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EDUCAÇÃO 3.0 – ENSINO HÍBRIDO E SALA DE AULA


INVERTIDA
Vitor Almeida de Oliveira

Resumo

Este artigo trata do uso das Tecnologias Educacionais em Instituições de Ensino


com a adoção do conceito da Educação 3.0, aliado aos novos métodos de
aprendizagem: o Ensino Híbrido, que alia o uso do ensino tradicional com o uso das
Tecnologias de Informação e o conceito de Sala de Aula Invertida que uso um modo
diferenciado de disseminação de conhecimento em sala de aula.

Palavras-Chave: Educação 3.0; Tecnologias de Informação; Ensino Híbrido; Sala de


Aula Invertida.

Abstract:

This article deals with the use of Educational Technologies in Education


Institutions with the adoption of the concept of Education 3.0, combined with the new
teaching methods: Hybrid Teaching, which combines the use of traditional teaching
with the use of Information Technologies and the concept of Flipped Classroom that
uses a differentiated way of disseminating knowledge in the classroom.

Keywords: Education 3.0; Information Technologies; Hybrid Teaching; Flipped


Classroom.

1.INTRODUÇÃO

A ideia que circula com muita força nas Escolas de Educação Básica é a de que o
método de ensino atual, relegado a uma forma conteudista e explicativa, não cabe
mais num modelo tradicional de Educação por estar em não-conformidade ao
cotidiano dos alunos diante dos avanços pedagógicos e tecnológicos de um mundo
cada vez mais exigente quanto à capacidade de absorção do conhecimento. Este
modelo não satisfaz mais como aquisição de saber.

Não basta mais às Instituições Educacionais, na figura de seu corpo docente,


despejar conteúdo em sala de aula aos seus alunos, pois isto não chama mais a
atenção, nem atrai este mesmo aluno a entender o que se está ensinando, causando
total desinteresse. Basta ver o nível de desempenho das Escolas e dos seus alunos, que
a cada ano diminui assustadoramente, num quadro de descaso com a Educação.
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Eis as medições e gráficos do MEC sobre evasão e reprovação na Educação


Básica que corroboram as informações do texto:

Figura 1 – Taxa de Reprovação em 2015. Fonte: MEC.

Figura 2. Rendimento por Etapa Escolar. Fonte MEC.

Figura 3. Taxa de Rendimento Escolar em 2016.


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Figura 4. Taxa de Rendimento Escolar – Ensino Fundamental, Anos Iniciais (2016)

Figura 5. Taxa de Rendimento Escolar. Ensino Fundamental, Anos Finais (2016).

Figura 6. Taxa de Rendimento Escola. Ensino Médio (2016)


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Quando se fala em diferencial em um Colégio, normalmente se pensa em que


tipo de situação?

Lembramos em atividades extraclasses; nos espaços internos do Colégio (pátio)


que agrega alunos, Pais e Responsáveis; em melhorias na infraestrutura... Mas isso é
diferencial?

Não. Isto se chama serviço.

As Escolas preocupam-se em atualizar as suas instalações; melhoram o aspecto


visual da parte física para tornar os espaços mais agradáveis; inserem equipamentos
cada vez mais modernos (computadores, notebooks, projetores, lousas interativas,
redes de alta velocidade, tablets etc.) no afã de atrair um público consumidor mais
exigente. Mas, e o modo como o conhecimento é disponibilizado a este aluno que
consome tudo isto, mudou nestes últimos 30, 20, 10 anos ou mesmo nos dias atuais?

A resposta é NÃO!

Aulas puramente expositivas, com alunos passivos e inibidos a qualquer ação


interativa: este é o retrato do ensino atual, que não busca alternativas para a melhora
da compreensão do que é ensinado pelos professores, também desatualizados quanto
às tecnologias educacionais e os métodos de ensino. O modo como se aprendeu, ficou
estático, relegado ao um passado na Faculdade ou no nível de Educação Básica.

Os alunos de hoje não são mais os mesmos para os quais o nosso sistema
educacional foi criado. Em seu cotidiano, muitos alunos estão conectados com uma
nova realidade onde as redes sociais, o acesso direto às informações e a
instantaneidade são marcas registradas. Para eles, aulas explicativas centradas
unicamente no professor, com poucas possibilidades de interação e elevado grau de
passividade são altamente desmotivadoras e carentes de significado.

Pois a questão que se apresenta como desafio a este cenário atual é a seguinte:
como fazer diferente?

É disso que se trata este artigo sobre a Educação 3.0; a hibridização do ensino
como forma alternativa de aprendizado e a modalidade de salas de aulas invertidas
como novo conceito de método de ensino, trazendo uma renovação nos modelos
como frescor nas práticas pedagógicas, podendo resultar em aulas muito mais
interessantes e trazendo novamente o aluno a gostar de estudar.

2.HISTÓRICO

Em junho de 2017, ao dar continuidade às pesquisas com a plataforma


MOODLE que é a parte integrante do AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem) no
Colégio Concórdia, deparei-me com o conceito de Sala de Aula Invertida, onde a
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ferramenta principal é o uso do MOODLE, num artigo escrito por Jonathan Bergmann e
Aaron Sams.

Curioso, comecei a pesquisar mais sobre o conceito e o modelo chamou muito


a atenção pela mudança de paradigma dentro de uma sala de aula.

Após muitas leituras e pesquisas, cheguei ao nome de Erik Mazur, holandês,


Professor de Física em Harvard, localizada em Cambridge, estado de Massachusetts
nos Estados Unidos, que introduziu o conceito inicial e é um dos mais respeitáveis
pesquisadores da área. Ele percebeu que os seus alunos tinham um rendimento
melhor quando assistiam os seus vídeos após as aulas, como tema de casa. Com o
conhecimento adquirido neste formato, o aluno chegava em sala de aula com a
informação fresquinha.

Este é o princípio básico da Sala de Aula Invertida.

Descobri, pesquisando no site da universidade de Harward, que o professor


Mazur tinha sob os seus cuidados um de seus pupilos que estava trabalhando no
mesmo modelo da minha proposição, já a alguns anos, e que é brasileiro, gaúcho e
professor da disciplina de Física na UFRGS.

Entrei em contato e prontamente o professor Ives Solano Araújo, que é


graduado em Licenciatura e Bacharelado em Física (FURG - 2000), Mestrado em Física
na área de concentração de Ensino de Física (UFRGS - 2002) e Doutorado em Física
também voltado ao Ensino de Física (UFRGS 2005) e realizou um estágio pós-doutoral
na Universidade de Harvard (EUA, 2009-2010) participando do grupo de pesquisa em
Ensino de Física do Prof. Eric Mazur, com quem mantém colaboração desde então e
atualmente é Professor Associado II do Departamento de Física – UFRGS, me recebeu
gentilmente para uma rodada de conversas sobre o assunto.

