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DIREITO PROCESSUAL PENAL

COMPETÊNCIA
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SUMÁRIO

1. Conceito.........................................................................................................................................................4
2. Fixação da competência..................................................................................................................................4
2.1. Critérios de fixação da competência.............................................................................................................4
2.1.1. Critérios principais....................................................................................................................................4
2.1.2. Critério alternativo ou facultativo.............................................................................................................5
2.1.3. Critérios secundários................................................................................................................................5
2.2. Definição do foro competente.....................................................................................................................6
2.3. Síntese das etapas para verificação da competência....................................................................................6
3. Competência absoluta....................................................................................................................................7
3.1. Competência em razão da matéria (ratione materiae).................................................................................7
3.2. Competência por prerrogativa de função (ratione personae).....................................................................29
3.3. Competência funcional..............................................................................................................................42
4. Competência relativa....................................................................................................................................43
4.1. Competência territorial ou competência ratione loci (arts. 69, I, e 70 a 71 do CPP):....................................44
4.2. Foro no caso de crimes cometidos a bordo de embarcações ou de aeronaves:...........................................47
4.3. Situações especiais....................................................................................................................................47
4.4. Competência territorial pelo domicílio do réu............................................................................................49
5. Prevenção.....................................................................................................................................................51
5.1. Introdução.................................................................................................................................................52
5.2. Hipóteses legais.........................................................................................................................................52
6. Conexão.......................................................................................................................................................53
6.1. Introdução.................................................................................................................................................53
6.2. Conexão intersubjetiva..............................................................................................................................53
6.3. Conexão objetiva, lógica ou material ou teleológica...................................................................................53
6.4. Conexão instrumental, probatória ou processual.......................................................................................54
7. Continência..................................................................................................................................................55
7.1. Continência por cumulação subjetiva ou continência subjetiva (continência concursal)..............................56
7.2. Continência por cumulação objetiva..........................................................................................................56
8. Regras aplicáveis à conexão e continência (art. 78 do CPP)............................................................................57
8.1. Concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum (art. 78, I, do CPP).............58
8.2. Concurso de jurisdições distintas...............................................................................................................58
8.3. Concurso de jurisdições da mesma categoria.............................................................................................59
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8.4. Separação de processos.............................................................................................................................59


9. Perpetuação da jurisprudência (perpetuatio jurisdictionis)...........................................................................62
9.1. Crimes dolosos contra a vida......................................................................................................................62
12. Jurisprudência em Teses........................................................................................................................64
13. Julgados relacionados...........................................................................................................................66
Compete à Justiça Estadual julgar crime cometido a bordo de balão.............................................................68
12. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO...............................................................................................79
13. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA............................................................................................................................79
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ATUALIZADO EM 18/02/20231

COMPETÊNCIA2

1. Conceito

Competência é a medida da jurisdição, espaço dentro do qual o poder jurisdicional pode ser exercido.
Jurisdição todo juiz possui, mas competência, não. Assim, por exemplo, o STF tem competência sobre todo
território nacional, enquanto um juiz de direito tem competência apenas na comarca em que exerce as suas
funções.

Para melhor compreensão da matéria “competência” no processo penal, fundamental é o estudo dos
princípios do juiz natural e do juiz imparcial, o que já foi feito no capítulo de princípios do processo penal, para
onde remetemos novamente o leitor.

No processo penal, a competência poderá ser absoluta ou relativa.

2. Fixação da competência

2.1. Critérios de fixação da competência

2.1.1. Critérios principais

a) Competência ratione personae (art. 69, VII, CPP): refere-se à condição funcional ou à qualidade das
pessoas acusadas, sendo utilizada nos casos de prerrogativa de função. Ex: Deputados Federais e Senadores, que
são julgados pelo STF (CF, 102, I, “b”).

b) Competência ratione materiae (art. 69, III, CPP): é aquela estabelecida em razão da natureza da
infração penal praticada. Ex: competência da Justiça Militar para julgar crimes militares.

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As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura
identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o
número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca
do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos
anteriormente citados.
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Tássia N. Neumann Hammes.
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c) Competência ratione loci (art. 69, I, CPP): refere-se ao lugar onde ocorreu a infração penal, comarca ou
subseção. Daí a fixação da competência territorial, seja pelo lugar da infração, seja pelo domicílio ou residência do
réu.

2.1.2. Critério alternativo ou facultativo

Trata-se do domicílio ou residência do réu (art. 69, II, CPP). Esse critério é utilizado em duas situações:

a) Como critério alternativo: quando não for conhecido o local onde foi praticada a infração penal (art. 72
do CPP).

b) Como critério facultativo: nas hipóteses de ação penal exclusivamente privada. Aqui, o uso do
domicílio do réu fica na opção exclusiva do querelante, sendo irrelevante se conhecido ou não o lugar da infração
(art. 73 do CPP).

2.1.3. Critérios secundários

a) Prevenção (art. 69, VI, CPP): ocorrerá a prevenção quando, havendo dois ou mais juízes igualmente
competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles se anteceder ao(s) outro(s) na prática de atos de jurisdição
(atos com carga decisória).

b) Normas de organização judiciária (art. 74, CPP): busca-se definir o Juiz competente dentro da Comarca
a que incumbir o processo e julgamento da ação criminal, o que é feito depois de firmada a competência ratione
materiae (Justiça Federal, Justiça Estadual, Militar etc.) e após definido o foro competente para a apuração
segundo os critérios lugar do crime, domicílio e residência do réu e prevenção.

c) Distribuição (art. 69, IV, CPP): quando, no mesmo foro, houver mais de uma vara igualmente
competente.

d) Conexão ou continência (art. 69, V, CPP): são hipóteses de modificação da competência que apenas
ocorrem nas condições expressamente previstas – a primeira, no art. 76 do CPP, e a segunda, no art. 77 do
mesmo diploma legal.
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2.2. Definição do foro competente

Não sendo hipótese de competência originária dos tribunais, e já definida a Justiça competente (Militar,
Eleitoral, Federal ou Estadual), deve-se verificar o foro competente para a tramitação da ação penal.

Nesse sentido, será utilizado o critério principal de fixação da competência relacionando o lugar da
infração (art. 69, I, CPP), ou, não sendo este conhecido, o domicílio do réu (art. 69, II, CPP).

2.3. Síntese das etapas para verificação da competência

Não existe um critério obrigatório a ser observado na fixação da competência do juízo. Contudo, há
caminhos que permitem essa definição com menor possibilidade de erro e, além disso, agilizam a verificação.
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3. Competência absoluta

Há três hipóteses de competência absoluta:

3.1. Competência em razão da matéria (ratione materiae)

É aquela que leva em conta a natureza da infração a ser julgada.


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a) Justiça Eleitoral: nos termos do art. 35, II, do Código Eleitoral, compete aos Juízes Eleitorais processar e
julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos. A maior parte dos tipos penais eleitorais
concentra-se no Código Eleitoral (Lei 4.737/1965). No entanto, diversas leis editadas posteriormente introduziram
comportamentos típicos, visando com isso adaptar a realidade jurídica às necessidades, peculiaridades e
tecnologias existentes em cada momento histórico. Ex: Lei 6.091, de 15 de agosto de 1974; da Lei 6.996, de 7 de
junho de 1982; da Lei 7.021, de 6 de setembro de 1982; da Lei Complementar 64, de 18 de maio de 1990; e da Lei
9.504, de 30 de setembro de 1997.
*(Atualizado em 01/11/2020) #DEOLHONAJURIS #STF STF determina que Justiça Eleitoral de 1ª instância
apure crime eleitoral e também crime federal conexos; ao receber os autos, Justiça Eleitoral arquiva a
investigação do crime eleitoral e remete os autos à Justiça Federal; isso afronta a decisão do STF. Caso concreto
(com adaptações): Marcos era Ministro de Estado. Havia suspeitas de que ele teria cometido dois crimes conexos:
um crime eleitoral e um crime federal “comum”. Considerando que ele possuía foro por prerrogativa de função,
foi instaurado, no âmbito do STF, um inquérito para apurar os fatos. Antes que houvesse denúncia, Marcos foi
exonerado do cargo de Ministro e, portanto, perdeu o foro privativo. Diante disso, o STF determinou a remessa
da investigação para a 1ª instância. O caso foi remetido para a 1ª instância da Justiça Eleitoral porque segundo o
entendimento do STF, em caso de conexão entre crime de competência da Justiça comum (federal ou estadual) e
crime eleitoral, os delitos serão julgados conjuntamente pela Justiça Eleitoral. O processo foi distribuído para o 1ª
Zona Eleitoral de Brasília (DF). O Promotor Eleitoral pediu sumariamente o arquivamento da investigação no que
tange ao crime eleitoral. O Juiz Eleitoral acolheu o pedido do Ministério Público Eleitoral e arquivou a investigação
quanto ao crime eleitoral. Restava, no entanto, um outro delito, qual seja, o crime federal. Diante disso, o Juiz
Eleitoral declinou da competência para processar o feito para a Seção Judiciária de São Paulo (SP), local onde
supostamente o crime teria sido praticado. Inconformada, a defesa de Marcos ajuizou reclamação alegando que a
decisão declinatória do Juiz Eleitoral teria afrontado a decisão do STF. Houve um empate na votação e prevaleceu
a decisão mais favorável ao investigado. Para o Ministro Gilmar Mendes, houve sim violação à autoridade da
decisão proferida pelo STF, uma vez que as instâncias inferiores não observaram as diretrizes que resultaram na
definição da competência da Justiça Eleitoral para apuração e processamento dos fatos. O MPE promoveu o
arquivamento do crime eleitoral imediatamente após o recebimento dos autos, não tendo sequer empreendido
qualquer diligência investigativa para apurar os indícios de tais crimes. Além disso, o Juízo Eleitoral arquivou o
inquérito e remeteu os autos à Justiça Federal, mesmo diante da expressa decisão dessa Corte que fixou sua
competência para supervisão dos fatos. As instâncias inferiores, portanto, ignoraram os termos da decisão
reclamada, que assentou a competência da Justiça Eleitoral para o processamento e a apuração dos fatos em
questão. STF. 2ª Turma. Rcl 34805 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em
1º/9/2020 (Info 989).
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*(Atualizado em 17/12/2021) Em caso de conexão entre crime de competência da Justiça comum (federal ou
estadual) e crime eleitoral, os delitos serão julgados conjuntamente pela Justiça Eleitoral.
A Justiça Eleitoral é competente para processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos.
STF. Plenário. Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019 (Info 933). STJ. 5ª
Turma. HC 612.636-RS, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT), Rel. Acd. Min. Ribeiro
Dantas, julgado em 05/10/2021 (Info 713).

b) Justiça Militar: quanto à caracterização de uma conduta como crime militar, condiciona-se à
observância dos seguintes requisitos:
(i) Tipificação no Código Penal Militar (crime militar próprio) ou na legislação penal comum (crime militar
impróprio).
(ii) Enquadramento da conduta nos art. 9.º e 10 do CPM, dispositivos que definem o que se consideram
crimes militares em tempo de paz e em tempo de guerra.
Frise-se que havendo conexão ou continência entre crime militar e crime comum, deve ser feita a cisão
processual, ficando o crime militar a cargo da Justiça Militar e o crime comum afeto à Justiça Comum.
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*(Atualizado em 02/08/2020) #DEOLHONAJURIS: A Justiça do Trabalho não tem competência para processar e
julgar ações penais. STF. Plenário. ADI 3684, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 11/05/2020 (Info 980).

#DEOLHONASSÚMULAS:
Súmula 53, STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar civil acusado de prática de crime conta
instituições militares estaduais.
Súmula 75, STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar o policial militar por crime de promover
ou facilitar a fuga de preso de estabelecimento penal. Superada pela Lei nº 13.491/2017
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Súmula 78, STJ: Compete à Justiça Militar processar e julgar policial de corporação estadual, ainda que o delito
tenha sido praticado em outra unidade federativa.
Súmula 90, STJ: Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prática do crime
militar, e à Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele. Superada pela Lei nº 13.491/2017

#IMPORTANTE: A jurisprudência do STF, de modo geral, vem compreendendo que apenas atraem a
competência da Justiça Militar as hipóteses em que o crime tenha sido cometido em razão ou no curso do
serviço militar. Logo, se a prática delituosa motiva-se em questões pessoais, não se encontrando o agente em
serviço militar nem executando missão militar, utilizando-se, por exemplo, de arma de particular, descarta-se a
competência da Justiça Militar (STF, HC 102380/RJ, 2.ª Turma, J. 28.08.2012). Em outras palavras, a fixação da
competência da Justiça Militar condiciona-se à demonstração de ofensa a bens jurídicos de que sejam titulares
as Forças Armadas (STF, HC 135956/RS, 2.ª Turma, j. 26.10.2016) ou, no caso dos Estados, as polícias militares e
o corpo de bombeiros.

#OUSESABER #DEOLHONAPEGADINHA #SELIGA: Suponha que determinado militar, estando em serviço, em


comemoração ao seu aniversário, no alojamento do quartel, onde estavam inúmeros outros militares, resolve
efetuar disparos para o alto com pistola da corporação e em local sujeito à Administração Militar, o julgado do
crime de dísparo em local habitado é de competência da Justiça Militar? A competência da Justiça militar,
conforme disposto no art. 124 da Constituição Federal é para “processar e julgar os crimes militares definidos em
lei”. Desta forma, não basta a condição de militar do sujeito ativo ou mesmo que o crime seja cometido em
detrimento das instituições militares para que seja competente a Justiça Militar. É necessária a previsão da
conduta como crime militar no Código Penal Militar. No caso em questão, como o crime de disparo de arma de
fogo em local habitado, previsto no artigo 15 da Lei 10.826/03, encontra-se previsto em legislação especial, sem
correspondente no Código Penal Militar, não pode ser considerado crime militar, tendo em vista o disposto no
art. 9º co Código Penal Militar. Assim, não compete à Justiça Militar o processamento de tal delito. (STJ CC
90.131)
#ATENÇÃO #MUDANÇALEGISLATIVA: Muita atenção à Lei nº. 13.491/2017 que alterou o Código Penal Militar.
Antes da Lei: para se enquadrar como crime militar com base no inciso II do art. 9º, a conduta praticada pelo
agente deveria ser obrigatoriamente prevista como crime no Código Penal Militar. Agora: a conduta praticada
pelo agente, para ser crime militar com base no inciso II do art. 9º, pode estar prevista no Código Penal Militar ou
na legislação penal “comum”.

c) Justiça Federal:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
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I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de
autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça
Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente
no País;
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional;
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou
de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da
Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado
tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a
ordem econômico-financeira;
VII - os habeas corpus , em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de
autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição;
VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de
competência dos tribunais federais;
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar;
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o
"exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a
respectiva opção, e à naturalização;
XI - a disputa sobre direitos indígenas.
§ 1º As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde tiver domicílio a outra parte.
§ 2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o autor,
naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda,
no Distrito Federal.
§ 3º Lei poderá autorizar que as causas de competência da Justiça Federal em que forem parte instituição de
previdência social e segurado possam ser processadas e julgadas na justiça estadual quando a comarca do
domicílio do segurado não for sede de vara federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de
2019)
§ 4º Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o Tribunal Regional Federal na área de
jurisdição do juiz de primeiro grau.
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§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de
assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o
Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou
processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.

#DEOLHONAJURIS:

*(Atualizado em 12/02/2023) Atração da competência da Justiça Federal por violação de direitos indígenas:
O que importa para configurar a violação dos direitos indígenas e, por conseguinte, atrair a competência da
Justiça Federal para o processamento do feito, é o impacto negativo da atuação dos acusados nas tradições,
modo de viver e terras que os indígenas habitam e utilizam, sendo despiciendo discutir se ocorreu ou não a
efetiva demarcação da terra como território indígena. Nos termos do art. 109, IX, da Constituição Federal,
compete à Justiça Federal o processamento e julgamento das causas que envolvem a disputa de direitos
indígenas, incluídos aqueles que dizem respeito a sua organização social, tradições, direitos originários sobre as
terras, entre outros que evidenciem a proteção do referido grupo étnico. No caso, os delitos supostamente
cometidos pelos acusados ultrapassam a violação de direito individual de indígena, ameaçando a garantia das
terras, das tradições e do modo de viver da comunidade étnica, nos termos do art. 231 da Constituição Federal, o
que atrai a competência federal para processar o inquérito em questão.
Ademais, a situação em análise inclui não só a disputa de direitos indígenas, nos termos do art. 109 da
Constituição Federal, mas também a usurpação de função pública de órgão federal de controle como o Ibama e
Funai, o que, de qualquer forma, atrairia a competência federal para o processamento do feito. Nessa esteira,
ressalta-se que o inquérito e a representação mencionam que, em razão dos crimes cometidos pelos acusados, as
populações indígenas do local foram impactadas pelos atos delituosos, encontrando-se amedrontadas e deixando
de realizar as atividades habituais - caça e pesca noturnas, coleta, navegação nos rios. Ademais, os atos
criminosos supostamente ocorreram em terras ocupadas por tribos indígenas, as quais foram invadidas por esse
próprio grupo, que buscou esconder-se nos territórios das tribos. Quanto ao local dos crimes, é despiciendo
discutir se ocorreu ou não a efetiva demarcação da terra como território indígena, pois o que importa para
configurar a violação dos direitos indígenas e, por conseguinte, atrair a competência da Justiça Federal para o
processamento do feito, é o impacto negativo da atuação dos acusados nas tradições, modo de viver e terras que
os indígenas habitam e utilizam, o que, no caso, o inquérito concluiu de forma positiva. STJ, Processo sob segredo
judicial, Rel. Ministro Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT), Terceira Seção, por unanimidade,
julgado em 26/10/2022, DJe 7/11/2022 (Edição Especial n° 10).

*(Atualizado em 18/03/2022) Beneficiário do auxílio emergencial transferiu o dinheiro para a conta de terceiro
que deveria sacar a quantia e entregar ao beneficiário; compete à Justiça Estadual julgar a conduta do terceiro
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que decidiu não mais entregar o valor. Não compete à Justiça Federal processar e julgar o desvio de valores do
auxílio emergencial pagos durante a pandemia da covid-19, por meio de violação do sistema de segurança de
instituição privada, sem que haja fraude direcionada à instituição financeira federal. Caso concreto: Regina era
beneficiária do auxílio emergencial. O dinheiro do benefício foi transferido da Caixa para a conta de Regina no
Mercado Pago. Foi então que Regina combinou de transferir a parcela do auxílio emergencial (R$ 600,00) para a
conta de Pedro, um conhecido. O objetivo da transferência seria possibilitar o recebimento antecipado do auxílio
emergencial. O combinado seria Pedro sacar o dinheiro e repassá-lo para Regina. Ocorre que Pedro não cumpriu
e ficou com o dinheiro. Foi instaurado inquérito policial para apurar o crime de furto mediante fraude que teria
sido praticado por Pedro. A Justiça Estadual é competente para julgar esse delito. STJ. 3ª Seção. CC 182940-SP,
Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 27/10/2021 (Info 716).

