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Psic - Educ Abordagem Ecossistèmica
Psic - Educ Abordagem Ecossistèmica
CONTEÚDO I
ASPECTOS INTRODUTÓRIOS 1
Justificação 1
Pressupostos 4
OBJECTIVOS 5
Introdução 6
A Comunicação Humana 28
ASPECTOS GERAIS 28
MODELO TELEGRÁFICO E ORQUESTRAL DA COMUNICAÇÃO 29
A BASES DA COMUNICABILIDADE 34
COMUNICAÇÃO E INFLUÊNCIA 36
PRAGMÁTICA DA COMUNICAÇÃO H UMANA 38
Aspectos Gerais 49
Código 50
Estratégias 52
A Relação Interpessoal 54
INTRODUÇÃO 54
PERCEPÇÃO E JULGAMENTO SOCIAL 55
ESTRUTURAS DE RELACIONAMENTO INTERPESSOAL 64
As Técnicas Sociométricas 78
DESENVOLVIMENTO H ISTÓRICO E ORIGENS DA SOCIOMETRIA 78
DEFINIÇÃO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS 79
O TESTE SOCIOMÉTRICO 80
APLICAÇÃO DO TESTE SOCIOMÉTRICO 81
BIBLIOGRAFIA 138
JUSTIFICAÇÃO
2 Convém, contudo, notar que assumimos uma noção de psicologia que assenta num
conceito de psyche inovador no sentido em que esta não é entendida como algo, ou alguma
coisa, que está dentro do indivíduo como a tinta está dentro do tinteiro, mas sim como
definindo o sistema de relações que o sujeito estabelece com o seu ambiente. As
PRESSUPOSTOS
Objectivos
Em conformidade com os pressupostos anteriormente enunciados, assumem-se como
objectivos de formação prioritários as seguintes destrezas cognitivas e capacidades
pessoais do formando:
1. Estar consciente de que a educação/formação é um processo interaccional
complexo, que transborda o sistema professor/aluno ou formador/formando
e não se esgota nos actos formais de educação/formação.
2. Compreender os fenómenos de interacção humana em toda a sua extensão e
complexidade, para além dos actos explícitos de comunicação intencional de
pensamentos ou afectos.
3. Ser capaz de analisar a própria experiência comunicacional/relacional,
questionando sistematicamente as crenças pessoais e as representações sociais
que impedem o acesso a maturidade psicológica e social.
4. Ser capaz de gerir os processos interaccionais em que participe,
designadamente nas situações de educação/formação, de modo a facilitar aos
outros (educandos/formandos) o exercício da sua autonomia e a
rentabilização dos próprios recursos.
INTRODUÇÃO
O conceito de sistema tem, por assim dizer, um longo passado e uma curta História.
Com efeito, se bem que nunca até aí o termo propriamente dito tivesse sido
geralmente utilizado ou perfeitamente definido, já muita actividade intelectual e
científica humana partia da noção que existem fenómenos de tal forma relacionados
que a sua compreensão terá que ser procurada no contexto das suas inter-relações
recíprocas. Exemplos disto são os economistas do Séc. XIX que, sem terem
consciência plena do facto, partiam da noção de sistema quando tentavam construir
um modelo geral da economia a partir das relações entre a oferta, a procura, a
moeda, o capital, etc.. O próprio Marx, ao propor uma visão global da sociedade a
partir duma relação entre as infra-estruturas económicas, políticas, sociais e
ideológicas.
Contudo, aquilo que hoje conhecemos por abordagem sistémica tem a sua origem
nos anos 30 e 40 nos quais diferentes tipos de cientistas começaram observar padrões
numa vasta gama de fenómenos físicos, biológicos, sociais e psicológico. Com efeito,
McCulloch e colaboradores debruçaram-se sobre a organização dos neurónios, Piaget
estudou a forma como as crianças organizam os seus processos de conhecimento e
Gregory Bateson, a partir dos seus estudos na Nova Guiné, tentou compreender a
forma como o comportamento ritualizado se organiza no contexto da interacção
social. O que estes investigadores tinham em comum era a noção de que os
fenómenos sejam de tipo neurológico, psicológico, ou social, poderiam ser melhor
compreendidos em termos de informação, e organização do que em termos de
energia ou substância.
4 A Cibernética foi "fundada" pelo matemático Norbert Wiener (1948) e tem como finalidade
principal o estudo dos sistemas de regulação e controle tanto nos organismos vivos como
nas máquinas.
5 A Ontologia é a parte da Filosofia que estuda o ser em si, as suas propriedades e dos modos
por que se manifesta, isto é, a natureza dos elementos da realidade tanto material como
racional.
6 A Epistemologia é a parte da Filosofia que estuda a possibilidade e as condições do
conhecimento, a forma como nos damos conta do mundo à nossa volta.
exterior. Esta concepção começou por implicar uma extensão da física convencional,
sendo a noção de sistema posteriormente generalizada ao domínio das ciências
sociais (Bertalanffy 1977, p.30).
"A Teoria Geral dos Sistemas tornou-se assim uma espécie de grande campo
conceptual dentro do qual se meteram diversas disciplinas, Teoria dos Jogos7,
Teoria da Decisão 8, etc.., de tal forma que ainda hoje não podemos verdadeira-
mente falar de um paradigma que esteja totalmente organizado de uma forma
sólida, mas de um campo fragmentado com versões e aplicações em domínios e em
níveis diferentes da realidade."
Numa fase inicial, a tarefa principal que se deparou aos teóricos dos sistemas foi de
certa forma estabelecer a legitimidade epistemológica do seu campo de trabalho.
Dado que o principal elemento de definição de um determinado domínio científico é
o seu objecto de estudo, a especificidade da Teoria Geral dos Sistemas situa-se no
facto de lidar com fenómenos complexos, com um método que respeita essa
complexidade.
A Teoria Geral dos Sistemas tem assim como objecto de estudo as complexidades
organizadas, ao nível biológico, ao nível social, isto é, ocupa-se de fenómenos onde
há elementos, mas acima de tudo há relações entre esses mesmos elementos. O
estudo do sistema vai incidir precisamente sobre a rede de relações intra e
intersistémica, porque são as relações que mantêm e definem o sistema como tal.
Conceito de Sistema
O modelo sistémico, como teoria geral, parte da hipótese de que existem modelos,
princípios e leis que se podem aplicar a sistemas generalizados, qualquer que seja o
seu tipo particular, a natureza dos elementos que os compõem e as relações que
existem entre eles.
Nesta perspectiva um sistema pode ser definido como um conjunto de elementos ou
entidades mais o conjunto das interacções que se verificam entre eles e que num
determinado momento nos permitem concebê-los como um todo único. Uma das
distinções que usualmente se faz é a de considerar duas categorias básicas de
sistemas: Sistemas abertos e sistemas fechados.
7 A Teoria dos Jogos estuda, do ponto de vista matemático, a competição racional entre dois
ou mais jogadores que procuram o máximo de ganho e o mínimo de perda.
8 A Teoria da Decisão estuda as escolhas racionais nas organizações humanas, baseada na
SISTEMAS FECHADOS
Um sistema fechado não troca nem energia nem matéria nem informação com o seu
ambiente: está totalmente desligado do seu meio exterior. Isto quer dizer que o
sistema funciona essencialmente a partir da sua energia potencial interna. Essa
energia é utilizada nas interacções entre os elementos do sistema até que este chega a
um estado de equilíbrio o que é o mesmo que dizer a um estado de inacção e
desorganização total.
Naturalmente que um sistema fechado num sentido rigoroso é uma abstracção dos
físicos, uma espécie de modelo teórico ao qual não corresponde nenhuma realidade
concreta. Contudo esta distinção entre sistema abeto e sistema interessante na
medida em que permite abordar problemas como o contraste entre o mundo físico e
o mundo vivo, os problemas da vida, da evolução, da auto-organização, da diferen-
ciação, etc..
SISTEMAS A BERTOS
Todo o organismo vivo pode ser definido como um sistema aberto. Num ser vivo
existem, com efeito, numerosos processos químicos e físicos ordenados de tal forma
que permitem ao sistema vivo manter o seu funcionamento dentro de determinados
parâmetros e mesmo crescer, desenvolver-se, reproduzir-se, etc., apesar de no seu
interior se verificarem trocas incessantes Bertalanffy, 1984, p. 82). Isto manifesta-se a
todos os níveis: — componentes químicos, ao nível da célula; células, ao nível do
organismo multicelular; indivíduos, numa população, etc.. As estruturas orgânicas
são elas próprias a expressão de um processo ordenado e só se mantêm por este
processo, por conseguinte a abordagem sistémica trata primeiro de procurar a ordem
dos processos em si próprios e não em estruturas exteriores pré-estabelecidas.
Contudo, esta noção de ordem é estranha tanto à física como à química clássicas. Para
o definir foi necessário criar um modelo sistémico ao mesmo tempo suficientemente
rigoroso para permitir uma abordagem científica e global de forma a poder ser gene-
ralizado a todos os sistemas vivos.
O modelo do sistema aberto tem naturalmente um vasto campo de aplicação na
biologia, fisiologia, psicologia, sociologia, etc. A aplicação dos princípios sistémicos
nas ciências do comportamento tem sido feita essencialmente utilizando o conceito
de sistema aberto. Define-se sistema aberto (Bertalanffy, 1977 p. 193) como um sistema
que troca materiais e informação com o seu ambiente. Este processo faz com que o sistema
se mantenha num estado de ao mesmo tempo de integridade e estabilidade.
TOTALIDADE
O conceito de totalidade pode ser definido como a qualidade emergente na base da
própria noção de sistema entendido como complexos de elementos em interacção9.
Segundo Bertalanffy (1977, p.82):
"Ao tratarmos de complexos de elementos podemos fazer três diferentes espécies de
distinção, a saber, 1) de acordo com o seu número; 2) De acordo com a sua espécie;
3) de acordo com as relações entre os seus elementos."
Assim para compreendermos o funcionamento de um determinado sistema devemos
ter em conta aquilo que Bertalanffy chama "características constitutivas", isto é,
aquelas que dependem das relações específicas intra-sistémicas.
São as características constitutivas que definem a totalidade do sistema, quer dizer,
um sistema não é uma simples soma ou agregado de elementos, mas comporta-se
como um todo coerente e indivisível no qual as variações de qualquer elemento estão
relacionadas com todos os outros.
O conceito de totalidade não é um conceito estático mas dinâmico e susceptível de
variar ao longo do tempo. Com efeito, especialmente nos sistemas inter-relacionais as
interacções entre os elementos podem variar ao longo do tempo em que, por um
processo de diferenciação um sistema passa de um estado de totalidade a um estado
de relativa independência, dando origem a outros sistemas.
Num estado de totalidade uma perturbação num elemento conduz a perturbações
nos outros elementos, reagindo estas de forma a manter o estado de equilíbrio inicial.
É este processo que nos permite compreender como, por exemplo, quando numa
família em que um membro apresenta problemas comportamentais esses problemas
desaparecem, não tendo havido uma verdadeira mudança na organização da família,
acontece que ou os problemas desse membro voltam a aparecer ou aparecem
problemas noutro membro da família.
O princípio da totalidade sistémica tem implicações teórico-práticas evidentes. Com
efeito, qualquer hipótese que pretendamos pôr no sentido de compreender e guiar a
nossa intervenção relativamente a um determinado comportamento problemático de
um membro de um sistema psicossocial terá que envolver todos os membros desse
sistema.
EQUIFINALIDADE
O princípio de equifinalidade refere que o mesmo estado ou "objectivo" final pode ser
alcançado a partir de condições iniciais diferentes ou por vias diferentes. A equifina-
9 Estar em interacção significa, de uma forma mais rigorosa, que os elementos p estão em
relações R, de tal modo que o comportamento de um elemento p em R é diferente do seu
comportamento quando fazendo parte de outra relação R'. Se os comportamentos em R e
R' não são diferentes então não podemos dizer que haja relação.
lidade é uma característica fundamental dos sistemas vivos, que não se verifica nos
sistemas inanimados em que um determinado estado num tempo t é determinado
univocamente pelo estado do mesmo sistema num tempo to. Um exemplo bem
conhecido desta propriedade vem embriologia experimental: em que um ser normal
pode ser obtido a partir de um ovo completo, tanto como de metade de um ovo ou
até de uma quarta parte de um ovo. Esta noção de equifinalidade tem basicamente a
ver com a organização do sistema. Se considerarmos, por exemplo, um determinado
sistema interaccional dizemos que está organizado, que existem determinadas regu-
laridades no seu funcionamento. Trata-se contudo de uma estabilidade dinâmica na
medida em que é conseguida através de processos de troca, de mudança. Num
determinado grupo social os indivíduos estão em actividade, interagem uns com os
outros, há movimento constante, mas apesar disso ficamos com a noção de que existe
uma certa regularidade. O que está na base dessa regularidade é a existência de
padrões de interacção, de processos circulares que se repetem sob determinadas
condições, isto é, os parâmetros do sistema, as regras implícitas ou explícitas que
regulam as interacções.
Segundo o princípio da equifinalidade os acontecimentos no interior de um sistema
têm mais a ver com os padrões, regras de funcionamento e estrutura do sistema,
sendo largamente independentes das condições iniciais. O mesmo estado final pode
ser atingido partindo de condições iniciais diferentes. De uma forma mais ilustrativa
diríamos que, para compreender o ponto a que chegou um sistema, mais do que
saber de onde partiu, importa saber que caminhos tomou. Como referimos acima, o
que é determinante para explicar um sistema aberto é a compreensão das regras de
organização, mais do que as suas condições iniciais, ou eventualmente a sua
"história".
Com efeito a abordagem histórica e retrospectiva de um determinado sistema psicos-
social é sempre mediatizada pela sua organização actual. Esta é uma ideia que põe
largamente em causa os pressupostos sobre que assentam as intervenções tradicio-
nais, essencialmente baseadas em dados de tipo histórico e retrospectivo. Não
queremos dizer que os dados do passado não possam ter um certo interesse na
compreensão do funcionamento de um determinado sistema inter-relacional. Se nos
ocupamos de um determinado sistema, por exemplo as relações escola/família, e
observamos a forma como as pessoas interagem, podemos obter dados de tipo
contextual, e podemos recolher informação relativa ao contexto social, económico,
cultural, comunitário e histórico e integrar as nossas observações nesses dados. O
que não podemos é defini-los como base causal dos fenómenos observados.
Este conceito de equifinalidade tem um enorme interesse prático na medida em que
vai implicar determinadas formas intervenção sistémica. Com efeito se usarmos
unicamente um modelo de causalidade genética corremos um risco muito grave que
é o de perder de vista o que é novo em termos de funcionamento sistémico, isto é,
aquilo que acontece como fruto da criatividade de alguém num determinado
A UTO-REGULAÇÃO
Vimos já que o estudo dos sistemas vivos, seja de tipo biológico seja de tipo psicosso-
cial, como sistemas abertos envolve dois tipos de questões: primeiramente questões
ligadas à sua estrutura, que apontam para a vertente estática das interacções intersis-
témicas, para a estabilidade e conservação do sistema; em segundo lugar questões de
tipo dinâmico, relativas às flutuações e variações do sistema no tempo. Podemos
assim perceber a existência de duas tendências igualmente indispensáveis à sobrevi-
vência do sistema: — uma tendência para a estabilidade (morfoestase) e uma
tendência à transformação (morfogénese). Ao estado de equilíbrio entre estas duas
tendência chamaram os estudiosos dos processos cibernéticos homeostase. O
equilíbrio homeostático como se sabe é mantido através das trocas que o sistema
estabelece com o seu ambiente. O modelo básico é o de um processo circular no qual
uma parte da saída (output) do sistema é reenviada de volta, como informação, para a
entrada, tornando assim o sistema auto-regulador, quer no sentido da manutenção
de certas variáveis quer na direcção para uma meta desejada. O modelo físico mais
conhecido deste processo é o do termóstato e de todo o tipo de servomecanismos
construídos pela cibernética. Este modelo de causalidade circular constitui a maior
contribuição da cibernética para as ciências do comportamento. Como refere
Watzlawick (1973 p.26):
"A compreensão de que a informação a respeito de um efeito, se for adequadamente
retroalimentada garantirá a estabilidade deste e a sua adaptação às mudança
ambiental, não só abriu as portas para a construção de máquinas de ordem
superior (isto é, de erro controlado e orientadas para uma meta específica) e levou
à postulação da cibernética como uma nova epistemologia, mas também propor-
cionou vislumbres completamente novos do funcionamento dos sistemas de
interacção muito complexos, na biologia, psicologia, sociologia, economia e outros
domínios."
Aspectos Introdutórios
Antes de avançarmos para uma definição mais precisa da abordagem sistémica no
campo particular da relação educativa pensamos ser importante reflectir um pouco
sobre algumas ideias e conceitos fundamentais que suportam esta forma de ver e
interpretar a realidade educativa. Trata-se de uma tarefa não isenta de dificuldades
na medida em que não temos ainda uma lista desses conceitos que ofereça o
necessário acordo e consenso entre os especialistas nesta área.
Com efeito o pensamento sistémico é ainda uma novidade nos campos da psicologia
e educação e até um pouco difícil de apreender para um raciocínio fundado no
realismo ingénuo característico do pensamento convencional de tipo ocidental. Por
outro lado muitas das ideias importadas para o campo das ciências humanas tiveram
a sua origem em ciências que, como a física, têm uma abordagem diferente das
questões e da investigação empírica. Naturalmente que se lermos com atenção a
maior parte dos autores nesta área acabamos por seleccionar alguns temas funda-
mentais, contudo dada a variedade de vias seguidas para chegar a uma apreciação
das possibilidades das ideias sistémicas não é de surpreender que cada autor tenha
chegado a uma definição que acaba por salientar determinados temas deixando
outros de lado.
A nossa opção não é naturalmente uma excepção. À medida que escrevemos senti-
mos que muitas outras considerações poderiam ser levadas em conta, contudo, como
o nosso objectivo principal é, em vez de apresentar um modelo acabado e, até certo
ponto, fechado, estimular o raciocínio dos estudantes nesta matéria, esta limitação
acaba por ter as suas vantagens. Muitos dos conceitos agora desenvolvidos foram já
referenciados nas páginas anteriores e por isso devem ser já de alguma forma
familiares, trata-se agora de os abordar de uma forma mais circunstanciada, suge-
rindo ao mesmo tempo sugestões acerca de possíveis desenvolvimentos nomeada-
mente no que diz respeito à realidade educativa.
Este conjunto de temas foi naturalmente retirado de alguns autores importantes
nesta área e abordam algumas perspectivas básicas relativamente a questões relacio-
nadas com a linguagem, epistemologia, linearidade, causalidade, formas de raciocínio, totali-
dades, padrões e regras, modelos dinâmicos, mudança descontínua e histórias. Todos estes
temas estão interligados e muitas vezes torna-se difícil falar de um separadamente
dos outros, contudo esta é uma característica inerente a todo o pensamento sistémico
e não há como fugir dela. Considerando que este é, ao fim e ao cabo um problema de
linguagem, talvez seja começar mesmo por este tema.
