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O contributo da ajuda humanitária aos deslocados do conflito armado em um centro de

reassentamento na região norte de Moçambique

Abdulsatar Ussene Assane


abdulsataru@yahoo.com

Nelson Roaneque
nelsonroaneque@gmail.com

Wilson Francisco Uaniheque


wuaniheque@ucm.ac.mz

Resumo

O presente artigo apresenta algumas considerações teóricas relativas ao contributo da ajuda humanitária
aos deslocados do conflito armado em um centro de reassentamento na região norte de Moçambique. A
província de Cabo Delgado, no Norte de Moçambique que tem vindo a sofrer ataques terroristas, estes
ataques iniciaram no distrito de Mocímboa da Praia e expandiram-se para outros distritos. Desde a eclosão
dos conflitos armados em Cabo Delgado que abrangeu milhares de pessoas o que obrigou que as mesmas
abandonassem suas residências apenas com a roupa que levavam no corpo em busca de melhores lugares
longe dos conflitos. O artigo ora em investigação científica convergiu no estudo de revisão bibliográfica,
em leituras das diferentes obras, manuais, revistas científicas artigos e utilizada uma metodologia de
abordagem qualitativa que consistiu na produção deste conhecimento. Em forma de considerações finais
frisou-se que o contributo da ajuda humanitária aos deslocados do conflito armado é satisfatória, pois a
resposta a esta situação organizações nacionais, internacionais e governo local vem apoiando famílias
deslocadas, incluindo crianças e jovens em várias frentes, mas apesar disto, há falta de uma estratégia
integradora que está a resultar numa maior pressão sobre os escassos recursos e serviços pré-existentes
nessas comunidades. Essa equação difícil requer uma reflexão profunda e mais eficaz para não repetir erros
do passado e construir um futuro melhor.
Palavras-chave: ajuda humanitária; deslocados; reassentamento.

Abstract

This article presents some theoretical considerations regarding the contribution of humanitarian aid to
people displaced by the armed conflict in a resettlement center in the northern region of Mozambique. The
province of Cabo Delgado, in the north of Mozambique, which has been suffering terrorist attacks, these
attacks started in the district of Mocímboa da Praia and expanded to other districts. Since the outbreak of
armed conflicts in Cabo Delgado, which encompassed thousands of people, which forced them to leave
their homes with only the clothes they were carrying in search of better places away from the conflicts. The
article now in scientific research converged in the study of bibliographic review, in readings of different
works, manuals, scientific journals articles and used a methodology of qualitative approach that consisted
in the production of this knowledge. In the form of final considerations, it was stressed that the contribution
of humanitarian aid to those displaced by the armed conflict is satisfactory, since the response to this
situation national, international organizations and local government has been supporting displaced families,
including children and young people on several fronts, but despite In addition, there is a lack of an
integrative strategy that is resulting in greater pressure on the scarce resources and pre-existing services in
these communities. This difficult equation requires deep and more effective reflection in order not to repeat
past mistakes and build a better future.
Keywords: humanitarian aid; displaced; resettlement.

Introdução

A História mostra claramente que o terrorismo não é um fenómeno novo é um fenómeno que
remonta desde os tempos mais antigo, actualmente com inúmeras metamorfoses que vem
transcorrendo vários anos em diferentes pontos do mundo, onde dependendo de contexto as
motivaes para cenários destes podem ser diversificados desde as motivações económicas, politicas,
religiosas entre outras como foi anteriormente foi frizado.

No mundo contemporâneo, particularmente no período pós-guerra fria, no Médio Oriente,


emergiram dois movimentos terroristas de inspiração jihadista, baseada no radicalismo islâmico,
designadamente o Al Qaeda, Taliban e Estado Islâmico. O primeiro ganhou notoriedade mundial
quando atacou as Torres Gêmeas e o Pentágono, nos Estados Unidos da América, em 2001, e o
último pelas suas células espalhadas no mundo e os ataques armados exporádicos que vêm
perpetrando na Oceania, Ásia, Europa e provavelmente em África (Artur, at al, 2021).

