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NOVO CPC – FREDIE DIDIER JR – 2015

AULA 22

Este NCPC acaba sendo uma espécie de estuário de vários projetos que estavam
correndo para melhorar o processo civil brasileiro. Havia um projeto de mediação e conciliação
que vinha tramitando há cerca de vinte anos. Demorava tanto, que o CNJ chegou a
regulamentar a mediação e conciliação como política pública por meio de Resolução n. 125.

Essa ideia de regulamentação da conciliação e mediação foi inserida no NCPC em


aproximadamente 11 artigos, colocando conciliadores e mediadores como auxiliares da
justiça. Ganharam um capítulo próprio no NCPC, com base no princípio da primazia da solução
de conflitos por autocomposição.

A primeira grande novidade é que o NCPC cria o dever de que os Tribunais devem criar
centros judiciários de solução consensual de conflitos. São órgãos do Poder Judiciário,
cabendo cada Tribunal definir a organização e composição destes centros a partir de diretrizes
estabelecidas pelo CNJ, diretrizes que inclusive estão estabelecidas na resolução n. 125.

Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual


de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de
conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas
destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição.

Estes centros terão competência para realizar as audiências de mediação e conciliação.


Caberá a estes centros o desenvolvimento de programas destinados ao auxílio, orientação e
estímulo à autocomposição.

A condução das audiências de conciliação e mediação não será mais feita pelo juiz,
mas sim pelo conciliador/mediador. São pessoas que serão treinadas para atuar como
mediador e conciliador.

O NCPC trouxe a diferença conceitual de mediação e conciliação. O ponto comum é a


autocomposição. Ambos são terceiros estranhos ao conflito que auxiliam os conflitantes na
busca da solução consensual dos seus problemas. Distinguem-se pelas técnicas que eles
utilizam. A mediação é técnica mais sutil, pois o mediador não faz propostas, apenas tem
responsabilidade de aproximar as partes, um facilitador do diálogo, sendo adequada para os
casos em que as partes tem um vínculo anterior, um histórico de relação; se o mediado for
muito invasivo, perde a confiança das partes; recomendado para relações de família,
vizinhança e societárias. A conciliação tem justamente a diferença de ser mais proativo,
incisivo, faz propostas, e é recomendado para conflitos envolvendo pessoas que não se
relacionavam, como num acidente de trânsito, consumidor e fornecedor.

§ 2o O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não


houver vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o
litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento
ou intimidação para que as partes conciliem.
§ 3o O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que
houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a
compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que
eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si
próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos.

Princípios que regem a conciliação e a mediação

1. Independência do mediador e conciliador. Não pode sofrer pressão externa para


exercer sua função.

2. Imparcialidade, podendo ser arguida suspeição ou impedimento.

3. Autonomia da vontade, inclusive quanto às regras procedimentais. É possível que as


partes regulamentem as regras de autocomposição.

4. Confidencialidade. Não pode expor o que foi presenciado. Inclusive, o


conciliado/mediador pode se escusar de depor como testemunha em razão do dever de sigilo.

5. Oralidade.

6. Informalidade. Há relação clara entre informalidade e oralidade, afinal, mediação e


conciliação muito formal deixa as pessoas armadas... é preciso desarmar os conflitantes.

7. Decisão informada. É preciso que a conciliação e mediação chegue a uma decisão


informada, isto é, um ambiente em que as pessoas fiquem bem informadas sobre os termos
do acordo e suas consequências. O consentimento deve ser informado.

Se o advogado atuar como conciliador ou mediador, fica impedido de exercer suas


funções no juízo onde ele atua como conciliador/mediador. Se o procedimento se encerrar,
fica impedido em relação aos conflitantes.

Art. 172. O conciliador e o mediador ficam impedidos, pelo prazo de 1


(um) ano, contado do término da última audiência em que atuaram, de
assessorar, representar ou patrocinar qualquer das partes.

É uma espécie de quarententa.

AULA 23

Mediadores e conciliadores devem ser cadastrados. São dois cadastros, um nacional


gerido pelo CNJ e outro no respectivo tribunal. Nesse cadastro é preciso indicar qual a área da
especialidade da mediação e conciliação, pois serão atividades especializadas (família,
vizinhança etc). Serão cadastrados os dados relevantes dos conciliadores e mediadores.

Art. 167. [...]§ 3o Do credenciamento das câmaras e do cadastro de


conciliadores e mediadores constarão todos os dados relevantes para a
sua atuação, tais como o número de processos de que participou, o
sucesso ou insucesso da atividade, a matéria sobre a qual versou a
controvérsia, bem como outros dados que o tribunal julgar relevantes.

§ 4o Os dados colhidos na forma do § 3 o serão classificados


sistematicamente pelo tribunal, que os publicará, ao menos
anualmente, para conhecimento da população e para fins estatísticos e
de avaliação da conciliação, da mediação, das câmaras privadas de
conciliação e de mediação, dos conciliadores e dos mediadores.

Esse é um cadastro público que deve armazenar todas as informações relevantes para
o exercício da respectiva função.

O §4º faz menção às câmaras privadas, pois a mediação e conciliação pode ocorrer em
câmaras privadas, podendo o Tribunal fazer convênio com câmaras privadas. As câmaras
privadas devem ser credenciadas no Tribunal. Assim, o credenciamento deve ocorrer também
pelas câmaras privadas, além dos conciliadores e mediadores.

As partes também podem escolher o mediador e o conciliador. Se escolherem, o


escolhido não precisa estar cadastrado no Tribunal, mas uma vez escolhido, ele deverá entrar
no cadastro.

Art. 168. As partes podem escolher, de comum acordo, o conciliador,


o mediador ou a câmara privada de conciliação e de mediação.

§ 1o O conciliador ou mediador escolhido pelas partes poderá ou não


estar cadastrado no tribunal.

§ 2o Inexistindo acordo quanto à escolha do mediador ou conciliador,


haverá distribuição entre aqueles cadastrados no registro do tribunal,
observada a respectiva formação.

§ 3o Sempre que recomendável, haverá a designação de mais de um


mediador ou conciliador.

O Conciliador/Mediador pode ser concursado ou apenas cadastrado, a depender da


gestão do Tribunal, ou seja, pode ser composto por servidores públicos ou cadastro de
profissionais liberais.

Art. 167. Os conciliadores, os mediadores e as câmaras privadas de


conciliação e mediação serão inscritos em cadastro nacional e em
cadastro de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal, que
manterá registro de profissionais habilitados, com indicação de sua
área profissional.

§ 1o Preenchendo o requisito da capacitação mínima, por meio de


curso realizado por entidade credenciada, conforme parâmetro
curricular definido pelo Conselho Nacional de Justiça em conjunto com
o Ministério da Justiça, o conciliador ou o mediador, com o respectivo
certificado, poderá requerer sua inscrição no cadastro nacional e no
cadastro de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal.

O currículo mínimo será formado pelo CNJ e Ministério da Justiça.


As causas que chegam serão distribuídas de maneira alternada e aleatória entre os
conciliadores/mediadores. O raciocínio é o mesmo que se aplica para os juízes, salvo no caso
de as partes escolherem o seu conciliador/mediador.

Sempre que for recomendável, pode ser designado mais de um mediador ou


conciliador para a mesma causa, se o conflito exigir mais de uma área de conhecimento
específico.

A mediação e conciliação não é função exclusiva da advocacia. Qualquer profissional


pode ser mediador/conciliador.

A atuação como mediador/conciliador é remunerada. Se for liberal, receberá de


acordo com padrão estabelecida em tabela pelo Tribunal e se for servidor público receberá
salário como servidor público.

É também possível o trabalho voluntário de conciliador/mediador.

Há um problema nos casos de gratuidade da justiça, que é regulamentado no § 2º do


art. 169, no caso de câmaras privadas que deverão fazer um percentual de sessões
gratuitamente.

Art. 169. [...] § 2o Os tribunais determinarão o percentual de audiências


não remuneradas que deverão ser suportadas pelas câmaras privadas
de conciliação e mediação, com o fim de atender aos processos em
que deferida gratuidade da justiça, como contrapartida de seu
credenciamento.