*(Atualizado em 28/12/2021) #DEOLHONAJURIS A Justiça Federal é competente para processar e julgar os


crimes ambientais e contra a vida decorrentes do rompimento da barragem em Brumadinho/MG.
Caso concreto: em janeiro de 2019, houve o rompimento de uma barragem de rejeitos de minério, localizada no
Município de Brumadinho (MG). A barragem era de responsabilidade da mineradora Vale S.A. O rompimento
resultou em um terrível desastre ambiental e humanitário, com inúmeros mortos e uma grande poluição. O
Ministério Público do Estado de Minas Gerais ofereceu denúncia contra o ex-Presidente da Vale, imputando-lhe a
prática de homicídio qualificado (270 vítimas) em concurso com sete crimes ambientais. O STJ entendeu que a
competência para julgar essa ação penal é da Justiça Federal. No caso, há ofensa a bem e interesse direto e
específico de órgão regulador federal e da União pelas seguintes razões:
- as Declarações de Estabilidade da Barragem, apresentadas ao antigo DNPM (autarquia federal), seriam
ideologicamente falsas;
- os acusados teriam omitido informações essenciais à fiscalização da segurança da barragem, ao não fazê-las
constar do SIGBM, sistema de dados acessado pela Agência Nacional de Mineração - ANM; e
- com o rompimento da barragem, houve supostamente danos a sítios arqueológicos, que são classificados como
bens da União (art. 20, X, da CF/88). STJ. 6ª Turma. RHC 151.405-MG, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador
convocado do TRF 1ª Região), julgado em 19/10/2021 (Info 714).
*(atualizado em 07/07/2022) O entendimento lavrado no acórdão acima do STJ foi reformado pelo STF, por
meio de decisão monocrática de Edson Fachin, no julgamento do RE 1.378.054/MG!!!!
O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), concluiu que cabe à Justiça estadual de Minas Gerais
processar e julgar ação penal contra responsáveis por crimes cometidos no rompimento da barragem B1 na Mina
Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG). O conflito de competência entre a Justiça estadual e a federal foi
resolvido na análise dos Recursos Extraordinários (REs) 1378054 e 1384414, envolvendo Fabio Schvartsman e
Felipe Figueiredo, respectivamente, ex-presidente e ex-engenheiro da Vale.
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No caso, o relator entendeu que “embora conste no acórdão recorrido que existem fatos correlatos sendo
apurados tanto na esfera estadual como na federal, o Juízo Federal apenas deferiu medida cautelar para
apurações feitas ainda na fase de inquérito policial, sem ajuizamento de ação penal por parte do Ministério
Público Federal ou manifestação daquele juízo no sentido de eventual conflito de competência, ao passo que, no
presente caso, a persecução penal já foi iniciada pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais e o Juízo
Estadual já reconheceu sua competência, visto que recebeu a denúncia. Não vislumbro, assim, plausibilidade
jurídica em reconhecer, a priori, a competência da Justiça Federal tendo por base apurações ainda em fase
embrionária”.
Ao decidir, Fachin citou jurisprudência pacífica do Supremo de que o interesse da União, para que ocorra a
competência da Justiça Federal, tem de ser direto e específico, não bastando o interesse genérico de coletividade.
Do mesmo modo, a corte entende que a competência da Justiça Federal para julgar o crime de falsificação de
documentos somente se dá quando for comprovada a intenção do agente em causar lesão a bens, interesse ou
patrimônio da União.
No caso de Brumadinho, o ministro ressaltou que a emissão de declarações falsas sobre as condições de
estabilidade foi apenas uma conduta para amparar as decisões corporativas que, deliberadamente,
desconsideravam o risco qualificado. Para ele, as condutas atribuídas aos denunciados (diversos homicídios e
crimes ambientais ocasionados pelo rompimento da barragem) não tinham por objetivo final atingir interesse
direto e específico da União, cujo prejuízo foi apenas indireto.

*(Atualizado em 10/11/2020): Redação anterior da tese do Tema 393: Compete à Justiça Federal processar e
julgar os crimes consistentes em disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou
adolescente (arts. 241, 241-A e 241-B da Lei nº 8.069/1990) quando praticados por meio da rede mundial de
computadores. STF. Plenário. RE 628624/MG, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, Red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin,
julgado em 28 e 29/10/2015 (Repercussão Geral – Tema 393) (Info 805).
Redação atual, modificada em embargos de declaração: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes
consistentes em disponibilizar ou adquirir material pornográfico, acessível transnacionalmente, envolvendo
criança ou adolescente, quando praticados por meio da rede mundial de computadores (arts. 241, 241-A e 241-B
da Lei nº 8.069/1990). STF. Plenário. RE 628624 ED, Rel. Edson Fachin, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral
– Tema 393) (Info 990 – clipping).

Quem julga, no Brasil, crime cometido por brasileiro no exterior e cuja extradição tenha sido negada?
- Justiça Estadual
- Justiça Federal
O fato de o delito ter sido cometido por brasileiro no exterior, por si só, não atrai a competência da Justiça
Federal.
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Assim, em regra, compete à Justiça Estadual julgar o crime praticado por brasileiro no exterior e que lá não foi
julgado em razão de o agente ter fugido para o Brasil, tendo o nosso país negado a extradição para o Estado
estrangeiro. Somente será de competência da Justiça Federal caso se enquadre em alguma das hipóteses do
art. 109 da CF/88. STF. 1ª Turma. RE 1.175.638 AgR/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/4/2019 (Info 936).
Compete à Justiça Federal o processamento e o julgamento da ação penal que versa sobre crime praticado no
exterior que tenha sido transferida para a jurisdição brasileira, por negativa de extradição. STJ. 3ª Seção. CC
154.656-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/04/2018 (Info 625).
À luz do preconizado no art. 109, V, da CF, a competência para processamento e julgamento de crime será da
Justiça Federal quando preenchidos 03 (três) requisitos essenciais e cumulativos, quais sejam, que: a) o fato esteja
previsto como crime no Brasil e no estrangeiro; b) o Brasil seja signatário de convenção ou tratado internacional
por meio do qual assume o compromisso de reprimir criminalmente aquela espécie delitiva; e c) a conduta tenha
ao menos se iniciado no Brasil e o resultado tenha ocorrido, ou devesse ter ocorrido no exterior, ou
reciprocamente. (STF, RE 628624/MG, DJe 06.04.2016).
Compete à JUSTIÇA ESTADUAL a execução de medida de segurança imposta a militar licenciado. STJ. 3ª Seção. CC
149.442-RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 09/05/2018 (Info 626).
Compete à Justiça Estadual o julgamento de crimes ocorridos a bordo de balões de ar quente tripulados. Os
balões de ar quente tripulados não se enquadram no conceito de “aeronave” (art. 106 da Lei nº 7.565/86), razão
pela qual não se aplica a competência da Justiça Federal prevista no art. 109, IX, da CF/88). STJ. 3ª Seção. CC
143.400-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/04/2019 (Info 648).
Justiça Federal é competente para julgar venda de cigarro importado, permitido pela ANVISA,
desacompanhada de nota fiscal e sem comprovação de pagamento do imposto de importação.
Compete à Justiça Federal a condução do inquérito que investiga o cometimento do delito previsto no art. 334, §
1º, IV, do Código Penal, na hipótese de venda de mercadoria estrangeira, permitida pela ANVISA,
desacompanhada de nota fiscal e sem comprovação de pagamento de imposto de importação. STJ. Plenário. CC
159.680-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 08/08/2018 (Info 631).
Compete à Justiça Federal o julgamento dos crimes de contrabando e de descaminho, ainda que inexistentes
indícios de transnacionalidade na conduta. STJ. 3ª Seção. CC 160.748-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado
em 26/09/2018 (Info 635).
Compete à Justiça Federal apreciar o pedido de medida protetiva de urgência decorrente de crime de ameaça
contra a mulher cometido por meio de rede social de grande alcance, quando iniciado no estrangeiro e o seu
resultado ocorrer no Brasil. STJ. 3ª Seção. CC 150.712-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 10/10/2018.
Em caso de conexão entre crime de competência da Justiça comum (federal ou estadual) e crime eleitoral, os
delitos serão julgados conjuntamente pela Justiça Eleitoral Compete à Justiça Federal apreciar o pedido de
medida protetiva de urgência decorrente de crime de ameaça contra a mulher cometido por meio de rede social
17

de grande alcance, quando iniciado no estrangeiro e o seu resultado ocorrer no Brasil. STJ. 3ª Seção. CC 150.712-
SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 10/10/2018.
#DEOLHONASÚMULA:
Súmula vinculante 36-STF: Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil denunciado pelos crimes de
falsificação e de uso de documento falso quando se tratar de falsificação da Caderneta de Inscrição e Registro
(CIR) ou de Carteira de Habilitação de Amador (CHA), ainda que expedidas pela Marinha do Brasil. STF. Plenário.
Aprovada em 16/10/2014.
SÚMULA 521-STF: O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade
da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo
sacado.
SÚMULA 244-STJ: Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de estelionato mediante cheque
sem provisão de fundos.

* (Atualizado em 07/08/2022) No crime de estelionato, não identificadas as hipóteses descritas no § 4º do art. 70


do CPP, a competência deve ser fixada no local onde o agente delituoso obteve, mediante fraude, em benefício
próprio e de terceiros, os serviços custeados pela vítima. STJ. 3ª Seção.CC 185.983-DF, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik, julgado em 11/05/2022 (Info 736).

*(atualizado em 28/07/2021) #AJUDAMARCINHO #DIZERODIREITO


A Lei nº 14.155/2021 inseriu o § 4º ao art. 70 do CPP tratando sobre o tema.
A alteração é muito bem-vinda porque anteriormente havia uma imensa insegurança jurídica diante da existência
de regras distintas para situações muito parecidas, além da uma intensa oscilação jurisprudencial.
Veja o § 4º do art. 70 que foi inserido no CPP pela Lei nº 14.155/2021:
Art. 70. (...)
§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), quando
praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do
sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a competência será definida pelo
local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção.

Vamos analisar três casos envolvendo estelionato para identificarmos as mudanças operadas pela novidade
legislativa.

1) Estelionato praticado por meio de cheque falso (art. 171, caput, do CP)
Aplica-se aqui o § 4º do art. 70 do CPP?
18

NÃO. Se você ler o § 4º verá que ele não trata da hipótese de estelionato praticado por meio de cheque falso.
Logo, esse dispositivo não incide no presente caso.
A regra a ser aplicada, portanto, é a do caput do art. 70:
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de
tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.

O estelionato se consumou no momento em que João comprou as mercadorias da loja, pagando com o cheque
falsificado. Nesse instante houve a obtenção da vantagem ilícita e o dano patrimonial à loja.
Logo, nesta primeira hipótese, nenhuma mudança operada pela Lei nº 14.155/2021. Vale ressaltar que a Súmula
48 do STJ manteve-se válida com a novidade legislativa.

2) Estelionato praticado por meio de cheque sem fundo (art. 171, § 2º, VI)
· Depois da Lei: a competência passou a ser do local do domicílio da vítima. É o que prevê o novo § 4º do art. 70:
Art. 70. (...)
§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do (...) Código Penal, quando praticados (...) mediante emissão de cheques
sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado (...) a competência será definida pelo local do domicílio da
vítima (...)

Isso significa que a Súmula 244 do STJ e a Súmula 521 do STF estão superadas.

3) Estelionato mediante depósito ou transferência de valores


Depois da Lei: a competência passou a ser do local do domicílio da vítima, ou seja, em nosso exemplo, do juízo de
Goiânia (GO). É o que prevê o novo § 4º do art. 70:
Art. 70. (...)
§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do (...) Código Penal, quando praticados mediante depósito (...) ou mediante
transferência de valores, a competência será definida pelo local do domicílio da vítima (...)

SÚMULA 48-STJ: Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de
estelionato cometido mediante falsificação de cheque.
Súmula 235-STJ: A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado.

JUSTIÇA FEDERAL DEMAIS “JUSTIÇAS”

715/STF - Conflito de competência e crimes conexos 511/STJ - DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA.
A 2ª Turma denegou habeas corpus e reconheceu a CONTRAVENÇÃO PENAL
competência da justiça federal para processar e julgar É da competência da Justiça estadual o julgamento de
19

crimes de estupro e atentado violento ao pudor conexos contravenções penais, mesmo que conexas com delitos
com crimes de pedofilia e pornografia infantil de caráter de competência da Justiça Federal.
transnacional.
*#OUSESABER: Em regra, a competência para o
processo e julgamento das contravenções penais é da
Justiça Estadual. No entanto, se o contraventor for
detentor de foro por prerrogativa de função (e se essa
prerrogativa impor julgamento perante Tribunal
federal ou nacional), a competência sairá do âmbito da
Justiça Estadual e passará a ser de Tribunal federal ou
nacional. (Cunha, Rogério Sanches, Manual de Direito
Penal - Parte Geral, pág. 152).

694/STF - Competência: policiamento ostensivo e delito 527/STJ - DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA
praticado por civil contra militar PARA O JULGAMENTO DE CRIME DE VIOLAÇÃO DE
Compete à justiça federal comum processar e julgar civil, DIREITOS AUTORAIS.
em tempo de paz, por delitos alegadamente cometidos Não comprovada a procedência estrangeira de DVDs
por estes em ambiente estranho ao da Administração em laudo pericial, a confissão do acusado de que teria
castrense e praticados contra militar das Forças Armadas adquirido os produtos no exterior não atrai, por si só, a
na função de policiamento ostensivo,que traduz típica competência da Justiça Federal para processar e julgar
atividade de segurança pública. o crime de violação de direitoautoral previsto no art.
184, § 2º, do CP. Preliminarmente, embora o STF tenha
OBS: o tema ainda é polêmico, havendo decisões em se manifestado pela existência de repercussão geral
sentido contrário. acerca da definição de competência para
processamento de crime de reprodução ilegal de CDs e
DVDs em face da eventual transnacionalidade do delito
(RE 702.560-PR), a matéria ainda não foi dirimida.
Nesse contexto, conforme decisões exaradas neste
Tribunal, caracterizada a transnacionalidade do crime
de violação de direito autoral, deve ser firmada a
competência da Justiça Federal para conhecer da
matéria, nos termos do art. 109, V, da CF. Contudo,
caso o laudo pericial não constate a procedência
estrangeira dos produtos adquiridos, a mera afirmação
do acusado não é suficiente para o deslocamento da
competência da Justiça Estadual para a Justiça Federal.
20

Ademais, limitando-se a ofensa aos interesses


particulares dos titulares de direitos autorais, não há
que falar em competência da Justiça Federal por
inexistir lesão ou ameaça a bens, serviços ou interesses
da União. Precedentes citados: CC 125.286-PR, Terceira
Seção, Dje 1/2/2013, e CC 125.281-PR, Terceira Seção,
DJe 6/12/2012. CC 127.584-PR, Rel. Min. Og Fernandes,
julgado em 12/6/2013. 3ª Seção.

532/STJ - DIREITO PROCESSUAL PENAL. DEFINIÇÃO DA 520/STJ - DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA
COMPETÊNCIA PARA APURAÇÃO DA PRÁTICA DO CRIME PARA PROCESSAR E JULGAR ACUSADO DE CAPTAR E
PREVISTO NO ART. 241 DO ECA. ARMAZENAR, EM COMPUTADORES DE ESCOLAS
Não tendo sido identificado o responsável e o local em MUNICIPAIS, VÍDEOS PORNOGRÁFICOS, ORIUNDOS DA
que ocorrido o ato de publicação de imagens pedófilo- INTERNET, ENVOLVENDO CRIANÇAS E ADOLESCENTES.
pornográficas em site de relacionamento de abrangência
internacional, competirá ao juízo federal que primeiro Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar
tomar conhecimento do fato apurar o suposto crime de acusado da prática de conduta criminosa consistente
publicação de pornografia envolvendo criança ou na captação e armazenamento, em computadores
adolescente (art. 241 do ECA). Por se tratar de site de deescolas municipais, de vídeos pornográficos oriundos
relacionamento de abrangência internacional – que da internet, envolvendo crianças e adolescentes.
possibilita o acesso dos dados constantes de suas
páginas, em qualquer local do mundo, por qualquer
pessoa dele integrante – deve ser reconhecida, no que
diz respeito ao crime em análise, a transnacionalidade
necessária à determinação da competência da Justiça
Federal.
*Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes
consistentes em disponibilizar ou adquirir material
pornográfico envolvendo criança ou adolescente (arts.
241, 241-A e 241-B do ECA), quando praticados por meio
da rede mundial de computadores (internet). STF.
Plenário. RE 628624/MG, Rel. Orig. Min. Marco Aurélio,
Red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 28 e
29/10/2015 (repercussão geral) (Info 805). A
competência territorial é da Seção Judiciária do local
onde o réu publicou as fotos, não importando o Estado
21

onde se localize o servidor do site: STJ. CC 29.886/SP,


julgado em 12/12/2007.

518/STJ - DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA Compete à Justiça Estadual – e não à Justiça Federal – o
PARA PROCESSAR E JULGAR ESTELIONATO PRATICADO julgamento de ação penal em que se apure a possível
MEDIANTE FRAUDE PARA A CONCESSÃO DE prática de sonegação de ISSQN pelos representantes
APOSENTADORIA. de pessoa jurídica privada, ainda que esta mantenha
No caso de ação penal destinada à apuração de vínculo com entidade da administração indireta
estelionato praticado mediante fraude para a concessão federal. resulta prejuízo apenas para o ente tributante,
de aposentadoria, é competente o juízo do lugar em que pessoa jurídica diversa da União – no caso de ISSQN,
situada a agência onde inicialmente recebido o Municípios ou DF. (STJ, 3ª Seção, 2013)
benefício, ainda que este, posteriormente, tenha
passado a ser recebido em agência localizada em
município sujeito a jurisdição diversa. Segundo o art. 70
do CPP, a competência será, em regra, determinada pelo
lugar em que se consumar a infração, o que, em casos
como este, ocorre no momento em que recebida a
indevida vantagem patrimonial. Assim, embora tenha
havido a posterior transferência do local de recebimento
do benefício, a competência já restara fixada no lugar
em que consumada a infração. CC 125.023-DF, Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/3/2013. 3ª Seção.

A Justiça Federal é a competente para processar e julgar STJ Súmula 42: Compete à Justiça Comum Estadual
os crimes de roubo praticados contra carteiro da processar e julgar as causas cíveis em que é parte
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) no sociedade de economia mista e os crimes praticados
exercício de sua função, com fulcro no disposto do art. em seu detrimento.
109, IV, da CF. Segundo ponderou o Min. Relator, não
obstante os objetos subtraídos pertencerem a
particulares, no momento do cometimento da infração,
eles se encontravam sob a guarda e responsabilidade da
ECT. Logo, o delito de roubo teria atingido, de forma
direta, bens, serviços e interesses da empresa pública
federal. Destacou-se que, tanto no crime de furto
quanto no de roubo, o sujeito passivo não é apenas o
proprietário da coisa móvel, mas também o possuidor e,
22

eventualmente, até mesmo o mero detentor. (STJ, 2011)

Compete à Justiça Federal processar e julgar as ações Crime de concussão praticado por médico em hospital
penais relativas a desvio de verbas originárias do Sistema credenciado ao SUS. Justiça Estadual.
Único de Saúde (SUS), independentemente de se tratar
de valores repassados aos Estados ou Municípios por
meio da modalidade de transferência “fundo a fundo”
ou mediante realização de convênio. Isso porque há
interesse da União na regularidade do repasse e na
correta aplicação desses recursos, que, conforme o art.
33, § 4º, da Lei 8.080/1990, estão sujeitos à fiscalização
federal, por meio do Ministério da Saúde e de seu
sistema de auditoria. Cabe ressaltar, a propósito, que o
fato de os Estados e Municípios terem autonomia para
gerenciar a verba destinada ao SUS não elide a
necessidade de prestação de contas ao TCU, tampouco
exclui o interesse da União na regularidade do repasse e
na correta aplicação desses recursos. Súmula 208 do STJ.
(STJ, 3ª Seção, 2013)

STJ Súmula 151 - A competência para o processo e Compete à justiça estadual o julgamento de ação penal
julgamento por crime de contrabando ou descaminho em que se apure crime de esbulho possessório
define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da efetuado em terra de propriedade do Incrana hipótese
apreensão dos bens. em que a conduta delitiva não tenha representado
ameaça à titularidade do imóvel e em que os únicos
prejudicados tenham sido aqueles que tiveram suas
residências invadidas. Nessa situação, inexiste lesão a
bens, serviços ou interesses da União, o que exclui a
competência da justiça federal, não incidindo o
disposto no art. 109, IV, da CF. (STJ, 3ª Seção, 2013)

STJ Súmula 122 – Compete à Justiça Federal o processo e Crime cometido contra consulado estrangeiro.Justiça
julgamento unificado dos crimes conexos de Estadual.
competência federal e estadual, não se aplicando a regra #MUDANÇADEENTENDIMENTO
do art. 78, II, "a", do Código de Processo Penal. #ENTENDIMENTOSUPERADO.
*#ATUALIZAÇÃO: No RE 831.996, em 2015, o STF
ATENÇÃO: penso que esta súmula está em vias de entendeu que, como o Brasil se compromete, por
23

superação. O STJ tem decidido que haveria separação de tratado, a proteger as repartições consulares, a
processos. responsabilidade é da União. O funcionamento da
repartição consular decorre diretamente das relações
diplomáticas que a União mantém com os Estados
estrangeiros. Se há ofensa aos bens da União, a
competência é da JF.

