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Ok, vamos lá. Só mais uma vez.

Já faz 200 anos desde que deixei o reino celestial e bem, eu estou bem. Reconheço que o
que eu fiz foi errado, reconheço que a culpa foi minha, eu não devia ter permitido tirarem
minhas memórias, agora só sei que Hong-Er era uma linda criança e que eu o amava,
apenas isso. Sinto falta dele, mas ele deve estar bem, talvez até mesmo esteja na forma de
uma criança! Isso seria fofo. Bem, eu deixei Yong An depois que ela… Bem, deixou de
existir e agora eu estou disposta a deixar tudo para trás e recomeçar.

Então, bem, eu decidi me mudar para o Reino da Lua, estou bem instalada, conheci duas
lindas crianças, Ban Yue uma linda menina, ela era de Yong An, igual ao rapaz, mas após a
destruição desse reino ela veio morar aqui no Reino da Lua, junto de Xiao Pei, um doce
jovem! Ele é uma graça! Eu decidi que vou me responsabilizar por essas crianças, afinal, o
Reino da Lua está em guerra contra os rebeldes de Yong An que ficaram vivos após a
destruição do reino. Para evitar mais uma guerra, eu me juntei ao exército lunar e estou
trabalhando sem matar ninguém! Eu vou apenas evitar conflitos, da melhor forma possível.

-Jiang Jiejie! Pode cozinhar algo para nós? Estamos morrendo de fome!- Ban Yue
reclamava enquanto esfregava as mãozinhas contra a barriga, ela estava com fome, dois
jovens órfãos e com fome! Bem, eu estava cuidando deles na medida do possível, afinal
com meu salário quase não era possível me sustentar.

-Jiang Jiejie! Pelo amor de deus!- Xiao Pei reclamou também, deitando sua cabeça em
minha coxa enquanto eu estava afiando minha espada de ferro. Bem, desde que comecei
uma nova vida no reino da Lua mudei meu nome e criei uma nova identidade! Hua Jiang
Jun. Nome um pouco estranho mas já é mais do que o suficiente para esta nova vida.

-Certo! Certo didis! Deixem com está Jiejie aqui! Bem, certo, vamos ver, tenho batatas,
arroz, cebolinhas, mas não temos carne… O que acham de conghee vegano?- Eu disse
enquanto dava um sorriso amarelo e sem graça, seria bom se eu pudesse dar carne para
eles, mas, bem.. Acho que isso não seria possível.

-Conghee!- Os dois pequenos disseram uni solo, fazendo-me dar um sorriso terno. Mas eu
tinha um pequeno problema.. Eu nunca aprendi a cozinhar. Poxa, eu sou uma princesa! Isso
não estava nem se eu quisesse nas minhas aulas e outra eu fui criada para ser um príncipe,
então isso ficou completamente fora da minha criação.

Certo, vamos dar um jeito, eu corto a batata assim, tiro a casca, ok, agora vamos pegar
esse temperos aqui, mais isso aqui, misturo com um pouco disso, mais um treco disse aqui.
A culinária parece com alquimia, acho que vai dar tudo certo! Certo, agora eu coloco isso
aqui com o arroz e um pouco disso aqui, se eu colocar nessa temperatura deve dar o ponto
certo de ebulição, agora só colocar a cebolinha picadinha e BUM! Tá pronto! Olha só! Acho
que os temperos deixaram o conghee roxo, mas, ok, vai dar tudo certo.

-Certo didis! Aqui está! Um prato cheio de conghee para os dois!- Eu estou feliz pela minha
obra prima! E servi duas generosas tigelas de conghee para os meninos, bem agora vamos
ver se eles gostaram do prato. Quando as crianças colocaram os olhinhos no prato, suas
expressões foram de maravilhosas para traumatizadas.
-Ah.. Jiang Jiejie, eu perdi a fome…- Ela disse enquanto afastava o prato de conghee para
longe dela e pegava o pedaço de pão velho que nós tínhamos comprado ontem.- Vou
comer pão como meu jantar, não se preocupe Jiejie.- Ela disse enquanto dava dentadas no
pão velho.

