Pea xwahnã curea amẽ ajpẽn mã
ihcakôc, pean xwahnã apu cumã:
Hartãt - Hã ijapar! Wa ajpên ampo
nã imõr nare. Wa ajpên ampo wỳr
imõr nare, wa ajpên mẽ akrah nõ
nã pit ajpên awỳr to mõ. Ca ahheaj
to mẽ imã akrah nõ hõ wa mẽ
akrah nõ mẽ apu ipa, xãm wa ahte
apu ipa nẽ ipeac re nẽ ikajkritre.
80
Hartãt - Sim! Sou eu!
197-– Pea mã xwahnã jỹ nẽ 197– A machadinha se sentou,
Machadinha - Sim tio! Para onde é
kãmpa, pea mã apu cumã: escutou e então perguntou:
que você foi? Você sumiu desse jeito
e eu fiquei aqui só te esperando.
198-Kàjre - Pê xãmte hõ 198-Machadinha - Você está
ate hajỹr, quêtti? pensando assim, tio?
Hartãt - Sim! Eu moro na região,
mas fica longe daqui, por isso só
199-Hartãt - Ỹhỹ! Hõ ite hajỹr. 199- Hartãt - Isso! É assim
agora eu estou vindo. Eu estava
que eu penso!
muito longe, você ficou me
procurando, mas agora eu já voltei.
200-Kàjre - Hã! Tahnã jũmã xàj nare, 200-Machadinha - Certo! Não tem
quêtti! Pean ajco ikãmpa wa cormãn nenhum problema, tio! Mas me
Então a machadinha disse:
rỳ mã amã mẽ atàmxwỳ nõ hõr nare, escute, eu não posso te dar um
wa ha xa hipêr tahnã amjĩ to cumẽ... de seus netos agora, você tem
Machadinha - Sério mesmo?
Tahnã to ihkujate, pea quêha apẽ, que esperar mais um pouco... Eu
caha ma nẽ mẽ mõ. Waha mẽ amã cantarei com eles à noite toda,
Hartãt - Sim!
ihnõ hõ, mẽ amã mẽ atàmxwỳ nõ hõ. quando amanhecer volte aqui
e eu te entregarei um deles.
Machadinha - Certo!
201-– Pean xwahnã apu cumã hanẽ, 201– Hartãt escutou o que o pai
Lá mesmo eles conversaram,
pea mã cute impar. Pean curea apu da machadinha disse e lá mesmo
então Hartãt falou:
cumã amjĩ jarẽ. pean xwahnã ma mõ, se despediram. Ele partiu em
nẽ mẽhwawỳ wỳr cator. Nẽ mẽ cumã: direção aos genros e disse:
Hartãt - Certo sobrinho! Eu tenho
uma razão para vir aqui. Eu cheguei
202-Hartãt - Hã mẽjwawỳ! Jũmã 202-Hartãt - Certo meus genros!
aqui apenas para te pedir um de seus
ijupar xàh te nare! Cuha hipêr Eu tenho informações! Nós vamos
filhos, é só isso. Talvez você possa
xa itar mẽ amjĩ to cumẽ, pea passar a noite aqui novamente
me dar um de seus filhos, e então
quê ha apẽ, cuha ma mẽ mõ. e ao amanhecer nós iremos.
eu poderei andar junto à ele, porque
sozinho eu sou fraco e preguiçoso.
203-Mẽhĩ - Mah! 203- Mẽhĩ - Tá!
81
 Pea pê ra mẽ cupê mẽ hõh hamrẽ,
pe ra ajco mẽ pryre jĩ cahkrôh
ku.Ajco mẽ pryre cura nẽ mẽ
ihcakrô ku, nẽ itỳj hahkà nã amẽ
ipa. Pea mã hipêr awcapàt mã cute
hipêr tahnã, mẽ amjĩ to mẽn.
Pea mã hõtkêt nã amẽ cumã
awjarẽ cute cumãn xàhnã nẽ
hipêr ma mõ. Pea mã ra jỹ.