Nesta onda, desde Outubro de 2017 a 2020, a província de Cabo Delgado, no Norte de
Mocambique, tem vindo a sofrer ataques terroristas dos ”Al Shabaab”. Os ataques iniciaram no
distrito de Mocímboa da Praia e expandiram-se para outros distritos, nomeadamente: Macomia,
Quissanga, Ibo, Muidumbe, Nangade, Palma e Meluco.

As consequências deste fenómeno são multidimensionais, partindo da destruição de residências


particulares e edifícios de entidades públicas e privadas; paralisação dos serviços básicos de
educação e saúde; saque a estabelecimentos comerciais; estagnação económica devido à falta de
circulação regular de pessoas e bens; morte de cerca de mil pessoas; até ao deslocamento de mais
de quinhentas mil pessoas para várias zonas da província e do país.

Face a este fenómeno, a resposta do Governo de Moçambique, desde o início, foi e continua a ser
de colocar contigentes das Forcas de Defesa e Seguranca (FDS) para combater os terroristas e
proteger as populações. Não só, mas como também o governo junto aos parceiro tem envidado
esforços no sentido de apoiar as populações afectadas por esta situação em viveres, diante disto,
pretende-se saber qual é o contributo da ajuda humanitaria aos deslocados do conflito armado em
um centro de reassentamento na região norte de moçambique?

1. Ajuda humanitária

A ajuda humanitária é aquela prestada à população vítima de deslocamento para garantir o acesso
a serviços básicos como alimentação, assistência médica, água ou abrigo. As causas do
deslocamento podem ser desastres naturais, guerras ou conflitos armados. Elas são chamadas de
emergências humanitárias.

Segundo Weiss (2014), a palavra “humanitarismo” está relacionada com moralidade e princípio.
O principal objetivo é ajudar populações que estão passando por dificuldades e se encontram em
posição vulnerável, por isso não importa quem são, onde estão e qual as necessidades.

Diversos autores pontuam este caráter nobre das ações humanitárias e a ascensão do
humanitarismo devido as grandes guerras que aconteceram. Baptista (2008), por sua vez, enfatiza
que os primeiros esboços do humanitarismo já podem ser notados na Alta Idade Média e que a
noção de assistência e princípios morais se enraizaram na sociedade.

A Ajuda Humanitária é, por definição, toda e qualquer ação que contribua de forma imediata e
eficaz para minimizar os efeitos das catástrofes de vária natureza junto das populações diretamente
afetadas.

A ajuda humanitária é a assistência material, logística, moral, legal e até mesmo espiritual prestada
para fins de conforto social humanitários. A ajuda humanitária vem em resposta a calamidades
eventuais ou crônicas, normalmente motivada por crises humanitárias, incluindo desastres naturais
e desastres provocados pelo homem.

O principal objetivo da ajuda humanitária, é aliviar o sofrimento de populações atingidas,


consequentemente, mantendo a dignidade humana, salvando vidas e minimizando os desastres
secundários. Por conseguinte, pode ser distinguida da ajuda ao desenvolvimento, que procura
abordar os fatores subjacentes socioeconômico que pode ter levado a uma crise ou de emergência.

O conceito tradicional de ajuda humanitária no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU)
foi modificado ao longo do tempo. Na Carta da ONU, as operações de apoio à paz são consideradas
como a interposição de pessoal militar e civil multinacional entre Estados ou comunidades hostis
com vista a criar as condições para resolução pacífica dos conflitos através da negociação (Eric,
2008).

