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31/05/2022 14:43 SEI/MJ - 18148230 - Nota Técnica

18148230 08012.001385/2022-19

Ministério da Justiça e Segurança Pública


Secretaria Nacional do Consumidor
Coordenação-Geral de Consultoria Técnica e Sanções Administrativas​

NOTA TÉCNICA Nº 15/2022/CGCTSA/DPDC/SENACON/MJ

PROCESSO ADMINISTRATIVO Nº 08012.001385/2022-19


REPRESENTANTE: DPDC ex officio
REPRESENTADOS: La Putaria; Ki Putaria; Assanhadxs Erotic Food; La Pirokita

1. RELATÓRIO

1.1. Trata-se de procedimento ex officio, iniciado pelo Departamento de Proteção e Defesa do


Consumidor, para apurar possível violação ao direito do consumidor, em razão da comercialização de
produtos alimentícios em formatos de órgãos sexuais masculinos e femininos pelas representadas,
em estabelecimentos que ostentam, em locais de grande circulação, imagens e mensagens de cunho
sexual.
1.2. A defesa do consumidor não conhece idade, categoria ou segmento. Onde haja violação
aos direitos e interesses consumeristas, haverá também a necessidade de intervenção dos órgãos de
defesa do consumidor, em especial, dos que compõe os Sistema Nacional de Defesa do Consumidor,
sabidamente liderado por esta Secretaria.
1.3. No caso concreto, estabelecimentos nomeados de “La Putaria”, “Ki Putaria”, Assanhadxs”,
“La Pirokita” e nomes correlatos, inauguraram, em unidades distintas da Federação, lojas de waffles,
crepes e sorvetes com produtos que replicam órgãos sexuais, ofertados como “piroffles”, “xoxoffles”,
Glande de Gergelin, Crepipi, Crepepeka, além de epítetos que sugerem conhecidos palavrões, para se
referir às genitálias masculina e feminina e aos seios da mulher.
1.4. Na loja “Ki Putaria”, os títulos dos produtos são ainda mais francos: “piroca” e “pepeca”
foram as epígrafes utilizadas para a promoção de alguns dos seus produtos.
1.5. No interior desses estabelecimentos, foram estampados dizeres que exaltam e estimulam
o sexo, mediante sugestões e autossugestões, com insinuações de alto teor sexual, tais como "sexiest
bakery", "maior do que o do teu namorado", "i licked so it's mine", "não te engasgues".
1.6. A “La Putaria’, bom registrar, é uma empresa portuguesa que, após autoproclamado
sucesso em Lisboa, resolveu vir para o Brasil testar a sua receita de empreendedorismo.
1.7. Mas a reação foi imediata. Pessoas e grupos das mais variadas formações intelectuais e
sociais repugnaram a atividade e os produtos oferecidos por essas empresas, fosse com base em
argumentos ético-sociais, fosse por questões religiosas. Mas em um Estado Laico, é cediço, as questões
de fé devem ser abstraídas de imediato, de qualquer política pública.

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1.8. Nada obstante, de Projetos de Lei a notícia-crime ao Ministério Público, vereadores,


Deputados e agências civis se apressaram em deflagrar seus expedientes, visando à impugnação das
citadas lojas, tendo chegado ao conhecimento da SENACON o debate travado entre comerciantes e
consumidores sobre o tema, pelo que se faz necessária a sua rápida atuação.
1.9. Vale ressaltar que os estabelecimentos não possuem qualquer restrição de idade, sendo
permitido o acesso ao interior das lojas por crianças e adolescentes, além da venda dos produtos para
esse público. A ausência da restrição de idade foi confirmada por uma das representadas, em entrevista
prestada ao veículo de comunicação G1, na qual foi alegado que o local seria "inclusivo e aberto", sem
qualquer discriminação:

"É comida que nós vendemos. Sim, tem formas de órgãos genitais, mas ainda é comida. A
maioria das pessoas vê isso como engraçado e novo. Cabe aos pais, avós e outras pessoas
com mais de 18 anos decidirem se querem trazer alguém com menos de 18 anos."

1.10. Em razão do acesso irrestrito ao estabelecimento, a 23ª Procuradoria de Justiça de Defesa


das Crianças e Adolescentes já recebeu denúncia sobre os fatos, havendo um grande número de
representações a respeito dos estabelecimentos em questão, conforme informação fornecida pelo
próprio Ministério Público, na entrevista acima mencionada.
1.11. Da mesma forma, esta Secretaria tem sido provocada, constantemente, sobre a
inadequação dos produtos vendidos na loja, sendo certo o entendimento no que tange à
aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor referente ao descumprimento das suas normas, além
do manifesto risco ao consumidor infantil, como sujeito passivo de proteção e resguardo da política
consumerista.
1.12. É o relatório.

