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INSTITUTO TERCEIRA VISÃO

:: FITOTERAPIA 01 ::

ENSINO MULTIDISCIPLINAR EM TERAPIAS NATURAIS,

HOLÍSTICAS E COMPLEMENTARES
Todos os Direitos Reservados – Instituto Terceira Visão

USO DE PLANTAS MEDICINAIS – ASPECTOS HISTÓRICOS

A utilização de plantas pelo homem é tão antiga quanto qualquer fato da história que esteja
cientificamente constatado. A evolução e o aperfeiçoamento do uso das plantas medicinais
também acompanham a evolução humana, conforme a ciência vem tomando conhecimento ao
longo de pesquisas e realização das grandes descobertas arqueológicas.

Qualquer alusão da antiguidade que se refira à farmácia e medicina demonstra uma profunda
conexão entre ambas e a Fitoterapia. Para compreendermos o desenvolvimento de qualquer
uma delas, a outra é necessária, tanto quanto se faz necessário buscar dados sobre a
utilização terapêutica de plantas, e de que forma se dava essa utilização, seja numa visão
religiosa, mística, empírica ou científica.

A MEDICINA ANTIGA (PRÉ-HISTÓRIA)

Na pré-história o homem vivia em íntimo contato com a natureza, com desenvolvimento


intelectual incompleto e modo de vida primitivo. As doenças eram vistas como forças
desconhecidas, sobrenaturais, havendo algumas evidências na paleontologia e na antropologia
que permitem-nos concluir que a medicina pré-histórica evoluiu de práticas mágicas,
instintivas e empíricas.

O uso de rituais mágicos estava baseado na crença de que os demônios da natureza eram os
responsáveis pelos inúmeros males e pelas mortes.

Encontrados crânios pré-históricos com orifícios de trepanação: orifícios de diferentes formas e


tamanhos; às vezes vários orifícios em um único crânio.

Enfim, a história da medicina estava estreitamente ligada à da religião – finalidade comum: a


defesa do indivíduo contra as forças do mal (demônios, maus espíritos).

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A MEDICINA NA MESOPOTÂMIA

Civilizações da Mesopotâmia:

• Sumérios (4000 a.C. – 2000 a.C.)

• Assírios e babilônios (2000 a.C. – 1580 a.C.)

Localização:

• Norte da Península Arábica → Vale de Ur (Iraque).

• Golfo Pérsico → Rios Tigre e Eufrates.

A MEDICINA DOS SUMÉRIOS

A medicina da civilização suméria baseava-se na astrologia (magia e empirismo).

Os astros governavam as estações; as estações determinavam as doenças.

O sangue continha toda a força vital do organismo. O fígado era o centro de distribuição do
sangue.

O fígado era o órgão mais importante do corpo humano; sede da alma. Eles faziam
adivinhações utilizando-se de fígados de animais.

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A MEDICINA DOS ASSÍRIOS E BABILÔNIOS

A astronomia e a astrologia tornaram-se mais importantes, pois serviam para que o rei
pudesse conhecer e seguir as orientações dos deuses.

Astronomia (racional e científica) e astrologia (mágica e ritualística) → suportes para a arte-


ciência médica da época. A prática médica era prerrogativa dos sacerdotes.

As cirurgias deviam ser praticadas pelos homens do povo.

Código de Hamurabi (1948-1904 a.C.) → dispunha sobre a responsabilidade civil e penal dos
médicos e determinava acerca dos honorários.

Os sacerdotes deviam prestar contas com os deuses; os cirurgiões perante o Estado.

Os médicos assírios e babilônios eram astutos observadores da natureza: contribuíram com


importantes avanços para a medicina empírica. Usavam medicamentos sob diferentes formas:
comprimidos, pílulas, pó, enemas e supositórios.

O prognóstico do doente era decidido por meio de adivinhações e de augúrios baseados no


exame do fígado de carneiro. Doente soprava nas narinas do animal que depois teria seu
fígado examinado. Eram também utilizadas as análises de sangue, urina e saliva do doente.

Conheciam doenças dos olhos e ouvidos, reumatismo, doenças cardíacas e doenças venéreas.

Em 1924, na Inglaterra, os técnicos do Museu Britânico conseguiram identificar 250 vegetais,


minerais e substâncias diversas cujas virtudes terapêuticas eram conhecidas pelos médicos
babilônios. Nos pergaminhos da época são citadas ervas como o cânhamo indiano, utilizado
com analgésico, nos casos de reumatismo.

Placas de barro de 3.000 aC registram importações de ervas para a Babilônia (trocas com a
China de ginseng aconteceram por volta de 2.000 aC). A Farmacopeia babilônica abrangia
1400 plantas. O historiador grego Heródoto mencionou que muitos babilônios eram médicos
amadores, os doentes se deitavam na rua e pediam conselhos a quem passava.

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A MEDICINA NO EGITO

Período de auge da civilização:

• Antigo Império (3200 a.C. – 2300 a.C.);

• Médio Império (2300 a.C. – 1580 a.C.);

• Novo Império (1580 a.C. – 525 a.C.);

Localização:

• Nordeste da África. Região desértica do Vale do Rio Nilo.

• Heródoto (historiador grego): “O Egito é uma dádiva do Nilo”.

A MEDICINA EGÍPCIA

A medicina egípcia era fortemente influenciada pela religião (magia e crenças).

Acreditavam na imortalidade da alma → vida após a morte.

Os egípcios tinham elementar conhecimento de anatomia humana. A técnica de embalsamar


era uma prova deste conhecimento. O embalsamamento era destinado tão somente aos
nobres e reis. Anubis era descrito como o Deus dos Embalsamadores – a ele caberia a função
de preparar os corpos que deveriam estar conservados para que a alma imortal dele fizesse
uso na outra vida.

O médico egípcio era um homem de cultura e erudição. Havia hierarquia entre os médicos.
Homens e mulheres podiam exercer a medicina.

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A prática médica dividia-se em duas escolas: a empírica, cara e reservada aos ricos e à família
real; a mágico-ritualística, barata e popular.

Utilizavam remédios variados: mel, cerveja, frutas e especiarias, ópio, produtos de origem
animal (gordura, sangue, excrementos), sal e antimônio.

As cirurgias incluíam, dentre outras práticas, as drenagens de abscessos e furúnculos, a


extirpação de tumores e a trepanação.

Em 1873, o egiptólogo alemão Georg Ebers encontrou um rolo de papiro. Após ter decifrado a
introdução, foi surpreendido pela frase: "Aqui começa o livro relativo à preparação dos
remédios para todas as partes do corpo humano". Provou-se, mais tarde, que este manuscrito
era o primeiro tratado médico egípcio conhecido. Atualmente pode-se afirmar que 2000 anos
antes do aparecimento dos primeiros médicos gregos já existia uma medicina egípcia
organizada.

Dentre as plantas mais utilizadas pelos egípcios é indispensável citar o zimbo, a semente de
linho, o funcho, o alho, a folha de sene e o lírio.

O primeiro médico egípcio conhecido foi Imhotep (2980 a 2900 a.C.), foi o sacerdote que
desenhou uma das primeiras pirâmides. Grande curandeiro, foi deificado, e utilizava ervas
medicinais em seus preparados mágicos. Os Papiros de Ebers do Egito foram um dos herbários
mais antigos que se têm conhecimento, datando de 1550 a.C., e ainda está em exibição no
Museu de Leipzig (são 125 plantas e 811 receitas). Nota-se a astrologia integrada na medicina
egípcia.

Na mesma época, médicos indianos desenvolviam avançadas técnicas cirúrgicas e de


diagnóstico, e usavam centenas de ervas nos seus tratamentos. Segundo os hindus "as ervas
eram as filhas prediletas dos deuses".

A Medicina Grega - Aspectos históricos e culturais da Grécia antiga

Localização: Sudeste da Europa, entre o mar Egeu e o Mediterrâneo.

A Grécia antiga abrangia o sul da península Balcânica (Grécia europeia ou continental), as ilhas
do mar Egeu (Grécia insular) e o litoral da Ásia Menor (Grécia asiática).

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A partir do século VIII a.C., o território da Grécia europeia foi ampliado com a fundação de
diversas colônias no Mediterrâneo ocidental, principalmente no sul da Itália, que passou a
chamar-se Magna Grécia.

No início da civilização grega sua medicina sofreu enorme influência dos egípcios e babilônios.
Os gregos utilizaram-se da matemática egípcia e da astronomia babilônica para fundamentar a
filosofia e a lógica da medicina grega.

Acreditavam na influência dos deuses nas questões relativas à vida e à morte, sendo a doença
vista, inicialmente, como um castigo dos deuses. Na religião grega os mortais estavam
fadados a morrer, não havia promessa de vida eterna.

A medicina grega baseada na mitologia identificava a cura a diversas divindades. Não apenas
Apolo, Artemis, Atena e Afrodite, mas também os deuses do submundo eram capazes de curar
ou evitar doenças. O culto a Esculápio parece ter evoluído dessas entidades, pois o seu
símbolo, a serpente, é uma representação antiga das forças do submundo da magia e um sinal
sagrado do deus da cura entre as tribos semitas da Ásia Menor.

De acordo com a lenda, Esculápio foi filho de Apolo com uma jovem terrestre; Apolo
determinou que o centauro Quíron fosse o tutor e seu professor na arte de curar. Quíron era o
mais sábio dos centauros e um excelente cirurgião. Em vários momentos a Mitologia se
mistura com a História, restando a dúvida de que Esculápio tenha de fato existido; um médico
humano e de enorme capacidade profissional.

Esculápio possuía duas filhas que o auxiliavam na arte de curar: Panaceia – versada em
conhecimentos sobre todos os remédios da terra, capaz de curar qualquer doença humana.
Hígia (ou Higeia) – responsável pelo bem-estar social, pela manutenção da saúde e prevenção
das doenças; cuidava da higiene e da saúde pública.

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Nos templos destinados a Esculápio realizavam-se os rituais de cura. Os mais famosos ficavam
em Epidauro, Cnido, Cós, Atenas, Cirene e Pérgamo, sendo visitados ainda no século V d.C..
Quando os tratamentos feitos por médicos leigos falhavam, as pessoas procuravam auxílios
nesses santuários. O tratamento era constituído de banhos e jejum. Drogas (poções) eram
empregadas para relaxar e adormecer os doentes. As curas deveriam acontecer durante o
sono do paciente, que ao acordar deveria relatar seus sonhos. Antes da saída do templo o
doente fazia uma oferenda em dinheiro ou objetos de valor e deixava o registro de sua cura
numa placa a ser exposta na entrada dos templos, a fim de divulgar os sucessos alcançados.

Foi o culto a Esculápio que despertou nos gregos o interesse em reconhecer a importância que
a esperança e a ansiedade do paciente tinham para sua cura. Aqui estávamos diante dos
primórdios da psicoterapia ou da medicina psicossomática.

A filosofia representou enorme influência na medicina grega, por seu caráter inquisidor e
racional. A escola filosófica de Pitágoras (580-489 a.C.), sediada na cidade de Crotona (Itália
meridional), proporcionou os fundamentos para a medicina científica.

O médico mais famoso da escola de Crotona foi Alcmeon, um jovem contemporâneo de


Pitágoras que deu as bases científicas à medicina grega. Era um mestre da anatomia e da
fisiologia – descobriu os nervos ópticos, a trompa de Eustáquio (ouvido) e fez a distinção entre
veias e artérias. Em sua obra “Sobre a natureza” ofereceu explicações plausíveis (racionais)
sobre as doenças e sugeria meios de prevenção e de cura. Entendia a doença como um
desequilíbrio do corpo, sendo esta desarmonia decorrente de diversos fatores como má
nutrição (dietas irregulares ou inadequadas) e fatores externos (clima e altitude). Outro
notável membro desta escola foi Empédocles (500-430 a.C.), cuja teoria dos humores
perdurou por vários séculos. Acreditava que o mundo era composto por 4 (quatro) elementos:
fogo, ar, terra e água. Os líquidos corporais representados pelo sangue, linfa, bile amarela e
bile negra eram representações destes elementos da natureza, sendo seu equilíbrio a razão da
saúde humana. Assim teríamos a seguinte combinação: fogo (quente) → sangue; ar (frio) →
linfa; terra (seco) → bile amarela; água (úmida) → bile negra. Esta era a famosa Doutrina dos
Humores.

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HIPÓCRATES (O PAI DA MEDICINA)

Nascido na ilha de Cós, em 460 a.C., era filho e neto de médicos, tendo aprendido medicina
com os mesmos, na então famosa Escola de Cós. Hipócrates conquistou enorme reputação
devido a seu talento e habilidades extraordinárias. Substituiu os deuses pela acurada e
perseverante observação clínica de seus pacientes. Foi o idealizador de um modelo ético e
humanista da prática médica, dedicando-se de modo incansável à arte de curar. Criou
métodos de diagnóstico, baseado na inquirição (filosofia) e raciocínio (lógica). As descrições de
Hipócrates costumavam ser precisas e objetivas. Hipócrates escreveu diversas obras, sendo a
ele atribuídos 72 textos e 42 histórias clínicas. As obras éticas e o juramento fazem parte do
chamado Corpo Hipocrático (Corpus Hippocraticum) que reuniu a totalidade dos
conhecimentos médicos de seu tempo neste conjunto de tratados, onde, para cada
enfermidade, descreve um remédio vegetal e o tratamento correspondente.

Dentre suas obras mais famosas podemos destacar: Sobre as epidemias, onde descreve
doenças como pneumonia, tuberculose e malária; Sobre ares, águas e lugares, um tratado
sobre saúde pública e geografia médica; Sobre a dieta, alertando para a importância de uma
dieta equilibrada e saudável; Aforismos, descreve sua experiência cotidiana por meio de 400
provérbios, como estes:

“A vida é tão curta, a arte demora tanto a aprender, a oportunidade vai logo embora, a
experiência engana e o julgamento é difícil”;

“A doença extrema requer curas extremas”.

No século XIII a.C. um curandeiro chamado Asclépio, grande conhecedor de ervas, concebeu
um sistema de cura (também chamado Esculápio de Cos era filho do deus Apolo e da ninfa

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Corônis), fundando o primeiro spa de que se tem conhecimento, em Epidauro, com


tratamentos baseados em banhos, jejum, chás, uso terapêutico de música, teatro e jogos. Os
templos de cura pipocaram em toda Grécia, Asclépio foi deificado. Seiscentos anos depois,
Tales de Mileto e Pitágoras compilaram essas receitas. Os gregos adquiriram seus
conhecimentos de ervas na Índia, Babilônia, Egito e até na China.

A Medicina Romana - Aspectos Históricos E Culturais Da Roma Antiga

O Império Romano:

O poder do Império Romano se estendeu por uma região profundamente influenciada, e até
mesmo transformada, pela cultura grega, que continuou a incorporar grande parte do
continente europeu e do norte da África. A expansão do poder romano chegou a englobar
todo o mundo mediterrâneo num sistema de dominação e transformou Roma num império que
até hoje molda grande parte da cultura ocidental.

Os etruscos, que precederam os romanos, possuíam algum conhecimento de medicina.


Acredita-se que os sacerdotes etruscos serviram de médicos aos romanos, que herdaram
conhecimentos importantes de odontologia, de hidroterapia e sobre instalações sanitárias. Os
etruscos também praticavam o diagnóstico por meio de adivinhações, utilizando-se de vísceras
de animais, principalmente o fígado.

A medicina romana nos tempos antigos deve ter sido mágica e sobrenatural, baseada na
crença de vários deuses, assim como na medicina grega. Durante a República a prática médica
romana era reservada aos escravos, sendo o médico grego pouco valorizado por seus serviços.

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Todavia, durante o Império a medicina romana, por influência de famosos e bem-sucedidos


médicos gregos, tomou grande impulso, em particular nas questões relativas ao ensino
médico.

Foi enorme a influência da medicina grega na prática médica romana, tendo sido gregos os
primeiros e os mais importantes médicos em Roma. Os primeiros médicos gregos que
chegaram a Roma eram charlatães, que gradualmente foram substituindo os serviços médicos
praticados por escravos, sacerdotes, barbeiros e massagistas.

O primeiro médico grego a conseguir fama e honra em Roma foi Archagathos, um escravo
livre que praticava a cirurgia.

Asclepíades de Prusa, nascido cerca de 125 a.C., foi o primeiro médico grego de formação a
fazer sucesso em Roma. Estudara em Alexandria, no Egito, tendo sido exímio orador e
professor de oratória. Descrevia as doenças como alterações dos humores e defendia a ideia
de um corpo formado por partículas (átomos) que se moviam através de poros ou canais,
sendo saúde e doença resultantes da contração ou relaxamento dessas partículas.

Na época romana, tanto a magia quanto a habilidade da parteira eram importantes para o
sucesso do parto. O primeiro grande obstetra foi Sorano de Éfeso (98-138 d.C.). Era membro
da escola metodista e praticou medicina em Alexandria. Escreveu um memorável tratado sobre
as moléstias femininas, condutas nos partos e contracepção – Sobre as doenças das
mulheres. É considerado o Pai da Ginecologia e Obstetrícia.

Caio Plínio Segundo (23-79 d.C.), conhecido como Plínio, o Velho, foi considerado o maior
naturalista romano. Sua grandiosa obra, História Natural, em 37 volumes, revela uma
admirável erudição. Nesta obra encontram-se variados registros sobre plantas medicinais e
remédios a base de excreções de animais, bem como, conhecimentos sobre Anatomia,
Fisiologia, Patologia e Farmacologia. Dos 37 volumes de sua obra, 13 foram dedicados às
drogas, principalmente as originadas de plantas, entretanto, 19 remédios eram oriundos
apenas do crocodilo.