O art. 170 do NCPC regulamenta como deve o conciliador/mediador agir em caso de


impedimento:

Art. 170. No caso de impedimento, o conciliador ou mediador o


comunicará imediatamente, de preferência por meio eletrônico, e
devolverá os autos ao juiz do processo ou ao coordenador do centro
judiciário de solução de conflitos, devendo este realizar nova
distribuição.

Parágrafo único. Se a causa de impedimento for apurada quando já


iniciado o procedimento, a atividade será interrompida, lavrando-se
ata com relatório do ocorrido e solicitação de distribuição para novo
conciliador ou mediador.

O art. 173 regulamenta a exclusão do conciliador/mediador:

Art. 173. Será excluído do cadastro de conciliadores e mediadores


aquele que:

I - agir com dolo ou culpa na condução da conciliação ou da mediação


sob sua responsabilidade ou violar qualquer dos deveres decorrentes
do art. 166, §§ 1o e 2o;

II - atuar em procedimento de mediação ou conciliação, apesar de


impedido ou suspeito.
§ 1o Os casos previstos neste artigo serão apurados em processo
administrativo.

§ 2o O juiz do processo ou o juiz coordenador do centro de conciliação


e mediação, se houver, verificando atuação inadequada do mediador
ou conciliador, poderá afastá-lo de suas atividades por até 180 (cento e
oitenta) dias, por decisão fundamentada, informando o fato
imediatamente ao tribunal para instauração do respectivo processo
administrativo.

O NCPC permite expressamente a criação de câmaras administrativas para solução de


conflitos no âmbito da administração pública. Aqui, o NCPC buscou inspiração na câmara de
conciliação federal. O rol que o art. 174 traz é meramente exemplificativo:

Art. 174. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios


criarão câmaras de mediação e conciliação, com atribuições
relacionadas à solução consensual de conflitos no âmbito
administrativo, tais como:

I - dirimir conflitos envolvendo órgãos e entidades da administração


pública;

II - avaliar a admissibilidade dos pedidos de resolução de conflitos, por


meio de conciliação, no âmbito da administração pública;

III - promover, quando couber, a celebração de termo de ajustamento


de conduta.

MUDANÇAS GERAIS ENVOLVENDO O MINISTÉRIO PÚBLICO

Esse NCPC foi construído para um MP diferente daquele MP de 1973, que tinha quase
nenhuma atuação no cível e, ainda, era de um tempo que os membros do MP poderiam ser
promotor e procurador do estado. Vejam, então, como o MP mudou nos últimos quarenta
anos. A CF/88 deu uma roupagem absolutamente nova para o Ministério Público, de modo
que o NCPC teve que legislar sobre um MP muito diferente do MP de 1973. Essa, inclusive, é
uma das principais adequações do NCPC à CF.

Exemplos: 1) não se fala mais em Ministério Público como fiscal da lei (custos legis),
mas, sim, como fiscal da ordem jurídica (custos iuris), mudando a terminologia; 2) acabam-se
as referências ao MP para atuar como curador especial; no CPC/73 constava que o MP seria
curador do interditando, mas isso não tem respaldo constitucional e, por isso, não está mais
no NCPC, sendo que a curatela especial é tarefa exclusiva da Defensoria Pública.

O NCPC prevê um prazo de trinta dias para o MP se pronunciar como fiscal da ordem
jurídica e, se o MP não se manifestar, o juiz deve avocar os autos de volta. É, portanto, um
prazo preclusivo.

Art. 180. O Ministério Público gozará de prazo em dobro para


manifestar-se nos autos, que terá início a partir de sua intimação
pessoal, nos termos do art. 183, § 1o.
§ 1o Findo o prazo para manifestação do Ministério Público sem o
oferecimento de parecer, o juiz requisitará os autos e dará andamento
ao processo.

§ 2o Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei


estabelecer, de forma expressa, prazo próprio para o Ministério
Público.

Prazo para o MP falar nos autos é sempre em dobro, ressalvados os prazos


expressamente fixados para o próprio MP, como é o caso dos trinta dias para manifestação
como fiscal da ordem jurídica.

AULA 24

Uma mudança muito significativa do ponto de vista operacional foi a racionalização da


intervenção do MP como fiscal da ordem jurídica. Pelo CPC/73 cabia em muitas situações, mas
agora foi racionalizado no NCPC.

Por exemplo, acaba a previsão expressa de que o MP tem que intervir em ações de
estado, por exemplo, divórcio consensual. Não faz sentido o MP intervir se não há interesse de
incapaz. Então, desaparece a intervenção do MP em ações de estado. Por outro lado, fica
mantida a intervenção na ação de interdição/curatela ou sempre que houver interesse de
incapaz.

Outro exemplo se deu no conflito de competência. Pelo CPC/73 o MP interveria em


qualquer conflito de competência. No NCPC o MP só intervirá em conflito de competência
oriundos de causas nas quais lhe caiba intervir. Mesma coisa na ação rescisória, pois havia
entendimento de que MP interviria em qualquer ação rescisória, mas no NCPC fica claro que a
ação rescisória só terá intervenção do MP nos casos em que envolve um dos casos de sua
intervenção.

Outro exemplo, jurisdição voluntária. O CPC/73 dava a entender que o MP interviria


em qualquer procedimento de jurisdição voluntária. Agora, o NCPC deixa claro que o MP só
intervirá em jurisdição voluntária se se encaixar em alguma das hipóteses de sua atuação. Não
é por ser jurisdição voluntária ou ação rescisória, então há racionalização da intervenção.

Art. 178. O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30


(trinta) dias, intervir como fiscal da ordem jurídica nas hipóteses
previstas em lei ou na Constituição Federal e nos processos que
envolvam:

I - interesse público ou social;

II - interesse de incapaz;

III - litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana.

Parágrafo único. A participação da Fazenda Pública não configura, por


si só, hipótese de intervenção do Ministério Público.
Este parágrafo único do art. 178 esclarece uma dúvida de quarenta anos. Não é porque
a Fazenda Pública é parte que o MP terá que intervir.

Há uma mudança sutil no inciso III do art. 178, que trata dos litígios coletivos pela
posse de terra rural e urbana. A parte de terra urbana é novidade no NCPC. Foi reivindicação
do movimento sem terra e do movimento sem teto.

Outro aperfeiçoamento de redação está no inciso I do art. 178, que fala em interesse
público ou social. O social foi acrescentado, pois essa é a denominação que a CF usa, “público
ou social”.

Consagra-se no NCPC a responsabilidade regressiva do Membro do Ministério Público,


consolidando entendimento do STF:

Art. 181. O membro do Ministério Público será civil e regressivamente


responsável quando agir com dolo ou fraude no exercício de suas
funções.

Também se consagra expressamente a possibilidade de multa pessoal ao membro do


MP que atrasar na entrega dos autos.

Vale para o MP também a presunção de intimação vistas na aula passada decorrente


da carga dos autos.

Questão importante no art. 279, §2º:

Art. 279. É nulo o processo quando o membro do Ministério Público


não for intimado a acompanhar o feito em que deva intervir.

§ 1o Se o processo tiver tramitado sem conhecimento do membro do


Ministério Público, o juiz invalidará os atos praticados a partir do
momento em que ele deveria ter sido intimado.

§ 2o A nulidade só pode ser decretada após a intimação do Ministério


Público, que se manifestará sobre a existência ou a inexistência de
prejuízo.

Essa nulidade decorrente da falta de intimação do MP só pode ser declarada após a


intimação do MP para dizer se há ou não prejuízo. Ora, nem sempre a falta de intervenção do
MP gera prejuízo para o incapaz. Nestes casos, em que a falta de intervenção do MP não gera
nulidade, não deve ser anulado o ato.

SUSPENSÃO DO PROCESSO

Alegação de incompetência relativa não suspende mais o processo, porque passa a ser
preliminar de contestação.