Linguagem
O linguista Benjamin Whorf (1941) postulou que a noção da realidade das pessoas
não poderiam ser minimamente coincidentes a não ser que falassem a mesma
linguagem10, isto porque, num certo sentido, a realidade é construída através da
linguagem. Trata-se de uma afirmação ousada, que, apesar de ser apoiada por
muitos pensadores reputados, não deixa de fazer sorrir muitas vezes o homem da
rua. Com efeito, a ideia de que a linguagem de acerta forma cria a realidade, em vez
de ser um mero reflexo, uma expressão, dessa realidade parece à primeira vista
demasiado idealista para o nosso pensamento positivista ocidental levado a pensar
que uma árvore existe da mesma forma quer lhe chamemos uma árvore ou uma
"revoár".
Contudo, um conjunto cada vez mais vasto de autores contemporâneos têm vindo a
defender que linguagem e conhecimento, ou compreensão, eram dois aspectos do
mesmo fenómeno no sentido em que a linguagem de alguma forma reflecte o nosso
entendimento da realidade. Um autor importante nesta área, Harley Shands (1971),
10 Para efeitos da reflexão sobre este tema utilizamos o termo "linguagem" como referindo-se
à linguagem verbal, falada ou escrita.
refere que "com as palavras, os seres humanos lançaram-se à conquista da natureza — não
sem antes terem pago o preço de, inconscientemente, (no passado mais longínquo) se terem
submetido à ocupação do seu próprio espaço pessoal pelo sistema linguístico em que nós
acabámos por nascer." Shands pensa que dar um nome a uma coisa é uma forma de
"parar o movimento". Com efeito, a forma como nomeamos as coisas levam-nos a
pensar que aquilo a que damos um nome se torna estático. As línguas ocidentais, em
particular tendem a enfatizar os objectos e, por isso, assumimos que os objectos são
relativamente permanentes. Contudo, nas fases iniciais do desenvolvimento da
linguagem, como na apreensão da língua pelas crianças, tendem a concentrar-se mais
na acção, no movimento e é só quando foram desenvolvidos sistemas mais sofistica-
dos de linguagem que começou a predominar a definição dos aspectos mais concre-
tos e estáticos da realidade.
Por isso, palavras e conceitos são realidades inseparáveis. Muitas vezes temos a
sensação de algo que não conseguimos por em palavras e somos levados a pensar
que estamos aqui perante um pensamento sem palavras, contudo, como muitos dos
nossos professores nos ensinaram, se não conseguimos explicar (traduzir em
palavras) é porque não compreendemos.
O nosso conhecimento da realidade é um conhecimento simbólico. Ao contrário do
reino animal nós não temos que lidar com o mundo à nossa volta unicamente numa
base sensorial e experiencial. Nós utilizamos a linguagem que nos foi dada — e que
nós próprios criamos — para dividir o mundo em partes, e essas partes formam a
nossa noção da realidade. Ora, uma parte importante desta questão é o de que o
número de partes em que temos que dividir um determinado aspecto da realidade
está intimamente dependente da nossa relação com essa realidade, nomeadamente a
importância que esse aspecto tem no nosso mundo, ou em que medida dependemos
dele para a nossa sobrevivência. Talvez um exemplo nos ajude a compreender isto.
Tomemos a realidade “neve”. Todos nós sabemos o que é neve, mesmo que alguém
nunca tenha visto cair neve "ao vivo" já viu na televisão ou no cinema, de tal forma
que, em contacto com essa realidade não teríamos dificuldade em reconhecer essa
realidade "isto é neve!" e nada nos pareceria mais concreto, mais objectivo, mais real!
Contudo, estranhamente para um esquimó, esta realidade "neve" não existe. Não
existe porque simplesmente eles não têm uma palavra para designar a realidade
global "neve", mas, em vez disso têm dez palavras para designar aquilo que para nós
é neve11. Para nós neve é uma coisa simples na medida em que a distinção entre os
vários aspectos desta realidade não é muito importante para nós, que não vivemos
normalmente no meio da neve. Mas, para os esquimós, em cujo ambiente a neve é
uma constante, tornou-se necessário dividir a realidade "água gelada que cai do céu"
11 Os gauchos argentinos, por exemplo, têm 250 pa lavras para se referirem à cor de um
cavalo.
num maior número de partes: — neve acabada de cair, neve que não foi pisada, neve
muito pisada, etc.., e a cada uma dessas "fatias da realidade" atribuíram um nome.
Para além da digitalização12 da nossa linguagem e, por isso, igualmente a nossa reali-
dade, que nos leva a apreender a realidade como composta de entidades separadas,
Shands chama ainda a atenção para o facto de que a "linguagem nos prescreve uma
organização linear dos dados da realidade em sequências discursivas". Inconscien-
temente subjugados pela linguagem aceitamos e reforçamos a noção segundo a qual
o universo está organizado na base de um tipo de causalidade linear em que a uma
causa se segue um determinado efeito. Considerando que a linguagem requer um
sujeito (aquele que realiza a acção) e um predicado (aquele que sofre, ou sobre quem
se realiza, a acção) nós acabamos por utilizar esta mesma estrutura para a compreen-
são do mundo à nossa volta. Para além desta característica sintáctica existe ainda
uma característica de tipo semântico que contribui igualmente para uma noção de
linearidade. Bateson pensa, com efeito, que a utilização dos verbos ser e ter, apesar de
se revelarem satisfatórios para a vida do dia a dia não são mais adequados quando
entramos no campo mais exigente da ciência e da epistemologia. Nós habitualmente
referimo-nos às coisas como tendo certas características e, por isso, sendo de uma
certa maneira: "O lápis é de madeira e grafite", "Aquele adolescente tem borbulhas na
cara", etc., contudo ao fazermos isto estamos implicitamente a isolar esses elementos
e a tratá-los como se eles fossem todos independentes. Sendo assim, se quisermos
evoluir para uma perspectiva sistémica temos que de alguma forma tentar diminuir a
nossa dependência destes verbos, o que, na verdade é mais fácil dizer do que fazer! É
por isso que a aprendizagem do raciocínio sistémico é uma tarefa para realizar em
interacção com outros, através da discussão e reflexão conjunta. Mas, que verbos
utilizar em alternativa? Existe um conjunto de expressões que se podem revelar
substitutos mais adequados a ter e ser, por exemplo, mostrar, revelar, demonstrar, exibir,
indicar, evidenciar, manifestar, parecer, etc.. Em vez de dizer "Aquela criança é teimosa",
"O indivíduo A tem medo de B", Poderíamos dizer "Aquela criança mostra-se
teimosa"; " O indivíduo A mostra medo de B", e, ao fazer isto estamos a deixar de
atribuir uma característica fixa a um indivíduo concreto para passarmos a referir
uma circunstância dependente de um conjunto de condições que podem mudar de
um momento para o outro, e, assim, abrir caminho para perceber a importância dos
factores relacionais no comportamento individual.
Fica assim claro que esta forma de encarar a relação entre linguagem e realidade nos
coloca no centro de um problema epistemológico, mas antes que entremos propria-
mente na questão epistemológica, importa tirar algumas conclusões para o pensa-
mento sistémico desta reflexão sobre a linguagem.
12 Para compreender melhor este conceito de linguagem digital, consulte mais adiante o
capítulo dedicado à axiomática da comunicação nomeadamente no que diz respeito à
distinção entre linguagem digital e linguagem analógica.
Epistemologia
Se o problema fundamental da abordagem sistémica tem a ver com uma forma de
apreensão da realidade, então a questão epistemológica apresenta-se aqui como uma
questão fundamental. Enquanto que a linguagem é a ferramenta principal para a
nossa capacidade de compreensão, a problemática epistemológica é fundamental se
quisermos alterar as nossas formas de pensar.
A Epistemologia, como todos sabemos, é uma disciplina da Filosofia que se dedica à
formulação de teorias que nos permitam chegar a uma compreensão da natureza,
condições, limites e regras que regem o nosso conhecimento. Todos nós, na medida
em que somos capazes de reflexão, isto é, capazes de ter alguma consciência do nosso
próprio conhecimento e a pensar sobre o nosso pensamento, (meta-cognição) natu-
ralmente que, de uma forma mais ou menos explícita, temos algumas ideias a este
respeito.
No seu início, a epistemologia e a psicologia cognitiva foram dominadas por aquilo
que alguns autores designaram por "dogma da imaculada percepção". Nesta
perspectiva o organismo seria um receptor passivo de estímulos, de dados dos
sentidos, de informações, vindas de objectos exteriores. Estas informações sensoriais
iriam formar as percepções que seriam assim uma cópia, mais ou menos fiel do
mundo exterior.
Nos séculos XVII e XVIII, alguns pensadores eminentes como Hume e Kant deram a
sua contribuição no sentido de ajudarem o pensamento ocidental a afastar-se daquilo
que tem sido designado por realismo ingénuo 14. Mais recentemente, no campo mais
formalizado da Filosofia as questões epistemológicas têm gerado enorme controvér-
sia, especialmente nos últimos 25 anos, em que os enormes avanços no campo das
ciências físicas, de alguma forma vieram reavivar o interesse pelas questões episte -
mológicas. Referimo-nos nomeadamente ao princípio de incerteza de Heisenberg
que, no campo do infinitamente pequeno, mostrou claramente que a observação de
um fenómeno interfere decisivamente no comportamento desse fenómeno de tal
forma que nunca poderemos conhecer a exacta natureza de um processo se ele não
14 O realismo ingénuo é uma posição epistemológica em que assume que nós vemos,
ouvimos, tocamos, etc., é a realidade concreta tal e qual, existindo assim uma perfeita
correspondência entre a realidade exterior e o conhecimento que temos dela.
15 Piaget foi, com efeito, um dos autores que melhor desenvolveu este modelo neste século.
Partindo de uma posição epistemológica claramente interaccionista Piaget deixou-nos uma
análise brilhante do processo cognitivo sublinhando que esse processo auto-regulador,
evolui no sentido da equilibração das estruturas cognitivas. Este processo dialéctico (ou
melhor, cibernético) assenta sobre dois sub-processos (invariantes funcionais): a
assimilação e a acomodação. A assimilação refere-se às modificações que o sujeito realiza
nos dados da realidade de forma a integrá-los nos seus esquemas cognitivos. A
acomodação, por outro lado, refere-se às modificações dos próprios esquemas como
resultado da integração de novos dados da realidade.
Circularidade/Recursividade
Como vimos atrás, a nossa linguagem está estruturada de forma linear o que faz com
que pensemos em certas noções básicas como tempo, espaço e crescimento, essen-
cialmente em termos de linearidade. O tempo anda para a frente, esperamos que as
crianças cresçam para cima, e as nossas sociedades organizam-se na base de uma
distribuição linear do poder. Esta forma linear de construir a realidade está de tal
forma enraizada na nossa cultura que so muito dificilmente conseguimos imaginar
que outras formas de lidar com o mundo à nossa volta possam ser possíveis. Mesmo
no contexto de uma epistemologia sistémico, ou ecossistémica, quando tentamos
libertar-nos da dependência do constructo de linearidade, chegamos à noção de
circularidade, um conceito que está claramente definido no contexto da ideia funda-
mental de linha — um círculo é uma linha curva que se liga a si própria.
Esta ideia de circularidade esta intimamente ligada ao conceito de retroacção
(feed-back ou recursividade) que abordámos no contexto do estudo das propriedades
de um sistema. Um fenómeno de tipo recursivo é o produto de uma retroacção
multidireccional que ocorre quando determinadas partes de um sistema entram em
interacção num dado contexto espacio-temporal. No campo específico das relações
humanas qualquer acontecimento pode ser perspectivado simultaneamente como
produto da experiência e da previsão. Mais concretamente, qualquer acção concreta
de qualquer pessoa num sistema humano é determinada ao mesmo tempo a) pela
experiência dessa pessoa, quer dizer, aquilo que aconteceu no passado; b) pelo
presente, quer dizer o estado particular dessa pessoa nesse momento (motivação,
Causalidade
Como afirma Delattre (1982, p. 53) a ciência moderna construiu-se a partir do
princípio explicativo das relações de causa-efeito, sendo o primeiro termo entendido
no sentido de causas eficientes (Aristóteles) ou antecedentes (Mill). Esta forma de
entender a "causa das coisas" parece tão natural ao espírito humano que este tende,
por consequência lógica, a eliminar qualquer outra forma de explicação. Por isso,
muito daquilo que dissemos sobre linearidade, linguagem e epistemologia pode
igualmente aplicar-se à noção de causalidade. No quadro de referência em que nos
situamos descrever os acontecimentos em termos de causalidade é somente uma das
formas de conceber as coisas. A identificação dos princípios de causalidade tem uma
função prática no contexto do dia a dia assim como em determinadas áreas da
ciência, especialmente nas áreas mais ligadas à tecnologia. A abordagem sistémica
sugere, contudo, que a dependência de uma definição causal dos fenómenos não é o
16 Isto à partida pode parecer muito difícil, mas, se repararmos, quando observamos o
comportamento de uma pessoa numa situação específica, por exemplo, uma bailarina,
normalmente retiramos uma sensação global da sua actuação, somos capazes de perceber
se foi mais harmonioso ou mais desequilibrado; mais enérgico ou mais suave; mais
expansivo ou mais retraído, etc.., isto sem nos termos detido na observação dos
movimentos particulares das pernas, dos braços, do tronco, da cabeça. Quando
Formas de Raciocínio
O raciocínio dedutivo tem, desde Aristóteles, constituído o padrão através do qual a
validade do pensamento tem sido aferida. Com efeito, apesar de sabermos hoje que
existem formas de raciocínio igualmente válidas em determinadas circunstâncias
para além da lógica aristotélica muitos dicionários estabelecem ainda o raciocínio
dedutivo como a única forma válida de obter conclusões válidas e definitivas. O
raciocínio dedutivo está estruturado de uma forma linear procedendo sempre de
uma asserção geral para uma conclusão relativa a um caso particular. A representa-
ção clássica do raciocínio dedutivo está contida no silogismo, sendo o mais conhecido
provavelmente o seguinte:
Todos os homens são mortais.
Pedro é Homem.
Pedro é mortal.
Apesar do formalismo aparente deste raciocínio o facto é que todos os dias nós
orientamos o nosso quotidiano de acordo com raciocínios deste tipo, por exemplo:
Todos os Domingos há futebol
Hoje é Domingo.
Hoje há futebol.
Contudo, à medida que o empirismo foi ganhando relevância nos pensamento dos
séculos XVII e XVIII, outra forma de raciocínio foi sendo progressivamente utilizada
— o pensamento indutivo, ou indução. Apesar de estarmos ainda em presença de
uma forma de raciocínio linear, o raciocínio indutivo procede numa direcção
diferente do silogismo aristotélico. Com efeito, a indução chega à definição de
conclusões gerais partindo da observação de casos particulares.
Este método nasceu, por isso, da necessidade de dar sentido à enorme quantidade de
informação resultante do desenvolvimento que as ciências baseadas na observação
tiveram neste período17. É nesta altura que o conhecimento verdadeiro começou a ser
observamos um grupo o que temos a fazer é expandir esta noção de todo que temos
relativamente ao corpo humano, para o grupo.
17 É hoje reconhecido que os portugueses, com as descobertas resultantes das viagens
marítimas dos sec. XVI e XVII, tiveram um papel importante neste processo. Com efeito, ao
descobrirem novas terras, com novos povos, animais e plantas, fizeram surgir a
necessidade de estudar essas novas realidades que, até então, se supunha não existirem, ou
eram imaginadas a partir de preconceitos filosóficos e religiosos de uma forma distorcida.
O Todo e as Partes
"O Todo é maior que a soma das suas partes". Poderíamos reunir nesta frase toda a
fundamentação da epistemologia sistémica. Esta evidência, se bem que relativamente
imprecisa, resultou da nossa incapacidade em compreender perfeitamente o que se
passa quando elementos, que pensamos conhecer bem "em si mesmos", se integram
em sistemas mais ou menos complexos.
A reflexão precedente sobre as questões da linguagem, epistemologia, linearidade,
causalidade e lógica tem tido como pano de fundo uma orientação para o todo mais
do que para as partes. Preocupámo-nos igualmente em tentar utilizar um tipo de
linguagem que:
a. tende a concentrar-se na abordagem dos todos organizados;
b. adopta um enquadramento não linear que permita manter intacta a
integridade das entidades naturais;
c. fala em termos da circularidade das influências recíprocas dentro de um
sistema.
Todas estas abordagens têm como finalidade última proteger a unidade e coerência
do sistema que está sob observação, isto porque, segundo a perspectiva sistémica, se
dividirmos uma unidade social natural como por exemplo, uma família ou uma sala
de aula em partes separadas, perdemos de vista aquilo que caracteriza e define o
sistema enquanto tal, que são precisamente as relações entre os seus elementos.
Mais uma vez, este objectivo de focalizar a nossa atenção no sistema em vez das
partes pode oferecer algumas dificuldades para a nossa mente treinada no tradição
analítica. As sugestões de observação que fizemos atrás quando discutíamos o
problema da causalidade podem ser adoptadas aqui com a finalidade de observar
unidades múltiplas como por exemplo um grupo de trabalho, uma sala de aula, uma
família a jantar, etc. enquanto todos organizados e não somas de elementos. Uma
outra sugestão poderá ser identificar uma relação específica, como por exemplo a
relação entre duas crianças numa sala, e observá-la durante algum tempo, com o
objectivo de descrever os padrões de comunicação, verbal ou não verbal ou ambos,
devendo, contudo, ter sempre em atenção que estamos a observar uma relação e não
cada criança em particular. Isto pode ser uma constituir um sério desafio, especial-
mente para um observador inexperiente, mas, com alguma disciplina e força de
vontade poderemos verificar que este tipo de abordagem é susceptível de oferecer,
para além de novas formas de descrição, muita e interessante informação sobre o
funcionamento global dos grupos humanos. Em vez de notar, por exemplo, que
"quando ela faz isto, ele faz aquilo..." começamos por descrever processos repetitivos
que são característicos do todo. Podemos, por exemplo, ver alívio, confusão, medo;
este tipo de perspectivas é extremamente valioso tanto do ponto de vista da descrição
como da intervenção sistémica.
Padrões e Regras
Um padrão é um arranjo determinado e identificável de relações, um todo organizado que
pode ser identificado como um todo; quer dizer, uma forma de acção relativamente
estável e invariável. Torna-se, assim, óbvio que a ideia de padrão é complementar à
ideia de regra. Podemos definir regras como sendo padrões de comportamento prescritos
de forma mais ou menos formal. Podem ser códigos definidos formal e explicitamente
ou meros costumes. As regras regulam os padrões de relacionamento dentro de
sistemas humanos, tais como famílias, clubes, turmas, etc..
As ideias de padrão e de regra são semelhantes, mas não são redundantes. No
sentido em que usamos aqui o conceito de regra, assumimos que são o produto da
comunicação humana — definem códigos de conduta para os seres humanos — por
isso, a regra é uma versão específica do padrão para os seres humanos. Quando
conseguimos identificar os padrões de comportamento, verbais ou não verbais,
típicos de um determinado sistema, estamos em óptimas condições para intervir de
uma forma que permita ao sistema alterar aqueles padrões que suportam alguns
comportamentos mais problemáticos.