Em Roma os procedimentos médicos racionais eram mesclados com práticas excêntricas e


inusitada farmacopeia. O vinho era prescrito livremente, assim como as massagens, os
banhos, as dietas e o repouso.

Galeno nasceu em Pérgamo, por volta de 130 d.C., tendo estudado em Esmirna e Alexandria.
No ano de 162 partiu para Roma, onde conquistou reputação de bom médico e escritor,
contando com particular apoio de dois imperadores – Marco Aurélio e Lúcio Vero. Famosos
eram o gênio experimental de Galeno e sua pouca tolerância com os demais médicos,

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insinuando que seus (os dele) conhecimentos acerca do diagnóstico e da terapêutica eram
incomparáveis.

Galeno escreveu excelentes obras sobre Anatomia (sobre preparações anatômicas) e Fisiologia
(sobre o uso das partes do corpo). Os tratamentos empregados por Galeno derivavam do
conceito da ação dos opostos (contraria contraribus curantur) – a terapia dos opostos
(alopatia). Adotava a teoria do pneuma (espírito animal, espírito vital e espírito natural) para
suas explicações sobre as doenças; discordava da Teoria dos Humores, tendo sido um
ferrenho crítico dos ensinamentos hipocráticos. Além das dietas e das inúmeras drogas por ele
desenvolvidas, também se utilizava da fisioterapia e ações semelhantes. Galeno desenvolveu
inúmeras preparações farmacológicas, sendo considerado o Pai da Farmácia.

No início da era cristã, Dioscórides inventou, no seu Tratado De Matéria Médica, mais de 500
drogas de origem vegetal, mineral ou animal.

Finalmente, o grego Galeno, ligou seu nome ao que ainda se denomina "farmácia galênica",
onde as plantas não são mais usadas em forma de pó e sim em preparações, nas quais são
usados solventes como álcool, água ou vinagre, e servem para conservar e concentrar os
componentes ativos das plantas, sendo utilizadas para preparar unguentos, emplastos e outras
formas galênicas.

A MEDICINA ORIENTAL (CHINA E ÍNDIA)

A Medicina Chinesa

Na China, inscrições em carapaças de tartaruga (160.000 das quais pertencentes à dinastia


Shang, de 1766 a.C. a 1112 a.C.) revelaram que, já nessa época, os praticantes da Medicina
Tradicional Chinesa conheciam os sintomas e a fitoterapia para tratar 36 tipos de doenças ou

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males e, mais interessante, faziam propaganda impressa de seus produtos fitoterápicos e suas
qualidades curativas.i

A medicina na China recebe enorme influência dos ensinamentos filosóficos e religiosos,


baseando-se tanto quanto tudo mais na cultura chinesa na tradição taoísta, no equilíbrio das
forças antagônicas da natureza (microcosmo e macrocosmo) – o yin e o yang. São marcas
características a concepção vitalista e holística da medicina tradicional chinesa.

A enorme influência de uma religião panteísta (taoísmo) explica a busca de soluções para os
diversos males na natureza – produtos de origem vegetal, animal e mineral.

Ao imperador Shen Nung (2838-2698 a.C.) reputa-se o fato de ser o fundador da medicina
chinesa. Sua obra Pen T’sao Ching (Herbário), com 3 volumes contendo uma lista de 365
ervas, prescrições e venenos, é a base da tradicional medicina chinesa. Outras obras foram
publicadas, culminando com a obra Pen T’sao Kang Mu (Grande Herbário) de Li Shi-Chen, em
52 volumes contendo a descrição de 1871 tipos de drogas. Outro conceituado imperador na
medicina foi Hwang Ti, a quem se atribui o Nei Ching (Livro da Medicina) – contendo uma
impressionante descrição da circulação sanguínea, numa época em que as dissecações de
cadáver eram proibidas.

Além dos herbários, contendo inúmeras preparações farmacológicas, a medicina chinesa


contava com a milenar prática da acupuntura. Esta técnica que utiliza agulhas aplicadas em
pontos específicos do corpo, a fim de estimular a energia vital do organismo a equilibrar-se e
propiciar a cura dos males, representa o grande legado da medicina chinesa para a moderna
utilização terapêutica.

A partir da prática da acupuntura percebe-se o fabuloso conhecimento acerca da anatomia


desenvolvido pelos médicos chineses.

O país com mais longa e ininterrupta tradição nas ervas é a China. Quando morreu em 2698
a.C., o lendário imperador Shen Nung já provara 100 ervas; menciona em seu "Cânone das
Ervas" 252 plantas, muitas ainda em uso. Cem anos mais tarde, o Imperador Amarelo, Huang
Ti, formalizou a Teoria Médica no Nei Ching. No século VII, o governo da dinastia Tang
imprimiu e distribuiu pela China uma Revisão do Cânone de Ervas. Em 1578, Li Shizhen
completou seu "Compêndio de Matéria Médica", onde listou 1800 substâncias medicinais e
11.000 receitas de compostos.

Um mestre da medicina tradicional chinesa foi Sun Shu Mai, que viveu em aproximadamente
600 d.C., e que personificava os ideais altruístas do confucionismo. As suas receitas para tratar
beriberi, um tipo de desnutrição, cegueira noturna e bócio vieram a ser comprovadas pela

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ciência séculos mais tarde.

A Medicina Hindu (Védica)

A medicina na Índia divide-se em dois distintos períodos:

• O primeiro período, da medicina védica – baseada em textos sagrados como os livros


de Veda (aprendizado), dentre os quais se destaca o Ayurveda (livro da medicina) –
fortemente influenciado por lendas e revelações divinas;

• O segundo período, da medicina bramânica – que marcou o apogeu da medicina


indiana.

• Charaka e Susruta, os dois grandes médicos hindus, são responsáveis pelas principais
obras da antiga medicina indiana – o Charaka Samhita, descrevendo os diversos
tratamentos clínicos; o Susruta Samhita, contendo elementares conhecimentos de
anatomia e descrições de técnicas cirúrgicas.

• Apesar de carecerem de estudos mais densos sobre a anatomia, os indianos foram


muito avançados na cirurgia, em especial a cirurgia plástica, como a rinoplastia.

• Um papel importante da medicina indiana é a aplicação de rigorosas regras de higiene,


fortemente influenciadas pela religião brâmane. Associam-se à higiene as dietas
vegetarianas e a abstinência de bebidas alcoólicas.

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• A conquista muçulmana da Índia introduziu enormes influências da medicina árabe no


país; todavia, em algumas regiões ainda persiste a medicina segundo o Ayurveda,
demonstrando a convivência entre modernidade e tradição.

A MEDICINA ÁRABE

Idade Antiga (4000 a.C. – 476): iniciando-se aproximadamente em 4000 a.C., com o
advento da escrita, e estendendo-se até a queda do Império Romano no ano 476. Durante
esta fase encontramos as estruturas da servidão coletiva, típicas do Oriente e as estruturas
escravistas do Ocidente clássico.

Idade Média (476 – 1453): iniciando-se em 476 e estendendo-se até 1453, quando terminou
a Guerra dos Cem Anos, na Europa, e a cidade de Constantinopla caiu em mãos dos turcos
otomanos. Durante o período medieval prevaleceu a estrutura socioeconômica feudal no
Ocidente.

• O início da Idade Média é marcado por uma enorme influência do cristianismo sobre as
diversas expressões culturais. A medicina, por influência do caridoso espírito cristão,
uma vez que a Igreja encarava o cuidado dos doentes como uma missão, passa a ser
encarada mais como obrigação moral (sacerdócio) do que como uma profissão
remunerada. Esta forma de pensamento chegava a influenciar mesmo os movimentos
considerados heréticos pela Igreja. A seita nestoriana é um bom exemplo – expulsos do
Império, os nestorianos se instalam na Pérsia, onde fundaram a Escola Médica de
Gondishapur (berço da medicina árabe).

• A expansão do mundo árabe inicia-se a partir da unificação dos diversos povos que
habitavam a península arábica. Inicialmente, os semitas árabes uniram-se aos
sumérios, originando a poderosa civilização babilônia. Todavia, a vida religiosa era
confusa e diversificada (judaísmo e cristianismo), sendo a unificação política e religiosa

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possível a partir das revelações de Maomé, que deram origem ao islamismo: religião
monoteísta fundada sobre os ensinamentos do Corão – o livro sagrado do Islã.

• Os primeiros 250 anos após a Hégira (fuga de Maomé para Medina – 16/07/622)
assistiram a um extraordinário desenvolvimento da cultura árabe.

• A família Bukht-Yishu era a mais famosa e respeitada da Escola Médica de Gondishapur.


Para a medicina árabe, enorme influência tiveram os textos dos médicos gregos
Hipócrates e Galeno, que eram traduzidos do grego para o árabe. Vários hospitais e
bibliotecas médicas foram construídos a fim de impulsionar a medicina árabe.

• Os médicos árabes mais famosos foram Rhazes e Avicena, do califado oriental, e


Avenzoar, Averróis e Maimônides, membros da Escola de Córdoba (Espanha), a capital
do califado ocidental.

• Abu Ali al-Husain ibn Sina, conhecido como Avicena (980-1037), nascido em Bukhara.
Avicena era um garoto prodígio, tendo memorizado todo o Corão e diversas poesias
árabes aos 10 anos; aos 16 anos afirmava conhecer toda a matéria médica, sendo
nomeado médico e vizir do Emir em Hamadan. Avicena era dado aos prazeres –
mulheres e vinho – tendo uma vida muito atribulada, chegando inclusive a ser preso.

• A obra-prima de Avicena foi uma compilação dos ensinamentos médicos de Hipócrates


e Galeno e biológicos de Aristóteles denominada Cânone (al-Quanum). Sua obra apesar
de muito criticada serviu como o primeiro tratado médico utilizado pelas universidades
europeias.

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• A Escola de Córdoba – No século X, a cidade espanhola de Córdoba tornou-se o centro


cultural da Europa. A população de mais de um milhão de habitantes dispunha de cerca
de 52 hospitais.

• As escolas médicas árabes introduziram na medicina muitas drogas (químicas e


herbáceas). Entre os medicamentos introduzidos pelos árabes destacam-se o âmbar, a
almíscar, cravos-da-índia, pimentas, gengibre, a noz-moscada, a cânfora, a sena, o
cassis e a noz-vômica.

• Uma outra característica da medicina árabe que muito influenciou a medicina na Europa
medieval foi o hospital. O hospital árabe era local de enorme efervescência cultural e
científica, servindo a propósitos variados além da atividade médica – possuíam fontes,
salões de leitura, bibliotecas, capelas e dispensários. Os conhecimentos da medicina
grega foram fortemente enriquecidos pelos avanços dos árabes, em especial nas áreas
da Química, Botânica, Farmácia e Administração Hospitalar.

A MEDICINA BIZANTINA - O IMPÉRIO DE BIZÂNCIO

Império Romano do Ocidente (Roma) e Império Romano do Oriente (Bizâncio).

Idade Antiga (4000 a.C. – 476): até a queda do Império Romano do Ocidente.

Idade Média (476 – 1453): estendendo-se até 1453, quando terminou a Guerra dos Cem
Anos, na Europa, e a cidade de Constantinopla caiu em mãos dos turcos otomanos, com a
morte do imperador Constantino XI e a queda do Império Bizantino.

A medicina bizantina

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• A Igreja controlava a prática medicina em Bizâncio. Além desta, no entanto, fervilhavam


os feiticeiros e todo um mercado de amuletos, feitiços e encantamentos. Afinal, numa
sociedade que não acreditava nem em drogas nem no estudo do enfermo havia poucas
oportunidades para os médicos. Na Biblioteca do Vaticano encontra-se o famoso
Juramento de Hipócrates escrito em formato de cruz num manuscrito bizantino do
século XII. Deste modo, a medicina bizantina era essencialmente dogmática, orientada
pela fé cristã que recorria aos espíritos de cura. Acreditava-se que cada santo era capaz
de curar moléstias específicas, como Santo Artemis nas perturbações genitais e São
Sebastião nas pestilências. As doenças e a morte eram, assim, consideradas como uma
visitação divina, sendo considerada blasfêmia qualquer tentativa de explicação racional
para as moléstias da época.

• Os primeiros médicos cristãos foram aceitos com certa dificuldade, como os gêmeos
árabes Cosme e Damião, de início martirizados pelo imperador romano Diocleciano e
posteriormente beatificados e reverenciados com um santuário erguido em
Constantinopla.

• O mais célebre médico bizantino foi Oribásio, nascido em Pérgamo (cidade de Galeno) e
aluno de Zeno de Chipre. Foi médico palaciano do imperador Juliano, tendo escrito
diversas obras sobre dieta na gravidez, contracepção, escolha de enfermeiras e
moléstias infantis. Sua famosa obra Euporista era um manual de orientação sobre
acidentes e doenças que poderiam ocorrer a viajantes que não dispusessem de auxílio
médico imediato.

• Aécio de Amida (século VI), nascido no Tigre e educado em Alexandria, foi o médico do
imperador Justiniano. Sua obra Tetrabiblos era um compêndio com 16 volumes acerca
de todo o conhecimento médico produzido até o século VI. Em seus tratamentos
combinava misticismo cristão com superstição pagã; entre seus diversos métodos
contraceptivos, recomendava o uso de um dente de criança suspenso sobre o ânus da
mulher.

• Alexandre de Trália, irmão do arquiteto que planejou a basílica de Santa Sofia, foi um
médico de rara independência mental. Seus 12 livros foram traduzidos para o árabe e o
latim. Era um profissional de muita experiência, para a hemoptise ele sugeria repouso e
poções de vinagre. O último dos grandes médicos bizantinos foi o cirurgião e
ginecologista-obstetra Paulo de Égina, que mencionou as ligaduras de trompas,
descreveu os pólipos nasais e realizou extirpação de amígdalas.

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• Quando, no século XV, o Império Bizantino desintegrou-se, a medicina na Europa


encontrava-se em franca expansão – eram famosas as escolas médicas de Salerno,
Bolonha, Montpellier e Oxford – iniciava-se, assim, o Renascimento.

A MEDICINA MEDIEVAL

A Idade Média - O Período Medieval

Idade Média: iniciando em 476 e estendendo-se até 1453, quando terminou a Guerra dos
Cem Anos, na Europa, e a cidade de Constantinopla caiu em mãos dos turcos otomanos, com
a morte do imperador Constantino XI e a queda do Império Bizantino.

• As expressões Idade Média e Idade Moderna foram criadas durante o Renascimento, no


século XV. Demonstrando repúdio ao mundo medieval, em particular ao sistema feudal,
os renascentistas forjaram tendenciosamente a concepção de que a Idade Média fora
“uma longa noite de mil anos”, a “Idade das Trevas”, em que mergulhara a cultura
clássica após a queda de Roma. Neste período, a ciência perdeu vitalidade e a parceria
com a filosofia se dissolveu; a filosofia construiu uma nova aliança, dessa vez com a
teologia.

• O período medieval caracterizou-se pela preponderância do feudalismo, estrutura


econômica, social, política e cultural que se edificou progressivamente na Europa
centro-ocidental em substituição à estrutura escravista da Idade Antiga.

• O feudalismo começou a se formar a partir das transformações ocorridas no final do


Império Romano do Ocidente e das invasões bárbaras, alcançando seu apogeu no final
da Alta Idade Média, período compreendido entre os séculos V e X. A estruturação do

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feudalismo se fez em meio a guerras contínuas, decorrentes das invasões dos bárbaros
e de suas constantes disputas pelo poder.

• O declínio do feudalismo, que já se esboçava no século X, prosseguiria até o século XV,


constituindo-se no período denominado Baixa Idade Média.

• No feudalismo, a posse da terra era o critério de diferenciação dos grupos sociais,


rigidamente definidos: de um lado, os senhores feudais, cuja riqueza provinha de posse
territorial e do trabalho servil; de outro, os servos, vinculados á terra e sem
possibilidades de ascender socialmente. Assim, a sociedade feudal era composta por
dois grupos sociais (estamentos): os senhores feudais (clero e nobreza) e os
servos (população camponesa).

• A Igreja cristã tornou-se a maior instituição feudal do Ocidente europeu. Sua


incalculável riqueza, a sólida organização hierárquica e a herança cultural greco-romana
permitiram-lhe exercer a hegemonia ideológica e cultural da época, caracterizada pelo
teocentrismo. Atuando em todos os níveis da vida social, a Igreja estabeleceu
normas, orientou comportamentos e, sobretudo, imprimiu nos ideais do homem
medieval os valores teológicos, isto é, a cultura religiosa.

• Ao contrário da teologia, as ciências, como a astronomia, a medicina, a matemática e a


física, não avançaram muito no mundo medieval; a Igreja repudiava qualquer forma de
pensamento que colocasse em risco as convicções religiosas, impondo, dessa forma,
barreiras à indagação científica.

O longo período que se seguiu, no ocidente, designado por Idade Média, não foi exatamente
uma época caracterizada por rápidos progressos científicos.

A Medicina Monástica

Como era de se esperar, a medicina medieval cresceu ligada à Igreja, sendo fortemente
influenciada pelas convicções religiosas. No século VI, em Monte Cassino (entre Roma e
Nápoles), um nobre italiano chamado Benedito de Nursia fundou uma comunidade monástica
denominada Ordem Beneditina. Seus membros faziam votos de pobreza, castidade e
obediência; aperfeiçoaram o ofício da caligrafia e do iluminismo, e transcreveram textos
gregos e latinos remanescentes. Em Monte Cassino, como em toda a Europa, o primeiro
médico medieval foi um padre ligado a alguma ordem religiosa.