STJ Súmula 165 – Compete à Justiça Federal processar e Crime de dano cometido contra bens tombados. Se o
julgar crime de falso testemunho cometido no processo bem foi tombado por um Estado-membro,
trabalhista. competência da Justiça Estadual.

Crime de dano cometido contra bens tombados. Se o STJ Súmula 209 - Compete à Justiça Estadual processar
bem foi tombado pela União, competência da Justiça e julgar prefeito por desvio de verba transferida e
Federal. incorporada ao patrimônio municipal.

STJ Súmula 208 - Compete à Justiça Federal processar e STJ Súmula 73 - A utilização de papel moeda
julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime
prestação de contas perante órgão federal. de estelionato, da competência da Justiça Estadual.

STJ Súmula 147 - Compete à Justiça Federal processar e A competência para processar e julgar crimes
julgar os crimes praticados contra funcionário público praticados contra a honra de promotor de justiça do
federal, quando relacionados com o exercício da função. Distrito Federal no exercício de suas funções é da
Justiça comum do DF, visto que, embora organizado e
mantido pela União, o Ministério Público do Distrito
Federal e Territórios não é órgão federal. Isso porque o
MPDFT faz parte da estrutura orgânica do DF, entidade
política equiparada aos estados-membros (art. 32, § 1º,
da CF). (STJ, 3ª Seção, 2012)

Compete à Justiça Federal processar e julgar a conduta Após o cancelamento da súmula 91, o STJ firmou o
daquele que, por meio de pessoa jurídica instituída para entendimento, em vários acórdãos, de que, quando
a prestação de serviço de factoring, realize, sem não há evidente lesão a bens, serviços ou interesse da
autorização legal, a captação, intermediação e aplicação União, autarquias ou empresas públicas (art. 109 da
de recursos financeiros de terceiros, sob a promessa de CF), compete à Justiça estadual, de regra, processar e
que estes receberiam, em contrapartida, rendimentos julgar crime contra a fauna, visto que a proteção ao
superiores aos aplicados no mercado. Isso porque a meio ambiente constitui matéria de competência
referida conduta se subsume, em princípio, ao tipo do comum à União, aos estados, aos municípios e ao
art. 16 da Lei 7.492/1986 (Lei dos Crimes contra o Distrito Federal (art. 23, VI e VII, da CF). (STJ, 2011)
24

Sistema Financeiro Nacional), consistente em fazer


“operar, sem a devida autorização, ou com autorização
obtida mediante declaração falsa, instituição financeira,
inclusive de distribuição de valores mobiliários ou de
câmbio”. Ademais, nessa hipótese, apesar de o delito
haver sido praticado por meio de pessoa jurídica criada
para a realização de atividade de factoring, deve-se
considerar ter esta operado como verdadeira instituição
financeira, justificando-se, assim, a fixação da
competência na Justiça Federal. (STJ, 3ª Seção, 2013)

Crimes relacionados à apreensão em cativeiro de A questão resume-se em saber se há conexão entre os


animais da fauna exótica: Justiça Federal, por que cabe delitos de moeda falsa e receptação para justificar a
ao IBAMA autorizar o ingresso e a posse desses animais competência da Justiça Federal para processá-los e
no Brasil (STJ). julgá-los. A Seção entendeu ser competente a Justiça
comum estadual para julgar o feito referente ao crime
Crime de extração ilegal de recursos minerais. de receptação (art. 180, caput, do CP) e a Justiça
Federal, ao crime de moeda falsa (art. 289, § 1º, do
Crime ambiental relacionado com organismos CP), pois não estão presentes quaisquer causas de
geneticamente modificados. modificação de competência inseridas nos arts. 76 e 77
do CPP, o que, por consequência, afasta a aplicação da
#OLHAOGANCHO: Compete à Justiça estadual o Súm. n. 122-STJ. (STF, 2011)
julgamento de crime ambiental decorrente de
construção de moradias de programa habitacional
popular, nas hipóteses em que a Caixa Econômica
Federal atue, tão somente, na qualidade de agente
financiador da obra. O fato de a CEF atuar como
financiadora da obra não tem o condão de atrair, por si
só, a competência da Justiça Federal. Isto porque para
sua responsabilização não basta que a entidade figure
como financeira. É necessário que ela tenha atuado na
elaboração do projeto ou na fiscalização da segurança e
da higidez da obra. STJ. 3ª Seção. CC 139.197-RS, Rel.
Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 25/10/2017 (Info
615).
25

Compete à Justiça Federal o julgamento de crime Na espécie, o réu foi surpreendido trazendo consigo,
consistente na apresentação de Certificado de Registro e dentro de uma mochila, um tablete de maconha e
Licenciamento de Veículo (CRLV) falso à Polícia certa quantidade de dinheiro aparentemente
Rodoviária Federal. (STJ, 3ª Seção, 2013) falso. Sustentou-se que, embora os fatos tenham sido
descobertos na mesma circunstância temporal e
praticados pela mesma pessoa, os delitos em comento
não guardam qualquer vínculo probatório ou objetivo
entre si – a teor do disposto no art. 76, II e III, do CPP.
Logo, deve o processo ser desmembrado para que cada
juízo processe e julgue o crime de sua respectiva
competência. (STJ, 3ª Seção, 2012)

STJ Súmula 200 - O Juízo Federal competente para STJ Súmula 104 - Compete à Justiça Estadual o
processar e julgar acusado de crime de uso de processo e julgamento dos crimes de falsificação e uso
passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou. de documento falso relativo a estabelecimento
particular de ensino.

STJ Súmula 62: Compete à Justiça Estadual processar e STJ Súmula 140 - Compete à Justiça Comum Estadual
julgar o crime de falsa anotação na Carteira de Trabalho processar e julgar crime em que o indígena figure como
e Previdência Social, atribuído à empresa privada. autor ou vítima.
[SUPERADO]

*Compete à Justiça Federal (e não à Justiça Estadual)


processar e julgar o crime caracterizado pela omissão
de anotação de vínculo empregatício na CTPS (art. 297,
§ 4º, do CP). No delito tipificado no art. 297, § 4º, do CP,
o sujeito passivo é o Estado (Previdência Social), uma vez
que a ausência de anotação de informações relativas ao
vínculo empregatício na CTPS afeta diretamente a
arrecadação das contribuições previdenciárias (espécie
de tributo), já que estas são calculadas com base no
valor do salário pago ao empregado. Assim, quando o
patrão omite os dados de que trata o § 4º, ele está
lesando, em primeiro lugar, a arrecadação da
Previdência Social, administrada pelo INSS, que é uma
autarquia federal. O empregado é prejudicado de
26

forma apenas indireta, reflexa. STJ. 3ª Seção. CC


135.200-SP, Rel. originário Min. Nefi Cordeiro, Rel. para
acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
22/10/2014 (Info 554).

Compete à Justiça Federal – e não à Justiça Estadual – Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar
processar e julgar ação penal referente aos crimes de acusado da prática de conduta criminosa consistente
calúnia e difamação praticados no contexto de disputa na captação e armazenamento, em computadores de
pela posição de cacique em comunidade indígena. (STJ, escolas municipais, de vídeos pornográficos oriundos
3ª Seção, 2013) da internet, envolvendo crianças e adolescentes. Nesse
contexto, de acordo com o entendimento do STJ e do
STF, para que ocorra a fixação da competência da
Justiça Federal, não basta que o Brasil seja signatário
de tratado ouconvenção internacional que preveja o
combate a atividades criminosas dessa natureza, sendo
necessário, ainda, que esteja evidenciada a
transnacionalidade do delito. (STJ, 3ª Seção, 2013)

Competência da justiça federal para processar e julgar A Seção entendeu que compete à Justiça estadual
crimes de estupro e atentado violento ao pudor conexos processar e julgar os crimes de injúria praticados por
com crimes de pedofilia e pornografia infantil de caráter meio da rede mundial de computadores, ainda que em
transnacional. (STF, 2ª Turma, 2013) páginas eletrônicas internacionais, tais como as redes
sociais Orkut e Twitter. Asseverou-se que o simples
fato de o suposto delito ter sido cometido pela internet
não atrai, por si só, a competência da Justiça Federal.
(STJ, 3ª Seção, 2012)

No crime de publicação de pornografia e não tendo sido STF Súmula 498 - Compete a justiça dos estados, em
identificado o responsável e o local em que ocorrido o ambas as instâncias, o processo e o julgamento dos
ato de publicação de imagens pedófilo-pornográficas em crimes contra a economia popular.
site de relacionamento de abrangência internacional,
competirá ao juízo federal que primeiro tomar
conhecimento do fato apurar o supostvolvendo criança
ou adolescente (art. 241 do ECA). (STJ, 3ª Seção, 2013)
27

Trata-se de conflito negativo entre o juízo federal


(suscitante) e o juízo estadual da vara criminal
(suscitado) em autos de inquérito instaurado para
apurar a prática de crime de homicídio culposo
ocorrido durante operação de carregamento de
veículos para navio de bandeira italiana. A Seção
conheceu do conflito e declarou competente para o
processo e julgamento do feito o juízo estadual.
Ressaltou-se que, para a determinação de competência
da Justiça Federal, não basta que o eventual delito
tenha sido cometido no interior de embarcação de
grande porte. Torna-se necessário que ela se encontre
em situação de deslocamento internacional ou em
situação de potencial deslocamento. (STJ, 2011)

STJ Súmula 38: Compete à Justiça Estadual Comum, na


vigência da Constituição de 1988, o processo por
contravenção penal, ainda que praticada em
detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou
de suas entidades.

Não comprovada a procedência estrangeira de DVDs


em laudo pericial, a confissão do acusado de que teria
adquirido os produtos no exterior não atrai, por si só, a
competência da Justiça Federal para processar e julgar
o crime de violação de direito autoral previsto no art.
184, § 2º, do CP. (STJ, 3ª Seção, 2013)

Determinado Estado-membro conseguiu um Compete à Justiça Federal (e não à Justiça Eleitoral)


financiamento do BNDES para a realização de um processar e julgar o crime caracterizado pela
empreendimento. Ocorre que houve fraude à licitação e destruição de título eleitoral de terceiro, quando não
superfaturamento da obra. O fato de o BNDES (que é houver qualquer vinculação com pleitos eleitorais e o
uma empresa pública federal) ter emprestado o dinheiro intuito for, tão somente, impedir a identificação
atrai a competência para a Justiça Federal? NÃO. O fato pessoal. A simples existência, no Código Eleitoral, de
de licitação estadual envolver recursos repassados ao descrição formal de conduta típica não se traduz,
Estado-Membro pelo BNDES por meio de empréstimo incontinenti, em crime eleitoral, sendo necessário,
bancário (mútuo feneratício) não atrai a competência também, que se configure o conteúdo material de tal
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da Justiça Federal para processar e julgar crimes crime. Sob o aspecto material, deve a conduta atentar
relacionados a suposto superfaturamento na licitação. contra a liberdade de exercício dos direitos políticos,
Mesmo havendo superfaturamento na licitação vulnerando a regularidade do processo eleitoral e a
estadual, o prejuízo recairá sobre o erário estadual (e legitimidade da vontade popular. Ou seja, a par da
não o federal), uma vez que, não obstante a fraude, o existência do tipo penal eleitoral específico, faz-se
contrato de mútuo feneratício entre o Estado-Membro e necessária, para sua configuração, a existência de
o BNDES permanecerá válido, fazendo com que a violação do bem jurídico que a norma visa tutelar,
empresa pública federal receba de volta, em qualquer intrinsecamente ligado aos valores referentes à
circunstância, o valor emprestado ao ente federativo. liberdade do exercício do voto, à regularidade do
Logo, a competência é da Justiça Estadual. STJ. 5ª processo eleitoral e à preservação do modelo
Turma. RHC 42.595-MT, Rel. Min. Felix Fischer, julgado democrático. A destruição de título eleitoral da vítima,
em 16/12/2014 (Info 555). despida de qualquer vinculação com pleitos eleitorais e
com o intuito, tão somente, de impedir a identificação
pessoal, não atrai a competência da Justiça Eleitoral.
STJ. 3ª Seção. CC 127.101-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti
Cruz, julgado em 11/2/2015 (Info 555).

Importante: se o MP entendesse que havia indícios de Não compete à Justiça Federal julgar queixa-crime
que o depoente praticou falso testemunho, a proposta por particular contra outro particular pelo
competência para apurar este delito (art. 342 do CP) simples fato de as declarações do querelado terem sido
seria da Justiça Federal, nos termos da Súmula 165-STJ prestadas na Procuradoria do Trabalho. A competência
("Compete a justiça federal processar e julgar crime de será da Justiça Estadual. Caso concreto: o querelante
falso testemunho cometido no processo trabalhista"). entendeu que as declarações prestadas pelo querelado
STJ. 3ª Seção. CC 148.350-PI, Rel. Min. Felix Fischer, no MPT ofenderam a sua honra e que o depoente
julgado em 9/11/2016 (Info 593). praticou calúnia e difamação. STJ. 3ª Seção. CC
148.350-PI, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em
9/11/2016 (Info 593).

#DEOLHONAJURISPRUDENCIA #DIZERODIREITO: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes de


violação de direito autoral e contra a lei de software decorrentes do compartilhamento ilícito de sinal de TV por
assinatura, via satélite ou cabo, por meio de serviços de card sharing. STJ. 3ª Seção. CC 150.629-SP, Rel. Min. Nefi
Cordeiro, julgado em 22/02/2018 (Info 620).
Compete ao STF julgar a apelação criminal interposta contra sentença de 1ª instância caso mais da metade dos
membros do Tribunal de Justiça estejam impedidos ou sejam interessados (art. 102, I, “n”, da CF/88). STF. 2ª
Turma. AO 2093/RN, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/9/2019 (Info 950).
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*(Atualizado em 07/11/2020) #STJ #DEOLHONAJURIS Os crimes relacionados com pirâmide financeira


envolvendo criptomoedas são, em princípio, de competência da Justiça Estadual. Ausentes os elementos que
revelem ter havido evasão de divisas ou lavagem de dinheiro em detrimento de interesses da União, compete à
Justiça Estadual processar e julgar crimes relacionados a pirâmide financeira em investimento de grupo em
criptomoeda. A captação de recursos decorrente de “pirâmide financeira” não se enquadra no conceito de
atividade financeira, razão pela qual o deslocamento do feito para a Justiça Federal se justifica apenas se
demonstrada a prática de evasão de divisas ou de lavagem de dinheiro em detrimento de bens e serviços ou
interesse da União. STJ. 3ª Seção. CC 170.392-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 10/06/2020 (Info 673).

*(Atualizado em 30/01/2021) #DEOLHONAJURIS A Justiça do Distrito Federal é a competente para julgar o crime
de falso testemunho praticado em processos sob sua jurisdição O TJDFT faz parte do Poder Judiciário da União.
Mesmo assim, se for praticado falso testemunho em processo que ali tramita, a competência será da Justiça do
Distrito Federal (e não da Justiça Federal comum). Isso porque a Justiça do Distrito Federal possui competência
para julgar crimes, não havendo interesse direto e específico da União a atrair o art. 109, IV, da CF/88. STJ. 3ª
Seção. CC 166.732-DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/10/2020 (Info 681).

*(Atualizado em 27/01/2023) #DEOLHONAJURIS - Compete à Justiça Federal processar e julgar o conteúdo de


falas de suposto cunho homofóbico divulgadas na internet, em perfis abertos da rede social Facebook e na
plataforma de compartilhamento de vídeos Youtube, ambos de abrangência internacional. CC 191.970-RS, Rel.
Ministra Laurita Vaz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 14/12/2022. (Info 761 - STJ)

#RESUMINDO:
30

3.2. Competência por prerrogativa de função (ratione personae)

É aquela que leva em conta o cargo público ocupado por determinada pessoa que cometeu a infração
penal, o que implica em um foro por prerrogativa de função.

Nesse sentido, dispõe o art. 84, caput, do CPP que “a competência pela prerrogativa de função é do
Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça
dos Estados e do Distrito Federal, relativamente às pessoas que devam responder perante eles por crimes
comuns e de responsabilidade”.
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STF STJ TRF´S TJ’S


Infrações penais Infrações penais comuns: Infrações penais comuns e Infrações penais comuns
comuns: Governadores dos Estados de responsabilidade: e de responsabilidade:
- Presidente da República e do Distrito Federal (art. - Juízes Federais da área de - Juízes Estaduais e do
- Vice-Presidente 105, I, a, da CF). sua jurisdição, incluídos os Distrito Federal
- membros do Congresso da Justiça Militar e da - membros do Ministério
Nacional Infrações penais comuns e Justiça do Trabalho Público, ressalvada a
- seus próprios Ministros de responsabilidade: - - membros do Ministério competência da Justiça
- Procurador-Geral da Desembargadores dos Público da União, Eleitoral (art. 96, III, da
República (art. 102, I, b, Tribunais de ressalvada a competência CF)
da CF). Justiça dos Estados e do da Justiça Eleitoral (art. - Prefeitos Municipais
Distrito Federal 108, I, a, da CF). que praticarem crimes
Infrações penais comuns - membros dos Tribunais - Prefeitos Municipais que submetidos à Justiça
e de responsabilidade: de Contas dos Estados e do praticarem crimes Estadual (art. 29, X, da
- Ministros de Estado Distrito Federal, dos submetidos à Justiça CF).
- Comandantes da Tribunais Regionais Federal (Súmula 702 do
Marinha, do Exército e da Federais, dos Tribunais STF).
Aeronáutica, ressalvado Regionais Eleitorais e do
o disposto no art. 52, I Trabalho
(estabelecendo a - membros dos Conselhos
competência do Senado ou Tribunais de Contas dos
Federal para julgar os Municípios e do Ministério
comandantes das forças Público da União que
armadas em crimes de oficiem perante Tribunais.
responsabilidade
conexos com os do
Presidente da República
e Vice)
- membros dos Tribunais
Superiores, do Tribunal
de Contas da União
- chefes de missão
diplomática em caráter
permanente (art. 102, I,
32

c, da CF).

