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Sociologia do Trabalho

Objeto(s) e paradigmas teóricos da Sociologia do Trabalho

O que é a sociologia do trabalho?

É uma das sociologias mais amplas e possui algumas definições tais como:

– “A sociologia do trabalho deve ser considerada, na sua extensão mais vasta,


como o estudo, sob os seus diversos aspetos, de todas as coletividades humanas
que se constituem graças ao trabalho” (Friedmann, 1964: 26), isto é, dá-nos uma
perspectiva de compreensão dos diversos aspetos através da análise das relações
sociais das coletividades humanas que se estabelecem no trabalho.

– “A sociologia do trabalho é, evidentemente e antes de mais, uma sociologia


que se dedica, diferentemente, de outras ao estudo particular dos fenómenos
ligados ao trabalho” (Freire, 2002: 13) ou por outras palavras, é um olhar
sociológico sobre os fenómenos ligados ao trabalho.

Contributos decisivos para a afirmação da sociologia do trabalho

– Georges Friedmann (1902-1977)


 Le travail en miettes (trabalho de migalhas), 1956.
Uma preocupação com o nível de monotonia a que o trabalho do operário
estava sujeito segundo o princípio do fordismo (o trabalhador é despojado
da sua profissão). O autor tenta mostrar como o trabalho transformado em
trabalho industrial é algo que desqualifica o trabalhador.
 Traité de sociologie du travail, 1964 (organizado em colaboração com P.
Naville).

– Elton Mayo (1880-1949)


The human problems of an industrial civilization, 1933.
The social problems of an industrial civilization, 1949.

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Começa por fazer investigações sobre as relações de trabalho e os níveis de
produção dos trabalhadores, isto é, de que modo as condições físicas dos
trabalhadores influenciavam o comportamento dos trabalhadores.
As relações humanas e relações sociais compõem uma dimensão informal, e a
partir daí, começa-se a perceber numa dimensão mais distante, que se não
houver uma sintonia entre a organização formal e a informal pode haver
problemas.
Georges Friedmann e Elton Mayo
Estes dois autores permitiram que os sociólogos tivessem uma base, dizendo que
não bastava as questões físicas e estruturais, mas deve-se ter em conta uma
multiplicidade de aspetos quando vamos estudar o trabalho.

Pensemos sobre o modo como se usa mas palavras trabalho e emprego no dia-a-
dia…. Será que foi sempre assim?
Trabalho Emprego
É um termo mais abrangente onde nós estamos a Tudo o que é emprego é
estudar muito mais que o emprego, isto é, esta para trabalho mas nem todo o
além da noção de emprego apesar de incluir trabalho é emprego.
também essa noção. – Ocupação de um posto de
– Diz respeito a atividades com utilidade social que trabalho
podem ou não ser remuneradas. – É remunerado
– Inclui atividades de produção e distribuição de – Implica um estatuto, exemplo,
bens e serviços, passíveis de transação na esfera trabalho por conta de outrem,
económica. trabalho por conta própria.
– Atividades que não sendo passíveis de transação – Não ocorre exclusivamente na
na esfera económica têm utilidade social. Explo: esfera mercantil, há também
trabalho doméstico não remunerado, trabalho uma prestação de serviço
voluntário. público.
É importante esta distinção quando falamos de beneficiários de licença em que
podemos ver que também estão envolvidas questões de género no sentido em
que nos mostra como a sociedade reproduz no sentido em que as mulheres são
aquelas que trabalham e os homens é que estão nos “empregos”.

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Alguns temas atuais de investigação da Sociologia do Trabalho

– Organizações (como é que os trabalhadores estão distribuídos pelos diferentes


postos de trabalho), tecnologia (como é que os seus processos produtivos estão
estruturados) e organização do trabalho.

– Qualificações, formação profissional, carreiras, remuneração – tudo que tem a


ver com escolarização, diferentes níveis de escolaridade em idade ativa, a
formação, isto tudo tem interesse para a sociologia do trabalho.

– Culturas e identidades profissionais – existem diferentes grupos profissionais


que desenvolvem diferentes culturas profissionais podemos ver isso através das
diferentes posturas que estes profissionais assumem (explo: um advogado e a
postura de um comerciante)

– Profissões e carreiras profissionais

– Desigualdade e mercado de trabalho – esta na ordem dos problemas do dia.


Remete-nos para diferentes temáticas, tais como, desigualdades de género no
mercado de trabalho, imigrantes (aceitam condições precárias, as vezes, por
estarem ilegais). Também pode-se colocar ao nível da qualificação (explo: nível
de escolaridade muito baixo sentem mais dificuldade em arranjar trabalho).

– Precariedade, flexibilidade e mercado de trabalho – tem que ver com a ideia do


modelo de emprego típico por um trabalho a tempo inteiro sem duração
determinada mas podemos ver que existem outras formas de contratuais que se
diferenciam desse modelo de estabilidade (part-time, contrato a longo termo)

– Divisão internacional do trabalho, migrações e movimentos espaciais da mão-


de-obra – as transnacionais que distribuem as organizações pelo mundo
concentram por vezes os mais qualificados num país e os menos qualificados
noutro, logo uma organização não pode ser vista só como membros do espaço
nacional, ela vai para o internacional.

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– Conciliação trabalho – é necessário incluir a vida privada de modo a concilia-la
com o trabalho.

– Organização do tempo de trabalho

– Relações laborais, atores sociais do trabalho, movimentos sociais ligados ao


trabalho – as condições oferecidas a alguém que trabalhe a tempo inteiro é
diferente a tempo parcial. O sindicalismo é decisivo e fundamental para garantir
certos aspetos fundamentais aos trabalhadores.

A sociologia do trabalho e algumas outras sociologias…

– Sociologia industrial – não se ocupa apenas da análise e do trabalho da


indústria mas preocupa-se também com a própria estruturação da indústria.

– Sociologia das organizações – afinidade porque a sociologia do trabalho


também se preocupa com o que acontece nas organizações, em termos
produtivos, remunerações, etc. Estas são muito bem relacionadas entre si.

– A sociologia do trabalho e a gestão é uma relação que pode ter associada


alguma tensão porque o gestor dedica-se a decidir e essa decisão pode ser
apoiada, ou não, pelo olhar sociológico existente na organização, isto é, a
sociologia vai estar entre o aconselhamento e a decisão (são fontes de
aconselhamento)

Contribuições dos clássicos para a Sociologia do Trabalho (Grint, 1998)

Marx (1818-1883)

 Foco no capitalismo e nas injustiças que o caracterizam. O sistema capitalista


tem como objectivo a venda no mercado de modo a obter lucro.
 Objetivação (tem que ver com aquilo que resulta do trabalho dos homens
sobre as matérias primas, ou seja, incorporação do trabalho do homem
sobre as matérias primas) e alienação (é algo de problemático porque

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implica diferentes formas que são negativas para os homens e para os
proletários). Podemos ver isso nas diferentes formas de alienação:
1) Ausência de controlo do trabalhador sobre o produto (aquilo que o
trabalhador produz é apropriado pelo capitalista que depois o vai
vender)
2) Alienação dos trabalhadores em relação às tarefas (deixa de ser criativo e
passa a ter uma alienação em relação à tarefa que faz)
3) As relações sociais são reduzidas a trocas de mercadorias (ele vende a
sua força de trabalho contribuindo para a existência de um
desenvolvimento de dinâmicas de interesses de uns contra os outros)
4) Repetição mecânica dos trabalhadores (aproximar o homem a uma
condição de animalidade)
 Exploração – acontece quando há uma relação desigual entre trabalho e
salario. Isto era explicado por Marx através da reflexão sobre os preços das
mercadorias e o preço do mercado e a mais-valia absoluta e relativo. O preço
é definido pelo Marx através do tempo socialmente necessário para
produção de uma mercadoria, esse tempo vai depender das condições
tecnológicas tendo em conta o nível de intensidade e produtividade que
caracterizavam o sector de actividade onde a mercadoria é produzida.
Reflexão do preço desencadeia o preço da mercadoria – o preço de um dia
de trabalho é o equivalente a produção de mercadoria cujo valor assegura a
sobrevivência do trabalhador durante esse dia, ou seja, o preço do
trabalhador corresponde ao valor diário da mercadoria que seria necessário
para a sobrevivência do trabalhador durante um dia.
Trabalho excedente – produz valor que não beneficia o trabalhador.
Mais-valia relativa – produz-se levando o trabalhador a produzir a
mercadoria num tempo de produção mais curto, isto é, pela intensificação
do ritmo de trabalho, e nós só conseguimos isso através de uma organização
do trabalho e da tecnologia.
Mais-valia absoluta – mais horas de trabalho

Decorrências:

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→ Processo universal de desqualificação – o controlo que o trabalhador tinha no
passado sobre o seu trabalho estava a desaparecer e isso gerava uma massa de
trabalhadores em condições semelhantes (excesso universal de desqualificação).
→ Hierarquização salarial – uma forma de dividir os trabalhadores no sentido
contrariar dinâmicas de aproximação.
→ Tecnologia, controlo do processo de trabalho e eficiência técnica – vão
permitir que a exploração do trabalhador se desenvolva e vão extraindo
produtividade ao trabalhador.
→ Exército de reserva – conjunto máximo de indivíduos que estão disponíveis
para trabalhar, isto é, uma massa disponível para trabalhar disposta a receber
salários baixos, bem como, vítimas de uma pressão e obrigação de aceitar as
condições de degradação do trabalho em que encontram para manter os seus
empregos.

Durkheim (1858-1917)

– Foco na sociedade industrial moderna – é o modo de regulação que é


importante desenvolver de modo que esta sociedade fosse mais estável e que
garantisse a coesão social.

– Solidariedade social e coesão – apenas a solidariedade colectiva e a moralidade


podiam fornecer as fundações necessárias para a liberdade individual.
– Solidariedade mecânica – existem grandes eixos estruturantes do trabalho
[idade, sexo] de resto há uma grande similaridade entra as tarefas
desempenhadas pelas pessoas, exemplo, nas sociedades tradicionais as mulheres
tem como função ir buscar agua. Há uma baixa divisão de trabalho logo as
necessidades que há sociedade tem que responder são menores e existe uma
maior diferenciação dos indivíduos. A solidariedade desenvolvida assenta na
semelhança e a consciência coletiva e homogénica sobre a consciência individual
deste modo a tolerância não é aceite. E por outro lado, temos a solidariedade
orgânica que envolve um aglomerado maior de pessoas em que a há uma divisão
acrescida do trabalho porque há uma necessidade de diferenciação. O laço
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desenvolvido deve ser assente na interdependência. Há uma diferenciação que é
necessária, as pessoas vão se especializando em determinadas áreas de modo a
responder às necessidades das sociedades. Cria-se então uma diferenciação
onde há uma interdependência entre as partes onde cada um desempenha uma
especialização tendo em conta o todo.
– Anomia – falta de orientação vai gerar uma insegurança na definição dos
comportamentos na sociedade. Preocupa-se com a diferenciação de funções
associadas à divisão do trabalho na sociedade moderna onde deve prevalecer
uma solidariedade. E temos também a divisão forçada do trabalho onde tem-se
apenas como critério as capacidades das pessoas. Para que haja uma divisão do
trabalho deve existir uma sintonia com as pessoas e não apenas com os
privilégios contribuindo assim para que haja uma estabilidade e coesão das
sociedades, e consequentemente, para estas não podem ser forçadas.
– Regulação social – preocupação em assegurar uma moral que deve ser
estimulada e que vá de acordo com as sociedades mais diferenciadas onde
nestas existe mais divisão do trabalho e onde o tipo de solidariedade social
utilizado é a orgânica.
Weber (1864-1920)

– Racionalidade – tem a ver com uma ação assente na capacidade de cálculo


onde o conhecimento profissional é muito importante, bem como, o uso da
ciência para resolução das questões.

