HACS-UL

2021/2022
1º semestre
Duração: 60min

Tecnologia e Sociedade
Exame de 2022-02-10

Notas da revisão da prova

As respostas à P1 foram classificadas da seguinte forma: 1v a cada resposta certa, -0.1v a cada
resposta errada.

As respostas à P2 foram classificadas da seguinte forma: 0.2v a cada resposta certa, -0.1v a cada
resposta errada.

As respostas às perguntas P3 e P4 foram cotadas no intervalo [0-5], podendo ser atribuídos meios
pontos.
As pontuações [0-5] refletem o nível da aquisição da competência em avaliação que foi percebido,
de acordo com o seguinte critério:

5: Excelente: A resposta mostra que o aluno adquiriu na totalidade a competência em avaliação.

Quaisquer erros são lapsos insignificantes.

4: Bom: A resposta mostra que o aluno, embora podendo ter cometido erros visíveis ou omissões,
terá adquirido na totalidade ou quase totalidade a competência em avaliação.

3: Suficiente: Apesar de serem visíveis erros significativos ou por não ter respondido à questão na
totalidade, percebe-se que o aluno adquiriu o essencial da competência em avaliação.

2: Insuficiente: Apesar de a resposta conter elementos ou componentes certos, o aluno não

evidenciou ter adquirido o essencial/a maior parte da competência em avaliação.

1: Pobre: A resposta contém erros graves, que indicam um conhecimento muito limitado ou
parcialmente distorcido da matéria em avaliação, pelo que o aluno não demonstrou a aquisição de
conhecimentos necessários para responder de forma suficiente.

0: Não resposta: O aluno ou não respondeu ou deu uma resposta incompreensível para a questão
que lhe foi colocada.

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 Pergunta #1
[2 val] Os ataques informáticos a indústrias que apoiam os esforços de combate à Covid-19, incluindo
hospitais, fabricantes de produtos médicos e farmacêuticos e empresas de energia, duplicaram em 2020,
face ao ano anterior. Os piratas informáticos bloqueiam o acesso à informação dos doentes, incluindo
registos médicos e marcações (consultas, cirurgias, medicações...), impedindo o normal funcionamento
da instituição e colocando a vida dos doentes, muitos em estado grave, em causa. Neste momento, o FBI
está a investigar um ataque de ransomware a Rehoboth McKinley Christian Health Care, no Novo
México. Os piratas exigiram um resgate de 1,75 milhões de dólares para descriptografar os arquivos.
As empresas e organizações que são alvo deste tipo de ataques debatem-se como proceder nesta
situação: pagar VS não pagar.

a. [1 val] Abaixo apresentam-se cinco afirmações. Tendo em conta que cada uma destas cinco
afirmações corresponde a uma abordagem ética diferente, complete a frase escolhendo a
afirmação que se aproxima da mais correta.

“De acordo com a abordagem deontológica, o procedimento correto seria...

[A] ... pagar o resgate, pois beneficiará os pacientes, que estão numa posição de maior vulnerabilidade.”
[B] ... entrar em negociação com as famílias dos pacientes e com os funcionários do hospital para
partilhar o custo do resgate.”
[C] ... pagar o resgate, pois todos têm o direito a um sistema de saúde.”
[D] ... pagar o resgate, pois, enquanto cidadão, tenho direito a um sistema de saúde seguro e protegido.”
[E] … não pagar, independentemente das circunstâncias envolvidas.”

b. [1 val] Abaixo apresentam-se cinco afirmações que indicam uma abordagem ética e uma
justificação. Diga qual das afirmações é mais coerente na justificação apresentada dada a
abordagem escolhida.
​[A] Segundo a abordagem dos direitos, não pagar o resgate seria o mais ético visto eu não querer
compactuar com estes crimes.
[B] Segundo a ética das virtudes, o mais correto seria negociar com as famílias dos pacientes oncológicos
para partilharmos o custo do resgate.
[C] Segundo a abordagem do utilitarismo, a atitude correta é pagar o resgate, desde que o custo das
vidas humanas seja superior ao valor exigido.
[D] Segundo a abordagem utilitarista, o mais ético seria pagar o resgate pois quero um sistema de saúde
seguro e protegido para todos.
[E] Segundo a abordagem do bem comum, a atitude correta é não pagar pois não quero que pagar
resgates se transforme numa máxima universal.