Ele deu espaço para que eu explicasse o projeto, como se constituía, fez
diversas colocações, que absorvi como fonte para a minha pesquisa e se colocou à
disposição para uma leitura do projeto final. Achou que o caminho é esse de acordo
com o que foi exposto e que o retorno é fantástico. Mas avalia que a introdução do
conceito deve ser feito aos poucos para não causar um impacto negativo na
Instituição.

3.CONCEITO

3.1.EDUCAÇÃO 3.0

O mundo contemporâneo e corporativo mudou com o advento das tecnologias


e transformou para sempre a maneira como os negócios serão feitos daqui para
diante.
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O grande desafio está no fato de que as nossas Instituições Educacionais não


mudaram na mesma medida atingindo um impasse: enquanto o crescimento
exponencial da tecnologia nos levou a uma nova revolução do trabalho, a Escola
permanece enraizada e praticamente estática na forma de disseminar este
conhecimento para que os alunos enfrentem este mercado de trabalho exigente.

O mercado quererá jovens profissionais criativos, flexíveis, colaborativos,


investigadores, capazes de resolver problemas com poucos recursos, pessoas que
poderiam resolver problemas com o estímulo do raciocínio para situações de qualquer
tipo de risco… Mas é isso que eles estão aprendendo na sala de aula?

Existem muitas diferenças entre o ambiente de trabalho e o ambiente Escolar,


pois na mesma medida em que o conhecimento das novas tecnologias serviu ao
mundo corporativo para alavancar os negócios, no ambiente Escolar o modo como se
compreendem estes novos conhecimentos não foi acompanhado por uma evolução
pedagógica.

Pois a Educação 3.0 é exatamente isso: quer transformar a compreensão do


conhecimento em algo que possa ser alcançado e que esteja alinhado com o mercado
de trabalho, o mundo corporativo e com o avanço das ciências e das tecnologias, de
modo que as Instituições Educacionais estejam em concordância com o avanço da
sociedade como mola propulsora do saber (SASSAKI, 2017).

A tecnologia digital traz não somente novas ferramentas, mas novas


mentalidades. É preciso saber procurar, manipular e priorizar informações em meio a
um mar de novidades em que, de repente, todos se tornam produtores de conteúdo,
não mais consumidores passivos. O profissional 3.0 é multitarefas, está sempre
conectado ao que ocorre no mundo e pode trabalhar de qualquer lugar.

Seguindo essa lógica, a Escola deveria refletir a nova realidade do mercado. A


Educação 3.0 defende essa adaptação: a Escola passaria a ser um ambiente pluralizado
(que permite a interação entre crianças e jovens de diferentes idades), de estruturas
mais flexíveis no que concerne tempo e espaço. Afinal, a aprendizagem, assim como o
trabalho profissional, pode acontecer em toda parte, a qualquer momento.

Não há mais um único objetivo a ser atingido: a partir de agora, a aprendizagem


ocorre a partir da solução de problemas reais; cada aluno ou grupo de alunos
enveredando por um caminho alternativo e adquirindo, enquanto isso, seu conjunto
particular de conhecimentos, habilidades e competências.

A tecnologia, da mesma forma, tem papel importante na Educação 3.0,


entretanto, ao contrário do que acreditam alguns, isso não significa distribuir um
dispositivo eletrônico por aluno. A Escola dos novos tempos deve preparar os alunos
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para a cidadania digital e para a autoria. A tecnologia é uma linguagem a ser dominada
para que o aprendiz possa criar, não apenas curtir e compartilhar conteúdo. Sendo
assim, “a ênfase não está nas ferramentas em si, está nas possibilidades de
interação, produção, solução de problemas e na colaboração”.

4.ENSINO HÍBRIDO

O Ensino Híbrido propõe o alinhamento entre o ensino tradicional-conteudista,


com as novas tecnologias educacionais e os avanços tecnológicos na forma de
disseminar o conhecimento em sala de aula, incluindo sua formatação dentro das
salas.

Discorre não somente ao que é disponibilizado em forma de conteúdo, mas


estabelece a maneira como este conteúdo é dado dentro da sala, na administração das
informações pelo professor e como o aluno percebe este conhecimento.

Consiste na alternância entre diversos momentos e espaços de aprendizagem


em torno de uma mesma temática (SASSAKI, 2017). As possibilidades dentro desta
modalidade estão: momentos individuais e coletivos, conexão online e offline,
momentos de debate e produção, em sala de aula e em campo.

Figura 7. Características do Ensino Híbrido.

Um dos conceitos mais utilizados atualmente é o de INOVAÇÃO DISRUPTIVA


que é o fenômeno pelo qual uma inovação transforma um mercado ou um setor
existente (Educação) por intermédio da um conceito que gera e agrega valor
comercial. É a ruptura entre o antigo e o novo de modo a unifica-los na adoção de um
conceito novo, sobrepujando-o.

Em muitas Escolas, o Ensino Híbrido está emergindo como uma inovação


sustentatda em relação à sala de aula tradicional. As vantagens da Educação online
combinadas com todos os benefícios da sala de aula tradicional são:

1. Representa tanto a nova quanto a antiga tecnologia, enquanto uma


inovação que rompa ditames não oferece a tecnologia anterior em sua
plena forma;
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2. Busca atender aos clientes já existentes, ao contrário dos não-consumidores


– ou seja, aqueles para os quais a alternativa ao uso da tecnologia seria
utilizar nada;
3. Procura ocupar o espaço da tecnologia pré-existente. Como resultado, a
obrigação de se atingir um desempenho que supere as expectativas dos
clientes existentes é bastante alta, uma vez que o híbrido precisa realizar o
trabalho pelo menos tão bem quanto o próprio produto anterior, se
analisado pela definição original de desempenho. Por outro lado, as
empresas bem-sucedidas na implementação destas inovações, assumem o
acontecimento como um dado favorável para implementação no mercado
de que a ideia é boa;

Dentre as normas recentemente criadas para o uso do Ensino Híbrido estão as


seguintes nomenclaturas: modelos de Rotação por Estações, Laboratório Rotacional e
Sala de Aula Invertida. Elas incorporam as principais características tanto da sala de
aula tradicional quanto do ensino Online.

Estes modelos estão incorporados nos modos Flex, A La Carte, Virtual


Enriquecido e de Rotação Individual que não serão discutidos ou incluídos neste artigo.
Os modelos mais inovadores estão posicionados de modo a transformar o sistema de
salas de aula e tornarem-se os motores da mudança em longo prazo.

Figura 8. Como se consitui o Ensino Híbrido

De que modo fazer esta mudança?

