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AULA 22
Este NCPC acaba sendo uma espécie de estuário de vários projetos que estavam
correndo para melhorar o processo civil brasileiro. Havia um projeto de mediação e conciliação
que vinha tramitando há cerca de vinte anos. Demorava tanto, que o CNJ chegou a
regulamentar a mediação e conciliação como política pública por meio de Resolução n. 125.
A primeira grande novidade é que o NCPC cria o dever de que os Tribunais devem criar
centros judiciários de solução consensual de conflitos. São órgãos do Poder Judiciário,
cabendo cada Tribunal definir a organização e composição destes centros a partir de diretrizes
estabelecidas pelo CNJ, diretrizes que inclusive estão estabelecidas na resolução n. 125.
A condução das audiências de conciliação e mediação não será mais feita pelo juiz,
mas sim pelo conciliador/mediador. São pessoas que serão treinadas para atuar como
mediador e conciliador.
5. Oralidade.
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Esse é um cadastro público que deve armazenar todas as informações relevantes para
o exercício da respectiva função.
O §4º faz menção às câmaras privadas, pois a mediação e conciliação pode ocorrer em
câmaras privadas, podendo o Tribunal fazer convênio com câmaras privadas. As câmaras
privadas devem ser credenciadas no Tribunal. Assim, o credenciamento deve ocorrer também
pelas câmaras privadas, além dos conciliadores e mediadores.
Esse NCPC foi construído para um MP diferente daquele MP de 1973, que tinha quase
nenhuma atuação no cível e, ainda, era de um tempo que os membros do MP poderiam ser
promotor e procurador do estado. Vejam, então, como o MP mudou nos últimos quarenta
anos. A CF/88 deu uma roupagem absolutamente nova para o Ministério Público, de modo
que o NCPC teve que legislar sobre um MP muito diferente do MP de 1973. Essa, inclusive, é
uma das principais adequações do NCPC à CF.
Exemplos: 1) não se fala mais em Ministério Público como fiscal da lei (custos legis),
mas, sim, como fiscal da ordem jurídica (custos iuris), mudando a terminologia; 2) acabam-se
as referências ao MP para atuar como curador especial; no CPC/73 constava que o MP seria
curador do interditando, mas isso não tem respaldo constitucional e, por isso, não está mais
no NCPC, sendo que a curatela especial é tarefa exclusiva da Defensoria Pública.
O NCPC prevê um prazo de trinta dias para o MP se pronunciar como fiscal da ordem
jurídica e, se o MP não se manifestar, o juiz deve avocar os autos de volta. É, portanto, um
prazo preclusivo.
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Por exemplo, acaba a previsão expressa de que o MP tem que intervir em ações de
estado, por exemplo, divórcio consensual. Não faz sentido o MP intervir se não há interesse de
incapaz. Então, desaparece a intervenção do MP em ações de estado. Por outro lado, fica
mantida a intervenção na ação de interdição/curatela ou sempre que houver interesse de
incapaz.
II - interesse de incapaz;
Há uma mudança sutil no inciso III do art. 178, que trata dos litígios coletivos pela
posse de terra rural e urbana. A parte de terra urbana é novidade no NCPC. Foi reivindicação
do movimento sem terra e do movimento sem teto.
Outro aperfeiçoamento de redação está no inciso I do art. 178, que fala em interesse
público ou social. O social foi acrescentado, pois essa é a denominação que a CF usa, “público
ou social”.
SUSPENSÃO DO PROCESSO
Alegação de incompetência relativa não suspende mais o processo, porque passa a ser
preliminar de contestação.
Deixa-se claro que o caso de suspensão pela morte da parte deve ser sucedido com o
processo de habilitação. É uma coisa óbvia, mas o CPC/73 não disciplinava:
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III - os arts. 2º, 3º, 4º, 6º, 7º, 11, 12 e 17 da Lei no 1.060, de 5 de
fevereiro de 1950;
Mudanças:
1) Deixa-se claro que pessoa jurídica tem direito à gratuidade da justiça, desde que
não possa arcar; Deixa-se claro que o estrangeiro também tem direito à gratuidade da justiça.