– Burocracia – é onde a racionalidade se desenvolve através de um código


racional que regula toda a organização. Há uma necessidade de ter
conhecimento sobre esse código, ela é fonte de legitimidade. A administração
dessas organizações exija uma formalização avançada. As pessoas são
distribuídas pela hierarquia em função do contributo e do mérito que dão á
organização.

– O desenvolvimento do capitalismo racional moderno – carateriza-se por ser


uma busca racional do lucro para que esse lucro seja maximizado, ou seja, busca
do lucro racionalmente orientado para que o mesmo seja maximizado.

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A racionalização do trabalho – abordagens pré-sociológicas

Estas são abordagens fundamentais para perceber a racionalização sendo que


nós procuramos a compreensão e não a melhor forma.

Frederick Taylor (1856-1915)

– Foco na eficiência, isto é, o objetivo das sociedades é procurar a prosperidade


máxima através da melhor forma para racionalizar o trabalho.

– Ligação entre aumentos da produtividade, aumentos salariais, aumento dos


lucros e baixos preços para os consumidores.

Elementos centrais:

→ Divisão e distinção clara entre conceção e execução, isto é, são necessárias


capacidades de gestão e uma forma de administração)

→ Aplicação à indústria dos princípios do método científico

A organização científica do trabalho (orientações principais):

→ Simplificação das tarefas de execução, isto é, adotam um formato


altamente simplificado onde vão analisar os movimentos que são necessários
para executar determinadas tarefas de modo a que os trabalhadores a possam
executar mais rapidamente.

→ Individualização do trabalho, isto é, há uma separação entre trabalhadores


por via de métodos de administração científica onde o individuo especializa-se só
naquela tarefa num contexto em que se limitam as interações com os outros
trabalhadores.

→ Seleção e formação do pessoal de execução sendo que as pessoas não


devem ser recrutadas aleatoriamente e não devem ser colocadas numa tarefa
sem antes ter tido uma formação porque se o fizessem estariam a comprometer
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os níveis de eficiência que daí resultaram. Tendo isto em conta, vamos escolher o
trabalhador em função das características que ele mostra tendo em conta as suas
capacidades físicas relativamente à tarefa específica que se quer que ela
determina.

→ Existe um papel preponderante dos técnicos porque são eles que vão
assegurar a aplicação dos princípios da administração científica.

→ Taylorização do conjunto da fábrica, isto é, há uma divisão entre a concessão


e a execução sendo que devemos ter a eficiência máxima (racionalização
máxima)

Henry Ford (1863-1947)

– A linha de montagem e o fordismo (criação de uma linha de montagem para


que os trabalhadores não tenham que se deslocar para ir buscar as peças para
execução do produto [o produto vem ter com o trabalhador]. A linha de
montagem é uma forma mecânica que transporta o produto em diferentes fases
de produção entre trabalhadores o que acaba por retirar-lhes o controlo sobre o
seu ritmo de produção onde este é lhes imposto um ritmo de trabalho por
alguém de fora).

Algumas críticas ao taylorismo feitas por diferentes autores.

→ Função ideológica da organização científica do trabalho, isto é, surge como a


one best way para atingir os níveis máximos de produtividade sendo que esta é
apresentada como sendo a melhor forma e de que não deve ser questionável
onde esta forma de apresentar as coisas dissuade a crítica.

→ Excessiva divisão do trabalho (divisão excessividade do trabalho simplifica o


trabalho e torna a relação do trabalhador com o trabalho passa a ser menos
interessante, este fica então mais limitado)

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→ “Psicologia grosseira” do trabalhador industrial onde afirmam que o
trabalhador fica motivado com ganhos financeiros associados ao nível máximo
de máxima eficiência sobre as áreas a que estão a trabalhar.

→ Estratégia capitalista para intensificar a exploração do operariado sendo que o


taylorismo é uma forma de explorar os trabalhadores.

A escola das relações humanas

– Foco: Organização informal e integração social dos trabalhadores. Estamos a


pensar no homem enquanto um ser social, ou seja, um ser que tem de ser
integrado na sociedade. Os indivíduos se integram através da organização
informal (são as relações espontâneas que se desenvolvem entre os indivíduos),
esses acabam por ter sentimentos que os aproximam ou afastam.
– O problema do administrador (Mayo, 1933): Destaca a importância da
necessidade da integração social dos indivíduos que segundo ele deve ser a
principal preocupação que se trata do problema do administrador.
→ Não compreende a complexidade dos fatores humanos inerentes ao trabalho
em conjunto. Segundo ele, as administrações não têm em conta as variáveis que
influenciam o comportamento das pessoas, ou seja, o problema do
administrador dá-se quando não há uma compreensão da complexidade dos
fatores humanos inerentes. De acordo com este autor há uma anomia, ou seja,
desorganização social que impede a integração social dos trabalhadores. As
condições de desenvolvimento e industrialização estavam a chamar atenção para
as necessidades da integração social.

Estudos feitos na Western Electric, situada em Hawthorne.

→ Elton Mayo (1933) The human problems of an industrial civilization.

→ Fritz Roethlisberger e William Dickson (1939), Management and the worker.


(descrição detalhada de um conjunto de pesquisas que marcaram as orientações
principais desse movimento académico)

→ Elton Mayo (1949) The social problems of an industrial civilization


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As experiências na Western Electric, em Hawthorne (1924-1932)

Desenvolveram-se atividades produtivas de larga escala. Começaram-se a


desenvolver algumas pesquisas sobre os efeitos da iluminação sobre os
trabalhadores e a sua produtividade. Verificou-se enquanto num grupo em que a
luz era constante e noutro em que não havia luz constantemente verificou-se
que as diferenças não eram significativas. Esta surpresa na resposta deu asas a
um programa composto por 3 fases:

1ª FASE → 1924 -1927 – Estudo inicial sobre o efeito da iluminação nos


trabalhadores e no seu trabalho

A diminuição experimental da iluminação apenas numa das salas não gerou


diferenças significativas, em termos de output produzido, por comparação com a
sala totalmente iluminada.

→ 1927 -1932 – Experiência na sala experimental com montagem de relés.


Pesquisa assente na separação de 6 trabalhadores experientes e que estavam a
trabalhar na montagem de relés de telefone. A experiência consistia em
introduzir mudanças várias nas condições em que estes trabalhavam.

A experiência na sala experimental com montagem de relés desenvolveu-se em


diferentes períodos:

- Durante as 2 semanas anteriores à deslocação para a sala, registou-se a


produção de cada uma das 5 operárias sem o seu conhecimento

- Durante as primeiras 5 semanas após a deslocação para a sala não houve


qualquer alteração das condições de trabalho e dos procedimentos e procedeu-
se ao registo da produção das mulheres.

Numa primeira fase, nos períodos que se seguiram, introduziram-se várias


alterações experimentais:

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- P3 - No método de pagamento (antes o nível salarial por peça era estabelecido
pelo nível de produtividade de 100 trabalhadores, e no caso deles, era pelo nível
dos 6, isto é, como eles eram menos iriam ter um aumento de pagamento);

- P4 - Pausas para descanso - duas pausas, de 5 minutos cada

- P5 - Pausas para descanso - duas pausas, de 10 minutos cada

- P6 - Pausas para descanso - seis pausas, de 5 minutos cada (não gostaram


muito)

- P7 - Pausas para descanso: de 15 minutos às 9h30 (com alimentação) e pausa


de 10 minutos às 14h30 (constataram que havia quem possuía a necessidade de
tomar pequeno-almoço, todas estas alterações eram acordadas com os
trabalhadores)

- P8 - Paragem do trabalho meia hora antes do horário habitual

- P9 - Paragem do trabalho durante uma hora antes do horário habitual

Posteriormente, introduziram-se outras alterações experimentais, entre as quais:

- P10 - Retorno às condições do P7

- P11 – Não trabalhar ao sábado de manhã (sugerida por elas)

- P12 – Retorno às condições iniciais – sem pausas para descanso, almoço, dia ou
semana encurtados

- P13 - Retorno às condições do P7, com uma alteração: as mulheres traziam a


comida e a empresa fornecia as bebidas

- P14 – Repetição do P11

- P15 – Retorno às condições do P13

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As alterações que foram sendo introduzidas nas condições de trabalho eram
previamente discutidas com as trabalhadoras.
Verificou-se que com esta experiencia que não houve uma quebra mas sim um
pico de produção.
Alguns elementos que Mayo (1933) destaca nas observações reportadas:
 Tendência para um aumento contínuo do output, que era independente das
mudanças nas pausas para descanso, isto é, os níveis de produtividade não
tinham sido negativamente apontados mesmo com o regresso às condições
de trabalho iniciais.
 Aumento do sentimento de contentamento entre as mulheres, isto é,
verificou-se uma sensação de contentamento nas juntas trabalhadoras, elas
diziam que se sentiam mais livres e que se sentiam melhor naquele ambiente
amistoso. Verificou-se também uma diminuição de falta de presença das
trabalhadoras em relação ao contexto em que se encontravam
anteriormente.
 Diminuição das ausências em cerca de 80% desde entrada no grupo
 As condições de trabalho alteradas criaram nas mulheres o desejo de irem
trabalhar de manhã, isto é, criou-se uma vontade de ir trabalhar.
 Fatores com importância para o desenvolvimento de uma melhor atitude
mental e maior contentamento com o trabalho: sentimento de maior
liberdade e de uma supervisão menos rígida.

Na sua reflexão sobre a “notável mudança na atitude mental do grupo” Mayo


(1933: 72) destaca:
 Antes de cada mudança, o grupo era consultado, os seus comentários eram
ouvidos e discutidos. O grupo desenvolveu um sentimento de participação
em decisões críticas e tornou-se uma unidade social. Graças a esta
experiência o grupo desenvolveu um sentimento de pertença extremamente
forte (um sentimento de unidade social) e isto fez com que envolvem-se
mais com a vida do grupo (um sentimento de coletividade) graças também
ao desenvolvimento num sentido informal porque elas eram poucas. E este
sentimento é que era o grande motivador de produtividade e que explicava
os níveis de produtividade.