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A medicina monástica (ou monastérica) era simples e praticada por monges que apenas
conheciam a medicina popular, extraindo remédios das ervas medicinais cultivadas nos jardins
dos mosteiros.

O declínio da medicina monástica deu-se no século XII, quando as autoridades eclesiásticas


recearam que os monges estivessem por demais afastados de seus votos religiosos por razão
de seus deveres médicos.

No início do século XIII, as atividades médicas foram banidas dos mosteiros, passando o
conhecimento médico da época a ser transferido para escolas e universidades leigas.

A ESCOLA DE SALERNO

O primeiro centro medieval de Medicina leiga surgiu junto ao Mar Etrusco, numa estação de
cura. Na cidade de Salerno, ao sul de Nápoles, durante o século X, reuniu-se uma comunidade
de médicos, professores, estudantes e tradutores, com a finalidade de criar a primeira
faculdade de medicina do Ocidente. Seu corpo docente de médicos, professores, freiras e
monges foi o primeiro dos tempos medievais.

Um dos mais famosos professores de Salerno foi Constantino, o africano, que trouxe consigo
uma ampla coleção de manuscritos árabes. Neste famoso centro de ensino médicos as
mulheres também ensinavam, dentre as quais destacou-se Trotula, uma das “damas obstetras
de Salerno” (as outras eram Abella, Constanza e Rebeca), que escreveu sobre moléstias
femininas e de pele – De Mulierum Passionibus.

Em Salerno, a obra mais famosa e mais editada (cerca de 1500 edições) foi o Regimen
Sanitatis Salernitanum, que se destacava por sua isenção de superstições e baseava-se em
fontes galênicas, hipocráticas e pseudoaristotélicas.

Salerno estimulou o renascimento da tradição hipocrática, inspirou uma nova literatura médica
pela publicação de mais de 50 novas obras, fomentou o estudo e desenvolvimento da cirurgia
e traçou o esboço da vida universitária.

A MEDICINA RENASCENTISTA (SÉCULO XVI)

O Renascimento

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As transformações socioeconômicas iniciadas na Baixa Idade Média e que culminaram com a


Revolução Comercial na Idade Moderna afetaram todos os setores da sociedade, ocasionando
inclusive mudanças culturais. Intimamente relacionado à expansão comercial, à reforma
religiosa e ao absolutismo político surgiu um grande movimento cultural burguês denominado
Renascimento.

O Renascimento enfatizava uma cultura laica (não-eclesiástica), racional e científica, sobretudo


não-feudal. Buscando subsídios na cultura greco-romana. O Renascimento foi a eclosão de
manifestações artísticas, filosóficas e científicas do novo urbano e burguês.

No conjunto da produção renascentista, começaram a sobressair valores modernos,


burgueses, como o otimismo, o individualismo, o naturalismo, o hedonismo e o
neoplatonismo; entretanto, o elemento central do Renascimento foi o humanismo, isto é, o
homem como centro do universo (antropocentrismo), a valorização da vida terrena e da
natureza, o humano ocupando o lugar cultural até então dominado pela divindade e pelo
extraterreno.

O Renascimento científico: Como visto, a efervescência cultural da Renascença impulsionou o


estudo do homem e da natureza. O Universo já não era mais aceito como obra sobrenatural,
fruto dos preceitos cristãos. O espírito crítico do homem partiu para a ciência experimental, a
observação, a fim de obter explicações racionais para os fenômenos da natureza. O
Renascimento retirou da Igreja o monopólio da explicação das coisas do mundo. Aos poucos,
o método experimental passou a ser o principal meio de se alcançar o saber científico da
realidade.

A crítica, o naturalismo, a dimensão humana culminaram no racionalismo, no empirismo


científico dos séculos XVI e XVII. Dessa forma, as principais barreiras culturais do progresso
científico foram suficientemente abaladas para não mais representarem ameaça ao progresso
capitalista burguês em curso.

A Medicina Renascentista

A medicina dos séculos XVI e XVII caracterizou-se pelo racionalismo científico, fundamentado
nas experimentações e no espírito crítico. Durante o século XVI, as universidades italianas,
francesas e alemães libertaram-se gradualmente dos credos e ensinamentos eclesiásticos.
Contribuiu enormemente para o desenvolvimento da medicina nesta época a invenção da
imprensa.

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Os médicos renascentistas eram humanistas e letrados; pertenciam a classes privilegiadas e


tinham estudado em importantes universidades. O italiano Leonardo da Vinci (1452-1519), um
dos mais brilhantes e completos humanista do Renascimento, representou a essência desta
comunhão de conhecimentos. Ao longo de sua vida, a obra de Leonardo da Vinci incorporou
as tendências de cada um dos movimentos culturais da época e ele foi de pintor e escultor a
urbanista e engenheiro; de músico e filósofo a físico e botânico; de inventor a médico.
Leonardo da Vinci, mestre das artes e das ciências, interessou-se pela anatomia, sem
preconceitos e com um enorme senso de observação; seus desenhos demonstram que ele foi
o criador da ilustração médica e da arte de desenhar em anatomia e fisiologia – do ponto de
vista histórico poderia ser considerado o pai da anatomia.

As fontes principais eram os ensinamentos de Hipócrates, Galeno e Avicena, sendo, contudo,


cada vez mais praticadas as dissecações e os estudos de anatomia e fisiologia. A anatomia e a
cirurgia, até então ensinadas em conjunto, a partir de 1570 tornaram-se disciplinas
autônomas. Aos poucos surgiram inúmeros estudiosos com a finalidade de questionar os
autores clássicos.

A medicina universitária, seguidora dos ensinamentos clássicos, encontrou em Philippus


Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, vulgo Paracelso, um formidável oponente,
ferrenho inimigo. Paracelso dedicou-se ao estudo da medicina, da magia e da alquimia, sendo
defensor de uma medicina baseada em novos conceitos, diversos daqueles ensinados por
Galeno.

Paracelso desenvolveu inúmeros preparados farmacêuticos, optando por fórmulas mais


simples e com ingredientes provenientes da natureza. Utilizou inúmeras substâncias minerais,
como enxofre, mercúrio, chumbo, cobre, ferro e antimônio.

Paracelso foi professor de medicina na Universidade da Basileia, onde rompeu com a tradição,
ensinando em alemão no lugar do latim; queimou em público as obras de Galeno e Avicena,
mas, apesar de sua fúria iconoclasta, concordava com Hipócrates quando este defendia que o
lugar do médico era na cabeceira do doente. Seu admirável conhecimento prático refletiu-se
em suas obras sobre cirurgias e sobre farmacologia, tendo sido responsável pela introdução de
muitos produtos novos.

No início do século XVI Paracelso, tentou relacionar as virtudes das plantas com as suas
propriedades morfológicas, sua forma e sua cor. Conhecida como a "teoria dos sinais" ou
"teoria da similitude". Paracelso considerava que uma doença se podia curar com aquilo que
com ela tivesse semelhança. Este pensamento não era original do médico suíço, pois os índios
da América da Sul e, possivelmente indígenas de outros continentes, tinham as mesmas ideias
sobre os sinais das plantas e suas relações como valor curativo.

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A partir de século XV houve uma preocupação em catalogar muitos vegetais, identificando-os


e classificando-os de acordo com a precedência, e características dos princípios ativos.

Finalmente, os esforços de classificação culminam, em 1735, com a publicação do Systema


Naturae, de Lineu.

A área do conhecimento médico que mais se expandiu durante o Renascimento foi a


anatomia. Foi, no entanto, no Renascimento, com a valorização da experimentação e
observação direta, com as grandes viagens para as Índias e a América, que se deu origem a
um novo período de progresso no conhecimento das plantas e suas aplicações.

O século XV traz a era dourada para as ervas: a partir da observação dos resultados
dos remédios à base de ervas; Nesse ambiente racional as mulheres foram
proibidas de estudar e os curandeiros não profissionais eram hereges.

A IDADE DA RAZÃO (SÉCULO XVIII)

A Europa do século XVIII foi o berço de uma grandiosa revolução intelectual – o movimento
denominado “Iluminismo”. Esta época ficou conhecida como a “Idade da Razão” ou
“Idade da Luz”, em contraposição com o período medieval (“Idade das Trevas”).

O racionalismo foi aplicado a todos os setores da sociedade: política, economia, filosofia, ética,
religião e, consequentemente, nas ciências.

Predominava a ideia de um universo mecânico, um universo que funcionava como uma


máquina. O corpo humano também era visto como uma máquina. A esta forma de ver o
mundo (paradigma) denominou-se mecanicismo.

Esta foi a era de grande influência dos filósofos franceses, os iluminados. Grande
repercussão teve a obra coletiva “Encyclopédie”, com seus 28 volumes. Dentre seus autores,
destacamos: Montesquieu, também autor da obra jurídica “O Espírito da Lei”; Jean le
Rond d’Alembert; François-Marie Arouet (Voltaire); Jean-Jacques Rousseau; Denis
Diderot.

A Medicina Iluminista (Século XVIII) - Famosos Médicos Iluministas.

Na medicina iluminista prevaleceu uma acirrada disputa entre duas correntes filosóficas:

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• Animismo – que defendia a existência da vida (anima) a partir da união de matéria e


alma; dentre seus defensores destacava-se o médico e filósofo alemão Georg Ernst
Stahl.

• Vitalismo – que incluía, além da matéria e da alma, a força vital como elemento
essencial para a existência da vida; dentre os vitalistas destacaram-se Theophile de
Bordeu e Joseph Barthez, criador do termo princípio vital

• Carl von Linneus (1707-1778) – médico e botânico sueco, mais conhecido como
Lineu, responsável por importantes estudos de sistemática (classificação) de plantas e
animais.

• Hermann Boerhaave (1688-1738) – este famoso médico holandês foi considerado o


maior médico do século XVIII. Assim como Thomas Sydenham, seguia a doutrina
hipocrática – defendia a utilização dos poderes curativos da natureza e uma rigorosa
observação clínica. Foi um conceituado professor, tendo inúmeros alunos famosos como
Albrecht von Haller (fundador da neurofisiologia), Gerard van Smieten (criador da
primeira clínica universitária, era um exímio administrador hospitalar) e Leopold
Auenbrugger (estudos sobre diagnósticos a partir do exame físico, criou um método
para percussão do tórax).

• Giovanni Battista Morgani (1682-1771) – fundador da moderna patologia, a partir


de estudos sobre as diferenças anatômicas entre um corpo sadio e um corpo doente.

• Lazzaro Spallanzani (1729-1799) – fez estudos notáveis sobre a digestão, a


circulação e o processo reprodutivo. Com criteriosos estudos utilizando sapos (Bufo
rana), combateu a teoria da geração espontânea, descrevendo a necessidade de
participação dos gametas masculino e feminino para a reprodução. Considerado o “Pai
da Reprodução Humana”.

• Antoine-Laurent Lavoisier (1743-1794) – fundador da química moderna. Realizou


inúmeros estudos sobre a fisiologia da respiração, concluindo tratar-se de um processo
de combustão, onde dava-se a queima do oxigênio (O2) e a produção do gás carbônico
(CO2).

• Franz Anton Mesmer (1734-1815) – a partir de seus estudos sobre magnetismo


animal, desenvolveu uma técnica de tratamento baseada na emissão de ondas
magnéticas pelas mãos – mesmerismo.

• Samuel Hahnemann (1755-1843) – criador da homeopatia. Utilizando conceitos do


vitalismo (princípio vital), defendeu o uso de substâncias capazes de produzir sintomas

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semelhantes aos das doenças a serem curadas (similitude = similia similibus


curantur), a partir de doses mínimas (não tóxicas). Na homeopatia o doente deve ser
tratado como um todo indivisível (holismo), sendo a doença apenas uma manifestação
do desequilíbrio da energia vital.

• Edward Jenner (1749-1823) – nascido em Berkeley, Gloucestershire. Estudou em


Londres, sendo aluno do famoso cirurgião escocês John Hunter (1728-1793) e de seu
irmão William Hunter (1718-1783), mais célebre anatomista do século XVIII. O Dr.
Edward Jenner observou, ao comparar a varíola humana com a varíola bovina, que as
jovens leiteiras que haviam adquirido a varíola bovina tornavam-se “resistentes” à
forma humana da doença. Deste modo, a partir da coleta de secreção das pústulas da
leiteira Sarah Nelmes, Jenner inoculou o jovem James Phipps, em 14 de maio de
1796, tendo este tornado-se resistente (imune) à varíola humana. Nascia, assim, a
vacinação (vacina → vaccina → vacum → vaca). Este foi, sem sombra de dúvidas, o
maior triunfo da medicina preventiva de todos os tempos.

A MEDICINA NO SÉCULO XIX

A Era Das Grandes Conquistas

• Neste século, grandes conquistas da ciência propiciaram uma prodigiosa evolução no


conhecimento humano, deslocando o eixo egocêntrico para uma maior integração do
homem com as demais espécies.

• Na Química observou-se as sínteses de diversas substâncias, como o álcool etílico e a


uréia; moléculas foram descritas e novas reações foram aperfeiçoadas.

• Na Física, a conservação da energia e os estudos da termodinâmica permitiram a


criação do gerador elétrico (Michael Faraday, 1831) e mais tarde do motor elétrico; a
primeira lâmpada incandescente elétrica foi viabilizada pelo americano Thomas Edison
(1879).

• Em 1895, os raios de ondas curtas de William Roentgen permitiram ao homem ver


através da matéria. Em 1898, o casal Pierre-Marie Curie descobriu o elemento rádio,
que iria revolucionar o tratamento do câncer, a partir da radioterapia.

• O grande naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882) descreve a sua teoria da


evolução – em sua famosa obra “A origem das espécies” (1859) expôs a lei da seleção

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natural, abrindo novos horizontes para a medicina. A genética inicia-se a partir dos
estudos com ervilhas do monge gregoriano Johann Mendel.

Anatomia, Histologia E Fisiologia

• A velha teoria dos humores foi contestada por Rudolf Virchow, um dos baluartes da
medicina do século XIX. Em sua histórica obra, “Patologia celular” (1858), Virchow
descreve o corpo como um conjunto de células (tecido), definindo a doença como “a
vida modificada pela reação celular contra estímulos anormais”.

Anestesia, Antissepsia E Assepsia

• O século começou com a descoberta do óxido nitroso (gás hilariante) em 1800 por
Humphrey Davy, utilizado apenas como passatempo, até que em 1845, um dentista de
Connecticut chamado Horace Wells utilizou-o para uma extração dentária.

• O pioneirismo do uso do éter na anestesia é creditado ao Dr. Crawford Williamson Long


(1815-1878), da Georgia, sem que nada tivesse sido por ele publicado. Em 1844,
William Thomas Green Morton (sócio de Wells) usou o éter para realizar uma obturação
dentária; dois anos depois, o Dr. John Collins Warren, do Hospital Geral de
Massachussets, passou a usá-lo em suas cirurgias. O clorofórmio foi introduzido como
anestésico no ano seguinte. Aliás, os termos “anestesia” e “anestésico” foram propostos
pelo Dr. Oliver Wendell Holmes. A anestesia local e loco-regional tornou-se possível em
1884 com a descoberta de Karl Koller das propriedades anestésicas da cocaína.

• A descoberta da etiologia microbiana de inúmeras doenças, levada a cabo por um


cientista que não era médico, o filho de um curtidor, chamado Louis Pasteur (1822-
1895), possibilitou um maior controle das infecções. De outro turno, contribuíram para
avanços nesta área as descobertas de Roberto Koch (1845-1910), que descreveu o
bacilo da tuberculose; e Joseph Lister (1827-1912), que introduziu na cirurgia a prática
da desinfecção das partes contaminadas do corpo (antissepsia). Os antissépticos e a
anestesia mudaram os rumos da cirurgia.

• A era da antissepsia foi seguida pela da assepsia. Os cirurgiões, em vez de procurar


limpar os focos infectados das cirurgias, buscaram eliminar os agentes nocivos
(bactérias) da sala de cirurgia (campo cirúrgico) – esterilização pelo calor e substâncias
químicas.

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A Medicina No Século XX

Idade Contemporânea: Iniciando-se em 1789 (Revolução Francesa) e estendendo-se até os


nossos dias. No século XX o capitalismo atingiu a sua maturidade e plena dinamização,
alcançando progressivamente sua globalização.

Fatos Históricos Relevantes (Século XX):

• A Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A Revolução Russa (1917): o governo de Lênin


(1917-24) e o governo de Stálin (1924-53).

• A grande crise econômica de 1929.

• Os regimes totalitários: nazismo e fascismo.

• A Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

• A Guerra Fria (EUA X URSS). O socialismo na China e em Cuba. Uma nova ordem
econômica internacional: a globalização.

A MEDICINA CONTEMPORÂNEA

Avanços Científicos E As Bases Da Nova Medicina

O conhecimento do átomo e o domínio da energia atômica a partir dos processos de fissão e


fusão nuclear.

A Teoria da Relatividade de Albert Einstein cria uma concepção de universo no qual tempo
e espaço são entidades relativas; a luz é definida como composta por massa e energia
(partícula-onda).

Os astrofísicos descrevem a expansão do universo e o surgimento em um dado momento de


grande contração-expansão (big bang). Inicia-se a conquista do espaço com as viagens
espaciais tripuladas e os satélites em órbita da Terra.