2. FUNDAMENTAÇÃO

2.1. A Secretaria Nacional do Consumidor, criada pelo Decreto nº 7.739, de 28 de maio de


2012, integra o Ministério da Justiça e Segurança Pública, tendo suas atribuições estabelecidas pelo art.
106 do Código de Defesa do Consumidor e pelo art. 3º do Decreto nº 2.181/1997, destacando-se, dentre
elas, a competência para análise e apuração de denúncias apresentadas por qualquer pessoa, física ou
jurídica, incluindo o consumidor individual; bem como a imposição de sanções daí decorrentes (art. 3º da
Portaria nº 07/2016 deste Ministério da Justiça).
2.2. No caso em apreço, a questão se resume a saber-se se o serviço arguido pode funcionar
nos moldes propostos e com o nome eleito pelos seus titulares.
2.3. Através da leitura do artigo 234 do Código Penal, poder-se-ia concluir, desde já, pela
ilicitude da exposição pública dos escritos, desenhos e objetos obsceno, do modo como fazem as
representadas. In verbis:

Art. 234 - Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de comércio,
de distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer
objeto obsceno:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem:
I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos objetos referidos neste
artigo;

2.4. Mas não é só. A questão consumerista vai além.

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2.5. O Código de Defesa do Consumidor é expresso e objetivo e, nos termos do art. 39,
IV, considera de forma clara a prática abusiva de quem se prevalece da fragilidade, fraqueza ou
ignorância do consumidor, em razão de sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para
impor-lhe seus produtos ou serviços.
2.6. Nesse propósito, o público infanto-juvenil aparece como figura de destaque na discussão,
seja por sua evidente hipervulnerabilidade, seja pelo seu direito ao autodesenvolvimento cultural
consciente e refletido.
2.7. São esses os vetores que condicionam e, por isto mesmo, determinam a restrição das
fotografias das revistas masculinas nas bancas de jornais, as quais, aliás, sequer podem ser vendidas a
menores de dezoito anos.
2.8. Também é esse o impeditivo para que casas de entretenimento adulto exibam imagens do
interior do estabelecimento ou mesmo tenham nomes sugestivos nos seus cartazes, a exemplo do que
ocorre com os filmes de sexo explícito que, desde há muito, precisaram adaptar os seus títulos e slogans
para algo subentendido.
2.9. Esse último ponto, a propósito, atingiu o seu ápice quando da edição do chamado
Relatório Willians (1979)[1], tão bem analisado por Ronald Dworkin no seu ensaio Temos Direito à
Pornografia[2]?
2.10. A conclusão de Dworkin foi pela admissão de parte do Relatório, basicamente para aceitar
o consumo privado da pornografia, mas com a possibilidade jurídica da restrição pública a esse
“produto”. Disse o Professor:
“Concluo que o direito à independência moral, se é um direito genuíno, exige uma atitude
jurídica permissiva para com o consumo privado de pornografia, mas que certa concepção
concreta desse direito, não obstante, permite um esquema de restrição bastante
semelhante ao que recomenda o relatório Willians.”
2.11. E mais adiante, no mesmo texto:
“Em vez disso, argumento que, sejam ou não fundamentadas as reivindicações
instrumentais do Relatório Willians, a liberdade privada é exigida e a restrição pública é
permitida quando se recorre a uma concepção atraente de um direito político importante”.
2.12. Portanto, em verdade, não se cuida apenas da condição do infante, mas de todo e
qualquer consumidor, que de alguma forma reaja às imagens, cenas e apelos de natureza sexual expostos
comercialmente, nesse tipo de atividade.
2.13. O que deve ser entendido, é que as empresas arguidas não vendem apenas waffles,
sorvetes ou crepes, como registrou a representada em sua entrevista, mas pornografia gratuita
camuflada de guloseimas, do mesmo modo que um sex shop não vende látex, mas produtos destinados
ao prazer íntimo.
2.14. Contudo, poder-se-ia argumentar que os casos acima citados veiculavam pornografias, nus
e genitálias reais, o que muito se distanciaria de meros waffles em formas de pênis e vaginas.
2.15. Mas uma pergunta talvez responda: uma pessoa que compre um "piroffle" (ilustrado nas
fotos abaixo) para consumi-lo na porta de uma escola infantil, estará agindo de maneira indiferente?
2.16. Os fotogramas acostados a este processo deixam claro que não. Veja-se, alguns deles:

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2.17. São réplicas perfeitas de órgãos sexuais, melados com caldas que, por sua densidade e
cores, buscam reproduzir o ato do orgasmo, no mais das vezes.
2.18. Foi por essa razão que os Projetos de Lei nº. 095/2022 (Londrina/PR)[3] e nº. 316/2022
(Belo Horizonte/MG)[4] buscaram, o primeiro, a proibição da venda desses produtos, e o segundo, a
restrição do ingresso nessas lojas às crianças e adolescentes, nas suas respectivas casas legislativas.
2.19. E a partir desse cenário, a intervenção estatal passou a ser uma questão de coerência, haja
vista que todos os fornecedores de produtos e serviços ligados ao mercado erótico, alhures listados – e
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que possuem limitação legal até para as suas propagandas -, passarão a reclamar também o seu direito à
exposição dos seus conteúdos, em consonância com o que se está permitindo às lojas de simulacros
sexuais, como é o caso das investigadas. Seria uma questão de isonomia.
2.20. As lojas de sex shop, por exemplo, também trabalham com órgãos sexuais sintéticos e são
impedidas por leis locais de exporem os seus produtos e serviços. É o que diz, v. g., o Código de Posturas
Municipais do Rio de Janeiro:

Art. 114. A exposição de embalagens originais, de cartazes ou quaisquer outros materiais


de divulgação de vídeos pornográficos à visão de crianças e adolescentes
desacompanhados dos responsáveis sujeitará o estabelecimento à cassação do Alvará de
Licença para Estabelecimento, sem prejuízo da aplicação de outras sanções previstas na
legislação em vigor.
§ 2º. Ficam proibidas a afixação, a exposição e a comercialização de publicações
pornográficas no exterior de bancas de jornais, assim consideradas pela legislação
municipal, estadual e federal pertinente, o mesmo se aplicando a todo tipo de publicidade
daquelas publicações:
I – as publicações pornográficas só poderão ser comercializadas no interior das bancas de
jornais e deverão estar acondicionadas em embalagens plásticas opacas e lacradas, em
conformidade com a legislação municipal, estadual e federal pertinente em vigor.