Desaparece a suspensão do processo por existência de ação declaratória envolvendo


estado da pessoa, porque a velha ação declaratória incidental da forma prevista no CPC/73
não existe mais. Ação declaratória incidental desaparece porque o sistema de coisa julgada foi
revisto, reconstruído no NCPC.
Outra mudança reivindicada ocorreu na alegação de impedimento e suspeição, que
suspende o processo. No NCPC, o relator da suspeição ou impedimento pode tirar o efeito
suspensivo da alegação. Isso, porque tem sido feitas alegações de impedimento e suspeição
apenas para paralisar o processo, ou seja, de má-fé. Assim, a partir do NCPC, a alegação
paralisa o processo, mas o relator irá dizer se o efeito suspensivo cai ou permanece.

Vejamos o art. 314:

Art. 314. Durante a suspensão é vedado praticar qualquer ato


processual, podendo o juiz, todavia, determinar a realização de atos
urgentes a fim de evitar dano irreparável, salvo no caso de arguição de
impedimento e de suspeição.

Essa ressalva ocorre justamente porque ele é possivelmente impedido ou suspeito.


Nestes casos, a competência para a prática dos atos de urgência será do juízo substituto legal.

Outra mudança é o acréscimo de hipóteses novas de suspensão do processo:

Art. 313. Suspende-se o processo:

IV- pela admissão de incidente de resolução de demandas repetitivas;

Não é só IRDR, mas também julgamento dos recursos repetitivos.

A do inciso VI é novíssima, muito lobby do pessoal do tribunal Marítimo, que agora


suspende o processo enquanto o Tribunal Marítimo estiver apurando os fatos ocorridos em
águas:

VII - quando se discutir em juízo questão decorrente de acidentes e


fatos da navegação de competência do Tribunal Marítimo;

Deixa-se claro que o caso de suspensão pela morte da parte deve ser sucedido com o
processo de habilitação. É uma coisa óbvia, mas o CPC/73 não disciplinava:

Art. 313 [...] § 1o Na hipótese do inciso I, o juiz suspenderá o processo,


nos termos do art. 689.

Esse art. 689 regulamenta o processo de habilitação. Se não for instaurada a


habilitação, o juiz determinará providências do §2º, I ou II, conforme tiver falecido autor ou
réu.

No caso de morte da parte durante a audiência, o CPC/73 dizia que o advogado


prosseguia como legitimado extraordinário. Essa previsão não existe mais. Se isso ocorrer
durante a audiência, o processo será imediatamente suspenso.

Mudança em relação à hipótese de suspensão em relação ao processo penal no qual se


investiga o fato delituoso:

Art. 315. Se o conhecimento do mérito depender de verificação da


existência de fato delituoso, o juiz pode determinar a suspensão do
processo até que se pronuncie a justiça criminal.

§ 1o Se a ação penal não for proposta no prazo de 3 (três) meses,


contado da intimação do ato de suspensão, cessará o efeito desse,
incumbindo ao juiz cível examinar incidentemente a questão prévia.
§ 2o Proposta a ação penal, o processo ficará suspenso pelo prazo
máximo de 1 (um) ano, ao final do qual aplicar-se-á o disposto na parte
final do § 1o.

AULA 25

Inteiramente reformulado no NCPC: BENEFÍCIO DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA. A lei


que regulamenta a gratuidade da justiça é de 1950, com parte material defasada, bem como
processualmente um horror, cheia de penduricalhos e incidentes.

O NCPC consolidou o assunto em seis dispositivos, do 98 ao 102; o NCPC revogou


expressamente vários artigos da lei 1.060/50:

Art. 1.072. Revogam-se:

III - os arts. 2º, 3º, 4º, 6º, 7º, 11, 12 e 17 da Lei no 1.060, de 5 de
fevereiro de 1950;

Corrigiu a terminologia: não se pode confundir assistência judiciária gratuita com


gratuidade da justiça. Assistência judiciária gratuita tem a ver com patrocínio gratuito da
causa, por defensor público, por escritório de prática jurídica. Gratuidade da justiça tem a ver
com isenção para adiantamento de custas do processo, ou seja, pode ter advogado privado e
ter gratuidade da justiça.

Mudanças:

1) Deixa-se claro que pessoa jurídica tem direito à gratuidade da justiça, desde que
não possa arcar; Deixa-se claro que o estrangeiro também tem direito à gratuidade da justiça.

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com


insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais
e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na
forma da lei.

2) No aspecto objetivo, qual o pressuposto para concessão do benefício: é a


insuficiência de recursos financeiros para adiantamento das despesas processuais. Não há
mais sentido o uso da expressão “sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família”.

3) para que se conceda o benefício, há uma presunção de veracidade da declaração


feita pela pessoa natural; já para a pessoa jurídica, esta deve provar a impossibilidade de
arcar com adiantamento de despesas processuais.

4) abrangência do benefício, §1º do art. 98. O NCPC avançou, tendo mantido o que já
era bom na Lei 1.060/50, tendo avançado, por exemplo, na perícia, pode ser paga pelo Poder
Público (a ser feita preferencialmente por servidor público) e posteriormente o Poder Público
poderá requerer reembolso. Passa-se a incluir neste rol expressamente a tradução ou
intérprete, contabilista para perícia contábil,

Art. 98. [...]

§ 1o A gratuidade da justiça compreende:


I - as taxas ou as custas judiciais;

II - os selos postais;

III - as despesas com publicação na imprensa oficial, dispensando-se a


publicação em outros meios;

IV - a indenização devida à testemunha que, quando empregada,


receberá do empregador salário integral, como se em serviço
estivesse;

V - as despesas com a realização de exame de código genético - DNA e


de outros exames considerados essenciais;

VI - os honorários do advogado e do perito e a remuneração do


intérprete ou do tradutor nomeado para apresentação de versão em
português de documento redigido em língua estrangeira;

VII - o custo com a elaboração de memória de cálculo, quando exigida


para instauração da execução;

VIII - os depósitos previstos em lei para interposição de recurso, para


propositura de ação e para a prática de outros atos processuais
inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório;

IX - os emolumentos devidos a notários ou registradores em


decorrência da prática de registro, averbação ou qualquer outro ato
notarial necessário à efetivação de decisão judicial ou à continuidade
de processo judicial no qual o benefício tenha sido concedido.

Expressamente, no art. 98, IX, passa a prever os emolumentos devidos a notários ou


registradores [...] necessário à efetivação de decisão judicial ou à continuidade de processo
judicial. Houve uma extensão da gratuidade da justiça para fora da justiça, abrangendo agora
os atos cartorários notariais ou de registros decorrentes de processo no qual houve a
concessão de benefício. Por exemplo, processo que reconheça usucapião, a averbação
também será gratuita, bem como averbação de divórcio etc. Isso levou cerca de seis meses
para entrar no NCPC, pois o Ministério da Justiça queria que entrasse e os cartórios não
queriam que entrasse. Fredie relata que ajudou a construir um consenso após conversa com
Defensoria Pública, Ministério da Justiça e Cartórios, chegando ao seguinte ponto: manter o
que está aí, mas regulamentar uma forma de proteger o notário ou registrador. Conseguiu-se,
então, desenvolver o §8º:

§ 8o Na hipótese do § 1 o, inciso IX, havendo dúvida fundada quanto ao


preenchimento atual dos pressupostos para a concessão de
gratuidade, o notário ou registrador, após praticar o ato, pode
requerer, ao juízo competente para decidir questões notariais ou
registrais, a revogação total ou parcial do benefício ou a sua
substituição pelo parcelamento de que trata o § 6 o deste artigo, caso
em que o beneficiário será citado para, em 15 (quinze) dias,
manifestar-se sobre esse requerimento.

Esse §8º consagra um procedimento de dúvida registral. O tabelião ou registrador


quando recebe o ato para praticar com gratuidade, não gosta. Então, o §8º permite que ele
pratique o ato e suscite a dúvida quando entender que a pessoa tem condições de pagar, ao
passo que o juiz decidirá se revoga ou se parcela ou se mantém. Agora, o NCPC diz que o
registrador ou notário poderá expedir certidão que será título executivo extrajudicial. Se ele
vencer na dúvida, depois ele emitirá certidão dos emolumentos e executará.

5) O que está fora do benefício. Por exemplo, as multas processuais por litigância de
má-fé, por ato atentatório à dignidade da justiça. A pobreza não afasta a multa, pois se trata
de punição, conforme §4º:

Art. 98 [...] § 4o A concessão de gratuidade não afasta o dever de o


beneficiário pagar, ao final, as multas processuais que lhe sejam
impostas.