Kàjre - Hàpà quêtti! Ca ra mõ?
Hartãt - Ỹhỹ! Wa ra mõ!
Kàjre - Hã, ca ra mõ to jỹ.
Pea mã jỹ, nẽ amẽ ajpẽn mã ihcakôc.
Kàjre - Pea hã quêtti! Wa ha itỳj
mẽ amã atàmxwỳ nõ hõ! Pea ca
atỳj mẽ atàmxwỳ nõ to mõ nẽ
apu tahnã amjĩ cajpar to apa.
Impeaj to! Mãrhã ca ahte apu apa nẽ
acajkritre, pea ca atỳj mẽ atàmxwỳ
nõ to mõ. Pea ikãmpa, mẽ atàmxwỳ
nõh pahàm prãm nẽ cumã amjĩ cacro
prãm nẽ cumã amjĩ jakry kĩnare, nẽ
ihpahàm prãm. Pea ca hõ hanẽ.
82
Já havia acabado a alimentação do
grupo. Enquanto esperavam Hartãt
voltar, eles estava comendo apenas as
carnes que caçavam, sem a massa de
mandioca para misturar. Anoiteceu
novamente no acampamento e eles
ficaram por lá até amanhecer.
No outro dia bem cedo, Hartãt
contou o que a machadinha tinha
dito e eles saíram. Quando chegaram
lá, a machadinha estava sentada.
Machadinha - Olá tio! Você chegou?
Hartãt - Sim! Cheguei!
Machadinha - Certo, agora
que você chegou sente-se.
Hartãt sentou-se e eles
ficaram conversando.
Machadinha - Certo tio! Agora
eu posso lhe dar um de seus
netos! Você vai cantar com ele e
segurá-lo firme com os punhos.
Eu acredito! Talvez você esteja
mesmo andando por aí sozinho,
fraco, então pode levar sua
neta. Mas me escute, sua neta
é envergonhada se ela for
deixada de lado, parada, não
vai gostar, sentirá frio. Ela gosta
de sentir o calor, de estar em
movimento . Faça desse modo.
 Pea mã cumã:
Hartãt - Hã, tahnã, jũmã xàj nare!
Pea mã mõn cute cumã Kàjre
ita pyr nẽ cute hacre to ihcupu
nẽ cumã hõr. Pea mã apu cumã
amjĩ jare, nẽ ma hapỹ mã mẽh
wawỳ wỳr mõ nẽ to cator, mã
amẽ hõmpu. Pea mã mẽ cumã:
Mẽhĩ - Pe ita mã apu cre?
Hartãt - Ỹhỹ ita jõnxũ mã apu
ihcakôc, nẽ cahãj mã cute imã hõr.
Pea mã cute mẽ hõmpun nẽ mẽ
cumã ihkĩn pitti. Pea mã mẽ cumã:
Mẽhĩ - Mẽr jũmã cuha mẽ?
Hartãt - Cuha jũmã mẽ nare! Cuha
xa hipêr mẽ amjĩ to cumẽ mã.
Quê jãmãn imã cuhõ nẽ jãmãm to
hapacxà, nẽ apu jũmã wa hapã mã
cumã cuhõ. Pea cuha ma mẽ mõ.
Mã pea hipêr curea amẽ, mã curea
awcapàt. Pea mã ahcarẽacre
itan tahnã apẽ, mã cute hipêr
ipyr nẽ to mõ nẽ apu cumã.
Hartãt - Hàpà ijapar!
Kàjre - Majte ca ca mõ?
84
Hartãt respondeu:
Hartãt - Certo, não tem problema!
Então ele pegou a filha machadinha,
enrolou com os enfeites e deu
para Hartãt. Eles se despediram e
Hartãt foi embora em direção aos
genros dele. Quando chegou com a
machadinha eles ficaram olhando,
e então um dos genros falou:
Mẽhĩ - Era isso o que
estava cantando?
Hartãt - Sim era o pai dessa
machadinha quem estava cantando,
ele me deu uma machadinha mulher.