1. Criar uma equipe na Escola que seja autônoma em relação a todos os


aspectos da sala de aula tradicional;
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2. Focar os modelos inovadores de Ensino Híbrido inicialmente nas áreas mais


frágeis da Escola;
3. Quando houver esta expansão, procurar pelos alunos com menores
exigências de desempenho;
4. Insistir no projeto até que ele dê certo;
5. Introduzir políticas de incentivo à inovação;

Em 2012, o Instituto Clayton Christensen publicou um artigo chamado


“Classifying K-12 blended learning” que ordenava por categorias os programas de
Ensino Híbrido no Ensino Fundamental e Médio norte-americano (K12). Os principais
modelos são:

 Modelo de Rotação: é aquele no qual, dentro de um curso ou matéria, os


alunos revezam entre modalidades de ensino, em um roteiro fixo ou a
critério do professor, sendo que pelo menos uma modalidade seja de
ensino online. Outras podem incluir atividades com as lições em grupos
pequenos ou turmas completas, trabalhos em grupo, tutoria individual e
trabalhos escritos. O Modelo de Rotação tem três submodelos:
a) Rotação por Estações ou o que alguns chamam de Rotação de Turmas
ou Rotação em Classe – é aquele no qual os alunos revezam dentro do
ambiente de uma sala de aula.
b) Laboratório Rotacional é aquele no qual a rotação ocorre entre a sala
de aula e um laboratório de aprendizado para o ensino online.
c) Rotação Individual difere dos outros modelos de Rotação porque, em
essência, cada aluno tem um roteiro individualizado e, não
necessariamente, participa de todas as estações ou modalidades
disponíveis.
Obs.: Existe ainda, um quarto modelo que não citarei aqui, pois será objeto de análise
no item logo a seguir, que é o modelo de Sala de Aula Invertida.

Figura 9. Zona híbrida de ensino


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5.SALAS DE AULAS INVERTIDAS

O conceito de Sala de Aula Invertida é fazer em casa o que era feito em aula. Por
exemplo: assistir palestras on-line e, em aula, discutir o trabalho que era feito em casa.
Ou seja, resolver o problema proposto pelo professor (BERGMANN; SAMS, 2012).

Embora seja implementado de modos diferentes, em geral esse modelo emerge


como técnica usada por professores tradicionais para melhorar o engajamento dos
estudantes. Por exemplo, os alunos matriculados em aulas de matemática da 4ª à 6ª
séries usam dispositivos conectados à internet — normalmente a partir de casa — para
assistir às lições assíncronas, em vídeo com duração de 10 a 15 minutos, e completar
questões de compreensão no Moodle. Na Escola, eles praticam e aplicam seu
aprendizado com a presença do professor.

Este modelo não transforma as operações escolares ou os atributos tradicionais


das salas de aula, incluindo os grupos divididos por idade, horários programados ou o
desenho básico de suas instalações. Em vez disso, ele aproveita melhor seus
professores e salas de aula existentes para oferecer melhorias de desempenho
sustentadas a seus estudantes tradicionais (CHRISTENSEN; HORN, STAKER, 2013, p.31).

Em resumo, significa transferir eventos que tradicionalmente eram feitos em


aula para fora de aula, segundo Lage, Platt e Treglia (2000). Trata-se de uma
abordagem pela qual o aluno assume a responsabilidade pelo estudo teórico e a aula
presencial serve como aplicação prática dos conceitos estudados previamente (JAIME;
KOLLER; GRAEML, 2015). O uso do conceito de Sala de Aula Invertida não é novo e
existe desde a década de 90 de acordo com a figura 10:

Figura 10. Evolução histórica da Sala de Aula Invertida

A partir dos anos 2000, o termo “Flipped Classroom” passou a ser um “chavão”
impulsionado por publicações internacionais com o surgimento, na esteira, de Escolas
de Ensino Básico e Superior adotando esta abordagem.
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Existe uma organização com mais de 25.000 educadores, a FLIPPED LEARNING


NETWORK que reúne trabalhos, palestras e estudos sobra a aprendizagem invertida
para que educadores possam implantá-la com sucesso. Sucesso este que se tornou
uma tendência crescente em Educação em vários países.

Figura 11. Itens que compõem a Sala de Aula Invertida

No Brasil, algumas Escolas e Universidade já adotaram o sistema ajustado às


suas necessidades com ótimos resultados, como o caso do Colégio Dante Alighieri, das
Universidades UNIAMÉRICA, UNISAL, UNIASSELVI etc.

Segundo apontamento da Flipped Learning Network (2014), aprendizagem


invertida é entendida com uma abordagem pedagógica na qual a aula expositiva passa
da dimensão da aprendizagem individual, transformando-se o espaço em sala de aula
restante em um ambiente de aprendizagem dinâmico e interativo, no qual o facilitador
guia os estudantes na aplicação dos conceitos.

Moran (2014) considera a Sala de Aula Invertida um dos modelos mais


interessantes da atualidade para mesclar tecnologia com metodologia de ensino, pois
concentra no virtual o que é informação básica e, na sala de aula, atividades criativas e
supervisionadas, numa combinação de aprendizagem por desafios, projetos e
problemas reais. Para que os professores se engajem na proposta de Sala de Aula
Invertida, será necessária a observação dos quatro pilares que sustentam a prática da
modalidade que são: Ambiente Flexível, Cultura de Aprendizagem, Conteúdo Dirigido e
Educador Profissional.

5.1.METODOLOGIA DE ENSINO

A Sala de Aula Invertida prevê o acesso ao conteúdo antes do período das aulas
pelos alunos, com material divulgado em plataforma de conteúdo (Moodle/AVA). O
segundo passo será em sala de aula com o uso dos primeiros minutos para
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esclarecimento de dúvidas, de modo a diminuir equívocos antes dos conceitos serem


aplicados nas atividades práticas em sala de aula. Os alunos são estimulados a
concentrarem seus esforços em atividades que requeiram maior concentração dentro
de um trabalho cognitivo como: aplicar, analisar, avaliar, criar num contato contínuo e
em conjunto com colegas e professores a fim de obter melhores resultados.

Figura 12. Como funciona a Sala de Aula Invertida.

O formato permite que o conteúdo a ser debatido em sala de aula, seja de


conhecimento do aluno de forma prévia, por intermédio de vídeo de pequena duração
(entre 5 a 10 min) para que o aluno possa absorver o conhecimento do assunto
exposto na plataforma. Também poderá ser administrada, uma palestra com o teor da
matéria a ser debatida ou a leitura de um texto curto sobre o assunto. Tudo de forma a
fazer o aluno chegar à sala de aula com conhecimento fresco.

A preparação prévia para as atividades de aprendizagem ativa durante a aula


ajuda os estudantes a desenvolver sua comunicação e a desenvolver suas habilidades
de pensamento de ordem superior (LAGE; PLATT; TREGLIA, 2000).

