Saúde Mental relacionada ao

Trabalho (SMRT):
alguns apontamentos

Renata Paparelli
Psicóloga, doutora em Psicologia Social e do Trabalho (USP),
especialista em Saúde do Trabalhador (CEREST/SP), docente da
PUC-SP (SMRT), perita judicial, coordenadora da Clínica do
Trabalho (PUC-SP) e psicoterapeuta

rpaparel@uol.com.br
 O Campo Saúde Mental relacionada ao
Trabalho (SMRT)
- Anos 1980 - estudos e intervenções a partir de serviços
públicos de saúde e de sindicatos de trabalhadores.

- Constituição cidadã

Afirmação do direito à saúde

Saúde: movimento, processo
Promoção e prevenção
Clínica ampliada, AT, grupos...

Processo saúde-doença: múltiplas determinações

(dinâmica familiar, questões institucionais, rede de
atenção,TRABALHO)

Le Guillant: pesquisa no hospital psiquiátrico; o caso das

irmãs Papin; a neurose das telefonistas
O Campo Saúde Mental relacionada ao Trabalho (SMRT)
 - Contribuições de diversos campos do saber (Seligmann-Silva, 1994):

 - Articulação de diversos territórios

 - patamar internacional: divisão internacional da riqueza, do poder e do trabalho
(exemplo: exportação do risco);
 - contextos nacionais: determinações estruturais, conjunturais, políticas
econômicas e de desenvolvimento social, legislação trabalhista e garantia de
direitos aos trabalhadores, existência de proteção ao emprego e à saúde,
promoção de qualificação social etc.;
 - condições gerais de vida: moradia, saneamento básico, alimentação, transporte são
fatores que podem elevar o desgaste dos trabalhadores;
 - empresas: relações de trabalho, políticas de recursos humanos, tipos de gestão e
possibilidades de controle dos trabalhadores;
 - espaço microssocial do local de trabalho: aspectos coletivos, dinâmicas
intersubjetivas;
 - individualidade: espaço do indivíduo singular, em sua trajetória pessoal.
Alguns conceitos iniciais (com Marx)

Trabalho em geral: atividade consciente e planejada através da

qual o Homem constrói-se a si mesmo, ao mesmo tempo que
constrói um mundo para si (Cultura). Trabalho do qual o Homem é
sujeito. Trabalho enquanto liberdade, potência, possibilidades,
devir.
Ser humano é o único que vive/habita um mundo inteiramente
construído por ele.

Trabalho é fator importante de identidade.

Exemplos: quem é você?; afastado do trabalho que saía todo dia
no horário; psicopatologia do desemprego; identidade docente;
dificuldades com aposentadoria
Então por que adoecem os
trabalhadores? Do que adoecem?

Desrespeito sistemático e continuado ao limite

subjetivo (quando, como, onde o trabalhador suporta
as demandas do trabalho)

Diversidade, variabilidade

Controle sobre o próprio trabalho

.
Impeditivos do controle sobre o
próprio trabalho

O que leva alguém a ir além de seu

limite subjetivo de modo sistemático e
continuado?
Organização do trabalho

-Divisão dos trabalhadores

- Divisão do poder de intervir, transformar,
modificar, criar, adaptar o trabalho às
necessidades de quem o realiza
-Taylorismo e toyotismo

- Planejamento, formas de avaliação e controle,

ritmo de trabalho, pressão por produtividade...
Desgaste obreiro - Laurell

Distintos padrões de desgaste –

 distintas categorias de trabalhadores
Desgaste mental – Edith Seligmann-
Silva
 os elementos presentes na organização e
no ambiente do trabalho (divisão do
trabalho, conteúdo das tarefas, ritmo de
trabalho, relações de poder, condições
ambientais, formas de avaliação e
controle, hierarquias etc.) são entendidos
como “fontes laborais de tensão” que
provocam o desgaste que se manifesta
por diferentes configurações
Desgaste mental – Edith Seligmann-
Silva
 Se há perda e deformação, ou seja, se há
transformações negativas de um estado
anterior mais satisfatório, pode-se entender o
processo como desgaste mental, processo
constituído de “experiências que se
constroem, diacronicamente, ao longo das
experiências de vida laboral e extralaboral
dos indivíduos”
Alertas
 Tipo de queixa: fala espontânea ou
estimulada coloca trabalho como questão
importante
 Profissão/atividade de trabalho:
trabalhadores da saúde, da educação e da
assistência social, teleoperadores, policiais,
carcereiros, bancários, condutores de
ônibus
 Situação de desemprego
Como diagnosticar
 Anamnese ocupacional
 Doenças relacionadas ao trabalho –
manual de procedimentos para os
serviços de saúde
 Trajetória vida-trabalho/ dados
epidemiológicos
Importância do diagnóstico
 Garantia de direitos (emprego,
previdenciário, afastamento B31/B91)
 Dados/notificação compulsória – CEREST
 Legitimidade da experiência vivida
 Assistência deve incluir trabalho como
dimensão essencial
Assistência - norteadores
 Construção de formas de enfrentamento
individuais e coletivas

◦ Compreensão do processo de trabalho em

sua relação com a saúde – múltiplas
determinações

◦ Entendimento dos fatores de desgaste,

sequestro subjetivo
Assistência
◦ Questionamento da culpabilização individual

◦ Fortalecimento para não “cair na teia

organizacional”

◦ Desempenho no trabalho X valor pessoal

◦ O afastamento e suas mazelas

Assistência

◦ Dificuldades na volta ao trabalho: “eu sou

você amanhã”

 Construção de projeto de presente

 Construção de projeto de futuro

 O Nexo
 Importância do estabelecimento do nexo

◦ Afirmação de direitos (não demissão, INSS, nexo com

o trabalho etc.)

◦ Legitimação do nexo

◦ Inclusão do trabalho no processo terapêutico

◦ Dados epidemiológicos

◦ Notificação compulsória
Casos atendidos na Clínica
Psicológica PUC/SP
 De professora demitida a professora
aposentada: desafios na construção de um
novo projeto de vida

 O bancário que voltou ao trabalho: a

sedução organizacional

 Lei de cotas – limites e possibilidades, o

aprisionamento do laudo
Casos
 Estresse pós-traumático da coordenadora
pedagógica – confusão com o transtorno
do pânico

 Assédio sexual – teia que aprisiona

Penosidade no trabalho:
o caso dos bancários

 Como explicar a alta incidência de

transtornos mentais relacionados ao
trabalho nessa categoria?
Penosidade no trabalho:
o caso dos bancários

 Ambiente de trabalho

 Organização do trabalho
◦ Processo de trabalho – o que fazem, como fazem, por
que fazem desse modo
◦ Quais são os problemas identificados pelos
trabalhadores?
◦ O que faz com que avancem seu limite subjetivo?
Formas de enfrentamento

-Transformações na organização do
trabalho

-Caráter coletivo

-Participação dos trabalhadores

-Sentido da flexibilidade – controle sobre

o próprio trabalho