-Ah ok e você Xiao didi?- Eu perguntei olhando de maneira doce para o menino que olhou
para mim e depois olhou para o conghee e então ele pegou a colher e enfiou tudo na boca,
engolindo a seco. Depois de alguns segundos olhando fixamente para ele, o menino
começou a ficar roxo e tossir depois ele caiu duro no chão.-XIAO DIDI!- Eu corri até o
menino sacudindo ele desesperado, chequei pulso dele, a minha comida… Tinha
envenenado ele…

Passei alguns minutos fazendo remédios, mas não tava adiantando… Porra! Eu continuei
cuidando dele com calma, mas minha comida é forte demais! Eu sabia que era especialista
em criar venenos, mas não sabia que a minha primeira vez na culinária faria um veneno tão
forte assim.
No final do dia deixei o menino mudo e um pouquinho inválido, mas acho que fora isso ele
tá bem… Eu acho…

Quando a noite caiu eu acendi uma fogueira e sentei perto dela com Ban Yue no meu colo,
fiquei fazendo trancinhas enquanto ela segurava um palito cheio de pedaços de pão, ela
estava dourando eles na fogueira, enquanto Xiao Pei ficava deitado no chão segurando as
ervas que fiz para reduzir a fraqueza dele e mudez… Tadinho…

-Jiang Jiejie, canta alguma coisa para a gente!- Ban Yue disse enquanto sentia meus dedos
acariciar gentilmente as tranças no cabelo dela.

-Certo! O que querem ouvir?- Eu perguntei enquanto continuava a trançar, tranças de


tamanhos irregulares no cabelo bonito dela.

-Música que a Jiejie gosta!- Xiao Pei disse enquanto se levantava de súbito de onde ele
estava deitado.

-Ok, bem, lá vamos nós.- Deuses têm acesso a músicas além do tempo, mas eu prefiro
cantar uma canção da minha época, do meu tempo, uma música das minhas memórias.-
Delicate threads, of my heartstrings in your bed, cut away, leave the moon to dim my
shame.- Os primeiros versos fizeram meu coração palpitar, senti, meu corpo se arrepiar e
uma calmaria encher minha mente.- Silver wings fly. Over fields of your goodbyes. I don't
cry. Tears of days that pass by mine.- As emoções em meu peito pareciam aflorar a cada
palavra, elas estavam carregadas de significado, essa música significa muito para mim e eu
acho que depois de cantar para as crianças, essa será a última vez que ela será cantada.-
Flowers turn to snow. cities fill with ghosts. the light of love still burning in the cold.- A luz do
amor continua queimando no frio, isso é realmente verdade? Como pode a chama do meu
coração continuar queimando por alguém que eu não consigo me lembrar?- On a timeless
face wears the change from white to gray. To meet again. defy our place in face.- Anos
mudam de branco para cinza… Acho que isso realmente aconteceu na minha vida, não
posso negar.- when you walk away. all the flowers start to fade. In a glance blooms the
chance for happiness.- A chance para a felicidade? Existe mesmo isso? Será possível que
depois de me colocar em um túnel tão escuro existe a chance para a felicidade? Para a
minha felicidade? Tem anos que venho me sentindo vazia.- When you say goodbye. I still
chase after the high. Don't let go
bittersweet will be my heart.- Eu fiz uma pausa, respirando fundo.- Walk this road. Til we're
no longer.- Fiquei em silêncio antes de cantar a última palavra.- Apart- A última palavra saiu
mais como um sussurro do que realmente a melodia em si, as duas crianças perto de mim
se entre olharam curiosas, até que a pequena garota resolveu se pronunciar.

-Jiang Jiejie, por que está chorando?- Ban Yue fez essa pergunta, que pelo visto parecia ser
a mesma dúvida que o jovem Xiao Pei tinha no momento.