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 A sala experimental estava a cargo de um observador responsável que era
interessado e atencioso para com as mulheres. (o observador estimulava
para que elas tivessem desempenhos melhores sendo que ele também
parabenizava-as quando alcançavam bons objetivos. Mesmo retornando às
condições iniciais a produtividade não baixou porque o sentimento de
pertença coletiva já estava lá).

2ª FASE → 1928 -1930 – Programa de entrevistas que abrangeu


21 126 trabalhadores de diferentes sectores da organização

As entrevistas tinham um efeito catártico (era um momento de descarga do
trabalhador) sobre os trabalhadores, isto é, tinha um efeito positivo
proporcionando-lhes um momento emocionalmente para que pudessem
descarregar as suas frustrações. Foi feita no sentido de perceber qual a opinião
do seu trabalho, das condições em que trabalham, sobre o que gostavam ou não,
relativamente à supervisão.

3ª FASE → 1931 -1932 – Observação detalhada de um grupo de 14 trabalhadores


Os trabalhadores limitavam a produção em função daquilo que consideravam ser
um “bom dia de trabalho”
Esta norma era mantida através de encorajamento ou ameaça verbal
Neste caso interessa perceber a importância das relações para compreendermos
perceber o modo como os indivíduos se comportavam. Na interação social era
considerado um nível de produtividade aceitável e este era definido
informalmente, o que influenciava o comportamento dos indivíduos, e por
consequentemente, a produtividade. A organização procura perceber em que
medida a eficiência influencia a produtividade.

→ Importantes decorrências das pesquisas conduzidas na Western Electric:


 Visão do homem enquanto ser social – homem social
 Relevância da organização informal para a compreensão do comportamento
dos trabalhadores nas organizações
 Importância da supervisão na mediação entre os objetivos da organização e
os desejos dos trabalhadores, isto é, não se pode pensar na organização
como tendo apenas uma organização formal

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 Importância da participação dos trabalhadores nas decisões que afetam o
seu trabalho (para compreender o individuo temos que saber qual a sua
relação com o grupo, na medida em que o grupo desenvolve coesão entre si)

→ Algumas críticas:
 Atua como paliativo para a desigualdade e conflitualidade associadas à
aplicação do taylorismo no sentido em que os administradores usando os
conhecimentos adquiridos na escola podem usa-los para atenuar o
sofrimento dos trabalhadores, isto é, tenta-se criar condições para que o
individuo se sinta integrado em vez de irem resolver a verdadeira questão
em si.
 Facilita o exercício de uma ordem autoritária na organização, isto é, dá uma
falsa participação que depois não tem grandes efeitos práticos. Manipula um
sentimento de participação em função de uma ordem autoritária na
organização, o que gera um sentimento de frustração.
 A hierarquia da empresa é vista como uma elite que conduz a integração dos
trabalhadores na empresa e a redução dos conflitos através de métodos
persuasivos, ou seja, há uma manipulação dos trabalhadores através de
métodos persuasivos.

Quando se começa uma transformação numa organização geram-se implicações


que não se limitam aplicam apenas naquele sector, vai ter implicações nos
demais, isto alerta-nos para a complexidade do desenho do funcionamento das
organizações.

O contributo das neo-relações humanas


É um tipo de abordagem que tem por preocupação as relações humanas mas
principalmente a questão da auto-realização. Para percebermos o
comportamento das pessoas, e como se sentem no seu posto de trabalho
intelectual e humano (desenvolvimento do individuo através das tarefas que
executa)
– Desenvolve-se na sequência da escola das relações humanas
– Rejeita os modelos simplistas do comportamento social humano dos primeiros
estudos das relações humanas
– Foco na auto-realização

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F. Herzberg (1923-2000) – em 1966, Work and the nature of men. New York:
Staples Press.
Para compreender o modo como os trabalhadores se sentem no seu posto de
trabalho que são influenciados por dois tipos de fatores:
1) Fatores higiénicos que influenciam a insatisfação
Quando os trabalhadores não estão em sintonia com os fatores higiénicos
(desejam mais daquilo que lhes é oferecido) o que se verifica são
sentimentos de insatisfação entre os trabalhadores e quando eles estão em
sintonia diz-se que há uma ausência de insatisfação.
– Condições de trabalho
– Segurança
– Recompensas materiais
2) Fatores motivacionais que influenciam a satisfação
O que vai gerar satisfação é a pessoa sentir que aquilo que faz lhe permite
desenvolver no interior do seu trabalho.
– Conteúdo do trabalho Tarefas que as pessoas fazem (se forem
rotinizadas não lhes causará satisfação)
– Criatividade, autonomia, responsabilidade (no desenvolvimento de
condições que permitam o desenvolvimento do conteúdo de trabalho de modo a
permitir o desenvolvimento de aptidões, como a criatividade, a autonomia e
responsabilidade isto para que futuramente possam desenvolver-se no interior
da organização e subir na carreira)
– Possibilidades de desenvolvimento

D. McGregor (1906-1964): em 1960 The Human side of enterprise. New York:


McGraw-Hill.
Este autor foi influenciado pela hierarquia das necessidades e não concordava
com a teoria X.
autorealização (desenvolvimento pessoal)

necessidade de estimulo
necessidade de pertença, amor ( de carater social)
segurança
necessidades fisiologicas e biologicas (ex:sexo)

Teoria X e teoria Y do comportamento humano


Princípios da teoria X
– A maioria das pessoas tem uma aversão intrínseca ao trabalho

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– É necessária alguma forma de coerção para assegurar a obediência (tem que
haver uma coerção e um controlo sobre elas para que possam produzir porque
elas são avessas ao trabalho)
– A maioria das pessoas prefere ser controlada a ter autonomia
– Corresponde ao modo como as empresas estavam tradicionalmente
organizadas (é uma maneira tradicional e penalizadora para os trabalhadores
porque não lhes permite desenvolver autonomia).
– Não dá resposta às necessidades mais elevadas dos trabalhadores, que é de
alcançar a autorrealização.
A empresa está preocupada em controlar as pessoas e não com as suas
necessidades de autorrealização.

Princípios da teoria Y
– Não existe uma aversão geral ao trabalho
– A coerção não é o único elemento que motiva o comportamento
– É possível gerar metas organizacionais que satisfaçam a motivação mais
elevada (uma maneira diferente de gerir onde já tem em conta as necessidades
de autorrealização porque se parte do pressuposto de que as pessoas tem uma
aversão ao trabalho e nem que estas tem que ser coagidas para que possam
trabalhar)
– O comportamento responsável resulta da confiança e o evitar da
responsabilidade é uma reação a experiências de negação de responsabilidade
(Existem metas profissionais que permitem que as pessoas possam alcançar as
suas necessidades mais elevadas e que lhes permite desenvolver a sua
criatividade e o seu sentido de responsabilidade mas para tal tem que existir
relações de confiança)
– A criatividade está amplamente distribuída pela população ainda que poucos
empregos a usem

A principal conclusão é a de que a gestão tem por tarefa desenvolver


procedimentos organizacionais através dos quais os indivíduos se realizam a si
mesmos ao alcançarem as metas organizacionais, isto é, é possível que se
estabeleçam procedimentos dentro da organização que permitam tanto aos
indivíduos alcançar as suas metas bem como a sua autorrealização.

– Crítica a estas propostas: orientação tecnocrática – tem que ver com o facto
deste tipo de abordagens darem a ideia de que estes tipos de gestão são
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melhores, que são melhor forma, em que estes não se limitam a analisar mas
também propõe soluções.

A análise/abordagem socio-técnica – tem que ver com o conceito de sistema


onde uma organização é:
– Um sistema aberto (esta inserida num contexto) onde há uma influencia do
exterior e há uma especialização das diferentes áreas sendo que se quer saber
como a tecnologia e as pessoas se relacionam. É no exterior que vai buscar a
mão-de-obra, buscar recursos humanos, buscar matéria-prima, etc, e é através
deste que coloca os seus serviços à disposição, e a partir dessa relação, vai
recolhendo informação de como o exterior estar a reagir aos seus serviços e
através desta retroação pode autorregular-se no sentido de melhorar o seu
desempenho e o seu funcionamento interno.
– A organização é concebida como um sistema socio-técnico:
→ isto é, como um sistema composto por dois subsistemas fundamentais em
interação:
1) O subsistema técnico – tem que vem com o equipamento e a tecnologia
utilizada.
2) O subsistema social – tem que ver com as relações sociais, com as
pessoas, com a dimensão grupal, isto é, com inserção do individuo no
grupo.

– Tavistock Institute of Human Relations e a análise – das minas de carvão no


Reino Unido - Trist e Bamforth (1951), “Some social and psycological
consequences of the longwall method of coalgetting”, Human Relations, vol. 4,
nº1, pp. 3-38:
→ A nacionalização das minas de carvão, introdução de nova tecnologia e
transformação dos métodos de produção (introdução do método “longwall”)

Esta ideia de interação entre esses dois subsistemas diz-nos que a tecnologia só
por si não cria nada.
– Sistema tradicional de extração do carvão – “sistema de autonomia
responsável”:
→ Envolvia um pequeno grupo de trabalhadores que desenvolviam uma relação
de semi-autonomia com a gestão
→ A divisão do trabalho entre os mineiros era reduzida (os mineiros eram
caraterizados por uma tecnologia mais rudimentar)
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→ Cada trabalhador tinha qualificação para fazer várias tarefas (os mineiros
autogerenciavam-se em pequenos grupos qualificados)
→ Os salários eram definidos em função da produtividade do grupo
→ As equipas operavam de uma forma relativamente independente de uma
supervisão direta

Introdução do metódo longwall – mecanização do processo, introdução da logica


da linha de trabalho, diminui o nível de qualificação dos mineiros, mais
rotinizado, perdem autonomia. Geraram-se conflitos entre os trabalhadores por
causa dos salários (redução dos trabalhadores) criando mau ambiente entre os
mesmos.
– O método “longwall”: (fez com que a situação mudasse)
→ Aumentava grandemente o tamanho das equipas
→ Aumentava a divisão do trabalho
→ Aumentava o controlo da gestão
→ Especialização numa única faceta do trabalho mineiro
– Ao invés de um grande acréscimo de produtividade, registou-se uma explosão
na negociação salarial, aumento do absentismo e deterioração do ambiente
social
Usava-se o método tradicional e no subsistema social a autonomia era
considerável e com o novo método (método longwall) a autonomia foi perdida.