Assim que viram a machadinha, eles
gostaram muito e perguntaram:
Mẽhĩ - E agora o que faremos?
Hartãt - Nós não faremos nada!
Nós vamos passar mais uma noite
aqui, talvez a machadinha sinta
saudades da filha, fale alguma
coisa e aí eu terei que devolve-
la. Depois nós vamos embora.
Eles ficaram por lá mais uma
noite, mas a machadinha não
disse nada a noite toda. Quando
amanheceu Hartãt voltou até lá,
com a neta machadinha e falou:
Hartãt - Olá sobrinho!
Machadinha - É você quem chegou?

Hartãt - Ỹhỹ! Wa ma nẽ mõ! Wa te
ajkãmpa pea mã ahcarẽacre nã apẽ.
Pea wa ma nẽ hipêr akra to mõ.
Kàjre - Nare quêtti! Kãm ite
hajỹjr nẽ apu mẽ atàmxwỳ nõh
to pajnare! Mẽj mã hõhkeat mã
pom ca mẽ imã mẽ hõmpu.
Mã xwahnã apu ihrôt.
Kàjre - Pean atỳj hapỹ mã
ajapare to mõ, ampo nã apu
ito hajỹjr nõh kãmã quêtti!
Apu cumã hanẽ, pean ma mõ. Nẽ
mõn cator, nẽ mẽhwawỳ japrôr nẽ
ma mẽ to mõ. Mẽ to mõ.... Pea mã
awcapàt, pea mã hipêr amẽ hikwa.
Pom pê jũm cuxà nẽ to mõ ita,
ipyr pê mã apu tahnã amjĩ to.
Pawa ha apu to ipa. Pea mã pê
awcapàt, mã xwahnã jũm ita.
Mẽhĩ - Hã! Wa itar tahnã
amjĩ capi, ampo nã.
86
227-– Pea nẽ cute cumã ihpa jaxàr, 227– Então ele colocou a machadinha
Hartãt - Sim! Sou eu quem veio!
nẽ harkwa cator, nẽ xwahnã: no braço e começou a cantar:
Eu fiquei ouvindo, mas você
não falou nada até o amahecer,
228-Mẽhĩ - Xypanẽ...... Xypanẽ 228-Mẽhĩ - O mundo todo me
então eu trouxe sua filha.
escute... O mundo todo me escute...
Machadinha - Não tio! Eu fiquei
229-– Pea mã ajpên cupyt 229– Então o guariba falou:
triste, mas eu não me preocupo
jarkwa cator...
com sua neta! Como você pode
ver, eu tenho muitos filhos.
230-Cupyt - Twa!Twa!Twa! 230-Guariba - Twa! Twa! Twa! Você
Ate to hamãr caxuw norom começou a cantar na minha frente,
Os filhos estavam todos pendurados.
ate rỳmã to ipe hutàr! mas você não está acertando!
Machadinha - Você pode levar
231-– Pea mã ihkêt. Pea mã 231– Então ele parou de cantar
sua neta de volta, não se
xwahnã Hartãt mẽ cumã: e Hartãt perguntou:
preocupe com nada, tio!
232- Hartãt - Hã mẽ anõ ca apu 232-Hartãt - Quem é que está
Ele disse isso e Hartãt foi embora.
hanẽ? wa mẽ amã, itar cormã, pjê fazendo isso? Eu disse para vocês
Quando chegou ao acampamento,
te amjãkrepej kãm cu cormã mẽ que estamos andando em outras
juntou os genros e saíram.
mõ. Cu xa quêt mẽ pôj, caha ate terras, onde os animais sabem
Andaram.. .Quando anoiteceu
mẽ to jũmã xahnõ nã amẽ to. falar. Esperem até chegarmos
acamparam e dormiram.
na aldeia, lá vocês poderão
Um dos genros estava carregando a
cantar o que quiserem.
machadinha e resolveu tentar cantar
com ela, prometendo que sempre iria
233-– Pean tahna amẽ hõt. Pea 233– Lá mesmo eles deitaram
usá-la. Quando anoiteceu o genro....
mã apẽ, mã hipêr mẽ to mõ, e dormiram. No outro dia
ihtỳj mẽ to hõt to mõ, pea mã andaram de novo e rancharam.