#OBSERVAÇÕES:
- A prerrogativa de foro subsiste apenas em relação aos crimes que tenham relação com o cargo ou mandato
eletivo exercido.

- A prerrogativa de função alcança, unicamente, os crimes praticados no exercício do cargo ou mandato que a
confere.

- Uma vez finalizada a instrução processual e publicado o despacho de intimação das partes para apresentação
alegações ou memoriais, encerra-se a possibilidade de deslocamento da competência para o julgamento,
sendo irrelevante se o agente, depois desse momento, passou a ocupar cargo ou a exercer mandato a que
conferida prerrogativa de função ou se já cessou a ocupação do cargo ou o exercício do mandato que
justificava essa prerrogativa.

- Em questão de Ordem suscitada no Inq. 2.411, o Plenário do Supremo Tribunal Federal passou a entender
que, tratando-se de investigado titular de foro por prerrogativa de função, a autoridade policial não pode
proceder ao indiciamento sem prévia autorização do Ministro-Relator, sendo que esta autorização também é
necessária para a própria instauração do inquérito originário.

- Acusados com foro por prerrogativa de função não têm direito ao duplo grau de jurisdição, aí entendido como
a possibilidade de reexame integral da sentença de primeiro grau a ser confiado a órgão diverso do que a
proferiu e de hierarquia superior na ordem judiciária. Vale lembrar que, caso um indivíduo desprovido de foro
por prerrogativa de função seja condenado em 1ª instância, condenação da qual haja apelado, não caberá ao
STF o julgamento da respectiva apelação, tendo em vista o novo entendimento daquela Corte, nos seguintes
termos: “o foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do
cargo e relacionados às funções desempenhadas”. STF. 1ª Turma AP 962/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o
ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 16/10/2018 (Info 920).

*(Atualizado em 28/08/2022) #DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO - É inconstitucional norma estadual que


impõe a necessidade de prévia autorização do órgão colegiado do tribunal competente para prosseguir com
investigações que objetivam apurar suposta prática de crime cometido por magistrado. É inconstitucional
norma estadual de acordo com a qual compete a órgão colegiado do tribunal autorizar o prosseguimento de
investigações contra magistrados, por criar prerrogativa não prevista na Lei Orgânica da Magistratura Nacional
e não extensível a outras autoridades com foro por prerrogativa de função. A prerrogativa de foro dos
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magistrados é disciplinada no art. 33, parágrafo único, da LOMAN, que dispõe que “quando, no curso de
investigação, houver indício da prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar,
remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim de que
prossiga na investigação”. Assim, na hipótese de indícios de prática de crime por magistrado, o art. 33 da
LOMAN determina a remessa dos autos ao Tribunal ou órgão competente, para fins de prosseguimento da
investigação, a ser dirigida pelo relator, sem condicionar a investigação à necessidade de prévia autorização do
órgão colegiado. Logo, não é possível que a norma estadual diga que somente o órgão colegiado irá autorizar.
Basta que o relator decida a respeito. STF. Plenário. ADI 5331/MG, Rel. Min. Rosa Weber, redator do acórdão
Min. Roberto Barroso, julgado em 3/6/2022 (Info 1057).

*(Atualizado em 25/11/22): Não sendo o crime praticado em razão e durante o exercício do cargo ou função, as
regras de competência não são alteradas pela superveniente posse no cargo de Prefeito Municipal. REsp
1.982.779-AC, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região), Sexta Turma, por
unanimidade, julgado em 14/09/2022, DJe 20/09/2022. (Info 755 - STJ)

*(Atualizado em 20/12/2022): A prerrogativa de foro não se estende a terceiro que compartilhe imóvel com
autoridade não investigada. Processo sob segredo judicial, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta
Turma, por unanimidade, julgado em 25/10/2022, DJe 07/11/2022. (Info 759 - STJ)

*(Atualizado em 18/02/2023): A superveniente aposentadoria da autoridade detentora do foro por


prerrogativa de função cessa a competência do Superior Tribunal de Justiça para o processamento e
julgamento do feito. Processo sob segredo de justiça, Rel. Ministro Francisco Falcão, Corte Especial, por
unanimidade, julgado em 7/12/2022, DJe 16/12/2022. (Info 762 - STJ)

#RESUMINDO:
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*(Atualizado em 18/03/2022) É indispensável a existência de prévia autorização judicial para a instauração de


inquérito ou outro procedimento investigatório em face de autoridade com foro por prerrogativa de função em
Tribunal de Justiça . Caso concreto: o COAF elaborou relatório de inteligência financeira (RIF) apontando
movimentações atípicas entre as contas de um Deputado Estadual e servidores de seu gabinete na ALE. Esse
relatório foi encaminhado ao MPE, que instaurou procedimento de investigação criminal (PIC). Em seguida, o MPE
solicitou a produção de quatro RIFs complementares sobre as operações financeiras realizadas. Ao final da
investigação, o MP ofereceu denúncia contra o parlamentar imputando-lhe a prática, em tese, dos crimes de
peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro. O STF declarou a nulidade dos RIFs, bem como das provas
deles decorrentes e declarou a imprestabilidade dos elementos probatórios colhidos pelo MPE no âmbito do PIC.
Para o colegiado, o compartilhamento desses dados foi ilegítimo, porque realizado a partir de comunicação direta
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entre o MPE e o Coaf, antes mesmo que houvesse autorização do Tribunal de Justiça para instaurar procedimento
investigatório criminal contra o parlamentar estadual. STF. 2ª Turma. HC 201965/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 30/11/2021 (Info 1040).

#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ #IMPORTANTE: o STJ não é competente para julgar crime praticado por
Governador no exercício do mandato se o agente deixou o cargo e atualmente voltou a ser Governador por força
de uma nova eleição. O STJ é incompetente para julgar crime praticado durante mandato anterior de Governador,
ainda que atualmente ocupe referido cargo por força de nova eleição. Ex: José praticou o crime em 2009, quando
era Governador; em 2011, foi eleito Senador; em 2019, assumiu novamente como Governador; esse crime
praticado em 2009 será julgado em 1ª instância (e não pelo STJ). Como o foro por prerrogativa de função exige
contemporaneidade e pertinência temática entre os fatos em apuração e o exercício da função pública, o término
de um determinado mandato acarreta, por si só, a cessação do foro por prerrogativa de função em relação ao ato
praticado nesse intervalo. STJ. Corte Especial. QO na APn 874-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
15/05/2019 (Info 649)

#DEOLHONASÚMULA: Súmula 704, STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido
processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de
um dos denunciados.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STF: Com a decisão proferida pelo STF, em 03/05/2018, na AP 937 QO/RJ, todos
os inquéritos e processos criminais que estavam tramitando no Supremo envolvendo crimes não relacionados
com o cargo ou com a função desempenhada pela autoridade, foram remetidos para serem julgados em 1ª
instância. Isso porque o STF definiu, como 1ª tese que “o foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos
crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas”. O entendimento
acima não se aplica caso a instrução já tenha se encerrado. Em outras palavras, se a instrução processual já havia
terminado, mantém-se a competência do STF para o julgamento de detentores de foro por prerrogativa de
função, ainda que o processo apure um crime que não está relacionado com o cargo ou com a função
desempenhada. Isso porque o STF definiu, como 2ª tese que “após o final da instrução processual com a
publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais a competência para processar e
julgar ações penais não será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo
que ocupava, qualquer que seja o motivo.” STF. 1ª Turma AP 962/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Roberto Barroso, julgado em 16/10/2018 (Info 920).

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STF: Se uma pessoa sem foro por prerrogativa está sendo interceptada por
decisão do juiz de 1ª instância e ela liga para uma autoridade com foro (ex: Promotor de Justiça), a gravação desta
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conversa não é ilícita. Isso porque se trata de encontro fortuito de provas (encontro fortuito de crimes), também
chamado de serendipidade ou crime achado. Se após essa ligação, o Delegado ainda demora três dias para
comunicar o fato às autoridades competentes para apurara a conduta do Promotor, este tempo não é
considerado excessivo, tendo em vista a dinâmica que envolve as interceptações telefônicas. Assim, o STF decidiu
que a prerrogativa de foro de membro do Ministério Público é preservada quando a possível participação deste
em conduta criminosa é comunicada com celeridade ao Procurador-Geral de Justiça. Tais gravações, por serem
lícitas, podem servir como fundamento para que o CNMP aplique sanção de aposentadoria compulsória a este
Promotor. STF. 1ª Turma. MS 34751/CE, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/8/2018 (Info 911).

#STF #DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #DIZERODIREITO:

Competência para homologação do acordo de colaboração premiada se o delatado tiver foro por prerrogativa de
função
Se a delação do colaborador mencionar fatos criminosos que teriam sido praticados por autoridade (ex:
Governador) e que teriam que ser julgados por foro privativo (ex: STJ), este acordo de colaboração deverá,
obrigatoriamente, ser celebrado pelo Ministério Público respectivo (PGR), com homologação pelo Tribunal
competente (STJ). Assim, se os fatos delatados tiverem que ser julgados originariamente por um Tribunal (foro
por prerrogativa de função), o próprio acordo de colaboração premiada deverá ser homologado por este
respectivo Tribunal, mesmo que o delator não tenha foro privilegiado. A delação de autoridade com prerrogativa
de foro atrai a competência do respectivo Tribunal para a respectiva homologação e, em consequência, do
órgão do Ministério Público que atua perante a Corte. Se o delator ou se o delatado tiverem foro por
prerrogativa de função, a homologação da colaboração premiada será de competência do respectivo Tribunal.

Análise da legitimidade do delatado para impugnar o acordo de colaboração premiada


Em regra, o delatado não tem legitimidade para impugnar o acordo de colaboração premiada. Assim, em regra, a
pessoa que foi delatada não poderá impetrar um habeas corpus alegando que esse acordo possui algum vício.
Isso porque se trata de negócio jurídico personalíssimo. Esse entendimento, contudo, não se aplica em caso de
homologação sem respeito à prerrogativa de foro. Desse modo, é possível que o delatado questione o acordo
se a impugnação estiver relacionada com as regras constitucionais de prerrogativa de foro. Em outras palavras,
se o delatado for uma autoridade com foro por prerrogativa de função e, apesar disso, o acordo tiver sido
homologado em 1ª instância, será permitido que ele impugne essa homologação alegando usurpação de
competência. STF. 2ª Turma. HC 151605/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 20/3/2018 (Info 895).

REPETINDO:

Imagine que um indivíduo que não tem foro por prerrogativa de função queira fazer um acordo de colaboração
premiada. Ele diz o seguinte: quero delatar o Governador, ou seja, desejo revelar crimes que o Governador atual
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cometeu no exercício do cargo e que estejam com ele relacionados. Esse acordo pode ser homologado pelo juízo
de 1ª instância?

• O STJ decidiu que sim. O acordo pode ser celebrado pelo Ministério Público de 1ª instância e homologado pelo
juízo de 1ª instância. Após a homologação, remete-se a investigação para o Tribunal competente (no caso, o STJ,
por força do art. 105, I, “a”).

• Para o STF: NÃO. Se a delação do colaborador mencionar autoridade com prerrogativa de foro (ex:
Governador), este acordo deve ser celebrado pelo Ministério Público respectivo (PGR), com homologação pelo
Tribunal competente (STJ).

Obs.: como a decisão do STJ foi reformada pelo STF, não precisa você “guardar” o que o STJ decidiu. Isso porque o
STJ irá se curvar diante do entendimento do STF. Basta entender e memorizar o que o STF concluiu porque é o que
prevaleceu.

#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ: As hipóteses de foro por prerrogativa de função perante o STJ
restringem-se àquelas em que o crime for praticado em razão e durante o exercício do cargo ou função . STJ.
Corte Especial. AgRg na APn 866-DF, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, julgado em 20/06/2018 (Info 630)

#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ: A iminente prescrição do crime praticado por Desembargador


excepciona o entendimento consolidado na APn 937 - o foro por prerrogativa de função é restrito a crimes
cometidos ao tempo do exercício do cargo e que tenham relação com o cargo - e prorroga a competência do
Superior Tribunal de Justiça. STJ. Corte Especial. QO na APn 703-GO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
01/08/2018 (Info 630)

#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ: O Superior Tribunal de Justiça é o tribunal competente para o


julgamento nas hipóteses em que, não fosse a prerrogativa de foro (art. 105, I, da CF/88), o desembargador
acusado houvesse de responder à ação penal perante juiz de primeiro grau vinculado ao mesmo tribunal. Assim,
mesmo que o crime cometido pelo Desembargador não esteja relacionado com as suas funções, ele será
julgado pelo STJ se a remessa para a 1ª instância significar que o réu seria julgado por um juiz de primeiro grau
vinculado ao mesmo tribunal que o Desembargador. A manutenção do julgamento no STJ tem por objetivo
preservar a isenção (imparcialidade e independência) do órgão julgador. STJ. Corte Especial. QO na APn 878-DF,
Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/11/2018 (Info 639).

#DEOLHONAJURIS#DIZERODIREITO#STF: Se os fatos criminosos que teriam sido supostamente cometidos pelo


Deputado Federal não se relacionam ao exercício do mandato, a competência para julgá-los não é do STF, mas
sim do juízo de 1ª instância. Isso porque o foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes
cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas (STF AP 937 QO/RJ, Rel. Min.
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Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018). A apropriação indébita se consuma no ato da inversão da propriedade
do bem. Se a inversão da propriedade ocorreu com a transferência dos recursos da conta bancária da empresa
vítima, com sede em Brasília/DF, efetuada pelo Diretor da entidade, tem-se que a competência para apurar este
delito é do juiz de direito de 1ª instância do TJDFT. STF. 1ª Turma. Inq 4619 AgR-segundo/DF, Rel. Min. Luiz Fux,
julgado em 19/2/2019 (Info 931).

Arquivamento da investigação com relação à autoridade com foro privativo e remessa dos autos para a 1ª
instância para continuidade quanto aos demais. Se o STF entende que não há indícios contra a autoridade com
foro privativo e se ainda existem outros investigados, a Corte deverá remeter os autos ao juízo de 1ª instância
para que continue a apuração da eventual responsabilidade penal dos terceiros no suposto fato criminoso. STF. 1ª
Turma. Inq 3158 AgR/RO, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgado em 7/2/2017 (Info
853).

A simples menção ao nome de autoridades detentoras de prerrogativa de foro, seja em depoimentos prestados
por testemunhas ou investigados, seja em diálogos telefônicos interceptados, assim como a existência de
informações, até então, fluidas e dispersas a seu respeito, são insuficientes para o deslocamento da competência
para o Tribunal hierarquicamente superior. STF. 2ª Turma. Rcl 25497 AgR/RN, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
14/2/2017(Info 854).

Compete ao TRF julgar os crimes praticados por Procurador da República, salvo em caso de crimes eleitorais,
hipótese na qual a competência é do TRE. Vale ressaltar que o Procurador da República é julgado pelo TRF em
cuja área exerce suas atribuições, sob pena de ofensa ao princípio do juiz natural. Ex: o Procurador da República
lotado em Recife (PE) pratica um crime em Brasília. Ele será julgado pelo TRF da 5ª Região (Tribunal que abrange o
Município onde ele atua) e não pelo TRF da 1ª Região (que abrange Brasília). Imagine agora que João, Procurador
da República, é lotado na Procuradoria de Guarulhos (SP), área de jurisdição do TRF-3. Ocorre que este
Procurador estava no exercício transitório de função no MPF em Brasília. O Procurador pratica um crime neste
período. De quem será a competência para julgar João: do TRF3 ou do TRF1? Do TRF1. A 2ª Turma, ao apreciar
uma situação semelhante a essa, decidiu que a competência seria do TRF1, Tribunal ao qual o Procurador da
República está vinculado no momento da prática do crime, ainda que esse vínculo seja temporário. STF. 2ª Turma.
Pet 7063/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 1º/8/2017 (Info
871). Obs: houve empate na votação (2x2) e a conclusão acima exposta prevaleceu em virtude de a decisão ter
sido tomada em habeas corpus no qual, em caso de empate, prevalece o pedido formulado em favor do paciente.

Se, após a interposição de recurso especial contra a condenação criminal, o réu foi diplomado Deputado Federal,
a competência para julgar este recurso passa a ser do STF. STF. 1ª Turma. RE 696533/SC, Rel. Min. Luiz Fux, red.
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p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 6/2/2018 (Info 890). Com o novo entendimento do STF, esse julgado
perdeu o sentido, pois, nessa situação, como o crime não foi praticado durante o mandato e em razão dele, não
há que se falar em prerrogativa de foro.

#DEOLHONAJURIS #STF: Restrição ao foro por prerrogativa de função: As normas da Constituição de 1988 que
estabelecem as hipóteses de foro por prerrogativa de função devem ser interpretadas restritivamente,
aplicando-se apenas aos crimes que tenham sido praticados durante o exercício do cargo e em razão dele.
Assim, por exemplo, se o crime foi praticado antes de o indivíduo ser diplomado como Deputado Federal, não se
justifica a competência do STF, devendo ele ser julgado pela 1ª instância mesmo ocupando o cargo de
parlamentar federal.

Além disso, mesmo que o crime tenha sido cometido após a investidura no mandato, se o delito não apresentar
relação direta com as funções exercidas, também não haverá foro privilegiado. Foi fixada, portanto, a seguinte
tese: O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e
relacionados às funções desempenhadas.
#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF O crime de corrupção passiva praticado por Senador da República, se
não estiver relacionado com as suas funções, deve ser julgado em 1ª instância (e não pelo STF). Não há foro por
prerrogativa de função neste caso. O fato de o agente ocupar cargo público não gera, por si só, a competência da
Justiça Federal de 1ª instância. Esta é definida pela prática delitiva. Assim, se o crime não foi praticado em
detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas
(inciso IV do art. 109 da CF/88) e não estava presente nenhuma outra hipótese do art. 109, a competência para
julgar o delito será da Justiça comum estadual. STF. 1ª Turma. Inq 4624 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
8/10/2019 (Info 955)
Pedro, Deputado Federal, recebeu doação ilegal de uma empresa com o objetivo de financiar a sua campanha
para reeleição. Esta doação não foi contabilizada na prestação de contas, configurando o chamado “caixa 2” (art.
350 do Código Eleitoral). Pedro foi reeleito para um novo mandato de 2019 até 2022. O STF será competente para
julgar este crime eleitoral? SIM. O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante
o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas. O STF entende que o recebimento de doação
ilegal destinado à campanha de reeleição ao cargo de Deputado Federal é um crime relacionado com o
mandato parlamentar. Logo, a competência é do STF. Além disso, mostra-se desimportante a circunstância de
este delito ter sido praticado durante o mandato anterior, bastando que a atual diplomação decorra de sucessiva
e ininterrupta reeleição. STF. Plenário. Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e
14/3/2019 (Info 933). #IMPORTANTE
Prefeito cometeu o crime durante o exercício do mandato e o delito está relacionado com as suas funções: a
competência para julgá-lo será, em regra, do Tribunal de Justiça. Se esse Prefeito, antes de o processo terminar,
for reeleito para um segundo mandato (consecutivo e ininterrupto), neste caso, o Tribunal de Justiça
42

continuará sendo competente para julgá-lo. Por outro lado, se o agente deixar o cargo de Prefeito e, quatro anos
mais tarde, for eleito novamente Prefeito do mesmo Município, nesta situação a competência para julgar o crime
será do juízo de 1ª instância. A prorrogação do foro por prerrogativa de função só ocorre se houve reeleição,
não se aplicando em caso de eleição para um novo mandato após o agente ter ficado sem ocupar função
pública. Ex: em 2011, Pedro, Prefeito, em seu primeiro mandato, cometeu o crime de corrupção passiva. Pedro
foi denunciado e passou a responder um processo penal no TJ. Em 2012, Pedro disputou a campanha eleitoral
buscando a reeleição. Contudo, ele perdeu. Com isso, Pedro ficou sem mandato eletivo. Vale esclarecer que o
processo continuou tramitando normalmente no TJ. Em 2016, Pedro concorreu novamente ao cargo de Prefeito
do mesmo Município, tendo sido eleito. Em 01/01/2017, João assumiu como Prefeito por força dessa nova
eleição. O processo de Pedro não será julgado pelo TJ, mas sim pelo juízo de 1ª instância. STF. 1ª Turma. RE
1185838/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 14/5/2019 (Info 940). #IMPORTANTE
É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função, no Tribunal
de Justiça, para Procuradores do Estado, Procuradores da ALE, Defensores Públicos e Delegados de Polícia. A
CF/88, apenas excepcionalmente, conferiu prerrogativa de foro para as autoridades federais, estaduais e
municipais. Assim, não se pode permitir que os Estados possam, livremente, criar novas hipóteses de foro por
prerrogativa de função. STF. Plenário. ADI 2553/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 15/5/2019 (Info 940).
Compete à Terceira Seção do STJ processar e julgar habeas corpus impetrado com fundamento em problemas
estruturais das delegacias e do sistema prisional do Estado. STJ. Corte Especial. CC 150.965-DF, Rel. Min. Raul
Araújo, julgado em 20/02/2019 (Info 644).
Nesse ponto, vale destacar que à Terceira Seção cabe processar e julgar os feitos relativos à matéria penal em
geral, salvo os casos de competência originária da Corte Especial e os habeas corpus de competência das Turmas
que compõem a Primeira e a Segunda Seção. Assim, ficam responsáveis por julgar os processos criminais.