-Ah?- Eu passei as costas das minhas mãos em meus olhos, as lágrimas que estavam
antes carregadas em meus olhos se depositaram em minhas mãos, eu olhei para o líquido
que meu próprio corpo produziu, assimilando aos poucos, as lágrimas ao contrário do que
eu pensava não paravam de cair, uma forte sensação de perda de instalou em meu corpo, o
sorriso que antes eu carregava em minha face se esvaindo aos poucos, a ficha finalmente
caiu para mim, tudo o que perdi, as memórias, as pessoas, meu reino, tudo, isso pareceu
depois de tantos anos finalmente ter um real peso em meus ombros, peso esse que se
tornou quase impossível de segurar.

Sem conseguir responder os pequenos a minha frente as lágrimas pareciam tomar conta de
mim, involuntariamente invadindo meu peito, coração e alma, perfurados em mim como
uma adaga e eu finalmente chorei, chorei o que a muito havia sido guardado em meu
coração. A noite começou a passar devagar, a brisa que antes estava fresca agora se
tornou gélida, as pontas dos meus dedos não podiam mais ser sentidas, senti meus pelos
se arrepiarem e meu corpo se encolher aos poucos.

Quando olhei para o lado Xiao Pei estava dormindo tranquilamente, mas Ban Yue não, ela
estava olhando para o céu, enquanto tremia levemente. Eu sorri fechado para ela e a puxei
para perto do meu corpo, ela se encolheu e tentou se esfregar em meu tronco, em busca de
calor, eu usei as longas mangas da minha vestes militares e a cobri com as minhas
mangas. Nós só tínhamos poucas coisas para usar, eu só tenho uma roupa militar, Ban Yue
só tem um vestido e Xiao Pei tem apenas uma blusa rasgada nas bordas e uma calça velha
pega-frango.

-Você sempre quis ser general? Era algo que você realmente quis quando era criança?-
Ban Yue perguntou animada enquanto se esgueirava para o meu colo e puxava minhas
mangas mais apertadas contra o corpo dela. Eu apoiei meu queixo na cabeça da menina,
enquanto ela brincava com as minhas mangas contra o corpo.

-Não, mas sabia que quando eu era criança, meu sonho era salvar as pessoas?- Eu disse
sorrindo enquanto acariciava a cabeça da pequena Ban Yue, ela olhou para mim com os
olhinhos brilhando de admiração, eu apenas dei um sorriso contido, enquanto respirava
fundo. Deixei minha cabeça tombar na estrutura de madeira onde escolhemos morar, não
havia biombo, não havia fogão a lenha, não havia paredes, apenas a estrutura velha e
desgastada de madeira e o telhado de tijolos desgastados.
O calor finalmente começou a inundar meu peito, e meus olhos finalmente começaram a
pesar, eu finalmente consegui fechar meus olhos e apenas dormir. Os primeiros raios de sol
finalmente começaram a surgir, fazendo com que eu abrisse meus olhos assim que tocaram
meu rosto, eu sabia que assim que meu oficial exigia minha presença em campo, eu não
poderia proteger as pessoas desta vila e nem os meninos.

Eu deixei Ban Yue confortável ao lado de Xiao Pei, os dois ainda dormiam tranquilamente,
deixei os últimos baos que tínhamos cozinhando, eles comeriam bem, andei em direção a
casa de uma bondosa senhora da vila, ela poderia cuidar dos meus meninos, seria bom
assim.

A vila é bem pobre, além do Reino da Lua está localizado em um deserto, as casa são
feitas de palha e madeira que são trazidos do reino de Yong An, geralmente são roubados
de lá, o único lugar com prosperidade é o palácio do reino, existe um mago que utiliza
magia lá que faz com que as plantas floresçam, os animais engordem, entre diversas outras
coisas.

Já fazem 300 anos que não uso magia.

Bem, eu tenho medo do que pode acontecer. Da última vez que tentei usar meus poderes,
as cicatrizes do grilão abriram, eu senti dor, agonizei por alguns dias, até que finalmente
aceitei o fato de que não poderia usar energia celestial novamente. Por isso ultimamente
tenho optado por uma técnica mais pacifista para evitar lutas.