Os bioquímicos e biofísicos exploram os meandros da célula, descobrindo suas reações


metabólicas e as estruturas dos genes. Em 1953, James Watson e Francis Crick descrevem a

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estrutura do DNA em dupla hélice. Surgem os avanços da genética e da engenharia genética –


agora no século XXI temos o desvendar do genoma humano.

Os fisiologistas descrevem as enzimas, os eletrólitos e os hormônios, desvendando os


mistérios do metabolismo e de suas complexidades funcionais.

O microscópio eletrônico permitiu avançarmos da estrutura celular para uma investigação


molecular e atômica das bactérias e vírus.

Os progressos da Física trouxeram enormes contribuições práticas, sobretudo na área do


diagnóstico: os isótopos radioativos da Medicina Nuclear; a eletroforese e a espectrofotometria
nas Análises Clínicas; o eletrocardiograma, o eletroencefalograma e o eletromiograma nos
estudos da Fisiopatologia; as radiografias, a tomografia computadorizada e a ressonância
magnética na Imagenologia, Ortopedia e Neurocirurgia; a arteriografia digital e o cateterismo
cardíaco na Angiologia e na Cardiologia; dentre outros.

Uma nova era na Farmacologia teve início em 1935 quando o alemão Gerhard Domagk
descobriu as propriedades bactericidas da sulfanilamida, a precursora das sulfonamidas, que
se tornaram as primeiras “drogas miraculosas” do século XX ao combaterem eficazmente
inúmeras doenças infecciosas, especialmente a pneumonia e a peritonite pós-cirúrgica. Em
seguida, num pequeno e desorganizado laboratório em Londres, a contaminação de uma
cultura de bactérias pelo fungo Penicilium notatum proporcionou ao Dr. Alexander Fleming
(1881-1955) a oportunidade de ampliar o arsenal terapêutico contra as doenças infecciosas. A
penicilina, nome dado por Fleming à substância isolado daquele fungo, permaneceu como
curiosidade laboratorial até a Segunda Guerra Mundial, quando foi ampliada sua produção e
desenvolvido seu uso pelos ingleses Howard Florey e Ernest Chain no combate às infecções
provenientes dos ferimentos, reduzindo drasticamente as mortes deles decorrentes.

À penicilina seguiu-se a descoberta da estreptomicina em 1944 pelo Dr. Selman Waskman e


seus assistentes. Depois, na esteira dos antibióticos naturais, surgiram os antibióticos
semissintéticos e os sintéticos, grande fonte de riqueza para a indústria farmacêutica na
atualidade.

As universidades, como centros de ensino médico, passaram a desenvolverem-se como


enormes e bem equipados centros de pesquisa e de tecnologia médica. Parcerias com as
indústrias farmacêutica e de equipamentos tornaram as universidades os locais preferidos para
a atuação dos médicos pesquisadores.

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Brasil - As plantas e os primórdios da colonização

O Brasil tem uma das mais ricas biodiversidades do planeta, com milhares de espécies em sua
flora e fauna. A utilização das plantas acompanha toda a história que se tem conhecimento,
iniciando-se com a cultura dos paleoíndios amazônicos, dos quais derivaram as principais
tribos indígenas do país, porém poucos dados podem ser considerados cientificamente
verdadeiros a respeito desse período.

Na sua carta, ao rei de Portugal, o escrivão da esquadra de Pedro Álvares Cabral, Pero Vaz de
Caminha, já traçava considerações sobre a riqueza da flora brasileira (1500).

O padre José de Anchieta detalhou melhor as plantas comestíveis e medicinais do Brasil em


suas cartas ao Superior Geral da Companhia de Jesus (1560 e 1580). Descreveu em detalhes
alimentos como o feijão, o trigo, a cevada, o milho, o grão-de-bico, a lentilha, o cará, o
palmito e a mandioca, que era o principal alimento dos índios. Anchieta citou também
verduras como a taioba-roxa, a mostarda, a alface, a couve, falou das frutas nativas como a
banana, o marmelo, a uva, o citrus e o melão, e mostrou a importância que os índios davam
às pinhas das araucárias.

Das plantas medicinais, especificamente, Anchieta falou muito em uma "erva boa", a hortelã-
pimenta, que era utilizada pelos índios contra indigestões, para aliviar nevralgias e para o
reumatismo e as doenças nervosas. Exaltou também as qualidades do capim-rei, do ruibarbo-
do-brejo, da ipecacuanha-preta, que servia como purgativo, do bálsamo-da-copaíba, usado
para curar feridas, e da cabriúva-vermelha.

Outro fato que chamou a atenção do missionário foi a utilização dos timbós pelos índios,
especialmente da espécie Erythrina speciosa, Andr. O timbó, de acordo com o Aurélio, é uma
"designação genérica para leguminosas e sapindáceas que induzem efeitos narcóticos nos
peixes, e por isso são usadas para pescar. Maceradas, são lançadas na água, e logo os peixes
começam a boiar, podendo facilmente ser apanhados à mão. Deixados na água, os peixes se
recuperam, podendo ser comidos sem inconveniente em outra ocasião".

Praticamente tudo o que se sabe sobre a flora brasileira foi descoberto por cientistas
estrangeiros, que realizaram grandes expedições científicas ao Brasil. Vários foram os
europeus que ao longo do tempo vieram ao nosso país para estudar as riquezas locais. Destes
estudos surgiram diversas obras, a citar:

• Narrativa de uma viagem feita à terra do Brasil também dita América (1578) -
Léry, pastor calvinista e escritor.

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• História natural do Brasil publicado na Europa por Jorge Marcgrave (alemão, 1610-
1644).

• Alexandre Rodrigues Ferreira (brasileiro, 1756-1815) que ficou conhecido pelo


cognome de "Humboldt brasileiro" realizou extensas investigações em todos os ramos
das ciências naturais, enviando um grande número de manuscritos e espécimes
botânicos, zoológicos e mineralógicos para o Real Museu da Ajuda, em Portugal. Boa
parte de sua obra foi pilhada pelos franceses em 1808, durante a invasão de Portugal
pelas tropas de Junot, marechal do exército de Napoleão.

• Plantas usuais do povo brasileiro (1824), História das plantas mais notáveis
do Brasil e do Paraguai (1824) e Flora do Brasil Meridional (1825), obras até hoje
consultadas na biblioteca de botânica da Universidade de Paris. Todas do Botânico
Augustin François César Provençal de Saint-Hilaire (francês, 1779-1853).

• O desenvolvimento do Brasil desde o descobrimento até o nosso tempo (1821)


e Viagem pelo Brasil (1823-1831), de Johann-Baptist von Spix (zoólogo alemão, 1781
— 1827).

• Gêneros e espécies de palmeiras (1823-1832) e a monumental Flora brasiliense


(1840-1868). Ambos de Karl Friedrich von Phillip Martius (botânico alemão, 1794-1868).

• The naturalist on the river Amazonas (1863), traduzido para o português em 1944
– escrito por Henry Walter Bates (inglês, 1825-1892) que morou oito anos no vilarejo
de Tefé (Pará) e retornou para a Inglaterra levando uma coleção de 14.712 espécies de
animais e vegetais, muitas delas novas para a ciência.

• Lagoa Santa: Contribuição para a geografia fitobiológica (1892), traduzido para


o português em 1908 por Alberto Loefgren, e As comunidades vegetais (1895),
primeiro livro de ecologia do mundo, escritos por Eugênio Warming (dinamarquês) que
morou por três anos em Lagoa Santa (MG), onde estudou muito a vegetação do
cerrado.

• História física do vale do Amazonas, Geografia do Brasil e O Rio Amazonas


(1867) e ainda, Uma viagem pelo Brasil (1868) escritos por Jean-Louis Rodolphe
Agassiz (suíço, 1807-1873).

• Aspectos da natureza do Brasil, Maravilhas da natureza da Ilha de Marajó e


Álbum das aves amazônicas (1900-1906), por Emile Auguste Goeldi (suíço, 1859-
1917).

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História da Farmácia Brasileira

Os primeiros povoadores da nova colônia portuguesa tiveram de valer-se de recursos da


natureza para combater as doenças, curar ferimentos e neutralizar picadas de insetos. Com
isso foram aprendendo com os pajés a preparar os remédios da terra para tratar seus próprios
males.

Remédios da "civilização" só apareciam quando expedições portuguesas, francesas ou


espanholas apareciam com suas esquadras, onde sempre havia um cirurgião barbeiro ou
algum tripulante com uma botica portátil cheia de drogas e medicamentos.

As coisas ficam assim até que a coroa portuguesa resolveu instituir no Brasil o governo geral,
e o primeiro a ser nomeado foi Thomé de Souza, que veio para a colônia com uma armada de
três naus, duas caravelas e um bergantim, trazendo autoridades, funcionários civis e militares,
tropa de linha, diversos oficiais, seis jesuítas, quatro padres e dois irmãos, chefiados por
Manuel da Nóbrega. O corpo sanitário da grande armada compunha-se de apenas um
boticário, Diogo de Castro, com função oficial e com salário. Não havia nesta armada nenhum
físico, denominação de médico na época. O físico-mor, só viria a ser instituído no segundo
governo de Duarte da Costa. Ao todo aproximadamente mil pessoas que se instalaram na
Bahia.

Dentre os irmãos destinados ao sul do país, estava a criatura humilde e doentia de nome José
de Anchieta. Os jesuítas eram mais práticos e previdentes que os donatários e, até do que os
próprios governadores-gerais, e trataram logo de instituir enfermarias e boticas em seus
colégios, colocando um irmão para cuidar dos doentes e outro para preparar remédios. Em
São Paulo o irmão que preparava os remédios era José de Anchieta, por isso podemos
considerá-lo o primeiro boticário de Piratininga.

E o padre relata em suas cartas aos jesuítas: "Em nós outros tem médicos, boticários ou
enfermeiros...

Nossa casa é botica de todos; poucos momentos está quieta a campainha da portaria..."

"... todavia fiz-lhe eu os remédios que pude..."

A princípio os medicamentos vinham do reino já preparados. Mas a pirataria do século XVI e


as dificuldades da navegação impediam com frequência a vinda de navios de Portugal, e era
preciso reservar grandes provisões como acontecia com São Vicente e São Paulo. Por estas
razões os jesuítas terminaram sendo os primeiros boticários da nova terra, e nos seus colégios
ficavam as primeiras boticas onde o povo encontrava drogas e medicamentos vindos da

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metrópole bem como, remédios preparados com plantas medicinais nativas através da
terapêutica dos pajés.

Importantes boticas sob a direção dos jesuítas tiveram a Bahia, Olinda, Recife, Maranhão, Rio
de Janeiro e São Paulo.

"Por muito tempo, diz o padre Serafim Leite, as farmácias da companhia foram as únicas
existentes em algumas cidades. E quando se estabeleceram outras, as dos padres, pela sua
notável experiência e longa tradição, mantiveram a primazia. O colégio do Maranhão possuía
uma farmácia flutuante, a Botica do Mar, bem provida, que abastecia de medicamentos os
lugares da costa, desde o Maranhão até Belém do Pará".

A botica mais importante dos jesuítas foi a da Bahia, sua importância a tornou um centro
distribuidor de medicamentos para as demais boticas dos vários colégios de norte a sul do
país. Para isso, e como a Bahia mantivesse maiores contatos com a metrópole, os padres
conservavam a botica bem sortida e aparelhada para o preparo de medicamentos, iniciando-se
nela, inclusive, o aproveitamento das matérias primas indígenas.

Os jesuítas possuíam um receituário particular, onde se encontravam não só as fórmulas dos


medicamentos como seus processos de preparação. Havia também método de obtenção de
certos produtos químicos, como a pedra infernal (nitrato de prata).

O medicamento extraordinário, no entanto, a penicilina da época, era a Tríaga Brasílica, que


se manipulava mediante fórmula secreta. Essa tríaga, se usava contra a mordedura de animais
peçonhentos, em várias doenças febris, e principalmente como antídoto e contraveneno
("exceto os corrosivos") era considerada tão boa quanto a de Veneza, pois agia pronta e
rapidamente com a vantagem de, em sua composição, entrarem várias drogas nacionais de
comprovada eficiência.

Quando o colégio dos jesuítas da Bahia foi saqueado e sequestrado em julho de 1760, ordem
dada pelo Marques de Pombal, o desembargador incumbido da ação judicial comunicava a
seus superiores, "que tendo ele notícia da existência na Botica do Colégio de algumas receitas
particulares, entre as quais a do antídoto ou "Tríaga Brazílica", havia feito as necessárias
diligências para dele se apossar". Mas a receita não apareceu na Botica, nem em lugar algum
na Bahia. Somente mais tarde foi ela encontrada na Coleção de Várias Receitas, "e segredos
particulares das principais boticas da nossa companhia de Portugal, da Índia, de Macau e do
Brasil, compostas e experimentadas pelos melhores médicos, e boticários mais célebres.
Aumentada com alguns índices, e notícias curiosas e necessárias para a boa direção, e acerto
contra as enfermidades". Roma 1766.

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Outra botica que se assemelhava a dos padres, era a da Misericórdia. De caráter semi público,
tanto servia a seu próprio hospital como a cidade. Frei Vicente de Salvador refere-se também
a existência de uma grande caixa de botica que os holandeses possuíam num forte baiano, e
eram vinte e duas boticas (caixas) da armada luso espanhola.

Já na primeira década do século passado, as boticas da capital baiana, segundo testemunho


de Spix e Martius, estavam "providas copiosamente de específicos ingleses e remédios
milagrosos".

As Boticas Do Brasil

As boticas só foram autorizadas, como comércio, em 1640, a sangria, também foi legalmente
autorizada naquele mesmo ano e, resultou em competição entre os barbeiros e os escravos
sangradores. A partir deste ano as boticas se multiplicaram, de norte a sul, dirigidas por
boticários aprovados em Coimbra pelo físico-mor, ou por seu delegado comissário na capital
do Brasil, Salvador. Estes boticários, que obtinham com a máxima facilidade a sua "carta de
aprovação" eram profissionais empíricos, as vezes analfabetos, possuindo apenas
conhecimento de medicamentos corriqueiros. Por causa de toda essa "facilidade", muitas
vezes lavadores de vidros ou simples ajudantes de botica, requeriam exame perante o físico-
mor ou seu delgado e, uma vez aprovados, o que geralmente acontecia, arvoravam-se em
boticários, estabelecendo-se por conta própria ou associando-se a um capitalista ou
comerciante, normalmente do ramo de secos e molhados, que alimentava a expectativa dos
bons lucros no novo negócio. Em todas as cidades do Brasil, desde os primeiros tempos da
colonização, foi hábito dos comerciantes de secos e molhados, negociarem com drogas e
medicamentos, não só para uso humano como para tratamento dos animais domésticos, aos
cuidados dos alveitares (veterinários). Raras eram as boticas legalmente estabelecidas.

O comércio das drogas e medicamentos era privativo dos boticários, segundo o que estava nas
"Ordenações", conjunto de leis portuguesas que regeram o Brasil durante todo o período
colonial, reformada por D. Manuel e em vigor desde o princípio do século XVI, bem como por
leis e decretos complementares. Foi com base nesta legislação que o físico-mor do reino, por
intermédio de seu comissário de São Paulo, ordenou o cumprimento integral do regimento
baixado em maio de 1744. Com isto intensificou-se a fiscalização do exercício dessa profissão,
pois o regimento proibia terminantemente o comércio ilegal das drogas e medicamentos,
estabelecendo pesadas multas e sequestro dos respectivos estoques. Houve, busca e
apreensões das mercadorias proibidas, que foram depositadas nas boticas locais. Foi um
"Deus nos acuda".

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O Regimento foi feito a partir de uma ordem do Conselho Ultramarino de dois anos antes. A
ordem fora dada ao Dr. Cypriano de Pinna Pestana, físico-mor do reino, para que não desse
comissão a pessoa alguma, que no Brasil servisse por ele, esta comissão só poderia ser dada a
um médico formado pela Universidade de Coimbra, e que mesmo físico-mor faça um novo
regimento da forma em que os seus comissários deveriam proceder nas suas comissões e qual
o salário que deveriam receber. "E que fizesse também um regimento para os Boticários do
dito estado com atenção as distâncias, que ficam as terras litorâneas. Ficando advertido que
tanto os ganhos dos seus comissários como os preços dos medicamentos nunca deveriam
exceder o dobro, dos preços praticados no reino e que feito tal regimento deveria ser remetido
ao Conselho".

Quanto ao exame prestado pelos candidatos a boticários, bem como a inutilização das drogas
eventualmente deterioradas, desde a sua chegada aos portos, e a fiscalização das boticas,
tudo se faria de acordo com o regimento: legalização do profissional responsável; existência
de balança; pesos e medidas; estado de conservação das drogas vegetais, principalmente as
importadas; medicamentos galênicos; produtos químicos; vasilhames e ocasionalmente, a
existência de alguns livros. As inspeções das boticas seriam rigorosas e realizadas a cada três
anos. Este regimento foi considerado modelar para a sua época.

Em completo atraso e carência de preparo, os boticários de Portugal e das colônias


portuguesas, tinham como guia a obsoleta Farmacopeia Ulissiponense Galênica e Química de
Joan Vigier, data de 1716, e em 1735 aparecia a Farmacopeia Tubalense Química Galênica,
teórica e prática, de Manoel Rodrigues Coelho, boticário da corte, que visava ter seu trabalho
autorizado pelo governo, o que não conseguiu.