Mẽhĩ - Certo! Aqui mesmo
ra mẽ cumã prãm to prãm. Fizeram isso durante vários dias.
eu vou tentar cantar!
Pea mã ra tapi krĩ wỳr pjê pẽrpej nẽ Eles sentiam muita fome.
cute amjãkrepej kãm mẽ mõ, nẽ ra mẽ Chegando perto da aldeia, no
cator to mõ, nẽ hahkà kãm mõn crerô lugar onde a terra treme e sabe
nã mẽ cator. Pean curea amẽ cumã: transformar as coisas, eles viram
muito inhame então Hartãt falou:
87
 Hartãt - Hã! Itar ca ijahkà nã mẽ jỹ!
Pea mã xwahnã hamũ crerô
pihhoa kãm apu ihkrĩ. Pea mã
curea Hartãt mẽ cumã:
Hartãt - Hã! Itar ca xy mẽ ijahkà nã
mẽ jỹ wa xa apu ihkôt hakop mã.
Pean cute te mẽ pajĩ jõ crerô
japên par. Mã xwahnã hũhkôhnã,
pea mã te mẽhkwỳ mẽ hapê.
Pea mã mẽ huparnõ itajê ra
mẽ cumã prãm to prãm, pea
mã apu ihkwỳhnõ mã:
Mẽhĩ 1 - Ikwỳhnõ! Tẽ nẽ cuto!
Mẽhĩ 2 - Crerô jũmã ita?
Ampo ca apu hapên to mõ?
Ra prãm crynare te hajỹr.
Pea mã cute tẽ nẽ harkwa kôt cuhôn.
Pea mã te mẽhkwỳ amẽ cumã:
Mẽhĩ 3 - Quetta! Cute mẽ
pa mãn nẽ hamũ tẽ.
Mẽhĩ 1 - Hã! Crerô jũmã ita?
Pean cute mẽ cuhôn. Nẽ mẽ caxuw
tahnã camõcre xãm, nẽ amẽ ihkwỳn,
nẽ mẽ hõmĩr nẽ amẽ kur. Mã xwahnã
cormã cute crerôpej nã cator, nẽ mõn
amẽ cumã harẽ. Pea mã ra ihkwỳn
xà nẽ homĩr xà. Pea mã mẽ cumã:
88
Hartãt - Certo, aqui
vocês me esperem!
Lá existiam vários inhames diferentes,
então Hartãt falou novamente:
Hartãt - Certo! Aqui vocês
me esperem que eu vou
lá para conhecer.
Hartãt procurou pelo inhame
igual ao que eles tinham na
aldeia, mas não achou.
Os outros estavam esperando
no rancho, alguns sentiam muita
fome, por isso começaram a
teimar, um deles disse:
Mẽhĩ 1 - Amigo, acenda o fogo!
Mẽhĩ 2 - Qual é este inhame?
O que você está procurando?
Estou com muita fome.
Ele acendeu o fogo, como o
amigo pediu. Então outro mẽhĩ
pediu para os teimosos:
Mẽhĩ 3 - Não! Hartãt disse
que iria procurar e foi.
Mẽhĩ 1 - Tá! Mas qual é esse inhame?
Fizeram o fogo, colocaram o
cupinzinho da chapada, arrancaram
o inhame, moquearam e comeram.
Então, Hartãt achou o inhame
que eles estavam acostumados a
comer e falou para os genros:
 Hartãt - Hàpà! Mẽ anõ ca apu hanẽ?
Mẽhĩ 3 - Ihe ita mã apu
ihkwỳnõ mẽ hanẽ!
Hartãt– Wa ampo nã mẽ amã caxy
mẽ ipar nare! Hã! Ra ate amẽ ihkwỳn
nẽ ra ate amẽ tontu! Hỳ! Ajpên itar
ca mẽ mõn amẽ kwỳ, itar mã quêttê!