Devido a própria evolução da situação internacional que esse conceito foi se modificando, segundo
Milnear (2002) atualmente, a ajuda humanitária engloba todas as atividades desenvolvidas com a
finalidade de prevenir, manter, restabelecer, impor e consolidar a paz, mas também as que tem
como finalidade minorar os efeitos negativos dos conflitos violentos nas populações,
especialmente onde autoridades responsáveis não tem possibilidade ou se recusam fornecer
aquelas populações o apoio que elas precisam.

O objetivo das operações humanitárias não deve ser apenas de salvar vidas em circunstâncias de
emergência, mas também encontrar soluções e integrar os esforços humanitários em programas de
desenvolvimento.

1.1. Ajuda e Intervenção humanitária

O setor humanitário no decorrer dos anos passou por constantes evoluções e, por isso, é difícil
definir esta área. No entanto, é considerado uma comunidade em que atores interagem, colaboram
e coordenam acções para conseguir seu principal objetivo, que seria proteger a vida e dignidade
de civis vulneráveis por causa de conflitos ou por desastres naturais.

A ajuda humanitária na percepçaõ de Euprha, (2013) segue três condutas:

 Primeiro, foco em fornecer as necessidades mais básicas e acontece imediatamente em


situações de conflito ou crise humanitária;

 Segundo, consiste também em atividades para restabelecer locais afetados e tornar a região
habitável novamente;

 Por fim, engloba todas as atividades que asseguram assistência, reabilitação e reconstrução.

Segundo Stromberg (2007), o motivo para realizar ajuda humanitária é oferecer um bem maior ao
salvar vidas e reduzir o sofrimento. No entanto, alguns desastres podem acontecer em Estados com
infraestrutura pobre, o que é um problema que limita a efetividade da ajuda.
Por isso, de acordo com Riddell (2009), além de ajudar os civis em vulnerabilidade, começam a
emergir como parte da ajuda humanitária, após a Guerra Fria, projetos de reconstrução, para que
os efeitos sejam de longo prazo e que os civis continuem vivos após a ajuda imediata. Acerca dos
conflitos que apresentam desafios e que prejudicam os civis, alguns exemplos são “efeitos diretos
da violência, bem como doenças, movimentos populacionais forçados e declínio econômico”
(Everett, 2016, p. 312).

Outro tipo é o terrorismo, que é promovido por diferentes grupos e podem ser radicais políticos ou
até mesmo religiosos fundamentalistas. O principal perigo é o seu potencial de ter acesso a armas
perigosas, além disso, é um problema que não é facilmente resolvido (Strbac; Petrusic; Terzic,
2007).

A Ajuda Humanitária pode acontecer em três ocasiões:

 Primeiro, quando há violência relacionada a política, e não somente a desastres naturais.


 Segundo, pode acontecer quando os civis sofrem de forma direta, ou seja, são mortos, ou
de forma indireta, em que acontece inanição, doenças e deslocamento de sua região.
 Por fim, quando as autoridades locais demonstram que não vão ou não conseguem suprir
as necessidades dos civis.

Outra conduta dos atores envolvidos em ajuda humanitária, é fornecer assistência para refugiados,
ou seja, os civis que saíram de suas regiões devido algum conflito ou distúrbio, mas, além disso, a
ajuda humanitária funciona também para prevenir que aconteça um fluxo massivo de refugiados,
pois pode provocar instabilidade regional caso o país hospedeiro não tenha capacidade de suprir
as necessidades deste grupo (Choi; Salehyan, 2013; Everett, 2016).

No entanto, com a nova conjuntura do século XXI, que tem por referência o DIH, proteger a
dignidade e os direitos fundamentais de qualquer ser humano se tornou essencial e a própria forma
de conduzir a ajuda humanitária se expandiu, por isso não só as necessidades humanas são levadas
em consideração, mas sim os direitos humanos em geral.