2.21. No mesmo sentido, é a Lei nº 14.633, de 14 de abril de 2015, do município de Curitiba/PR,


que disciplina a comercialização de publicações pornográficas no exterior de bancas de jornais e assim
dispõe:

Art. 3º Nas bancas de jornais e revistas só podem ser vendidos:


§ 3º Fica proibida a afixação, exposição e comercialização de publicações pornográficas no
exterior de bancas de jornais, assim consideradas pela legislação municipal, estadual e
federal pertinente, o mesmo se aplicando a todo tipo de publicidade daquelas publicações.

§ 4º As publicações pornográficas só podem ser comercializadas no interior das Bancas de


Jornais e devem estar acondicionadas em embalagens plásticas opacas e lacradas, em
conformidade com a legislação municipal, estadual e federal pertinente em vigor.

2.22. E também a Lei nº 4.773, de 24 de fevereiro de 2012, que dispõe sobre a proibição de
exibição, aluguel e venda de material pornográfico e erótico para menores de 18 anos, no âmbito do
Distrito Federal:

Art. 1º As bancas de jornal, lojas ou videolocadoras no âmbito do Distrito Federal ficam


proibidas de exibir, alugar ou vender para menores de dezoito anos material com conteúdo
pornográfico, erótico ou inadequado.
(...)
Art. 2º Os materiais pornográficos e eróticos deverão ser guardados em local reservado e
somente poderão ser expostos quando houver a solicitação de um cliente adulto.
Art. 3º Os materiais pornográficos e eróticos devem ser comercializados em embalagens
lacradas, com advertência de seu conteúdo.

2.23. A preocupação legal (Estatal), como visto, com a condição do menor nesse encadeamento
de causas e efeitos é tamanha, até mesmo para dar vida ao mandamento constitucional ínsito ao artigo
227 da Carta Republicana, cujo caput possui a seguinte dicção:

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“É dever da sociedade, da família e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao


jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, e à convivência
familiar e comunitária, além de coloca-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”

2.24. No texto constitucional, ganham destaque a educação, o lazer, a cultura, a dignidade e o


respeito, que devem ser dispensados especialmente à criança e ao adolescente, como forma de proteger-
lhes e de assegurar-lhes a livre formação da personalidade, da sexualidade e, por fim, da capacidade de
discernimento e de autodeterminação. Isso porque, em muito maior escala, o consumidor de tenra idade
tende a se tornar um verdadeiro refém dos estratagemas arquitetados por profissionais do comércio, que
lançam mão e manejam bem a psicologia de massa com o escopo único de aumentar as suas cifras.
2.25. Com relação ao consumidor adulto não é muito diferente. Também ele é conduzido pelo
fortíssimo impacto do marketing ao consumo desses produtos, ao desaviso ou por puro modismo. E não
adianta muito apelar-se para a sua maturidade, já tão comprometida por estratégias de sedução
consumista, infelizmente cada mais eficazes.
2.26. É dessa forma que esses mercados operam sobre os hipervulneráveis (e até dos, em tese,
emocionalmente perfeitos), manipulando instintos recônditos e atuando sobre a precocidade da sua
sexualidade, através dos hidden persuaders, tão bem explorados pelo livro homônimo de Vance Packard,
no Brasil intitulado de Nova Técnica de Convencer[5]. Diz um dos artigos desse livro[6]:

“A afirmação da psiquiatria freudiana de que muitos adultos procuram


subconscientemente as agradáveis satisfações que sentiram com a boca quando lactente
ou criança pequena abriu novas perspectivas para os vendedores de profundidade. A
amplitude das perspectivas abertas pode ser indicada pelo fato de os americanos
destinarem à boca mais de 65.000.000.000 de dólares de seu consumo anual” ... e depois
prosseguiu: “Tornou-se claro para o Dr. Dichter e seus analistas de motivação que o
sorvete, para muitos de nós, simboliza abandono excessivo ao prazer ou voluptuosidade
sem inibições através da boca. Armado com esse conhecimento, aconselhou o fabricante a
mostrar o sorvete em seus anúncios, não em montinhos bem arrumados sobre a taça ou a
casquinha, mas em porções abundantes transbordando da taça ou da casquinha, o que
convidaria as pessoas a enfiar a boca inteira nele. Este fenômeno da voluptuosidade e de
‘enfiar a boca inteira nele’ talvez tenha sido responsável pelo espetacular incremento que
tiveram, em meados da década de 50, os produtos Dairy Queens e outros sorvetes ou
gelados de leite, que prometiam voluptuoso prazer oral em grande escala.”