* (Atualizado em 09/04/2021): #STF #DEOLHONAJURIS É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual


que confere foro por prerrogativa de função, no Tribunal de Justiça, para o Delegado Geral da Polícia Civil:
Extrapola a autonomia do estado previsão, em constituição estadual, que confere foro privilegiado a Delegado
Geral da Polícia Civil. A autonomia dos estados para dispor sobre autoridades submetidas a foro privilegiado não é
ilimitada, não pode ficar ao arbítrio político do constituinte estadual e deve seguir, por simetria, o modelo
federal. STF. Plenário. ADI 5591/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 20/3/2021 (Info 1010).

*(Atualizado em 18/06/2022) #DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO A competência penal originária do STF para


processar e julgar parlamentares alcança os congressistas federais no exercício de mandato em casa parlamentar
43

diversa daquela em que consumada a hipotética conduta delitiva, desde que não haja solução de continuidade.
Desse modo, mantem-se a competência criminal originária do STF nos casos de “mandatos cruzados”
exclusivamente de parlamentar federal. STF. Plenário. Inq. 4342 QO/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
1º/4/2022 (Info 1049).
Resumindo: Se um Senador, que responde ação penal no STF, foi eleito Deputado Federal, sem solução de
continuidade, o STF permanece sendo competente para a causa (mantem-se a competência do STF nos casos de
mandatos cruzados de parlamentar federal).

#OUSESABER: Se um prefeito de um município do interior pratica um crime doloso contra a vida será julgado
pelo tribunal do júri?
R: A resposta, dessa vez, é NÃO! Cuidado com a pegadinha! Aqui não se trata de aplicação da súmula vinculante
45! Não se aplica a SV 45, pois a competência para o Julgamento do Prefeito é do Tribunal de Justiça do Estado por
determinação da própria CF/88 (art. 29, X). Assim sendo, não se trata de aplicação da SV 45, pois a competência
para julgar os prefeitos não é estabelecida pela Constituição Estadual, mas pela própria CF.

Súmula vinculante 45-STF: A competência constitucional do tribunal do júri prevalece sobre o foro por
prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual. STF. Plenário. Aprovada em
08/04/2015 - Info 780.

Determinado réu foi denunciado pela prática de crime contra a Lei de Licitações. Como ele era Deputado Federal,
seu processo estava tramitando no STF. Após toda a instrução, o Ministério Público apresentou alegações finais,
no final de 2014, pedindo a absolvição por atipicidade da conduta. O STF designou a sessão para julgar o réu.
Ocorre que essa sessão somente foi marcada para abril de 2015 e o problema é que o referido réu não conseguiu
se reeleger Deputado Federal e deixou o cargo em 31/12/2014. Desse modo, no dia marcado para a sessão de
julgamento, o acusado já não era mais Deputado Federal. Como o réu deixou de ser Deputado Federal, a solução
tecnicamente “mais correta” a ser tomada pelo STF seria reconhecer que não era mais competente para a ação
penal e declinar o processo para ser julgado por um juiz de direito de 1ª instância. A Corte adotou, no entanto,
uma postura mais “moderna” ou de “vanguarda” para o caso: o STF reconheceu que não era mais competente
para julgar a ação penal, mas considerou que a situação era de flagrante atipicidade (tanto que o PGR pediu a
absolvição) e, por isso, entendeu que deveria ser concedido habeas corpus, de ofício, em favor do réu,
extinguindo o processo penal. STF. 1ª Turma. AP 568/SP, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 14/4/2015 - Info
781.
A homologação de acordo de colaboração premiada por juiz de 1º grau de jurisdição, que mencione autoridade
com prerrogativa de foro no STJ, não traduz em usurpação de competência deste Tribunal Superior. Ocorrendo a
descoberta fortuita de indícios do envolvimento de pessoa com prerrogativa de foro, os autos devem ser
44

encaminhados imediatamente ao foro prevalente, definido segundo o art. 78, III, do CPP, o qual é o único
competente para resolver sobre a existência de conexão ou continência e acerca da conveniência do
desmembramento do processo. STJ. Corte Especial. Rcl 31.629-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
20/09/2017 (Info 612).
#DIVERGÊNCIA#STF: Nesse ponto, atenção para o entendimento do STF, conforme já mencionado: Se a delação
do colaborador mencionar autoridade com prerrogativa de foro (ex: Governador), este acordo deve ser celebrado
pelo Ministério Público respectivo (PGR), com homologação pelo Tribunal competente (STJ).
#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ: O art. 6º da Lei nº 8.038/90 prevê que o Tribunal irá se reunir para
analisar a denúncia ou queixa oferecida, podendo: 1) receber a denúncia (ou queixa); 2) rejeitar a denúncia (ou
queixa); 3) julgar improcedente a acusação se a decisão não depender de outras provas. Logo, o Tribunal, ao
examinar se a denúncia tem ou não aptidão para ser recebida (hipótese 2 acima), deverá se basear no art. 395 do
CPP (que trata sobre as situações de rejeição da denúncia). Caso o Tribunal entenda pela improcedência da
acusação, essa decisão deve ser pautada pelo disposto no art. 397 do CPP (que trata sobre absolvição sumária).
Ao rito especial da Lei nº 8.038/90 aplicam-se, subsidiariamente, as regras do procedimento ordinário (art. 394, §
5º, CPP), razão pela qual eventual rejeição da denúncia é balizada pelo art. 395 do CPP, ao passo que a
improcedência da acusação (absolvição sumária) é pautada pelo disposto no art. 397 do CPP. STJ. Corte Especial.
APn 923-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/09/2019 (Info 657).

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF Depois de anos sendo investigado em inquérito que tramitava no STF,
o Ministro Relator declinou a competência para apurar os crimes porque os fatos ocorreram antes de o
investigado ser Deputado Federal; logo, aplica-se o entendimento firmado na AP 937 QO O fato de as
investigações estarem perto do fim e de já terem demorado anos não servem como argumento jurídico válido
para prorrogar a competência do STF. Apesar da efetiva evolução das investigações, sob a supervisão do STF, não
houve oferecimento de denúncia contra o agravante nem encerramento da instrução processual penal. Logo, o
marco temporal relativo à data de apresentação das razões finais não foi alcançado. Além disso, quanto ao
segundo argumento da defesa, o STF esclareceu que é possível a imediata remessa dos autos às instâncias
competentes, inclusive antes da publicação do acórdão ou do trânsito em julgado, quando constatado o risco de
prescrição. STF. 2ª Turma. Pet 7716 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 18/2/2020 (Info 967).

3.3. Competência funcional

Ela se estabelece tendo por parâmetro a distribuição de tarefas entre órgãos dentro da mesma
persecução penal. Não se confunde a competência funcional com a prerrogativa por foro de função. Quais são os
três subitens da competência funcional?
45

a) Fase do processo: O legislador pode preestabelecer órgãos distintos para fases específicas do processo.
É o que ocorre com a determinação de um juiz do conhecimento e outro para execução penal (organizar o
desempenho funcional dos juízes). É um vetor de eficiência da Administração Pública.

b) Objeto do juízo: O legislador pode estabelecer que o que foi trazido pela demanda seja parcelado em
juízes distintos. Do objeto levado a juízo temos uma repartição de tarefas. Da demanda apreciada no processo,
poderemos conferir parcelas a figuras distintas, é o que ocorre no Júri, em que os jurados possuem competência
funcional para analisar a imputação fática, votando os quesitos, ao passo que ao juiz presidente compete aplicar a
lei, confeccionando a sentença de forma vinculada aos quesitos;

É possível que a interceptação telefônica seja decretada por um juiz que atue em Vara de Central de Inquéritos
Criminais mesmo que ele não seja o competente para conhecer da futura ação penal que será proposta. Não há,
neste caso, nulidade na prova colhida, nem violação ao art. 1º da Lei nº 9.296/96, considerando que este
dispositivo não fixa regra de competência, mas sim reserva de jurisdição para quebra do sigilo das comunicações.
Em outras palavras, ele não trata sobre qual juízo é competente, mas apenas quer dizer que a interceptação deve
ser decretada pelo magistrado (Poder Judiciário). Admite-se a divisão de tarefas entre juízes que atuam na fase de
inquérito e na fase da ação penal. Assim, um juiz pode atuar na fase pré-processual decretando medidas que
dependam da intervenção do Poder Judiciário, como a interceptação telefônica, mesmo que ele não seja o
competente para julgar a ação penal que será proposta posteriormente. STF. 2ª Turma. HC 126536/ES, Rel. Min.
Teori Zavascki, julgado em 1º/3/2016 (Info 816).

c) Grau de jurisdição: também conhecido como competência funcional vertical, resulta no duplo grau de
jurisdição e nos permite escalonar a estrutura do Judiciário na organização do sistema recursal e, eventualmente,
das ações originárias perante Tribunais, como ocorre com o habeas corpus, mandado de segurança e revisão
criminal.

4. Competência relativa

A competência relativa permite prorrogação, caso não seja arguida a tempo a incompetência do foro,
afinal de contas, ela interessa, sobretudo, às partes. O desrespeito às normas de competência relativa, segundo
posicionamento doutrinário prevalente, leva apenas à nulidade relativa dos atos decisórios (não são anulados os
atos instrutórios, conforme melhor interpretação conferida ao art. 567, do CPP).

No Processo Penal, é hipótese de competência relativa à competência territorial (ratíone locí). Ressalte-
se, porém, que, no Processo Penal, a competência territorial pode ser reconhecida, de ofício, pelo juiz, motivo
46

pelo qual a Súmula n° 33, do STJ, que apregoa que "A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício", só
tem aplicabilidade no Processo Civil.

#SELIGA: Até que momento pode o juiz reconhecer de ofício a sua incompetência?
Conforme leciona Renato Brasileiro, cuidando-se de incompetência relativa, sempre prevaleceu o
entendimento de que o juiz poderia declinar de ofício de sua incompetência relativa até o momento da
sentença, pois, uma vez proferida sua decisão, teria esgotado sua jurisdição no caso concreto. No entanto,
diante da inserção do princípio da identidade física do juiz no processo penal, o juiz que proferiu a instrução
deverá proferir a sentença. Assim, o reconhecimento de ofício da incompetência relativa somente pode ocorrer
até o início da instrução processual. Iniciada a instrução, haveria preclusão da matéria, inclusive para o
magistrado.

4.1. Competência territorial ou competência ratione loci (arts. 69, I, e 70 a 71 do CPP): 3

Trata-se aqui da fixação da competência a partir do lugar do crime. Há três teorias que procuram definir o
lugar do crime para fins de fixação do foro competente: teoria da atividade, teoria do resultado e teoria da
ubiquidade.

a) Teoria do resultado: O CPP, no art. 70, adotou a teoria do resultado, considerando competente, em
regra, o juízo do lugar onde a infração se consumou, ou, sendo hipótese de tentativa, o local onde o último ato
de execução foi praticado.

#ATENÇÃO: Não confunda o local da consumação com o local do exaurimento. Consumação define
competência, exaurimento, não.

#DEOLHONASÚMULA: Súmula 521, STF: O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de
estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do local onde se deu a

3
*A banca FCC, na prova da DPE-BA, em 2016, considerou correta a seguinte alternativa sobre os critérios de expressos
definição de competência no CPP: “A prerrogativa de função e o domicílio ou residência do réu.”
47

recusa do pagamento pelo sacado.


*(atualizado em 22/09/2021) A Lei nº 14.155/2021 inseriu o § 4º ao art. 70 do CPP4 tratando sobre o tema.

Veja o § 4º do art. 70 que foi inserido no CPP pela Lei nº 14.155/2021:

Art. 70. (...)

§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),
quando praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em
poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a competência será
4
(*) ATUALIZADO EM 13/01/2022. (Delegado de Polícia – PC-MS/2021). Considerando as duas situações descritas abaixo,
assinale a alternativa correta.

1ª situação: Tício, que estava na cidade de Douradina – MS, efetuou uma ligação para a vítima, Isadora, que naquele
momento se encontrava em sua residência, na cidade de Terenos – MS. Na ligação, passando-se falsamente por um
sequestrador, Tício afirmou ter sequestrado Vicente, filho de Isadora, e exigiu que ela lhe transferisse a quantia de R$
20.000,00 (vinte mil reais) como preço de resgate, do contrário Vicente iria morrer. Temendo pela vida de seu filho, Isadora
deslocouse até Campo Grande – MS e transferiu o valor exigido para a conta bancária de Mévio, comparsa de Tício, que
mantinha uma conta na agência bancária de Itaporã – MS.

2ª situação: Caio, estelionatário contumaz, anunciou na internet a venda de um aparelho de telefone celular. Seduzido pelo
preço anunciado, Jaime realizou a compra do telefone e transferiu o valor indicado no anúncio para a conta bancária
fornecida por Caio. Entretanto, tudo não passava de um “golpe”, e Jaime nunca recebeu o produto. Apurou-se que no
momento do anúncio Caio se encontrava na cidade de Laguna Carapã – MS; Jaime, que reside na cidade de Fátima do Sul –
MS, encontrava-se em Dourados – MS quando fez a compra pela internet; e a conta bancária para a qual Jaime transferiu o
valor pertencia a uma agência situada na cidade de Caarapó – MS.

Os juízos competentes para julgar as ações penais, são, respectivamente,

a. a vara criminal da comarca de Douradina – MS (1ª situação) e a vara criminal da comarca de Caarapó – MS (2ª
situação).
b. a vara criminal da comarca de Campo Grande – MS (1ª situação) e a vara criminal da comarca de Dourados – MS (2ª
situação).
c. a vara criminal da comarca de Terenos – MS (1ª situação) e a vara criminal da comarca de Fátima do Sul – MS (2ª
situação).
d. a vara criminal da comarca de Itaporã – MS (1ª situação) e a vara criminal da comarca de Laguna Carapã – MS (2ª
situação).
e. a vara criminal da comarca de Terenos – MS (1ª situação) e a vara criminal da comarca de Dourados – MS (2ª
situação).

GABARITO: C.

1ª situação: crime de extorsão  crime formal, consuma-se no local do local do constrangimento  competência: local
onde ocorreu o constrangimento - no caso, onde a vítima foi constrangida em razão da grave ameaça – aplica-se o art. 70,
caput do CPP.

2ª situação: crime de estelionato praticado mediante transferência de valores  competência: local do domicílio da vítima
(art. 70, §4º do CPP (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021).
48

definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela
prevenção.

*Atualizado em 12/05/2022:

#DEOLHONAJURIS - Na hipótese de importação da droga via correio cumulada com o conhecimento do


destinatário por meio do endereço aposto na correspondência, a Súmula 528/STJ deva ser flexibilizada para se
fixar a competência no Juízo do local de destino da droga, em favor da facilitação da fase investigativa, da busca
da verdade e da duração razoável do processo.

STJ. 3ª Seção. CC 177.882-PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 26/05/2021 (Info 698).

#ATENÇÃO  Obs: em 25/02/2022, após o julgamento acima, o STJ decidiu cancelar formalmente a Súmula 528.
Portanto, a Súmula 528 do STJ está formalmente cancelada.

Argumentos para mudança de entendimento:

1. O primeiro argumento decorre do bom senso. Em São Paulo desembarca a maioria das remessas importadas,
via correios, do exterior.

2. O segundo argumento decorre da regra que define a competência pelo lugar em que efetivamente se
consuma a infração, circunstância esta essencial para a fixação da competência, nos termos do art. 70, do CPP.
para que haja a remessa da droga ao Brasil é necessário que o importador entabule um negócio (evidentemente
ilícito). Não é crível, ainda mais no âmbito do tráfico internacional, que alguém remeta drogas para o Brasil
gratuitamente ou ofereça essa remessa como um presente sem ônus. É evidente que há um negócio espúrio
preliminar à remessa do entorpecente. Assim, quando o importador acerta a remessa do entorpecente, efetua o
pagamento do preço e se cerca dos cuidados para que receba o produto, o negócio se encontra aperfeiçoado,
dependendo o seu êxito integral, tão somente, do efetivo recebimento da droga. Desse modo, a consumação da
importação da droga ocorre no momento da entabulação do negócio jurídico. Logo, o local de apreensão da
mercadoria em trânsito não se confunde com o local da consumação do delito, o qual já se encontrava perfeito e
acabado desde a negociação.

b) Teoria da atividade: por essa teoria, considera-se competente o juízo do local onde fora praticada a
conduta.

#ATENÇÃO: Excepcionalmente, adota-se essa teoria nos seguintes casos:


- Homicídio, quando o resultado morte tenha ocorrido em local diverso daquele onde se deu a conduta;
- Infrações de menor potencial ofensivo (art. 63, Lei 9.099/95);

c) Teoria da ubiquidade: considera-se como local do crime tanto o lugar em que se processou a ação ou
omissão (art. 70, § 1º), como aquele em que ocorreu ou deveria ter ocorrido o resultado (art. 70, § 2º).
49

#ATENÇÃO: Excepcionalmente, adota-se essa teoria nos seguintes casos:


- Crimes à distância: aqueles que têm sua execução iniciada em um determinado país, e a consumação em
outro;
§1º - Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será
determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução.
§2º - Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do
lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado.
- Incerteza de limite territorial entre duas ou mais jurisdições ou incerteza de jurisdição.
§3º - Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter
sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela
prevenção.
- Crime continuado;
- Crime permanente.
Art. 71. Tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em território de duas ou mais
jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.