4) abrangência do benefício, §1º do art. 98. O NCPC avançou, tendo mantido o que já
era bom na Lei 1.060/50, tendo avançado, por exemplo, na perícia, pode ser paga pelo Poder
Público (a ser feita preferencialmente por servidor público) e posteriormente o Poder Público
poderá requerer reembolso. Passa-se a incluir neste rol expressamente a tradução ou
intérprete, contabilista para perícia contábil,
II - os selos postais;
5) O que está fora do benefício. Por exemplo, as multas processuais por litigância de
má-fé, por ato atentatório à dignidade da justiça. A pobreza não afasta a multa, pois se trata
de punição, conforme §4º:
Uma coisa é a responsabilidade. Outra coisa é não ter condições de pagar. O benefício
apenas garante o direito de não adiantar as despesas:
Só poderá ser executada se o credor demonstrar que houve fato superveniente que
mudou a situação econômica do sucumbente. Passados os cinco anos, a obrigação fica extinta
(ou prescrita?). Assim, o beneficiário vencido é condenado, mas essa condenação fica com
eficácia suspensa.
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8) Muda a forma de pedir a gratuidade da justiça. Antes, na Lei 1.060/50, tinha que
pedir por petição avulsa (autos separados), agora, basta pedir por petição intermediária nos
próprios autos se for no meio do processo ou na própria petição inicial. Pode até mesmo pedir
na própria petição de recurso. Agora, há necessidade de procuração com poderes especiais
para declaração de hipossuficiência de recursos:
Neste caso, §2º, antes de indeferir o pedido, o juiz deverá intimar a parte para se
manifestar sobre a possibilidade de não deferir a gratuidade da justiça. O juiz não pode decidir
pela negativa sem ouvir a parte.
Esse §6º deixa claro que se trata de benefício pessoal e não se estende
necessariamente ao espólio ou herdeiros ou litisconsórcio. A gratuidade é divisível!
Se for revogado o benefício, a parte será intimada para pagar as custas. Além disso, se
for comprovada má-fé, haverá pena de multa de até dez vezes o valor das despesas
processuais.
10) impugnação das decisões sobre gratuidade. Atualmente, a lei 1.060/50 prescreve
que cabe apelação das decisões que aplicam a lei 1060/50. As decisões que aplicam a lei 1.060
são: que concede, que nega, que revoga e que não revoga. Essas decisões não são sentenças,
porém, a Lei 1.060/50 dizia ainda assim que seriam impugnáveis por apelação, o que é um
horror, pois não é possível fazer os autos subirem já que está sendo processado em primeiro
grau. Além disso, a decisão que concede a gratuidade não pode ser recorrível, pois caberá a
parte contrária impugnar e pedir revogação, tendo recurso contra a decisão que julga pedido
de revogação. A doutrina, para dar alguma razoabilidade a este dispositivo, dizia que apenas
caberia apelação se a decisão fosse proferida em autos apartados (decisão sobre revogação e
sobre concessão superveniente), mas não tinha sentido porque eram interlocutórias
impugnadas por apelação.
Pelo NCPC, o agravo de instrumento apenas caberá em casos típicos, deixando de ser
recurso contra qualquer interlocutórias. Aqui há duas hipóteses de agravo de instrumento. A
decisão que rejeita o pedido de revogação não é impugnável por agravo de instrumento,
mas, sim, na apelação da sentença. Veremos que a apelação passou a ser recurso contra
decisão interlocutória não-agravável. Além disso, a decisão que concede o benefício da justiça
gratuita não é recorrível, devendo a parte contrária impugnar e pedir sua revogação.
Se o juiz apenas decidiu acerca disso tudo na sentença, aí será apelação contra tudo,
pois terá decidido na sentença.
Nestes dois casos, o agravo de instrumento tem efeito suspensivo automático (contra
decisão que revoga ou não defere), permitindo o recurso sem pagar as custas. Apenas se não
for acolhido o agravo de instrumento a parte será intimada para recolher as custas.
10) O art. 102 esclarece qual o efeito da decisão que revoga a gratuidade da justiça,
tendo efeito retroativo:
Gera o dever de pagar todas as custas e taxas e honorários, não recolhidos ao longo do
processo. Se a parte não fizer o recolhimento, as consequências estão previstas no parágrafo
único. Se for autor, o processo será extinto. Se for réu ou terceiro interveniente, não poderá
praticar nenhum ato ou diligência, enquanto não recolher os valores decorrentes da revogação
da gratuidade, é como uma pena de atentado, proibindo-lhe de falar nos autos ou fazer
qualquer coisa.
11) as mudança foram tão profundas que sequer pode ser chamado apenas de
gratuidade da justiça, é verdadeira facilitação de acesso à justiça que abrange não só a
concessão da gratuidade, mas também parcelamento ou desconto que se estende até no
âmbito extrajudicial. A lei n. 1.060 foi quase completamente revogada.