2.27. Ainda nesse mesmo artigo, logo ao início, há a menção a um trecho de um relatório
apresentado a uma firma de relações públicas de Nova York, assim redigido: “Uma porção de pessoas
infantis nunca vai além de sentir prazer com a boca”.
2.28. Nesse contexto, interessante mencionar a matéria escrita por Joaquim Ferreira dos Santos,
no Jornal O Globo (anexa), na qual ressalta a realidade atualmente vivenciada pela sociedade e a
alteração de valores, ilustrando a situação com a abertura da loja "La Putaria", no bairro de Ipanema, na
cidade do Rio de Janeiro/RJ, no mesmo período em que a penúltima livraria do bairro fecha as suas
portas. Em um dos trechos, assim fala o autor:

"Não vou gastar meu palavreado à toa, em considerações sobre a polêmica do sexo servido
doce nos balcões de Ipanema. Os rapapés da crônica são desnecessários quando o
tamanho dos fatos está logo ali na esquina e, curto e grosso, denuncia mais um drama dos
tempos. Fecharam a livraria, abriram La Putaria."

2.29. O que se vê é que o mercado de lojas como as das representadas vem crescendo, com o
aumento da venda e da circulação dos seus respectivos produtos e a exposição de conteúdos impróprios
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e inadequados ao público em geral, incluindo menores de idade, pelo que faz-se necessário que
seja devidamente observado o regramento por este novo nicho que vem surgindo em nossa sociedade.
2.30. Não se trata, pois, de puritanismo, censura ou limitação ao livre exercício profissional,
como poderia ensaiar um mal-intencionado. À solução da questão bastam a Constituição da República
Federativa do Brasil, o Código de defesa do Consumidor e o Estatuto da Criança e do Adolescente, para se
vislumbrar que é imperativa a atuação da Secretaria Nacional do Consumidor, a fim de que as lojas e
redes do estilo se adaptem rapidamente aos ditames constitucionais e legais consumeristas.

I – DA RESPONSABILIDADE PELOS FORNECEDORES DE PRODUTOS E DE SERVIÇOS

2.31. A Constituição Federal considera a proteção do consumidor como direito fundamental e


princípio balizador das atividades econômicas (art. 5º, XXXII, e 170, CF/88). Desse modo, tendo em vista a
vulnerabilidade do consumidor, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) prezou pela dignidade dos
consumidores, bem como pela proteção dos interesses econômicos, pela transparência e pela harmonia
nas relações de consumo.
2.32. Assim, o CDC estabeleceu os direitos básicos dos consumidores e princípios norteadores
das relações de consumo, como a vulnerabilidade, a boa-fé, a confiança e a transparência, com o escopo
de assegurar a harmonização dos interesses das partes e equilíbrio no mercado de consumo (art.
4º, caput, I e III, CDC). Os princípios jurídicos do CDC servem para dar segurança aos contratantes e
indicar os parâmetros para a interpretação de práticas abusivas.
2.33. Além da vulnerabilidade, o CDC ainda instituiu o princípio da proteção da confiança do
consumidor, tendo como um dos seus aspectos “a proteção da confiança na prestação contratual, que
dará origem às normas cogentes do CDC, que procuram garantir ao consumidor a adequação do produto
ou serviço adquirido, assim como evitar riscos e prejuízos oriundos destes produtos e serviços”.
2.34. Os princípios da boa-fé, da transparência e da confiança são essenciais para a consolidação
de uma relação de consumo como determina o CDC e assim transmitem a real vontade das partes em
estabelecerem uma relação de consumo.
2.35. Considerando-se, pois, o necessário alinhamento dos valores e princípios organizacionais
das empresas com a política de oferta de produtos e de serviços no mercado, a preocupação em relação
à forma como serviços e produtos são dirigidos ao consumidor apresenta-se como indicativo sensível,
indelével e revelador dos padrões éticos das relações de consumo. Eis, assim, a proibição do CDC de
práticas baseadas em abusos nas relações de consumo.
2.36. Tanto é assim, que o Código, em seu art. 6º, traz o rol dos direitos básicos do consumidor,
dentre os quais figuram, como direitos do consumidor, a liberdade de escolha e os direitos à informação
adequada e clara. O Codex, seguindo essa linha, defere proteção contra métodos comerciais coercitivos
ou desleais e práticas comerciais abusivas, impostas no fornecimento de produtos e serviços, bem como
à efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais (art. 6º, inciso IV).

“Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


III - A informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com
especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos
incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;”

2.37. No caso em questão, conforme amplamente demonstrado acima, a maneira explícita como
o conteúdo sexual das lojas é exposto e comercializado, a vulnerabilidade dos seus clientes, dentre os
quais, existem, também, crianças, revelam de forma clara a prática abusiva de quem se prevalece da
fragilidade, da fraqueza ou, ainda, da ignorância do consumidor, em razão de sua idade, saúde,
conhecimento ou condição social, para ofertar-lhe seus produtos ou serviços, tal qual já descrito no art.
39, IV do CDC.