Em 1772 apareceu a obra de Frei João de Jesus Maria, monge beneditino e boticário do
convento e, finalmente, publicada por ordem de D. Maria I. Em 7 de abril de 1794 foi
mandada adotar a Farmacopeia Geral para o Reino de Portugal e Domínios, de autoria de
Francisco Tavares, professor da Universidade de Coimbra, obra cujos preceitos não era lícito
ao profissional se afastar, mesmo quando o próprio autor a reconheceu insuficiente, sendo por
isso, o mesmo autor, levado a reescrever sua obra.

A cidade de São Paulo em 1765, tinha três boticários, Francisco Coelho Aires, estabelecimento
e moradia na rua Direita, Sebastião Teixeira de Miranda na atual rua Alvares Penteado e José
Antônio de Lacerda na atual Praça da Sé.

A Real Botica de São Paulo, estava instalada onde hoje está o Vale do Anhangabaú, mais
precisamente, onde hoje está o prédio central dos Correios e Telégrafos. O prédio para instalar
esta primeira farmácia oficial da cidade foi construída em 1796 e demolida em 1916.

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No tempo da Real Botica os remédios eram, na sua grande maioria, plantas medicinais, porém
desde 1730 o brasileiro usava o mercúrio e o arsênico importados da Europa.

O ópio, a escamoneia, a rosa, o sene, o manacá e a ipeca já faziam parte dos remédios
necessários para funcionamento de uma botica. Pomadas e linimentos tinham grande
consumo, aliás o produto mais consumido era a pomada alvíssima, além do bálsamo católico,
de Copaíba, e a Água Vienense, que só entrou em desuso no começo deste século.

As Boticas do Rio de Janeiro, no entanto, eram adornadas "com estilo muito mais faustoso que
o comum das casas de comércio, isto é, de muito bom gosto. Em vez de balcão, como se
costumava ter, tinham bem no meio uma espécie de altar, com a frente ornamentada com
pinturas e dourados; o motivo mais comum na pintura era alguma paisagem, um naufrágio ou
um simples ramalhete de flores. Acima, no altar, a balança, os pesos, dois ou três livros
velhos, oráculos, sem dúvida, da arte de curar".

Os utensílios de laboratório, sempre despertou no cliente um olhar respeitador bem como


muita curiosidade. Talvez por suas formas singulares, tão diferente da maioria dos objetos
corriqueiros, talvez por indicarem ao leigo de alguma forma, as transformações que nestes
locais se faziam. Na porta dos laboratórios o aviso "Proibida a Entrada", só entravam o
boticário, vestido com sua bata branca, e os auxiliares, geralmente moços de manga longa. O
freguês ficava à espera da receita, que levava no mínimo uma hora para ser aviada além da
grade de madeira ou de ferro.

Os Estudos De Farmácia

Quando a família real portuguesa ruma para a colônia Brasil, o futuro país não tinha
conseguido fazer chegar as suas terras qualquer dos avanços científicos que a Alemanha,
França e Itália desfrutavam.

O Brasil era a colônia portuguesa esquecida pela rainha D. Maria I, A Louca.

Não havia faculdades, as ciências de uma maneira geral eram privilégio dos que podiam ir
estudar em Lisboa, Paris ou Londres.

Foi depois da vinda da família real, (1803) que o país, ainda colônia, adquiriu o direito de
acompanhar os movimentos culturais e científicos que aconteciam no velho continente a mais
de um século.

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O primeiro passo largo rumo a modernidade foi encabeçado pelo príncipe regente D. João VI,
que admirava os estudos de história natural, bem como o trabalho dos naturalistas.

Em 18 de fevereiro de 1808, instituiu os estudos médicos no Hospital Militar da Bahia, por


sugestão do cirurgião-mor do reino, Dr. José Correia Pincanço, futuro Barão de Goiana, com
ensino de anatomia e cirurgia, porém o ensino de farmácia só se iniciou em 1824.

A intenção de D. João VI era formar médicos e cirurgiões para o exército e marinha, onde
estava a elite econômica da época.

No Rio de Janeiro instituiu o curso de medicina em 1809. Este curso era composto das
cadeiras de Medicina, Química, Matéria Médica e Farmácia. O primeiro livro desta faculdade foi
escrito por José Maria Bontempo, primeiro professor de farmácia do Brasil, e chamava-se
"Compêndios de Matéria Médica" e foi publicado em 1814.

Em 1818 o farmacêutico português instalado no Rio de Janeiro, José Caetano de Barros abriu
o ensino gratuito a médicos, boticários e estudantes no laboratório de sua farmácia, sendo que
as aulas de botânica eram dadas pelo carmelita pernambucano Frei Leandro do Sacramento,
diretor do Jardim Botânico, e professor dessa disciplina na então Escola Médico Cirúrgica. As
aulas de Frei Sacramento eram ministradas no Passeio Público daquela cidade.

Dentre os discípulos de José Caetano de Barros, destacava-se Ezequiel Corrêa dos Santos, que
veio a ser um dos pioneiros da farmácia no Brasil. Seu filho, também farmacêutico, tornou-se
catedrático de farmácia na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro entre 1859 e 1883.

Em 3 de outubro de 1832, foi criada a Faculdade de Medicina, com isso regulou-se o ensino de
farmácia. Um decreto imperial sancionado em 8 de maio de 1835, transformou a Sociedade de
Medicina em Academia Imperial, e nela ficou instituído a seção de farmácia, o que elevou a
classe farmacêutica à hierarquia científica, colocando-a em igualdade aos demais ramos das
ciências médicas.

A consolidação do ensino de farmácia, no entanto, só aconteceu em 1925, quando o curso


passa a ser Faculdade de Farmácia, filiada, como as outras, à Universidade do Rio de Janeiro.

A assembleia legislativa de Minas Gerais, decretou lei sancionada pelo então conselheiro
Bernardo Jacinto da Veiga, em 4 de abril de 1839, criando duas Escolas de Farmácia, uma em
Ouro Preto e outra em São João Del Rei, destinada ao ensino de farmácia e da matéria médica
brasileira.

A cidade do Rio de Janeiro abriu curso de agricultura em 1814, e o laboratório de química


chegou à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1818.

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Os cursos superiores nasceram sob a imposição de necessidades práticas imediatas, por isso
não acompanharam, no decorrer de nossa história, as exigências da sociedade brasileira. Em
virtude do imediatismo, a pesquisa científica foi totalmente negligenciada durante todo o
período do império, vindo a desenvolver-se timidamente no começo do nosso século. Assim,
não é de se estranhar que em 10 anos (1855 -1864) as escolas de medicina das duas
províncias, Bahia e Rio de Janeiro, tivessem apenas 27 estudantes de medicina, por ano, e no
curso de farmácia 5, enquanto o curso de direito tinha 80 alunos.

A Escola de Farmácia de Porto Alegre surgiu em 1896 e a de São Paulo em 1898. Se bem que
a ideia da instituição desta última constituísse, desde algum tempo, cogitação de ilustres
profissionais que integravam a Sociedade Farmacêutica, coube, sem dúvida, ao Dr. Braulio
Gomes, médico de renome e vasto currículo de relações sociais, a vitória na iniciativa que
culminou na fundação da Escola de Farmácia de São Paulo em 12 de outubro de 1898.

Em 1822, São Paulo, não possuía nenhuma faculdade, mas tinha 7 médicos e cirurgiões e
continuava tendo 3 boticários, sendo um deles Ereopagita da Mota, que tinha farmácia na
então rua do Rosário atual 15 de novembro, no coração da cidade. Já o Rio de Janeiro em
1843 tinha 78 farmácias, e em 1893, 210 farmácias e 34 drogarias.

De Boticário a Farmacêutico

Apesar das diversas instituições de ensino de farmácia pelo país no século passado, a
passagem do comércio de botica para farmácia, não foi nada fácil. Afinal o hábito, na cultura
popular, dificulta em muito as mudanças, por mais necessárias que elas sejam.

Assim, até a própria lei que regulamentava o efetivo exercício da profissão persistia em
chamar os farmacêuticos de boticários. O Regimento da Junta de Higiene Pública, aprovado
pelo decreto imperial número 829, de 29 de setembro de 1851, documento que
regulamentava a profissão, fazia menção ao técnico da preparação dos medicamentos através
da palavra "boticário", e não se pense que a expressão dissesse respeito a profissionais sem
diploma, pois o artigo 28 do referido regimento é claro: "os médicos, cirurgiões, boticários,
dentistas e parteiras apresentarão seus diplomas..."

O hábito continuou até surgir o Decreto 2055, de dezembro de 1857, onde ficou estabelecida
a condição para que os farmacêuticos, não habilitados, tivessem licença para continuar a ter
suas boticas. Uma ironia bem própria da cultura brasileira, onde farmacêuticos e boticários,
habilitados ou não, tinham pouca diferença para a média da população bem como para os
legisladores, normalmente leigos em questões de farmácia.

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O boticário dará definitivamente espaço ao farmacêutico depois de 1886. Isto no entanto não
deveria significar que o país e suas faculdades de farmácia não produziriam cientistas de nível
nacional e internacional, como é o caso de Luís Antônio da Costa Matos, que obteve um
princípio antifebril da amêndoa de caju; Joaquim de Almeida Pinto, pernambucano, que
estudou espécies da nossa flora e organizou um dicionário de botânica; Antônio Gonçalves de
Araujo Penna, paulista que se dedicou a farmácia homeopática, dando-lhe grande impulso e
popularidade. Ezequiel Correia dos Santos, fluminense, dedicou-se ao estudo das plantas
medicinais brasileiras, procurando isolar os princípios ativos e obtendo em 1838, a pereirina do
Pau Pereira, com a colaboração dos farmacêuticos Soullié e Dourado.

Joaquim Correia de Mello, paulista, exerceu a profissão em Campinas, onde se popularizou


pelo apelido de "Quinzinho da botica", sua vocação era a botânica. Estudioso e modesto,
aplicou-se profundamente ao estudo da nossa flora, redigindo comunicações e memórias que
foram publicadas nos anais da famosa "Linnean Society", de Londres, da qual era o único
sócio correspondente sul americano. Pedro Baptista de Andrade, mineiro, o "poeta da
química", químico industrial e professor de farmácia; Christovão Buarque de Hollanda, químico
do Laboratório Nacional de Análises e diretor da Farmácia do Estado de São Paulo; José
Frederico de Borba, especializou-se em química toxicológica e bromatológica, tendo sido chefe
do Laboratório do Estado e professor de farmácia. João Florestino Meira de Vasconcellos, foi
professor da Santa Casa, professor de farmácia e escreveu "Elementos de Farmácia", em 2
volumes, São Paulo (1906). A primeira mulher que colou grau de farmacêutico, no período do
império foi Maria Luiza Torrezão de Seurville, nascida em Niterói em 1865, diplomou-se pela
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1888. Foi farmacêutica da Policlínica do Hospital
de São João Batista em Niterói. Sua formatura foi um verdadeiro acontecimento social, pois
aberrava os hábitos da época.

Farmacopeias e remédios do século XIX

Em maio de 1841 aparecia com grande êxito o "Formulário do Dr. Pedro Luís Napoleão
Chernoviz" e, no ano seguinte, o Dicionário de Medicina Popular e das Ciências Acessórias,
contendo a descrição das doenças, sintomas e tratamentos, as receitas para cada doença; as
plantas medicinais, as alimentícias, as águas minerais do Brasil, Portugal e de outros países.
Esta obra tornou-se popular para o efetivo exercício da farmácia durante todo o século
passado, e era aceita como, bibliografia de base para a reformulação da Farmacopeia
Brasileira de Rodolpho Albino, em 1947. Foram sucessivas seis edições do Formulário,
chegando a 1908; em 2 volumes de cerca de 1500 páginas cada um.

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Em 1900 o Dr. M.H.Lacronix, de Paris a remodelou, de acordo ao Codex, Farmacopeia


Francesa, sem deixar de transcrever também as fórmulas da Farmacopeia Lusitana.

Reformulado, o formulário do Dr. Chernoviz, passou a ter descrição dos medicamentos, as


doses, e as doenças em que eram usadas.

Foi através das informações deste formulário que muitas das farmácias brasileiras do século
passado e começo deste século, produziram seus remédios, afinal o estudante de farmácia
tinha de decorar as formulações que estavam no Formulário do Dr. Chernoviz, para poder
exercer a sua profissão.

Outra razão para o sucesso deste formulário está na forma didática das suas muitas
descrições. Assim, para que o leitor saiba, um pouco mais sobre a farmácia do passado
transcrevemos algumas citações do formulário do Dr. Chernoviz:

• “Arte de Formular: É aquela parte da ciência médica que prescreve as regras para a
preparação e administração dos medicamentos.

• Medicamento: É toda substância empregada pela medicina para restabelecer a saúde.


Os medicamentos são oficinais, aqueles que devem achar-se prontos nas farmácias
como xaropes, vinhos, extratos, tinturas, conservas, emplastos, unguentos etc.
Magistrais ou extemporâneos, são aqueles que são preparados segundo fórmulas de
cada médico; podem ser: porções, cozimentos, emulsões, pílulas, colírios, linimentos,
cataplasmas etc.

• A teoria na prática do balcão: A farmácia no Brasil teve de vencer muitos obstáculos


para se firmar enquanto profissão. Não era só o número de alunos reduzido nas
faculdades, mas também a concorrência profissional dos químicos, botânicos, médicos,
curandeiros, benzedeiras, comerciantes de secos e molhados e principalmente da pouca
ou nenhuma escolaridade da grande maioria da população por vários séculos. Aliado a
isso a necessidade de desenvolvimento científico nunca fez parte da cultura nativa. Foi
uma luta composta por diversas batalhas para que a profissão de farmacêutico
ganhasse o direito a exclusividade na produção e manipulação de medicamentos. O
mercado de trabalho era pequeno e normalmente vinculado aos hospitais militares ou
as Santas Casas. Para que a indústria farmacêutica se estabelecesse, foi outra batalha
contra a ignorância dos políticos da época sobre o exercício da profissão, e a
concorrência desigual dos produtos importados, nem sempre de boa qualidade, além da
falta de confiança na capacidade profissional e científica dos profissionais brasileiros. É
certo que o farmacêutico do século passado e boa parte deste século tinha tempo para
exercer outras funções sociais importantes como juiz de paz, vereador, prefeito,

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deputado, senador, etc., sem deixar de atender no seu estabelecimento, afinal o mais
importante era formular o remédio, e isso acontecia uma vez ao dia, as vezes de dois
em dois dias. As vezes também, acontecia de ter de formular a noite, dependendo do
caso era acordado altas horas da madrugada por causa de uma dor de dente ou de
uma febre. Em algumas cidades exercia também a função de médico, já que
determinava a doença e receitava o remédio. Aliás era mais fácil que os habitantes do
interior fossem a farmácia do que ao médico. Quando o farmacêutico formulava tinha
de anotar no livro de farmácia o nome do paciente, a prescrição, a data e o nome do
médico. O investimento para exercer a sua profissão também não era pouco, afinal
precisava de um número bastante respeitável em medicamentos simples e composto,
para efetivamente exercer a sua profissão. Não havia necessidade de grandes
maquinismos, mas o indispensável, não era barato. Balança, vidros, termômetro, conta
gotas, prensa, filtros, cápsula, cadinho, cortador de raiz, almofariz, mão de almofariz,
caçarola, tacho, terrina, espátula, seringa, apertador de rolha entre tantos outros.

A Farmacopeia Brasileira

A Sociedade de Medicina fundada em 30 de junho de 1829 ocupava-se com a precisa


codificação da farmácia, e o presidente Dr. Otáviano da Rosa mostrava a necessidade de
organizar uma farmacopeia, desejo de todos os farmacêuticos que só se concretizou, (1926),
com o trabalho de Rodolfo Albino Dias da Silva.

O problema da falta da farmacopeia, no entanto, ficou em foco durante todo o século


passado.

Sempre adiada, a codificação não se fazia, porém parcialmente se produzia, e mesmo


oficialmente redigiam-se formulários para vários serviços. Assim, em 1837, apresentava-se
candidato a Academia Agostinho Albano da Silveira Pinto com o código farmacêutico lusitano,
que organizara, propondo que este fosse adotado no Brasil. Apesar da opinião favorável da
academia, a adoção, do código português não se fez oficial, porém era usado pelos
farmacêuticos das cidades, e com isso se acentuou a necessidade de organizar o nosso.

Em maio de 1841 aparecia com grande êxito o "Formulário do Dr. Pedro Luís Napoleão
Chernoviz” e no ano seguinte, o “Dicionário de Medicina Popular e das Ciências Acessórias”,
contendo a descrição das doenças, sintomas e tratamento, as receitas para cada moléstia; as
plantas medicinais e as alimentícias; as águas minerais do Brasil, Portugal e de outros países e
muitos outros conhecimentos úteis. Esta obra tornou-se popularíssima no seu tempo, foram

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sucessivas seis edições do Formulário, chegando a 2 volumes de cerca de 1500 páginas cada
um.

Em 1908 o Dr. M.H.Lacronix, de Paris a remodelou, o formulário do Dr Chernoviz em


conformidade com o Codex sancionado pelo governo francês naquele mesmo ano.

Reformulado, o formulário passou a ter descrição dos medicamentos, as doses, as doenças em


que são empregados; compêndio alfabético das águas minerais; mapas especiais das várias
estâncias; relação das melhores fórmulas; memorial terapêutico, em harmonia com as
modernas ideias e progressos mais recentes da medicina, com tratamento de todas as
doenças, em especial das doenças de países tropicais; a profilaxia das doenças contagiosas, o
diagnóstico e o modo de debelar as de ordem médica e cirúrgica. Formulário completo e
interessante resenha das últimas novidades científicas, enriquecido com vocabulário
português-francês. Depois de toda esta reforma o formulário do Dr. Chernoviz tornou-se na
verdade um guia médico.