– O método “longwall” compósito:


Transformação profunda utilizando a tecnologia em que os trabalhadores
conseguiram ficar menos rotinizados e onde preservaram alguns elementos da
sua autonomia (autogerência de pequenas equipas de trabalho)
→ As equipas constituíam-se autonomamente, embora com um maior número
de indivíduos por comparação com o sistema tradicional
→ A divisão do trabalho foi restringida, por comparação com a aplicação do
método “longwall”, e sujeita à decisão do grupo
– Melhorias no ambiente social e na produtividade
Constatou-se que a interação entre o subsistema técnico e subsistema social
podia ocorrer em prol do funcionamento da organização.

Principais conclusões
→ Constatação de que a mesma tecnologia podia ser usada em diferentes
sistemas sociais, isto é, a mesma tecnologia pode estar associada a diferentes
19
formas de gerenciar as pessoas e à diferente forma do funcionamento do
subsistema social, o que dá hipótese da participação dos trabalhadores.
→ Os melhores resultados são observados quando existe um processo de
ajustamento e experimentação participado pelos trabalhadores.

O Contributo de Michel Crozier: Michel Crozier e Ehrard Friedberg (1977),


L’acteur et le système, Paris, Seuil.

Michel Crozier e Ehrard Friedberg (1977), L’acteur et le système:


→ O ator
O ator social é um individuo que possui um comportamento que não é
absolutamente determinado (o individuo não é manipulado de forma
determinista pela organização) e contingente (depende das circunstancias em
que o individuo se insere, condicionado por oportunidades e constrangimentos
com que este se confronta), isto é, o ator é um individuo autónomo mas situado
num sítio próprio em que o seu comportamento é.

“O homem não pode ser considerado apenas como uma mão (trabalhador só
como executante) *…+, nem mesmo sequer como apenas uma mão e um coração
(indivíduos carentes de integração social) *…+. *…+ ele é também e, sobretudo,
uma cabeça (atores capazes de desenvolver a sua estratégia), isto é uma
liberdade, ou mais concretamente, um agente autónomo que é capaz de cálculo
e de manipulação e que se adapta e inventa em função das circunstâncias e dos
movimentos dos seus parceiros.” (Crozier e Friedberg, 1977: 38).

Grande influência do conceito de racionalidade limitada proposto por March e


Simon (1958), Organizations:
O homem decide de uma forma sequencial e escolhe para cada problema que
tem de resolver a primeira solução que representa para ele um limiar mínimo de
satisfação

Os atores têm uma liberdade restringida e uma racionalidade limitada =>
importância do contexto (racionalidade limitada – vem nos dizer que os
indivíduos são incapazes de tomar a melhor opção para fazer face a um
problema porque os indivíduos são incapazes de otimizar as suas decisões
(serem absolutamente racionais, isto é, de procurar a melhor solução) porque
não tem liberdade e acesso à informação (acesso e liberdade limitados) explo:

20
podemos ponderar um emprego mas o outro seria melhor mas não temos acesso
às informações).

A análise estratégica
O individuo tem a oportunidade para definir uma estratégia própria e há que ter
em conta os constrangimentos e oportunidades tendo este uma margem de
liberdade (esta não é absoluta) contingente às circunstâncias.
Foco: As relações de trabalho são entendidas como o desenvolvimento de jogos
estratégicos de poder
→ Estratégia: “o fundamento inferido ex post das regularidades de
comportamento observadas empiricamente” (Crozier e Friedberg, 1977: 48)
O fundamento que nós vamos inferir através da observação que vamos fazer do
comportamento e das regularidades do mesmo é que nos vai permitir perceber
porque é que se comporta de tal forma, isto é, chegamos à estratégia do
individuo tentando perceber o que esta na base do seu comportamento e as
regularidades do comportamento do mesmo no interior da organização,
perceber o contexto, os constrangimentos e as oportunidades a que os mesmos
são colocados.

→ O ator e a estratégia: (elementos importantes para compreendê-la)


1. O ator raramente tem objetivos claros e ainda menos projetos coerentes, isto
é, os objetivos vão-se desenvolvendo ao longo do tempo e deste modo não são
claros de início porque vão sofrendo alterações ao longo do tempo.
2. O seu comportamento é ativo porque podem aparecer uns e desaparecer
outros no sentido em que o seu comportamento não é determinado, o individuo
tem margem mas é uma margem condicionada para desenvolver a sua estratégia
3. O seu comportamento tem sempre um sentido e não pode ser analisado em
abstrato pois há que ter em conta as circunstâncias em que o individuo se insere,
isto é, os objetivos serão racionais em função das circunstâncias e dos
comportamentos dos indivíduos que o rodeiam
4. O seu comportamento envolve dois aspetos: ofensivo (sentido de aproveitar
as oportunidades que surgem aos indivíduos) e defensivo (no sentido de manter
a margem de liberdade e se possível aumenta-la)
5. No limite não existem comportamentos irracionais

21
Poder: “a um nível mais geral - o poder implica sempre a possibilidade de certos
indivíduos ou grupos agirem sobre outros indivíduos ou grupos” (Crozier e
Friedberg, 1977: 56).
O poder é feito de relações sociais e este não é um atributo (não é algo que eu
tenha em mim) mas sim uma relação (tem que ver com a minha relação com os
outros),ou seja, é capacidade que os indivíduos têm de agir sobre outros
indivíduos ou grupos. É uma relação que está em constante mudança é que pode
sofrer alterações ao longo do tempo.

Poder é uma relação:


– Uma relação instrumental no sentido em que visa um determinado fim, isto é,
visa um objectivo que pretende alcançar não sendo meramente o exercício de
arbítrio.
– Uma relação não transitiva no sentido em que para compreendermos as
relações de poder temos que considerar os atores que estão envolvidos, o molde
onde é desenvolvido e quais os comportamentos que eles adotam.

– Uma relação recíproca, mas desequilibrada porque há uma troca que é


desequilibrada, nesta troca há uma parte que domina e outra que é dominada. É
uma relação que esta constantemente a ser negociada e tudo dependerá do
contexto em concreto em que esta inserido.

– Uma relação de força em que apesar de uma das partes prevalecer sobre a
outra, a outra não esta destituída de tomar decisões.

Sendo o poder uma relação de força…

 O poder reside na margem de liberdade dos atores


 A estratégia dos atores orienta-se para a manipulação do seu
comportamento e do comportamento do outro modificando a seu favor as
condições estruturais e as regras que regem a sua interação com os outros

Para compreender as relações de poder, é necessário considerar:

22
– Os recursos de que cada ator dispõe, como também, a pertinência desses
recursos para organização, exemplo, recursos económicos, sociais, culturais,
entre outros, ou seja, tenho de ver quais é que importam para a organização
– Os critérios que definem a pertinência destes recursos e o seu carácter mais ou
menos mobilizável no sentido em que um recurso é importante para o contexto
da organização e para a interação com outras pessoas.

Zona de incerteza: A estrutura e as regras das organizações determinam os


lugares onde as relações de poder se desenvolvem – ao definirem sectores onde
a ação é mais previsível do que noutros, ao colocarem em prática procedimentos
mais ou menos fáceis de manipular, elas criam e circunscrevem zonas
organizacionais de incerteza, explo: domínio da fonte de incerteza que provinha
da qualificação dos operários de manutenção onde a organização não
conseguiria trabalhar sem as máquinas.

Temos aqui diferentes Fontes de poder: tem que ver com áreas de incerteza que
são importantes para a organização e que são fáceis de manipular.

– Poder decorrente da posse de uma competência particular ou especialização


funcional dificilmente substituível, isto é, um poder que decorre de uma
qualificação específica que é dificilmente substituível em que eles tem margem
de poder para negociar condições que lhes sejam favoráveis.
– Poder decorrente das incertezas que se desenvolvem em torno das relações
entre a organização e o seu meio ambiente, isto é, depositam no meio os seus
serviços e vão buscar ao meio a matéria-prima e quem conseguir controlar essas
incertezas tem capacidade de negociar com a organização condições que lhe
sejam favoráveis.
– Poder decorrente do controlo da comunicação e das informações no sentido
em que quem conseguir controlar os canais comunicativos e de informação está
em condições de negociar as condições em moldes que lhes sejam favoráveis.

– Poder decorrente do uso das regras organizacionais que tem que ver com o
facto da utilização das regras pelas próprias pessoas que estão a comandar, isto
é, pessoas que tem a seu cargo a elaboração de regras para levar os outros
(subordinados) a fazer algo (utilizam uma lógica informal).
23
A análise culturalista
Fala-nos em diferentes modos de identidade coletiva, permite-nos defender a
tese de que no interior das organizações existem processos de aprendizagem
cultural diferentes.
“A observação prolongada das relações humanas na empresa mostra *…+ que as
situações quotidianas de troca, de poder e de encontros, exigidas pela própria
organização do trabalho, podem produzir *…+ efeitos de aprendizagem cultural”
Sainsaulieu, 1997, Sociologie de l’entreprise, p. 200
O Contributo de Renaud Sainsaulieu:
Sainsaulieu, R. (1977), L’identité au travail, Paris, Seuil.
Sainsaulieu, R. (1997), Sociologie de l’entreprise. Paris, Presses de Sciences PO et
Dalloz. 
No anos 70, identifica quatro modos de identidade coletiva no trabalho, isto é,
quatro formas de estar com os colegas e com as chefias.

1. Fusão – nos segmentos dos trabalhos simples e repetitivos:


É um modelo que esta associado à experiencia dentro da organização em que se
é observado determinados trabalhadores, aqueles que executam trabalhos
simples e repetitivos. Neste grupo há uma grande valorização dos valores da
massa, do espirito de união e de camaradagem.
Aqui assim o grupo surge como um grupo de integração dentro da organização
em que este grupo dá a sensação de proteção dos indivíduos contra as ameaças,
o que faz com que exista uma grande carga efetiva (criando assim laços de
homogeneidade) entre eles e não tanto um debate de ideias. O líder visa a
orientação do grupo e guia os passos que o mesmo vai dar na organização.
2. Negociação – sobretudo entre operários mais qualificados, com uma
qualificação profissional:
− Riqueza afetiva e cognitiva das relações interpessoais onde para além da carga
afetiva existe também a possibilidade de debater as ideias.
− Atribui-se importância a uma vida coletiva democrática.