Continuidade e Descontinuidade
nos Processos de Mudança
As nossas crenças sobre os processos de mudança foram naturalmente determinadas
pelas concepções gerais acerca do mundo em que vivemos. Com efeito uma perspec-
tiva analítica e positivista, buscando conhecer a natureza objectiva das coisas podia
conceber um único tipo de mudança — uma mudança essencialmente de tipo quanti-
tativo, normalmente gradual e num sentido progressivo18.
Mais recentemente alguns pensadores sistémicos têm mostrado que certos tipos de
transformações não são o resultado de pequenas mudanças graduais em determina-
dos parâmetros essencialmente de tipo quantitativo. Estes autores chamam a atenção
para um tipo de mudança em termos qualitativos que ocorre de forma súbita e
espontânea, emergindo de um conjunto particular de condições, tanto no mundo
físico como social. Normalmente o que acontece é que por condicionalismos interio-
res ou exteriores ao sistema os padrões e regras que mantinham o funcionamento
sistémico até aí começam a não serem capazes de dar resposta em termos adaptativos
começando a aparecer flutuações, ou seja pequenos desvios, face aos padrões
habituais.
Chegados a este ponto várias coisas podem acontecer: — o sistema pode desmem-
brar-se e acabar enquanto tal; pode desenvolver um conjunto de regras para
controlar as flutuações; ou pode "dar o salto" para uma norma forma de organização
sistémica. Esta última possibilidade ilustra uma forma de mudança de tipo qualita-
tivo e, por isso, descontínua.
A COMUNICAÇÃO HUMANA
Aspectos Gerais
A literatura e o cinema têm-nos proporcionado algumas descrições, porventura
dramáticas, de situações de incomunicabilidade absoluta ou relativa (entre brancos e
índios, ou entre humanos e extra-terrestres). Face a isto poderemos ser tentados a
pensar que o problema é, nesses casos, a falta de uma linguagem comum (ou um
código), como quando alguém se encontra num país estrangeiro e ignora a língua que
aí se fala.
Esta noção é, contudo, insatisfatória na medida em que não nos permite compreen-
der a frequência com que ocorrem desentendimentos entre pessoas que falam efecti-
vamente a mesma língua e supostamente partilham até a mesma cultura. A crença
ingénua de que qualquer diálogo tem um princípio e um fim evidentes, que as
mensagens trocadas são objectivas e compreensíveis, e que cada interlocutor
responde ao que o outro disse pode não se verificar na realidade, ou pelo menos não
ter o mesmo entendimento dos dois lados.
Se repararmos bem, em qualquer discussão cada pessoa acha que a outra não tem na
devida conta os seus argumentos; em qualquer conflito é convicção de cada um que
foi o outro a abrir as hostilidades; e em qualquer das situações ambos se reservam o
direito (ou o dever) de dizer a última palavra. Isso acontece porque cada um está
convencido da sua razão, e tenta convencer o outro; e se essa razão Lhe não é
reconhecida, é provável que tire daí as devidas conclusões: naturalmente acerca da
personalidade do outro e da relação que existe (ou existia) entre ambos.
Neste capítulo são abordados problemas deste género a propósito da comunicação
interpessoal. Uma ideia central é que as pessoas estão frequentemente mais interes-
sadas em convencer os outros (isto é, impor-lhes as próprias opiniões) do que em
compreender os outros (isto é, aceitar os seus pontos de vista).
Bem vistas as coisas, se o ter razão tende a ser mais importante para as pessoas do que
o próprio conteúdo do seu discurso, é porque Lhes dá direito a dizer a última pala-
vra, que é o mesmo que dizer ficar por cima ou dominar (Dionne & Ouellet, 1990).
Graças, por um lado ao seu rigor conceptual, por outro à sua simplicidade, este
modelo foi igualmente adoptado como enquadramento geral para o estudo da
comunicação nas ciências sociais. Se bem que tenha sido objecto de muitas alterações
e adaptações manteve, contudo o seu núcleo central à volta da noção de emissor —
receptor. Torna-se, assim, claro que o modelo do telégrafo acabou por impregnar deci-
sivamente o estudo da comunicação humana, de tal forma que nos parece legítimo
que possamos falar de um modelo telegráfico da comunicação.
Contudo, durante os anos 50, no momento em que o modelo telegráfico adquire uma
posição dominante na reflexão teórica sobre a comunicação, alguns investigadores
americanos tentaram começar do zero no que diz respeito ao estudo do fenómeno da
comunicação interpessoal, sem passar por Shannon19. Apesar de terem origens disci-
plinares diferentes este grupo de investigadores partiu de uma posição comum que
era a oposição à utilização em ciências humanas do modelo de comunicação de
Shannon e Weaver, isto porque entendiam que este modelo tinha sido concebido por
e para engenheiros de telecomunicações e não poderia ser utilizado no campo
específico da comunicação interpessoal. Defendiam ainda que a utilização do modelo
telegráfico em antropologia ou em psicologia levou ao ressurgimento de concepções
ultrapassadas ligadas à psicologia filosófica sobre a natureza do Homem e da
comunicação. Segundo eles a concepção da comunicação entre dois indivíduos como
transmissão de uma mensagem sucessivamente codificada e depois descodificada
pressupõe uma concepção do psiquismo humano como algo encerrado dentro de um
corpo, emitindo pensamentos sob a forma de palavras, sendo assim o acto
comunicativo reduzido a um acto verbal, consciente e voluntário.
As ciências humanas deveriam, assim, procurar um modelo comunicacional mais
adaptado à sua realidade. Um dos primeiros passos nesse sentido foi partir da
determinado pelo impulso recebido (em concorrência com outros factores físicos como
sejam certas características da pedra e do terreno). O comportamento do cão é menos
previsível, mas não é de excluir que ele se volte para trás e morda o agressor. A
diferença fundamental entre as duas respostas, segundo Watzlawick, está em que no
primeiro caso o movimento realiza-se com a energia transferida do pé para a pedra,
enquanto no segundo caso, a mordedura, realiza-se com a energia própria do cão.
Quer dizer, enquanto o comportamento da pedra responde à transferência de energia,
o comportamento do cão responde, a uma transferência de informação. É isso a comu-
nicação. Quer isto dizer que se a pedra reage directamente e de forma linear (quanto
mais força, mais deslocamento) à energia recebida, no segundo caso a informação
recebida pelo cão vai ser analisada no contexto da relação com o homem e com a
situação, dependendo a sua resposta dessa análise.
Estamos, assim, perante um sistema não apenas circular (porque inclui um feedback),
mas interaccional, no sentido de que cada actor se assume simultaneamente como
emissor e como receptor. Numa perspectiva interaccional-sistémica não podemos
afirmar que um indivíduo comunica o que quer que seja — os indivíduos não comuni-
cam, mas participam em processos de comunicação. Cada um de nós pode movimen-
tar-se, fazer ruído, mas não comunica. Podemos ver, podemos ouvir, sentir, saborear,
mas não comunicar. Por outras palavras, se comunicação significa "pôr em comum"
este processo não pode rigorosamente ser definido como tendo uma origem
individual, podemos ser participantes, mas autores de comunicação. A comunicação,
enquanto sistema não deve ser, então, concebida sobre o modelo elementar da acção
e da reacção, por mais complexo que seja a sua concepção, mas deve ser apreendida
ao nível da troca, da interacção.
É frequente, para analisar as propriedades comunicativas dos diferentes sistemas,
começar por distinguir entre comunicação verbal e comunicação não-verbal. Tal distin-
ção, que tem por critério fundamental o suporte material da mensagem, privilegia de
facto o código linguístico, opondo-o ao conjunto de todos os outros sistemas. Por
outro lado, esta classificação junta na mesma categoria signos de natureza tão diversa
como corar ou tremer (expressões espontâneas incontroláveis) e acenar ou menear a
cabeça (gestos voluntários e convencionais, equivalentes a signos linguísticos).
Note-se, para finalizar, que o sistema interaccional, quase sempre encarado, na
análise psicológica, como um sistema quase-isolado (situado num contexto donde não
pode vir senão algum ruído), é na realidade atravessado por outros sistemas de comu-
nicação. Cada um dos interlocutores encontra-se integrado numa imensa rede (Serres,
1969) por onde circulam permanentemente informações. Os circuitos integrados
nessa rede não se situam sempre ao nível interpessoal ("de alguém para alguém").
Existe também o "diálogo" interior que é comunicação ao nível intra-pessoal (de si
para si); e há ainda informações que são transmitidas ao nível grupal (de um para
muitos); e até ao nível cultural (de muitos para muitos), seja entre grupos distancia-
A Bases da Comunicabilidade
Mas a comuicação só é possível se algo de comum existe já no conhecido ou no "vivido"
de ambos. Por outras palavras, a ausência absoluta de elementos comuns nas experiências de
dois indivíduos coloca-os numa situação de incomunicabilidade e se têm pouco de comum
entre si, as suas possibilidades de comunicação são proporcionalmente limitadas.
As diferenças individuais — as de ordem psicológica e, sobretudo, as de natureza
sócio-cultural — são habitualmente apontadas como as grandes responsáveis pela
redução dessa plataforma comum que é a base da comunicabilidade humana. A
verdade é que entre dois indivíduos, ainda que partilhem a mesma cultura e se
exprimam no mesmo idioma, há necessariamente algumas diferenças limitadoras da
compreensão recíproca: na quantidade e qualidade dos conhecimentos, nas repre-
sentações do mundo físico e social, nos quadros de referência, nos valores, etc.
Estas diferenças podem, em casos extremos, gerar uma autêntica incompatibilidade de
esquemas, que faz da comunicação um "diálogo de surdos". E não se pense que esta é
apenas uma hipótese académica: as discussões alimentadas pela oposição de credos
(ideológicos ou científicos) ou de paixões (religiosas, políticas ou clubistas) consti-
tuem exemplos elucidativos desse obstáculo a uma comunicação eficaz. Outras
dificuldades, porém, têm origem nas características do código utilizado. A própria
linguagem verbal, sendo um código altamente elaborado e convencionado, possui
algumas limitações semânticas (por exemplo, certos estados emocionais são difíceis
de exprimir por palavras). Mas os riscos de ambiguidade aumentam quando a
comunicação se faz predominantemente através de formas menos estruturadas e
convencionadas de comunicação não-verbal, como é o caso da linguagem do corpo.
A comunicação recíproca contingente é, porém, a essência da interacção social. Só há
interacção na medida em que os participantes trocam entre si mensagens significati-
vas, de tal modo que o comportamento de um depende sempre (em parte) do
comportamento anterior do outro e influência o seu comportamento subsequente.
Como vimos anteriormente, os comportamentos humanos só podem ser portadores de
significado na medida em que existir um código, isto é, um corpo de regras que sirva
para os seleccionar e organizar e interpretar.
Quando se aborda este tema, é natural que se pense imediatamente na linguagem. A
própria psicologia tem dedicado particular atenção ao estudo dos códigos linguísti -
cos (linguagem verbal) e paralinguísticos (apoios, substitutos e auxiliares da
linguagem), o que deu, até, origem à constituição de disciplinas autónomas como são
a psicolinguística (processos psicológicos subjacentes ao uso da língua) e a psicologia
social da linguagem (comportamentos do sujeito falante), a par da psicologia da comuni-
cação não-verbal (em que se destaca a linguagem do corpo). Os códigos linguísticos e
paralinguísticos são, porém, apenas dois exemplos de códigos lógicos, que são utiliza-
dos para significar a experiência objectiva e a relação do homem com o mundo
(Guiraud, 1973). A este grupo pertencem também dois outros tipos de códigos, de
muita importância individual e social porque têm por função, respectivamente,
representar a própria realidade (códigos epistemológicos) e coordenar as acções das
pessoas (códigos práticos). Pertencem à primeira categoria (códigos epistemológicos)
os códigos científicos, altamente convencionais e restritivos, rigorosos e claros. Mas
desempenham também a mesma função de representar a realidade, as mânticas, que
incluem artes de adivinhação e meios de comunicar com os deuses, o além e o
destino (Guiraud, 1973), e de que são exemplos a astrologia, a quiromancia, a oniro-
mancia, a cartomancia, etc. Note-se que alguns destes códigos, originariamente
ligados ao "pensamento primitivo", têm evoluído no sentido de se aproximarem de
códigos científicos.
Quanto aos códigos práticos, que se incluem ainda no grande grupo dos códigos
lógicos, servem para transmitir injunções, intenções, avisos, ordens, etc., com o
objectivo de orientar os comportamentos individuais. São constituídos por signos e
programas em diversos suportes materiais (luz, cor, som, imagem), como pode
verificar se em numerosos exemplos conhecidos: códigos de circulação (rodoviária,
ferroviária, marítima, aérea), sinais de alarme, toques de clarim ou repique de sinos
(com significados diversos).
O que une os diferentes códigos lógicos é a sua função de transmitir informação
sobre a realidade exterior, percebida e racionalizada em sistemas de relações. Em
oposição a estes, estão os códigos estéticos, cuja função é comunicar a experiência
interior do indivíduo perante a mesma realidade. Inclui-se aqui não apenas a expe-
riência estética em sentido estrito, mas tudo o que o ser humano pode sentir quando é
afectado pela realidade física ou social (sentimentos e emoções em geral).
Os signos que constituem os códigos estéticos não são digitais, arbitrários e homoló-
gicos como sucede nos códigos lógicos; são, ao contrário, icónicos, motivados e analógi-
cos. Sendo imagens da realidade ou exprimindo estados do sujeito, estes signos não
podem ser inteiramente convencionados, e frequentemente escapam mesmo
completamente a qualquer convenção. O observador interpreta-os precisamente pela
sua analogia com a realidade a que porventura se referem ou com os estados
interiores que em si próprio originam expressões idênticas. O risco de erro é, por
isso, maior do que nos códigos lógicos.
Na categoria de códigos estéticos incluem-se não só todas as artes, mas também os
comportamentos afectivos em geral, e ainda as simbólicas ou códigos de símbolos.
Numa obra de arte, a realidade é por vezes representada com bastante evidência,
Comunicação e Influência
Os actos comunicativos têm normalmente por objectivo, desejado pelo comunicador,
provocar alguma mudança no destinatário, seja no seu sistema de crenças (conheci-
mentos) ou no seu estado afectivo, seja no seu comportamento externo. Mas há casos
em que alguém origina mudanças cognitivas, afectivas ou comportamentais em
alguém sem o desejar e até sem o saber; e outros casos em que a mudança efectiva-
mente provocada no outro vai num sentido diferente do que o agente pretendia.
1º Axioma:
Começamos por abordar o primeiro axioma chamando a atenção para uma proprie-
dade fundamental do comportamento que se refere ao facto de que o comportamento
não tem contrário. Dito de outra forma: — não existe qualquer tipo de não comporta-
mento, ou ainda, não podemos em ocasião alguma não nos comportarmos. Ora, se
admitirmos que numa interacção20 todo o comportamento tem um valor de
mensagem, podemos concluir que não é possível não comunicar, isto é, qualquer
comportamento na presença de outra pessoa é comunicação. Esta afirmação, se bem
que óbvia não é de forma alguma trivial.
Em qualquer situação de contacto social existe comunicação envolvendo uma multi-
plicidade de formas, conteúdos e canais. Actividade ou inactividade, discurso ou
silêncio, tudo tem um valor de mensagem. Quer dizer influenciam de alguma forma
os outros que, por sua vez, não podem deixar de reagir a essa influência, partici-
pando, assim, no processo de comunicação. Naturalmente o simple facto de ficarmos
calados num determinado momento, ou de não "ligarmos" à conversa de outra
pessoa não constitui excepção àquilo que acabámos de referir. Uma pessoa sentada
sozinha num bar cheio de gente olhando em frente, uma pessoa numa sala de espera
de um consultório que não tira os olhos de um jornal, um passageiro num avião que
permanece a maior parte do tempo recostado no seu assento de olhos fechados,
fazem todos, de forma mais ou menos eficaz, passar a mensagem de que não querem
falar com ninguém, nem estão interessados em que alguém lhes dirija a palavra; em
geral os seus "vizinhos" compreendem a mensagem e deixam-nos em paz. Ora,
podemos até pensar que há aqui mais comunicação do que em muitas discussões
acaloradas.
20 Poderia dizer-se que é possível entrar-mos em diálogo com nós próprios. É até mesmo
provável que este tipo de "comunicação interior" siga algumas das regras que regem a
comunicação interpessoal; contudo, esses fenómenos, inobserváveis, situam-se fora do
significado que é aqui atribuído à comunicação, que é sempre entendida enquanto
comunicação interpessoal.
Esta constatação não depende de outro tipo de questões como seja o grau de inten-
cionalidade, consciência ou sucesso de cada acto comunicativo. Isto é não existe só
comunicação quando esta é intencional, consciente ou bem sucedida, quer dizer se há
compreensão mútua. Nesta perspectiva estas são questões importantes, mas de outra
ordem. Quer dizer, Aquilo que o presente axioma pretende acentuar é que qualquer
que seja o tipo de comportamento exibido: actividade ou inactividade, verbalização
ou silêncio influenciam o comportamento do outro, que por sua vez não pode deixar
de reagir a esse mesmo comportamento, logo comunicando.
Concluiremos fazendo notar que até aqui temos utilizado o termo "comunicação"
num duplo sentido: por um lado designando o tema global do que temos vindo a
tratar, (a comunicação) por outro, num sentido mais específico, designando uma
unidade de comportamento (uma comunicação entre o sujeito A e o sujeito B). Importa
agora introduzir algum rigor de linguagem. Continuaremos a designar por comunica-
ção o aspecto pragmático da teoria da comunicação humana. Para referir as diferentes
unidades de comunicação (ou de comportamento) somos forçados a escolher termos
que são já de uso corrente. Uma unidade de comunicação será referida como
mensagem, ou, nos casos em que não houver confusão possível, como uma comunica-
ção. Uma série de mensagens trocadas entre sujeitos será designada por interacção.
Para além disso, se admitimos que todo o comportamento é comunicação, mesmo no
caso da unidade mais simples, torna-se evidente que quando falamos em mensagem
não nos referimos à expressão única de um indivíduo. Mensagem envolve sempre
uma troca composta por modos mais simples ou mais complexos de comportamen-
tos: — linguísticos (linguagem verbal), paralinguísticos (entoações, acentuações),
posturais, contextuais, etc., cada um deles servindo para especificar o sentido dos
outros. Os diferentes elementos de que pode ser composta uma mensagem (conside-
rada como um todo) são passíveis de permutações muito variadas e muito comple-
xas, podendo ir da congruência à incongruência e até ao paradoxo. A pragmática da
comunicação dedica-se precisamente a compreender os efeitos dessas combinações
nas situações interpessoais.
A implicação de tudo isto no contexto educativo é por demais evidente pois daqui
para a frente há a considerar todo ou qualquer elemento, mesmo aqueles a que se
não dava atenção, para compreender o processo de comunicação (ou relação) educa-
tiva. O tom de voz, o próprio silêncio, colar de pérolas ou as jeans da professora, a cor
das paredes da sala, as posturas físicas, tudo isto podem ser elementos de
comunicação.