1.2. Dimensões da Ajuda Humanitária

A ajuda humanitária tem suas operações voltadas principalmente para três ações. Primeiro,
fornecer assistência, conforto e proteção em operações que preservam e salvam vidas. Segundo,
as acções visam facilitar ou obter acesso aos civis, pois assim podem prover a proteção e
assistência adequadas. Por fim, reforçar a preparação para desastres e reduzir os riscos, os atores
procuram desenvolver capacidades em atores locais e prevenir os possíveis impactos de desastres
ou conflitos (Euprha, 2013).

No que se refere as atividades realizadas em acções de ajuda humanitária, temos a “ajuda


alimentar” como o principal componente e, além desta acção, acontece contratação de pessoal
local, compras de bens ou meios de transportes e realização de acordos para que se possa realizar
de forma mais eficaz a ajuda. Porém, mesmo que seja extremamente importante fornecer
alimentos, também é uma ajuda que recebe críticas devido a gerar conflitos. O que pode aumentar
as hostilidades e promover conflitos, são governos ou grupos receberem a ajuda e não as direcionar
para todos que necessitam.

Além disso, há o problema de roubo ou grupos que podem impedir que os civis tenham acesso aos
alimentos, e assim passam a usufruir da forma que desejam ou destroem as mercadorias (Blouin;
Pallage, 2008; Nunn; Qian, 2014).

A ajuda alimentar também é regida por normas de DI, dentre elas a Food Aid Convention (1999),
e o princípio da acção humanitária tem como objetivo salvar vidas e reduzir o sofrimento, no
entanto, nem sempre a ajuda alimentar é realizada de forma altruísta. O auxílio alimentar se divide
em dois: a assistência alimentar e a ajuda alimentar.

A primeira pode envolver a doação de dinheiro para a compra de alimentos, barateamento de


preços e fornecimento de alimentos para serem consumidos no local. Tem o papel de proporcionar
alívio em casos de emergência e promover a estabilização dos locais afetados.

A segunda, ajuda alimentar, é um auxílio por commodities e pode complementar a própria


assistência e pode ocorrer de três formas: uma ajuda direta, com entrega dos alimentos adquiridos;
transações triangulares, em que a compra do alimento é feita em países em desenvolvimento;
compras locais, em que o alimento é adquirido na própria região onde será também recebido (Lima;
Rensi; Belmonti, 2016).

O objetivo é que o máximo de civis tenha acesso aos bens básicos e a serviços, pois a ausência dos
mesmos poderia provocar, e provoca, risco de doenças e morte. Além de alimentos, são fornecidos
remédios, assistência médica, e abrigos para civis que perderam suas residências em conflitos,
guerras ou desastres naturais. Outro ponto é a reconstrução dos locais e reabilitação desses civis.

O importante é ajudar antes “que seja tarde demais”, e qualquer vítima, que pode ser de
inundações, tsunamis, guerras e conflitos civis (Riddell, 2009). A criação de estruturas capazes de
consolidar o trabalho realizado e o apoio a reabilitação, juntamente com projetos de
desenvolvimento, acontece devido a percepção de uma insuficiência na ajuda humanitária
tradicional.

Também se torna relevante que ao montar abrigos, para receber os civis e fornecer a assistência,
seja realizado cálculos da quantidade de pessoas e o provável período de permanência para que
possa ser disponibilizado a água, alimentos, dormitórios, lavabos, medicamentos. É uma logística
e cálculo de custos e recursos para a realização de uma boa Ajuda Humanitária (Baptista, 2008).

Assim como fornecem ajuda para os que permanecem nos locais em problemas, também existe a
ajuda aos refugiados que saíram de suas regiões.

1.3. Deslocados de guerra

Deslocados são pessoas forçadas a sair de suas casas ou lugar de residência habitual, fenômeno
conhecido como migração forçada.

De acordo com a ACNUR, o número de deslocados à força no mundo inteiro era de 59,5 milhões
no final de 2014, o número mais alto desde a Segunda Guerra Mundialː 19,5 milhões eram
refugiados, 1,8 milhões requerentes de asilo e 38,2 milhões deslocados internos.