24
− O líder é eleito pela sua capacidade de expressão e de promoção da vida
democrática do grupo sendo que este, normalmente, revela uma boa capacidade
de argumentação
− Valoriza a solidariedade mas também a diferença, isto é, aqui tolera-se a
diferença e valoriza-se a solidariedade
− O ofício está no topo da escala de valores onde o grupo possui mais autonomia
e independência.
3. Afinidades – está associado sobretudo a situações de mobilidade
socioprofissional prolongada em que os indivíduos que estão a desenvolver
uma mobilidade profissional ascendente.
− Relações interpessoais são pouco numerosas mas intensas no plano afetivo e
cognitivo, isto é, o indivíduos relacionam-se com as pessoas que potenciam o seu
projeto pessoal ascendente.
− Os grupos são vistos como um perigo e o líder é rejeitado porque existe uma
seletividade logo o grupo e o líder poderiam ser comprometedores.
− A relação com a chefia tem uma importância considerável porque a chefia vai
ser fundamental para a evolução na organização.
− O trabalho é sobretudo um contexto de evolução profissional.
4. Retraimento – está associado sobretudo a situações de fraca integração na
organização em que há uma posição de recuo dos indivíduos face à
organização. São indivíduos que tem a organização como um meio para
alcançar algo, para ele a organização não é o centro das suas vidas mas sim,
uma necessidade económica ou meio para alcançar um projeto exterior.
− Os indivíduos apresentam poucos amigos entre colegas, e relações superficiais
no trabalho, isto é, desenvolvem poucas relações com os demais indivíduos da
organização sendo que não há empenho na vida social dentro da organização
− Recusa do grupo e do seu líder
− A relação com o chefe central é importante porque é através dessa pessoa que
se relacionam com a organização e tomam conhecimento das necessidades da
organização.
Trabalho e Sociedade Industrial (livro João Freire, ponto 3)
Implica saber o que é a sociedade industrial. Para percebermos como chegamos até aqui temos
que perceber o que aconteceu antes.

25
Sociedade industrial – uma forma de organização da sociedade, isto é, um modo de organizar a
sociedade que assume contornos específicos sendo deste forma uma sociedade específica.
Sociedade industrial – alguns elementos característicos segundo os teóricos da sociedade industrial
(Freire, 2002):
Vertente quantitativa: algo que tem a ver com movimentos importantes que determinados
sectores adquirem nesta sociedade.
− Grandes aumentos de produção e de produtividade – por via das inovações tecnológicas que
foram sendo desenvolvidas conseguiu-se a aumentar a produção (níveis de produtividade mais
elevados), e consequentemente, vem diminuir o tempo para a confeção dos produtos
(comparando com as sociedades agrarias).
− Importância da produção industrial para as economias nacionais
− Relação entre industrialização e urbanização em que a industrialização vai promover a
urbanização (a concentração das pessoas em espaços específicos próximos dos seus postos de
trabalho), e vice e versa, (no sentido de que passa a existir mão-de-obra disponível nas cidades
para as empresas)
− Relação entre crescimento económico, produção e consumo – existem condições que favorecem
o crescimento económico que estão associadas ao aumento da produtividade e ao aumento do
poder de compra.
Vertente qualitativa:
− Grandes progressos tecnológicos que vão permitir produzir mais
− Predomínio da produção industrial em larga escala
− Acumulação e concentração de capitais vultuosos, isto é, existe uma concentração do capital nas
organizações para que estas produzam em grande escala o que cria produtos com preços mais
acessíveis para as pessoas.
− Intensificação (por via tecnológica) e diversificação das atividades económicas
− Predomínio das organizações de grande dimensão
− Relação entre a divisão do trabalho assente na qualificação técnica e a hierarquia social, isto é,
haverá uma divisão do trabalho tendo em conta a posição que o individuo ocupa no modelo das
organizações e na hierarquia social.
− Família surge fundamentalmente como unidade de consumo no sentido em que é a família que
vai comprar os produtos, e estes ficaram com valores mais baixos, porque elas é que tem o poder
de compra.
− Generalização do habitat urbano em que existiram culturas próprias de vivência na cidade que
serão resultado de um maior número de pessoas a viver num espaço limitado.
− Papel mais interventor do Estado na economia em que este assume um papel ativo no sentido de
criar infraestruturas económicas e sociais para que a economia possa se exercer e os níveis de vida
se elevar.
− Sociedade diversificada e complexa, isto é, há diferenciação das sociedades tradicionais das
sociedades modernas em que há uma maior complexidade e divisão do trabalho.

26
O desenvolvimento do pós-guerra (2ª Guerra Mundial) - A era da prosperidade
→ Período de grande crescimento económico e desenvolvimento das condições de
vida da população
− Dá-se a Reconstrução europeia com ajuda do Plano Marshall, isto é, através de
um plano económico disponibilizado pelos EUA de forma a ajudar a Europa na
construção da mesma após a 2ª Guerra Mundial sendo que estes injetaram dinheiro
nas economias, forneceram apoio a crédito de maquinaria de massa, permitiram
níveis de produtividade maiores e introduziram um novo método de trabalho
(transmissão do método americano de trabalho racionalizado sendo que este tem
que ver com o taylorismo)
− Dá-se também uma difusão do modelo fordista que passa pelo método de fazer
as coisas.
→ Período de prosperidade do pós-guerra na Europa Ocidental:
– Pleno emprego – onde as taxas de desemprego eram muito baixas
– Aumento das preocupações sociais do Estado – construção de escolas, hospitais
sendo que houve um cessamento do Estado-Providência em que o lucro era
direcionado para o bem-estar do povo.
– Imigrações
– Consumo em massa – permite que os bens de luxo passem a estar acessíveis para
consumo da massa.
Temos uma prosperidade quer económica, quer social, ao nível das politicas de
proteção social, o que no seu conjunto faz aumentar a autoestima dos
trabalhadores.

Questões de género: As mulheres entram no mercado de trabalho porque há grande


procura de gente para trabalhar. Estes apontam para as mulheres como as que ficam
contentes com os eletrodomésticos e que sobre assuntos importantes só os homens
é que sabem responder (os homens são elevados pelos estereótipos de género da
altura).
Na base das políticas de reforma do governo seguinte e como elemento muito
importante para percebemos o Estado-Providência, temos o relatório:
Relatório de Beveridge – os Estados devem criar sistemas de segurança social desde
o berço até a sepultura, em que este tem que ter mecanismos para apoiar os
indivíduos contra o querer, a ignorância, a doença, a miséria e a ociosidade.
27
O Welfare State (Estado-Providência) – fundado num contrato social entre os
indivíduos orientado por 4 preocupações fundamentais (Grupo de Lisboa, 1994: 85):
1) O direito ao trabalho – devemos promove-lo num maior número de pessoas.
Através de várias situações como:
− Pleno emprego em que a procura de trabalho deva ser igual ou superior a oferta de
trabalho sendo que isto não implica uma inexistência de desemprego mas uma
utilização máxima de recursos materiais e humanos, exemplo, o desemprego
estrutural em que ocorre quando o número de desempregados é superior ao
número de colaboradores que o mercado quer contratar e esse excesso de oferta de
trabalhadores não é temporário;
− Emprego duradouro em que por via da criação de mecanismos de negociação
coletiva que se criam para que possa haver uma melhoria nas suas condições de
vida, isto é, numa logica de não ir num contrato a prazo mas ir para efetivo;
− Melhoria das condições de trabalho ao nível dos salários, indemnizações, horário e
participação dos trabalhadores;
− Acordos coletivos sobre tecnologia.
2) A luta contra a pobreza – criam mecanismos que asseguram um rendimento às
pessoas de modo a que possam fazer face às suas necessidades básicas de
subsistência e evitar a exclusão social, isto é, fornecer a garantia de um
rendimento mínimo e outras formas de combate à pobreza e à exclusão social.
3) A proteção contra os riscos sociais – medidas de apoio que ajudam as pessoas a
arranjar emprego o mais rapidamente possível, exemplos disso, segurança social
e/outras medidas de seguros para proteger os trabalhadores e respetiva família.
4) A promoção de igualdade de oportunidades – fazer com que todos possam
beneficiar de uma situação de igualdade de oportunidades, logo, temos de tratar
de maneira diferente aquilo que é diferente. Exemplos: Despesa pública na
educação de forma a garantir que toda a população tenha acesso à escola,
transportes, da cultura, do lazer e medidas discriminatórias positivas em favor
de grupos desfavorecidos.
E por outro lado, grande prosperidade onde há uma racionalidade da própria
produção (produção em massa) em que temos um Estado que assegura a
previsibilidade, a estabilidade e a própria expansão dos mercados sendo que faz isso
assegurando que há mecanismos de apoio dos indivíduos.
28
A relação salarial fordista – A escola da regulação francesa (Robert Boyer, Michel
Aglietta)

→ Relação salarial – Conjunto de condições jurídicas e institucionais que regulam


a utilização do trabalho assalariado e a reprodução da existência dos
trabalhadores.

→ Relação salarial fordista é a relação que carateriza este período de


prosperidade em que há:
– Associação entre produção e consumo na medida em há uma produção em
modo massivo que assegura o escoamento em modos massivos.
– Forte intervenção do Estado na economia e na negociação da redistribuição da
riqueza criada por via do contrato social, isto é, temos economias nacionais que
produzem para os seus próprios mercados no sentido de que as riquezas sejam
distribuídas nas sociedades onde essas empresas estão localizadas.
– Coincidência da organização espacial da produção e da repartição

→ Relação salarial concorrencial – carateriza um período anterior do modelo


fordista onde as empresas de pequena dimensão concorrem umas com as outras
 Não há articulação entre produção e consumo

→ Relação salarial pós-fordista – desenvolvimento com a própria crise do


modelo fordista. Esta relação carateriza-se por uma improdutividade do modelo
fordista e emergência de novos modelos de produção e de organização do
trabalho, bem como, por uma descoincidência espacial da produção e da
repartição através da globalização (abertura do mercado, emergência de
empresas transnacionais, liberação de mercados).

29
O modelo do emprego típico
→ Regulação contratual – Vínculo de subordinação jurídica que garante um emprego
estável/permanente.
→ Regulação do tempo de trabalho – Rigidez, regularidade e sincronização,
prevalência do horário a tempo inteiro e a regulação e sincronização dos dias de
descanso.
→ Regulação coletiva das relações laborais e consagração de direitos coletivos –
negociação dos representantes dos trabalhadores e dos empregadores
→ Concentração dos espaços produtivos para haver uma economia de escala
→ Estabilidade e linearidade dos percursos de vida
Educação – emprego – reforma (as pessoas neste modelo tem uma grande
previsibilidade) Hoje em dia esta realidade esta sujeita à transformação, há pessoas
que estudam e trabalham ou param, trabalham e depois voltam a estudar.
→ Modelo tradicional de relações de género – após a segunda guerra mundial é
quando se atingem políticas sociais.

Os fatores da crise (a prosperidade teve um fim)


→ 1973: 1.ª Crise petrolífera aumento dos preços das matérias-primas.
→ Movimentos estudantis contra a lógica da sociedade industrial (Maio 68), foram
feitas críticas à sociedade de consumo.
→ Rejeição do trabalho taylorizado nas fábricas.
→ Lutas sindicais contra as cadências e os ritmos intensos de trabalho.
→ Entrada do Japão no comércio europeu e americano o que permitiu responder
melhor as necessidades pessoais devido aos preços flexíveis que foram
estabelecidos.
→ Perda de competitividade das empresas tayloristas / fordistas
→ Aumento do desemprego: incapacidade dos Estados promoverem as políticas
keynesianas (tem como objetivo conduzir a um sistema de pleno emprego).
→ Alguma inoperância das instituições estatais: grande burocracia e muito
consumidoras de bens públicos.
→ Globalização e descoincidência do espaço de produção–consumo–repartição o
que levou a escassez de receitas por parte do Estado.