2º Axioma:
A partir do que dissemos até agora estamos em condições de compreender que toda
a comunicação funciona a partir de um envolvimento recíproco e, por isso, define
uma determinada relação entre os elementos que participam num determinado
processo de comunicação. Por outras palavras, podemos dizer que uma comunicação
não se limita a transmitir uma informação, mas ao mesmo tempo tende a induzir um
3º Axioma
Consideremos agora uma outra propriedade fundamental da comunicação: — a
interacção entre os participantes em processos de comunicação. Para um observador
exterior uma série de mensagens pode ser considerada como uma sequência ininter-
rupta de trocas. Contudo, cada uma das pessoas, para dar sentido ao seu comporta-
mento e ao dos outros, faz aquilo que foi designado por pontuação da sequência de
factos.
23 Um dos livros de leitura da antiga instrução primária exemplificava este processo com a
seguinte frase: "Um caçador tinha um cão e o pai do caçador era também o pai do cão".
Esta frase sem pontuação não faz obviamente sentido, contudo de a pontuarmos, por
exemplo, da seguinte forma: "Um caçador tinha um cão e o pai; do caçador era também o
pai do cão", percebemos que havia um cão que pertencia tanto ao caçador como ao seu pai,
cão esse que era filho de um cão que pertencia ao pai do caçador.
tação é uma distorção grosseira e deliberada daquilo que se passa na sua relação
conjugal — ela critica o marido precisamente devido à sua passividade. Se pusermos
de lado alguns elementos circunstanciais e passageiros verificamos que as suas brigas
se resumem a uma monótona troca de mensagens deste género: "Eu afasto-me
porque tu és muito agressiva" e "Eu sou agressiva porque tu te afastas". Cada interlo-
cutor "recorta" a seu modo a sequência de mensagens em unidades
"estímulo-resposta", isto é, causa-efeito; e pode então acontecer que a mesma
mensagem seja estímulo ou causa para um (por exemplo, uma provocação), e
resposta ou efeito para o outro (resposta à provocação). Estas incompatibilidades de
pontuação não só perturbam a compreensão das mensagens, como afectam também
a relação interpessoal.
Outro exemplo deste processo pode ser quando intervimos numa briga de crianças e
perguntamos quem é que começou. Então o menino A diz: "foi ele que me deu um
pontapé! ao que o menino B responde: "não! porque tu antes tinhas-me empurrado” e
assim, ad eternum, ou até a nossa paciência se esgotar.
Um processo análogo passa-se ainda ao nível das relações internacionais, especial-
mente no que diz respeito à corrida aos armamentos. Se, como as principais
potências militares defendem, a melhor maneira de defender a paz é preparar a
guerra, não se percebe porque é que todas as nações tendem a considerar os arsenais
bélicos das nações potencialmente inimigas como uma ameaça à paz. É, contudo, isso
que acontece, o que tem tido como resultado cada uma das nações procurar
aumentar o seu poderio militar, de forma a ultrapassar aqueles países que acham que
os podem ameaçar. Este crescimento de armamento é, por sua vez, considerado uma
ameaça para a nação A, que tende a aumentar os seus armamentos defensivos, o que é
visto como uma ameaça pela nação B, que irá melhorar as suas defesas e assim por
diante...
Podemos, então formular um terceiro axioma da comunicação humana: — A natureza
de uma relação depende da pontuação da sequência de interacções entre os elementos
envolvidos na comunicação.
4º Axioma
Na comunicação humana, podemos designar os objectos de duas maneiras
inteiramente diferentes. Podemos, por um lado, representá-los por qualquer coisa
que se lhes assemelhe, um desenho, por exemplo, ou designá-los por um nome.
Assim, a frase escrita: "O gato apanhou o rato" podíamos substituir as palavras por
imagens, o que, sendo bem feito não acarretaria nenhuma perda de sentido. No
primeiro caso (utilização de símbolos linguísticos) estamos em presença de um modo
de comunicação digital, no segundo caso (utilização de analogias) estamos perante
uma forma de comunicação analógica.
Cada vez que nos servimos de uma palavra para referir uma coisa é evidente que a
relação que estabelecida entre o nome e a coisa nomeada é um relação arbitrária. As
palavras são sinais arbitrários que utilizamos de acordo com as regras da língua que
falamos. Não há nenhuma razão particular para que a junção das letras g.a.t.o sirvam
para designar um determinado animal. Trata-se de uma convenção semântica de
uma dada língua. Se falássemos francês a frase acima exemplificada tomaria a forma
de: "Le chat a attrapé la souris" utilizando palavras diferentes para dizer a mesma coisa.
Fora dessa convenção não existe nenhuma outra correlação entre uma palavra
(significante) e o objecto concreto designado (significado), com excepção
eventualmente da onomatopeias, o que não tem um significado particular. Na
comunicação analógica, pelo contrário, existe verdadeiramente algo de específico
naquilo de que nos servimos para designar um objecto determinado. A comunicação
analógica tem relações mais directas com aquilo que é representado. O exemplo
seguinte permitirá clarificar um pouco mais as diferenças entre estes dois modos de
comunicação: — se escutarmos uma língua estrangeira na rádio, não conseguiremos
compreendê-la, contudo somos capazes de deduzir algumas informações elementa-
res a partir da observação de um discurso através dos gestos e dos movimentos que
servem para assinalar uma intenção, mesmo que estejamos perante um indivíduo de
uma cultura completamente diferente. Podemos supor que a linguagem analógica
tem as suas raízes nos períodos mais arcaicos da evolução e que, por isso tem uma
validade muito mais geral que a comunicação digital, muito mais recente e abstracta.
O que é então a comunicação analógica? A resposta é relativamente simples: — Prati-
camente toda a comunicação não-verbal. Contudo é necessário termos em atenção
que muitas vezes restringimos a noção de não-verbal aos movimentos corporais. Na
definição de não-verbal, contudo, deve ser englobada a postura, gestos, mímica,
inflexões da voz, sucessão, ritmo e entoação das palavras, e qualquer outros indícios
que nunca faltam em todos os contextos nos quais ocorre uma interacção.
No estado actual de conhecimentos supomos que o Homem é o único organismo
capaz de utilizar estes dois modos de comunicação: digital e analógico. Não sabemos
ainda o significado e importância exactos deste facto, contudo, se por um lado, a
maior parte, senão todas, as obras da civilização seriam impensáveis se o Homem
não tivesse elaborado uma forma de comunicação digital, por outro, existe um
domínio vasto onde confiamos quase exclusivamente na comunicação analógica, é o
domínio da relação. Enquanto que a linguagem digital é importante no que toca à
troca de informação sobre os objectos com vista à transmissão do conhecimento, a
comunicação analógica, sendo a linguagem da emoção por excelência, serve essen-
cialmente para assinalar intenções e indicações de humor através da qual definimos a
natureza das nossas relações, mais do que para transmitirmos informação sobre os
objectos. Este modo de funcionamento está muito mais próximo do comportamento
animal, pois, por exemplo, quando me levanto e abro a porta do frigorífico se o meu
gato vem roçar-se nas minhas pernas miando suavemente, isso não quer dizer "Eu
queria leite...", que é o que os seres humanos normalmente entendem, mas, mais
correctamente, remete para um tipo especial de relacionamento: "Quero que sejas a
minha mãe...", isto porque este tipo de comportamento de roçar o corpo só pode ser
observado entre gatos juvenis e gatos adultos, nunca entre dois animais adultos.
Com efeito, muitas pessoas estão convencidas que o seu animal de estimação
"compreende" aquilo que eles dizem, mas, convém precisar que o que o animal
compreende não é o sentido das palavras, mas toda a riqueza da comunicação analó-
gica que acompanha o nosso discurso.
Com efeito, sempre que a relação é o tema em causa a linguagem digital revela-se
extremamente pobre. Isto é assim não somente no caso da interacção entre animais e
homens, mas em muitas outras circunstâncias da vida humana: fazer a corte, amar,
ajudar, combater e, naturalmente cuidar de crianças pequenas. Muitas vezes dizemos
que as crianças têm uma capacidade especial para as características de personalidade
dos adultos, o que é de alguma forma assim porque, por um lado são especialmente
sensíveis aos aspectos analógicos da comunicação e, por outro, é muito fácil iludir os
outros do ponto de vista verbal, mas é muito difícil mentir no domínio analógico. Em
resumo, se nos lembrarmos que a comunicação tem dois aspectos: conteúdo e
relação, podemos pensar que provavelmente o conteúdo tenderá a ser preferencial-
mente transmitido no modo digital enquanto que a relação é essencialmente trans-
mitida de forma analógica.
Comparemos agora algumas das características específicas da linguagem analógica e
da linguagem digital. Uma das primeiras distinções situa-se ao nível da complexi-
dade, da flexibilidade e capacidade de abstracção, que são muito maiores na
linguagem digital. Para sermos mais precisos diremos que não existe nada na comu-
nicação analógica que se possa comparar à sintaxe lógica do material digital. O que
quer dizer que a linguagem digital não possui equivalente para certas proposições
lógicas de importância fundamental como "se... então", "ou... ou", etc., sendo igual-
mente difícil, senão impossível, transmitir conceitos abstractos24.
Uma outra distinção tem a ver com o facto de a comunicação analógica, ao contrário
do código digital, não poder exprimir a negação simples, isto é, não possui uma
expressão que signifique "não". Mais concretamente, as lágrimas podem exprimir
alegria ou tristeza, um punho fechado pode ser um sinal de agressividade, força,
embaraço, um sorriso pode exprimir simpatia ou desprezo. A linguagem analógica
não contém, em si, elementos discriminantes que indiquem, perante sentidos contra-
ditórios, qual deles deverá ser adoptado; assim como não tem índices que permitam
distinguir o presente, o passado e o futuro.
Qualquer pessoa encontrando-se na obrigação de combinar estes dois modos de
comunicação tem que continuamente fazer a tradução de um no outro. Ora existem
dificuldades de tradução em ambos os sentidos. Não podemos traduzir a linguagem
digital em linguagem analógica sem uma importante perda de informação e a
5º Axioma
Em 1935 Gregory Bateson relatou um fenómeno que tinha observado na tribo dos
"Iatmul" na Nova Guiné o qual designou por esquizmogénese. Este fenómeno refere-se
a um processo de diferenciação das normas de comportamento individual no
seguimento de uma interacção cumulativa entre indivíduos. Se, por exemplo, numa
determinada cultura o modelo de comportamento apropriado para o indivíduo A for
um modelo autoritário podemos esperar que outro indivíduo B, que interaja com o
indivíduo A, adopte um modelo de comportamento culturalmente definido como
submissão. É igualmente provável que esta submissão tenda a favorecer novos
comportamentos autoritários do indivíduo A que exigirão comportamentos
submissos e assim por diante de tal forma que A se tornará cada vez mais autoritário
e B cada vez mais submisso. Este processo descreve um modelo de esquizmogénese
complementar. Se, pelo contrário, ao comportamento autoritário do indivíduo A, o
indivíduo B responde com um comportamento igualmente de tipo autoritário, é
provável que se desenvolva uma situação de competição na qual o autoritarismo
conduz a um cada vez maior autoritarismo. Esta situação foi designada por esquizmo-
génese simétrica.
Estes dois modelos que acabámos de referir mostraram ser bastante úteis em diversas
situações interaccionais de tal forma que acabaram por ser designados simplesmente
por interacção complementar e interacção simétrica. Podemos dizer que se tratam de
relações fundadas seja sobre a igualdade (simetria), seja sobre diferença (comple-
mentaridade)25. No primeiro caso, os parceiros tendem a adoptar um comporta-
mento em espelho, e por isso, a sua interacção pode ser considerada simétrica. No
segundo caso o comportamento de um dos parceiros de certa maneira complementa
o comportamento do outro e, assim, consideramos a sua interacção complementar.
Uma interacção simétrica caracteriza-se, assim, pela igualdade e minimização das
25 Naturalmente as noções de igualdade e diferença não têm aqui nenhum sentido valorativo,
servindo unicamente para descrever um tipo particular de relação. Não está implícito que,
de forma imediata, uma relação baseada na igualdade seja melhor ou pior que uma relação
baseada na diferença, e vice versa.
CONCLUSÃO
A propósito do conjunto de axiomas que acabámos de apresentar, convém fazer
algumas chamadas de atenção.
Em primeiro lugar, tratam-se basicamente de propostas, definidas de uma forma não
muito rigorosa, que se pretendem constituir essencialmente como pontos de partida
para uma reflexão global sobre os processos de comunicação humana, mais do que
um sistema conceptual perfeito e acabado.
Em segundo lugar, trata-se de um conjunto de axiomas bastante heterogéneo porque
resultam da observação de fenómenos de comunicação situadas em registos muito
variados. Se existe algum factor comum este não se situa tanto na sua origem, mas na
sua importância pragmática. Assim, a impossibilidade de não comunicar faz com que
toda a situação comportando duas ou mais pessoas seja uma situação interpessoal,
ASPECTOS GERAIS
CÓDIGO
Numa perspectiva sistémica, todo o sistema definido como uma estrutura integrada
e estável, equipada por dispositivos auto-reguladores e gozando de um considerável
grau de autonomia27 é, qualquer que seja o nível de abordagem, constituído por
regras (ou meta-regras) que vão influenciar a sua estrutura e o seu funcionamento.
O código representa precisamente o conjunto dessas regras que, por serem dotadas
de um certo grau de estabilidade, têm por função assegurar a coesão e a estabilidade
dos elementos em interacção.
26 Adoptamos, para efeitos desta reflexão, uma concepção de Escola enquanto complexo
escolar gerido de forma centralizada.
27 Por exemplo a obrigatoriedade do ensino, a definição do programas, etc..
28 Por exemplo uma determinada concepção do papel da escola na transmissão dos valores
culturais.
29 Por exemplo a escola entendida como trampolim para a ascensão social, a crença de que o
sucesso escolar depende da inteligência, etc..
30 A maior parte dos estudos sobre a instituição escolar, especialmente aqueles realizados a
um nível sociológico, têm-se limitado a analisar um dos componentes desta relação, isto é,
a forma como as crenças, valores, filosofias, influenciam as interacções e comunicações no
meio escolar, definindo assim essencialmente uma relação de tipo unidireccional. Seria
interessante, seguindo os ditames de uma rigorosa perspectiva relacional sistémica, partir
da ideia de que esta relação é de tipo circular e estudar a forma como as interacções
concretas influenciam por sua vez as concepções que os educadores fazem de um
determinado contexto educativo.
ESTRATÉGIAS
Enquanto que o código tem como função ditar as regras do jogo, as estratégias vão
representar os comportamentos concretos utilizados pelos elementos do sistema para
se adaptarem a essas regras, isto em função de toda uma série de variáveis, contin-
gências e constrangimentos exteriores.
O código tem um carácter mais geral, é relativamente constante e aplica-se a todos
aqueles que comunicam num contexto particular, num dado local e num dado
tempo, conforme ao princípio de territorialidade e temporalidade definido por
Ricci31. Por outro lado as estratégias têm a particularidade de serem específicas de
uma determinada situação interaccional ao mesmo tempo que apresentam um nível
de complexidade superior ao do código. Com efeito, à medida que as pessoas vão
interagindo as suas trocas vão-se estruturando, seguindo um princípio de equifinali-
dade, de forma coerente com as regras do funcionamento sistémico. Tornam-se assim
modelos de trocas ou padrões repetitivos ou ainda estratégias relacionais. Estas
sequências interaccionais são naturalmente observáveis e identificáveis tanto em
termos de relacionamentos intra-sistémicos como inter-sistémicos, por exemplo entre
a escola e a família.
As estratégias podem ser modificadas e, mesmo, serem objectos de mudanças: é
assim possível passar de uma relação competitiva a uma relação complementar, ou
de uma relação fusional a uma relação diferenciada, etc.. As estratégias representam
de forma geral a estrutura relacional existente entre família-professor-aluno e as
opções utilizadas por esta estrutura no quadro mais geral definido pelo código.
Para termos alguma hipótese de compreender as estratégias utilizadas num determi-
nado momento devemos ter presente que a descrição de um acontecimento deve
sempre ser feita segundo os termos da textura na qual ele se insere. Ora, como o
professor / educador faz sempre parte dessa textura ele não poderá deixar de se
incluir a si próprio como parte tanto da explicação como da resolução dos problemas
que eventualmente surjam no contexto da relação educativa. Quer isto dizer que o
professor / educador não pode deixar de se pôr continuamente a questão funda-
mental: quais foram os meus comportamentos-comunicações-respostas (verbais e não-verbais)
que poderiam ter influenciado a evolução da situação numa direcção ou noutra. Não se trata
aqui obviamente de adoptar uma posição moralista, mas de fazer uso de um instru-
mento para examinar o desenvolvimento sequencial das diferentes interacções.
Para adquirir um tal instrumento, o professor / educador deverá então adoptar como
estratégia fundamental a pontuação das diversas sequências interaccionais como
partindo sistematicamente dele próprio (mesmo arbitrariamente) e não, como
31 SELVINI, M. et col. (198?) Dans les coulisses de l'organisation, Paris, ESF (p. 212)
A RELAÇÃO INTERPESSOAL
Introdução
Começamos com uma situação característica referenciada por Bateson na sua impor-
tante obra Steps to an Ecology of Mind: Uma mãe recompensa o seu filho com um
gelado cada vez que ele come sem problemas a sua sopa de espinafres. Questão: —
Que tipo de informação suplementar nós necessitamos de obter para podermos
prever que, com um maior nível de probabilidade, a criança seja levada a:
a. gostar ou a detestar espinafres;
b. gostar ou detestar o gelado;
c. gostar ou detestar a mãe.
Torna-se aqui evidente que os modelos clássicos das teorias da aprendizagem não
têm forma de responder a esta questão, isto porque, a informação que nos falta aqui
deriva essencialmente do contexto do comportamento da mãe e do filho, isto é, da sua
relação. Ora, é precisamente este conceito de contexto que estabelece, ao nível das
ciências do comportamento, a demarcação entre uma prespectiva clássica, essencial-
mente de tipo linear e uma perspectiva sistémica.
Mesmo os modelos de desenvolvimento infantil de cariz mais interaccionista dedica-
ram uma atenção insuficiente à problemática específica dos factores contextuais.
Contudo, sabemos, ainda que empiricamente, que o contexto no qual o comporta-
mento ocorre é um elemento essencial para a compreensão desse mesmo comporta-
mento. Dando seguimento a esta idéia consideraremos fundamentalmente dois tipos
de contextos:
a. estruturas de relacionamento interpessoal;
b. estruturas materiais envolventes.
"fachada" que os outros lhe apresentam. Quando alguém se comporta "fora do nor-
mal" as pressões sociais são mobilizadas para forçá-lo a voltar ao seu papel. Em
situações sociais tendemos a agir de maneira a manter a nossa própria auto-imagem
e auto-imagem dos outros.