O termo foi primeiramente amplamente utilizado durante a II Guerra Mundial e os consequentes


fluxos de refugiados da Europa Oriental, quando o termo foi utilizado especificamente para se
referir a uma pessoa removida de seu país natal como um refugiado, prisioneiro ou um escravo
trabalhador. O significado ampliou significativamente na última metade do século passado. Uma
pessoa deslocada pode também ser referida como um migrante forçado.

O termo "refugiado" é também comumente usado como sinônimo de pessoa deslocada, causando
confusão entre as pessoas que deixaram a sua casa e o subgrupo de refugiados legalmente definidos
que gozam de proteção legal internacional. A maioria das vítimas de guerra, refugiados políticos
e deslocados pós-Segunda Guerra Mundial eram ucranianos, poloneses e outros povos eslavos,
assim como os cidadãos dos estados Bálticos - lituanos, letões e estonianos, que se recusavam a
voltar para o Leste Europeu dominado pela União Soviética (Lubomyr, 2000).

Em Moçambique, a população de Cabo Delgado, província da região norte continua a fugir desde
que, em 2017, começou uma insurreição liderada por grupos jihadistas armados. Conforme o
último relatório da Organização Internacional para as Migrações (OIM), o número de deslocados
na província aumentou em 7% entre dezembro e fevereiro, ou seja, cerca de 50 mil pessoas.

Atualmente, as pessoas deslocadas são 784.000. Entre as causas do aumento do número de


deslocados internos estão os ataques de rebeldes armados nas áreas de Nangade, Meluco, Macomia
e no arquipélago de Quirimbas, como também na província de Niassa.

2. Ajuda Humanitária em centros de reassentamento

Desde a eclosão dos conflitos armados em Cabo Delgado que abrangiu milhares de pessoas o que
obrigou que as mesmas abandonassem suas residências apenas com a roupa que levavam no corpo
em busca de melhores lugares longe dos conflitos.

Segundo a organização internacional Ajuda em Acção (2021), esta organização juntamente com
outras e as autoridades locais vem apoiando famílias deslocadas, incluindo crianças e jovens em
varias frentes: abrigo, acesso a agua e saneamento básico, educação e proteção de vitimas
violência.

Importa ainda referir que as necessidades vão muito além de abrigo e segurança, especialmente no
caso das crianças que precisam de assistência alimentar e médica, apoio psicológico, formação
educativa e ferramentas que lhes permitam construir e idealizar um futuro melhor, distante da
violência que conheceram nos últimos anos e que terá um grande impacto a longo prazo na sua
vida, embora ainda difícil de avaliar.

São providenciados bens de primeira necessidade, presta-se apoio na construção de abrigos para
as famílias, constroem-se e reabilitam-se pontos de acesso a água, latrinas e instalações higiénicas,
distribuem-se kits de higiene e de dignidade e constroem-se salas de aulas, de modo a garantir o
acesso à educação e a proteção dos direitos dos grupos mais vulneráveis, as crianças (Ajuda em
Acção, 2021).
Actualmente, as pessoas deslocadas pela guerra em Cabo Delgado perderam os seus meios de
subsistência e correm o risco de se tornarem cronicamente dependentes da ajuda humanitária. “A
vulnerabilidade estrutural e histórica da população é outro factor que agrava muito a situação”,
Marty (2023).

Alguns dos dados expostos no relatório que mostram esta vulnerabilidade são:

 44% da população vive abaixo da linha da pobreza.


 52% estão desnutridos e 19% sofrem de desnutrição crónica.
 A expectativa de vida é de 48 anos.
 46% não têm acesso à água e a uma rede pública de qualidade.
 Apenas 16% têm acesso à eletricidade.