30
Transformações socioeconómicas na passagem da sociedade industrial para a
sociedade pós-industrial e implicações no trabalho e no emprego
Mudanças económicas e tecnológicas de fundo
→ Alterações no carácter da concorrência – dá-se uma saturação das
necessidades dos consumidores e uma estagnação dos mercados o que fará com
que o consumidor compre o produto não tão baseado no preço mas mais na
qualidade, no cumprimento do prazo de entrega e na inovação da oferta de
produtos diferentes de forma a acompanhar a exigência do consumidor.
→ Terciarização – há um aumento do uso dos sectores terciários em que há um
desenvolvimento do serviço para o consumidor final.
→ Difusão das Tecnologias de Informação e de Comunicação (TIC)

Dinâmicas societais, TIC e emprego


O debate em torno da articulação entre sociedade, Tecnologia de Informação e
Comunicação (TIC) e emprego centra-se em duas temáticas fundamentais:
→ Relação entre as TIC e a sociedade – o homem precisa da tecnologia e sem o
homem não haveria tecnologia, isto é, a tecnologia não é uma autoridade
autónoma mas sim desenvolvida pelo homem para responder as necessidades
do mesmo sendo que esta é influenciada pelos interesses que se geram na
sociedade.
→ Oportunidades e/ou riscos associados às TIC – Com o desenvolvimento das TIC
e da sociedade tecnológica dá-se uma transformação da sociedade e isso conduz
ao surgimento de oportunidades, como também, de riscos.

Posições principais:
1. Posições deterministas prevê um único sentido de desenvolvimento nas
sociedades de informação.
1.1. Posições deterministas otimistas em relação ao desenvolvimento
 Foco:
→ As TIC são as grandes forças que modelam as relações sociais, económicas e
políticas através de um determinismo tecnológico.
→ As análises perspetivam cenários otimistas em relação às transformações
socioeconómicas
31
 Contributos:
 Bell, Daniel (1973), The coming of post-industrial society.
A proposta de D. Bell destaca:
→ A passagem de uma economia assente na produção de bens para uma
economia assente na produção de serviços.
→ A importância do conhecimento teórico enquanto princípio estruturante da
economia e da sociedade
→ A proeminência de grupos profissionais que assumem um papel-chave nesta
sociedade

 Masuda, Yoneji (1980), The information society as post-industrial society.


A proposta de Y. Masuda destaca:
→ Expansão do sector quaternário - indústrias relacionadas com a informação
→ A economia e a sociedade desenvolvem-se em torno da informação
→ A aplicação das TIC torna-se a principal fonte do crescimento económico
→ As ocupações relacionadas com o fluxo de informações tendem a tornar-se
típicas da sociedade de informação.

 Toffler, Alvin (1980), The third wave


A proposta de A. Toffler destaca: um conjunto de cenários positivos como
levantamento das tic da sociedade)
→ Surgimento de novas opções energéticas mais amigas do ambiente
→ As novas esperanças e oportunidades desenvolvidas pela engenharia genética
→ A desmassificação da produção e do consumo impulsionada pelas TIC
→ As novas oportunidades de emprego (maior qualificação dos indivíduos)
→ Desconcentração e descentralização do poder formal das organizações
→ Desburocratização
→ Princípio Small is beautiful
→ As novas tecnologias libertam as pessoas para o lazer
→ Diversidade de meios de comunicação e de fontes de comunicação
→ Aprofundamento da democracia (mais informados)
→ Democracia participativa, uma sociedade mais plural.
→ A diversidade de condições de trabalho, estilos de vida e formas familiares

32
 Ideias-chave das posições deterministas otimistas
→ As TIC levam a uma marcha inevitável em direção à sociedade cognitiva
→ A inovação tecnológica acarreta uma elevação geral dos níveis de qualificação.
→ As TIC levam à era pós-taylorista
→ As TIC libertam as pessoas das tarefas repetitivas onde existem empregos
mais qualificados e mais flexíveis.
→ Atenuam-se os fatores que conduzem à alienação dos indivíduos
→ As TIC promovem o trabalho individual independente, as atividades terciárias
e novas formas de organização do trabalho. Exemplo: uma empresa de
publicidade trabalham em equipa consoante o anuncio quando acaba, fazem-se
novos grupos, há assim uma flexibilidade.
→ O processo de complexificação dos papéis profissionais implica a explosão do
conhecimento.

1.2. Posições deterministas pessimistas, vem nos dizer o oposto, destacando os


efeitos negativos que decorrem do uso do posto de trabalho.
 Foco:
→ Apontam para uma tendência de evolução determinada pelos interesses dos
detentores de capital sendo que se prevê um determinismo social (vem um
desenvolvimento de interesses sociais) e há uma manipulação do
desenvolvimento da sociedade que é feita pelos detentores de capital.
→ As análises perspetivam cenários pessimistas em relação às transformações
socioeconómicas.
 Contributos:
→ Forte influência de Harry Braverman (1974) - Labor and Monopoly Capitalism: The
Degradation of Work in the Twentieth Century – e dos seus discípulos no que toca ao
debate em torno da desqualificação.
 Braverman e a desqualificação: sendo que isto acontece ao nível do processo
produtivo e da prestação de serviço.
→ Num estádio de capitalismo monopolista, os princípios da administração científica de
Taylor são usados pela gestão para maximizar o seu controlo sobre os processos de
trabalho e desqualificar os trabalhadores, isto é, através deste processo de exploração
sobre os trabalhadores e da inovação tecnológica pode-se gerar desqualificação.
33
 Ideias-chave deste tipo de posição:
→ As TIC servem para garantir e reforçar o domínio do capital sobre a economia
e a sociedade, isto é, através das TIC os detentores de capital vão tentar atualizar
o modo como exercem o seu poder sobre a economia e a sociedade.
→ Com as TIC, o taylorismo alarga-se a novas áreas, aos escritórios, tornando a
tendência para a desqualificação dominante.
→ Há uma intensificação da exploração da força de trabalho, da conflitualidade e
uma maior polarização sendo que tudo pode ser controlado ao mais pequeno
detalhe.

2. Posições não deterministas – diz-nos que não se esta a prever que existe
apenas um sentido único no desenvolvimento das sociedades de informação
e destaca a complexidade ao nível do emprego e do mundo.
 Foco:
→ Existe uma interação entre as TIC e a sociedade pois a tecnologia é
desenvolvida por interesses sociais.
→ Possibilidade de desenvolvimentos diversificados no interior de uma mesma
sociedade e entre diferentes sociedades
→ Enfatiza-se a heterogeneidade e a complexidade das tendências emergentes
em que os desenvolvimentos tecnológicos podem ter efeitos positivos ou
negativos ao nível do emprego e que para os compreendemos temos que os
inserir no seu contexto cultural e social

 R. Reich e a pluralidade de tipos de trabalho no interior de uma sociedade: (a


força de trabalho não ganha de igual modo no que toca aos processos
produtivos)
→ Eixo diferenciador deste tipo de trabalho: capacidade de produzir valor
acrescentado numa economia global.

→ Pluralidade de posições
1. Posição fraca por comparação com os mais tipos de trabalho

34
 Serviços interpessoais possuem uma posição muito fraca nesta economia
global.
− Compreende indivíduos que prestam serviços de procura final, isto é, serviços
prestados ao consumidor final. Exemplos: empregados de comércio,
cabeleireiros/as, taxistas, mecânicos/as, trabalhadores/as da indústria hoteleira,
bares, restaurantes, hospedeiras, trabalhadores/as de reparações ao domicílio;
seguranças, educadores de infância, pessoal dos serviços domésticos,
vendedores de imobiliário residencial.
− Abrangem qualificações heterogéneas.
− Competências/requisitos exigidos: secundário geral e formação profissional
específica. Adicionalmente ser-se fiável, leal, bem como ter-se simpatia,
confiança e uma aparência agradável.
− Cálculo ou base da remuneração: horas de trabalho ou quantidade do trabalho

 Serviços de produção de rotina – serviços que representam os espiões da


economia de mercado, são os operadores de dados, estão expostos á
concorrência de mão-de-obra de diferentes países porque este serviço exige
pouca qualificação logo há muita concorrência (se num país houver mão-de-
obra mais barata certas empresas optaram por essas em vez de uma rede
com uma mão-de-obra mais cara).
− Compreende indivíduos que desempenham tarefas rotineiras e integra os
trabalhadores de colarinho azul dos serviços (por exemplo, as pessoas que
trabalham como operadores de dados)
− Também inclui os supervisores de rotina (chefias médias, capatazes,
gestores/as de linha, chefes de escritório)
− Competências/requisitos exigidos: saber ler e efetuar cálculos simples; ser-se
fiável, leal e gostar de ser dirigido.
− Cálculo ou base da remuneração: horas de trabalho ou quantidade do trabalho.

2. Posição forte por comparação com os mais tipos de trabalho


 Serviços simbólico-analíticos

35
− Especialistas em conhecimento, isto é, serviços que descodificam informação e
que propõe soluções para os problemas, gente que possui inovação. Exemplos:
engenheiros/as de projeto e de software, juristas, investigadores/as
científicos/as, professores/as, técnicos/as de comunicação, relações públicas,
diretores/as de marketing, consultores/as, gestores/as de informação.
− Devido às suas competências intelectuais, qualificações e criatividade, criam
valor acrescentado nas organizações e, consequentemente, possuem níveis
elevados de autonomia e poder, isto é, pessoas com altos níveis de qualificação
que servem para dar respostas a diversos problemas de diferentes naturezas.
Numa economia globalizada são aqueles que acrescentam valor á organização,
por via dessa qualificação dá-lhe mais autonomia e poder dentro da organização.
− Competências/requisitos exigidos: formação superior.
− Cálculo ou base da remuneração: depende da originalidade, qualidade e
velocidade com que resolvem problemas

 M. Castells (2002[1998]):
 A terminologia sociedade informacional
Enfatiza uma “forma específica de organização social na qual a produção da
informação, o seu processamento e transmissão se tornam nas fontes de
produtividade e de poder em virtude das novas condições tecnológicas
emergentes no atual período da história” (Castells, 2002 [1998]: 25), ou seja,
dedica-se ao estudo da sociedade de informação. Diz que a informação,
enquanto veiculação de conhecimento numa sociedade é algo que existe em
qualquer sociedade. O que orna esta sociedade específica é o papel que esse
processamento e distribuição de informação tem na geração de riqueza e poder.
Existem condições específicas nas sociedades contemporâneas que influenciam
as capacidades de produção, processamento e transmissão sendo que isso passa
pelo desenvolvimento das TIC.
 Sociedade informacional e a lógica de rede
Nota que “‘a sociedade em rede’ não esgota todo o significado da sociedade
‘informacional’” (Castells, 2002*1998]: 25) na medida em que esta centra a atenção da
pessoas na rede, ou seja é uma teia que une diferentes pontos) sendo que a sociedade
contemporânea centra-se numa logica de sociedade global.
36
 Para se compreender a existência de diferentes modelos de sociedade
informacional importa considerar as seguintes dimensões:
 Tecnologia – se há a posse de uma sólida tecnologia de informação –
infraestruturas, produção e conhecimento, ou seja, se existe uma sociedade
informacional;
 Economia – se existem economias dinâmicas, com empresas produtivas e
inovadoras e competitividade internacional de modo a haver margem para um
consumo indiferenciado baseado no preço.
 Bem-estar social – se existe uma proteção social em que o estado garanta aos
seus cidadãos uma estrutura de rendimentos e cobertura em termos de
educação e de saúde;
 Valores – se existe uma abertura política, ao nível da sociedade civil, e abertura
aos processos globais, ou seja, se há abertura da sociedade à interação com os
outras sociedades e com a própria liberdade social.
Cf. Cardoso, G., et al. (2005) A Sociedade em Rede em Portugal.