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CITAÇÃO
Uma das mudanças já mencionadas: o CPC deixa claro as consequências da falta de
citação num litisconsórcio necessário unitário (nulidade da decisão) e no litisconsórcio
necessário simples (ineficácia da decisão para aqueles que não foi citado, mas validade e
eficácia em relação ao que foi devidamente citado).
Efeitos da citação. Para entender, vamos relembrar como é no CPC/73, que prevê
cinco efeitos (prevenção, litispendência, faz litigiosa a coisa, constitui devedor em mora e
interrompe prescrição) , sendo que os dois últimos podem ocorrer mesmo se o juízo for
incompetente.
No NCPC está bastante diferente. Primeiro, porque vimos que a prevenção não é mais
pela citação, mas sim pelo registro ou pela distribuição, assim a citação não torna mais
prevento, tendo havido unificação dos critérios de prevenção. Prevento é o juízo onde
primeiro houve o registro ou a petição inicial foi distribuída.
A segunda diferença é que o NCPC teve que se adequar ao CC/2002, que diz que o que
interrompe a prescrição não é a citação, mas o despacho citatório. Vejamos a redação do art.
240 do NCPC:
A redação do NCPC deixa clara que qualquer dos efeitos que ele indica ocorrerá
mesmo que o juízo seja incompetente, tenda trazido esta parte para o início deste artigo. Isso
está em consonância com o NCPC que preserva os atos do juízo incompetente (lembrando que
mesmo se o juízo for incompetente seus atos decisórios só são nulos se o juízo competente
não os ratificar). Perceba que daqueles cinco efeitos, ficaram só três, porque a prevenção é do
registros ou distribuição e a interrupção da prescrição é do despacho citatório. Dois efeitos da
citação foram eliminados.
O NCPC ressalva os arts. 397 e 398 do CC/2002, que estabelecem outros fatos que
constituem em mora o devedor, ou seja, nem sempre é a citação. Trata-se das obrigações a
termo em que a mora decorre do termo (o termo interpela o homem) e nas obrigações
decorrentes de ato ilícito. O NCPC esclareceu um problema prático, pois constituir em mora é
importante para questão dos juros de mora, de modo que se for uma dessas duas espécies de
obrigações, a data em que o devedor estará em mora é anterior à da citação.
Há certas pessoas que tem dificuldade de compatibilizar este artigo 240 com o art.
312:
Esse §1º apenas será aplicado se o autor viabilizar as providências para que a citação
seja promovida pelo oficial de justiça, devendo fazê-lo no prazo de dez dias. Se o autor não o
fizer no prazo de dez dias, a interrupção não ocorrerá retroativamente na data da propositura
da ação, mas sim apenas a partir do ato da citação (não seria do despacho citatório?).
Além disso, toda essa construção se aplica também à decadência, sendo a data da
propositura da ação considerada a da cessação do curso da decadência quando a citação é
viabilizada pelo autor nos dez dias que lhe cabem:
O NCPC criou uma regra geral para todos os casos em que há uma decisão de mérito
antes da citação de alguém, caberá ao escrivão comunicar o réu:
Art. 241. Transitada em julgado a sentença de mérito proferida em
favor do réu antes da citação, incumbe ao escrivão ou ao chefe de
secretaria comunicar-lhe o resultado do julgamento.
No CPC/73 essa comunicação prevista no art. 241 do NCPC apenas era prevista para os
casos de prescrição e decadência. Agora, se tornou regra geral para qualquer situação de
julgamento do mérito e ainda sem resolução do mérito.
Necessário analisar este art. 241 com o §3º do art. 331, §3º: “Não interposta a
apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença”. Veja que não importa se a
decisão a favor do Réu é de mérito ou não, basta que a sentença seja proferida antes da
citação do réu, deverá o réu ser comunicado.
Por que o réu é intimado de uma sentença sem mérito? É que o sistema de coisa
julgada mudou muito. Agora, pode-se falar de coisa julgada de decisões que não examinaram o
mérito, sendo claro que será uma coisa julgada restrita à questão processual, mas será coisa
julgada. Veremos profundamente na aula de coisa julgada. Por exemplo, se o juiz indeferir a
petição inicial por inépcia, o réu será intimado e, se o autor voltar com a mesma petição inicial,
o réu poderá alegar coisa julgada da inépcia daquela petição inicial.
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Regime de citação dos entes públicos. Sofreu sensível mudança. Vejamos o art. 242,
§3º, que foi muito batalhado pela advocacia pública.