5.1.1.Habilidades Cognitivas

As habilidades cognitivas são um conjunto de habilidades que são aprendidas


em diferentes graus, conforme um indivíduo cresce e se desenvolve mentalmente. São
também as habilidades usadas para aprender, compreender e integrar as informações
de uma forma significativa. Informação aprendida cognitivamente é entendida e
assimilada, não apenas memorizada.

No caso das Salas de Aula Invertidas, as habilidades cognitivas possuem três


principais características de aprendizado: Antes da Aula, Durante a Aula e Depois da
Aula.
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Figura 13. Habilidades Cognitivas para a Sala de Aula Invertida.

5.1.2.Antes da Sala de Aula

É o momento do aluno antes de partir para as tarefas em sala de aula, no dia


seguinte. Nesta ocasião, o aluno fará a revisão dos conteúdos estabelecidos
previamente pelo professor, assistindo vídeos com o resumo do assunto a ser tratado
ou arquivo de áudio com o mesmo teor do vídeo. Pequenos textos podem ajudar a
lembrar a fixar conteúdo. É interessante que o aluno recorde as principais expressões
do assunto e busque conhecer termos novos os quais não tinha tomado contato ainda.
Todo este conteúdo será administrado pelo aluno num período não superior a 30
minutos, tempo suficiente para não tornar o aprendizado maçante.

Um dos métodos mais utilizados para anotações de conteúdo e registro de


aulas é o Método Cornell. Trata-se de um sistema amplamente usado para se tomar
notas em palestras ou leituras e, ainda, para revisar e reter o material apreendido.
Usar o sistema Cornell pode ajudar na organização de suas notas, envolvê-lo
ativamente na produção de conhecimento, aprimorar as suas habilidades de estudo e
levar ao sucesso acadêmico.

O primeiro passo é dividir a folha em 3 campos (como mostra a imagem a


baixo) a área A tem 3 cm de largura, a área B tem 5,5 cm de largura, a área C tem 4 de
altura e a área D tem 2 cm de altura. Agora vamos falar sobre como usar cada área.

 ÁREA A – revisão (Nele você vai anotar tópicos, palavras chaves, questões
que farão você lembrar o que foi dito);
 ÁREA B – anotações (Aqui você vai anotar os principais conceitos e ideias do
tema, respondendo às perguntas feitas na área A);
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 ÁREA C – resumo (Área destinada para fazer um resumo de mais ou menos


4 linhas só com os pontos principais e o que você aprendeu do tema);
 ÁREA D – cabeçalho

Lugar para anotar a data e o tema da aula

Figura 14. Método Cornell para anotações

Outro facilitador, no caso do Colégio Concórdia é que existe a ferramenta do


AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem) que serve como repositório de conteúdo, o
qual pode ser administrado pelo professor para disponibilizar material nesta
modalidade: vídeos, textos, arquivos para consulta em casa. O modo se adequa
perfeitamente a Sala de Aula Invertida. Este item será explorado a seguir em
“Qualificações do Professor”.

Quanto ao tempo dedicado, uma pesquisa, publicada na revista “Journal of


Educational Psychology” da Associação Americana de Psicologia, avaliou 7.725 alunos
espanhóis, com média de 13 anos, e concluiu que o ideal é dedicar à tarefa cerca de
uma hora diária, e que muito mais que isso pode, inclusive, atrapalhar o rendimento
dos estudantes. Segundo o estudo, tão importante quanto o tempo é a regularidade e
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a maneira como a lição é feita, isto é, se o aluno conta ou não com a ajuda de outras
pessoas.

Os resultados mostraram que a partir de 1h30 a 1h40 de estudo houve queda


nas notas. Já os que utilizavam entre 1h10 e 1h30 tiveram pequenos ganhos, mas que
quando comparados aos dos que ocupavam apenas uma hora diária se mostraram
inexpressivos — afinal, gastavam-se quase duas horas a mais por semana para atingir
um resultado não muito superior. Dessa forma, os pesquisadores concluíram que o
benefício de estudar em média uma hora é maior.

Além disso, foi observado que os alunos que recebiam deveres de casa com
regularidade conseguindo uma pontuação maior nos testes do que aqueles que tinham
uma frequência menor de lições; e os que faziam o dever sozinhos conseguiram nota
melhor que os que recebiam ajuda frequentemente (FERREIRA, 2017). Assim sendo,
estima-se que o aluno usando entre 30 minutos e uma hora de estudo, pode estimular
o aprendizado sem comprometer o rendimento.

5.1.3.Durante a Sala de Aula

Principal atividade no modelo invertido.

O professor assume o papel de transmissor, disseminador de informações


usando bom tempo da sala de aula com os conteúdos no método tradicional e
ajudando a compreender o que foi proposto como assunto a ser resolvido pelos
alunos, na forma de conteúdo prévio.

Na Sala de Aula Invertida, o professor torna-se responsável por criar, selecionar


e organizar o estudo, bem como auxiliar os estudantes tirando dúvidas deles e
concentrando mais atenção às especificidades de cada um nos encontros presenciais
(OLIVEIRA; ARAÚJO; VEIT, 2016, p. 5).

A inversão das aulas coloca o aluno como centro do processo educativo, onde a
maior parte do tempo é dada atenção ao que os alunos discutem em sala de aula
sobre o assunto proposto. O professor passa a se importar mais como os alunos
desenvolvem as atividades como um fio condutor, a modo de construir conhecimentos
em decorrência das atividades, aumentando sua capacidade de compreensão.

Em aulas tradicionais, o professor dita o ritmo, e os alunos interessados tentam


acompanhar as explicações. Esse tipo de abordagem, muitas vezes, causa no aluno um
sentimento equivocado de que entendeu o conteúdo e, não raramente, quando tenta
aplicar esse conhecimento, percebe que não o assimilou. Na Sala de Aula Invertida o
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ritmo é dado, em parte, pelo estudante. A partir do contato prévio com o conteúdo,
ele tem tempo para pensar sobre o que está estudando. Além disso, ao pedir para que
os alunos elaborem perguntas sobre o conteúdo do material de estudo, o professor
está estimulando o desenvolvimento tanto da capacidade de reflexão quanto da
habilidade de elaboração de perguntas.

O método de inversão, cuja principal estratégia é o uso de vídeos, é,


possivelmente, um dos mais conhecidos e difundidos nos meios de comunicação
educativos. Um dos motivos que o tornou popular é a sua simplicidade.

Neste método, os alunos, em casa, assistem a um vídeo de 10 a 15 minutos


com o conteúdo a ser estudado. Enquanto olham o vídeo, fazem anotações e
formulam perguntas para levarem à sala de aula. Em classe, nos primeiros 10 minutos,
o professor esclarece as dúvidas dos estudantes e, em seguida, os envolve em
atividades de resolução de problemas, experimentais e/ou de simulações
computacionais, as quais são realizadas em pequenos grupos. Nesse processo, o
professor circula pela sala de aula orientando os alunos e ajudando-os a sanar suas
dúvidas (BERGMANN; SAMS, 2012).