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II – DAS MEDIDAS CABÍVEIS NO CASO DE IRREGULARIDADES EM UMA RELAÇÃO DE CONSUMO

2.38. A criança e o adolescente têm direito à informação, cultura, lazer, esportes, diversões,
espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. A
inobservância das normas de prevenção importará em responsabilidade da pessoa física ou jurídica, nos
termos do Estatuto da Criança e do Adolescente (arts. 71 a 73).
2.39. O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90) dispõe, em seu art. 201, V, que
“compete ao MP (…) promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses
individuais, difusos ou coletivos relacionados à infância e à adolescência (…).”
2.40. No âmbito da Administração Pública, cada órgão ou repartição tem diferentes e específicas
atribuições legais para garantir o direito dos cidadãos dentro de suas competências e especialidades. Na
fiscalização das infrações às relações de consumo, todos os integrantes do Sistema Nacional de Defesa do
Consumidor têm competência concorrente no exercício do poder de polícia administrativo, cabendo à
Secretaria Nacional do Consumidor a coordenação da Política Nacional de Defesa do Consumidor.
2.41. De acordo com o Decreto nº 7.738/2012, que criou a Secretaria Nacional do Consumidor
(Senacon), bem como o art. 106 do Código de Defesa do Consumidor e o art. 3º do Decreto nº 2.181/97,
a Senacon é um órgão federal que concentra suas atividades no planejamento, elaboração, coordenação
e execução da Política Nacional das Relações de Consumo.
2.42. Nesse sentido, a Senacon conta com o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor
(DPDC), o qual, de acordo com o art. 18 do Regimento Interno da Senacon (Portaria nº 1.840, de 21 de
agosto de 2012, publicada no D.O.U, de 22 de agosto de 2012 – Seção 1 – n. 163, fls. 26-29), é órgão de
assessoria para análise, planejamento, fiscalização e acompanhamento do Sistema Nacional do
Consumidor. Assim, de acordo com o inciso XI do mesmo artigo, compete ao DPDC fiscalizar demandas
que envolvam relevante interesse geral e de âmbito nacional.
2.43. Além disso, cabe ao DPDC a aplicação de sanções administrativas previstas nas normas de
defesa do consumidor, somadas à aplicação de medidas cautelares para a salvaguarda de direitos
consumeristas. Para tanto, pode iniciar investigações preliminares e instaurar processos administrativos,
nos termos dos arts. 55 a 60 e 106 do Código de Defesa do Consumidor; das disposições do Decreto
2.181/97; e do art. 18, III, do Regimento Interno da Senacon – Portaria n.º 1.840, de 21 de agosto de
2012, publicada no D.O.U, de 22 de agosto de 2012.
2.44. Outrossim, no que concerne às atribuições legais específicas do DPDC, deve ser destacado,
ainda, o respeito do exercício do Poder de Polícia entre a União, os Estados, os Municípios, e o Distrito
Federal, o qual segue a distribuição constitucional das competências administrativas, com base no
Princípio da Predominância do Interesse. Com base no inciso XI do art. 18 do Regimento Interno da
Secretaria Nacional do Consumidor, caberá ao DPDC a apreciação de matérias e questões de
predominante interesse geral, ao passo em que, aos Estados, ficam afetas as matérias de predominante
interesse regional, e aos municípios concernem os assuntos de interesse local.
2.45. O interesse geral evidencia-se quando a causa transcende os interesses subjetivos das
partes, ou seja, envolvem questões que se apresentam substancialmente relevantes para todo o País e
repercutem em toda a sociedade. Nesse sentido, por meio da Nota Técnica nº 328 CGAJ/DPDC/2005
(SEI 15135102), firmou-se entendimento de que ao DPDC compete, prioritariamente, a análise de
questões que tenham repercussão nacional e interesse geral.

III – DA VIOLAÇÃO A PRECEITOS DO CDC PELA EXISTÊNCIA DE PRÁTICA ABUSIVA DEVIDO À


COMERCIALIZAÇÃO EXPLÍCITA DE PRODUTOS EM FORMATOS ERÓTICOS

2.46. A doutrina da proteção integral visa assegurar a crianças e adolescentes diversos direitos, a
fim de garantir o melhor interesse dos menores. Com base no art. 227 da Constituição e em dispositivos

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do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a proteção integral é dever do Estado, da família e da


sociedade.
2.47. Ademais, é importante trazer à baila o texto da Lei nº 13.257/16, em seu art. 5º, que assim
preconiza:

Art. 5º Constituem áreas prioritárias para as políticas públicas para a primeira infância a
saúde, a alimentação e a nutrição, a educação infantil, a convivência familiar e
comunitária, a assistência social à família da criança, a cultura, o brincar e o lazer, o
espaço e o meio ambiente, bem como a proteção contra toda forma de violência e de
pressão consumista, a prevenção de acidentes e a adoção de medidas que evitem a
exposição precoce à comunicação mercadológica.