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Tecnologia e Sociedade – Exame 2021/2022

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Pergunta #2
[2 val] A Computação Verde é o uso ambientalmente responsável de computadores e recursos
relacionados. Há, por outro lado, uma série de tecnologias, como e-bikes, baterias insubstituíveis, ou
dispositivos que não desmontáveis, e portanto, irreparáveis, que constituem um problema a ser
resolvido num futuro próximo.

a. [1 val] Indique se é verdadeira ou falsa cada uma das cinco afirmações seguintes sobre uso de
recursos ambientais em produtos tecnológicos.
[A] Os riscos ambientais da exploração de recursos minerais em terra são superiores aos riscos da
mineração dos oceanos. F

[B] Um dos princípios base na Computação Verde é a redução no consumo de energia elétrica na
computação. V

[C] Em vez do consumo de artefactos físicos, a compra de acessórios em jogos virtuais, com o recurso às
criptomoedas, é um exemplo de tecnologia verde. F

[D] Devido às leis de proteção ambiental em vigor na Europa, o lixo eletrónico passou a ser preocupante
somente noutras partes do mundo. F

[E] Com a exploração do espaço deixará de haver riscos para a humanidade, relacionados com a extração
de recursos naturais dos asteroides. F

b. [1 val] Indique se é verdadeira ou falsa cada uma das cinco afirmações seguintes sobre o direito
a reparar.
[A] Os produtos não devem ser desenhados apenas para funcionar, mas também para durar e ser
reparados sempre que necessário. V

[B] O direito a reparar deve ser sempre possível, mesmo que uma pequena reparação do artefacto custe
mais que um novo. F

[C] Os fabricantes estão impedidos de atualizar o software dos equipamentos, quando daí resulta
degradação da funcionalidade das versões mais antigas. V

[D] Os fabricantes devem ter o controlo e a gerência da reparação dos seus produtos, sendo assim
responsáveis por criarem postos de reparação. F

[E] O greenwashing consiste na obrigatoriedade de comercialização de equipamentos limpos de resíduos

poluentes. F

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Tecnologia e Sociedade – Exame 2021/2022

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Pergunta #3

[3 val] Como avalia a atuação do Facebook no caso a seguir apresentado, à luz da abordagem utilitarista, por um lado, e da
deontologia, pelo outro? Justifique a sua resposta.
De acordo com o site norte-americano Vice, o Facebook ajudou o FBI a encontrar um pedófilo que usava esta rede social para,
supostamente, assediar, ameaçar e chantagear raparigas menores de idade. O Facebook contratou uma empresa para explorar
uma vulnerabilidade no dispositivo do suspeito, de modo a dar ao FBI forma de aceder ao mesmo para obtenção de provas
incriminatórias, as quais serviram para posteriormente o incriminar.

Critérios de avaliação:
● 20% Questão ética
● 10% Utilitarismo - descrição
● 20% Utilitarismo - argumentação
● 10% Deontologia - descrição
● 20% Deontologia - argumentação
● 20% Correção linguística, clareza e estruturação da resposta
Proposta de resposta (a título meramente ilustrativo; outros cenários e alternativas poderiam ser considerados):

Identificação da questão ética:

A atuação do Facebook é eticamente correta?

Abordagem utilitarista:
● A ação é avaliada em função dos resultados que produz (consequencialismo). A ação moralmente correta
é aquela que maximiza a felicidade (ou os benefícios), em detrimento do sofrimento (ou os danos) para o
maior número de indivíduos.
● Neste caso em concreto, a ação do Facebook seria moralmente correta. A obtenção de provas
incriminatórias contra o sujeito em questão (independentemente da forma como foram conseguidas)
permitiu a incriminação do sujeito, podendo assumir-se que terá sido preso e, por isso, evitado um
conjunto de crimes sexuais, contribuindo para a segurança e bem-estar não apenas das potenciais vítimas
e respetivas famílias, mas da sociedade como um todo.