 Modelo da sociedade providência informacional (Finlândia)


Concilia:
− Crescimento económico, desenvolvimento tecnológico, ou seja, temos um
dinamismo económico forte assente na inovação.
− Um Estado-Providência forte em possuímos um Estado que esta preocupado com a
proteção dos cidadãos nos momentos de grande vulnerabilidade e de promover a
igualdade de oportunidades entre os indivíduos, bem como, promover o crescimento
de emprego.
− Valores orientados para o igualitarismo e pluralidade, isto é, uma sociedade
dinâmica economicamente e aberta.

 Modelo do regime informacional autoritário (Singapura)


Coexistência entre:
− O desenvolvimento económico e tecnológico, isto é, um dinamismo económico
− Regime autoritário, que bloqueia a modernização dos valores, o pluralismo e o
bem-estar social, ou seja, a sociedade não esta tao aberta à sociedade global e à
interação com os outros mas mais preocupada em controlar os cidadãos.

37
 Modelo de uma sociedade orientada pelo mercado e aberta (Silicon Valley)
Conjuga:
− Desenvolvimento económico e tecnológico avançado, isto é, existe uma alta
modernização tecnológica e um grande dinamismo.
− Pluralismo de valores e abertura da sociedade sendo que possuem níveis de
proteção muito baixos em comparação com o 1º modelo mas direcionado para o
mercado.
− Estado tem um papel mínimo na provisão de bem-estar social sendo as
desigualdades sociais muito elevadas.

E como é que se posiciona Portugal? (Cardoso et al., 2005)


 Numa encruzilhada na medida em que cruza dinâmicas de algum atraso com
dinâmicas de modernidade.
→ Traços e dinâmicas de modernidade
 Reconversão económica,
 Progressiva terciarização do trabalho (avanço de sectores de serviços),
 Recomposição socioprofissional,
 Desenvolvimento científico em que há um investimento em investigação e
desenvolvimento de forma a gerar potencial cientifico,
 Sendo que existe um fosso de escolarização considerável, há uma entrada
em força das gerações nas escolas e a progressão das mesmas ate a um nível
superior, nomeadamente, a situação não é tão linear, mas verificou-se um
grande avanço ao nível da escolarização das novas gerações,
 Transformação dos padrões demográficos e de vida familiar, isto é, devido à
modernização há um maior investimento na estrutura da educação das
novas gerações, bem como, a redução no numero de filhos

→ Vestígios de uma sociedade arcaica, que persistem e tendem a obstruir


algumas das transformações em curso
 Especialização em sectores de fraca inovação tecnológica,
 Níveis médios de educação e qualificação baixos,
 Limitado desenvolvimento das novas classes médias.
38
→ Trata-se de uma economia proto-informacional, ou seja, em transição para
uma economia informacional, onde convivem:
 O despontar de estruturas organizativas e de produção em rede.
 E o domínio de modelos económicos característicos das sociedades
industriais.
 Adicionalmente:
o Utilização relativamente fraca da internet e na maior parte dos casos
para efeitos de lazer;
o Maior nº de cibernautas: jovens.
o Maior integração do uso da internet no quotidiano do trabalho: mais
qualificados de meia-idade.
A forma como as TIC são usadas é diferente de pessoas para pessoas. O uso da
internet é diferenciado pelos jovens e pelos mais velhos (há um fosso etário
sendo que as pessoas quando aprendem a usar a internet sentem uma grande
satisfação.

TIC E PROCESSOS DE GLOBALIZAÇÃO NA SUA MULTIDIMENSIONALIDADE


Globalização
 Uma definição sociológica (Giddens, 2010: 693):
Carateriza-se por relações de interdependência e interações de várias partes do
globo terrestre, isto é, a globalização põe pontos que estavam separados em
contato através de uma ligação de reciprocidade profunda. A globalização dá-se
a diferentes níveis, ela não afeta apenas a dimensão económica, ela também tem
uma dimensão politica, tecnológica, cultural e social.
Foco no modo como as empresas de ponta gerem os seus recursos humanos, em
que medida estas empresas transnacionais que estão situadas nestes sistemas de
redes e em que diferentes fases do processo produtivo estão espalhadas em
diferentes partes do globo.

Devemos saber distinguir globalização, internacionalização e


multinacionalização.

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Internacionalização da economia – trocas comerciais (matérias-primas, produtos
acabados e semiacabados componentes e serviços, dinheiro, ideias) entre países
e empresas (Estados-Nação) de diferentes países sendo que aqui os atores são
nacionais – as empresas e o estado (a sua politica fiscal pode ou não influenciar a
entrada das mesmas no espaço nacional).

Multinacionalização da economia – as empresas transnacionais criaram


estruturas noutros países, motivadas pelo objetivo de alargar o seu mercado de
consumidores, isto é, há uma “Transferência e deslocação dos recursos,
especialmente de capital e em menor grau de mão-de-obra de uma economia
para outra.” (Grupo de Lisboa, 1994: 47)

Globalização económica - “conjunto de condições nas quais uma parte crescente


do valor da riqueza é produzido e repartido através do mundo, no quadro de um
sistema de redes de empresas ligadas entre si” (OCDE, 1993: 103)
Principais atores: empresas transnacionais

 Empresas em que
 O capital pertence a multiplicidade de acionistas (de nacionalidades
diferentes)
 Fases produtivas “espalhadas” pelo espaço global

 Do capitalismo nacional ao capitalismo global


− “coincidindo com o novo processo de globalização económica,
presenciamos o princípio do fim do ‘nacional’ enquanto ponto de relevância
estratégica fundamental para os actores económicos, científicos, sociais e
culturais” (Grupo de Lisboa, 1994: 49), ou seja, São empresas que estão na
dianteira na dimensão económica que do ponto de vista estratégico tem a
ideia do global e não do racional pensando em distribuir os mercados em
diferentes partes do globo.
− “Made in world” sendo que os produtos não são produzidos apenas num
sitio, são espalhados pelo globo terrestre.

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 Um exemplo na indústria automóvel: A Volkswagen
− O Grupo Volkswagen tem a sua sede em Wolfsburg na Alemanha, o Grupo
integra marcas de 7 países Europeus e opera 100 unidades de produção em 19
países Europeus e 8 países na América, Ásia e África. O Grupo Volkswagen vende
os seus veículos em 153 países.
− O que acontece no estrangeiro face à sede, através de quatro indicadores:
1) Entrega aos consumidores (87,04%)
2) Vendas de veículos (87,07%)
3) Produção (74,92%)
Sendo que os 3 primeiros, tem mais percentagem fora da Alemanha do que
dentro sendo que isto ilustra a dimensão que tem estes grupos transnacionais.
4) Empregados (54,62%)
E em relação ao quarto indicador em que há uma responsabilidade/proteção
social ao nível do emprego.

 Factores que contribuem para a aceleração da globalização:


o Liberalização dos mercados nacionais (através de mercados nacionais são
estabelecidos acordos entre diferentes países. Os mercados passam a estar
aberto a produtos de outros países e isto permite o desenvolvimento de
grandes organizações) e dos fluxos de capital (permite que grandes somas de
capital possam ser transmitidas através de explicações meramente
especulativas)
o Privatização (é o recuo do Estado relativamente a diferentes setores de
economia, este deixa de ser proprietário, passam a ser os grupos privados os
proprietários)
o Desregulamentação (a ideia de que o Estado se torna um interveniente
menos regulador, ou seja, este recua na regulação da atividade económica)

Paradoxos da globalização
 Homogeneização/ Oportunidades vs. Diferenciação/ Riscos

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Homogeneização/ Oportunidades Diferenciação/ Riscos
 Homogeneização no sentido em que os  A globalização é desigual e
países mais pobres conseguiriam chegar esta associada a riscos
mais perto dos países mais ricos e de ecológicos, ao nível do
pudessem provar mais oportunidades. próprio emprego.
 A globalização é positiva porque ela ao  Essas organizações são
tornar mais participada a atividade de poderosas no sentido: São
troca entre diferentes países promove o mais ricos do que muitos
bem-estar social e o desenvolvimento dos países que estão em
países de um modo geral e vai contribuir desenvolvimento, e isto
para o aumento das competitividades cria um grande poderio
entre as economias, como também, sobre estes países, fazendo
contribui para a tecnologia mais avançada com que estes sejam fracos
possa ser fornecida a economias menos a nível politico.
avançadas.

Algumas sombras da globalização e a procura de alternativas…


 Os problemas têm muito que ver:
A globalização económica está muito à frente da globalização politica sendo que
as organizações estão descontroladas e não estão a ser devidamente reguladas
pela globalização politica e isto mostra-nos que as organizações estão com muito
poder. Logo tem que se tentar que a globalização económica seja controlada por
uma globalização politica, e para tal, tem que se moldar a globalização e lidar
com as suas consequências.
Temos que forçar estas organizações:
– Exigindo que tenham uma responsabilidade social com os indivíduos e com os
trabalhadores e que não fiquem só focados nos lucros.
– Controlar o poder destas empresas impedindo que estes não adquiram uma
dimensão que lhes permita estabelecer preços que sejam desfavoráveis para os
consumidores e para a própria globalização.
– Exigindo uma gestão mias responsável e mais transparente (explo: serem
responsabilizados por crises ecológicas que possam ter causado)

 Competição excessiva vs. contratos globais (Grupo de Lisboa)

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Competição excessiva Contratos globais
A globalização carateriza-se por uma São necessários contratos globais
ideologia de competição excessiva que porque seriam uma forma de tentar
leva a que os mais fracos quando regular ao nível global, isto é, estes
confrontam os mais fortes tendem a são princípios institucionais segundo
sair perdedores, ou seja, em vez de os quais a criação de riqueza seria
caminhar para uma homogeneização regulada com vista ao bem geral das
vai para um caminho que gera sociedades no seu conjunto, bem
desigualdades entre diferentes países e como, do desenvolvimento dos países
entre diferentes grupos. mais pobres.