2.48. Essa proteção diferenciada ocorre em razão da “condição peculiar da criança e do


adolescente como pessoas em desenvolvimento”. Significa que a criança e o adolescente possuem todos
os direitos de que são detentores os adultos, contanto que sejam aplicáveis à sua idade, ao grau de
desenvolvimento físico ou mental e à sua capacidade de autonomia e discernimento.
2.49. A peculiaridade da condição humana da criança e do adolescente é propriamente a
construção científico-cultural da identidade e vulnerabilidade social, compreendendo a especificidade
dos direitos como instrumento direcionado à valorização do desenvolvimento destes sujeitos e
responsabilização do Estado, da sociedade e da família, além da abertura de medidas para a participação
diferenciada nos ambientes socioestatais de decisão.
2.50. Com isso, pode-se dizer que o direito ao reconhecimento da criança e do adolescente
como pessoas em desenvolvimento imputa, necessariamente, consideração tanto limitadora quanto
promotora dos direitos fundamentais. Por um lado, acarreta a disposição indispensável e indissociável de
direitos fundamentais assegurados pelo Estado, sociedade e família, para obtenção de desenvolvimento
digno. Por outro, a restrição do exercício pleno de alguns direitos e deveres, em consequência de a
contrapartida obrigacional imputar consequências possivelmente gravosas ao desenvolvimento.
2.51. Além disso, vale ressaltar que a função hermenêutica do princípio constitucional da
condição peculiar da pessoa em desenvolvimento precisa ser assumida enquanto direcionamento
interpretativo e aplicativo dos dispositivos normativos. Vale dizer, sua função é servir de parâmetro para
aplicação, interpretação e integração de todo o ordenamento jurídico. No art. 6º do ECA, tal fato fica
ainda mais explícito, pois afirma que a condição peculiar de desenvolvimento da criança e do adolescente
é um dos critérios que deve ser usado na interpretação da lei.
2.52. Em âmbito internacional, a Convenção dos Direitos da Criança considera como crianças os
menores de 18 anos. Assim, principalmente com base no princípio do melhor interesse, busca-se garantir
direitos e proteção especial às crianças. Isso se dá em razão da condição peculiar das crianças e dos
adolescentes, as quais, por estarem em fase de desenvolvimento, são particularmente vulneráveis e
precisam de proteção especial.
2.53. Desse modo, as leis visam a assegurar a proteção dos menores em seu âmbito de
regulação. O art. 3º do Código Civil considera que os menores de 16 anos são absolutamente incapazes
para exercerem pessoalmente os atos da vida civil, justamente por se encontrarem em fase de formação.
2.54. No âmbito do Código de Defesa do Consumidor (CDC), o § 2° do art. 37 considera abusiva a
publicidade que se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança. Nota-se que todo
consumidor é vulnerável, em regra, porém, alguns, como as crianças, são também considerados
hipervulneráveis. Como não possuem o completo desenvolvimento, as crianças merecem proteção
especial à luz do CDC.
2.55. Frise-se que o inciso I do art. 4º do CDC reconhece a vulnerabilidade dos consumidores. No
caso das crianças, como mencionado acima, há ainda maior vulnerabilidade pela condição de pessoa em
desenvolvimento. A capacidade de discernimento ainda incompleta é o pressuposto que não deve, em
nenhuma hipótese, ser desconsiderado. Assim, são mais vulneráveis a apelos publicitários e consideradas
hipossuficientes pelo CDC.
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2.56. No caso dos autos, em se tratando de produtos com conteúdo de cunho sexual explícito,
bem como de estabelecimentos contendo mensagens e imagens altamente sugestivas, as representadas
deveriam evitar que crianças e adolescente ficassem expostos a apelos inadequados a sua faixa etária.
2.57. A venda de produtos em formatos de órgãos sexuais e a permissão de ingresso de crianças
e adolescentes em estabelecimentos com conteúdo erótico mostrou-se inadequado e totalmente
inapropriado. O que vem ocorrendo, de fato, é a exposição inadequada de crianças e adolescente a
insinuações sexuais.
2.58. Tal questão aplica-se, também, aos consumidores adultos, que não desejam conviver com
a exposição de conteúdos pornográficos, ao transitarem livremente pelas ruas.
2.59. Tendo-se em vista a exposição inadequada de consumidores de todas as faixas etárias, sem
restrições, entende-se que houve, também, a violação do inciso IV do art. 39 do CDC, que considera
abusivo o fornecedor se provalecer “da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade,
conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços”.

III – DAS ALCUNHAS EMPRESARIAIS ELEITAS PELAS REPRESENTADAS

2.60. Outro tópico que precisa ser enfrentado neste passo, diz respeito ao nome (fantasia ou
não) atribuído a cada uma das empresas. Relembre-se: “La Putaria”, “Ki Putaria” e “La Pirokita”, são os
cognomes de três das quatro empresas embargadas.
2.61. A loja/rede Assanhadxs, em princípio, não estaria nesse rol, já que o seu apelido não
remeteria (ao menos diretamente) a turpilóquios.
2.62. No que tange às demais, no entanto, não há dúvidas de que constituem impropérios e
obscenidades, aos quais se pretende dar as vestes de criatividade. Sem sucesso, todavia.
2.63. Custa a crer, aliás, que esses nomes tenham sido aprovados sem reserva pelos órgãos
locais de registro público, haja vista, que, assim como os seus produtos, os títulos ostentados pelas lojas
das demandadas impactam negativamente os consumidores, notadamente os que ainda se encontram
em fase de formação sociocultural, como ocorre com as crianças e adolescentes.
2.64. Por essa razão, tudo o que foi dito e assertado acima a respeito dos produtos
comercializados pelas empresas indigitadas, com maior razão, vale também para os seus nomes de
apresentação empresarial.
2.65. Por isso, a serem mantidas essas rubricas comerciais, é mister que sejam reservadas
apenas ao interior dos próprios estabelecimentos ou, enquanto estejam expostas, cobertas, como já
procedido pela loja de Ipanema (RJ) da empresa La Putaria.
2.66. A medida é necessária, outrossim, para que haja um alinhamento - e até mesmo simetria –
com os departamentos congêneres, aos quais são impostas regras de propaganda e exposição pelo Poder
Público.