Deontologia:
● De acordo com a ética deontológica, devemos agir com sentido de dever, com preocupação e respeito
pela lei moral (isto é, agir com intenção de cumprir o dever por dever). As regras morais corretas são
aquelas que vão ao encontro do imperativo categórico: (1) aquelas que podemos querer que sejam
adotadas universalmente (fórmula da lei universal); (2) aquelas que nos levam a tratar as pessoas como
fins, e não como meros meios (fórmula do fim em si mesmo). Um ato só tem valor moral se for realizado
com a intenção ou motivo certos; logo, a qualidade da ação não se deve confundir com a intenção da
ação.
Nesta perspetiva, a atuação do FB não é moralmente incorreta. Embora se possa alegar que o FB agiu com a
melhor das intenções (nomeadamente a de combate ao crime e preservação da integridade física e psicológica das
potenciais vítimas), violou um direito fundamental (direito à privacidade). De acordo com esta abordagem, os
meios não justificam os fins; em última instância, não queremos que a invasão da privacidade se transforme
numa máxima universal.

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Tecnologia e Sociedade – Exame 2021/2022

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Pergunta #4

[3.0 val] O “direito ao esquecimento” é um direito legal que os cidadãos europeus têm de pedir que os seus dados pessoais
sejam eliminados da Internet (esse direito legal não existe na América). Para muitos, esta lei reforça o direito à privacidade,
enquanto que para outros, é um atentado à liberdade de expressão.
Explique com as suas palavras os dilemas apresentados quando falamos de liberdade de expressão e privacidade, no contexto
dos direitos das vítimas de assédio moral, quando aparecem indexadas nos motores de pesquisa.

Critérios de avaliação:
● 25% Contextualização
● 2% Menção da secção 230
● 5% Menção da RGPD
● 10% O direito à liberdade de expressão não deve estar acima do direito à não discriminação
● 38% Argumentação
● 20% Correção linguística, clareza e estruturação da resposta
Proposta de resposta (a título meramente ilustrativo; outros cenários e alternativas poderiam ser considerados):

Embora a Internet ofereça muitos benefícios para a educação e socialização dos humanos, garantindo
uma vasta liberdade de expressão, o espaço virtual, sobretudo as redes sociais, é também um lugar
minado cada vez mais com uma toxicidade que compromete muitas vezes os direitos humanos e põe em
causa a privacidade dos seus utilizadores. Podemos citar alguns exemplos desta toxicidade, tais como:
difamação online, discurso de ódio, cyberbullying, revenge porn, pornografia infantil. Estes conteúdos e
práticas ganharam grande terreno nas redes sociais devido à lei dos EUA (a secção 230) que retira a
responsabilidade das empresas detentoras de redes sociais de conteúdos gerados pelo utilizador.

Ao passo que esta lei defende a liberdade de expressão como direito fundamental e supremo nos EUA,
na Europa criou-se a lei do "direito ao esquecimento" em 2014, posteriormente fortificada com a
elaboração da RGDP em 2018, uma medida para proteger a utilização de dados pessoais e melhorar a
privacidade online dos cidadãos europeus. No entanto, para alguns, esta lei pode ser considerada
censura, pois poderia eventualmente permitir que alguém tente apagar o seu passado, a sua história.
Exemplos mais comuns que têm sido dados: políticos que não querem ver o seu nome associado a
determinada informação, criminosos que pedem para o seu crime ser eliminado da história online. O
dilema principal desta questão reside entre os limites do direito à liberdade de expressão e o direito à
privacidade. Por um lado, na Europa, garante-se a privacidade dos utilizadores, com o “direito ao
esquecimento''. Por outro lado, nos EUA, onde estas empresas estão localizadas, a 1.ª Emenda à
Constituição — e a chamada secção 230 — protegem a liberdade de expressão e a “conversa” na
Internet, com a intenção de manter a democracia. Contudo, é o abuso da liberdade de expressão que
tem enfraquecido algumas democracias, uma vez que esta tem sido cada vez mais instrumentalizada
para atacar grupos minoritários, ou até mesmo, instituições políticas como o Capitólio nos EUA em 2021,
através da incitação ao ódio em redes sociais como o Twitter e a Parler.
É, por isso, que o direito à liberdade de expressão não deve estar acima do direito à não discriminação,
pois queremos construir uma sociedade ética, onde é o respeito mútuo e a equidade que gerem as
nossas interações sociais, e não o contrário.