Luft (1969) diria que em cada um deles se alarga progressivamente a área aberta, ou
seja, todos os factores sobre os quais os outros e o próprio têm percepções
mutuamente compartilhadas, isto é, as pessoas vêm-me da mesma forma que eu me
vejo. Isso acontece principalmente porque cada um se "revela" ao outro, isto é, lhe dá
a conhecer elementos da sua área oculta (os factores que eu vejo em mim mesmo, mas
que escondo dos outros); mas também porque, com a ajuda do outro, cada um se
descobre, explorando a sua área cega (todos os factores que as outras pessoas
percebem em mim mas que eu não percebo — isto é as pessoas vêm coisas em mim,
mas não me contam.). Naturalmente sempre restará em cada um uma área desconhe-
cida de ambos, (os factores que nem eu vejo em mim mesmo nem os outros vêm) por
isso mesmo mais difícil de penetrar.
Para uma pessoa se mover da área oculta para a área aberta é necessário um certo
nível de confiança e segurança psicológicas que o/a capacitem a compartilhar as sua
auto-percepções com os outros. Mover-se da área cega para a aberta implica que as
pessoas se dêem feed-back sobre a forma como se vêm umas às outras.
O facto de as vivências do outro (pensamentos, sentimentos, expectativas) só
poderem ser conhecidas mediante processos de inferência origina, frequentemente.
problemas de compreensão recíproca. Compreender o outro é inferir correctamente o
que ele pensa ou sente; e sentir-se compreendido é inferir que o outro também não
cometeu erros de inferência. Os erros de inferência, introduzindo desacordos entre as
diferentes perspectivas, não podem deixar de perturbar a relação interpessoal.
Não pode haver compreensão recíproca, se o que um pensa de si próprio não coincide
com o que o outro pensa dele (desacordo entre as perspectivas directas de ambos).
Mas, mesmo sendo essas perspectivas objectivamente concordantes, pode haver
sentimento de incompreensão, isto é, desacordo entre o que um pensa de si (perspectiva
directa) e o que ele pensa que o outro pensa dele (meta-perspectiva).
A compreensão recíproca baseada em percepções objectivas e inferências correctas é
a melhor base, e ao mesmo tempo a melhor expressão, de uma relação interpessoal
sã. Isso implica, por um lado, que cada um se abra ao outro e, por outro lado, que
cada um se coloque na perspectiva do outro (Selman, 1980). Note-se, porém, que
cando uma falsa impressão da realidade. Assim funcionam também os filtros psicoló-
gicos que as pessoas usam na percepção social.
Alguns desses filtros são selectivos, isto é, retêm apenas certas características do
"objecto", não deixando ver as restantes. Outros falseiam de tal modo a sua imagem,
que levam o observador a errar mesmo a sua identificação. De qualquer modo, como
a representação mental que se tem do outro desempenha uma função orientadora do
comportamento próprio, é óbvio que a interacção pode ser prejudicada quando essa
representação não corresponde à realidade ou tem uma conotação negativa.
Maisonneuve (1965), ao analisar o modo como as pessoas se posicionam perante os
outros, refere-se de facto a filtros negativos quando fala de avatares do contacto humano
e das suas consequências na relação interpessoal. Ver o outro como adversário
(situação de conflito) gera, ora estratégias de defesa como evitar expor-se (não reve-
lando os seus pensamentos ou sentimentos), ora estratégias de dominação no sentido
de submeter o outro (pela violência, pela imploração ou pela sedução). Ver o outro
como instrumento (posição de egoísmo) conduz a actos de manipulação ou de explo-
ração (usar o outro em proveito próprio). Finalmente, ver o outro como estrangeiro
(atitude de indiferença) dá origem ao isolamento (negando ao outro a identidade
social).
Os filtros e os disfarces distorcem a percepção do outro, tornando-a menos objectiva;
mas não deixam, mesmo assim, de desempenhar um papel facilitador da interacção,
seja na perspectiva do observador (filtro), seja na perspectiva da pessoa observada
(disfarce). É que a atribuição de certas qualidades ao outro, e a sua categorização
(inclusão numa certa categoria ou classe de indivíduos), além de corresponder à
necessidade que todo o ser humano tem de compreender e organizar o mundo que o
rodeia, é condição fundamental para a definição de atitudes e estratégias na
interacção.
Mas nem todas as imagens ou representações mentais que cada indivíduo possui de
outros indivíduos, como de objectos ou de factos, têm origem na sua própria
experiência. Precisamente para as situações mais comuns ou mais importantes, há
representações "prontas a usar" transmitidas pelo grupo social, e por isso largamente
compartilhadas. Chamam-se representações sociais, e são basicamente esquemas a
priori — categorias, sistemas de referência, sequências de sucessos, teorias
explicativas — que facilitam a codificação e organização da realidade e o ajustamento
dos comportamentos individuais. Pertencem àquela classe de saberes que frequente-
mente se identificam com o senso comum ou com a psicologia ingénua.
Desde as primeiras análises de Moscovici (1961), muitas dessas representações têm
sido objecto de estudo, nos mais diversos domínios. Há, assim, representações
(sociais) mais ou menos ingénuas da constituição e funcionamento do corpo humano,
da saúde e da doença, da infância e da velhice, da estrutura psíquica e da
perturbação mental (Farr, 1986); e ainda dos processos psicológicos de desenvolvi-
Monteil (1989), por exemplo, refere alguns dados curiosos de uma investigação sobre
atribuições causais do insucesso escolar, realizada junto de professores. Os
professores que declararam uma pertença ideológica fizeram menos atribuições
disposicionais do que os que se declararam ideologicamente neutros. Além disso,
houve menos atribuições disposicionais nos professores filiados em sindicatos de
esquerda do que nos filiados em sindicatos de direita.
distante, é a diferença que tende a ser exagerada. Trata-se, no primeiro caso, de uma
distorção por assimilação, e no segundo caso de uma distorção por contraste.
O segundo fenómeno ocorre na fase de aceitação da mensagem e tem a ver com a
mudança de opinião. A atitude do receptor vai agora depender da sua margem de
tolerância (latitude de aceitação/rejeição). Concretamente, a mudança de opinião
encontra-se facilitada se a mensagem se situa dentro da latitude de aceitação, e é
dificultada se ela está na zona de rejeição.
Subjacente ao comportamento do receptor que julga uma mensagem aceitável ou rejei-
tável, está a necessidade que, em todo o ser humano, une num mesmo sistema os seus
valores, conhecimentos e comportamentos. Do mesmo modo, quem julga um
comportamento alheio como consequente ou inconsequente, fá-lo na suposição de que
uma necessidade de coerência orienta também o seu autor. Por isso a constatação de
uma incoerência no outro questiona automaticamente a coerência de quem a
constata.
Festinger (1957) mostrou que qualquer dissonância entre dois elementos do sistema
(por exemplo entre crenças e comportamentos) provoca no indivíduo um estado de
tensão que o pressiona no sentido de uma mudança capaz de a reduzir. Normal-
mente o indivíduo procura evitar situações favoráveis à dissonância, e reduzir a
dissonância existente reforçando a informação consonante. Quando, porém, a disso-
nância é extremamente elevada e a tensão gerada se eleva acima do suportável, é
provável que o indivíduo procure mais informação dissonante, com o objectivo de
provocar a ruptura do sistema. A tensão é, então, reduzida à custa da cedência do
elemento mais fraco.
A simples recepção de uma informação que esteja em contradição com uma crença
ou com o sistema de crenças do sujeito (dissonância cognitiva) provoca esse estado
penoso que resulta da presença simultânea de duas cognições inconciliáveis. Pode,
porém, a pressão para a mudança não ser suficientemente forte, de modo que o
indivíduo mantém uma ou mais crenças isoladas incongruentes com o seu sistema de
crenças (Rokeach, 1973). Isso ocorre, às vezes, porque o sujeito não se dá bem conta
da incongruência real; outras vezes, porque as mesmas crenças incongruentes não
lhe merecem grande envolvimento do ego.
Note-se que a expressão experiência de intimidade não deve ser tomada no sentido de
intimidade física, como a expressão atracção interpessoal não deve confundir-se com
atracção erótica. Trata-se, aqui, de intimidade emocional, isto é, partilha de sentimentos,
pensamentos e experiências num relacionamento de abertura, sinceridade e confiança Esta
experiência dificilmente ocorrerá numa pura relação de poder, mas torna-se possível
quando as pessoas se envolvem numa relação de agrado, isto é, quando elas se
aproximam e comunicam entre si porque gostam.
Experiências deste tipo ocorrem frequentemente quando duas ou mais pessoas se
empenham numa actividade comum. Nestas condições elas compartilham entre si não
apenas o prazer ligado ao desempenho (a actividade em si e os resultados obtidos),
mas também o prazer de se sentirem unidas pelo interesse e envolvimento emocional
mútuos, num clima de confiança. Assim, elas não sentem já necessidade de se defen-
derem da atracção interpessoal, antes se aproximam espontaneamente até à distância
sentida como confortável e comunicam entre si livremente e sem reservas.
Uma questão interessante, e que já mereceu o cuidado de alguns investigadores,
prende-se com o carácter selectivo da atracção interpessoal; trata-se de saber se as
pessoas se escolhem em razão de afinidades (princípio de semelhança) ou de
diferenças (princípio de complementaridade). Não há dúvida de que frequentemente
funciona o princípio de semelhança: as pessoas com opiniões, atitudes e comporta-
mentos semelhantes facilmente simpatizam entre si, e as que se ligam por uma
relação de agrado tendem a assemelhar-se cada vez mais. A constatação de
semelhança aumenta a confiança em si próprio e no outro, enquanto o desacordo
gera sentimentos e reacções interpessoais negativos, além de uma experiência íntima
de incoerência.
Mas a atracção interpessoal também se baseia, muitas vezes, no princípio de comple-
mentaridade, isto é, as pessoas são atraídas pelas qualidades desejáveis dos outros e
que elas próprias não possuem. Assim, o que não conseguiriam realizar sozinhas,
podem fazê-lo "em equipa".
A atracção interpessoal não é, porém, uma dimensão humana simples, que possa ter
expressão num conceito unitário. Há, afinal, tantas variedades de atracção quantos os
motivos que podem levar alguém a gostar de alguém (Newcomb, 1967). Uma pessoa
sente-se atraída por outra quando lhe atribui qualidades que aprecia (admiração),
quando se julga apreciada por ela (reciprocidade); quando, numa actividade comum,
verifica que os modos de funcionamento de ambas se ajustam (apoio ao papel);
quando dá valor ao seu talento ou competência (respeito); quando ambas comparti-
lham os mesmos valores ou a mesma visão da realidade social (apoio aos valores).
Hargreaves (1979) cita ainda outras variedades de atracção ou inclinação para outra
pessoa: pelo bem que ela fez (gratidão), pela ajuda recíproca (obrigações mútuas),
pela simpatia que irradia (estima), pela disponibilidade e compreensão (aceitação).
Tipos de Grupos
Podemos considerar fundamentalmente quatro tipos de grupos, cada um dos quais
poderá, eventualmente, ser ainda subdividido em outros subtipos.
1. Grupos que se formam na base de uma função social comum, como por
exemplo, a família, grupos desportivos, etc.;
2. Grupos que se juntam no seguimento de algum tipo de atracção interpessoal
entre os seus membros, como por exemplo grupos de amigos;
3. Grupos tarefa que se formam na medida em que os seus membros têm um
problema específico para resolver ou uma tarefa para levar a cabo;
4. Grupos terapêuticos, ou de desenvolvimento pessoal.
Muitos grupos não podem de forma perfeita ser incluídos em qualquer destes tipos
básicos, resultando mais de uma qualquer combinação entre eles. Um exemplo disto
podem, por exemplo, ser os grupos de tarefa nos quais as pessoas desenvolvem
relações de amizade, evoluindo assim para grupos de amigos. Outro exemplo pode
ser os grupos que têm uma função social comum, mas que são formados a partir de
grupos de amigos, como por exemplo um grupo de amigos que decide fundar uma
associação cultural ou de acção social.
De qualquer forma sabemos hoje que o trabalho de grupo é especialmente indicado
na formação de pessoas quando os objectivos têm a ver com o desenvolvimento de
competências ao nível do relacionamento interpessoal. De entre de todas as técnicas
utilizadas a mais conhecida é talvez a dos T Groups34 no quais as pessoas se
encontram, normalmente num ambiente delimitado, por períodos que podem ir de
33 Por exemplo, terem-se acabado os selos, ou o autocarro que está demasiado atrasado.
34 Grupos de Treino, quer dizer, grupos de aprendizagem.
alguns dias a uma ou duas semanas, com o objectivo de trabalhar a forma como
reagem ao outro e respondem às suas reacções. Normalmente são definidas quatro
áreas de comportamento relevantes para os T Groups:
• Comportamento público: Trata-se de um comportamento aberto que não carece
de uma análise aprofundada;
• Comportamento cego: Define aquela área de comportamento que é aparente
para os outros, mas não é reconhecido pelo próprio. Um dos objectivos dos
T Groups pode ser tornar a pessoa consciente dos seus comportamentos cegos
de forma a que ela possa utilizar esse conhecimento nas suas relações futuras
com as outras pessoas;
• Comportamento escondido: Refere-se aqueles comportamentos de que o próprio
tem perfeita consciência, mas que ele propositadamente esconde dos outros.
Num T Group a pessoa pode eventualmente adquirir uma noção mais realista
daquilo que pode revelar aos outros;
• Comportamento inconsciente: Designa aquela área de comportamentos de que
nem o próprio nem os outros têm consciência. Este tipo de comportamentos
normalmente não é objecto de preocupação nos T Groups, mas dos grupos
terapêuticos.
Tudo o que atrás ficou dito estabelece de forma definitiva que um grupo, enquanto
sistema de relações interpessoais, é mais do que a soma das suas partes. Para além
disso um grupo funciona sempre enquadrado num determinado ambiente o que
acaba por condicionar o que acontece no interior desse grupo. Em todos os grupos
verifica-se aquilo que poderíamos designar por clima emocional que se refere às
variações no comportamento grupal que são provocadas por uma combinação particular de
pessoas existentes num grupo, exceptuando os efeitos produzidos pelas características
específicas dos seus membros. Este efeito de grupo é, ao mesmo tempo, causa e efeito
dos fenómenos grupais que de alguma maneira condensam neles todas as proprie-
dades grupais: — a composição do grupo, que se reflectirá na coesão grupal e a
estrutura do grupo.
Quando vários indivíduos se reúnem pela primeira vez e começam a interagir,
começam a aparecer algumas diferenças entre eles35. Pois bem, são essas diferenças
que constituem a base para a formação da estrutura do grupo. A estrutura é ao fim e
ao cabo a organização interna do grupo e dado que um grupo se pode organizar a
partir de várias dimensões36 podem existir não uma, mas várias estruturas.
35 Por exemplo uns falam mais do que os outros, alguns têm mais influência nas decisões do
grupo, uns acabam por funcionar como animadores, outros acabam por fazer mais de
travões, etc..
36 Emocionalmente, de acordo com a tarefa, etc..
37 Por exemplo, num Jardim de Infância, como normalmente as salas têm várias mesas, o
educador pode dividir o grande grupos em grupos-mesa mais pequenos.
importante no tipo de expectativas que o educador vai criar face a cada um dos
alunos.
As aptidões38 são outro elemento que não pode deixar de ter uma certa influência
sobre o rendimento do grupo assim como sobre o nível de satisfação dos seus
componentes, sobre a coesão grupal, etc.
40 Utilizamos aqui a noção de sistema educativo não no sentido mais geral, como por
exemplo "o sistema educativo português", mas como conjugação de elementos
participantes de um determinado processo, considerados a nível institucional, como por
exemplo, um estabelecimento escolar, ou a um nível grupal, como por exemplo, uma sala
de aula.
41 Relativamente a este fenómeno rever o que foi dito atrás sobre as características e
propriedades dos sistemas abertos, especificamente no que diz respeito à tendência
homeostática.
Um modelo teórico dos factores envolvidos na adaptação aos conflitos e ambiguidades de papel
O Desenvolvimento de um Grupo
Considerando que um indivíduo se comporta de forma diferente num grupo pôe-se
agora a questão de saber como é que um grupo se desenvolve. Um dos autores que
mais estudou este aspecto foi o psicólogo social B. V. Tuckman proposto um modelo
do desenvolvimento de pequenos grupos que estabelece uma relação muito estreita
entre a estrutura grupal e o desempenho de uma tarefa ou realização de uma
actividade.
Estrutura do Grupo
Actividade de Tarefa
Fase
AS TÉCNICAS SOCIOMÉTRICAS
De entre as diferentes técnicas de diagnóstico grupal, que podem ser utilizadas num
contexto educativo42, estudaremos em seguida uma técnica conhecida como teste
sociométrico pois parece-nos ser aquela mais estreitamente relacionada com a
problemática que temos vindo a focar até ao momento. Esta escolha tem essen-
cialmente a ver com o facto de ser aquela que está mais directamente relacionada
com a temática das relações grupais.
O Teste Sociométrico
O teste sociométrico é uma técnica relativamente simples que nos permite avaliar a
estrutura interna e informal de grupos pequenos. A simplicidade da técnica não
deve, contudo, alhear-nos das dificuldades inerentes a todo o tipo de investigação
que envolvem a colaboração de sujeitos humanos.
Segundo o próprio Moreno o teste sociométrico envolve quatro passos essenciais:
1. Formulação de uma pergunta a todos os membros do grupo para que
escolham aqueles indivíduos, que façam igualmente parte do grupo, que mais
desejariam, e que menos desejariam ter por companheiros em determinadas
actividades específicas ou situações particulares;
2. Levantamento das respostas e construção de uma tabela;
3. Elaboração da matriz sociométrica e do sociograma;
4. Interpretação dos resultados do sociograma.
Trata-se de uma técnica cujas características permitem a sua utilização numa grande
variedade de contextos educativos e com um vasto leque de níveis etários. Podemos
salientar, entre outras:
a. É uma técnica de administração e avaliação bastante simples;
b. Fornece uma grande quantidade de informação em relativamente pouco
tempo e esforço;
c. É aplicável tanto do ponto de vista de um diagnóstico individual como de um
diagnóstico grupal e até das relações interpessoais no grupo turma;
d. Permite captar facilmente barreiras e bloqueios relacionais relacionadas com o
sexo, etnia existentes num grupo;
e. Finalmente, pode ser aplicado tantas vezes quantas se quiser ao longo do
tempo o que pode, por exemplo dar informação útil sobre a evolução do
grupo.
Com efeito, um conhecimento da estrutura das relações num grupo de Jardim de
Infância pode ser uma questão tão útil quanto difícil. Talvez esta situação não seja tão
crítica no contexto da educação de infância, devido à maior proximidade física e
psicológica entre as crianças e os educadores, contudo, alguns estudos mostram que
os professores revelam algumas dificuldades em descobrir num grupo quais são os
alunos mais populares, aqueles que tendem a ser marginalizados, etc..
As relações entre as crianças convertem-se, assim, num novo campo de conhecimento
e de exploração que requer da parte dos educadores uma atenção especial.
OBSERVAÇÕES PRÉVIAS
Para que a aplicação do teste sociométrico possa ser de alguma utilidade e validade
os sujeitos devem estar conscientes dos objectivos que se pretendem alcançar com a
aplicação do teste e motivados para a sua realização. O educador pode trabalhar este
aspecto chamando a atenção para as respectivas possibilidades práticas, por
exemplo, constituição de grupos do agrado dos alunos, etc.44.