Agora, os entes públicos não poderão mais ser citados na autarquia, mas sim no
escritório/órgão de advocacia pública responsável, na pessoa do advogado público. Na prática,
o ente público era citado na autarquia e daqui que chegasse na advocacia pública já perdia um
prazo enorme. Agora, o município, por exemplo, deve ser citado na pessoa do procurado do
município.
Outra mudança na citação dos entes públicos é que a citação das pessoas jurídicas
serão preferencialmente citadas por meio eletrônico:
O art. 1.051 cria aparentemente um problema, pois se refere a novas pessoas jurídicas.
E as pessoas jurídicas anteriores ao NCPC? O que fazer com as pessoas jurídicas já existentes?
Há uma lacuna no NCPC, mas aparentemente se aplica o art. 1.050, pois não há nenhum
sentido para que a regra não se aplique às pessoas jurídicas já existentes.
Outra mudança, esta sutil, diz respeito às situações de impedimento para citação.
Houve uma pequena mudança no art. 244, I:
A citação postal nas ações de estado continua proibida (por exemplo, interdição), mas
nas demais ações de família, por exemplo, divórcio ou separação, agora fica possibilitada a
citação postal.
Os oficiais de justiça tiveram conquistas importantes, por exemplo no §4º do art. 248:
Na citação com hora certa, que os oficiais tentaram extinguir, sofreu apenas
modificação. Antes, eram necessárias três idas no local para tentar achar a pessoa citanda,
agora diminuiu para duas vezes. Agora, na segunda vez que for e não encontrar, avisará a uma
pessoa da família ou vizinho, quando retornar, se aquele membro/pessoa não está lá ou se
recusa a receber, ainda assim a citação será considerada feita.
Também na citação com hora certa é possível deixar na portaria de controle de acesso
em condomínios, quando o citando não estiver no local na hora e dia marcados.
Na citação com hora certa, o NCPC agora exige que conste a advertência de que se o
citando não se defender será dado a ele curador especial. Finalmente, na citação com hora
certa havia a obrigação de o escrivão expedir uma carta para o Réu para adverti-lo de que ele
havia sido citado por hora certa. Agora, o NCPC deixa claro que a carta deve ser enviada em
até dez dias da juntada do mandado e, se não for enviada a carta em dez dias, a citação será
nula. O escrivão não pode deixar apara mandar a carta quando quiser, deve obedecer ao
prazo.
No CPC/73 há um dispositivo que diz que oficiais podem fazer citações em comarcas
contíguas ou região metropolitana. A diferença é que agora manteve-se a citação mas
ampliou-se para a prática de atos executivos, ou seja, agora é possível penhora em comarcas
contiguas ou região metropolitana.
Último ponto sobre citação, que são as mudanças havidas na citação por edital. A
primeira mudança é uma mudança sistêmica do NCPC. Qualquer edital, seja pra que assunto
for, será publicado numa plataforma de editais do CNJ e no sítio do Tribunal, na página do
Tribunal na internet. Não será em jornal nem em diário, mas sim na internet (plataforma de
editais e site do Tribunal). É uma mudança de todo edital, qualquer que seja sua razão.
Passa a haver presunção de localização ignorada ou incerta do réu para fins de citação
por edital, art. 256, §3º, quando se tenta conseguir endereço do Réu nos entes públicos e
concessionárias de serviço público e não se consegue, são infrutíferas:
Agora também está claro que a revelia decorrente da citação por edital ou com hora
certa será dado curador especial.
Finalmente, o NCPC teve por propósito eliminar alguns procedimentos especiais, por
exemplo usucapião de imóveis, recuperação ou substituição de título ao portador etc. Esses
dois procedimentos eram caracterizados pela publicação de edital. O NCPC transformou
aqueles dois procedimentos especiais em procedimento comum, mas passou a trazer casos em
que será obrigatoriamente publicado edital para conhecimento de terceiros, quais sejam:
PETIÇÃO INICIAL
2) o autor que vive em união estável deve declarar seu estado civil como sendo união
estável. Esta exigência ganha importância grande por conta da regra dos pressupostos
processuais que diz que se aplica à união estável documentada o regime processual das
pessoas casadas.
Art. 319.
O objetivo não é dificultar o acesso à justiça, mas sim regulamentar e evitar problemas
de homonímia.