4.2. Foro no caso de crimes cometidos a bordo de embarcações ou de aeronaves:

a) Tratando-se de crime cometido a bordo de qualquer embarcação ou aeronave, nacional ou


estrangeira, que se encontra em porto ou aeroporto brasileiro, competente para o processo e julgamento é o
foro do local em que localizado o porto ou aeroporto, independentemente da nacionalidade do autor e vítima.

b) Tratando-se de navio ou aeronaves brasileiras atracados em porto ou aeroporto estrangeiro, é


competente o foro da Capital do Estado onde por último residiu o acusado ou, se nunca residiu no Brasil, o foro
da Capital da República (art. 88, CPP).

c) Tratando-se de crime cometido a bordo de navio brasileiro ou aeronave brasileira em viagem,


aproximando-se do Brasil, é competente o foro do primeiro porto ou aeroporto em que atracar a embarcação ou
a aeronave. Caso, porém, estejam se afastando do País, competente é o foro do último porto ou aeroporto
brasileiro em que estiveram atracadas antes do crime (arts. 89 e 90, CPP). Se, contudo, a par dessas disciplinas,
persistir incerto o foro competente, a competência será definida pela prevenção (art. 91, CPP). Ex: Navio
brasileiro parte de Buenos Aires em direção ao Estado do Ceará. Durante a viagem, ocorre um determinado
crime, vindo a embarcação, depois, a atracar no porto da cidade de Rio Grande (RS). Nesse caso, o foro
50

competente para o processo e julgamento do delito será a Justiça Federal de Rio Grande (art. 109, IX, CF e art. 89,
CPP).

4.3. Situações especiais

a) Crimes qualificados pelo resultado: ocorre quando o agente atua com dolo na conduta e dolo quanto
ao resultado qualificador, ou dolo na conduta e culpa no que diz respeito ao resultado qualificador (crime
preterdoloso), a exemplo do que ocorre com o crime de lesão corporal qualificada pelo resultado aborto (CP, art.
129, § 2º, V). Em relação a tais delitos, firma-se a competência pelo local da produção do resultado qualificador.

b) Crimes plurilocais: são aqueles em que a ação ou omissão ocorre em um determinado lugar e o
resultado, em local distinto. Nesse caso, adota-se a teoria do resultado, considerando-se competente o foro do
local da consumação do delito.

#OUSESABER: O que se entende por princípio do esboço do resultado? Nos casos de crimes plurilocais, infrações
penais em que a ação e o resultado ocorrem em lugares diversos, porém ambos dentro do território nacional, o
art. 70 estipula que a competência deve ser regida pelo lugar em que se produziu o resultado. Todavia, de acordo
com o princípio do esboço do resultado, nesses casos de crimes plurilocais, a competência em razão do lugar deve
ser determinada não pelo local em que ocorreu o resultado, mas sim pelo local em que a conduta foi praticada,
pois facilitaria a produção de prova e o efeito intimidatória da pena seria potencializado. Tanto STJ e STF já
aceitaram a aplicação do princípio aludido, mormente em situações envolvendo o delito de homicídio, em que a
conduta é praticada em um local, mas a vítima acaba morrendo em outra cidade, para onde foi deslocada, a fim
de receber o tratamento médico necessário.

#OLHAORESUMÃO:
51

4.4. Competência territorial pelo domicílio do réu

a) Incerteza quanto ao lugar da infração: caso não seja possível determinar o lugar da infração, a
competência será firmada pelo domicílio ou residência do réu (CPP, art. 72, caput) - forum domicilii. Trata-se do
foro supletivo/subsidiário.
Art. 72. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu.
§ 1o Se o réu tiver mais de uma residência, a competência firmar-se-á pela prevenção.

b) Crimes de ação penal exclusivamente privada: nessa hipótese, mesmo sendo conhecido o local da
infração, possibilita-se ao querelante optar foro do domicílio do réu.
§ 2o Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será competente o juiz que primeiro
tomar conhecimento do fato.
52

IMPORTANTE!!! João, famoso estelionatário que mora em Belo Horizonte (MG), ligou para a casa de Maria, uma
senhora que reside em Campo Grande (MS). Na conversa, João afirmou que trabalhava no Governo e que Maria
tinha direito de receber de volta R$ 10 mil de impostos pagos a mais. Para isso, no entanto, ela precisaria apenas
depositar previamente R$ 1 mil a título de honorários advocatícios em uma conta bancária cujo número ele
forneceu. Maria, toda contente, depositou o valor na conta bancária, pertencente a João, que no dia seguinte, foi
até a sua agência, em Belo Horizonte (MG) e sacou a quantia. João praticou o crime de estelionato (art. 171 do
CP). Quem será competente para processar e julgar o crime: a vara criminal de Campo Grande (lugar onde
ocorreu o prejuízo) ou a vara criminal de Belo Horizonte (localidade em que o estelionatário recebeu o proveito
do crime)? Entendiam os tribunais superiores que a vara criminal competente seria Belo Horizonte (local em que
houve a obtenção da vantagem indevida). Compete ao juízo do foro onde se encontra localizada a agência
bancária por meio da qual o suposto estelionatário recebeu o proveito do crime processar a persecução penal
instaurada para apurar crime de estelionato no qual a vítima teria sido induzida a depositar determinada quantia
na conta pessoal do agente do delito. A competência não é do local onde existia a agência da vítima. No caso do
estelionato, o crime se consuma no momento da obtenção da vantagem indevida, ou seja, no instante em que o
valor é depositado ("cai") na conta corrente do autor do delito, passando, portanto, à sua disponibilidade. STJ. 3ª
Seção. CC 139.800-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/6/2015 (Info 565). ATÉ A LEI
14.155/2021, A COMPETÊNCIA SERIA DO FORO ONDE SE OBTEVE A VANTAGEM INDEVIDA, conforme orientação
do STJ.

*(atualizado em 22/09/2021) ATENÇÃO: #ALTERAÇÃOLEGISLATIVA


A Lei nº 14.155/2021 inseriu o § 4º ao art. 70 do CPP tratando sobre o tema.
A alteração é muito bem-vinda porque anteriormente havia uma imensa insegurança jurídica diante da existência
de regras distintas para situações muito parecidas, além da uma intensa oscilação jurisprudencial.
Veja o § 4º do art. 70 que foi inserido no CPP pela Lei nº 14.155/2021:
Art. 70. (...)
§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), quando
praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do
sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a competência será definida pelo
local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção.

*#ATENÇÃO #PACIFICOU #DEOLHONAJURIS: Na hipótese em que o estelionato se dá mediante vantagem


indevida, auferida mediante o depósito em favor de conta bancária de terceiro, a competência deverá ser
declarada em favor do juízo no qual se situa a conta favorecida. No caso em que a vítima, induzida em erro,
efetuou depósito em dinheiro e/ou transferência bancária para a conta de terceiro (estelionatário), a obtenção da
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vantagem ilícita ocorreu quando o estelionatário se apossou do dinheiro, ou seja, no momento em a quantia foi
depositada em sua conta. STJ. 3ª Seção. CC 167.025/RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
14/08/2019. STJ. 3ª Seção. CC 169.053-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/12/2019 (Info 663).
Não confundir: • estelionato que ocorre por meio do saque (ou compensação) de cheque clonado, adulterado ou
falsificado: a competência é do local onde a vítima possui a conta bancária. Isso porque, nesta hipótese, o local
da obtenção da vantagem ilícita é aquele em que se situa a agência bancária onde foi sacado o cheque
adulterado, ou seja, onde a vítima possui conta bancária. Aplica-se o raciocínio da súmula 48 do STJ (Compete ao
juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido mediante
falsificação de cheque.) • estelionato que ocorre quando a vítima, induzida em erro, se dispõe a fazer depósitos
ou transferências bancárias para a conta de terceiro (estelionatário): a competência é do local onde o
estelionatário possui a conta bancária. Isso porque, neste caso, a obtenção da vantagem ilícita ocorre quando o
estelionatário efetivamente se apossa do dinheiro, ou seja, no momento em que ele é depositado em sua conta.

#Em 2004, três Auditores-Fiscais do Trabalho foram assassinados na zona rural do Município de Unaí (MG) em
virtude do trabalho de fiscalização que vinham realizando no local. Na época dos fatos, não havia vara federal em
Unaí, motivo pelo qual a denúncia do MPF foi recebida pelo juízo da 9ª Vara Federal de Belo Horizonte (MG).
Alguns anos depois, foi criada a Vara Federal de Unaí (MG) e, em razão disso, o juízo da 9ª Vara Federal de Belo
Horizonte declinou a competência para julgar o processo para a recém criada Vara Federal. Tanto o STF como o
STJ discordaram da decisão declinatória e reafirmaram o entendimento de que a criação superveniente de vara
federal na localidade de ocorrência de crime doloso contra a vida não enseja a incompetência do juízo em que já
se tenha iniciado a ação penal. Incide, no caso, o princípio da “perpetuatio jurisdictionis” que, apesar de só estar
previsto no CPC (art. 87 do CPC 1973 / art. 43 do CPC 2015), é aplicável também ao processo penal por força do
art. 3º do CPP. Assim, o juízo da Vara de Belo Horizonte, que recebeu a denúncia (iniciando a ação penal),
continua sendo competente para julgar o processo mesmo tendo sido criada nova vara. STF. 1ª Turma. HC
117871/MG e HC 117832/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Rosa Weber, julgados em
28/4/2015 - Info 783.

#DEOLHONAJURIS
Nos crimes de estelionato, quando praticados mediante depósito, por emissão de cheques sem suficiente
provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou por meio da transferência de valores,
a competência será definida pelo local do domicílio da vítima, em razão da superveniência de Lei nº 14.155/2021,
ainda que os fatos tenham sido anteriores à nova lei. STJ. 3ª Seção. CC 180.832-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado
em 25/08/2021 (Info 706).
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5. Prevenção

5.1. Introdução

Nos termos do art. 83 do CPP, ocorrerá a prevenção quando, havendo dois ou mais juízes igualmente
competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles se anteceder ao(s) outro(s) na prática de atos de jurisdição
(atos decisórios).

#ATENÇÃO: Apenas geram prevenção atos de jurisdição praticados por autoridade judiciária competente.

5.2. Hipóteses legais

a) Hipótese de ter ocorrido o crime na divisa entre duas ou mais jurisdições, quando concorrerem
quaisquer das seguintes situações (art. 70, § 3.º, c/c o art. 83, ambos do CPP):
(i) Incerteza quanto à localização exata da divisa entre os territórios pertencentes às jurisdições distintas;
(ii) Incerteza quanto ao local exato da prática do delito, apesar de conhecidos os limites territoriais
atinentes a cada jurisdição;
(iii) Infração cuja prática alcança territórios pertencentes a jurisdições distintas.

b) Hipóteses de crime continuado ou crimes permanentes (art. 71 c/c o art. 83, ambos do CPP):
(i) Crime continuado: existência de várias infrações independentes, todas da mesma espécie, as quais, por
terem sido cometidas em condições semelhantes de tempo, lugar e execução, são reunidas, por ficção jurídica,
como se fossem apenas uma, aplicando-se a pena da mais grave (se diversas), acrescida de 1/6 até 2/3 (art. 71 do
CP).
(ii) Crimes permanentes: são aqueles cuja consumação ocorre com uma única ação, mas o resultado se
prolonga no tempo. Ex: cárcere privado, associação criminosa.

c) Hipótese de réu sem residência certa, ou ignorado seu paradeiro; de réu com mais de uma residência
conhecida, cada qual em âmbitos jurisdicionais diferentes; de corréus com residências em Comarcas distintas
(art. 72, §§ 1.º e 2.º, c/c o art. 83, ambos do CPP);

d) Hipótese de dois ou mais juízes igualmente competentes em razão de conexão ou continência, sem
que haja possibilidade de resolver o impasse pelos critérios definidos no art. 78, II, a e b (art. 78, II, c, CPP);
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e) Hipótese de crime cometido a bordo de navio ou aeronave, não sendo possível definir o último ponto
de partida nem o próximo destino depois do crime (art. 91 CPP).

6. Conexão

6.1. Introdução

Trata-se do nexo que dois ou mais fatos delituosos guardam entre si, recomendando a reunião de todos
eles em um mesmo processo penal, perante o mesmo órgão jurisdicional, a fim de que este tenha uma perfeita
visão do quadro probatório.

Art. 76. A competência será determinada pela conexão:


I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas
reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas
contra as outras;
II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir
impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;
III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra
infração.

6.2. Conexão intersubjetiva

Envolve vários crimes e várias pessoas obrigatoriamente.

a) Conexão intersubjetiva por simultaneidade (conexão subjetivo-objetiva ou conexão intersubjetiva


ocasional): ocorre quando duas ou mais infrações são praticadas ao mesmo tempo, por diversas pessoas
ocasionalmente reunidas (sem intenção de reunião), aproveitando-se das mesmas circunstâncias de tempo e de
local (CPP, art. 76, I, 1ª parte). Ex: diversos torcedores depredando um estádio.

b) Conexão intersubjetiva por concurso (ou concursal): ocorre quando duas ou mais infrações tiverem
sido cometidas por várias pessoas em concurso, ainda que em tempo e local diversos (CPP, art. 76, I, 2ª parte).
Aqui não importa se as infrações foram praticadas em tempos diferentes.

c) Conexão intersubjetiva por reciprocidade: ocorre quando duas ou mais infrações tiverem sido
cometidas por diversas pessoas umas contra as outras (CPP, art. 76, I, parte final).
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6.3. Conexão objetiva, lógica ou material ou teleológica

Ocorre quando um crime é praticado para facilitar a execução do outro.

a) Conexão objetiva teleológica (art. 76, II, 1.º verbo, do CPP): ocorre quando o fim visado com a prática
delituosa é facilitar a prática de outro crime. Ex: lesões corporais contra os pais de uma criança com o objetivo de
facilitar o sequestro desta.

b) Conexão objetiva consequencial (art. 76, II, verbos remanescentes, do CPP): hipótese em que o
objetivo do crime é ocultar, conseguir a impunidade ou vantagem do crime já praticado. Ex: ocultação de cadáver
para encobrir crime de homicídio.

6.4. Conexão instrumental, probatória ou processual

Ocorre quando a prova de um crime influencia na existência do outro (CPP, art. 76, III). Aqui não há
qualquer exigência de relação de tempo e espaço entre os dois delitos, bastando que a prova de um crime tenha
capacidade para influir na prova de outro delito. Ex: prova do crime de furto auxiliando na prova do delito de
receptação; prova da infração antecedente auxiliando na prova do delito de lavagem de capitais.

Se o crime do art. 241-A do ECA for praticado por meio do computador da residência do agente localizada em São
Paulo (SP), mesmo assim ele poderá ser julgado pelo juízo de Curitiba (PR) se ficar demonstrado que a conduta do
agente ocorreu com investigações que tiveram início em Curitiba, onde um grupo de pedófilos ligados ao agente
foi preso e, a partir daí, foram obtidas todas as provas. Neste caso, a competência do juízo de Curitiba ocorrerá
por conexão, não havendo ofensa ao princípio do juiz natural. STF. 1ª Turma. HC 135883/PR, rel. orig. Min.
Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/6/2017 (Info 868).

#STF #DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #DIZERODIREITO: A doação eleitoral por meio de “caixa 2” é uma conduta
que configura crime eleitoral de falsidade ideológica (art. 350 do Código Eleitoral). A competência para processar
e julgar este delito é da Justiça Eleitoral.

A existência de crimes conexos de competência da Justiça Comum, como corrupção passiva e lavagem de
capitais, não afasta a competência da Justiça Eleitoral, por força do art. 35, II, do CE e do art. 78, IV, do CPP. STF.
2ª Turma. PET 7319/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 27/3/2018 (Info 895).
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#DEOLHONAJURIS#DIZERODIREITO#STF: Compete à Justiça Eleitoral julgar os crimes eleitorais e os comuns que


lhes forem conexos. Cabe à Justiça Eleitoral analisar, caso a caso, a existência de conexão de delitos comuns aos
delitos eleitorais e, em não havendo, remeter os casos à Justiça competente. STF. Plenário. Inq 4435 AgR-
quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019 (Info 933). #IMPORTANTE
Em regra, havendo a aposentadoria do Desembargador, ele deixa de ter foro por prerrogativa de função no STJ e
passa a ser julgado em 1ª instância. Se houver, no entanto, outros réus com foro privativo no STJ, é possível que
este Tribunal reconheça que existe conexão entre os fatos e que será útil ao deslinde da causa que os réus
continuem a ser julgados conjuntamente. Neste caso, não haverá desmembramento e o réu sem foro privativo
será julgado também no Tribunal com os demais. Este procedimento não viola a CF/88, conforme definido na
Súmula 704-STF. STF. 1ª Turma. HC 131164/TO, rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/5/2016 (Info 827).
Na chamada "operação Lava Jato", o STF decidiu desmembrar um dos feitos, ficando no Supremo a investigação
relacionada com o Deputado Federal "EC" e sendo remetido de volta para a Vara Federal de Curitiba o processo
que apura a conduta dos demais réus (supostos comparsas do parlamentar). Depois do desmembramento,
durante a oitiva de um réu colaborador na 1ª instância, este revelou novos fatos criminosos que teriam sido
praticados por "EC". Essa oitiva foi correta e não houve usurpação de competência do STF. Só se poderia dizer que
houve violação da competência do STF se o juiz federal tivesse realizado medidas investigatórias dirigidas ao
Deputado Federal, não podendo ser considerada medida de investigação o simples fato de ele ter ouvido réu
colaborador e este ter mencionado a participação de "EC" durante a audiência. É comum que, em casos de
desmembramento, ocorra a produção de provas que se relacionem tanto com os indivíduos investigados na 1ª
instância, como o dos demais réus com foro privativo. A existência dessa coincidência não caracteriza usurpação
de competência. Em suma, a simples menção do nome do reclamante em depoimento de réu colaborador,
durante a instrução em 1ª instância, não caracterizaria ato de investigação, ainda mais quando houve prévio
desmembramento, como no caso. STF. Plenário. Rcl 21419 AgR/PR, Rel. Min.Teori Zavascki, julgado em 7/10/2015
(Info 802).
Em regra, o STF entende que deverá haver o desmembramento dos processos quando houver corréus sem
prerrogativa. Em outras palavras, permanece no STF apenas a apuração do investigado com foro por prerrogativa
de função e os demais são julgados em 1ª instância. No entanto, no caso envolvendo o Senador Aécio Neves, sua
irmã, seu primo e mais um investigado, o STF decidiu que, no atual estágio, não deveria haver o
desmembramento e a apuração dos fatos deveria permanecer no Supremo para todos os envolvidos. Isso porque
entendeu-se que o desmembramento representaria inequívoco prejuízo às investigações. STF. 1ª Turma. Inq 4506
AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 14/11/2017 (Info 885)

*(Atualizado em 12/02/2023) #DEOLHONAJURIS #STJ - A reunião dos feitos por força de conexão não ostenta
natureza absoluta, sendo adequado excepcionar a sua incidência na hipótese em que a aplicação ensejaria um
atraso na tramitação de ação em estágio avançado (instrução encerrada). No caso, o Juízo estadual, em ação
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penal com instrução já encerrada, exarou decisão declinando da competência em favor da Justiça Federal por
vislumbrar a conexão dos crimes de competência estadual com delitos de competência federal. O Juízo da Vara
Federal Criminal, acolhendo a manifestação do Ministério Público, rechaçou a competência federal para apurar os
crimes estaduais, determinando a instauração de inquérito policial na Polícia Federal para apurar os indícios de
crimes de lavagem de dinheiro transnacional e evasão de divisas. O fato de o órgão acusatório federal não
vislumbrar, por ora, indícios suficientes da prática de lavagem transnacional e de evasão de divisas para o
oferecimento da denúncia - manifestação essa acolhida pelo Juízo Federal - obsta, ao menos por ora, a
persecução penal quanto a esses crimes em âmbito federal e, por consequência, o deslocamento da ação penal
(em estágio avançado na Justiça estadual) com base numa suposta conexão entre os crimes estaduais e federais
(Súmula 122/STJ). Nesse sentido, não soa razoável nem adequado aguardar investigação quanto a esses crimes
(lavagem transnacional e evasão de divisas) em âmbito federal, enquanto há ação penal apta a julgamento
(instrução já encerrada) em curso na Justiça estadual, versando sobre a prática de vários crimes de competência
estadual. Cumpre rememorar que a reunião dos feitos para processamento conjunto por força de conexão tem
por escopo a otimização do julgamento. O desmembramento, no caso, não implica em inobservância de regra de
competência absoluta, pois remanesce a competência do Juízo Federal para processar eventuais crimes de
competência federal (evasão de divisas e lavagem transnacional). STJ, CC 190.445-SP, Rel. Ministro Sebastião Reis
Júnior, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 28/9/2022, DJe 30/9/2022 (Edição Especial n° 10).