Apesar dos esforços de algumas organizações não governamentais nos clusters que tentaram
diferenciar as realidades das pessoas deslocadas e incluir as comunidades de acolhimento nas
operações humanitárias, a resposta de emergência do governo e das Nações Unidas tem sido
baseada, fundamentalmente, em responder de forma universal e uniforme às necessidades
imediatas de sobrevivência das populações deslocadas. No entanto, a duração do conflito e a
escassez de recursos para mitigar a crise não conseguiram alcançar seus objetivos. Os sistemas e
serviços relacionados à assistência de emergência em Cabo Delgado requer numa reforma para
introduzir abordagens adequadas e ações que permitam, ao mesmo tempo, atender às necessidades
imediatas, recuperar a dignidade, meios de subsistência e a paz das comunidades afetadas.

Um dos principais desafios é procurar e implementar estratégias integradoras que possibilitem


lidar com as carências das comunidades deslocadas e de acolhimento, e reduzir a intensidade dos
conflitos sociais.

A falta de uma estratégia integradora está a resultar numa maior pressão sobre os escassos recursos
e serviços pré-existentes nessas comunidades (pontos de água, acesso a terras cultiváveis, escolas,
centros de saúde e hospitais, etc). Essa equação difícil requer uma reflexão profunda e mais eficaz
para não repetir erros do passado e construir um futuro melhor.

Metodologia
O artigo ora em investigação científica convergiu no estudo de revisão bibliográfica, em leituras
das diferentes obras, manuais, revistas científicas artigos e utilizada uma metodologia de
abordagem qualitativa que consistiu na produção deste conhecimento.

A pesquisa, foi necessária na selecção e desenvolvimento de leituras profundas das diversas obras,
com conteúdos relacionados e com maior enfoque da sua área temática, na qual foram compiladas
todas as informações fundamentais para o estudo.

De acordo com Gil, (1999), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de matéria já


produzida, constituída especialmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os
estudos seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas e realizadas
só e somente, exclusivamente a partir de fontes bibliográficas.

Considerações finais

O contributo da ajuda humanitária aos deslocados do conflito armado em um centro de


reassentamento na região norte de Moçambique, é tema do presente artigo.

A ajuda humanitária é aquela prestada à população vítima de deslocamento para garantir o acesso
a serviços básicos como alimentação, assistência médica, água ou abrigo. As causas do
deslocamento podem ser desastres naturais, guerras ou conflitos armados. Elas são chamadas de
emergências humanitárias.

O principal objetivo da ajuda humanitária, é aliviar o sofrimento de populações atingidas,


consequentemente, mantendo a dignidade humana, salvando vidas e minimizando os desastres
secundários. Por conseguinte, pode ser distinguida da ajuda ao desenvolvimento, que procura
abordar os fatores subjacentes socioeconômico que pode ter levado a uma crise ou de emergência.

A ajuda humanitária tem suas operações voltadas principalmente para três ações. Primeiro,
fornecer assistência, conforto e proteção em operações que preservam e salvam vidas. Segundo,
as acções visam facilitar ou obter acesso aos civis, pois assim podem prover a proteção e
assistência adequadas. Por fim, reforçar a preparação para desastres e reduzir os riscos, os atores
procuram desenvolver capacidades em atores locais e prevenir os possíveis impactos de desastres
ou conflitos (Euprha, 2013).
No que se refere as atividades realizadas em acções de ajuda humanitária, temos a “ajuda
alimentar” como o principal componente e, além desta acção, acontece contratação de pessoal
local, compras de bens ou meios de transportes e realização de acordos para que se possa realizar
de forma mais eficaz a ajuda. Porém, mesmo que seja extremamente importante fornecer
alimentos, também é uma ajuda que recebe críticas devido a gerar conflitos. O que pode aumentar
as hostilidades e promover conflitos, são governos ou grupos receberem a ajuda e não as direcionar
para todos que necessitam.

Abordou-se também sobre deslocados que são pessoas forçadas a sair de suas casas ou lugar de
residência habitual, fenômeno conhecido como migração forçada.