44 Naturalmente que a este tipo de explicação terá que ser feita tendo em conta a idade e
desenvolvimento cognitivo das crianças.
PREPARAÇÃO DO TESTE
A tarefa essencial nesta fase é a elaboração das questões a colocar aos membros do
grupo. Em consequência convém que as perguntas sejam claras, simples e concretas,
devendo, para além disso, ser adequadas aos objectivos que nos propomos alcançar.
Aqui põe-se o problema dos critérios da escolha, isto é, a situação que vamos usar
para concretizar as escolhas. Devemos usar só um critério ou utilizar vários? Tudo
depende em primeiro lugar dos nossos objectivos. É óbvio que se quisermos
constituir uma equipa de trabalho não nos interessa as inter-relações no recreio, se,
por outro lado pretendemos obter uma panorâmica geral das características psicos-
sociais de um grupo é conveniente utilizar um questionário com vários critérios. Não
devemos contudo exagerar neste aspecto. A experiência mostra que dois ou três
critérios são suficientes na maior parte dos casos. Normalmente para cada critério
Luís 2 3 1 -
Maria 1 2 3 -
João 3 2 1 -
Carlos - - 3 2
Sofia 1 2 3 -
TOTAL ESCOLHAS 5 6 11 5 2
sido feita em primeiro (3) segundo (2) ou terceiro lugar (1)45. Como vemos o
elemento mais popular é o João enquanto que no outro extremo o menos esco-
lhido foi a Sofia.
Feito isto, haveria agora que construir as outras matrizes sociométricas, uma para
cada das outras três questões e daí tirar as conclusões mais indicadas. Por
exemplo, podemos avaliar os índices sociométricos, tanto os individuais (índice
de popularidade, índice de antipatia, etc.) como os grupais (índice de associação,
índice de coesão, etc.), assim como identificar os tipos sociométricos que são
fundamentalmente três:
a. o populares, aqueles membros do grupo que possuem uma taxa de escolha
significativamente elevada;
b. os rejeitados, aqueles que têm uma taxa de rejeição significativamente elevada;
c. os esquecidos, aqueles que, não sendo rejeitados, possuem uma taxa de escolha
significativamente baixa.
2. Construção da matriz sociométrica: O sociograma não é mais do que a
representação gráfica da matriz sociométrica, possui, contudo, a vantagem de
permitir uma leitura fácil visto que permite captar imediatamente a estrutura do
grupo.
Rejeição (a vermelho)
Escolha recíproca
conta, por exemplo, as crianças que o escolheram, que podem, eles próprios ser
crianças bastante escolhidas, ou, pelo contrário, crianças mais marginais.
Outro aspecto importante a ter em conta na interpretação são as perguntas de
percepção. Em termos gerais podemos dizer que uma criança que espera ser
escolhida por poucos ou nenhum dos seus colegas e companheiros será uma criança
com pouca confiança em si mesma e com poucas necessidades sociais. Pelo contrário,
uma criança que se crê apreciada e cujos amigos esperam ser escolhidos por ele é
normalmente um indivíduo com bastante confiança em si próprio.
De facto nas expectativas perceptivas há que distinguir dois aspectos que não devem
ser confundidos:
a. A sociabilidade: depende da relação entre as escolhas emitidas pelo sujeito e
aquelas que espera receber. Se emite mais escolhas do que aquelas que espera
receber estamos perante um sujeito sociável, se a relação for oposta estamos
perante um sujeito não sociável.
b. A capacidade perceptiva: Esta capacidade perceptiva pode ser por um lado
concretizada numa sensibilidade relacional que se refere à forma como o
indivíduo percebe todas as relações de que é objecto, e por um realismo percep-
tivo que implica que o indivíduo não se atribua escolhas que não correspon-
dem à realidade.
A interpretação do sociograma deverá, ainda, incluir dois aspectos:
A. A rede sociométrica: Podemos definir a rede sociométrica como a série de
interacções complexas que unem entre si os diferentes membros do grupo sendo
composta tanto por elementos afectivos (atracção, rejeição, simpatia ou antipatia) como
elementos cognitivos (as atracções ou rejeições percebidas). Esta rede sociométrica
pode apresentar diferentes configurações de entre as quais convém salientar:
— a díade: composta por um par de sujeitos entre os quais existe uma atracção
recíproca. É a modalidade mais simples, mas na qual se podem produzir
interacções interessantes; o triângulo ou tríade: é um pequeno grupo, ou
melhor, subgrupo de três elementos, entre os quais existem relações
privilegiadas; o quadrado: trata-se de um subgrupo com uma estrutura ainda
mais estável composta naturalmente por quatro elementos; o bando ou
"grupinho": psicologicamente esta é a figura mais importante, pelo menos para
os educadores. Trata-se de um pequeno grupo caracterizado pela sua
densidade, exclusividade e consonância de reacções46. São normalmente
subgrupos bastante coesos que, especialmente no caso dos adolescentes,
podem facilmente entrar em conflito com os restantes membros do grupo.
6. Avaliação dos efeitos que a incorporação de crianças novas tem num determi-
nado grupo.
O conhecimento de todos estes aspectos do funcionamento grupal constitui uma
poderosa ferramenta que permite ao educador intervir no sentido de melhorar as
relações sociais na aula. Ora, considerando que a educação de infância é um contexto
onde estes factores têm uma importância fundamental, as técnicas sociométricas
revestem-se para o educador de uma utilidade muito particular.
Mais concretamente:
a. Quando nos deparamos com elementos isolados no grupo, aqueles que não
são escolhidos por ninguém, podemos tentar fazer com que os outros lhes
prestem atenção e procurem conhecê-los melhor. Uma estratégia para
conseguir isto pode ser, por exemplo, fazer com que a criança isolada se sente
ao lado de uma criança com uma taxa elevada de escolhas, etc.;
b. Se, por exemplo, o grupo/turma está claramente dividido em subgrupos,
podemos intervir junto das estrelas de cada um dos grupos fazendo-lhes ver a
importância do seu relacionamento mútuo para o bom funcionamento do
grande grupo. Normalmente conceder-lhes esta importância e responsabili-
dade costuma ser um bom aliciante para que se sintam motivados para alterar
a sua atitude;
c. Quando queremos organizar grupos de trabalho devemos partir na medida do
possível dos grupos de "geração espontânea".
A sociometria pode ainda ter uma importante função preventiva, pois a aplicação de
um teste sociométrico pode permitir identificar alguns problemas e intervir atempa-
damente no sentido de uma resolução rápida. Isto é tanto mais importante quanto
sabemos que, muitas vezes, quando os problemas relacionais se tornam evidentes no
funcionamento quotidiano do grupo é porque já atingiram uma gravidade tal que
implica uma resolução muito mais difícil e demorada.
Introdução
Um aspecto muitas vezes esquecido é a forma como as crianças se percebem e
interagem umas com as outras em contextos escolares. Ora, se este aspecto é de suma
importância em todos os níveis de ensino, muito mais relevante se torna ao nível da
educação de infância na qual os objectivos têm essencialmente a ver com as atitudes e
valores básicos da vida em sociedade.
De um forma geral podemos definir três formas básicas de interacção em contextos
escolares:
a. As crianças podem competir entre si para ver quem é o melhor;
b. Podem trabalhar individualmente no sentido de responder às solicitações e
realizar as tarefas propostas, sem prestar atenção ao trabalho dos outros;
c. Podem trabalhar cooperativamente estando cada criança interessada no
trabalho da outra como no seu próprio, podendo mesmo ajudarem-se no
sentido de alcançarem uma meta comum.
Se esta situação parece ser diferente ao nível da educação de infância, ainda encon-
tramos muitos pais, e até educadores que vêm o Jardim de Infância como um
contexto marcadamente de tipo competitivo.
Um dos psicólogos que mais estudaram este problema foi o psicólogo social ameri-
cano Morton Deutsch, . Deutsch era um discípulo de Kurt Lewin que procurou
aplicar a teoria da motivação de Lewin às situações interpessoais. Seguindo a teoria
de Lewin, Deutsch conceptualizou três tipos de estruturas de objectivos, (coopera-
tiva, competitiva e individualista) proporcionando ao mesmo tempo definições
claras, concretas e precisas destes conceitos:
a. Cooperativa: Uma situação social cooperativa é aquela em que os objectivos
dos indivíduos estão de tal forma unidos que existe uma correlação positiva
entre a consecução desses objectivos de tal forma que um indivíduo só alcança
o seus objectivo se os outros participantes alcançam igualmente os seus. Por
conseguinte estas pessoas tenderão a cooperar entre si para conseguirem os
respectivos objectivos.
b. Competitiva: Uma situação social cooperativa é aquela em que os objectivos
dos indivíduos estão relacionados entre si de tal forma que existe uma
únicas tarefas onde a cooperação não parecia ser superior eram as tarefas de
decifração e correcção.
b. A cooperação é superior à aprendizagem individualista quando o objectivo é
promover o sucesso e a produtividade em tarefas não rotineiras, como decifrar
um código ou corrigir um texto ou quando não era exigida uma divisão do
trabalho. A cooperação aparecia igualmente como mais eficaz nos estudos que
demoravam pouco tempo.
c. A cooperação sem competição inter-grupo aumenta a taxa de sucesso e
produtividade do que a cooperação com competitividade intergrupo.
Contudo os dados e a investigação relativos a este problema mostraram ser
ainda ser escassos sendo necessários mais estudos para concluir algo de
definitivo.
d. Não existe uma diferença significativa entre as estruturas de objectivo
competitivas e individualistas no que concerne ao sucesso e produtividade.
Uma segunda revisão da literatura foi levada a cabo pelos mesmos autores, (Johnson,
Johnson & Maruyama, 1983, cit in Ovejero, 1988 p. 253) desta vez com o objectivo
mais específico de esclarecer os efeitos da existência na turma de um clima coopera-
tivo, competitivo ou individualista, sobre a integração na escola normal de crianças
com necessidades educativas especiais ou oriundos de minorias étnicas. Este trabalho
justificava-se porque não existia acordo entre os especialistas sobre as conclusões a
tirar dos estudos efectuados. Os autores incluíram nesta revisão 98 estudos com 251
conclusões, publicados entre 1944 e 1982, sobre este tema.
Os autores afirmam claramente que o seu objectivo era apresentar um modelo teórico
que estabelecesse as condições segundo as quais a integração conduziria a resultados
construtivos ou destrutivo, rever exaustivamente toda a investigação disponível e
relevante para o modelo e apontar para um conjunto de procedimentos práticos que
pudessem ser daí derivados e que fossem de alguma utilidade para os educadores
(Johnson et al, 1983, p. 37, cit in Ovejero, 1988, p. 254). Pois bem, chegaram à
conclusão de que efectivamente um contexto cooperativo é a melhor forma ou talvez
a única pela qual a integração de crianças diferentes sejam realmente eficazes e
satisfatórias.
rando que numa situação competitiva clássica são muito poucos aqueles que
podem ganhar, esta forma de ver a capacidade académica tende a
desmoralizar a maioria das crianças e a criar-lhes ansiedade. Isto levará os
estudantes a atribuir o seu êxito à sua própria capacidade e o fracasso a
factores externos (má sorte, dificuldade da tarefa, etc.), enquanto que o êxito
dos seus competidores será atribuído a factores situacionais. Consequente-
mente este modelo conduz a uma superconfiança e a uma falta de motivação
nos alunos com sucesso e a uma menor confiança e falta de motivação nos
estudantes que são menos bem sucedidos.
b. Curiosidade intelectual e motivação continuada. Pode definir-se curiosidade
intelectual como a motivação para buscar activamente mais informação relati-
vamente a um tema que desperta o interesse do aluno. A investigação psicoló-
gica tem demonstrado que o principal factor da curiosidade intelectual é o
desacordo e os conflitos cognitivos entre companheiros,49 ora temos indica-
ções de que enquanto o conflito cognitivo conduz ao aumento da curiosidade
em situações cooperativas, nas situações competitivas leva à oposição e
anulação dos pontos de vista opostos. Sabemos igualmente que nas situações
de aprendizagem cooperativa se verifica um nível mais elevado de trocas
verbais, as crianças conversam e discutem umas com as outras, o que, se for
acompanhado e orientado correctamente pelo educador, pode ser extrema-
mente útil na medida em que os processos cognitivos que têm lugar no
diálogo e nas interacções com outras pessoas, como a elaboração e a metacog-
nição, estimulam a utilização de estratégias cognitivas de nível superior.
c. Valorização da aprendizagem: para que a motivação se possa manter durante
um espaço de tempo significativo esta tem que ter por base uma determinada
valorização da aprendizagem em espaços institucionais. Comparado com a
aprendizagem competitiva e individualista, verificou-se que a aprendizagem
cooperativa conduz a atitudes mais positivas relativamente às diferentes áreas
e matérias de estudo e às experiências de aprendizagem escolar. Para além
disto, nesta situação os alunos interessam-se mais pelas tarefas, são menos
apáticos e diminuem os comportamentos disruptivos.
d. Persistência na tarefa: Relativamente a este aspecto o que se verifica é que em
situações competitivas as crianças que normalmente estão nos primeiros
lugares tendem a persistir firmemente na tarefa de forma a manterem a sua
superioridade. Por outro lado os alunos que normalmente perdem tendem a
desistir, a abandonar as tarefas ou a desinteressarem-se da sua execução. Pelo
contrário, nas situações cooperativas promovem a persistência na tarefa em
todos os membros do grupo, independentemente do seu nível de capacidade.
49 Relativamente a este tema pode rever o que aprendeu na perspectiva de Jean Piaget sobre
o conflito cognitivo.
realizada neste campo não permitiu ainda chegar a conclusões claras acerca das
condições nas quais a proximidade física entre os vários grupos de crianças poderá
conduzir à emergência de relações positivas e construtivas.
A análise de algumas experiências parece mesmo indicar que a integração de
crianças diferentes na escola regular poderia não conduzir aos resultados esperados
o que nos leva a pensar que a proximidade física, sendo uma condição necessária,
não é, contudo suficiente para que se verifiquem efectivas mudanças de atitude face
a essas crianças. Um aspecto importante a ter em conta é o contexto em que ocorre a
aprendizagem, isto é, se estamos em presença de contextos de ensino mais competi -
tivos ou mais cooperativos. É, com efeito, a interacção real entre as crianças que
determina se os preconceitos iniciais são reforçados ou substituídos pela aceitação e
atitudes positivas. Quer dizer, o resultado depende principalmente do clima em que
se desenvolvem as relações interpessoais. Se o clima for marcadamente competitivo,
as crianças diferentes ficando quase sempre a perder, existem poucas probabilidades
de que a proximidade física tenha resultados positivos. Se, pelo contrário existir um
clima cooperativo então as probabilidades de que desse contacto resulte uma
integração real das crianças diferentes são mais elevadas.
Ainda relativamente a este aspecto, Johnson e Maruyama, na sua revisão bibliográ-
fica, coligiram dados que lhes permitiram chegar à seguintes conclusões:
1. Numa série de estudos sobre a problemática da integração o resultados
mostraram que a aprendizagem cooperativa conduzia a uma maior ajuda á
crianças diminuídas e a uma maior coesão da classe, do que em situações de
aprendizagem competitiva. Verificou-se que nas situações cooperativas se
verificavam interacções mais positivas entre as crianças diminuídas e as
crianças normais em comparação com as situações competitivas ou
individualistas.
2. Constatou-se igualmente que nas situações cooperativas tanto as crianças
diferentes como as crianças normais se sentiam mais queridas, mais apoiadas
e aceites pelos outros colegas.
3. No que diz respeito à auto-estima, existe suficiente evidência de uma relação
negativa entre esta e o preconceito, de forma que o aumento da auto-estima
leva a uma diminuição do preconceito.
4. As situações de aprendizagem cooperativa conduzem a um maior rendimento
académico. Esta melhoria verifica-se essencialmente nas crianças de menor
capacidade e nas crianças marginalizadas, mas as crianças ditas normais
apresentam igualmente um desempenho melhorado. Estes resultados são
confirmados por Anne Nelly Perret Clermont (1978, p. 290) que, citando vários
autores, confirma que as crianças que se encontram relativamente mais
avançadas do que os seus parceiros beneficiam igualmente da interacção
social com eles. A mesma autora refere ainda que as suas próprias
expectativas negativas que se cumprem a si mesmas feitas pelos alunos que são considerados
por si mesmos e pelos demais, como "fracassados" (Ovejero, 1988 p. 270).
Finalmente, podemos definir como variáveis intermédias neste processo alguns
factores de grupo. De facto, sabemos que a competição acentua as diferenças de
estatuto entre os alunos de alto e de baixo rendimento de tal forma que podemos pôr
a hipótese de que a competição intragrupo levará a uma menor inclusão dos
membros do grupo de crianças com menos capacidades na tomada de decisões no
grupo e no contacto mais personalizado entre os membros do grupo.
52 Normalmente quanto menor for o tempo disponível para a realização da tarefa, menor
deverá ser o tamanho do grupo.
53 Se temos uma tarefa exige o recorte e colagem de papel para ser realizada por um grupo
de cinco alunos será difícil construir uma situação de trabalho cooperativo se, por exemplo,
só fornecemos uma tesoura e um tubo de cola.
A MBIENTE FÍSICO
Os Psicólogos e outros cientistas do comportamento desde sempre salientaram a
importância do ambiente enquanto factor determinante do comportamento,
referindo-se, contudo, quase sempre ao ambiente social ou interpessoal. Quando se
querem referir ao outros aspectos do ambiente utilizam geralmente termos
demasiado gerais.
No seu sentido mais amplo, ambiente físico compreende tudo o que rodeia uma
pessoa. Contudo, no sentido em que é utilizado em psicologia ambiental, o termo
tem um significado mais limitado, sendo normalmente dividido em dois tipos
principais: o ambiente construído ou modificado pelo homem e o ambiente natural.
Esta distinção é importante mas não deve ser tomada num sentido demasiado
rigoroso na medida em que existem hoje muito poucos aspectos do ambiente que não
tenham sido pelo menos em alguma medida influenciados pelo homem. Por
exemplo, um espaço relvado no meio de uma cidade pode constituir um local privi-
legiado para algumas pessoas, normalmente jovens, se encontrarem, deitarem na
relva, namorarem, etc.. Por outro lado, normalmente definimos como ambiente
construído algumas características do ambiente tais como os espaços das construções
nas quais ocorre o ambiente, o mobiliário, as cores das paredes, etc..
Salas
A influência mais significativa de uma sala sobre o comportamento é a finalidade da
sala. Normalmente é a finalidade de uma sala, como vimos atrás que determinada o
arranjo do espaço físico, procurando-se, naturalmente que exista sempre uma conso-
nância entre estes dois aspectos: espaço físico e finalidade.
Analisaremos em seguida a importância de alguns elementos do espaço físico de
uma sala no comportamento humano.