IV – DA PRESENÇA DOS REQUISITOS PARA CONCESSÃO​DA MEDIDA CAUTELAR

2.67. O inciso VI do art. 56 do CDC, bem como o art. 18 do Decreto nº 2.181, de 20 de março de
1997, determinam que, caso haja infrações às normas de defesa do consumidor, os fornecedores ficarão
sujeitos a diversas sanções administrativas, sem prejuízo das de natureza civil, penal e das definidas em
normas específicas, sendo-lhe imposta a suspensão de fornecimento de produtos, serviços ou atividades,
a ser aplicada pela própria autoridade administrativa, inclusive através de medida cautelar, antecedente
ou incidente no procedimento administrativo.

Código de Defesa do Consumidor

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Art. 56. As infrações das normas de defesa do consumidor ficam sujeitas, conforme o caso,
às seguintes sanções administrativas, sem prejuízo das de natureza civil, penal e das
definidas em normas específicas:
(...)
VI - suspensão de fornecimento de produtos ou serviço;
VII - suspensão temporária de atividade;
(...)
IX - cassação de licença do estabelecimento ou de atividade;
(...)
Parágrafo único. As sanções previstas neste artigo serão aplicadas pela autoridade
administrativa, no âmbito de sua atribuição, podendo ser aplicadas cumulativamente,
inclusive por medida cautelar, antecedente ou incidente de procedimento administrativo.

Decreto n.º 2.181, de 1997

Art. 18. A inobservância das normas contidas na Lei nº 8.078, de 1990, e das demais
normas de defesa do consumidor constituirá prática infrativa e sujeitará o fornecedor às
seguintes penalidades, que poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, inclusive de
forma cautelar, antecedente ou incidente no processo administrativo, sem prejuízo das de
natureza cível, penal e das definidas em normas específicas:
(...)
VI - suspensão de fornecimento de produtos ou serviços;
VII - suspensão temporária de atividade;
(...)
IX - cassação de licença do estabelecimento ou de atividade.
(...)
§ 1º Responderá pela prática infrativa, sujeitando-se às sanções administrativas previstas
neste Decreto, quem por ação ou omissão lhe der causa, concorrer para sua prática ou dela
se beneficiar.
§ 2º As penalidades previstas neste artigo serão aplicadas pelos órgãos oficiais integrantes
do SNDC, sem prejuízo das atribuições do órgão normativo ou regulador da atividade, na
forma da legislação vigente.
§ 3º As penalidades previstas nos incisos III a XI deste artigo sujeitam-se a posterior
confirmação pelo órgão normativo ou regulador da atividade, nos limites de sua
competência.

2.68. Para a concessão de provimentos de urgência, à semelhança do que ocorre no presente


caso, é necessária a presença dos requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora.
2.69. Dito isso, denota-se a presença do fumus boni iuris, uma vez que, ao comercializar
produtos com alto teor sexual, a bem da verdade, trata-se da incitação à normalização de conduta que
afeta a formação social e intelectual dos consumidores que potencialmente consomem os produtos e
frequentam o os locais.
2.70. Resta constatada a forma inadequada e inapropriada de uma patente violação
que, ao menos em análise inicial, afronta os princípios básicos do direito do consumidor e à proteção à
criança e ao adolescente, valendo-se da potencial vulnerabilidade do consumidor - direito descrito no art.
6º do CDC.
2.71. Quanto ao periculum in mora, conforme já visto acima, a urgência da situação decorre
principalmente da gravidade do conteúdo e dos produtos de cunho sexual explícito, comercializados
pelas representadas, atingindo, também, o público infanto-juvenil, em diversos municípios do território
nacional.

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2.72. Adicionalmente, há que se ressaltar que, quanto mais tempo disponível a atividade das
representadas e a comercialização dos produtos, mais suscetíveis, também, estão as gerações de crianças
e adolescentes que consumirão produtos e informações impróprios à sua formação. O número de
manifestações públicas em relação ao tema em comento evidencia de forma inequívoca o impacto no
seio social.
2.73. Assim, diante do exposto, torna-se imperiosa a aplicação de medida cautelar para a
imediata suspensão da atividade das representadas, até que esta seja readequada, tendo em vista a
necessária proteção à criança e ao adolescente.
2.74. Ademais, não há que se falar em risco de irreversibilidade da medida. Naturalmente, essa
decisão não antecipa o mérito e pode ser revista a qualquer tempo, caso o acervo probatório indique
conclusão diferente desta ora adotada.