A base do diálogo.

Sim. Eu sei. Nem sempre funciona. Mas! Se eu continuar mantendo a fé! E a esperança
naquilo que eu acredito, uma hora ela irá se realizar. Eu acho. Talvez não. Mas não custa
tentar? Não é?

-Vovó Lung. É um prazer revê-la, como tem passado?- Eu disse assim que finalmente
encontrei a senhora Lung. Fiz uma reverência rápida em sinal de respeito para ela.

-Bem, querida, soube, que a senhorita está indo para o campo de batalha, ou estou
errada?- A fraca e desgastada voz da senhora Lung perguntou gentilmente, é, ela tinha
razão, logo eu seria convocada e deveria comparecer aos campos de batalha.

-Não, a senhora está certa, chegou a vez do meu batalhão, devo me apresentar ao meu
general hoje.- Eu disse em um tom claro, porém sem emoção alguma, dei uma risada gélida
antes de continuar.- Por isso eu gostaria que cuidasse dos meninos, temo que depois desta
batalha eu posso não voltar mais.

-Eu entendo querida. Vá tranquila e por favor, tome cuidado.- A senhora Lung, me
tranquilizou com essas doces palavras, eu poderia ao menos manter a ideia de que tudo
ficaria bem com meus meninos, eu dei um sorriso fechado para ela antes de andar em
direção ao palácio.
Assim que cheguei ao palácio as tropas já estavam reunidas, todos homens. Com, bem, eu
como exceção é claro. Assim que o general se direcionou para nós, todos nós fomos
direcionados para fora dos portões da cidade, segundo nosso general, os homens do reino
de Yong An, já estavam à nossa espera.

Assim como previsto, os homens nos atacaram, os soldados estavam lutando bravamente
para tentar resistir ao ataque, as coisas pareciam equilibradas para os dois lados, eu me
esforcei para tentar parar os soldados dos dois lados, eu sabia o que uma guerra fazia com
as pessoas, em uma guerra não havia lado vencedor, apenas pessoas com sangue em
suas mãos.

Enquanto eu tentava separar uma briga fatal entre um soldado inimigo e com um
companheiro do meu exército, o inesperado aconteceu, eles me empurraram com tanta
força que eu tropecei nós milhares de corpos mortos no chão, e então, eu caí em cima de
três espadas, as três afiadas e perigosas armas, rasgaram minha carne, uma atingiu
(provavelmente) meu útero, a segunda, atingiu um burraco entre minhas costelas e a
terceira pegou nem na minha clavícula, novamente o sangue quente começou a escorrer
pelo meu corpo, meus olhos ficaram dormentes e eu senti minhas consciência se esvair aos
poucos.

É isso? Eu morreria desta maneira? Eu perderia tudo que fiz durante todos esses anos, por
causa de um empurrão que me fez tropeçar e cair em cima de algumas espadas? Céus,
que maneira idiota para se morrer.

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-O que?- Eu me levantei de súbito, quando olhei a minha volta havia apenas o deserto, o
absoluto e vazio deserto. Não havia mais homens caídos, nem cheiro de sangue, nem
absolutamente nada. Ao tocar meu corpo minhas feridas haviam sido cicatrizadas, eu levei
alguns segundos para processar tudo, até que senti um aperto familiar no meu pulso, lá
estava Xie.- Ei amiguinho! Quanto tempo! Como me achou?- A pequena fita em resposta se
enroscou em mim de maneira protetora, mas logo apareceu rapidamente mudar de ideia.

Xie me rodou e começou a escrever na areia, "um mês", então haviam se passado um
mês? Certo, eu não deveria estar aqui então, devo começar a procurar uma vida nova?
Céus, não há um momento em que eu não sinta falta da paz do descanso e de meses em
que eu poderia apenas relaxar, mas certo, devo mudar de vida, pelo menos agora acredito
eu, que eu já possa voltar a usar meu nome, depois de tantos anos, não devem nem ao
menos se lembrar de mim. Bem, acho que agora é uma boa oportunidade para um novo
começo.

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