Cor: — A cor é provavelmente a dimensão física de uma sala que é à partida menos
determinada pelo aspecto da finalidade na medida em que muitas finalidades dife-
rentes podem estar em consonância com a mesma cor. Normalmente a cor é esco-
lhida em função do tipo e quantidade de iluminação da sala e de factores de ordem
estética. Devemos contudo ter em atenção alguns aspectos.
Em primeiro lugar existem dados experimentais que nos permitem concluir que se
bem que a tonalidade da cor de uma sala (cores quentes ou frias) não influencie deci-
COMPORTAMENTO HUMANO
Temos definido a psicologia ambiental como a disciplina que trata do relacionamento
entre o comportamento humano e o ambiente físico. Contudo, enquanto o ambiente
físico diário constitui o tema unificante, o interesse centra-se naturalmente na
influência das características do ambiente físico no comportamento humano.
Os factores ligados ao ambiente físico são de tal forma importantes na determinação
do comportamento que as próprias relações que as pessoas estabelecem com o seu
meio físico interagem e acabam por se sobrepor às próprias relações interpessoais,
dando lugar àquilo que se costuma designar por comportamento sócio-espacial
(Levy-Leboyer, 1980, p.143) ou processos sócio-espaciais (Wohlwill & Seisman, 1981,
p.127). Com efeito, Roger Barker ao observar a actividades de crianças no seu meio
natural verificou que certos atributos do seu comportamento variavam mais de
acordo com a situação do que com o indivíduo. Quer isto dizer que poderemos
Privacidade
O fenómeno da privacidade pode ser estudado a vários níveis — perceptivo,
cognitivo e comportamental. Isto significa que numa mesma situação a pessoa pode
ser estudada como um ser que percepciona, conhece, imagina, sente ou se comporta
de uma determinada maneira tal que pode variar entre um extremo de
super-privacidade e um extremo de sub-privacidade.
Espaço pessoal
Todos nós temos uma área espacial em torno do seu corpo, definida por fronteiras de
tipo essencialmente psicológico e onde qualquer intrusão por parte de outras pessoas
pode ser sentida como uma invasão do eu e, por isso, considerada como indesejável.
Este espaço não é necessariamente circular. A investigação realizada sugere que é
mais extenso na frente e menor dos lados.
O conceito de espaço pessoal foi introduzido por Edward T. Hall, um antropólogo
que escreveu em 1966 um livro intitulado The Hidden Dimension (A Dimensão Oculta)
que, ao propor uma nova ciência, a "proxémica" — veio a ter um enorme impacto na
Psicologia Ambiental.
Hall distinguiu quatro zonas espaciais usadas na interacção social: zona íntima
(0-0,5m.), zona pessoal (0,5m-1,5m), zona social (1,5m-3,5m) e zona pública (3,5m-7m).
se bem que não da mesma forma acabamos por nos tornar possessivos relativamente
a vários aspectos do nosso meio habitual, casa, escritório, etc..
Fizeram-se algumas tentativas para explicar o comportamento territorial humano
recorrendo à noção de instinto e usando uma série de analogias relativamente ao que
se passa no mundo animal. Nesta perspectiva da mesma forma como os animais
marcam o seu território urinando, depositando secreções glandulares ou emitindo
sinais vocais, os seres humanos usariam marcadores tais como sebes, muros, sinais
de proibida a entrada, ou a deposição de artigos como chapéus, bolsas, lenços, jornais
para indicar a posse temporária de um território. Esta analogia é, contudo, quanto a
nós, insuficiente no sentido em que existem diferenças importantes entre a territoria-
lidade humana e a territorialidade animal. Os animais são normalmente forçados a
subsistir num território dentro do qual satisfazem todas as suas necessidades vitais,
normalmente necessidades de alimentação e de procriação. Dependendo da espécie,
grande parte do comportamento defensivo territorial é inato, bastante ritualizado e
desencadeado por estímulos muito específicos56. Nos seres humanos a situação é
muito diferente. Normalmente deslocamo-nos e transitamos livremente entre
numerosos territórios que se sobrepõem e podemos utilizar uma quantidade quase
ilimitada de marcadores que são aprendidos e, por isso, culturalmente definidos.
O Behavior Setting
Designa-se por behavior setting um padrão repetitivo de comportamentos, ou activi-
dades (os participantes podem variar) que têm lugar num local determinado. Um
dado sistema ecológico é assim constituído por um conjunto de behavior settings
(concertos, assembleias, supermercados, transportes públicos, etc.). A determinação
de um behavior setting é importante na medida em que vai servir de enquadramento
ao comportamento individual, condicionando-o e dando-lhe grande parte do seu
sentido.
Barker chamou a atenção para alguns aspectos da interacção comporta-
mento/ambiente em crianças que mostram a forma como o comportamento contribui
para a manutenção do setting. As suas observações permitiram-lhe chegar a três tipos
de generalizações de tipo explicativo:
Em primeiro lugar, o comportamento das pessoas altera-se de situação para situação.
Quer dizer, existem aspectos do nosso comportamento que são mais influenciados
por determinados aspectos do meio físico do que por factores individuais, isto na
medida em que existe um conjunto de elementos desse mesmo ambiente que nos dão
indicações acerca da forma como nos devemos comportar. Por exemplo, uma criança
56 Relativamente a este aspecto, um etologista demonstrou que um tordo macho atacará até
mesmo um trapo vermelho, pois o vermelho do papo é um sinal característico de um
invasor e vai, por isso, desencadear o comportamento agressivo. Entretanto um intruso que
não apresente esse sinal, por muito realista que seja noutros aspectos, não será molestado.
Não devemos, contudo, esquecer o papel que a aprendizagem e a pressão social têm
neste processo. Grande parte da acção educativa consiste em, de forma mais ou
menos subtil, ensinar às crianças a forma como se devem comportar em
determinadas situações. Aprendemos igualmente a usar as nossas capacidades
perceptivas e capacidade de julgamento para decidirmos a forma como nos devemos
comportar em situações novas ou diferentes do habitual.
Em resumo, a forma como nos comportamos depende em larga medida da forma
como a estrutura física do setting, os factores ligados à aculturação e aprendizagem e
a nossa capacidade em perceber as exigências da situação se combinam para estabe-
lecer os padrões fixos de acção.
A forma como as pessoas se comportam numa determinada situação pode, natural-
mente evoluir ao longo do tempo — os padrões fixos de acção mantêm naturalmente
uma certa flexibilidade, não são estáticos, uma vez estabelecidos não são inalteráveis.
Por exemplo, durante os últimos anos tem havido uma clara evolução nas formas de
comportamento de professores e alunos no primeiro ciclo do ensino básico,
nomeadamente a aceitação generalizada de comportamentos de comunicação e
cooperação entre alunos, o que implica que os alunos possam estar envolvidos num
processo de aquisição de conhecimentos sem a intervenção directa do professor. Uma
consequência disto é que o padrão fixo de comportamento das crianças passou a
incluir um muito maior nível de auto-orientação e envolvimento nas actividades e
um menor nível de aceitação passiva das instruções do adulto. Os professores
passaram a gastar menos tempo no ensino para a classe e mais tempo na orientação
individual ou de pequenos grupos.
Muitas destas alterações resultaram da adopção no primeiro ciclo de algumas das
práticas já existentes ao nível da educação de infância. Uma das características mais
significativas deste processo á a atitude dos professores acerca dos comportamentos
de aprendizagem mais apropriados para as crianças. Actualmente acredita-se que
deve ser dada uma certa liberdade à criança para explorar e interagir com os colegas
e os materiais, e acredita-se que daí podem resultar aprendizagens interessantes.
Uma outra alteração tem a ver com a reestruturação do próprio setting da sala de
aula. As sala de aula do Jardim de Infância está normalmente organizada a partir de
áreas descontínuas de actividade, o canto da leitura das história a área das AVD, o
canto da pintura, etc.. e, actualmente muitas salas de aula do 1º ciclo têm já ateliers
específicos para determinadas actividades. Estes exemplos como os padrões fixos de
comportamento podem evoluir ao longo do tempo.
Convém ainda fazer referência a mais uma possibilidade de variação ao nível dos
padrões fixos de comportamento. Os padrões de comportamento característicos de um
determinado setting pode ser expresso de formas. Por exemplo, uma sala de Jardim
de Infância pode incluir os seguintes padrões de comportamento: — jogo individual,
actividade de grupo, resolução cooperativa de problemas e busca de informação ou
orientação. Ora, qualquer destes comportamentos pode ser expresso de várias
ASPECTOS GERAIS
É hoje reconhecido por todos os agentes sociais que a família é o organismo social e o
contexto emocional mais importante que o indivíduo encontra ao longo do seu
desenvolvimento (Sedgwick, 1981). É no contexto das relações familiares que os
indivíduos se constroem e aprendem a construir o mundo à sua volta. Se, por família
entendemos o contexto social e emocional mais próximo da criança então temos que
aceitar que tudo o que se relaciona com a família da criança tem uma importância
crucial para o professor ou educador.
Por outro lado, a relação entre a escola e a família e a sua importância no processo
educativo não é uma questão recente57, (Oliveira, 1990) se bem que, tendo em conta
os instrumentos teóricos atrás referenciados, estejamos hoje em dia em melhores
condições de abordar esta problemática a partir de um referencial perfeitamente de
tipo relacional.
Foi a partir dos anos 70 e, principalmente, 80 que começaram a aparecer as primeiras
investigações sérias nesta área, tendo ao longo deste tempo as respectivas concepções
de base evoluído bastante. Nos anos 60 pedia-se aos pais para reforçarem e apoiarem
as aprendizagens escolares dos seus filhos, constituindo-se, assim, os pais como uma
espécie de cooperantes dos professores e educadores. Esta concepção partia natural-
mente da noção de que o papel educativo mais significativo era desempenhado pela
instituição devendo a família de certa forma adaptar-se às regras e conteúdos
propostos pelo sistema escolar. Nos anos 70 esta situação de desigualdade foi-se
atenuando e falava-se já de complementaridade recíproca entre a família e a escola.
Aceita-se já que o meio familiar, pela sua riqueza e diversidade poderia conter
elementos interessantes do ponto de vista educativo, por exemplo, as actividades dos
57 Com efeito, já os pioneiros da Escola Nova ou da Nova Pedagogia, como Decroly, Freinet,
Montessori e mesmo Piaget, tinham chamado a atenção para o papel essencial da relação
escola-família.
Aspectos Gerais
O que caracteriza a família enquanto sistema é que os seus diferentes elementos, ou
seja, as diferentes pessoas que a compõem, estão estreitamente ligadas entre si por
relações de natureza afectiva, as quais suportam as diversas interacções e fazem do
conjunto uma entidade particular e original. Pode-se definir a família como um
conjunto organizado de relações entre as pessoas que assumem em simultâneo,
estatutos diferentes e papéis complementares (Vayer et al, 1991) .
Por outro lado, se considerarmos uma família como um sistema somos levados a
aplicar-lhe todos os princípios que regem os sistemas abertos em interacção. Todos
58 Um desses modelos é o modelo patriarcal da família. Este modelo está fundado sobre uma
clara diferenciação dos sexos, dos papéis e das funções. De uma forma esquemática
verificamos que a estrutura familiar atribui um lugar predominante ao pai que representa a
autoridade e assume uma função instrumental (adaptação ao ambiente e consecução dos
objectivos externos); a mulher está submetida à autoridade do seu marido e assume uma
função expressiva (de regulação das relações afectivas) e uma função de educação e
cuidado das crianças e do lar; as crianças submetem-se à autoridade dos adultos e estão
ligados aos seus pais por uma relação de respeito e obediência. O pai tem ainda um poder
incontestado sobre as mulheres da família sendo o responsável pela sua conduta, muito
especialmente pela sua "virtude". Os valores dominantes são a autoridade, o respeito, a
odediência, o sentido da honra e da tradição.
59 Por exemplo, o modelo patriarcal pode não ter a mesma configuração no meio rural e no
meio urbano.
60 Nas sociedades patriarcais estas sanções e reprovação social atingem mais severamente a
mulher.
autonomia, o envelhecimento dos pais, etc., são todos momentos aos quais a família
tem de se adaptar através da alteração de algumas das suas regras de funcionamento.
Existe pois, no seio da família, uma combinação complexa de retroacções positivas e
retroacções negativas, contudo, a experiência clínica em terapia familiar tem
demonstrado que as famílias perturbadas ou colocadas num ambiente particular-
mente desfavorável tendem a rigidificar as suas regras de funcionamento
tornando-se menos tolerantes face à mudança, o que é, muitas vezes fonte de
comportamentos problemáticos em um, ou mais, dos seus membros.
61 Para compreender melhor este aspecto rever as propriedades dos sistemas abertos,
especialmente a propriedade da totalidade.
62 Desenvolveremos mais este aspecto mais adiante quando desenvolvermos uma análise da
família através do nível estrutural.
podem ser, por exemplo, 1) o "recolher obrigatório" das onze horas — definindo uma
fronteira temporal, 2) não namorar ninguém de outra raça ou cultura — que define
uma fronteira étnica ou cultural, 3) não ter relações sexuais antes do casamento —
uma fronteira sócio-sexual, 4) escolher determinada profissão63 — uma fronteira
ocupacional, 5) expressões verbais e não verbais próprias de uma determinada
família — fronteiras comunicativas e 6) participação de determinados membros da
família nos processos de tomada de decisão — uma fronteira relacionada com a
organização da família.
As fronteiras familiares têm a sua origem em vários tipos de processos:
a. a história da família, passada de geração em geração na medida em que "na
nossa família as coisas são assim...";
b. o contacto social com outros sistemas, "as pessoas devem comportar-se assim...";
c. as crenças religiosas, na medida em que "as pessoas devem comportar-se assim...";
d. a tradição — "as coisas foram sempre feitas assim..."
e. o processo de interacção quotidiano no ambiente familiar.
As fronteiras provêm assim tanto do meio intrafamiliar, história, crenças e expecta-
tivas como do meio extrafamiliar através do contacto social. O ambiente físico,
incluindo a residência familiar64, os vizinhos e a comunidade mais alargada, acabam
sempre por, de alguma forma, definir os limites e contornos dos comportamentos
esperados, das atitudes mais apropriadas, ou até fundamentais para uma determi-
nada família. As expectativas exteriores respeitantes à vida familiar e ao comporta-
mento individual, assim como as pressões exercidas sobre a célula familiar, são indi-
cativos da posição do sistema familiar na rede mais geral do sistema comunitário.
igreja, ligam a família aos sistemas religiosos e, finalmente, qualquer membro doente
fisicamente, perturbado emocionalmente, ou incapacitado crónico acaba por ligar a
família aos sistemas de cuidados de saúde.
Muitas vezes, especialmente nos meios citadinos de classe média, verificamos que
um ou mais membros da família, normalmente do subsistema parental, estão
profundamente envolvidos em processos ligados a um emprego, carreira, ambição
pessoal, etc., construindo um processo de interacção, através do qual, como em
qualquer sistema aberto, são trocados energia, informação e produtos.
Assim, o supra-sistema comunitário está dependente da família na medida em que
esta fornece a energia necessária para o funcionamento do sistema e ao mesmo
tempo consome os produtos desse sistema. Por outro lado a família depende do
sistema mais vasto para o fornecimento de produtos, educação, cuidados de saúde,
oportunidades culturais, crescimento e desenvolvimento individual assim como a
satisfação dos vários tipos de necessidades sociais. Os sistemas familiar e
comunitário são, assim, interdependentes tanto do ponto de vista da sua manutenção
e estabilidade como do ponto de vista do seu crescimento e expansão. Ao mesmo
tempo o membro individual serve de elo de ligação entre a família e o sistema social
mais vasto.
resolução dos problemas assim como uma marcada resistência à mudança. Conside-
rando que a mudança e o desenvolvimento são processos naturais e até certo ponto
inevitáveis nos sistemas vivos, estas famílias tendem a experimentar algumas
dificuldades em momentos críticos do seu desenvolvimento. Pessoas vindas do
exterior e que são postas em contacto com a família, como por exemplo um
namorado da filha mais velha, são muitas vezes vistas como ameaçadoras do status
quo familiar. Os elementos destas famílias de forma geral acreditam que é essencial
para a sobrevivência ter regras imutáveis e, por isso, a exposição a novas ideias ou a
novos contextos é fortemente contrariada.
NÍVEIS DE ABORDAGEM:
Interaccional/Funcional
Um nível de abordagem da problemática familiar situada ao nível interaccional
estabelece que os sintomas, conflitos e problemas, isto é, situações perturbadoras
para os elementos da família, são peças de sequências de interacção mais vastas de
tipo recursivo, isto é, que tendem a perpetuar-se. Vimos já que qualquer grupo
humano, enquanto sistema de interacções, caracteriza-se pela presença de padrões,
isto é, de regularidades ao nível dos processos interpessoais. Estas sequências são
compostas por comportamentos que são à partida definidos pelos participantes como
não problemáticos e constituem aquilo que normalmente é referido como sendo as
regras familiares.
Compreender o comportamento de uma família a nível interaccional significa tentar
perceber de que padrão o comportamento problemático faz parte, isto é, descrever
aquilo que acontece previamente ao aparecimento da situação problemática e aquilo
que acontece depois, ou, em que circunstâncias ocorre com mais frequência. A partir
daqui vamos identificar os comportamentos e as situações que se repetem, isto é, os
padrões recursivos de funcionamento da família. Este padrões são recursivos no
sentido em que se considerarmos um determinado elemento desse padrão (por ex. o
elemento A), este vai conduzir a outros, e assim sucessivamente de tal forma que,
após um número variado de passos (B, C, D, ...), voltamos a obter o elemento inicial.
66 Uma razão simples que nos permite compreender porque isto é assim tem a ver com o
facto de a maior parte dessas causas terem origem no passado. A criança faz muitas birras e é
incontrolável porque foi demasiado mimada pela avó quando era deixada ao seu cuidado, antes de vir
para o Jardim de Infância. Se aceitarmos esta definição de causalidade, a não ser que
tenhamos uma máquina de viajar no tempo e voltarmos a essa époc a e tentarmos
convencer a avó a não mimar tanto a criança, ficamos sem muita possibilidade de fazer o
que quer que seja para que a criança aceite melhor algumas situações que a contrariam.
68 Talvez seja pertinente relatar o caso que conheci pessoalmente de uma educadora que, na
sua sala, resolveu elaborar um livro, uma espécie de álbum, de folhas em branco que, nos
fins-de-semana, cada criança levava para casa, devendo a sua família preencher uma das
páginas com textos, desenhos, etc..
69 Lembro-me a este propósito de uma família que tive ocasião de seguir em terapia familiar
conjuntamente com o Psiquiatra Prof. Daniel Sampaio, em que, entre outros problemas,
uma mãe referia a sua ansiedade quando o filho adolescente de 18 anos saía à noite,
ficando sempre acordada até ele voltar. De referir que esta família residia numa pacata vila
do Alto Alentejo onde, esta situação não representava nenhum perigo real. Aqui havia uma
manifesta dificuldade em lidar com os processos de autonomia relacionados com a
adolescência de um dos filhos.
Processamento da Informação
As famílias saudáveis revelam a sua flexibilidade nos padrões de busca de
informação e utilização de recursos que, de uma forma geral, caem entre dois
extremos.