Pean ma mẽ to mõ, nẽ mẽ cumã
harẽn. Mã quêt cute amẽ mẽ pa
jĩa jõ crerô kwỳn, pean mẽ to mõn
nẽ cute amẽ hõmĩr, nẽ amẽ ihkur.
Nẽ amẽ amjĩ mã ihkwỳ cawe.
Pea ma mẽ to mõ awcapàt mã amẽ
to hikwa mã Hartãt te mẽ cupê
hõmtàr nẽ nõ, pea mã ra caxwa,
mã ra hamũ amẽ hõt. Pea mã ra
ajpên ihcakôc to tẽ, nẽ cator:
Mẽcarõ - Hàpà quêtti!
Hartãt - Ỹhỹ!
Mẽcarõ - Ca mã ca nõ?
Hartãt - Hã quêtti!
90
Hartãt - Olá! Quem é que
está fazendo isso?
Mẽhĩ 3 - É ele e o amigo dele
que estão fazendo isso!
Hartãt - Quando eu falo vocês
não me escutam! Certo,
vocês já arrancaram! Venham
para cá! Aqui vocês poderão
arrancar o inhame bom!
Hartãt os levou e mostrou o
inhame, igual ao que tinham na
aldeia. Eles arrancaram o inhame,
moquearam e comeram. O que
restou do inhame eles levaram.
Anoiteceu, então eles deitaram,
Hartãt deitou primeiro. Meia-
noite, todos já estavam dormindo,
então o espírito do inhame
veio falando com Hartãt:
Espírito do inhame - Olá tio!
Hartãt - Olá!
Espírito do inhame - Você
está deitado aí?
Hartãt - Sim tio!
 Mẽcarõ - Wa ampo nã ajpên itẽm
nare! Jũm te mã rỳ mã apu ipê
ihkwỳn, wa cormã apu ihkwỳn
prãm nare! Cormã ihtetet! Wa apu
to xwỳh prãm nare! Rỳ mã jũm
ita te to irer nẽ apu to ihkwỳn?
Hartãt - Puhop! Imã hakrekeatre, wa
paxwỳjê nẽ ite jũm ita pupun nare!
Mẽcarõ - Hã! Hã! Ra cute apu mẽ
ihkwỳntu, nẽ tahnã jũmã xàj nare.
Pea waha ma ra hapỹ mã tẽ.
Apu cumã hanẽ, pean ma tẽ. Pea
mã amẽ hikwa, mã ihkwỳhnõ
mẽ nõ. Mã ita pĩmprar nẽ ra te
cute hixôt mẽ incre japên, mã ra
ajtea hõmpun xà ra mã cahãj.
Pea mã hãm nẽ cute hothô hyr nẽ
ma tẽn jỹ nẽ itu nẽ ihtur par, nẽ
hapỹ mã tẽn nõ. Nẽ mã ihkwỳhnõ,
jamã mã nõ nẽ hanẽan ipĩmprar nẽ
te hanẽan te cute incre mẽ hixôt
japên. Pea curea apu ihkwỳhnõ mã:
92
Espírito do inhame - Eu não vim
para falar qualquer coisa! Quem é
que foi logo arrancar o meu inhame?
Não estava querendo mexer nele
agora! Ainda está verde! Quem foi
que arrancou primeiro que eu?
Hartãt - Não sei. Não estou
sabendo, também não vi quem foi
Espírito do inhame - Está certo,
está certo, não tem problema,
já foram arrancados mesmo,
então agora eu vou voltar.
O espírito falou isso e foi embora. Eles
continuaram deitados até que um dos
amigos acordou e procurou o pênis
e o saco dele, e viu que não estavam
mais lá. Ele tinha virado mulher.
Então ele se levantou, tirou uma
palha para se limpar, agachou e
urinou, depois voltou e se deitou.
O outro amigo também acordou
e procurou o saco e o pênis dele.