4) O autor na petição inicial deve declarar a sua opção pela realização ou não de
audiência de conciliação ou mediação, conforme art. 319, VII, do NCPC. O auto deve fazer esta
declaração pelo seguinte, já que no novo procedimento comum no NCPC, antes do réu se
defender haverá uma audiência de mediação ou conciliação; contudo essa audiência de
conciliação ou mediação não ocorrerá se autor e réu – ou seja, ambos – disserem que não tem
interesse na audiência de conciliação; deve ser a soma das duas vontades; o réu terá até dez
dias antes da data da audiência para dizer se a deseja ou não; por isso, o legislador colocou
como exigência para o autor da inicial dizer se tem ou não interesse; e se o autor descumprir
essa exigência de manifestar seu interesse pela realização ou não da audiência? Duas soluções
possíveis, ou o juiz manda emendar a petição inicial por força do defeito ou o juiz toma o
silêncio do autor como não oposição à realização da audiência. O Prof. Fredie entende que a
segunda opção seja melhor.
O juiz não opta por mandar ou não emendar, ele tem que mandar emendar, é uma
espécie de direito à emenda da petição inicial no prazo de 15 (quinze) dias (no CPC/73 era de
dez dais) e ainda deve o juiz indicar com precisão o que deve ser corrigido, ou seja, o juiz deve
indicar expressamente aquilo que deve ser emendado. Consagra-se o direito à emenda, a
ampliação do prazo e ainda o dever do juiz indicar o que deve ser emendado.
PEDIDOS
O grande mérito do §2º do art. 322 é que pela primeira vez na história há uma regra de
interpretação nos pedidos. O CPC/73 tinha um dispositivo que dizia que os pedidos se
interpretam restritivamente (Art. 293. Os pedidos são interpretados restritivamente,
compreendendo-se, entretanto, no principal os juros legais.). Com isso, os pedidos eram
interpretados gramaticalmente, literalmente. Fredie diz que o 293 do CPC/73 queria dizer é o
juiz não pode decidir algo que não foi pedido, salvo os juros legais que era um dos pedidos
implícitos legais. Então, o 293 do CPC/73 tinha dois problemas, porque só se referia um pedido
implícito e ainda que os pedidos são interpretados gramaticalmente. Isso era errado! O próprio
STJ já tinha várias decisões no sentido de que o pedido deve ser interpretado
sistematicamente com base na causa de pedir. O CPC/73 permitia claramente que a defesa
fosse interpretada no seu conjunto (art. 302, III, CPC/73) mas não dava o mesmo tratamento
aos pedidos, isso não era justo. Por isso o STJ não aplicava com literalidade o art. 293 do
CPC/73.
Assim, o NCPC corrigiu essa norma e ganhou a redação do §2º do art. 322, que vem
logo depois do §1º. Assim, o §1º fala dos pedidos implícitos e o §2º trata do dever de se
interpretar o pedido a partir do conjunto da postulação (em sintonia com o que se diz sobre a
contestação) e com base na boa-fé, pois o pedido é manifestação de vontade e toda
manifestação de vontade deve ser à luz da boa-fé.
Está em consonância com o art. 113 do CC/2002 (Art. 113. Os negócios jurídicos devem
ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.)
Agora, o fato de se deixar claro que o pedido deve ser interpretado, deve ser
compatibilizado com o sistema do NCPC que se fundamenta no contraditório. O juiz não pode
interpretar o pedido de modo tal que nem as partes mesmo interpretaram. Se o juiz quiser dar
uma interpretação diferente, deve submetê-la ao contraditório. Não pode haver
decisão/interpretação sobre o pedido que não seja antes objeto de contraditório. É ilusão
achar que não se interpreta pedido ou sentença ou defesa. Inclusive, veremos que na sentença
há regra de interpretação da sentença. Se há texto, há interpretação. Se o juiz der
interpretação diversa, deve submeter esta interpretação ao contraditório para que o réu se
manifeste. Se o réu não conseguir entender o pedido porque é obscuro e isso dificultar a
defesa, o réu deve pedir que o autor seja intimado para esclarecer.
Esse §2º passa a ser um parâmetro geral para todos os atos postulatórios. Todos os
atos postulatórios devem ser interpretados desta maneira, com o conjunto da postulação e o
princípio da boa-fé. Vai, portanto, além da petição inicial e abrange qualquer postulação.
AULA 30
Uma mudança sutil em relação ao pedido, nem todo mundo vai perceber, uma
mudança na parte do pedido genérico. Como se sabe, o pedido genérico é indeterminado, que
não especifica o quanto se quer.
Art. 324. O pedido deve ser determinado.