7. Continência

Trata-se de um vínculo jurídico entre duas ou mais pessoas, ou entre dois ou mais fatos delitivos, de
forma análoga a continente e conteúdo, de tal modo que um fato delitivo contém as duas ou mais pessoas, ou
uma conduta humana contém dois ou mais fatos delitivos, tendo como consequência jurídica, salvo causa
impeditiva a reunião das duas ou mais pessoas, ou dos dois ou mais fatos delitivos, em um único processo penal,
perante o mesmo órgão jurisdicional.

Art. 77. A competência será determinada pela continência quando:


I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração;
II - no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51, § 1o, 53, segunda parte, e 54 do Código
Penal.

7.1. Continência por cumulação subjetiva ou continência subjetiva (continência concursal)


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Ocorre quando duas ou mais pessoas são acusadas pela mesma infração penal. Ex: homicídio praticado
por dois agentes.

#ATENÇÃO para a diferença entre a conexão intersubjetiva e a continência subjetiva: na conexão, são vários
crimes e várias pessoas; na continência, são várias pessoas e um único crime.

7.2. Continência por cumulação objetiva

Ocorre nas hipóteses de concurso formal de crimes (CP, art. 70), aberratio ictus ou erro na execução (CP,
art. 73, segunda parte), e aberratio delicti ou resultado diverso do pretendido (CP, art. 74, segunda parte).

a) Concurso formal (art. 70 do CP): situação em que o agente, mediante uma só conduta, pratica dois ou
mais crimes. Ex: dirigindo imprudente e negligentemente, o motorista de um ônibus tomba o veículo, ferindo
vários passageiros e matando outros. Nesse caso, todos os eventos típicos serão apurados conjuntamente, sendo,
ao final, no caso de condenação, aplicada a pena de um só crime (se idênticas) ou a do crime mais grave (se
diversas), acrescida, em qualquer caso, de um sexto até a metade.

b) “Aberratio ictus” complexa (art. 73, 2.ª parte, do CP): também chamada de “aberratio ictus” com
resultado duplo ou múltiplo, é a hipótese em que o agente, por erro na execução, atinge não apenas a pessoa
que desejava, mas, também, outra que não pretendia atingir. Ex: desejando matar Pedro, o agente atira e
atinge, além de Pedro, João. A regra a ser aplicada é a mesma do concurso formal.

#SELIGA: E se fosse atingida apenas a pessoa não pretendida pelo agente? Nesse caso, a hipótese caracterizaria
aberratio ictus simples ou com resultado único, não havendo que se falar na continência prevista no art. 77, II, do
CPP, já que o agente responderá por um só crime (art. 73, 1.ª parte, do CP), e não por dois crimes em concurso
formal.

c) “Aberratio delicti” (art. 74, 2.ª parte, do CP): ocorre quando o agente objetiva determinado resultado,
vindo a alcançá-lo, e, também, outro que não estava nos seus planos. Ex: pedra desferida contra a vidraça de uma
casa, visando danificá-la (crime de dano), mas que atinge, também, uma pessoa que, no momento, passava pelo
local (crime de lesões corporais). Igualmente, aplicável a regra do concurso formal.

#SELIGA: E se fosse apenas alcançado o resultado diverso? Simetricamente à hipótese anterior, também aqui
não se falará na continência prevista no art. 77, II, do CPP, pois o agente responderá por apenas um crime (art. 73,
1.ª parte, do CP), e não por dois crimes em concurso formal.
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#DEOLHONORESUMÃO:

8. Regras aplicáveis à conexão e continência (art. 78 do CPP)

Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes
regras: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência
do júri; (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave; (Redação dada pela Lei nº 263, de
23.2.1948)
b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as respectivas penas forem de
igual gravidade; (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos; (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação; (Redação dada pela Lei
nº 263, de 23.2.1948)
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IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta. (Redação dada pela Lei nº 263, de
23.2.1948)

8.1. Concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum (art. 78, I, do CPP)

Cuidando-se de conexão e continência entre crime comum e crime da competência do júri, quem
exercerá força atrativa é o júri, de acordo com o art. 78, inciso I, do CPP. Ex: estupro e homicídio cometidos em
conexão. Ambos os delitos serão julgados pelo tribunal do júri, pouco importando se ambos os crimes foram
cometidos na mesma comarca ou no mesmo Estado da Federação.

#DEOLHONASÚMULA: Súmula 704 do STF: Não viola as garantias do Juiz natural, da ampla defesa e do devido
processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função
de um dos denunciados.

8.2. Concurso de jurisdições distintas

a) Concurso entre a jurisdição comum e a especial: no concurso entre a jurisdição comum e a especial
(ressalvada a Justiça Militar - CPP, art. 79, inciso I), prevalece a especial (CPP, art. 78, inciso IV). Assim, caso um
crime eleitoral seja conexo a um crime comum de competência da Justiça Estadual, prevalece a competência da
Justiça Eleitoral para julgar ambos os delitos.

b) Concurso entre órgãos de jurisdição superior e inferior: No concurso de jurisdições de diversas


categorias, predomina a de maior graduação (CPP, art. 78, inciso III). Ex: se um crime de furto for praticado em
concurso de agentes por um prefeito municipal, cuja competência originária é do Tribunal de Justiça, e por um
cidadão que não seja titular de foro por prerrogativa de função, cujo juiz natural seria um juiz de direito,
prevalece a competência do Tribunal de Justiça para julgar ambos.

c) Concurso entre a Justiça Federal e a Estadual: Havendo conexão entre crimes de competência da
Justiça Federal e da Justiça Estadual, prevalece a competência da Justiça Federal.

#DEOLHONASÚMULA: Súmula n° 122 do STJ: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos
crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de
Processo Penal.

8.3. Concurso de jurisdições da mesma categoria


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Jurisdições da mesma categoria são aquelas entre as quais não há nenhuma hierarquia jurisdicional, como
entre dois juízes estaduais de 1º grau, dois juízes federais de 1º grau, etc. Nesse caso, serão aplicadas as seguintes
regras:

a) Preponderância do lugar em que foi praticada a infração a que for cominada a pena mais grave .
Quanto à definição sobre o que seja “pena mais grave”, deve-se, primeiramente, levar em conta a natureza da
pena cominada – reclusão é mais grave do que a detenção; esta, por sua vez, é mais grave que a prisão simples e
a multa. Sendo da mesma natureza, deverá ser considerada a quantidade de pena prevista in abstracto –
primeiramente a pena máxima e, após, a pena mínima.

b) Preponderância do lugar em que foi praticado maior número de infrações, caso todas tenham a
mesma gravidade.

c) Fixação pela prevenção, nos demais casos.

8.4. Separação de processos

Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo:


I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar;
II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores.
§ 1o Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a algum co-réu, sobrevier o caso previsto
no art. 152.
§ 2o A unidade do processo não importará a do julgamento, se houver co-réu foragido que não possa ser julgado
à revelia, ou ocorrer a hipótese do art. 461.

a) Concurso entre a jurisdição comum e a militar (art. 79, I): A hipótese abrange tanto o concurso de
crimes comum e militar como o concurso de agentes no mesmo crime entre civil e militar, determinando a lei,
pois, a separação dos processos.
Não obstante a essa regra, é necessário considerar que o militar que vem a cometer crime doloso contra
a vida de civil terá seu julgamento realizado pela Justiça Comum (Tribunal do Júri), tendo em vista os termos da
Lei 9.299/1996, que alterou o art. 82, § 2º, do Código de Processo Penal Militar. Agora, se o militar vier a cometer
crime doloso contra a vida de militar, a competência será da Justiça Militar.
Militar que comete crime doloso contra a vida de Tribunal do Júri
civil
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Militar que comete crime doloso contra a vida de Justiça Militar


militar

b) Concurso entre a jurisdição comum e a Justiça da Infância e da Juventude (art. 79, II): Compete à
Justiça da Infância e Juventude a apuração do ato infracional praticado pela criança (até 12 anos incompletos) e
pelo adolescente (12 anos completos até 18 anos incompletos). Assim, deverá haver a separação dos processos
quando houver concurso de agentes entre inimputável e pessoa maior de 18 anos. Nesse caso, o imputável será
julgado pela Justiça Comum, sendo o ato infracional praticado pelo menor apurado pelo Juizado da Infância e
Juventude.

c) Doença mental superveniente à prática delituosa: Se sobrevier doença mental a um dos acusados, em
qualquer caso cessará a unidade de processo (CPP, art. 79, § 1º), ficando suspenso o processo quanto ao enfermo.

d) Citação por edital de um dos corréus, seguida de seu não-comparecimento e não-constituição de


defensor: nos termos do art. 366 do CPP, se acaso um processo criminal for instaurado contra vários acusados,
sendo um deles citado por edital, daí resultando seu não comparecimento e não constituição de defensor, deverá
o processo ficar suspenso tão somente em relação a ele.

e) Incompatibilidade entre as recusas de jurados, havendo dois ou mais réus com defensores distintos –
arts. 79, § 2º, e 469, § 1º (redação determinada pela Lei 11.689/2008), ambos do CPP: A recusa levada a efeito
por qualquer dos advogados ou pela acusação importa em exclusão do jurado sorteado, prosseguindo-se o
sorteio dentre os jurados remanescentes. A separação do julgamento, por motivo afeto à recusa, apenas ocorrerá
quando, em razão dessas recusas, não for possível obter o número de sete jurados para composição do Conselho
de Sentença. Nesse caso, o critério para escolha do réu a ser julgado em primeiro lugar será o previsto no art.
469, § 2º, do CPP.

f) Suspensão do processo em relação ao colaborador: Consoante disposto no art. 4º, § 3º, da Lei das
Organizações Criminosas, o prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos ao colaborador, poderá
ser suspenso por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam cumpridas as medidas de
colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo prescricional.

g) Separação facultativa de processos (art. 80 do CPP): nos termos do art. 80 do CPP, será facultativa a
separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar
diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e para não lhes prolongar a prisão provisória, ou por
outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação.
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Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias
de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e para não lhes prolongar a
prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o Juiz reputar conveniente a separação.

#STF #DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #DIZERODIREITO: A doação eleitoral por meio de “caixa 2” é uma conduta
que configura crime eleitoral de falsidade ideológica (art. 350 do Código Eleitoral). A competência para processar
e julgar este delito é da Justiça Eleitoral.
A existência de crimes conexos de competência da Justiça Comum, como corrupção passiva e lavagem de
capitais, não afasta a competência da Justiça Eleitoral, por força do art. 35, II, do CE e do art. 78, IV, do CPP. STF.
2ª Turma. PET 7319/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 27/3/2018 (Info 895).
Compete à Justiça Eleitoral julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem conexos. Cabe à Justiça
Eleitoral analisar, caso a caso, a existência de conexão de delitos comuns aos delitos eleitorais e, em não havendo,
remeter os casos à Justiça competente. STF. Plenário. Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado
em 13 e 14/3/2019 (Info 933). #IMPORTANTE
Em regra, havendo a aposentadoria do Desembargador, ele deixa de ter foro por prerrogativa de função no STJ e
passa a ser julgado em 1ª instância. Se houver, no entanto, outros réus com foro privativo no STJ, é possível que
este Tribunal reconheça que existe conexão entre os fatos e que será útil ao deslinde da causa que os réus
continuem a ser julgados conjuntamente. Neste caso, não haverá desmembramento e o réu sem foro privativo
será julgado também no Tribunal com os demais. Este procedimento não viola a CF/88, conforme definido na
Súmula 704-STF. STF. 1ª Turma. HC 131164/TO, rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/5/2016 (Info 827).
Na chamada "operação Lava Jato", o STF decidiu desmembrar um dos feitos, ficando no Supremo a investigação
relacionada com o Deputado Federal "EC" e sendo remetido de volta para a Vara Federal de Curitiba o processo
que apura a conduta dos demais réus (supostos comparsas do parlamentar). Depois do desmembramento,
durante a oitiva de um réu colaborador na 1ª instância, este revelou novos fatos criminosos que teriam sido
praticados por "EC". Essa oitiva foi correta e não houve usurpação de competência do STF. Só se poderia dizer que
houve violação da competência do STF se o juiz federal tivesse realizado medidas investigatórias dirigidas ao
Deputado Federal, não podendo ser considerada medida de investigação o simples fato de ele ter ouvido réu
colaborador e este ter mencionado a participação de "EC" durante a audiência. É comum que, em casos de
desmembramento, ocorra a produção de provas que se relacionem tanto com os indivíduos investigados na 1ª
instância, como o dos demais réus com foro privativo. A existência dessa coincidência não caracteriza usurpação
de competência. Em suma, a simples menção do nome do reclamante em depoimento de réu colaborador,
durante a instrução em 1ª instância, não caracterizaria ato de investigação, ainda mais quando houve prévio
desmembramento, como no caso. STF. Plenário. Rcl 21419 AgR/PR, Rel. Min.Teori Zavascki, julgado em 7/10/2015
(Info 802).
65

Em regra, o STF entende que deverá haver o desmembramento dos processos quando houver corréus sem
prerrogativa. Em outras palavras, permanece no STF apenas a apuração do investigado com foro por prerrogativa
de função e os demais são julgados em 1ª instância. No entanto, no caso envolvendo o Senador Aécio Neves, sua
irmã, seu primo e mais um investigado, o STF decidiu que, no atual estágio, não deveria haver o
desmembramento e a apuração dos fatos deveria permanecer no Supremo para todos os envolvidos. Isso porque
entendeu-se que o desmembramento representaria inequívoco prejuízo às investigações. STF. 1ª Turma. Inq 4506
AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 14/11/2017 (Info 885)

9. Perpetuação da jurisprudência (perpetuatio jurisdictionis)

Nos termos do art. 81 do CPP, verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que
no processo da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que
desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará competente em relação
aos demais processos. Haverá neste caso a perpetuação da jurisdição, atendendo ao princípio da economia
processual e da própria celeridade, na medida em que toda a prova já fora colhida perante este juízo.

Art. 81. Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no processo da sua
competência própria venha o Juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que desclassifique a infração para
outra que não se inclua na sua competência, continuará competente em relação aos demais processos.

9.1. Crimes dolosos contra a vida

Art. 81. (...)


Parágrafo único. Reconhecida inicialmente ao júri a competência por conexão ou continência, o juiz, se vier a
desclassificar a infração ou impronunciar ou absolver o acusado, de maneira que exclua a competência do júri,
remeterá o processo ao juízo competente.

No âmbito do Tribunal do Júri, devemos ficar atentos às seguintes hipóteses:

a) Desclassificação na primeira fase do procedimento bifásico do Júri: caso o juiz se convença que não se
trata de crime doloso contra a vida, desclassificando o crime, remeterá os autos ao juiz competente.

Art. 419. Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime diverso dos
referidos no § 1o do art. 74 deste Código e não for competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que
o seja.
66

b) Desclassificação na segunda fase do procedimento escalonado do júri: caso a desclassificação seja


determinada pelo Conselho de Sentença, caberá ao Presidente do Tribunal do Júri proferir a sentença.

Art. 492. (...)


§ 1o Se houver desclassificação da infração para outra, de competência do juiz singular, ao presidente do Tribunal
do Júri caberá proferir sentença em seguida, aplicando-se, quando o delito resultante da nova tipificação for
considerado pela lei como infração penal de menor potencial ofensivo, o disposto nos arts. 69 e seguintes da Lei
no 9.099, de 26 de setembro de 1995. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o Em caso de desclassificação, o crime conexo que não seja doloso contra a vida será julgado pelo juiz
presidente do Tribunal do Júri, aplicando-se, no que couber, o disposto no § 1 o deste artigo. (Redação dada
pela Lei nº 11.689, de 2008)

c) Absolvição pelo Conselho de Sentença em relação ao crime doloso contra a vida: se os jurados
deliberaram pela absolvição em relação ao crime principal, implicitamente, reconheceram sua competência para
processar e julgar o feito. Logo, também aos jurados caberá o julgamento das demais infrações penais conexas e
continentes, aplicando-se a regra geral do art. 81, caput, do CPP.

11. Conflito de competência


Trata-se de instrumento que visa dirimir eventual controvérsia entre duas ou mais autoridades judiciárias acerca
da (in)competência para o processo e julgamento de determinada demanda. Previsão legal: CPP, arts. 113 a 117
CPP, e envolve duas ou mais autoridades judiciárias, obrigatoriamente.

Obs. Não se confunde com o “conflito de atribuições”, que ocorre quando o conflito se dá entre duas ou mais
autoridades administrativas.

Espécies de conflitos de competência:


a) positivo: ocorre quando dois ou mais juízos se consideram competentes para o julgamento da demanda.
b) negativo: ocorre quando dois ou mais juízos se consideram incompetentes para o julgamento da demanda.

#ATENÇÃO para o limite temporal previsto na súmula 59 do STJ: “não há conflito de competência se já existe
sentença com trânsito em julgado, proferida por um dos juízos conflitantes.” Tribunal competente para decidir o
conflito de competência: Há duas regras básicas para se determinar o tribunal competente:
I) Não há conflito de competência quando houver hierarquia jurisdicional.
II) Deve ser buscar um órgão jurisdicional comum e superior aos conflitantes.
67

Exemplos:

1º) Juiz da comarca de Cabo Frio/RJ X TJ/ RJ: não há conflito, porque o juiz da comarca de Cabo Frio é
subordinado ao TJ/RJ.

2º) Juiz Federal do MS X Juiz Federal SP: como são dois estados subordinados ao mesmo TRF, o julgamento é
feito pelo TRF da 3ª Região. Observação: se o conflito fosse entre juízes vinculados a TRFs distintos, ele seria
julgado pelo STJ.

3º) Juiz de Direito do JECRIM/BH x Juiz de Direito da Vara Criminal/BH: TJ de MG.