6) a concessão do benefício dispensa o beneficiário de adiantar as despesas, mas se ao


final ele for vencido, ele terá responsabilidade pelas despesas. O beneficiário vencido terá de
reembolsar as despesas. O beneficiário, quando ganha o benefício, ele está liberado de
adiantar as despesas processuais, mas e for vencido, ele tem que ser condenado às verbas de
sucumbência e terá que pagar todas as despesas que a outra parte adiantou e que não foram
adiantadas:

§ 2o A concessão de gratuidade não afasta a responsabilidade do


beneficiário pelas despesas processuais e pelos honorários
advocatícios decorrentes de sua sucumbência.

Uma coisa é a responsabilidade. Outra coisa é não ter condições de pagar. O benefício
apenas garante o direito de não adiantar as despesas:

§ 3o Vencido o beneficiário, as obrigações decorrentes de sua


sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e
somente poderão ser executadas se, nos 5 (cinco) anos subsequentes
ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor
demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de
recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se,
passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário.

Só poderá ser executada se o credor demonstrar que houve fato superveniente que
mudou a situação econômica do sucumbente. Passados os cinco anos, a obrigação fica extinta
(ou prescrita?). Assim, o beneficiário vencido é condenado, mas essa condenação fica com
eficácia suspensa.

O NCPC esclareceu o que está no benefício e o que não está no benefício


(responsabilidade e multas processuais).)

7) Possibilidade de modular a concessão do benefício da gratuidade da justiça. O


benefício não é indivisível, não é tudo ou nada, pode ser modulado. O juiz pode conceder o
benefício para algumas despesas e outras não. A parte pode, por exemplo, recolher as custas
processuais mas não ter condições de pagar a perícia, ou mesmo pode ser dado o benefício
com desconto, por exemplo, “metade das custas”. E o melhor, o juiz pode ainda conceder o
parcelamento ao invés da gratuidade integral.

AULA 26
8) Muda a forma de pedir a gratuidade da justiça. Antes, na Lei 1.060/50, tinha que
pedir por petição avulsa (autos separados), agora, basta pedir por petição intermediária nos
próprios autos se for no meio do processo ou na própria petição inicial. Pode até mesmo pedir
na própria petição de recurso. Agora, há necessidade de procuração com poderes especiais
para declaração de hipossuficiência de recursos:

Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na


petição inicial, na contestação, na petição para ingresso de terceiro no
processo ou em recurso.

§ 1o Se superveniente à primeira manifestação da parte na instância, o


pedido poderá ser formulado por petição simples, nos autos do
próprio processo, e não suspenderá seu curso.

§ 2o O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos


elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais para a
concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido,
determinar à parte a comprovação do preenchimento dos referidos
pressupostos.

Neste caso, §2º, antes de indeferir o pedido, o juiz deverá intimar a parte para se
manifestar sobre a possibilidade de não deferir a gratuidade da justiça. O juiz não pode decidir
pela negativa sem ouvir a parte.

§ 3o Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida


exclusivamente por pessoa natural.

§ 4o A assistência do requerente por advogado particular não impede a


concessão de gratuidade da justiça.

Agora está expressamente previsto que um advogado privado não é presunção de


possibilidade de pagar as custas e a gratuidade poderá ser deferida.

§ 5o Na hipótese do § 4o, o recurso que verse exclusivamente sobre


valor de honorários de sucumbência fixados em favor do advogado
de beneficiário estará sujeito a preparo, salvo se o próprio advogado
demonstrar que tem direito à gratuidade.

Caso o advogado recorra só para discutir honorários, apenas beneficiará o advogado,


que não pode se aproveitar do benefício da parte. Assim, o advogado deverá recolher preparo,
salvo se o próprio advogado demonstrar que tem direito à gratuidade. Ao recorrer apenas dos
honorários, é o advogado a parte interessada.

§ 6o O direito à gratuidade da justiça é pessoal, não se estendendo a


litisconsorte ou a sucessor do beneficiário, salvo requerimento e
deferimento expressos.

Esse §6º deixa claro que se trata de benefício pessoal e não se estende
necessariamente ao espólio ou herdeiros ou litisconsórcio. A gratuidade é divisível!

§ 7o Requerida a concessão de gratuidade da justiça em recurso, o


recorrente estará dispensado de comprovar o recolhimento do
preparo, incumbindo ao relator, neste caso, apreciar o requerimento e,
se indeferi-lo, fixar prazo para realização do recolhimento.

Se a gratuidade foi requerida no recurso, não deverá comprovar o preparo. Agora, se o


relato indeferir a gratuidade, aí a parte será intimada para fazer o preparo. Assim, gratuidade
pode ser requerida em instância recursal.

9) Impugnação da concessão da gratuidade.

Art. 100. Deferido o pedido, a parte contrária poderá oferecer


impugnação na contestação, na réplica, nas contrarrazões de recurso
ou, nos casos de pedido superveniente ou formulado por terceiro, por
meio de petição simples, a ser apresentada no prazo de 15 (quinze)
dias, nos autos do próprio processo, sem suspensão de seu curso.

Parágrafo único. Revogado o benefício, a parte arcará com as


despesas processuais que tiver deixado de adiantar e pagará, em caso
de má-fé, até o décuplo de seu valor a título de multa, que será
revertida em benefício da Fazenda Pública estadual ou federal e
poderá ser inscrita em dívida ativa.

A ideia é de que é no primeiro momento subsequente. Acabou o pedido de revogação


da justiça gratuita que era autuado separadamente. Agora, é muito simples, sempre se
impugna na peça de resposta nos mesmos autos.

Se for revogado o benefício, a parte será intimada para pagar as custas. Além disso, se
for comprovada má-fé, haverá pena de multa de até dez vezes o valor das despesas
processuais.

10) impugnação das decisões sobre gratuidade. Atualmente, a lei 1.060/50 prescreve
que cabe apelação das decisões que aplicam a lei 1060/50. As decisões que aplicam a lei 1.060
são: que concede, que nega, que revoga e que não revoga. Essas decisões não são sentenças,
porém, a Lei 1.060/50 dizia ainda assim que seriam impugnáveis por apelação, o que é um
horror, pois não é possível fazer os autos subirem já que está sendo processado em primeiro
grau. Além disso, a decisão que concede a gratuidade não pode ser recorrível, pois caberá a
parte contrária impugnar e pedir revogação, tendo recurso contra a decisão que julga pedido
de revogação. A doutrina, para dar alguma razoabilidade a este dispositivo, dizia que apenas
caberia apelação se a decisão fosse proferida em autos apartados (decisão sobre revogação e
sobre concessão superveniente), mas não tinha sentido porque eram interlocutórias
impugnadas por apelação.

O NCPC resolve este problema, revogando o art. 17 da Lei 1.060/50 e reformulando o


sistema recursal:

Art. 101. Contra a decisão que indeferir a gratuidade ou a que acolher


pedido de sua revogação caberá agravo de instrumento, exceto
quando a questão for resolvida na sentença, contra a qual caberá
apelação.

Pelo NCPC, o agravo de instrumento apenas caberá em casos típicos, deixando de ser
recurso contra qualquer interlocutórias. Aqui há duas hipóteses de agravo de instrumento. A
decisão que rejeita o pedido de revogação não é impugnável por agravo de instrumento,
mas, sim, na apelação da sentença. Veremos que a apelação passou a ser recurso contra
decisão interlocutória não-agravável. Além disso, a decisão que concede o benefício da justiça
gratuita não é recorrível, devendo a parte contrária impugnar e pedir sua revogação.

Se o juiz apenas decidiu acerca disso tudo na sentença, aí será apelação contra tudo,
pois terá decidido na sentença.

Art. 101. [...]

§ 1o O recorrente estará dispensado do recolhimento de custas até


decisão do relator sobre a questão, preliminarmente ao julgamento do
recurso.

§ 2o Confirmada a denegação ou a revogação da gratuidade, o relator


ou o órgão colegiado determinará ao recorrente o recolhimento das
custas processuais, no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de não
conhecimento do recurso.