Outras atividades podem ser acopladas para enriquecer as atividades de casa,


como: simulações interativas, textos e discussões online que motivem os estudantes,
notícias sobre acontecimentos do assunto tratado no dia da aula, podcasts, blogs e
canais do YouTube (Nerdologia, MinutoDaFísica, Manual do Mundo, Ciência Todo Dia)
voltados à divulgação científica. Além disso, podem ser usadas listas de problemas. A
escolha das atividades e a forma de apresentá-las variam de acordo com os objetivos
do professor e da Instituição.

O professor precisa enviar as atividades prévias aos alunos, que, por sua vez,
precisam enviar as respostas ao professor por intermédio de questionários. Uma forma
eficiente e prática de fazê-lo é utilizar o Google Forms, que consiste em uma
ferramenta gratuita que permite criar formulários e disponibilizá-los online (enviando
um link para os estudantes) para que possam ser respondidos. As respostas são
organizadas em tabelas, às quais o autor do formulário tem acesso.

As respostas dos alunos precisam ser avaliadas pelo professor, mas não em
termos de certo e errado, e sim em termos de raciocínio demonstrado e de
engajamento com a atividade. O interessante é que os estudantes reflitam ativamente
sobre o material estudado e enviem ao professor um feedback capaz de enriquecer as
atividades de sala de aula.
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De posse das respostas dos estudantes às tarefas de preparação, o professor


pode adequar suas exposições orais. Algumas horas antes da aula, ele precisa analisar
e selecionar as respostas que possibilitem uma melhor apresentação do conteúdo, o
que não representa, necessariamente, as respostas corretas. Descrições que apontem
concepções alternativas são boas fontes de discussões em sala de aula. O professor
pode ter uma aula preparada previamente, com vídeos, simulações, exemplos do
cotidiano, demonstrações experimentais e ajustá-la, usando os recursos mais
pertinentes aos apontamentos e dúvidas advindas da tarefa de preparação.

O aspecto mais importante é que as discussões dos modelos de atividade em


sala de aula são a própria aula. O desenvolvimento das explicações das teorias e
conceitos da disciplina estão interligadas com as questões propostas pelo professor e
as respectivas respostas dos alunos. Os estudantes precisam perceber que seus
esforços para realizar a tarefa de preparação são a essência das aulas, assim, aos
alunos estarão cada vez mais envolvidos nas atividades. Com isso, as atividades em
classe previstas pelo modelo Estudo sob Medida (Just-in-Time) se dividem em dois
tipos complementares: aulas expositivas interativas e prática colaborativa.

As aulas expositivas interativas são exposições orais (normalmente divididas em


pequenas etapas de aproximadamente 15 minutos) que o professor organiza
utilizando as perguntas e respostas dos alunos à tarefa de preparação. A partir da
análise feita, algumas horas antes da aula, a maneira como os conceitos sobre a
disciplina são apresentados é construída. Recomenda-se que sejam mostradas as
respostas dos alunos (de forma anônima) e, a cada aula, respostas de alunos
diferentes sejam utilizadas para que todos tenham suas colocações postas nas
discussões. O professor, se possível, deve tentar não deixar perguntas sem respostas.

A prática colaborativa consiste em organizar os alunos em pequenos grupos


para resolverem esses problemas. A preparação para essas aulas pode ser feita por
meio da resolução de problemas de livro-texto, por exemplo. No início da aula, em
aproximadamente 20 minutos, o professor revisa os problemas de casa. Em seguida,
os alunos são organizados em grupos e recebem novos e mais complexos problemas
para resolverem. Recomenda-se que todos os grupos trabalhem no mesmo problema,
facilitando assim a troca de informações entre os grupos.

5.1.4.Outros Modelos

O Ensino sob Medida (EsM) e o Instrução pelos Colegas (IpC) são dois métodos
que vêm sendo utilizados em conjunto como uma forma de inverter as aulas. O EsM
orienta o professor em como realizar e tirar o melhor proveito do estudo prévio. O IpC,
desenvolvido pelo professor de física de Harvard Eric Mazur, oferece subsídios para
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orientar as discussões de forma ativa em sala de aula, sendo uma opção para a prática
colaborativa indicada pelo EsM.
No IpC, o professor apresenta um teste conceitual aos alunos, os quais o
respondem individualmente, utilizando algum sistema de votação. Em seguida,
dependendo da quantidade de acertos, o professor instrui os alunos a tentarem
convencer uns aos outros de suas respostas. Afinal, o sujeito que acabou de
compreender determinado conceito pode ter uma forma diferente e, muitas vezes,
mais eficiente que a do professor, de explicar àquele que ainda está com dificuldades
de entendimento. Por fim, o método prevê uma segunda votação, após a discussão
entre os colegas. Mostramos uma linha do tempo com a combinação do EsM e do IpC
para uma determinada aula. Inicialmente o professor elabora a tarefa de preparação,
denominada por Araújo e Mazur de Tarefa de Leitura (TL), e a envia para os
estudantes.

Figura 15. Linha do tempo do “Ensino sob Medida” e do “Instrução pelos Colegas”.

Os alunos, fora da sala de aula, leem o material, respondem às questões


propostas pelo professor e as enviam. Esse processo inicial acontece de 2 a 7 dias
antes da aula. Com aproximadamente 12 horas de antecedência à aula, o professor
revisa as respostas dos alunos, planeja suas breves exposições orais e define os testes
conceituais que irá usar durante a aula. Em classe, o professor inicia com uma
exposição oral, enfatizando as dúvidas dos alunos referentes a um dos tópicos tratados
na Tarefa de Leitura.

Em seguida, apresenta uma questão conceitual, na qual os estudantes pensam


individualmente em uma resposta e votam. O professor avalia a distribuição de
respostas e, caso esta fique em torno de 30 a 70% de acertos, solicita que os alunos
discutam a questão em pequenos grupos e convençam seus colegas sobre suas
respostas. Feito isso, os estudantes votam novamente. Caso a distribuição seja menor
que 30%, o professor pode discutir a resposta e apresentar uma nova questão
conceitual sobre o mesmo tema. Se for maior que 70%, ele pode discutir a resposta
19

com os alunos e passar para um novo tópico. Maiores informações sobre o IPC podem
ser encontradas em Araújo e Mazur.

5.1.5.Sistema de Registro

Sobre os sistemas de registro, mencionamos três: os cartões de respostas


(flashcards), os Clickers e os Plickers. O primeiro é o mais simples, onde próprio
professor pode confeccionar seus próprios cartões com as alternativas (A, B, C, D e E),
podendo ter uma cor associada a cada letra para facilitar a identificação. A única
desvantagem do uso dos cartões é que a contagem de acertos (a distribuição de
respostas) tem que ser feita “no olho”.