Desde 1851 ficou estabelecido que o preparo dos medicamentos oficinais seguiria a
Farmacopeia Francesa até que se organizasse a brasileira, e para tanto o governo nomearia
uma comissão, e de fato nomeou, porém como tantas outras esta comissão nada fez.

Outras obras pretenderam ter igual função a do Dr. Chernoviz e são elas: O Formulário Médico
de Theodoro J. H. Langgaard e mais o do Dr. José Ricardo Pires de Almeida, compilação de
cerca de 6 mil fórmulas visando ser oficializado. Para uso limitado nos seus diversos
departamentos, organizaram-se sucessivamente formulários para o Hospital Militar da Côrte,
hospitais e enfermarias do exército e marinha, para a Santa Casa de Misericórdia etc.;
entretanto, o exercício da profissão no país continuava sem a tão reclamada Farmacopeia
Brasileira.

A única comissão instalada para este fim, fazer a farmacopeia, que funcionou foi a comissão
executiva formada no Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia de São Paulo realizada em
1906 que organizou a Farmacopeia Paulista, cujo trabalho levou 9 anos para a sua elaboração
e foi apresentada no Congresso Médico Paulista em 1916 e oficializado neste estado em maio
de 1917 e aceita como tal nos outros estados da união. Esta obra foi a antecessora da
Farmacopeia Brasileira de 1926.

A Farmacopeia de Rodolpho Albino

Rodolpho Albino Dias da Silva, fluminense, químico do Laboratório Nacional de Análise e


professor de farmácia, trabalhou intensamente por mais de 10 anos para concluir o Código

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Farmacêutico Brasileiro. Ao concluí-lo, o pouco conhecido, Rodolpho Albino Dias da Silva, em


1924, pôde apresentar seu projeto de farmacopeia brasileira ao Dr. Carlos Chagas, Diretor
Geral do Departamento Nacional de Saúde Pública. Para julgar o trabalho apresentado, o Dr.
Chagas nomeou uma comissão constituída pelos professores doutores Antônio Pacheco Leão,
Renato de Souza Lopes e Antidônio Pamplona e os farmacêuticos, Alfredo da Silva Moreira,
José Malhado Filho e Isaac Wernewck da Silva Santos. Após exame minucioso da obra, essa
comissão resolveu aceitá-la solicitando ao governo a sua oficialização, como Código Nacional
Farmacêutico, com a supressão, porém de certos artigos por eles considerados de uso restrito
para serem oficializados, os quais vem enumerados no prefácio da primeira edição da
Farmacopeia Brasileira.

Em 4 de novembro de 1926, pelo Decreto 17.509, assinado pelo presidente da república, Dr.
Arthur Bernardes, e pelo ministro do Interior e da Justiça, Dr. Affonso Penna Jr., nos termos
do artigo 252 do Decreto16.300, de 31 de dezembro de 1923, foi aprovada e adotada como
Código Farmacêutico Brasileiro a farmacopeia brasileira, elaborada por Rodolpho Albino Dias
da Silva, com as emendas da comissão revisora. O código entraria em vigor em 60 dias,
depois da publicação da primeira edição oficial, ficando sua execução a cargo do
Departamento Nacional de Saúde Pública.

Afinal, depois de mais de cem anos de luta, tinha o Brasil sua farmacopeia, obra de um só
homem, que no julgamento de eminentes farmacólogos do mundo, um dos mais adiantados e
atualizados códigos farmacêuticos do seu tempo.

Não é exagero chamar esta primeira farmacopeia brasileira de "Farmacopeia Verde", já que é
a única com 183 espécies de plantas medicinais brasileiras, com descrições macro e
microscópicas das drogas, o que lhe reservou vanguarda absoluta comparada com outras
farmacopeias da mesma época.

Quatro fórmulas para se preparar extratos fluídos das plantas e, tantas outras informações
essenciais para os farmacêuticos de ontem e de hoje. Mas como tantos outros trabalhos
científicos formulados por brasileiros, teve vida útil curta.

A descoberta da penicilina, como substituto mais do que satisfatório das quinas, bem como o
desenvolvimento da indústria farmacêutica de remédios feitos a base de petróleo exigiu a
revisão da farmacopeia brasileira, iniciada em 1936. Formou-se uma comissão de
farmacêuticos para que a atualização resultasse em transformação dos princípios que até
então norteavam o exercício da farmácia no país. Esta primeira comissão formada inclusive
pelo químico farmacêutico de tradição fitoterápica, Waldemar Peckolt, foi dissolvida em 1943,
exatamente por causa do corte substancial no número de plantas medicinais brasileiras que
existia na primeira farmacopeia.

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Segundo a opinião dos profissionais de vanguarda da época as " mudanças tecnológicas e


químicas, exigiam mudanças radicais na farmácia brasileira, restando pouco espaço aos
medicamentos tradicionais”.

Forma-se a segunda comissão que estabelece através da Portaria número 52 de março de


1945 a seguinte bibliografia para a produção de produtos oficinais, "para que possam ser
fabricados de conformidade com as normas estabelecidas nas farmacopeias estrangeiras ou
nos formulários que seguem abaixo:

• Dorvault - "L'Officine" ou "Répertoire Général de Pharmacie Pratique".

• Chernoviz - "Formulário e Guia Médico".

• Medicamenta - "Guia Teórico-Prático para farmacêuticos, médicos e veterinários"-


Cooperativa Farmacêutica de Milão.

• "Nuevo Recetario de Farmácia" – Dieterich.

• “Formulário Oficinal Magistral" - Pires de Almeida

Farmacopeias, Americana e Inglesa

A Farmacopeia Brasileira se descaracterizou, após o corte substancial das plantas medicinais


nativas. A razão da formação de uma segunda comissão para a revisão tinha por objetivo a
retirada da "nova farmacopeia" da maioria das plantas medicinais brasileiras. Tanto assim, que
os revisores da segunda comissão se propunham a fazer uma farmacopeia de fitoterápicos
após o término da revisão da Farmacopeia Brasileira. A presença de plantas medicinais na
segunda edição "ampliada e atualizada" é insignificante. O que restou da identidade do
remédio brasileiro, plantas medicinais, tinturas, extrato fluído, unguentos, formulações, foi e é
insignificante.

Levamos mais de 100 anos para ter uma Farmacopeia Brasileira, a de Rodolpho Albino, porém
levamos apenas 20 anos para destruir a pouca identidade cultural que este farmacêutico nos
deixou.

Nos dias de hoje já não se justifica mais a inclusão de nossas plantas na Farmacopeia
Brasileira, mas é urgente que se faça uma Farmacopeia Brasileira de Produtos Fitoterápicos,
até porque o PSF, Programa de Saúde da Família/MS e a crônica pobreza de muitos estados

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denuncia a necessidade de se colocar técnica e responsabilidade na formulação dos únicos


medicamentos efetivamente brasileiros.

A Primeira Indústria Farmacêutica

Luís Felipe Freire de Aguiar foi o proprietário da primeira indústria farmacêutica do Brasil.
Ocupou, também, a cadeira de nº 20 da Academia Nacional de Farmácia. Realizou o curso de
farmácia em 1869 na Faculdade Nacional de Medicina no Rio de Janeiro, formando-se em
1871.

Durante o período de estudos, serviu no Hospital da Marinha como auxiliar de laboratório,


passando depois a ocupar o lugar de segundo farmacêutico. Em 1874, constituiu sua farmácia
no antigo Largo de Santa Rita associando-se a Farmácia Episcopal, onde começou a trabalhar
em prol da farmácia brasileira. Em 1877 tornou-se proprietário da Farmácia Episcopal.

Casou-se em 1876 com Dona Rita Lessa Godói, filha do Desembargador Antônio Thomáz
Godói e neta do Barão de Diamantina. Tiveram 04 filhos: Tíndaro Godói Freire de Aguiar,
Abelardo Freire de Aguiar (farmacêutico), Astrogildo Freire de Aguiar e Luiza Freire de Aguiar.

Luís Felipe Freire de Aguiar, vendeu a Farmácia Episcopal para montar um laboratório para
produzir remédios e perfumaria devido à vontade de se dedicar exclusivamente a manipulação
de alguns preparados especiais de sua composição, que começavam a ganhar confiança da
população.

O grande inimigo do aproveitamento das plantas medicinais brasileiras, eram os remédios


importados e o preconceito dos governantes e da população quanto a sua qualidade e a
eficiência. Como ainda hoje, "o que é importado é melhor".

De início, Luís Freire de Aguiar teve de sustentar uma disputa judicial com uma fábrica de
produtos medicinais, estrangeira, pois manipulava um produto de fórmula conhecida, e com o
nome comercial de "Água Inglesa". No Brasil a distribuição deste remédio era realizado pela
poderosa "Sociedade União dos Fabricantes Franceses"

A Água Inglesa ou da Inglaterra, era um vinho de quina, muito usada como tônico e
antiespasmódico. Até 1888 este produto no Brasil era considerado um segredo da família de
André Lopes Castro, português, porém sua fórmula já fora escrita na Farmacopeia Tubalense,
editada em 1760.

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Freire de Aguiar estudou vários vegetais da nossa flora, e conseguiu elaborar uma fórmula
mais honesta e cientificamente perfeita e obteve a aprovação da sua Água Inglesa modificada.
Para que o farmacêutico brasileiro conseguisse comercializar o seu produto precisou de uma
autorização da Inspetoria de Higiene, responsável pela qualidade dos medicamentos
comercializados no país. Em 20 de outubro de 1888 a Inspetoria Geral de Higiene, expediu
uma circular aos seus inspetores de higiene provinciais e aos droguistas declarando: "Que a
Água Inglesa julgada por esta Inspetoria como a mais adequada a índole dos formulários
brasileiros, é a do farmacêutico Freire de Aguiar." Foi o que bastou para que a distribuidora
francesa reagisse.

A Sociedade União de Fabricantes Franceses, julgou-se prejudicada em seus interesses no


Brasil, e entrou com processo judicial no foro de Ouro Preto contra Freire de Aguiar. Freire de
Aguiar, sem nenhum auxílio, teve que arcar com todas as despesas dos processos,
conseguindo triunfar, sempre até em última instância. Teve muitos dissabores, por não querer
ceder um só milímetro de seu direito, tal era a convicção que tinha do serviço que prestava a
sua profissão.

Depois de vencer todas as batalhas pela sua "Água Inglesa modificada", voltou ao Rio de
Janeiro e fundou um outro laboratório na rua General Câmara, mais tarde mudou seu
estabelecimento para a rua Conde de Bomfim. Neste novo estabelecimento cedeu ao
insistente convite do seu colega e amigo farmacêutico Paulo Barreto e organizou, em 1890 a
"Companhia Química Industrial da Flora Brasileira", da qual ficou apenas com o cargo de
técnico.

Em pouco tempo, dois anos, Freire de Aguiar viu o seu bem montado estabelecimento pedir
falência. Nesta época sua indústria já tinha cem produtos, sendo muitos da flora nacional e
outros de matéria prima estrangeira.

Numa série de artigos publicados em jornais no Rio de Janeiro, moveu honesta campanha
contra produtos falsificados, nacionais e estrangeiros. Tinha por hábito exibir farta
documentação provando suas afirmações.

Todos os seus produtos, entre os quais Água Inglesa, Xarope de Rabano Iodado, Elixir
Alimentício, Magnésia Fluida, entre outros, tinham ótimo conceito na classe médica e o Elixir
de Jurubeba, mereceu do Dr. Domingos Freire, um parecer honroso, pois conseguiu
regularizar de modo científico a preparação de jurubeba que sempre tinha irregularidade no
preparo.

No governo de Prudente de Morais, sendo Ministro da Fazenda, Bernardino de Campos,


(1897), Freire de Aguiar manifestou-se franca e positivamente, pedindo proteção para a

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indústria farmacêutica nacional, que nesta época estava longe de ter um número grande de
estabelecimentos, evitando a importação de remédios, que podiam ser produzidos no país com
todas as garantias de qualidade.

A Fábrica de Produtos de Hulha

Em 17 de outubro de 1903, com grande alarde social, Freire de Aguiar, inaugurou na rua
Senador Euzébio a sua fábrica de produtos extraídos da hulha.

Nesta ocasião o Dr. Luís Felipe não deixou por menos e realizou a vista dos presentes uma
experiência interessante: Em um tubo de vidro, de 15 litros, colocou algumas larvas de
mosquitos, derramou algumas gotas do produto de sua fabricação o Phenogeno.
Imediatamente as larvas morreram, ficando provado a grande importância do produto na
desinfecção de águas estagnadas e depósitos de água, onde se desenvolvem as larvas dos
mosquitos, que transmitem doenças como a febre amarela.

Os desinfetantes obtidos da destilação de hulha, muito auxiliaram no combate a várias


epidemias, principalmente a do Maranhão, em que o Phenogeno, cujo preço era inferior ao
fenol, auxiliou a debelar o surto de peste bubônica.

Freire de Aguiar inventou e patenteou um aparelho a que denominou de "Simplex", para ser
adaptado as caixas de descarga dos vasos sanitários, lançando em cada descarga a dose exata
de desinfetante. Também planejou e executou dispositivos para a desinfecção de banheiros
públicos e carroças de lixo. Nem com todos estes benefícios sociais viabilizados pelos seus
produtos, deixou o Dr. Luís Felipe de ter mais uma questão judicial, e desta vez com o inglês,
Ed William Person com relação a marca da Creolina, pois o autor da "Creolina Pearson",
entendia que nenhum outro fabricante poderia usar o referido nome que o industrial britânico
havia patenteado.

Freire de Aguiar teve que provar que o nome "Creolina" era genérico, encontrando-se em
diferentes formulários e o supremo tribunal brasileiro, determinou que a Creolina brasileira
poderia se chamar "Creolina Freire de Aguiar", ficando proibido aos demais fabricantes
nacionais o uso deste.

Freire de Aguiar fez tudo o que pode para tornar útil as numerosas substâncias da flora
nacional, inclusive classificando vários vegetais.

Em 1888 o Barão de Ibituruna, agradeceu publicamente os relevantes serviços prestados por


Freire de Aguiar a Inspetoria Geral de Higiene, pelas análises e correspondente parecer

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técnico, sobre os vinhos portugueses com vestígios de ácido salicílico. Estas análises foram
feitas no Laboratório da Faculdade de Medicina, em presença de professores e alunos.

A primeira Magnésia fluida fabricada no Brasil foi de autoria de Freire de Aguiar, ao tempo em
que a única existente no mercado era a de Dinnefori, francesa.

Suas incansáveis campanhas contra produtos estrangeiros, provocou severa fiscalização das
autoridades sanitárias, e isso fez com que muitas destas fábricas se instalassem no Brasil.
Entre estas a fabricante da Magnésia Fluida de Murray.

A indústria farmacêutica de Freire de Aguiar foi uma das primeiras a se interessar em fabricar
extratos fluidos, principalmente de plantas nacionais, sendo que usava com êxito comprovado
suas especialidades, que se constituíam de remédios feitos com plantas da nossa flora.

O Laboratório Farmacêutico e Industrial Freire de Aguiar produzia no começo do século XX:

• Remédios: Água Inglesa (adotada na terapêutica brasileira), Alimentose (pó de carne


assimilável), Cognax creosotado, Elixir alimentício (adotado na Santa Casa de
Misericórdia), Elixir de Catuaba e Marapuama, Elixir tônico hepático esgotado, Elixir de
Jurubeba (simples ou ferruginoso), Elixir antiascítico, Essência depurativa (Salsa
Creosoto), Gotas nervinas, Licor de Cacau e Noz de Cola, Licor de Cacau com
hipofosfitos de cálcio, Magnésia fluida, Fenol sódico, Solução ácida de fosfatos
(sucedâneo do de Horsford), Solução de fosfato de cálcio (similar ao de Coirre), Solução
de fosfato de cálcio creosotada, com bálsamo de tolú (similar ao de Pautauberge),
Vermífugo, Vinho de Quínio, Vinho de Jurubeba simples ou ferruginoso, Vinho tônico
reconstituinte (lato fosfato de cálcio, quina e carne), Vinho iodo-tânico fosfatado, Vinho
de quina e cola fosfatado, Vinho de cacau e cola, Xarope de Serpol contra a
coqueluche, Xarope peitoral balsâmico, Xarope de rabano iodado, Elixir de cipó
azougue, Biogenol.

• Licores naturais: Cacau (creme fino), Caroços de pêssegos, Laranja Cravo, Cerejas do
Rio Grande, Anizette superfino, Genipapo do Norte, Kúmmel Brasileiro.

• Perfumaria: Água de colônia, Água Florida, Água de Quina para cabelo, Pasta
dentifrícia, Eucalipticina (água dentifrícia), Sabonete medicinais.

• Fábrica de Desinfetantes e Produtos Químicos derivados da Hulha: Creolina,


Sanatol, Phenogeno, Antracina, Antiparasitário, Anti-culex, Aphytosil (para peste
aftosa), Bernicida (para bernes e carrapatos do gado).

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Os produtos acima relacionados, são apenas os mais vendidos no período em que o Dr. Freire
de Aguiar era o diretor técnico da indústria.

Em 1918, faleceu na cidade do Rio de Janeiro, Dona Rita de Cássia Godói, mulher de Freire de
Aguiar. Dois anos depois e como filho, Abelardo Freire de Aguiar, farmacêutico, assumiu suas
funções frente a indústria. Freire de Aguiar, comprou uma farmácia em Barbacena e se mudou
para a cidade mineira. Em Minas Gerais, exerceu suas funções de farmacêutico até morrer.