Nestes dois casos, o agravo de instrumento tem efeito suspensivo automático (contra
decisão que revoga ou não defere), permitindo o recurso sem pagar as custas. Apenas se não
for acolhido o agravo de instrumento a parte será intimada para recolher as custas.

10) O art. 102 esclarece qual o efeito da decisão que revoga a gratuidade da justiça,
tendo efeito retroativo:

Art. 102. Sobrevindo o trânsito em julgado de decisão que revoga a


gratuidade, a parte deverá efetuar o recolhimento de todas as
despesas de cujo adiantamento foi dispensada, inclusive as relativas ao
recurso interposto, se houver, no prazo fixado pelo juiz, sem prejuízo
de aplicação das sanções previstas em lei.

Parágrafo único. Não efetuado o recolhimento, o processo será


extinto sem resolução de mérito, tratando-se do autor, e, nos demais
casos, não poderá ser deferida a realização de nenhum ato ou
diligência requerida pela parte enquanto não efetuado o depósito.

Gera o dever de pagar todas as custas e taxas e honorários, não recolhidos ao longo do
processo. Se a parte não fizer o recolhimento, as consequências estão previstas no parágrafo
único. Se for autor, o processo será extinto. Se for réu ou terceiro interveniente, não poderá
praticar nenhum ato ou diligência, enquanto não recolher os valores decorrentes da revogação
da gratuidade, é como uma pena de atentado, proibindo-lhe de falar nos autos ou fazer
qualquer coisa.

11) as mudança foram tão profundas que sequer pode ser chamado apenas de
gratuidade da justiça, é verdadeira facilitação de acesso à justiça que abrange não só a
concessão da gratuidade, mas também parcelamento ou desconto que se estende até no
âmbito extrajudicial. A lei n. 1.060 foi quase completamente revogada.

AULA 27

CITAÇÃO
Uma das mudanças já mencionadas: o CPC deixa claro as consequências da falta de
citação num litisconsórcio necessário unitário (nulidade da decisão) e no litisconsórcio
necessário simples (ineficácia da decisão para aqueles que não foi citado, mas validade e
eficácia em relação ao que foi devidamente citado).

Prazo para contestar ou embargar pelo comparecimento espontâneo:

Art. 239 [...]

§ 1o O comparecimento espontâneo do réu ou do executado supre a


falta ou a nulidade da citação, fluindo a partir desta data o prazo para
apresentação de contestação ou de embargos à execução.

§ 2o Rejeitada a alegação de nulidade, tratando-se de processo de:

I - conhecimento, o réu será considerado revel;

II - execução, o feito terá seguimento.

O prazo começa a contar a partir do comparecimento espontâneo. Se o sujeito


comparecer apenas para alegar nulidade da citação e não se defender, poderá perder a
oportunidade de defender se a alegação não for acolhida. Deve apresentar defesa juntamente
com a alegação de nulidade para garantir que não será revel.

Efeitos da citação. Para entender, vamos relembrar como é no CPC/73, que prevê
cinco efeitos (prevenção, litispendência, faz litigiosa a coisa, constitui devedor em mora e
interrompe prescrição) , sendo que os dois últimos podem ocorrer mesmo se o juízo for
incompetente.

Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e


faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente,
constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição. (Redação dada
pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

No NCPC está bastante diferente. Primeiro, porque vimos que a prevenção não é mais
pela citação, mas sim pelo registro ou pela distribuição, assim a citação não torna mais
prevento, tendo havido unificação dos critérios de prevenção. Prevento é o juízo onde
primeiro houve o registro ou a petição inicial foi distribuída.

A segunda diferença é que o NCPC teve que se adequar ao CC/2002, que diz que o que
interrompe a prescrição não é a citação, mas o despacho citatório. Vejamos a redação do art.
240 do NCPC:

Art. 240. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo


incompetente, induz litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui
em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 da Lei n o
10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil).

A redação do NCPC deixa clara que qualquer dos efeitos que ele indica ocorrerá
mesmo que o juízo seja incompetente, tenda trazido esta parte para o início deste artigo. Isso
está em consonância com o NCPC que preserva os atos do juízo incompetente (lembrando que
mesmo se o juízo for incompetente seus atos decisórios só são nulos se o juízo competente
não os ratificar). Perceba que daqueles cinco efeitos, ficaram só três, porque a prevenção é do
registros ou distribuição e a interrupção da prescrição é do despacho citatório. Dois efeitos da
citação foram eliminados.

O NCPC ressalva os arts. 397 e 398 do CC/2002, que estabelecem outros fatos que
constituem em mora o devedor, ou seja, nem sempre é a citação. Trata-se das obrigações a
termo em que a mora decorre do termo (o termo interpela o homem) e nas obrigações
decorrentes de ato ilícito. O NCPC esclareceu um problema prático, pois constituir em mora é
importante para questão dos juros de mora, de modo que se for uma dessas duas espécies de
obrigações, a data em que o devedor estará em mora é anterior à da citação.

Há certas pessoas que tem dificuldade de compatibilizar este artigo 240 com o art.
312:

Art. 312. Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for


protocolada, todavia, a propositura da ação só produz quanto ao réu
os efeitos mencionados no art. 240 depois que for validamente citado.

Litispendência e tornar litigiosa a coisa para o autor é desde o ajuizamento da ação.


Apenas para o Réu é que esses efeitos só se iniciarão a partir da citação, além da mora. Repita-
se, indução de litispendência e tornar a coisa litigiosa e constituição em mora quando ao réu
ocorre a partir da citação, mas para o Autor já há litispendência e a coisa já é litigiosa desde a
proposição da ação.

Interrupção da prescrição e citação. A interrupção, como visto, se dá a partir do


despacho citatório e retroagirá à data da propositura da ação. Vejamos o §1º do art. 240:

§ 1o A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a


citação, ainda que proferido por juízo incompetente, retroagirá à data
de propositura da ação.

Esse §1º apenas será aplicado se o autor viabilizar as providências para que a citação
seja promovida pelo oficial de justiça, devendo fazê-lo no prazo de dez dias. Se o autor não o
fizer no prazo de dez dias, a interrupção não ocorrerá retroativamente na data da propositura
da ação, mas sim apenas a partir do ato da citação (não seria do despacho citatório?).

§ 2o Incumbe ao autor adotar, no prazo de 10 (dez) dias, as


providências necessárias para viabilizar a citação, sob pena de não se
aplicar o disposto no § 1o.

§ 3o A parte não será prejudicada pela demora imputável


exclusivamente ao serviço judiciário.

O Autor não sofrerá as consequências da mora judicial.

Além disso, toda essa construção se aplica também à decadência, sendo a data da
propositura da ação considerada a da cessação do curso da decadência quando a citação é
viabilizada pelo autor nos dez dias que lhe cabem:

§ 4o O efeito retroativo a que se refere o § 1 o aplica-se à decadência e


aos demais prazos extintivos previstos em lei.

O NCPC criou uma regra geral para todos os casos em que há uma decisão de mérito
antes da citação de alguém, caberá ao escrivão comunicar o réu:
Art. 241. Transitada em julgado a sentença de mérito proferida em
favor do réu antes da citação, incumbe ao escrivão ou ao chefe de
secretaria comunicar-lhe o resultado do julgamento.

No CPC/73 essa comunicação prevista no art. 241 do NCPC apenas era prevista para os
casos de prescrição e decadência. Agora, se tornou regra geral para qualquer situação de
julgamento do mérito e ainda sem resolução do mérito.

Necessário analisar este art. 241 com o §3º do art. 331, §3º: “Não interposta a
apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença”. Veja que não importa se a
decisão a favor do Réu é de mérito ou não, basta que a sentença seja proferida antes da
citação do réu, deverá o réu ser comunicado.

Por que o réu é intimado de uma sentença sem mérito? É que o sistema de coisa
julgada mudou muito. Agora, pode-se falar de coisa julgada de decisões que não examinaram o
mérito, sendo claro que será uma coisa julgada restrita à questão processual, mas será coisa
julgada. Veremos profundamente na aula de coisa julgada. Por exemplo, se o juiz indeferir a
petição inicial por inépcia, o réu será intimado e, se o autor voltar com a mesma petição inicial,
o réu poderá alegar coisa julgada da inépcia daquela petição inicial.