Os padrões de processamento de informação das famílias ineficazes limitam-se,
contudo, a dois tipos fundamentais: ou são padrões demasiado rígidos,
controladores e apoiantes relativamente àquilo que já é conhecido, ou demasiado
difusos e inteiramente dependentes de recursos exteriores em termos de orientação e
controle. Naturalmente nenhum destes extremos fornece uma contribuição real no
sentido da autonomia, interdependência, auto-confiança ou capacidade de mudança.
Num dos extremos verifica-se uma utilização limitada da informação e recursos, com
a eventual excepção de um ou dois membros da família, reflexo de um sistema
isolado do ponto de vista social, sem ligações aparentes com a comunidade ou com
os sistemas sociais de apoio, com pouca ou nenhuma tolerância relativamente a
opiniões divergentes das crenças típicas da família. No outro extremo temos a utili-
zação excessiva numa enorme variedade de recursos, dependência extrema numa
autoridade exterior (sistema judicial, escola, professor, vizinhos, etc.), isto tudo
acompanhado de níveis mínimos de autonomia.
Qualquer destes extremos é característico de uma família ineficaz, que lidará dificil-
mente com qualquer desafio que se lhe apresente. Para além disso, estes extremos
parecem estar relacionados com padrões de tomada de decisão que são típicos de
uma família ineficaz.
Tomada de Decisão
Um processo de tomada de decisão adequado caracteriza-se pela utilização dos
métodos mais indicados para cada circunstância e pela mobilização dos recursos
familiares de uma maneira apropriada à idade, experiência e capacidade dos
membros envolvidos. à medida que o sistema familiar progride através de vários
estádios e se vê confrontada com diferentes situações, os padrões de tomada de
decisão veriam em termos da autoridade, envolvimento e implementação.
Quando as crianças são muito novas, por exemplo, a maior parte das decisões que
dizem respeito à família terão de ser tomadas e implementadas principalmente pelos
adultos, contudo, à medida que as crianças crescem e o sistema familiar ganha matu-
ridade, os padrões de tomada de decisão deverão ser alterados de forma a ter em
conta as alterações na idade, experiência, interesse e aptidão70. Há medida que estas
situações se vão verificando a família terá que adaptar os seus padrões de tomada de
decisão para se acomodarem ao problema em causa.
70 A partir de determinada altura os pais terão que contar com a opinião dos filhos acerca de,
por exemplo, onde e como passar as férias de Verão, etc..
Clima Emocional
Os climas emocionais eficazes contêm mensagens que são consistentes e congruentes.
Para além disso normalmente verificamos os seguintes processos:
• a pessoa, e o valor que lhe é atribuído, não está dependente das suas
capacidades, sendo mais importante que elas;
• um indivíduo é merecedor de consideração e reconhecimento quando se esforça
por realizar ou alcançar um objectivo, mesmo quando essas tentativas não são
coroadas de sucesso. A intenção é valorizada independentemente dos
resultados concretos;
• as ligações emocionais assentam na vinculação e são calorosas, apoiantes e
baseadas na honestidade emocional.
Embora aquela que consideramos a família eficaz por vezes cometa erros e tenha que
alterar algumas legações emocionais mais constrangedoras ou contraproducentes,
verifica-se um padrão geral caracterizado pelo calor humano, apoio e formas de
comportamento apropriadas à idade, sexo e experiência dos elementos envolvidos.
Mesmo quando se verificam ligações inter-generacionais, como por exemplo, entre
pai e filho, essas ligações não são exclusivas, quer dizer não deixam os outros de fora,
nem são usadas com propósitos abusivos. Pelo contrário, verifica-se uma protecção
de uns membros por outros, mas cada indivíduo é igualmente capaz de se defender e
falar por si próprio. Existe um forte sentimento de pertença, mas existe igualmente a
possibilidade de cada membro da família experimentar as suas próprias asas e ter a
noção do seu próprio sentido de identidade.
O clima emocional menos satisfatório é aquele que poderíamos definir como um
ambiente fluido, instável, imprevisível no qual a motivação principal é o medo do
Conflito e Individuação
A família satisfatória reconhece a necessidade das diferenças individuais estando ao
mesmo tempo consciente de que a harmonia não é necessariamente um indicador de
saúde, encoraja o desenvolvimento individual e aceita que os seus membros mudem
como resultado desse desenvolvimento.
A família insatisfatória normalmente, ou não encoraja limitando-se a tolerar as
diferenças ou é constituída por indivíduos, opiniões e ideias de tal forma diferentes e
divergentes que qualquer tentativa para tomar uma decisão ou funcionar como um
grupo se torna virtualmente impossível. No primeiro caso qualquer mudança verifi-
cada num membro expressa através de opiniões ou acções individuais envia ondas
que vão ecoar através da rigidez do sistema familiar. Nesta circunstância a família
normalmente reage com um apelo à "unidade" e ao conformismo que acaba por
dificultar qualquer tipo de esforços ou até de experiência individual. As disputas
verbais são evitadas ao máximo e o método mais frequente para lidar com os desen-
tendimentos é o afastamento puro e simples. No segundo caso a família é essencial-
mente composta por indivíduos desligados entre si, o que acontece a um dos
membros não tem um significado especial para os outros, a não ser que isso afecte os
seus desejos e objectivos individuais. Muitas vezes verifica-se que determinados
membros actuam de diversas maneiras com o objectivo de obter uma intervenção de
um sistema exterior à família de forma a alterar um pouco o seu estado caótico e
fragmentado. Muitas vezes estas famílias são identificadas, por exemplo, pelas
Educadoras de Infância, ao verificarem que uma criança chega ao infantário com
fome, mal vestida ou doente, apesar do facto por vezes virem daquilo que
poderíamos considerar uma família de bons recursos.
71 Este é o caso, por exemplo, de uma mãe que ameaça suicidar-se se o filho sair de casa para
ir viver com a namorada.
Produtividade e Flexibilidade
Os padrões satisfatórios de produtividade familiar incluem os seguintes parâmetros:
— Definição de objectivos claros, atingíveis e partilhados de forma consensual por
toda a família; Identificação das prioridades a ter em conta na consecução desses
objectivos; Capacidade para organizar e realizar tarefas em conjunto ao mesmo
tempo que existe a possibilidade de fazer as alterações necessárias sempre que os
desejos ou necessidades individuais o solicitem.
Pelo contrário os padrões de produtividade insatisfatórios podem ser limitados e
rígidos ou não directivos e imprevisíveis, isto é, verifica-se uma rigidez consistente
ou uma falta de orientação definida. Por vezes verifica-se igualmente uma
dependência exagerada de recursos exteriores e a incapacidade para a adaptação
manifesta-se através de sintomas vários, tais como a doença física, passagem ao acto
ou afastamento e isolamento.
Estrutural
Uma abordagem estrutural da família baseia-se no conceito de que uma família é
mais do que as realidades bio-pisco-dinâmicas dos seus membros. Os membros da
família relacionam-se entre si de acordo com determinados arranjos, que acabam por
condicionar as suas interacções concretas. Estes arranjos, se bem que nem sempre
sejam explicitamente definidos ou mesmo reconhecidos, formam um todo — a
estrutura da família. A estrutura familiar não sendo, assim, uma realidade imediata-
mente perceptível para qualquer observador exterior, pode, ser descrita em termos
de variáveis específicas estruturais, a saber, fronteiras (isto é, regras de participação) e
hierarquias (isto é, regras de poder). É a partir de um contacto com a família, de ouvir
o que os membros da família dizem uns aos outros e ao observador, assim como da
observação da forma como se relacionam entre si, que podemos construir um modelo
estrutural da família.
Este processo de construção de um modelo estrutural da família leva a que um
observador exterior tenha que se pôr as seguintes questões. Por exemplo: Quem é o
porta-voz da família? De que forma ele foi seleccionado para fazer a apresentação da
situação e assumir a responsabilidade do primeiro contacto com a instituição. Se for o
pai o porta-voz da família, o que é que isto significa? Ele assume a função de
porta-voz porque tem o poder executivo na família, ou é a mãe o verdadeiro líder
executivo que cede temporariamente o seu poder ao marido devido à prescrição
cultural que atribui o poder ao homem? O que é que ela faz quando o seu marido
fala? Ela apoia o que está a ser dito ou interfere de forma verbal ou não-verbal,
desautorizando o discurso parental?
Esta situação, quando se torna demasiado repetitiva pode dar origem a comporta-
mentos patológicos pois perde-se clareza da definição generacional.
Contudo, o acordo interaccional, as alianças ou as coalisões, mais ou menos estáveis
não são suficientes para assegurar o equilíbrio e a estabilidade desta colectividade
feita de indivíduos interdependentes que é a família. Para subsistir o sistema familiar
leva à instauração de normas de funcionamento que orientam as relações, favorecem
a instituição de rituais e permitem o acordo automático sobre certos aspectos
essenciais para a vida familiar. Estas normas, que com o tempo, acabam por conduzir
à definição de valores fundamentais partilhados por toda a família, devem ser sufi-
cientemente poderosos e interiorizados para evitar os conflitos e as discussões
intermináveis.
Este sistema de valores constitui um contexto estável, uma espécie de plano de acção
"pronto-a-vestir" que dispensa a família de reflectir sobre cada situação concreta e,
assim, economizar tempo, angústia e energia.
A compreensão deste processo remete para um nível de análise contextual, ao qual
nos dedicaremos no capítulo seguinte.
Contextual
Uma abordagem ao nível contextual incide basicamente sobre o sistema de crenças,
de visões, os mapas do mundo compartilhadas pelos membros de uma determinada
família. Com efeito, cada um de nós transporta dentro de si uma estrutura de crenças
que não somente organizam a nossa realidade compartilhada, como organizam o
nosso comportamento na base de suposições que estão claramente cristalizadas em
ideologias, algumas em convicções de que: "Esta é a forma como as coisas realmente
são!"(Sluzki, 1993) Assim, todos os actos de comunicação (discurso e acções)
fornecem um acesso directo às visões do mundo de cada um de nós.
No campo específico da família, estas visões do mundo definem um determinado
contexto constituído por um conjunto específico de palavras-chave, símbolos e
histórias que condensam prescrições e proscrições de comportamentos, ordens e
regulamentos, acordos sobre pontuações e fronteiras, além de regras interpessoais
em geral. São invólucros circundantes que acrescentam os níveis de significado e dão
continuidade a todas as interacções, sendo, no caso de uma nação, a sua bandeira, o
seu hino nacional, certos gestos dos seus chefes, os seus heróis e os seus inimigos.
No caso da família as interacções são sempre emolduradas por um conjunto simbó-
lico rico e bastante estável, específico da condição humana, que recorda aos seus
membros como é que a realidade deveria ser construída, criando, apoiando e recor-
dando ao mesmo tempo as regras familiares. Estas regras existem em todas as
famílias sendo muitas vezes designadas por mitos familiares. Podemos definir mito
familiar como referindo-se a um certo número de crenças relativamente bem
sistematizadas, partilhadas por todos os membros de uma família, respeitantes aos seus papeis
mútuos na família e a natureza da sua relação. Estes mitos familiares contêm numerosas
regras que permanecem dissimuladas pelo carácter trivial das rotinas e dos clichés
familiares. Normalmente os mitos estão bem integrados na vida quotidiana e não
somente os membros da família não sonham em os pôr em causa, como os assumem
como verdades absolutas se são contestados.
O mito comporta muitas vezes uma apreciação sobre um dos membros da família,
mas determina de facto, por esta apreciação, o comportamento de todos os outros
membros. Podemos citar o exemplo de uma família na qual era admitido sem
discussão que a mãe "não tinha jeito para a mecânica" e, por isso, nunca tinha nem
mesmo tentado aprender a conduzir. Este facto em si não teria nada de especial,
sendo até bastante vulgar, se a família não habitasse fora da cidade de tal forma que
todas as deslocações tivessem que ser feitas de automóvel. Ora, devido a esse facto,
após 16 anos de casados o marido teve sempre que fazer de motorista à sua mulher,
isto em prejuízo das suas próprias actividades tanto privadas como profissionais.
Esta apreciação do comportamento da mãe obriga de facto o pai e até eventualmente
os filhos mais velhos a adoptarem uma posição de complementaridade rígida face a
ela, impedindo qualquer possibilidade de variação neste aspecto.
Se os mitos existem em todas as famílias (um certo nível de mitologia é até indispen-
sável ao bom funcionamento das relações) eles são sempre mais evidentes, mais
enraizados, mais numerosos, mais condicionantes nas famílias problemáticas. Estas
dão muitas vezes a impressão de que só existem por elas e para elas, parecem
"esmagadas" sob o peso da sua própria mitologia e normalmente deixam aos seus
membros uma margem de manobra tão estreita que a única possibilidade de acção é
a repetição dos comportamentos determinados pelas regras mitológicas. Natural-
mente uma família deste género terá muitas dificuldades em se adaptar a situações
novas, como por exemplo, aquelas que decorrem da entrada de uma criança para a
escola ou para o Jardim de Infância. Muitas vezes verificamos que em famílias em
que impera o mito dos "bons pais" as crianças são superprotegidas de tal forma que
quando a criança é entregue temporariamente aos cuidados de outro sistema (escola,
J. I.) os pais insistem junto dos professores ou educadores para que estes tratem a
criança com o mesmo nível de atenção e controlo que caracteriza a vivência familiar.
Quando um mito é ameaçado, por exemplo, pelo simples facto de que as crianças
crescem, muitas famílias não conseguem lidar com esse facto e buscam ajuda em
sistemas exteriores, normalmente com o objectivo de reforçar o próprio mito. Como
isto se revela muitas vezes impossível a família pode passar por graves momentos de
crise e até correr riscos de desestruturação.
Esta breve passagem pelo mundo da família teve como objectivo último fornecer
instrumentos conceptuais ao professor e educador na perspectiva que lhe possam ser
de alguma utilidade no âmbito das suas responsabilidades pedagógicas. Não se
pretende, contudo, que este assuma uma atitude terapêutica face aos casos em que a
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VAYER, p.; DUVAL, A.; RONCIN, C. (1991) Uma Ecologia da Escola, Lisboa,
DinaLivro
Comunicação
A Padrão estrutural · 67
Conflito cognitivo · 96
Abordagem sistémica · 6 Conflito sociocognitivo · 96
Abordagem sistémica · 7
ARGYLE, J. · 74
ARONSON, E. · 96 D
Atracção interpessoal · 65 DEUTSCH, Morton · 89
Princípio de complementaridade · 66 Dissonância cognitiva · 64
Princípio de semelhança · 66 Double-Bind · 38
Atribuição causal · 61
Atribuições · 96
Auto-estima · 96 E
EISENBERG, Werner · 18
B Empatia · 96
Epistemologia · 18
BARKER, Roger · 99, 103, 111, 112 Escola
BARKER, Roger · 107 crise da · 1
BARKER, Roger · 108 Espaço pessoal · 105
BARKER, Roger · 108 Esquemas mentais · 67
BARKER, Roger · 108 Esquizmogénese complementar · 46
BARKER, Roger · 108 Esquizmogénese simétrica · 46
BATESON, Gregory · 6, 16, 17, 38, 46, Estrutura familiar · 133
54 Aliança · 134
BERTALANFFY, Ludwig · 7, 8, 9, 10
Coalisão · 134
BLOUET-CHAPIRO, Christine · 2 fronteiras · 133
Hierarquias · 133
C Triângulo preverso · 134
EVÉQUOZ, G. · 50, 117
Causalidade · 21 Experiência de intimidade · 66
Cibernética · 7
Circularidade · 20
Comportamento socioespacial · 103 F
Comportamento socioespacial · 98
FARR, R. M. · 60
Compreensão recíproca · 58
G Janela de Johari
Área aberta · 58
GILLY, Marcel · 61 Área cega · 58
GOFFMAN, Erving · 59 Área desconhecida · 58
Grupos Área oculta · 58
características dos membros · 72 JOHNSON, D. W. · 90, 91, 92, 95
aptidões · 73 JOHNSON, R. · 90, 91, 92, 95
classe social · 72 Julgamento social · 63
idade · 72
sexo · 72 K
clima emocional · 70
coesão · 87 KANT, Emmanuel · 18
desenvolvimento · 76 KATZ, D. · 74
estatuto · 76, 97 KHAN, R. L. · 74
estrutura · 70, 82 KHAN, Robert · 75
objectivos · 82
papel · 74, 82 L
T Groups · 69
tamanho · 71, 82 LEWIN, Kurt · 20, 78, 89, 98
Grupos LUFT, Joseph · 58
norma · 73
M
H
MAISONNEUVE, Jean · 59, 60
HALL, Edward T. · 105 MARUYAMA, G. · 90, 91, 95
HARGREAVES, D. H. · 66 MARX, Karl · 6
HEIDER, Fritz · 61, 62 Matriz Sociométrica · 80, 83
HOLLANDER, E. P. · 73 Mitos familiares · 135
Homeostase · 12 MONTEIL, J-M. · 63
HUME, David · 18 MORENO, J. L. · 80
MORENO, Jacob Levy · 78, 79, 80
Morfoestase · 12
Morfogénese · 12 S
MOSCOVICI, Serge · 60
Motivação extrínseca · 92 SEDGWICK, R. N. Rae · 116
Motivação intrínseca · 92 SELMAN, R. L. · 58
Sensibilidade relacional · 86
SHANDS, Harley · 14
N
SHANNON, Claude · 29
NEWCOMB, T. M. · 66 SHERIF, Muzafer · 63, 64
NORTHWAY, M. · 78 SIMÕES, Helena · 5
Sistema · 6, 8
características constitutivas · 10
O
propriedades
OLIVEIRA, José H. Barros · 116 autoregulação · 12
Organização · 7 equifinalidade · 11
OVEJERO, Anastasio · 90, 91, 97 totalidade · 10
Sistema aberto · 9
Sistema fechado · 9
P SLUZKI, Carlos · 135
Padrão · 26 Sociabilidade · 86
PAGÉS, Max · 65 Sociograma · 83
Percepção Interpessoal · 57 Sociometria
Estrutura do Grupo
PERRET-CLERMONT, Anne Nelly · 95
Estrutura externa ou formal · 79
PIAGET, Jean · 96, 113
Estrutura interna ou informal · 80
POPPER, Karl · 19
POSTIC, Marcel · 49 Princípio da espontaneidade
PRATA, F. X. Pina · 12 criadora · 79
Privacidade · 104 Princípio da interrelação · 79
PROSHANKY, H. M. · 104 Técnicas de Investigação · 80
Proxémica · 105 Técnicas Terapêuticas · 80
STEPHAN, W. · 96
zona íntima · 105
zona pessoal · 105
zona pública · 105 T
zona social · 105
TAVARES, José · 50
Teorias implícitas da personalidade ·
R 61
Teste de Percepção Sciométrica · 79
Raciocínio Analógico · 24
Teste Sociométrico
Realismo perceptivo · 86
Fiabilidade · 85
Rede sociométrica · 86
Utilidade prática · 87
Regra · 26
Validade · 85
Regras familiares · 124
THIBAUT, J. · 74
ROKEACH, M. · 64
Tipos sociométricos · 84
TUCKMAN, B. V. · 76 W