 Assimetria e polarização vs. humanização da globalização (M. Castells)


Assimetria e polarização Humanização da globalização
A globalização cria assimetrias entre Colocar a globalização num figurino mais
os países, criativa para os mais humanizado, menos assente na
fortes e penalizadora dos mais competição excessiva é mais
fracos. beneficiadora dos países mais fracos.

 Excesso de competição e degradação do emprego – a concorrência internacional


pressiona no sentido de um baixo nível em matéria de proteção laboral e social e isto
conduz à deterioração dos padrões sociais dos trabalhadores no exterior e dos países
onde as redes estão localizadas sendo que eles esquecem-se que as pessoas para
estarem bem tem possuir direitos sociais. A OIT (Organização Internacional do
Trabalho) defende a dignificação do trabalho à escala global, afirmando que
indivíduos têm direito à sua dignidade, isto é, que uma pessoa tem o direito de se
realizar enquanto ser humano.
Trabalho digno - sintetiza as aspirações do ser humano no domínio profissional e abrange
vários elementos:
− Oportunidades para realizar um trabalho produtivo com uma remuneração equitativa;
− Segurança no local de trabalho e proteção social para as famílias;
− Melhores perspetivas de desenvolvimento pessoal e integração social, nomeadamente
a não ser explorado.
− Liberdade para expressar as suas preocupações e opiniões;
− Organização e participação nas decisões que afetam as suas vidas, isto é, poder
participar no modo como trabalham.
− E igualdade de oportunidades e de tratamento para todas as mulheres e homens.

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A importância de uma mobilização sindical global…
Stop ao trabalho precário sendo que existem várias formas precárias de
emprego. Mobilização politica e sindical é algo que existe para contrabalançar as
desigualdades existentes.

A TRANSFORMAÇÃO DA RELAÇÃO SALARIAL FORDISTA E O DESENVOLVIMENTO


DE FORMAS FLEXÍVEIS E PRECÁRIAS DE EMPREGO
Flexibilidade pode existir de diferentes formas sendo que existem organizações
que praticam todos estes tipos de flexibilidade em diferentes trabalhadores.

Flexibilidade - Modelo da empresa flexível de John Atkinson


 Flexibilidade numérica: a organização tenta adaptar-se do ponto de vista a
conseguir flexibilidade ajustando o tempo de trabalho e número de efetivos
(explo, despedir as pessoas, aumentar o salario às pessoas, etc).
 Flexibilidade funcional: a organização tenta adaptar-se do ponto de vista a
conseguir flexibilidade ajustando as tarefas realizadas e o alargamento das
competências e das qualificações de cada trabalhador
Estas duas flexibilidades são mais negativas para os trabalhadores.
 Distanciação: subcontratar mao-de-obra a outras empresas ou exteriorizar as
tarefas que não sejam centrais à atividade da empresa em questão (explo, o
iscsp paga a uma empresa para efetuar as limpezas do mesmo; agencias de
trabalho temporário.
 Flexibilidade Remuneratória: Variação do montante remuneratório em
função do desempenho individual, do departamento ou do volume de
vendas e lucros da empresa sendo que esta pode ser usada para premiar as
pessoas em função dos seus resultados.
Estas duas flexibilidades são mais positivas para os trabalhadores.

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Segmentos de trabalho na empresa flexível (John Atkinson)
 Grupo Central – onde existe mercado de trabalho primário, são os
trabalhadores-chave da organização e tem flexibilidade entendida enquanto
flexibilidade funcional sendo que a organização está interessada em retê-los.
 Primeiro grupo periférico (mercado de trabalho secundário e tem
flexibilidade entendida enquanto uma flexibilidade numérica) e Segundo
grupo periférico (contratos de curto prazo, subsídio público, recrutamento
atrasado, compartilhamento de trabalho, a tempo parcial)
 Agência de temporários, subcontratação, o autoemprego, aumento da
terceirização – tem flexibilidade entendida enquanto distanciação.

FLEXIBILIDADE E SEGMENTAÇÃO LABORAL sendo que se faz uma distinção entre:


Trabalhadores-Chave Trabalhadores periféricos
 São trabalhadores que possuem  São trabalhadores que possuem
grande socialização profissional, formação mínima com vista a
formação profissional orientada realização de tarefas simples e
para a polivalência visando a facilmente executáveis, ou seja,
flexibilidade funcional, ou seja, em pouco ou nada qualificados.
que os indivíduos estão numa fase  Em que as tarefas exigidas são
mais consistentes da sua carreira. limitadas e sem exigências de
 Em que as tarefas exigidas são mais qualificação, isto é, baixa
complexas exigindo autonomia e escolaridade
responsabilidade, isto é, mais  Em que a sua remuneração é baixa e
escolaridade. irregular.
 Em que a sua remuneração é  Em que estes têm uma participação
elevada e regular. fraca ou inexistente e uma fraca
 Em que estes participam de capacidade de negociação, ou seja, o
múltiplas formas e tem uma grande conteúdo do seu trabalho é menos
capacidade de negociação, ou seja, interessante.
o conteúdo do seu trabalho é mais  Pode ou não existir segurança social.
interessante.  Incide-se mais sobre as mulheres,
 Existe segurança social. jovens e imigrantes.
 Incide-se mais sobre os Homens.
A organização não gere os recursos humanos da mesma forma para todos os
trabalhadores, existem aqueles a quem ela dá mais importância e aqueles que
ela valoriza menos.
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Flexibilidade: modalidades flexíveis de emprego, isto é, formas de relação de emprego
que se afastam do modelo típico.
 Revisão do modelo do emprego típico sendo que neste existe uma relação
contratual, uma regulação do tempo de trabalho, uma regulação coletiva das
relações laborais e consagração de direitos coletivos, uma estabilidade e linearidade
dos percursos de vida, um modelo masculino do provedor do sustento da família e
uma concentração dos espaços produtivos.
 Modalidades atípicas ou Modalidades flexíveis de emprego?
Formas de emprego cujo denominador comum é a flexibilidade em termos contratuais,
de tempo de trabalho, de espaço e de estatutos sendo que podem reforçar a ideia de
que o modelo típico era o modelo em que estavam inseridos.
 Algumas modalidades flexíveis de emprego: Exemplos da flexibilização do mercado:
Trabalho temporário, Contratos a termo, Trabalho a tempo parcial, Trabalho no
domicílio, Teletrabalho e Emprego por conta própria.

Precariedade – Estamos a dar uma conotação negativa, acentuar o lado negativo desses
desenvolvimentos.
 Dimensões da precariedade da relação de trabalho:
1. Dimensão objetiva: estamos a falar dos aspetos formais e jurídicos do ponto de vista
contratual tendo em conta se este tem um carater permanente ou não, com nível
reduzido (ou nulo) de proteção social.
2. Dimensão subjetiva: tem que ver com o modo como as pessoas se sentem
relativamente ao seu emprego.
– Consideram-se vários aspetos relativos a essa relação:
→ (In)voluntariedade que subjaz a essa relação, isto é, perceber se as pessoas foram
forçadas a trabalhar naquela situação.
→ Insegurança subjetiva ou incerteza relativa ao seu posto de trabalho
→ Grau de (in)satisfação com as condições de trabalho em geral, isto é, avaliar se a
pessoa sente ou não a insatisfação.
→ Motivações e recompensas intrínsecas decorrentes da situação de trabalho que
tem que ver com a possibilidade de desenvolvimento nas suas carreiras.
Devemos percecionar estes como um indicadores de que essa pessoa esta numa situação
de precariedade, bem como, considerar sempre estas duas dimensões de precariedade
para termos uma visão mais abrangente da precaridade.

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 Tipos de precariedade: tem que ver com as duas dimensões e com as
trajetórias individuais no mercado de trabalho.
I. Precariedade de emprego: Estatuto social e legal inerente à situação de
emprego.
II. Precariedade de trabalho: Abordagem mais compreensiva – dimensão
objetiva e dimensão subjetiva e trajetórias individuais.
III. Precariedade social: tem que ver com a vulnerabilidade social a que as
pessoas estão sujeitas em situações de precariedade e de desemprego.
A progressiva erosão dos recursos qualificacionais e económicos, a perda de
motivação para procurar alternativas e de autoestima, a privação de
proteção social, a corrosão dos laços familiares e dos apoios afetivos acaba
por criar uma fragilização ao nível dos laços sociais que o individuo cria com a
sociedade conduzindo-o a um processo de perda de autoestima e de uma
perspetiva de ausência de futuro.

– Conceito de “desfiliação” (Castel, 1995): perdem a sua validade social.


→ Vulnerabilização e “invalidação” social vivida pelos supranumerários,
desempregados sem posição na estrutura social que não possuem um
reconhecimento público e não possuem mais um lugar no processo produtivo,
exemplo, jovens que passam de estágios para estágios, desempregados de longa
duração que após várias tentativas não conseguem um emprego ate chegarem à
exaustão.
→ A sua “validade social” vai deixando de ser reconhecida pela comunidade
com as instituições sociais a deixarem de considerá-los como cidadãos.

– Conceito de “desqualificação social” (Paugam, 2000):


→ Processo de desinserção social vivido por desempregados e os trabalhadores
precários, ou seja, as pessoas se sentem socialmente desvalorizadas.
→ Enfraquecimento dos laços relacionais e sociais, desencorajamento, não-
cidadania sendo que o trabalho através do emprego é um elemento muito forte
para a vida do individuo.

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Desemprego em Portugal
 Verificou-se que a taxa em desemprego em Portugal é de 15,6% sendo que a
dos Homens é de 15,3% e de Mulheres é de 15,9% sendo que apesar das
mulheres possuírem uma taxa mais elevada constatou-se que nos mais novos
(15-24) e nos mais velhos (45 ou +) a taxa de desemprego é superior nos
Homens, 36,8% e 12,3%, respetivamente.
 Existem mais desempregados que só fizeram o secundário e o pós-
secundário (16,3%) e menos entre os que fizeram o ensino superior (13,2%)
sendo que a taxa mais elevada é a de Mulheres que só fizeram o secundário
e o pós-secundário (17,4%).
 Verificou-se que a maioria dos indivíduos permanece 25 e mais vezes a
procura de emprego sendo mais visível nos homens com uma percentagem
de 40,9% sendo que esta é uma problemática difícil de resolver porque
quanto mais tempo ficarem desempregados mais dificuldade terão em se
integrar na sociedade, ou seja, o desemprego é algo que afeta o laço social
dos indivíduos com a sociedade.
 Existe um peso de 46,6% de beneficiários com prestações de desemprego na
população desempregada sendo que a percentagem maior verifica-se entre
as Mulheres (46,9%).

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