Figura 16. Modelo de Votação dos Testes Conceituais com o uso de cartões-resposta.

Os Clickers são dispositivos eletrônicos individuais (controles remotos) que se


comunicam com o computador do professor. Com eles, o professor pode ter acesso
facilitado à distribuição de respostas, pois a mesma aparece na tela de seu
computador. O único problema é que esses dispositivos são caros e em grande parte
das Escolas de Ensino Médio brasileiras não têm condições de comprá-los.
Uma alternativa tecnológica e barata, que une as vantagens dos cartões de
respostas e as dos Clickers, é o uso de Plickers.

Figura 17. (a) Cartela de respostas para leitura via software Plickers. Cada lado corresponde a uma
alternativa (A, B, C e D). (b) Tela do aplicativo Plickers no momento da leitura do código impresso em uma
folha.
20

Nesse caso, o professor baixa um aplicativo em seu smartphone (cujo nome é


Plickers), disponível gratuitamente para Android (Google Play) e iOS (App Store), e os
alunos votam com cartelas de respostas que contém um código similar ao QR code que
o aplicativo é capaz de ler através da câmera do aparelho, correspondente a cada
alternativa. Apresentamos a tela do aplicativo Plickers no momento da leitura do
código impresso em uma folha. Cada cartela é numerada e são diferentes entre si.
Deste modo, é possível designar uma cartela para cada aluno e registrar a evolução de
suas respostas ao longo do tempo.

Simulamos um teste com o aplicativo em uma demonstração do conceito para


dois professores do Colégio Concórdia e a eficiência surpreendeu pela facilidade de
uso, agilidade no acesso às informações e pela resposta quanto aos resultados obtidos.
Este método está presente no final do artigo com um modelo de Plano de Aula
Invertida.

5.1.6.Depois da Aula

Muitos educadores argumentam, quando se deparam com a Sala de Aula


Invertida, que seus alunos não leriam o material indicado e nem mesmo assistiriam a
vídeos em casa. Realmente, em diversos contextos de ensino, incentivá-los a estudar
em casa não é uma tarefa fácil. Contudo, diversos trabalhos demonstram experiências
bem-sucedidas neste sentido.

Uma alternativa usada pelos autores para amenizar essa dificuldade é fazer
com que a preparação prévia para as aulas tenha papel importante na atribuição dos
conceitos avaliativos na disciplina. A ideia é usar o nível de esforço explicitado pelos
alunos ao tentar responder as questões associadas às tarefas de preparação prévia
através do RACIOCÍNIO DEMONSTRADO, e não pela correção das respostas. Assim, os
estudantes não ficam inibidos em errar e se sentem incentivados a tentar responder a
partir do que realmente estão compreendendo e em grupo, o que diminui a sensação
de desconforto pelo erro.

Além da apresentação de um par de questões sobre o conteúdo abordado, o


professor pode também apresentar uma pergunta sobre as dificuldades que tiveram
ao ler o material ou ao assistir ao vídeo e, caso não tenham tido nenhuma dificuldade,
que digam o que mais lhes despertou interesse. As tarefas de preparação prévia
devem ser sucintas. Recomendamos que o tempo total de preparação envolvendo o
contato inicial com o conteúdo (através da leitura, por exemplo) e a resposta às
questões sobre o material disponibilizado não ultrapasse 45 min. É fundamental para o
estabelecimento do hábito de estudo por parte dos discentes que as tarefas sejam
bem definidas, e não tomem muito tempo para serem realizadas.
21

Algumas Escolas são resistentes à mudança, sendo contrárias a qualquer


iniciativa educacional mais inovadora. Em certos casos, inclusive, as Escolas adotam
materiais que parecem manifestar a intenção de ser “à prova de professor”, ou seja,
que o nível de qualidade de ensino seria garantido pela adoção de livros e apostilas,
reduzindo o papel do professor à execução de atividades já planejadas. Nesses casos, o
professor pode tentar inverter a sala de aula aos poucos. Não é necessário que haja
uma mudança brusca, pode começar apenas com um tópico a partir dos materiais já
adotados pela Instituição. Por exemplo, as tarefas de preparação prévia podem ser
feitas a partir da leitura de seções do livro/apostila usados pelos alunos, assim como
problemas e testes conceituais podem também vir desses materiais. Na medida em
que resultados positivos vão aparecendo, é razoável esperar que os próprios alunos e
seus pais passem a apoiar as ações tomadas pelo professor, o que pode facilitar a
aceitação das mudanças inovadoras por parte da Instituição de ensino (OLIVEIRA;
ARAÚJO; VEIT, 2016, p. 9-11).

5.2.Habilidades Socioemocionais

Como os alunos de hoje serão os trabalhadores do futuro, não basta que eles
estejam engajados somente em adquirir conhecimento obtido nas salas de aula. Será
necessário que eles tenham resiliência quanto às dificuldades impostas pelo mercado
de trabalho. Para isso, eles serão talhados nos moldes das habilidades emocionais.

Motivação, autonomia, perseverança, autocontrole, colaboração e criatividade


são os itens que compõem estas habilidades, sem as quais o aluno não saberá como
enfrentar os desafios futuros.

Estas habilidades foram elencadas pela OECD (Organization for Economic Co-
operation and Development) que é uma organização voltada para o desenvolvimento
de economia de livre mercado, que também possui um setor de desenvolvimentos na
área de Educação e que atua em mais de 35 países mundo afora (ORGANISATION FOR
ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2002, p. 13-14). De acordo com a
OECD, a motivação é o fator mais importante para o desenvolvimento emocional de
uma pessoa, acima até da idade para um aprendizado bem-sucedido, sabendo-se que
para este sucesso, são necessários alguns fatores ao aprendiz:

 Ter muita autoconfiança e uma boa autoestima;


 Ser fortemente motivado a aprender;
 Ser capaz de aprender em um ambiente com característica de “elevado
desafio” aliado a um ambiente de “baixa ameaça”.
22

6.TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO

Com a adoção do conceito de Educação 3.0 no Colégio Concórdia de Porto


Alegre, o uso das Tecnologias de Informação foi implementado e redimensionado para
uma nova realidade: a de alinhar o ensino tradicional com os recursos de tecnologia da
informação.

7.PLATAFORMA MOODLE (AVA)

Num esforço da direção do Colégio Concórdia, em 2017 foi inserido o conceito


da plataforma Moodle como Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) que é a
ferramenta que os professores podem inserir conteúdo diversificado (textos, vídeos,
arquivos, etc.) e questionários como método de avaliação parcial. Ficou combinado
que uma das provas de cada trimestre será feita na plataforma e o resultado advindo
da inserção no ambiente será usado para cálculo da média em cada um destes
períodos (trimestres).