AULA 28

Regime de citação dos entes públicos. Sofreu sensível mudança. Vejamos o art. 242,
§3º, que foi muito batalhado pela advocacia pública.

Art. 242. [...] § 3o A citação da União, dos Estados, do Distrito Federal,


dos Municípios e de suas respectivas autarquias e fundações de direito
público será realizada perante o órgão de Advocacia Pública
responsável por sua representação judicial.

Agora, os entes públicos não poderão mais ser citados na autarquia, mas sim no
escritório/órgão de advocacia pública responsável, na pessoa do advogado público. Na prática,
o ente público era citado na autarquia e daqui que chegasse na advocacia pública já perdia um
prazo enorme. Agora, o município, por exemplo, deve ser citado na pessoa do procurado do
município.

Outra mudança na citação dos entes públicos é que a citação das pessoas jurídicas
serão preferencialmente citadas por meio eletrônico:

Art. 246 [...] § 1o Com exceção das microempresas e das empresas de


pequeno porte, as empresas públicas e privadas são OBRIGADAS a
manter cadastro nos sistemas de processo em autos eletrônicos, para
efeito de recebimento de citações e intimações, as quais serão
efetuadas preferencialmente por esse meio.

§ 2o O disposto no § 1o aplica-se à União, aos Estados, ao Distrito


Federal, aos Municípios e às entidades da administração indireta.

Como se observa, os entes públicos também passarão a ser citados preferencialmente


por meio eletrônico.
Há uma regra de direito transitório que regula esse assunto, determinando que os
entres públicos se cadastrem eletronicamente.:

Art. 1.050. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios, suas


respectivas entidades da administração indireta, o Ministério Público, a
Defensoria Pública e a Advocacia Pública, no prazo de 30 (trinta) dias a
contar da data da entrada em vigor deste Código, deverão se cadastrar
perante a administração do tribunal no qual atuem para
cumprimento do disposto nos arts. 246, § 2o, e 270, parágrafo único.

Art. 1.051. As empresas públicas e privadas devem cumprir o disposto


no art. 246, § 1o, no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da data de
inscrição do ato constitutivo da pessoa jurídica, perante o juízo onde
tenham sede ou filial.

Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica às microempresas


e às empresas de pequeno porte.

O art. 1.051 cria aparentemente um problema, pois se refere a novas pessoas jurídicas.
E as pessoas jurídicas anteriores ao NCPC? O que fazer com as pessoas jurídicas já existentes?
Há uma lacuna no NCPC, mas aparentemente se aplica o art. 1.050, pois não há nenhum
sentido para que a regra não se aplique às pessoas jurídicas já existentes.

Outra mudança, esta sutil, diz respeito às situações de impedimento para citação.
Houve uma pequena mudança no art. 244, I:

Art. 244. Não se fará a citação, salvo para evitar o perecimento do


direito:

I - de quem estiver participando de ato de culto religioso;

O CPC/73 falava em quem estivesse “assistindo”, agora, o NCPC fala em participação


de qualquer modo, seja como celebrante ou como estar assistindo.

Em relação ao mentalmente incapaz também houve um acréscimo ao incidente,


simplificando a citação do mentalmente incapaz com o acréscimo do §3º do art. 245.

Art. 245. Não se fará citação quando se verificar que o citando é


mentalmente incapaz ou está impossibilitado de recebê-la.

§ 1o O oficial de justiça descreverá e certificará minuciosamente a


ocorrência.

§ 2o Para examinar o citando, o juiz nomeará médico, que apresentará


laudo no prazo de 5 (cinco) dias.

§ 3o Dispensa-se a nomeação de que trata o § 2 o se pessoa da família


apresentar declaração do médico do citando que ateste a
incapacidade deste.
§ 4o Reconhecida a impossibilidade, o juiz nomeará curador ao citando,
observando, quanto à sua escolha, a preferência estabelecida em lei e
restringindo a nomeação à causa.

§ 5o A citação será feita na pessoa do curador, a quem incumbirá a


defesa dos interesses do citando.

No rol de modalidades de citação, houve a consagração também da citação feita pelo


escrivão ou chefe de secretaria quando a parte comparecer no cartório, ou seja, deixa de ser
privativo do oficial de justiça:

Art. 246. A citação será feita:

III - pelo escrivão ou chefe de secretaria, se o citando comparecer em


cartório;

Na citação postal, era proibida no processo de execução. Não havia justificativa e


agora não há mais proibição da citação postal em execução, até porque já era feita em
execução fiscal.

A citação postal nas ações de estado continua proibida (por exemplo, interdição), mas
nas demais ações de família, por exemplo, divórcio ou separação, agora fica possibilitada a
citação postal.

Os oficiais de justiça tiveram conquistas importantes, por exemplo no §4º do art. 248:

Art. 248. [...] § 4o Nos condomínios edilícios ou nos loteamentos com


controle de acesso, será válida a entrega do mandado a funcionário da
portaria responsável pelo recebimento de correspondência, que,
entretanto, poderá recusar o recebimento, se declarar, por escrito, sob
as penas da lei, que o destinatário da correspondência está ausente.

Resolve-se um problema histórico, podendo agora deixar a citação na portaria do


condomínio.

No procedimento comum, o réu será citado para audiência de conciliação e se não


comparecer injustificadamente será multado, o mandado de citação deve vir com essa
advertência, de que se não comparecer na audiência de conciliação será multado.

Na citação com hora certa, que os oficiais tentaram extinguir, sofreu apenas
modificação. Antes, eram necessárias três idas no local para tentar achar a pessoa citanda,
agora diminuiu para duas vezes. Agora, na segunda vez que for e não encontrar, avisará a uma
pessoa da família ou vizinho, quando retornar, se aquele membro/pessoa não está lá ou se
recusa a receber, ainda assim a citação será considerada feita.

Também na citação com hora certa é possível deixar na portaria de controle de acesso
em condomínios, quando o citando não estiver no local na hora e dia marcados.

Na citação com hora certa, o NCPC agora exige que conste a advertência de que se o
citando não se defender será dado a ele curador especial. Finalmente, na citação com hora
certa havia a obrigação de o escrivão expedir uma carta para o Réu para adverti-lo de que ele
havia sido citado por hora certa. Agora, o NCPC deixa claro que a carta deve ser enviada em
até dez dias da juntada do mandado e, se não for enviada a carta em dez dias, a citação será
nula. O escrivão não pode deixar apara mandar a carta quando quiser, deve obedecer ao
prazo.

No CPC/73 há um dispositivo que diz que oficiais podem fazer citações em comarcas
contíguas ou região metropolitana. A diferença é que agora manteve-se a citação mas
ampliou-se para a prática de atos executivos, ou seja, agora é possível penhora em comarcas
contiguas ou região metropolitana.

Último ponto sobre citação, que são as mudanças havidas na citação por edital. A
primeira mudança é uma mudança sistêmica do NCPC. Qualquer edital, seja pra que assunto
for, será publicado numa plataforma de editais do CNJ e no sítio do Tribunal, na página do
Tribunal na internet. Não será em jornal nem em diário, mas sim na internet (plataforma de
editais e site do Tribunal). É uma mudança de todo edital, qualquer que seja sua razão.

Passa a haver presunção de localização ignorada ou incerta do réu para fins de citação
por edital, art. 256, §3º, quando se tenta conseguir endereço do Réu nos entes públicos e
concessionárias de serviço público e não se consegue, são infrutíferas:

Art. 256. [...]

§ 3o O réu será considerado em local ignorado ou incerto se


infrutíferas as tentativas de sua localização, inclusive mediante
requisição pelo juízo de informações sobre seu endereço nos cadastros
de órgãos públicos ou de concessionárias de serviços públicos.

Agora também está claro que a revelia decorrente da citação por edital ou com hora
certa será dado curador especial.

Embora o edital deva ser publicado na plataforma de editais do CNJ e do sítio do


Tribunal, o juiz, excepcionalmente, poderá mandar publicar em jornais ou outros meios de
comunicação, de acordo com o caso concreto, conforme art. 257, parágrafo único:

Art. 257. [...] Parágrafo único. O juiz poderá determinar que a


publicação do edital seja feita também em jornal local de ampla
circulação ou por outros meios, considerando as peculiaridades da
comarca, da seção ou da subseção judiciárias.