A mudança sutil está no inciso III do art. 324, ao falar em ato ou fato que deva ser
praticado pelo réu, já que no CPC/73 se falava em ilícito. Esse adjetivo ilícito foi retirada da
redação do NCPC porque a responsabilidade civil pode decorrer de um ato lícito.
Quando a cumulação é imprópria, os pedidos não precisam ser compatíveis entre si,
afinal se é imprópria, não se quer ambos ao mesmo tempo. Assim, dentre os requisitos para
cumulação de pedidos, não será exigida a compatibilidade entre eles na cumulação imprópria.
Art. 327.
A cumulação de pedidos que tem procedimentos especiais poderá ser feita mediante
procedimento comum, sem prejuízo do emprego das técnicas processuais diferenciadas
previstas nos procedimentos especiais que não forem incompatíveis com as disposições do
procedimento comum. Ou seja, o NCPC transformou o procedimento comum num
procedimento adaptável, maleável, pois pode incorporar técnicas de procedimentos especiais
desde que não sejam incompatíveis. Ex.: no procedimento das ações possessórias, tem-se uma
técnica diferenciada que é a restrição cognitiva, não se podendo por exemplo alegar domínio;
essa restrição de cognição pode ser aplicada numa ação possessória de procedimento comum,
se ajuizada depois de ano e dia; o fato de ser de procedimento comum não impede a adoção
de técnicas diferenciadas ou especiais do procedimento especial. Esse trecho final do §2º do
art. 327 é uma cláusula geral que maleabiliza o procedimento comum. Vai exigir muito dos
doutrinadores e da jurisprudência saber o que pode ou não ser importado do procedimento
especial para o procedimento comum.
Dois problemas: 1) pela redação, é como se após o saneamento do processo não seja
possível a alteração objetiva do processo; no entanto, repare que a desconsideração da
personalidade jurídica pode ser requerida a qualquer tempo, ou seja, o próprio NCPC
excepciona esse rigor formal ao dizer que o pedido de desconsideração é possível a qualquer
tempo, ampliando o objeto do processo; 2) o próprio NCPC diz que se as partes quiserem fazer
acordo, elas podem no acordo acrescentar outras lides para ser homologado pelo juiz, o que
também representa ampliação objetiva do processo. Diante disso, essa limitação do art. 329
não é tão rigorosa assim porque o próprio NCPC excepciona. O próprio NCPC traz exceção ao
dizer que fato constitutivo superveniente (posterior ao ajuizamento da ação) pode ser
conhecido até de ofício (como ocorre no NCPC) e fato constitutivo é causa de pedir remota, ou
seja, uma alteração permitida no objeto até mesmo após a fase de saneamento.
O NCPC consagra uma cláusula geral de negociação do processo. É possível acordo
para alteração do objeto do processo? O acordo está regulamentado pelo NCPC no inciso II do
art. 329, acordo para mudar o objeto litigioso, é um acordo típico que não é atingido pela
claúsula geral, e coloca o limite temporal do saneamento para a celebração de acordo que
tenha por objeto a alteração do objeto do processo. No entanto, se as partes ainda assim
fizerem alteração objetiva após o saneamento e não houver prejuízo pra ninguém, não há
razão alguma para anula qualquer coisa. Esse rigor todo de que “depois do saneamento nada
pode” não é bem assim. Foi dado três exemplos do próprio NCPC e ainda há o acordo atípico
de mudança dessas regras processuais.
1) Cria-se nova modalidade de inépcia: o pedido genérico num caso em que a lei não
permite pedido genérico. Se isso for feito, é caso de inépcia. Assim, pedido genérico só nos
casos expressamente permitidos em lei.
2) O CPC/73 foi alterado há dois anos para prever uma hipótese de indeferimento da
inicial em que o autor não discrimina o valor que entende devido nas ações com pedido de
revisão de contrato ou de dívida. O NCPC arruma isso e passa a ser um caso de inépcia.
Quando se pede a revisão de uma dívida e não diz quanto se reputa devido, isso é inépcia
porque há defeito na formulação do pedido.
3) Indeferida a petição inicial, cabe apelação com efeito regressivo. Se o juiz não se
retratar, a apelação terá contrarrazões e o réu será citado para contrarrazoar a apelação. Isso
existia na redação original do CPC/73, que foi modificada em 1994 e agora voltou no NCPC.
Importante essas contrarrazões porque as decisões sem mérito no NCPC ganharam
estabilidade como veremos na aula apropriada.