Figura 18. Página do AVA no Moodle no Colégio Concórdia.

No conceito de Sala de Aula Invertida, o AVA é ferramenta fundamental para


divulgação de conteúdos. Como o professor necessitará de recurso para divulgação a
ser administrado na aula seguinte, o AVA comporta perfeitamente o modelo. A
intenção é que a plataforma seja usada cada vez mais, até que se torne uma
ferramenta de uso contínuo e permanente.
23

8.QUALIFICAÇÃO DE PROFESSORES

O professor é o agente fundamental neste processo de inserção das


Tecnologias Educacionais, pois é ele quem faz os planejamentos com as diversas
utilizações das tecnologias da informação e comunicação. A entrada destes recursos na
Educação deve ser acompanhada de uma concreta formação dos professores para que
eles possam utilizá-las de uma forma responsável e com potencialidades pedagógicas
adequadas.

A escolha da tecnologia, como o AVA, além de ser fundamental para o trabalho


que o professor irá desenvolver com seus alunos, pressupõe uma visão de mundo,
uma concepção de Educação. Fica assim evidenciada a importância que deve ser dada
à escolha destes recursos que serão selecionados para serem utilizados com intuito
educacional.

A escolha da tecnologia a ser adotada está diretamente ligada aos objetivos


que o professor deseja alcançar. Conhecer o produto, conhecer algumas teorias de
aprendizagem e ter um instrumento de avaliação são elementos que podem fornecer
alguns indicativos para ajudar nessa escolha e no planejamento de suas atividades.

Planejar atividades educacionais com apoio tecnológico requer do professor


mais tempo e maior capacidade de criação. Este deve investigar e conhecer bem os
propósitos do recurso tecnológico, sua qualidade técnica-estética e curricular, sua
adequação às características dos alunos, bem como as concepções teóricas que lhe
dão suporte e o momento adequado para sua introdução. Como se percebe, o
professor é um importante elemento nesse novo processo de interação da tecnologia
com a Educação. Assim, é necessário que os professores saibam incorporar e utilizar as
novas tecnologias no processo de aprendizagem exigindo-se uma nova configuração
do processo didático metodológico tradicionalmente usado em nossas Escolas.

Além disso, há o ingrediente psicológico frente ao desconhecimento no


manuseio destes recursos. O professor “trava” diante destas dificuldades e se não
houver um suporte para isso, deixará de lado o uso.

Neste viés, a formação de professores do Colégio Concórdia tornou-se uma


prática fundamental e necessária, pois um dos fatores essenciais para o sucesso na
utilização das tecnologias é a capacitação do professor fornecida pela Instituição. Este
será preparado para que perceba como deve efetuar a integração desta tecnologia
com a sua proposta de ensino.

Capacitar os professores não significa simplesmente promover treinamentos de


uso das novas ferramentas de informática e sim, conduzir um processo articulado de
mudança de mentalidade perante a Educação, além de uma mudança dos materiais e
espaços a serem trabalhados.
24

Como afirma Nóvoa (2001) apud Barros (2007, p. 109) “a atualização e a


produção de novas práticas de ensino surgem de uma reflexão do grupo e nascem da
Escola”. Assim, os professores precisam estar profissionalmente qualificados e, hoje,
não se pode falar em qualificação sem apropriação das tecnologias. É um caminho
sem volta. Cada vez mais os postos de trabalho serão ocupados por pessoas que
tenham no seu perfil este tipo de qualificação. O mercado de trabalho por si só fará a
distinção.

Os cursos de qualificação de professores como responsável pela formação de


parte desses profissionais devem ter seu currículo preparado para promover essa
formação, aliando a teoria a uma prática reflexiva. E assim foi feito durante o ano
letivo, com encontros em grupo ou individuais, num primeiro momento com a divisão
de grupos por nível de ensino e num segundo momento individualmente.

Na formação por grupos, foi possível, de forma genérica, introduzir o conceito


primordial sobre o uso do AVA e suas principais funcionalidades o suficiente para
colocar a plataforma em uso.

Na formação individual, cada professor teve um momento para explicação


agendada em data específica, com o intuito de entender o funcionamento da
ferramenta em quase todos os seus aspectos, de forma que o professor pudesse
colocar os itens que a compõe: textos, arquivos, vídeos, etc. Os resultados ainda estão
sendo colhidos e analisados, mas podemos afirmar sem sombra de dúvidas que o saldo
é muito positivo. A aceitação ao conhecimento e uso da plataforma está em torno de
70% do público alvo.

9.QUALIFICAÇÃO DE ALUNOS

O aluno faz parte de uma cultura atual totalmente imersiva nas tecnologias de
informação, pois fazem parte da chamada “Geração Z” conhecidas por serem “nativas
digitais”, estando muito familiarizadas com a Internet, com o compartilhamento de
arquivos, com os smartphones, tablets, e o sobretudo: sempre conectadas. É muito
natural para eles, manipularem tais elementos, que são parte de seu cotidiano, sem
receio. Se pensarmos mais um pouco sobre isso, perceberemos que esta geração não
teve contato com um mundo sem computadores. E outra: não conseguem nem usar
um computador, pois já nascem sob o signo dos dispositivos que tenham tela de toque
capacitiva, usando somente o dedo.

Este facilitador não tem sido levado em conta dentro das salas de aula, pois
desafia o modo tradicional de dar o conteúdo, atrapalhando o andamento das
atividades e sob certo ponto de vista, sendo proibido o seu uso.

Pois a Tecnologia de Informação deve ter sua importância identificada na hora


de introduzir conhecimento para dentro da sala de aula como aliado do professor.
25

Como dito anteriormente neste artigo, o foco do novo método, muda do professor
para o aluno, tornando-o o centro das ações e atividades em sala de aula.

A nova visão é que o aluno se transforme em agente ativo na condução das


atividades e dos espaços, chegando até ao nível de compartilhamento do que adquiriu
de conhecimento nesta modalidade. Se existe alguma dificuldade, encontrará no
colega que sabe mais, suporte para todas as suas dúvidas. O professor será um
mediador destas ações.

10.CONFIGURAÇÃO DOS ESPAÇOS

Na Sala de Aula Invertida, os espaços internos são considerados essenciais para


o bom andamento de uma aula pelo professor. Dá a chance para que o
posicionamento do aluno seja usado como benefício dele mesmo, podendo o aluno
render mais, frente às atividades propostas pelo professor. Talvez esta medida não
seja “simpática” inicialmente, mas à medida que os alunos percebem os ganhos com
tal medida, vai aceitando o modelo de forma mais tranquila.