Os esforços do Dr. Luís Felipe Freire de Aguiar, para que a industrial farmacêutica nacional
florescesse não foram de todo em vão, pois nos primeiros vinte anos do século XX a cidade do
Rio de Janeiro tinha 512 farmácias, 143 drogarias, 100 laboratórios e depósitos e 47
ervanárias.

As primeiras indústrias foram: Granado & Cia, Silva Araujo, Giffoni, Werneck, Orlando Rangel,
Laboratório do Xarope de Honório Prado, Laboratório Dauat & Lugonfla. No entanto, foi após a
primeira guerra que surgiu a grande maioria das indústrias: Laboratório Oliveira Junior,
Laboratório da Flora Medicinal, Laboratório Famel, Laboratório Moura Brasil, Frederico Brandão
Nuña, Laboratório Frederico Bayer, Silva Litrato Júnio, Francisco de Albuquerque, Laboratório
Orlando Rangel, Laboratório Heinzelman, Laboratório Phymatosan, Instituto Freuder, Pílulas de
Foster, Laboratório Hugo Molinari, Canabarro & Cia, Instituto Bioquímico proença, Lago & Cia,
Fábrica de Produtos Schering, Ecott Brown, Matricária Dutra.

Os laboratórios de produtos fitoterápicos viveram seu melhor período produtivo nos primeiros
30 anos deste século, apesar das rápidas mudanças pelas quais passava o mundo da farmácia
e dos remédios, pois naquela época havia apenas 44 laboratórios estrangeiros contra 452
nacionais. Sendo que o país contava com apenas 2.954 farmacêuticos formados.

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Produto Fabricante Data Indicação

Água Inglesa Lab. Catarinense 1888 tonificante

Smith Kline
Pílulas de Vida Dr.Ross 1898 laxante
Beecham

Staphylase do Dr.
Lab. Primá 1900 complex. vitamínico
Doyen

Polvilho Granado Casa Granado 1903 antisséptico

Citrosodine Lab. Primá 1906 antiácido

Smith Kline
Emulsão Scott 1907 complem..alimentar
Beecham

Pomada Minancora Minancora 1914 anticéptico

Elixir Galenogal Lab. Galenogal 1914 depurativo

Biotônico Fontoura D.M.Farmacêutica 1915 tonificante

Elixir de Vida Olinda Lab. Wesp 1916 digestivo

A História da Farmacognosia Brasileira

Farmacognosia foi um termo criado por Seydler em 1815, para designar uma nova ciência cujo
objetivo principal era sistematizar o estudo dos remédios. Para registar e ensinar esta
novidade, Seydler publicou em 1832 um livro intitulado "Grundriss der Pharmakognisie de
Pflanzenreich". Afinal já se iam três séculos e inúmeros remédios novos, plantas, animais e
minerais, passaram a fazer parte das alternativas de cura do mercado consumidor europeu.

A palavra grega Pharmakon, significa substância medicinal, planta curativa ou veneno e


Gnosis, conhecimento, assim esta palavra passou a ser usada por Guibourt, professor da
Faculdade de Farmácia de Paris para designar uma disciplina do curso de Farmácia, que
deveria estudar os remédios a partir das drogas simples.

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A farmacognosia exigia um fichamento da planta que se compunha de:

• Nome vulgar da droga;

• Sinonímia e etimologia;

• Nome vulgar da planta que produz;

• Classificação sistemática da planta produtora;

• Descrição da planta produtora;

• Origem e produção da mesma;

• Cultura da planta medicinal, danificadores das culturas;

• Obtenção da droga; colheita e tratamento;

• Mercados; variedades comerciais, embalagens;

Descrição da droga, compreendendo:

a. descrição e morfologia externa;

b. descrição e morfologia interna (histologia)

c. Composição química;

d. Classificação farmaco-química; posição no sistema farmaco-química;

e. Cheiro e sabor;

Impurezas e falsificações. Sucedâneos; animais danificadores das drogas (eventual); qualidade


e avaliação do preço; histórico e usos.

O Brasil Império não ensinava esta sistemática para a formulação dos remédios, e desconhecia
suas riquezas naturais.

E, foi assim, através do trabalho de Theodoro Peckolt que começou a história da


farmacognosia no Brasil.

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Em novembro de 1851, Theodoro Peckolt abriu uma farmácia em Cantagalo na Serra dos
Órgãos, Rio de Janeiro. Pesquisou durante 10 anos para apresentar sua primeira obra na
Exposição Nacional em 1861. "Catálogo Explicativo da Coleção de Pharmacognosia e Química
Orgânica Enviada a Exposição Nacional de 1861" são os primeiros resultados de suas
pesquisas que vem a público. Escreve o autor:

"Tudo que minha coleção contém é feito por mim e não há nenhum produto estranho. As
diversas análises executadas por mim acham-se publicadas, em parte, no Archivo de
Pharmácia da Allemanha do Norte. Reparti a minha coleção em séries seguindo mais ou
menos o sistema Pharmacognostico: 1º série: As drogas simples, vegetais, raízes e
sementes; 2º série: as Painas; 3º série: Os amidos (Amylaceas); 4º série: As resinas,
gomas e tintas; 5º série: Os Óleos expressos". Do total de 140 substâncias de origem
vegetal e animal comunicadas por Peckolt, 66 eram óleos essenciais, 16 resinas, 4 ácidos,
e o restante, extratos, resinas e amidos."

A organização farmacognostica deste primeiro momento o acompanha pelos seus 65 anos de


trabalho. Ao analisarmos o todo de suas obras observamos que a qualidade e quantidade das
informações das espécies colhidas neste primeiro momento o acompanham durante toda a sua
existência. Sua principal preocupação foi ensinar ao povo brasileiro a importância da sua flora
e fauna, absolutamente desconhecida e desprestigiada.

Algumas descobertas importantes feitas por Theodoro Peckolt:

• Zabucaia (em tupi), ninho de ovos; Çapucaio, Jaçapucaio.

• Locythis urnigera, Mart.

• Lecythideas

Estes frutos que apodrecem aos milhares nas matas, sem proveito para ninguém, poderiam
utilizar-se o extrato aquoso. Eles contém 13,6% de tanino. Este tanino nas suas reações
químicas pouco se distingue do das Galhas e deu-lhe o nome de Ácido lecythistanico.

O mesmo fruto continha a qual foi chamada de ácido gálico, sais inorgânicos e 6% de uma
substância cristalizável, que nas suas reações se assemelhava a cafeína.

Peckolt foi sempre muito singular em seu trabalho quando comparado a outros farmacêuticos
brasileiros do mesmo século. Seus estudos eram sempre pautados pelos moldes da
farmacognosia europeia. Quase nunca se restringia a analisar quimicamente apenas a parte da
planta usada pelo povo. No correr de sua vida são mais de seis mil vegetais da flora brasileira

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analisadas quimicamente, descritas botanicamente e registradas minuciosamente o uso


popular e as indicações farmacológicas.

Na sua obra há análises curiosas como a análise de fungos das florestas como o Tabaco de
Judeu, Espiga de Sangue e o Fel da Terra, escreve o autor em 1868 sobre estes assuntos: Dos
três o que realmente foi pesquisado por mais tempo foi o Fel da Terra.

FEL DA TERRA

Nome científico: Lophophytum mirabile, Schott e Endl.

Família: Balanophoreae Lophophyteae

Sinonímia científica: Archimedea pyramidalis, Leandro

Nome popular: Batata de escamas, Boa noite, Espiga da terra, Pinha de raiz, Urupitim,
Sanchim.

Habitat: Habita quase todos os estados do Brasil em especial Santa Catarina, Maranhão e Rio
de Janeiro.

Descrição da planta: É planta parasita que vegeta sobre as raízes das árvores, em lugar
sombrio e úmido, de preferência sobre as leguminosas.

De seu rizoma hipogeo saem os espiques florais oblongos, cônicos, de 10-17cm de altura
sobre 4-8cm de grossura, cobertos quando novos de escamas pardacentas e depois de flores
monóicas; afilas, assemelhando-se a uma longa espiga de milho privada de palha, tendo na
parte inferior as flores femininas reunidas em capítulos globosos, de 4-6mm de diâmetro, de
cor amarelo claro, levemente pardacentas sobre o centro; fruto é um cariopse.

Os rizomas tuberosos atingem desde o tamanho de uma laranja até o de uma melancia, sendo
estes últimos mais raros. São de conformação irregular, em geral oblonga, arredondada,
achatados de um lado, de cor parda e cobertos de numerosas excrescências verrugosas; a sua
casca tem 4-5mm de grossura. A parte interna deste rizoma é carnosa, de cor pardacenta
listada de vermelho; o seu sabor é desagradável, adstringente, o seu aroma é sui generis.

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Análise 1000gamas da batata Análise 1000gramas da batata


fresca/1868 fresca/1888

Substância Gramas Substância Gramas

Água 496,860 Água 490,860

Amido 45,570 Óleo pingue 2,560

Celulose e mat lenhosa 228,860 Amido 45,570

Lophophytina 0,060 Lophophytina cristalisada 0,060

Mat. corante resinosa de cor


58,580 Lophophyt-fungina 2,930
vermelha

Mat. extr. amarga sacarina 2,390 Picro-lophophytina 1,140

Mat. Extrativa azotica c/ cheiro


2,930 Ácido lophophyt-tanico 1,520
de cogumelo

Mat. pectinosa 14,100 Ácido resinoso 44,000

Mucilagem, dextrina e sais


144,510 Glicose 2,390
inorgânicos

Óleo c/ cheiro de cogumelo 2,560 Subst. Albuminoides 6,920

Stryphino (clorofila*) 1,520 Mat. corante vermelha 14,580

Subt. Gomosa, mucilagem,


Subst. albuminosas 6,920 158,510
pectina e sais inorgânicos

É interessante observar que quase todas as plantas desta época tinham sinonímia botânica e a
sinonímia popular era abundante, e Peckolt comenta que o nome popular das plantas mudava
quase que de um município para o outro, o que tornava quase impossível saber se era mesmo
aquela planta apenas pelo nome popular.

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A origem e a produção das plantas era quase sempre extração, o cultivo de plantas medicinais
ainda hoje carece de desenvolvimento. Por isso não restou uma alternativa a Peckolt a não ser
pesquisar plantas cultivadas, e porque tinha o objetivo de ensinar a importância da flora nativa
ao povo e por isso escreveu Plantas Alimentares e de Gozo do Brasil que teve seu primeiro
volume publicado em 1871.

Sistematizar, agrupar, organizar, sempre foram princípios intrínsecos na farmacognosia. Na


Europa ou no Brasil a ordem alfabética do nome científico das plantas, ou dos princípios ativos
encontrados em determinados grupos de plantas era o que fazia valer os seus preceitos
básicos da nova ciência. Assim, nada mais justo do que escolher esta ordem para ampliar seus
estudos sobre a flora brasileira. Antes, no entanto, faz anotações importantes sobre a
geografia, a topografia, a geologia, hidrografia, clima e solo dos estados brasileiros. É dele
também as primeiras análises químicas do solo brasileiro.

Peckolt considera o homem como o agente mais perigoso no grupo dos modificadores dos
terrenos. "Estimulado pela ambição de obter ricas colheitas pelo menor esforço possível, o
homem derruba e queima os matos; o terreno estrumado pelas cinzas produz
abundantemente por alguns anos; mas pouco a pouco o vigor da vegetação vai diminuindo, e
as plantas, cada vez mais fracas, acabam por sucumbir aos insetos ou a vegetação parasítica.
O homem então vai destruir outro pedaço de mato virgem e os mesmos fenômenos se
repetem". Peckolt já previa o movimento que vivemos hoje na área rural de tentativa
constante de recuperar o solo já a muito destruído, e escreve: "Tempo virá sem dúvida em
que a influência humana se fará sentir nestes mesmos terrenos em sentido inverso: a
destruição dos matos será seguida por outra geração que, forçada pelas circunstâncias,
procurará restabelecer pela cal, o gesso, ou por outros meios químicos, a força antiga dos
terrenos esgotados".

A Farmacognosia No Século XX

Todo o trabalho de Peckolt valeu-lhe longos anos de prestígio e respeito técnico, porém isto
não fez com que a farmacognosia se popularizasse ou ao menos se tornasse matéria
obrigatória nas universidades brasileiras. Foram necessários longos 20 anos de debates
acadêmicos para que na reforma do ensino superior promovida pelo Ministro da Educação,
Rocha Vaz, 1925, a matéria passasse a ser de ensino obrigatório nas universidades. Isto, no
entanto, não trouxe da noite para o dia, ao leve movimento de um punho e uma caneta, esta
natureza de estudo para a realidade do consumo popular ou do mundo dos medicamentos a
base de plantas medicinais brasileiras.

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O primeiro estudo realizado por brasileiros de nascimento e de formação acadêmica foi


publicado em 1934 e chama-se "Estudo Farmacognóstico do Abacateiro", dos farmacêuticos
Oswaldo de Almeida Costa e do neto de Peckolt, Oswaldo Lazzarini Peckolt. Neste estudo
observam-se os seguintes itens: sinonímia vulgar; sinonímia científica; etimologia; histórico e
origem; descrição da planta; cultura; fitopatologia; partes usadas; caracterização das drogas
folhas e casca; estrutura microscópica da folha; estrutura microscópica da casca e lenho do
caule; composição química; emprego oficinal; substituições; uso.

Como se pode observar apenas pelo exame dos itens alguns requisitos do que seria a
farmacognosia europeia não foram assimilados no Brasil. É o caso das embalagens, mercados,
variedades comerciais, qualidade e avaliação dos preços, obtenção da droga, colheita e
tratamento.

Colheita e tratamento esta é realmente para as plantas medicinais brasileiras uma


preocupação desta última década.

As embalagens só passaram a ser objeto de preocupação depois da chegada da indústria


farmacêutica de alopáticos, década de 50, e ainda hoje a indústria de fitoterápicos tem
dificuldade de encontrar a embalagem ideal para fazer frente aos concorrentes alopáticos.

Outro estudo de farmacognosia dos mesmos autores ganha o prêmio Dr. Monteiro da Silva,
com a Poaia mineira, os itens abordados são: nome científico, sinonímia científica, sinonímia
vulgar; histórico; etimologia; distribuição geográfica das malpighiasceas; afinidades; descrição
da espécie; descrição morfológica da droga; histoquímica; composição química; análise
química vegetal; uso e terminam dando a conclusão de seu largo trabalho químico
comparativo.

Poderíamos argumentar o mesmo que o professor Oswaldo Almeida Costa em sua matéria na
Revista da Associação Brasileira de Farmácia de 1937 dizendo que "há uma diversidade de
conhecimentos indispensáveis ao farmacognosia", e isto talvez justificasse toda a ausência de
informação, afinal esta ciência vem com seus profissionais correndo atrás do desenvolvimento
europeu, que claro está muito mais adiantado do que nos e é feito por pessoas de cultura
sistêmica.

Um Outro Brasil E Novas Linhas De Pesquisa

No momento em que os Institutos Oswaldo Cruz e Butantan, década de 50/60, definem como
linha de pesquisa e desenvolvimento a vacinoterapia, as universidades federais do Nordeste
fincam seu trabalho em estudos em medicamentos fitoterápicos. Neste item muito

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especialmente as Universidades Federais do Ceará e do Recife. Segundo o professor F.J.Matos,


isto aconteceu devido a pobreza destas populações, e não por falta de investimento dos
laboratórios multinacionais de medicamento.

Por tradição, por opção pela cultura popular ou pelo baixo poder aquisitivo de suas
populações, a verdade é que a partir de 1960, quem passa a desenvolver estudos
fitoterápicos, são as universidades federais do Nordeste.

Renato Braga publicou no Ceará o livro "Plantas do Nordeste, especialmente do Ceará" pela
Imprensa Oficial. Anterior ao dele é o trabalho do Professor Dias da Rocha que tem sua obra
publicada por primeira vez em 1964.

O Sudeste e o Sul, no entanto, só tomam conhecimento dos avanços conseguidos no Nordeste


por ocasião da descoberta do Lapachol pelo grupo de pesquisadores do Instituto de
Antibióticos do Recife, liderados pelo Dr. Oswaldo Gonçalves de Lima.

RESUMINDO: FITOTERAPIA NO BRASIL

A fitoterapia praticada no Brasil é originária de várias tradições diferentes, criando um sistema


heterogêneo de plantas medicinais. As origens do sistema popular brasileiro de plantas
medicinais são os seguintes:

• Sistema etnofarmacológico europeu: este sistema possui influência das plantas de


uso mundial e plantas europeias.

• Sistema etnofarmacológico africano: foi trazido com o tráfico de escravos para o


Brasil, este sistema associa rituais religiosos ao uso de plantas medicinais. É mais
encontrado na região da Bahia.

• Sistema etnofarmacológico indígena: corresponde à herança do conhecimento de


plantas dos indígenas brasileiros.

• Sistema etnofarmacológico oriental: foi trazido junto com imigrantes chineses e


japoneses para o Brasil, encontrado principalmente no estado de São Paulo.

• Sistema etnofarmacológico amazônico: este sistema deriva das características


peculiares da flora da região, associadas à absorção de conhecimentos indígenas pelo
caboclo.

• Sistema etnofarmacológico nordestino: possui forte influência indígena e africana.

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A Farmacologia é a ciência que estuda os fármacos. Ela ocupa-se cada vez mais do estudo
dos resultados de toda a complexidade bioenergética da planta, no estudo dos seus fitos
complexos.