Finalmente, o NCPC teve por propósito eliminar alguns procedimentos especiais, por
exemplo usucapião de imóveis, recuperação ou substituição de título ao portador etc. Esses
dois procedimentos eram caracterizados pela publicação de edital. O NCPC transformou
aqueles dois procedimentos especiais em procedimento comum, mas passou a trazer casos em
que será obrigatoriamente publicado edital para conhecimento de terceiros, quais sejam:

Art. 259. Serão publicados editais:

I - na ação de usucapião de imóvel;

II - na ação de recuperação ou substituição de título ao portador;

III - em qualquer ação em que seja necessária, por determinação legal,


a provocação, para participação no processo, de interessados incertos
ou desconhecidos.
AULA 29

PETIÇÃO INICIAL

Houveram mudanças e correções técnicas. Algumas mudanças bem significativas.


Importante deixar claro no NCPC diz respeito à data de início do processo. No CPC/73 a data
do início era distribuição ou despacho inicial. Já no NCPC o processo é considerado iniciado no
protocolo da petição inicial, tendo este marco como inicial ao processo. Resolve o problema de
se saber o que é que existia entre o protocolo e a distribuição. Agora, essa dúvida acabou e o
processo nasce a partir do protocolo da petição inicial.

Art. 312. Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for


protocolada, todavia, a propositura da ação só produz quanto ao réu
os efeitos mencionados no art. 240 depois que for validamente citado.

O procedimento sumário acaba e o procedimento comum se torna tão somente


procedimento comum. Isso é importante para se tratar das mudanças na petição inicial.

Requisitos da petição inicial.

1) eliminação de um requisito que não fazia o menor sentido, que o requisito do


requerimento de citação. Imagine, se o autor não requeresse a citação, era caso de
indeferimento! Ora, era como se o autor decidisse se o réu seria ou não citado... ora, se
alguém consta como réu é porque deve ser citado. Assim, o “pedido de citação” passa a ser
implícito.

2) o autor que vive em união estável deve declarar seu estado civil como sendo união
estável. Esta exigência ganha importância grande por conta da regra dos pressupostos
processuais que diz que se aplica à união estável documentada o regime processual das
pessoas casadas.

3) Na linha do processo eletrônico, a petição inicial deve trazer o CPF/CNPJ e ainda


endereço eletrônico. Problema discutido sobre a dificuldade do autor de conseguir o CPF do
Réu. Assim, vem o NCPC e coloca uma série de garantias paro Autor neste sentido. São os
parágrafos do artigo 319:

Art. 319.

§ 1o Caso não disponha das informações previstas no inciso II, poderá o


autor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências necessárias a sua
obtenção.

§ 2o A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de


informações a que se refere o inciso II, for possível a citação do réu.
§ 3o A petição inicial não será indeferida pelo não atendimento ao
disposto no inciso II deste artigo se a obtenção de tais informações
tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça.

O objetivo não é dificultar o acesso à justiça, mas sim regulamentar e evitar problemas
de homonímia.

4) O autor na petição inicial deve declarar a sua opção pela realização ou não de
audiência de conciliação ou mediação, conforme art. 319, VII, do NCPC. O auto deve fazer esta
declaração pelo seguinte, já que no novo procedimento comum no NCPC, antes do réu se
defender haverá uma audiência de mediação ou conciliação; contudo essa audiência de
conciliação ou mediação não ocorrerá se autor e réu – ou seja, ambos – disserem que não tem
interesse na audiência de conciliação; deve ser a soma das duas vontades; o réu terá até dez
dias antes da data da audiência para dizer se a deseja ou não; por isso, o legislador colocou
como exigência para o autor da inicial dizer se tem ou não interesse; e se o autor descumprir
essa exigência de manifestar seu interesse pela realização ou não da audiência? Duas soluções
possíveis, ou o juiz manda emendar a petição inicial por força do defeito ou o juiz toma o
silêncio do autor como não oposição à realização da audiência. O Prof. Fredie entende que a
segunda opção seja melhor.

5) Art. que cuida da emenda da petição inicial:

Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os


requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e
irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito,
determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a
complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou
completado.

Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a


petição inicial.

O juiz não opta por mandar ou não emendar, ele tem que mandar emendar, é uma
espécie de direito à emenda da petição inicial no prazo de 15 (quinze) dias (no CPC/73 era de
dez dais) e ainda deve o juiz indicar com precisão o que deve ser corrigido, ou seja, o juiz deve
indicar expressamente aquilo que deve ser emendado. Consagra-se o direito à emenda, a
ampliação do prazo e ainda o dever do juiz indicar o que deve ser emendado.

PEDIDOS

1) A primeira mudança é o acréscimo de um dispositivo totalmente novo no


ordenamento jurídico brasileiro, que é o §2º do art. 322. Além disso, ainda corrigiu o erro do
CPC/73 que falava em pedido certo ou determinado, agora, corretamente, fala-se em certo E
determinado.

Art. 322. O pedido deve ser certo.

§ 1o Compreendem-se no principal os juros legais, a correção


monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os honorários
advocatícios.
§ 2o A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação
e observará o princípio da boa-fé.

O grande mérito do §2º do art. 322 é que pela primeira vez na história há uma regra de
interpretação nos pedidos. O CPC/73 tinha um dispositivo que dizia que os pedidos se
interpretam restritivamente (Art. 293. Os pedidos são interpretados restritivamente,
compreendendo-se, entretanto, no principal os juros legais.). Com isso, os pedidos eram
interpretados gramaticalmente, literalmente. Fredie diz que o 293 do CPC/73 queria dizer é o
juiz não pode decidir algo que não foi pedido, salvo os juros legais que era um dos pedidos
implícitos legais. Então, o 293 do CPC/73 tinha dois problemas, porque só se referia um pedido
implícito e ainda que os pedidos são interpretados gramaticalmente. Isso era errado! O próprio
STJ já tinha várias decisões no sentido de que o pedido deve ser interpretado
sistematicamente com base na causa de pedir. O CPC/73 permitia claramente que a defesa
fosse interpretada no seu conjunto (art. 302, III, CPC/73) mas não dava o mesmo tratamento
aos pedidos, isso não era justo. Por isso o STJ não aplicava com literalidade o art. 293 do
CPC/73.

Assim, o NCPC corrigiu essa norma e ganhou a redação do §2º do art. 322, que vem
logo depois do §1º. Assim, o §1º fala dos pedidos implícitos e o §2º trata do dever de se
interpretar o pedido a partir do conjunto da postulação (em sintonia com o que se diz sobre a
contestação) e com base na boa-fé, pois o pedido é manifestação de vontade e toda
manifestação de vontade deve ser à luz da boa-fé.

Está em consonância com o art. 113 do CC/2002 (Art. 113. Os negócios jurídicos devem
ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.)

Agora, o fato de se deixar claro que o pedido deve ser interpretado, deve ser
compatibilizado com o sistema do NCPC que se fundamenta no contraditório. O juiz não pode
interpretar o pedido de modo tal que nem as partes mesmo interpretaram. Se o juiz quiser dar
uma interpretação diferente, deve submetê-la ao contraditório. Não pode haver
decisão/interpretação sobre o pedido que não seja antes objeto de contraditório. É ilusão
achar que não se interpreta pedido ou sentença ou defesa. Inclusive, veremos que na sentença
há regra de interpretação da sentença. Se há texto, há interpretação. Se o juiz der
interpretação diversa, deve submeter esta interpretação ao contraditório para que o réu se
manifeste. Se o réu não conseguir entender o pedido porque é obscuro e isso dificultar a
defesa, o réu deve pedir que o autor seja intimado para esclarecer.

O NCPC inova ao assumir claramente que toda manifestação de vontade é objeto de


interpretação e ao estabelecer dois parâmetros de interpretação: a sistemática e a boa-fé,
usando os padrões que o CC estabelece.

Esse §2º passa a ser um parâmetro geral para todos os atos postulatórios. Todos os
atos postulatórios devem ser interpretados desta maneira, com o conjunto da postulação e o
princípio da boa-fé. Vai, portanto, além da petição inicial e abrange qualquer postulação.