3. CONCLUSÃO

3.1. Diante do exposto, com fulcro nos artigos 56 do CDC, 18 do Decreto nº 2.181, de 20 de
março de 1997, e 3º da Portaria nº 07/2016 deste Ministério da Justiça, e tendo em vista a necessidade
imperiosa da implementação de medidas voltadas à proteção dos consumidores, em especial daqueles
hipervulneráveis, em prol da tutela dos princípios basilares do Código de Defesa do Consumidor, ligados
à tutela do direito à vida, à saúde e à segurança, além da transparência inerente às relações de consumo
e o respeito às normas que pressupõem o cumprimento da boa-fé objetiva, determino a edição de
decisão cautelar, pelo Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, nos seguintes termos:

a) A suspensão de fornecimento dos produtos que reproduzam ou sugiram o formato


de genitálias humanas e/ou partes do corpo humano com conotação sexual, erótica ou
pornográfica a menores de 18 anos;
b) A interdição de letreiros, incluindo os nomes das lojas "La Pirokita", "La Putaria" e "Ki
Putaria", e produtos com conteúdos pornográficos, que estejam em locais e vitrines de
fácil visualização pelos consumidores no exterior dos estabelecimentos, até que estes
sejam realocados de maneira que fiquem fora do alcance da vista daqueles que
transitam nas vias e locais públicos; e
c) Afixação de cartazes no exterior e no interior dos estabelecimentos, informando aos
consumidores sobre a restrição de acesso ao interior da loja, bem como de venda dos
produtos a menores de 18 anos.

3.2. Após o quinto dia, contado da ciência da presente decisão (01/06/2022), incidirá multa
diária (astreintes), a ser arbitrada no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), caso não cumprida as
determinações dos itens acima referidos, em desfavor das representadas, sem prejuízo de que sejam
aplicadas, posteriormente, demais sanções administrativas e penais, nos termos da legislação de
regência, incluindo-se a cassação de licença dos estabelecimentos e a suspensão da atividade.

- À COARI, para que expeça ofício dando conhecimento da presente decisão, e dos
documentos anexos, aos órgãos do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, para
fins de fiscalização de cumprimento da presente medida.
- À CSA para que: 01) expeça ofício à Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, para
conhecimento e adoção das providências cabíveis no que tange às supostas práticas
infrativas, com cópia da presente decisão; 02) expeça ofício ao Ministério Público dos
Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Paraná, para conhecimento
e adoção das providências cabíveis no que tange às supostas práticas infrativas, com
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cópia da presente decisão; 03) expeça ofícios aos gabinetes dos vereadores Jéssica
Ramos Moreno (PP) e Álvaro Damião (DEM), para conhecimento da presente decisão
administrativa, tendo em vista a apresentação de Projetos de Lei, que versam sobre o
tema; 04) expeça ofícios à Junta Comercial do Rio de Janeiro (JUCERJA), à Junta
Comercial de Minas Gerais (JUCEMG), à Junta Comercial da Bahia (JUCEB), à Junta
Comercial de São Paulo (JUCESP), e à Junta Comercial do Paraná (JUCEPAR), para
conhecimento da presente decisão administrativa; 05) expeça ofícios às Delegacias do
Consumidor dos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Paraná,
para conhecimento da presente decisão administrativa; 06) expeça ofícios aos Procons
regionais (Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Maringá e Paranavaí/PR),
para que tomem ciência e fiscalizem o cumprimento da presente da decisão; 07) expeça
ofícios às prefeituras de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Maringá e
Paranavaí/PR, para conhecimento da presente decisão; e 08) expeça ofício à Expo
Paranavaí, para que tome ciência da presente decisão, ante a notícia de exposição no
local por uma das representadas.

3.3. Intimem-se as representadas.


3.4. Caso as representadas optem, expressamente, por não apresentar qualquer resistência
(judicial ou administrativa) à presente decisão, no prazo de quinze dias úteis, e adequem os seus
serviços, nos termos do acima determinado, encaminhe-se os autos à CGCTSA, para avaliação da
pertinência do prosseguimento do procedimento administrativo.
3.5. Publique-se a presente decisão no Diário Oficial da União.

LAURA POSTAL TIRELLI


Diretora do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor - Substituta

Documento assinado eletronicamente por Laura Postal Tirelli, Diretor(a) do Departamento de


Proteção e Defesa do Consumidor - Substituto(a), em 31/05/2022, às 14:21, com fundamento no §
3º do art. 4º do Decreto nº 10.543, de 13 de novembro de 2020.

A autenticidade do documento pode ser conferida no site http://sei.autentica.mj.gov.br informando o


código verificador 18148230 e o código CRC EEFE1273
O trâmite deste documento pode ser acompanhado pelo site http://www.justica.gov.br/acesso-a-
sistemas/protocolo e tem validade de prova de registro de protocolo no Ministério da Justiça e
Segurança Pública.

[1] Em verdade, o Relatório do Comitê Sobre a Obscenidade e a Censura de Filmes.

[2] In, Uma Questão de Princípio, Martins Fontes, 2019.

[3] Vereadora Jéssica Ramos (PP)

[4] Vereador Álvaro Damião (DEM)

[5] Edições Ibrasa, 1972.

[6] A volta ao Seio Materno.

ANEXOS
Projeto de Lei nº 95/2022 (SEI 18164693)
Projeto de Lei nº 316/2022 (SEI 18164717)
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Ofício enviado pela AMAI (SEI 18164736)


Imagens das Lojas (SEI 18164757)
Matéria no Jornal O Globo (SEI 18164775)
Vídeo da loja La Putaria, no qual aparece criança no interior da
loja: https://youtube.com/shorts/C2SS9monras?feature=share
Vídeo: https://youtube.com/shorts/dRCOSx9HofU?feature=share
Vídeo: https://fb.watch/dkziMNQnSR/

Referência: Processo nº 08012.001385/2022-19 SEI nº 18148230

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