De acordo com a ACNUR, o número de deslocados à força no mundo inteiro era de 59,5 milhões
no final de 2014, o número mais alto desde a Segunda Guerra Mundialː 19,5 milhões eram
refugiados, 1,8 milhões requerentes de asilo e 38,2 milhões deslocados internos.

Em Moçambique, a população de Cabo Delgado, província da região norte continua a fugir desde
que, em 2017, começou uma insurreição liderada por grupos jihadistas armados. Conforme o
último relatório da Organização Internacional para as Migrações (OIM), o número de deslocados
na província aumentou em 7% entre dezembro e fevereiro, ou seja, cerca de 50 mil pessoas.

Desde a eclosão dos conflitos armados em Cabo Delgado que abrangeu milhares de pessoas o que
obrigou que as mesmas abandonassem suas residências apenas com a roupa que levavam no corpo
em busca de melhores lugares longe dos conflitos.

Segundo a organização internacional Ajuda em Acção (2021), esta organização juntamente com
outras e as autoridades locais vem apoiando famílias deslocadas, incluindo crianças e jovens em
varias frentes: abrigo, acesso a agua e saneamento básico, educação e proteção de vitimas
violência.

Importa ainda referir que as necessidades vão muito além de abrigo e segurança, especialmente no
caso das crianças que precisam de assistência alimentar e médica, apoio psicológico, formação
educativa e ferramentas que lhes permitam construir e idealizar um futuro melhor, distante da
violência que conheceram nos últimos anos e que terá um grande impacto a longo prazo na sua
vida, embora ainda difícil de avaliar.
Um dos principais desafios é procurar e implementar estratégias integradoras que possibilitem
lidar com as carências das comunidades deslocadas e de acolhimento, e reduzir a intensidade dos
conflitos sociais.

A falta de uma estratégia integradora está a resultar numa maior pressão sobre os escassos recursos
e serviços pré-existentes nessas comunidades (pontos de água, acesso a terras cultiváveis, escolas,
centros de saúde e hospitais, etc). Essa equação difícil requer uma reflexão profunda e mais eficaz
para não repetir erros do passado e construir um futuro melhor.

As consequências deste fenómeno são multidimensionais, partindo da destruição de residências


particulares e edifícios de entidades públicas e privadas; paralisação dos serviços básicos de
educação e saúde; saque a estabelecimentos comerciais; estagnação económica devido à falta de
circulação regular de pessoas e bens; morte de cerca de mil pessoas; até ao deslocamento de mais
de quinhentas mil pessoas para várias zonas da província e do país.

Referências bibliográficas

Baptista, J. L. (2008). Acção humanitária: notas teôricas a relato de uma experiência pessoal.
Cadernos de Estudos Africanos.

Blouin, M.; Pallage, S. (2008). Humanitarian Relief and Civil Conflict. Journal of Conflict
Resolution.

Choi, S.; Salehyan, I. (2013). No Good Deed Goes Unpunished: Refugees, Humanitarian Aid, and
Terrorism. Conflict Management and Peace Science

EUPRHA (European Universities on Professionalization on Humanitarian Action). (2018) The


State of Art of Humanitarian Action: A Quick Guide on the current situation of
Humanitarian. Relief, its Origins, Stakeholders and Future.

Everett, A. (2013). “Post-Cold War Complex Humanitarian Emergencies: Introducing a New


Dataset”. Conflict Management and Peace Science.

Lima, T; Rensi, J; Belmont, F. (2016). A Ajuda Alimentar Internacional em Guerras Civis: alívio
humanitário ou intensificação de flagelos? Revista de Estudos Internacionais
Gil, A. C. (1996). Como elaborar projetos de pesquisa. (3. ed), São Paulo: Ed. Atlas.

Ajuda em Acção (2021) https://ajudaemacao.org//cabo-delgado-ong-ajuda-em-acao-apoia-mais-


de-34-mil-criancas-deslocadas-no-distrito-de-metuge/

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