Sabe-se que a razão principal da existência nas plantas destes fitos complexos, ou princípios
ativos está em todo o contexto ambiental onde elas se desenvolvem, por isso em fitoterapia
utilizamos preferencialmente toda a planta ou parte da mesma, não fazendo uso de uma
substância isoladamente.

É de extremo interesse que sejam conhecidos os princípios ativos dos fitoterápicos, assim
como sua ação farmacológica sobre o organismo humano.

Determinados compostos químicos descobertos de plantas e utilizados na medicina, não


podem ser obtidos por meio de síntese e outros produtos de síntese só podem ser obtidos por
meio de vegetais. Portanto a droga vegetal é um produto vivo, do qual podemos concluir que
esta “terapêutica suave” é mais bem tolerada pelo organismo que substâncias inteiramente
sintetizadas.

Realmente o isolamento de compostos vegetais provocou um surpreendente desenvolvimento


da indústria química, mas hoje podemos sentir profundas mudanças em numerosos setores
que vieram se cristalizando nas últimas décadas. Nota-se um presente retorno à vida natural.
Aumenta o número de indivíduos que passam a adotar uma alimentação integral e natural.
Cresce a prática de antigas filosofias orientais, além de várias outras terapias que se tornam
cada vez mais conhecidas, como massoterapia, acupuntura e aromaterapia.

A química de produtos naturais representa um ponto de grande importância e valor, na


medida que somente por meio de métodos específicos pode-se obter tanto o isolamento e a
purificação de compostos químicos, como a determinação estrutural e posterior síntese total
ou parcial.

A composição química das espécies vegetais, especialmente das plantas encontradas nas
florestas tropicais, ainda está longe de ser descrita em sua totalidade, apesar de uma grande
quantidade de constituintes naturais já foram isolados, mas muitos ainda nem foram
estudados quanto a sua atividade biológica.

Existem várias considerações a serem revistas com relação aos produtos naturais, uma delas é
quanto a seriedade na identificação das plantas medicinais, através de ensaios macroscópicos
e microscópicos

A Botânica, a química e a farmacologia abrangem conhecimentos indispensáveis para a


utilização segura de plantas medicinais. É função dos botânicos providenciarem a identificação

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correta e a descrição da morfologia das espécies vegetais, além da compilação de dados em


herbários, onde são obtidas informações sobre a distribuição geográfica e a fenologia das
mesmas. Os farmacêuticos e os químicos especializados em plantas extraem, isolam, purificam
e identificam os componentes químicos (princípios ativos). Os farmacologistas de produtos
naturais verificam as ações biológicas ou atividades farmacológicas desses princípios ativos
e/ou de extratos vegetais, bem como avaliam a sua eventual toxicidade. Somando-se a essas
importantes contribuições, desempenham papel fundamental aqueles profissionais que atuam
nas áreas de Etnobotânica e Etnofarmacologia, recolhendo dados junto à população sobre a
utilização de plantas medicinais. Estes dados incluem informações sobre a planta, período ideal
de coleta, parte da planta utilizada, formas de utilização e preparação, dose preconizada,
indicações terapêuticas e todas as outras informações sobre sua utilização.

CONSUMO DE PLANTAS MEDICINAIS

Popularmente, as plantas medicinais de pequeno porte são conhecidas por ervas e geralmente
são utilizadas inteiras; para plantas maiores (arbustos, árvores e etc.), é comum a distinção de
uma parte específica a ser utilizada (raízes, folhas, frutos, sementes, flores etc.). Esta parte é
geralmente secada à sombra, podendo ser picada grosseiramente (planta rasurada) e utilizada
em preparações diversas.

Industrialmente, é muito comum a utilização de plantas medicinais moídas, sob as formas de


pó, saquinhos, cápsulas, comprimidos etc. Estas formas apresentam algumas vantagens
quanto à manipulação, estocagem, dosagem e administração. Existem ainda outras formas
farmacêuticas que podem ser elaboradas com plantas medicinais (extratos fluidos, elixires,
pomadas, drágeas, colírios, cremes, loções, tinturas e etc.); estas exigem técnicas que
necessitam de aparelhagem específica e conhecimento científico e técnico no âmbito
farmacêutico, podendo ser manipuladas em farmácias e/ou laboratórios industriais, por
profissionais competentes.

Problemas Mais Comuns Na Utilização Indevida De Plantas Medicinais

Muito se comenta sobre os efeitos colaterais ou indesejáveis provocados por medicamentos


sintéticos. As plantas medicinais e os produtos fitoterápicos têm sido, muitas vezes,
propagandeados e divulgados pelos meios de comunicação, como um recurso terapêutico
integrativo e complementar, isento de efeitos indesejáveis e até mesmo desprovidos de
qualquer toxicidade ou contra-indicações. No entanto, os conhecimentos empíricos (medicina

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popular) e científicos negam estas informações. O mito de que o que é natural não faz
mal é, portanto, uma inverdade insustentável.

Recomendações Úteis Para A Utilização De Plantas Medicinais

• Somente utilizar plantas conhecidas e não plantas de identidade duvidosa.

• Nunca coletar plantas medicinais junto a locais que possam ter recebido agrotóxicos em
geral.

• Nunca coletar plantas medicinais que crescem à beira de lagos, lagoas e rios poluídos.

• Nunca coletar plantas medicinais à beira de estradas, pois os gases que saem dos canos
de descarga dos veículos podem conter substâncias tóxicas que se depositam na
vegetação.

• As plantas medicinais devem ser secadas à sombra, em ambiente arejado, por alguns
dias (até tornarem-se quebradiças), antes de serem utilizadas.

• Ter certeza do nome da planta que está sendo utilizada e para qual finalidade.

• Após a secagem, guardar em vidro fechado, ao abrigo da luz. Colocar o nome da planta
e a data de coleta em um rótulo, para evitar problemas. Plantas armazenadas por
longos períodos perdem seus efeitos terapêuticos.

• Verificar o estado de conservação (umidade, mofo, insetos etc.) da planta medicinal a


ser adquirida. Habituar-se a adquirir plantas medicinais de fornecedores confiáveis.

• Não utilizar plantas medicinais durante a gravidez. Existem plantas que podem causar
sérios problemas ao bebê e à mãe. Por exemplo, as babosas quando ingeridas podem
provocar aumento da irrigação sanguínea na região do baixo ventre e estimular
contrações da musculatura lisa uterina. Outras plantas, como a arruda e a salsa,
também podem comprometer a saúde da mãe e do feto.

• Evitar a utilização de chás laxantes e/ou diuréticos para emagrecer.

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Fitoterapia como Ciência

A palavra fitoterapia é formada por dois radiais gregos: fito vem de phyton, que significa
planta, e terapia vem de therapia, que significa tratamento, ou seja, tratamento em que se
utilizam plantas medicinais.

Eficácia dos Fitoterápicos

As plantas medicinais vêm sendo usadas, por todos os povos e culturas, desde a antiguidade,
como principal forma de tratamento e manutenção da saúde. Isto, por si só, é considerado
uma prova de eficácia pela Organização Mundial de Saúde. Atualmente, com o
desenvolvimento da tecnologia aliado ao interesse em se confirmar o conhecimento da
medicina popular, as plantas medicinais estão tendo seu valor terapêutico pesquisado e
ratificado pela ciência, e seu uso pelos médicos vem crescendo.

Melhores Resultados

Como todo remédio, para se conseguir os melhores resultados dos fitoterápicos, é preciso
obtê-lo de uma boa procedência e usar a quantidade certa.

Por Que Um Mesmo Fitoterápico Apresenta Várias Ações E Indicações?

As plantas medicinais possuem, em geral, muitas substâncias ativas em sua composição


química. O número de compostos com atividade costuma ser maior que 30, podendo
haver mais de 200.

Essas substâncias somam suas ações, determinando o efeito da planta medicinal. As diversas
substâncias podem se combinar de várias maneiras, resultando em ações específicas. Como
são observadas muitas substâncias e muitas combinações possíveis, cada planta possui muitas
ações terapêuticas.

→ Importante:

As plantas e ervas medicinais, mesmo sendo medicamentos naturais, podem


intoxicar, cegar, provocar coma e até matar!

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Todas as plantas têm mais de um princípio ativo. Algum dos princípios ativos pode ser contra-
indicado para o usuário.

A formação de quem recomenda a prática deve ser baseada em todas as fontes disponíveis
possíveis.

Fitoterapia é uma terapêutica racional, eficaz e econômica.

Termos importantes que devemos conhecer:

• Fitoterápico - remédio obtido a partir de matéria-prima vegetal.

• Fitomedicamento – São produtos terapêuticos feitos a partir de vegetais (plantas


medicinais, extratos integrais ou concentrados de princípios ativos vegetais.

• Fitofármaco - É a substância medicamentosa isolada de extratos de plantas, como a


rutina e a pilocarpina, alguns dos raros fitofármacos produzidos no Brasil.

• Medicamento - Forma farmacêutica acabada, contendo o princípio ativo, apresentado


em variadas formas farmacêuticas: cápsula, líquido, comprimido etc.

• Biopirataria - comércio ilegal de plantas e animais.

• Nutracêuticos - alimentos funcionais, alimentos com funções terapêuticas.

A SITUAÇÃO DA FITOTERAPIA – CONSIDERAÇÕES GERAIS

O interesse pelo poder das ervas é justificável. Nunca a procura pelos remédios fitoterápicos –
feitos à base de plantas – foi tão grande como agora.

Existem normas para o uso correto de plantas medicinais que foram elaborados pelos
especialistas da OMS-Organização Mundial da Saúde e que estão no Research Guidelines for
evaluation the safety and efficacy of herbal medicines WHO Regional Office for the Western
Pacific - Manila -1993.

"A medicina tradicional é parte da cultura de todos os povos do mundo, e tem sido
recomendada pela OMS-Organização Mundial da Saúde, como a pedra angular para a
construção da APS (Atenção Primária à Saúde). Uma das principais contribuições da medicina
tradicional para a saúde tem sido o descobrimento do valor das Plantas Medicinais.

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Com muita razão, a OMS está incentivando os governos de todos os países do mundo, onde
as condições de saúde de suas populações são precárias, a implantar programas de saúde que
diminuam os custos mediante métodos e técnicas sociais aceitáveis (documento de Alma Ata-
1978).

Em países como a China, as plantas medicinais fazem parte da Farmacopeia Chinesa, sendo
usadas em cerca de 80% das patologias da Atenção Primária. Os médicos de pés descalços
são os que usam a planta junto com a população rural, e em seu manual consta uma lista
com as respectivas indicações, mas também são usadas na Atenção Secundária nos hospitais.

Outros países da África, Ásia e América Latina também seguem este caminho: Tailândia,
Filipinas, Vietnã, Togo e Índia, têm valorizado a sua medicina tradicional e vem desenvolvendo
estudos sérios sobre a base científica de suas plantas.

Destes países, destacamos a Índia que publicou o dicionário "The Wealth of Índia -Row
Materiais", com informações sobre classificação botânica, toxicidade, fitoquímica e ações
farmacológicas de diversas espécies medicinais muitas delas, inclusive, encontradas no Brasil.

Em Togo (África), um laboratório estatal selecionou um grupo de plantas para estudo


preliminar, partindo do resgate etno-farmacológico. Depois iniciou a produção de uma dezena
de medicamentos fitoterápicos, economizando milhões de dólares.

Na América Latina, o exemplo mais importante é o de Cuba. Forçada pelo bloqueio econômico
por parte dos Estados Unidos, é obrigada a buscar em suas plantas o arsenal terapêutico para
suas necessidades. Neste caso o uso não fica restrito a APS, mas estende-se à Atenção
Secundária. Um dos livros mais sérios que se conhece na América Central é o "Elemento para
uma Farmacopeia Caribena" (Seminário Tramil), sendo Cuba um dos principais participantes.
Constam nesta obra investigações de laboratório e estudo de casos clínicos.

Na maior parte do mundo, especialmente nos EUA e no Reino Unido, a prática da Fitoterapia é
uma arte imperfeita. Na Alemanha, o uso de drogas vegetais é uma ciência. Uma das razões
para isso é a tradição, entretanto, sem dúvida o sistema claro de leis e regulamentos que
governa a venda e uso de tais produtos é a maior de todas as razões.

Basicamente, a legislação na Alemanha permite que os fitoterápicos sejam vendidos tanto


como medicamentos de procura espontânea quanto como medicamentos prescritos pelos
médicos, contanto que haja prova absoluta de sua segurança e certeza razoável de sua
eficácia. Entenda-se por “certeza razoável” o fornecimento de algumas evidências científicas e
clínicas antes da aprovação, mas as exigências não são as mesmas que seriam necessárias
para um fármaco novo.

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Pelo motivo de que a proteção das patentes não está disponível para as drogas vegetais
antigas, as grandes empresas farmacêuticas não têm interesse em investir astronômicas
somas para comprovar a sua eficácia pelos mesmos padrões aplicados a fármacos sintéticos
novos (que têm a garantida da patente). Investem então quantias menores nos testes
científicos e clínicos necessários para estabelecer uma certeza razoável.

O corpo científico responsável pelos julgamentos que validam a utilidade de centenas de


diferentes fitoterápicos é a Comissão E (Europeia) da Agência Federal Alemã de Saúde.

AGORA, VEJAMOS A SITUAÇÃO DA FITOTERAPIA NO BRASIL...

O Brasil tem uma biodiversidade estimada em cerca de 55.000 espécies de plantas superiores.
Pesquisas nas Universidades e Institutos de Pesquisa, revelam substâncias ativas em câncer,
aids, analgésicos, antibióticos e um grande número de outras utilidades, até na cosmética.

Qual seria o percentual dessas plantas que já foi estudado química e farmacologicamente?

O Brasil tem também uma equipe invejável de cientistas e empresas farmacêuticas de boa
qualidade e competência.

Para se ter ideia, somente no ano de 2005 (não antes) é que se teve notícias como a que foi
publicada na Revista Fitomédica, ano 1, nº 1, informando que havia chegado ao mercado o
primeiro medicamento fitoterápico com pesquisa e desenvolvimento 100% nacional, chamado
Acheflan®.

É importante salientar que existem decretos presidenciais quanto a produção,


utilização de fitoterápicos, seguem alguns no material complementar em formato
PDF para sua leitura.

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i
Site do Terra Ciência - Sexta, 25 de julho de 2003, 20h26
Monges taoístas usavam publicidade há mil anos
nesta semana, dentro de um ninho de pássaros da montanha sagrada de Wudangshan, no centro da China,
garrafas que foram usadas durante quase mil anos para armazenar bebidas medicinais, mas o mais interessante
é um velho cartaz publicitário encontrado ao lado.
O cartaz, de 1,2 metro de comprimento e 0,5 de largura, lembra os antigos anúncios de produtos farmacêuticos,
e garante que os produtos "curam mais de 72 doenças oculares" e que as receitas "foram ditadas pelo Céu".
Além disso, inclui uma lista de preços e pede aos possíveis clientes que não pechinchem na hora de pagar, já que
os remédios são "muito difíceis de fazer".
As garrafas começaram a ser usadas durante a dinastia Song, século X da nossa era, e voltaram à moda durante
as duas últimas dinastias imperiais da China, a Ming (1368-1644) e a Qing (1644-1911).
A descoberta também mostrou a curiosa forma de venda desses remédios, já que, como os monges viviam em
uma remota e inacessível gruta, e desejavam viver afastados do barulho mundano, vendiam os remédios à
distância. Do alto da gruta onde viviam, os monges jogavam uma corda na qual estava amarrada uma cesta,
onde os clientes deviam primeiro depositar o dinheiro que estava no anúncio.
Depois, com um puxão na corda avisavam os monges, que recolhiam o cesto com o dinheiro, colocavam nele a
garrafa com o remédio e voltavam a baixá-la para que o comprador tivesse o prometido, em um sistema no qual
era necessário confiar na honradez dos eremitas. O anúncio encontrado pelos arqueólogos também mostra que,
devido ao sistema de venda, era inútil pechinchar, já que os monges permaneciam muito longe e não podiam
ouvir os clientes.
Segundo os registros históricos, na gruta viveu um famoso monge taoísta chamado "Yunxia" ("Nuvens de
Cores"), que morreu no ano 928 e fazia parte de uma escola de eremitas-doutores chamados "os Danding", que
ainda existe, mais de mil anos depois.
Zhu Huaying, monge considerado o descendente da escola Danding, disse, em uma entrevista à agência Xinhua,
que Yunxia e seus colegas criaram um grande número de remédios para os olhos, capazes de curar miopia,
catarata e inclusive evitar que os globos oculares chorem devido ao vento.
As montanhas do norte da província de Hubei, onde foi feita a descoberta arqueológica, são um lugar com uma
grande carga simbólica para os praticantes da medicina tradicional chinesa. Segundo os chineses, era nas
montanhas que, há milhares de anos, descansava o imperador Shennong, legendário inventor da medicina
tradicional, quando viajava na busca das 100 plantas que utilizava em suas receitas medicinais.
O taoísmo, uma das duas grandes escolas de pensamento filosófico da China, junto ao confucionismo, foi iniciado
no século VI antes de nossa era pelo pensador Lao Zi, autor do "Tao Te Qing" ("O livro do Caminho"). O livro
contém uma série de pensamentos com os quais se pretende conseguir a harmonia com a natureza e alcançar a
felicidade, chegar ao "Tao".
O taoísmo, que séculos depois se converteu em uma religião com seus templos, divindades e monges,
recomenda a passividade diante das alegrias e das penúrias da vida, a fuga do excessivo entusiasmo e da ira, e é
muito popular na China.

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