E logo falou para o amigo:
 Mẽhĩ cahãj - Pê apeaj te hajỹr ?
Mẽhĩ cahãj 2 - Quê! Ra icahãj,
Mẽhĩ cahãj - Ite hajãr nẽ icahãj.
Pea, hãmrẽ. Pea mã apẽ, mã xwahnã
mẽhkwỳ amẽ hõmpu. Jũmã quê
mẽ to, ra mẽ cahãj to mẽ cahãj. Pea
mã pyt pê mõn krĩ mã mẽ cator, mã
pê mẽ cahãj itajê nẽ mẽh prõ wỳr
amẽ imprar nare, pê mẽ ihpahàm
xà te mẽhkwỳ wỳr mẽ mõ. Pea mã
hõ Hartãt jarẽn xà ita te hajỹr.
94
Nova mulher - Você está bem?
Nova mulher 2 - De jeito
nenhum! Eu virei uma mulher!
Nova mulher - Eu também virei!
Foi assim que acabou. Quando
amanheceu, os outros ficaram
olhando para eles, mas o que
poderiam fazer, eles já tinham
virado mulher mesmo. Então eles
foram embora e chegaram na
aldeia no final da tarde. D40
Os que viraram mulher não foram
para casa encontrar suas esposas,
ficaram envergonhados e foram
para a casa de suas famílias. Então
essa é a história do Hartãt.
 Contadores da História
Domingos Crate Krahô
José Miguel Kõcjõ Krahô
Martinho Zezinho Ikrehôhtât Krahô
Raimundo Zezinho Pohprà Krahô
Transcrição da História
André Cunĩhtyc Krahô
Edmar Cupahkà Krahô
Edson Xôhtyc Krahô
Isauro Krô-krôc Krahô
Juliene “Bá” Rõrcaxa Krahô
Marciana Amxykwỳj Krahô
Marquinhos Ihpêrxwa Krahô
Miguelito Cawkre Krahô
Tradução
Edson Xôhtyc Krahô
Felipe Kometani Melo (Ihxẽc)
Isauro Krô-krôc Krahô
Maíra Lopes Pedroso ( Pyhtô)
Vitor de Aratanha Maia Araújo (Jaje)
Revisão do mẽhĩ jarkwa
Edson Xôhtyc Krahô
Isauro Krô-krôc Krahô
Domingos Crate Krahô contando a história Texto final em mẽhĩ jarkwa
Isauro Krô-krôc Krahô
Revisão da língua portuguesa
Felipe Kometani Melo (Ihxẽc)
Maíra Lopes Pedroso (Pyhtô)
Vitor de Aratanha Maia Araujo (Jaje)
Texto final em português
Maíra Lopes Pedroso (Pyhtô)
Ilustrador
Daniel Rêj Krahô
Coloristas
Carlúcio Jahhe Krahô
Daniel Rej Krahô
Fonte Candara Fotografias
Papel Capa - Cartão Supremo 300 g/m2 Ana Gabriela Morim de Lima (Krãpej) - p 4, 95
Miolo - Lux Cream 80 g/m2 André Cunĩhtyc Krahô - Foto 6
Felipe Kometani Melo (Ihxẽc) Fotos 1, 2, 4, 5, 7
Gráfica Walprint Edmar Cupahkà Krahô - p 96
Este projeto foi contemplado pela Secretaria Edson Xôhtyc Krahô - Foto 3
de Estado da Cultura do Tocantins – SECULT Projeto gráfico
e Fundação Cultural do Estado do Tocantins – Gérome Ibri (Cacôxên) - Studio MOVA
FUNCULT no PRÊMIO IDJARURI KARAJÁ 2011, de Áudio e Vídeo
Apoio à Preservação das Tradições Indígenas Mentuwajê Guardiões da Cultura
Apresentação e Organização
Centro Cultural Kàjre
Assistência Técnica do Projeto
Felipe Kometani Melo (Ihxẽc)
Maíra Lopes Pedroso (Pyhtô)
Vitor de Aratanha Maia Araújo (Jaje)