Espaço 1 – Modelagem por Núcleos

Grupos de discussão considerados pequenos rendem mais e não há perda de


tempo de assuntos considerados desnecessários para a produtividade em sala de aula.
26

Espaço 2 – Formato em Círculo

Espaço 3 – Formato em Núcleos Específicos

Espaço 4 – Espaço Tête-à-Tête.


27

Espaço 5 – Núcleos de Quatro Alunos

O espaço em formato de núcleos de estudos com quatro alunos é considerado


o melhor formato existente, pois possibilita um cuidado maior por parte do professor
na execução das tarefas propostas em sala de aula.

Espaço 6 – Núcleos de Estudo Com um Número maior de participantes.


28

Espaço 7 – Núcleo de Estudo no Formato em “U”


29

10.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na leitura e exposição das ideias deste artigo, já é possivel verificar a série de


benefícios que a adoção deste método de ensino pode oferecer.

É uma mudança forte de direcionamento na proposta pedagógica, nos métodos de


ensino e nas relações entre professores e alunos, de forma a impactar o consumo
deste tipo de serviço em uma Instituição Educacional. Muda não só a forma de ver a
maneira como se ensina, mas põe em xeque formas tradicionais de disseminação de
conhecimento.

O “calcanhar de Aquiles” é a resistência docente quanto ao conceito. Se os professores


aceitarem as mudanças, ficará muito mais fácil inserir o modo de Sala de Aula
Invertida. Esta mudança parte de todos os níveis: Direção, Coordenação, Corpo
Docente (Professores), Corpo Discente (Alunos), Administrativo e Comunidade
Educativa (Pais, Mães e Responsáveis). Depende do que o Colégio está disposto a
aceitar. O avanço ou a continuidade.
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PLANO DE AULA INVERTIDA


NOME DO PROFESSOR Nikolas Wille DISCIPLINA Ensino Religioso
DURAÇÃO DA AULA 2 aulas NÚMERO DE ALUNOS 31
Modelo Híbrido ( ) Rotação por Estações ( ) Laboratório Rotacional ( ) Rotação Individual (X ) Sala de Aula Invertida ( ) Flex
Objetivo da Aula: Estado Islâmico – Entender como pensam seus integrantes e o porquê de existir este tipo de intolerância nos dias atuais.
Conteúdo(s): Localizar no tempo e no espaço histórico a criação, o pensamento e a ação deste grupo terrorista islâmico.
O que pode ser feito Sala de Aula Invertida: Apresentação em sala de aula do material que os alunos pesquisaram em casa.
para personalizar?
Vídeo do Professor tratando sobre o assunto;
Recursos: Conteúdo no Formato de Questionário no AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem);
Áudio Visuais Material Didático do assunto;
Texto em formato PDF sobre o assunto no AVA;
PLANO DE ESTUDO
ESPAÇOS ATIVIDADE DURAÇÃO PAPEL DO ALUNO PAPEL DO PROFESSOR
No AVA, elaborar um Depois de ler o material Depois do fim do horário
questionário prévio com no disponibilizado no AVA, estabelecido pelo professor
máximo de 10 questões, para responder ao questionário para o cumprimento da
Espaço 1 - AVA que a avaliação seja feita de 20 ou 30 minutos para confirmar a absorção tarefa, verificar o índice de
forma breve e seja possível o do conteúdo. acertos.
professor avaliar as dificuldades
do aluno.
Elaborar questões práticas sobre Formar grupos de discussão, Mediar os assuntos tratados
o assunto no momento da pequenos o suficiente para em grupo, circulando e
Espaço 2 – Análise
primeira discussão com os alunos 10 ou 20 minutos que os assuntos tratados direcionando o que é
Conceitual
em sala de aula. não excedam o tempo discutido até que haja
limite. consenso.
Com o aplicativo Escolher as respostas que Identificar os resultados
https://www.plickers.com/library julgue certa e mostrar o parciais. Se alcançar o
Espaço 3 –
dar continuidade na avaliação código QR para leitura. objetivo, segue com
Retroalimentação 5 ou 10 minutos
parcial. material novo. Caso
(Feedback)
contrário, promover nova
rodada de debates.
Divulgação dos resultados com o Ao chegar no percentual de
Espaço 3 – Divulgação aplicativo 5 ou 10 minutos correção, avaliar o
andamento.
31

11.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS, Daniela Melaré Vieira. Formação continuada para docentes do Ensino Superior: O
virtual como espaço educativo. Revista Diálogo Educacional. Curitiba, v. 7, n. 20, p. 103-
122, jan./abr. 2007.

BERGMANN, J.; SAMS, A. Sala de Aula Invertida: uma metodologia ativa de aprendizagem.
Tradução de Afonso Celso da Cunha Serra. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012.

CHRISTENSEN, Clayton M.; HORN, Michael B.; STAKER, Heather. Ensino Híbrido: uma
Inovação Disruptiva? Uma introdução à teoria dos híbridos. Clayton Christensen Institute.
Boston. Maio 2013.

FERREIRA, Paula. Excesso de tempo dedicado ao dever, pode prejudicar desempenho,


mostra estudo. Um estudo recente da Universidade de Oviedo, na Espanha.
<https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/excesso-de-tempo-dedicado-ao-dever-de-
casa-pode-prejudicar-desempenho-mostra-estudo-15783995>, acessado em 19 set. 2017.

FLIPPED LEARNING NETWORK. The four pillars of F-L-I-P. South Bend, IN: Flipped Learning,
2014. Disponível em: http://www.flippedlearning.org/domain/46 Acesso em: 20 out 2015.

JAIME, M. P.; KOLLER, M. R. T.; GRAEML, F. R. La aplicación de flipped Classroom en el curso


de dirección estratégica. In: JORNADAS INTERNACIONALES DE INNOVACIÓN UNIVERSITARIA
EDUCAR PARA TRANSFORMAR, 12., 2015. Actas... Madrid: UNIVERSIDAD EUROPEA, 2015. p.
119-133.

LAGE, M. J.; PLATT, G. J.; TREGLIA, M. Inverting the classroom: a gateway to creating an
inclusive learning environment. Journal of Economic Education. Bloomington, IN, v. 31, n. 1,
p. 30-43, 2000.

MORAN, J. M. Nova personalidade [25 out. 2014]. Brasília: Correio Braziliense. Brasília.
Entrevista concedida para Olivia Meireles.

OLIVEIRA, Tobias Espinosa de; ARAÚJO, Ives Solano; VEIT, Eliane Ângela. Sala de Aula
Invertida (Flipped Classroom): Inovando as aulas de Física. Física na Escola. v. 14, n. 2, 2016.
UFABC, São Paulo.

ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT. Understanding the


brain: towards a new learning science. Paris: OECD, 2002.

SASSAKI, Cláudio. Educação 3.0: uma proposta pedagógica para a Educação. Grupo
Educacional Expoente. Curitiba, PR. 2017

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