AULA 30

Uma mudança sutil em relação ao pedido, nem todo mundo vai perceber, uma
mudança na parte do pedido genérico. Como se sabe, o pedido genérico é indeterminado, que
não especifica o quanto se quer.
Art. 324. O pedido deve ser determinado.

§ 1o É lícito, porém, formular pedido genérico:

I - nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens


demandados;

II - quando não for possível determinar, desde logo, as consequências


do ato ou do fato;

III - quando a determinação do objeto ou do valor da condenação


depender de ato que deva ser praticado pelo réu.

§ 2o O disposto neste artigo aplica-se à reconvenção.

A mudança sutil está no inciso III do art. 324, ao falar em ato ou fato que deva ser
praticado pelo réu, já que no CPC/73 se falava em ilícito. Esse adjetivo ilícito foi retirada da
redação do NCPC porque a responsabilidade civil pode decorrer de um ato lícito.

Outra novidade é a consagração expressa da chamada cumulação alternativa. Ela não


tem previsão no CPC/73, que apenas prevê a cumulação eventual, que é aquela em o pedido é
formulado como prioritário e outro como subsidiário para a hipótese de o primeiro não ser
acolhido. Assim, o NCPC passa a prever, além do eventual, também o alternativo
expressamente:

Art. 326. É lícito formular mais de um pedido em ordem subsidiária, a


fim de que o juiz conheça do posterior, quando não acolher o anterior.

Parágrafo único. É lícito formular mais de um pedido,


alternativamente, para que o juiz acolha um deles.

Art. 325. O pedido será alternativo quando, pela natureza da


obrigação, o devedor puder cumprir a prestação de mais de um modo.

Parágrafo único. Quando, pela lei ou pelo contrato, a escolha couber


ao devedor, o juiz lhe assegurará o direito de cumprir a prestação de
um ou de outro modo, ainda que o autor não tenha formulado pedido
alternativo.

Além disso, DIFERENCIA a cumulação de pedidos alternativos do pedido alternativo.


Está diferenciado no art. 326 e 325.

Quando a cumulação é imprópria, os pedidos não precisam ser compatíveis entre si,
afinal se é imprópria, não se quer ambos ao mesmo tempo. Assim, dentre os requisitos para
cumulação de pedidos, não será exigida a compatibilidade entre eles na cumulação imprópria.

Grande novidade no art. 327, §2º:

Art. 327.

§ 2o Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de


procedimento, será admitida a cumulação se o autor empregar o
procedimento comum, sem prejuízo do emprego das técnicas
processuais diferenciadas previstas nos procedimentos especiais a que
se sujeitam um ou mais pedidos cumulados, que não forem
incompatíveis com as disposições sobre o procedimento comum.

A cumulação de pedidos que tem procedimentos especiais poderá ser feita mediante
procedimento comum, sem prejuízo do emprego das técnicas processuais diferenciadas
previstas nos procedimentos especiais que não forem incompatíveis com as disposições do
procedimento comum. Ou seja, o NCPC transformou o procedimento comum num
procedimento adaptável, maleável, pois pode incorporar técnicas de procedimentos especiais
desde que não sejam incompatíveis. Ex.: no procedimento das ações possessórias, tem-se uma
técnica diferenciada que é a restrição cognitiva, não se podendo por exemplo alegar domínio;
essa restrição de cognição pode ser aplicada numa ação possessória de procedimento comum,
se ajuizada depois de ano e dia; o fato de ser de procedimento comum não impede a adoção
de técnicas diferenciadas ou especiais do procedimento especial. Esse trecho final do §2º do
art. 327 é uma cláusula geral que maleabiliza o procedimento comum. Vai exigir muito dos
doutrinadores e da jurisprudência saber o que pode ou não ser importado do procedimento
especial para o procedimento comum.

Alteração e aditamento do pedido.

O CPC/73 distingue alterar (trocar) de aditar (acrescentar) o pedido. De modo


incompreensível, o CPC/73 estabelecia regimes distintos para um e outro. A alteração poderia
ser feita depois da contestação com consentimento do réu; já o aditamento era só até a
citação, ou seja, dois regimes processuais para coisas do mesmo gênero.

O NCPC passa a adotar um regime único para alteração e aditamento:

Art. 329. O autor poderá:

I - até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir,


independentemente de consentimento do réu;

II - até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido e a causa


de pedir, com consentimento do réu, assegurado o contraditório
mediante a possibilidade de manifestação deste no prazo mínimo de
15 (quinze) dias, facultado o requerimento de prova suplementar.

Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo à reconvenção e à


respectiva causa de pedir.

Dois problemas: 1) pela redação, é como se após o saneamento do processo não seja
possível a alteração objetiva do processo; no entanto, repare que a desconsideração da
personalidade jurídica pode ser requerida a qualquer tempo, ou seja, o próprio NCPC
excepciona esse rigor formal ao dizer que o pedido de desconsideração é possível a qualquer
tempo, ampliando o objeto do processo; 2) o próprio NCPC diz que se as partes quiserem fazer
acordo, elas podem no acordo acrescentar outras lides para ser homologado pelo juiz, o que
também representa ampliação objetiva do processo. Diante disso, essa limitação do art. 329
não é tão rigorosa assim porque o próprio NCPC excepciona. O próprio NCPC traz exceção ao
dizer que fato constitutivo superveniente (posterior ao ajuizamento da ação) pode ser
conhecido até de ofício (como ocorre no NCPC) e fato constitutivo é causa de pedir remota, ou
seja, uma alteração permitida no objeto até mesmo após a fase de saneamento.
O NCPC consagra uma cláusula geral de negociação do processo. É possível acordo
para alteração do objeto do processo? O acordo está regulamentado pelo NCPC no inciso II do
art. 329, acordo para mudar o objeto litigioso, é um acordo típico que não é atingido pela
claúsula geral, e coloca o limite temporal do saneamento para a celebração de acordo que
tenha por objeto a alteração do objeto do processo. No entanto, se as partes ainda assim
fizerem alteração objetiva após o saneamento e não houver prejuízo pra ninguém, não há
razão alguma para anula qualquer coisa. Esse rigor todo de que “depois do saneamento nada
pode” não é bem assim. Foi dado três exemplos do próprio NCPC e ainda há o acordo atípico
de mudança dessas regras processuais.

MUDANÇAS HAVIDAS NO INDEFERIMENTO DA PETIÇAO INICIAL

1) Cria-se nova modalidade de inépcia: o pedido genérico num caso em que a lei não
permite pedido genérico. Se isso for feito, é caso de inépcia. Assim, pedido genérico só nos
casos expressamente permitidos em lei.

2) O CPC/73 foi alterado há dois anos para prever uma hipótese de indeferimento da
inicial em que o autor não discrimina o valor que entende devido nas ações com pedido de
revisão de contrato ou de dívida. O NCPC arruma isso e passa a ser um caso de inépcia.
Quando se pede a revisão de uma dívida e não diz quanto se reputa devido, isso é inépcia
porque há defeito na formulação do pedido.

3) Indeferida a petição inicial, cabe apelação com efeito regressivo. Se o juiz não se
retratar, a apelação terá contrarrazões e o réu será citado para contrarrazoar a apelação. Isso
existia na redação original do CPC/73, que foi modificada em 1994 e agora voltou no NCPC.
Importante essas contrarrazões porque as decisões sem mérito no NCPC ganharam
estabilidade como veremos na aula apropriada.

4) No NCPC acabou juízo de admissibilidade do recurso na origem e passa a ocorrer


apenas no juízo ad quem, inclusive na apelação. Então, se o sujeito apelar da decisão que
indeferiu a apelação, o juiz não poderá fazer juízo de admissibilidade, apenas poderá se
retratar. Mas se não se retratar, ainda que perceba ser a apelação intempestiva, não pode
fazer juízo de admissibilidade, devendo remeter ao Tribunal para que o Tribunal faça o juízo de
admissibilidade. Com isso, extinguiu-se o recurso de agravo de instrumento contra decisão que
inadmite apelação ou qualquer outro recurso no juízo a quo.

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