Atenção: O STJ entendia que a competência para julgamento era dele. Sobre o assunto, o STJ chegou a elaborar a
Súmula 348: Súmula 348 do STJ: compete ao Superior Tribunal de Justiça decidir os conflitos de competência
entre juizado especial federal e juízo federal, ainda que da mesma seção judiciária. Hoje, o entendimento é de
que o conflito deve ser julgado pelo respectivo Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal (a depender do
caso).
Súmula 428 do STJ: compete ao Tribunal Regional Federal decidir os conflitos de competência entre juizado
especial federal e juízo federal da mesma seção judiciária.
Essa súmula é válida tanto para a justiça estadual (desde que os juízes sejam do mesmo estado) quanto para a
justiça federal (desde que os juízes sejam subordinados ao mesmo TRF).

4º) Juiz de Direito da Vara Criminal/RS X Juiz de Direito do Juízo Militar/RS: o juiz de direito da vara criminal
gaúcha está subordinado ao TJ/RS. O juiz de direito do juízo militar gaúcho está subordinado ao Tribunal de
Justiça Militar.
Observação 1: há três estados da federação em que há TJM: RS, SP e MG. Nestes três estados, como existe TJM, é
necessário subir mais um degrau na hierarquia, para afirmar que quem julgará o conflito de competência é o STJ.
Observação 2: se, no exemplo dado, for alterado o estado da federação (estado em que não há TJM), a resposta
muda. Exemplo: conflito entre Juiz de Direito da Vara Criminal/RJ X Juiz de Direito do Juízo Militar/RJ: neste caso,
o conflito de competência será dirimido pelo TJ/RJ.

12. Jurisprudência em Teses

1) Compete ao Superior Tribunal de Justiça o julgamento de revisão criminal quando a questão objeto do pedido
revisional tiver sido examinada anteriormente por esta Corte.
68

2) A mera previsão do crime em tratado ou convenção internacional não atrai a competência da Justiça Federal,
com base no art. 109, inciso V, da CF/88, sendo imprescindível que a conduta tenha ao menos potencialidade
para ultrapassar os limites territoriais.

3) O fato de o delito ser praticado pela internet não atrai, automaticamente, a competência da Justiça Federal,
sendo necessário demonstrar a internacionalidade da conduta ou de seus resultados.

4) Não há conflito de competência entre Tribunal de Justiça e Turma Recursal de Juizado Especial Criminal de um
mesmo Estado, já que a Turma Recursal não possui qualidade de Tribunal e a este é subordinada
administrativamente.

5) É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por prevenção, que deve ser alegada
em momento oportuno, sob pena de preclusão.

6) A competência é determinada pelo lugar em que se consumou a infração (art. 70 do CPP), sendo possível a sua
modificação na hipótese em que outro local seja o melhor para a formação da verdade real.

7) Compete ao Tribunal Regional Federal ou ao Tribunal de Justiça decidir os conflitos de competência entre
juizado especial e juízo comum da mesma seção judiciária ou do mesmo Estado.

8) Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e
estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de Processo Penal. (Súmula n. 122/STJ)

9) Inexistindo conexão probatória, não é da Justiça Federal a competência para processar e julgar crimes de
competência da Justiça Estadual, ainda que os delitos tenham sido descobertos em um mesmo contexto fático.

10) No concurso de infrações de menor potencial ofensivo, afasta-se a competência dos Juizados Especiais
quando a soma das penas ultrapassar dois anos.

11) Compete à Justiça Federal processar e julgar crimes relativos ao desvio de verbas públicas repassadas pela
União aos municípios e sujeitas à prestação de contas perante órgão federal.

12) Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao
patrimônio municipal. (Súmula n. 209/STJ)
69

13) As atribuições da Polícia Federal não se confundem com as regras de competência constitucionalmente
estabelecidas para a Justiça Federal (arts. 108, 109 e 144, §1°, da CF/88), sendo possível que uma investigação
conduzida pela Polícia Federal seja processada perante a Justiça estadual.

14) Compete a Justiça comum estadual processar e julgar crime em que o índio figure como autor ou vítima,
desde que não haja ofensa a direitos e a cultura indígenas, o que atrai a competência da Justiça Federal.

15) Compete a Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público federal, quando
relacionados com o exercício da função. (Súmula n. 147/STJ)

16) Há conflito de competência, e não de atribuição, sempre que a autoridade judiciária se pronuncia a respeito
da controvérsia, acolhendo expressamente as manifestações do Ministério Público.

17) Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execução das penas impostas a sentenciados pela Justiça
Federal, Militar ou Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos a Administração Estadual. (Súmula n.
192/STJ)

18) A mudança de domicílio pelo condenado que cumpre pena restritiva de direitos ou que seja beneficiário de
livramento condicional não tem o condão de modificar a competência da execução penal, que permanece com o
juízo da condenação, sendo deprecada ao juízo onde fixa nova residência somente a supervisão e o
acompanhamento do cumprimento da medida imposta.

19) A ofensa indireta, genérica ou reflexa praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União, de
suas entidades autárquicas ou empresas públicas federais não atrai a competência da Justiça Federal (art. 109, IV,
da CF/88).

13. Julgados relacionados


*(Atualizado em 26/01/2020) #DEOLHONAJURIS A colaboração premiada, como meio de obtenção de prova, não
constitui critério de determinação, de modificação ou de concentração da competência. Os elementos de
informação trazidos pelo colaborador a respeito de crimes que não sejam conexos ao objeto da investigação
primária devem receber o mesmo tratamento conferido à descoberta fortuita ou ao encontro fortuito de provas
em outros meios de obtenção de prova, como a busca e apreensão e a interceptação telefônica. A colaboração
premiada, como meio de obtenção de prova, não constitui critério de determinação, de modificação ou de
concentração da competência. Assim, ainda que o agente colaborador aponte a existência de outros crimes e que
o juízo perante o qual foram prestados seus depoimentos ou apresentadas as provas que corroborem suas
70

declarações ordene a realização de diligências (interceptação telefônica, busca e apreensão etc.) para sua
apuração, esses fatos, por si sós, não firmam sua prevenção. STF. 2ª Turma. HC 181978 AgR/RJ, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 10/11/2020 (Info 999).

Senador que pratica corrupção passiva que não está relacionada com seu cargo e que não ofende bens, serviços
ou interesse da União, deverá ser julgado em 1ª instância pela Justiça comum estadual
O crime de corrupção passiva praticado por Senador da República, se não estiver relacionado com as suas
funções, deve ser julgado em 1ª instância (e não pelo STF). Não há foro por prerrogativa de função neste caso. O
fato de o agente ocupar cargo público não gera, por si só, a competência da Justiça Federal de 1ª instância. Esta é
definida pela prática delitiva. Assim, se o crime não foi praticado em detrimento de bens, serviços ou interesse da
União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas (inciso IV do art. 109 da CF/88) e não estava
presente nenhuma outra hipótese do art. 109, a competência para julgar o delito será da Justiça comum estadual.
STF. 1ª Turma. Inq 4624 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/10/2019 (Info 955).

Compete ao STF julgar a apelação criminal interposta contra sentença de 1ª instância caso mais da metade dos
membros do Tribunal de Justiça estejam impedidos ou sejam interessados (art. 102, I, “n”, da CF/88). STF. 2ª
Turma. AO 2093/RN, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/9/2019 (Info 950).

É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Procuradores do Estado, Procuradores da ALE,
Defensores Públicos e Delegados de Polícia
É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função, no Tribunal
de Justiça, para Procuradores do Estado, Procuradores da ALE, Defensores Públicos e Delegados de Polícia. A
CF/88, apenas excepcionalmente, conferiu prerrogativa de foro para as autoridades federais, estaduais e
municipais. Assim, não se pode permitir que os Estados possam, livremente, criar novas hipóteses de foro por
prerrogativa de função. STF. Plenário. ADI 2553/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 15/5/2019 (Info 940). Cuidado. O STF possui julgado afirmando que é válida a previsão na
Constituição Estadual de foro por prerrogativa de função para o Procurador-Geral do Estado: STF. Plenário. HC
103803/RR, rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 01/07/2014 (Info 752).

STJ não é competente para julgar crime praticado por Governador no exercício do mandato se o agente deixou
o cargo e atualmente voltou a ser Governador por força de uma nova eleição
O STJ é incompetente para julgar crime praticado durante mandato anterior de Governador, ainda que
atualmente ocupe referido cargo por força de nova eleição. Ex: João praticou o crime em 2010, quando era
Governador; em 2011 foi eleito Senador; em 2019 assumiu novamente como Governador; esse crime praticado
em 2010 será julgado em 1ª instância (e não pelo STJ). Como o foro por prerrogativa de função exige
71

contemporaneidade e pertinência temática entre os fatos em apuração e o exercício da função pública, o término
de um determinado mandato acarreta, por si só, a cessação do foro por prerrogativa de função em relação ao ato
praticado nesse intervalo. STJ. Corte Especial. QO na APn 874-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
15/05/2019 (Info 649).

A prorrogação do foro por prerrogativa de função só ocorre se houve reeleição, não se aplicando em caso de
eleição para um novo mandato após o agente ter ficado sem ocupar função pública
Prefeito cometeu o crime durante o exercício do mandato e o delito está relacionado com as suas funções: a
competência para julgá-lo será, em regra, do Tribunal de Justiça. Se esse Prefeito, antes de o processo terminar,
for reeleito para um segundo mandato (consecutivo e ininterrupto), neste caso, o Tribunal de Justiça continuará
sendo competente para julgá-lo. Por outro lado, se o agente deixar o cargo de Prefeito e, quatro anos mais tarde,
for eleito novamente Prefeito do mesmo Município, nesta situação a competência para julgar o crime será do
juízo de 1ª instância. A prorrogação do foro por prerrogativa de função só ocorre se houve reeleição, não se
aplicando em caso de eleição para um novo mandato após o agente ter ficado sem ocupar função pública. Ex: em
2011, Pedro, Prefeito, em seu primeiro mandato, cometeu o crime de corrupção passiva. Pedro foi denunciado e
passou a responder um processo penal no TJ. Em 2012, Pedro disputou a campanha eleitoral buscando a
reeleição. Contudo, ele perdeu. Com isso, Pedro ficou sem mandato eletivo. Vale esclarecer que o processo
continuou tramitando normalmente no TJ. Em 2016, Pedro concorreu novamente ao cargo de Prefeito do mesmo
Município, tendo sido eleito. Em 01/01/2017, João assumiu como Prefeito por força dessa nova eleição. O
processo de Pedro não será julgado pelo TJ, mas sim pelo juízo de 1ª instância. STF. 1ª Turma. RE 1185838/SP,
Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 14/5/2019 (Info 940).

Compete à Justiça Estadual julgar crime cometido a bordo de balão


Compete à Justiça Estadual o julgamento de crimes ocorridos a bordo de balões de ar quente tripulados. Os
balões de ar quente tripulados não se enquadram no conceito de “aeronave” (art. 106 da Lei nº 7.565/86), razão
pela qual não se aplica a competência da Justiça Federal prevista no art. 109, IX, da CF/88). STJ. 3ª Seção. CC
143.400-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/04/2019 (Info 648).

Quem julga, no Brasil, crime cometido por brasileiro no exterior e cuja extradição tenha sido negada?
Quem julga, no Brasil, crime cometido por brasileiro no exterior e cuja extradição tenha sido negada? • STF:
Justiça Estadual • STJ: Justiça Federal O fato de o delito ter sido cometido por brasileiro no exterior, por si só, não
atrai a competência da Justiça Federal. Assim, em regra, compete à Justiça Estadual julgar o crime praticado por
brasileiro no exterior e que lá não foi julgado em razão de o agente ter fugido para o Brasil, tendo o nosso país
negado a extradição para o Estado estrangeiro. Somente será de competência da Justiça Federal caso se
enquadre em alguma das hipóteses do art. 109 da CF/88. STF. 1ª Turma. RE 1175638 AgR/PR, Rel. Min. Marco
72

Aurélio, julgado em 2/4/2019 (Info 936). Compete à Justiça Federal o processamento e o julgamento da ação
penal que versa sobre crime praticado no exterior que tenha sido transferida para a jurisdição brasileira, por
negativa de extradição. STJ. 3ª Seção. CC 154656-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/04/2018 (Info 625).
STJ. 6ª Turma. RHC 88.432/AP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/02/2019.

Em caso de conexão entre crime de competência da Justiça comum (federal ou estadual) e crime eleitoral, os
delitos serão julgados conjuntamente pela Justiça Eleitoral
Compete à Justiça Eleitoral julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem conexos. Cabe à Justiça
Eleitoral analisar, caso a caso, a existência de conexão de delitos comuns aos delitos eleitorais e, em não havendo,
remeter os casos à Justiça competente. STF. Plenário. Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado
em 13 e 14/3/2019 (Info 933).

STF é competente para julgar crime eleitoral praticado por Deputado Federal durante a sua campanha à
reeleição caso ele tenha sido reeleito
Pedro, Deputado Federal, recebeu doação ilegal de uma empresa com o objetivo de financiar a sua campanha
para reeleição. Esta doação não foi contabilizada na prestação de contas, configurando o chamado “caixa 2” (art.
350 do Código Eleitoral). Pedro foi reeleito para um novo mandato de 2019 até 2022. O STF será competente para
julgar este crime eleitoral? SIM. O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante
o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas. O STF entende que o recebimento de doação
ilegal destinado à campanha de reeleição ao cargo de Deputado Federal é um crime relacionado com o mandato
parlamentar. Logo, a competência é do STF. Além disso, mostra-se desimportante a circunstância de este delito
ter sido praticado durante o mandato anterior, bastando que a atual diplomação decorra de sucessiva e
ininterrupta reeleição. STF. Plenário. Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e
14/3/2019 (Info 933).

Compete à Terceira Seção do STJ processar e julgar habeas corpus impetrado com fundamento em problemas
estruturais das delegacias e do sistema prisional do Estado. STJ. Corte Especial. CC 150965-DF, Rel. Min. Raul
Araújo, julgado em 20/02/2019 (Info 644).

Se os fatos criminosos que teriam sido supostamente cometidos pelo Deputado Federal não se relacionam ao
exercício do mandato, a competência para julgá-los não é do STF
Se os fatos criminosos que teriam sido supostamente cometidos pelo Deputado Federal não se relacionam ao
exercício do mandato, a competência para julgá-los não é do STF, mas sim do juízo de 1ª instância. Isso porque o
foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e
relacionados às funções desempenhadas (STF AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018).
73

A apropriação indébita se consuma no ato da inversão da propriedade do bem. Se a inversão da propriedade


ocorreu com a transferência dos recursos da conta bancária da empresa vítima, com sede em Brasília/DF,
efetuada pelo Diretor da entidade, tem-se que a competência para apurar este delito é do juiz de direito de 1ª
instância do TJDFT. STF. 1ª Turma. Inq 4619 AgR-segundo/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19/2/2019 (Info 931).

Quem julga os crimes cometidos por Desembargadores?


O Superior Tribunal de Justiça é o tribunal competente para o julgamento nas hipóteses em que, não fosse a
prerrogativa de foro (art. 105, I, da CF/88), o desembargador acusado houvesse de responder à ação penal
perante juiz de primeiro grau vinculado ao mesmo tribunal. Assim, mesmo que o crime cometido pelo
Desembargador não esteja relacionado com as suas funções, ele será julgado pelo STJ se a remessa para a 1ª
instância significar que o réu seria julgado por um juiz de primeiro grau vinculado ao mesmo tribunal que o
Desembargador. A manutenção do julgamento no STJ tem por objetivo preservar a isenção (imparcialidade e
independência) do órgão julgador. STJ. Corte Especial. QO na APn 878-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado
em 21/11/2018 (Info 639).

Regras para a aplicação da decisão do STF na AP 937 QO/RJ aos processos em curso no Supremo
Com a decisão proferida pelo STF, em 03/05/2018, na AP 937 QO/RJ, todos os inquéritos e processos criminais
que estavam tramitando no Supremo envolvendo crimes não relacionados com o cargo ou com a função
desempenhada pela autoridade, foram remetidos para serem julgados em 1ª instância. Isso porque o STF definiu,
como 1ª tese, que “o foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício
do cargo e relacionados às funções desempenhadas”. O entendimento acima não se aplica caso a instrução já
tenha se encerrado. Em outras palavras, se a instrução processual já havia terminado, mantém-se a competência
do STF para o julgamento de detentores de foro por prerrogativa de função, ainda que o processo apure um
crime que não está relacionado com o cargo ou com a função desempenhada. Isso porque o STF definiu, como 2ª
tese, que “após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de
alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão de o agente
público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo.” STF. 1ª Turma. AP
962/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 16/10/2018 (Info 920).

Compete à Justiça Federal apreciar o pedido de medida protetiva de urgência decorrente de crime de ameaça
contra a mulher cometido por meio de rede social de grande alcance, quando iniciado no estrangeiro e o seu
resultado ocorrer no Brasil. STJ. 3ª Seção.CC 150712-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 10/10/2018 (Info
636).
74

A prerrogativa de foro de membro do Ministério Público é preservada quando a possível participação deste em
conduta criminosa é comunicada com celeridade ao PGJ
Se uma pessoa sem foro por prerrogativa está sendo interceptada por decisão do juiz de 1ª instância e ela liga
para uma autoridade com foro (ex: Promotor de Justiça), a gravação desta conversa não é ilícita. Isso porque se
trata de encontro fortuito de provas (encontro fortuito de crimes), também chamado de serendipidade ou crime
achado. Se após essa ligação, o Delegado ainda demora três dias para comunicar o fato às autoridades
competentes para apurara a conduta do Promotor, este tempo não é considerado excessivo, tendo em vista a
dinâmica que envolve as interceptações telefônicas. Assim, o STF decidiu que a prerrogativa de foro de membro
do Ministério Público é preservada quando a possível participação deste em conduta criminosa é comunicada
com celeridade ao Procurador-Geral de Justiça. Tais gravações, por serem lícitas, podem servir como fundamento
para que o CNMP aplique sanção de aposentadoria compulsória a este Promotor. STF. 1ª Turma. MS 34751/CE,
Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/8/2018 (Info 911).

Justiça Federal é competente para julgar venda de cigarro importado, permitido pela ANVISA, desacompanhada
de nota fiscal e sem comprovação de pagamento do imposto de importação
Compete à Justiça Federal a condução do inquérito que investiga o cometimento do delito previsto no art. 334, §
1º, IV, do Código Penal, na hipótese de venda de mercadoria estrangeira, permitida pela ANVISA,
desacompanhada de nota fiscal e sem comprovação de pagamento de imposto de importação. STJ. Plenário. CC
159680-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 08/08/2018 (Info 631). Compete à Justiça Federal
o julgamento dos crimes de contrabando e de descaminho, ainda que inexistentes indícios de transnacionalidade
na conduta. STJ. 3ª Seção. CC 160748-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 26/09/2018 (Info 635).

As autoridades listadas no art. 105, I, “a”, da CF/88 somente terão foro por prerrogativa de função no STJ para os
crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas
As hipóteses de foro por prerrogativa de função perante o STJ restringem-se àquelas em que o crime for
praticado em razão e durante o exercício do cargo ou função. STJ. Corte Especial. AgRg na APn 866-DF, Rel. Min.
Luis Felipe Salomão, julgado em 20/06/2018 (Info 630). Mas atenção: Os Desembargadores dos Tribunais de
Justiça continuam sendo julgados pelo STJ mesmo que o crime não esteja relacionado com as suas funções.
Assim, o STJ continua sendo competente para julgar quaisquer crimes imputados a Desembargadores, não apenas
os que tenham relação com o exercício do cargo. STJ. APn 878/DF QO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
21/11/2018.

Compete à Justiça Federal julgar crime ambiental praticado dentro de unidade de conservação criada por decreto
federal
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Se o crime ambiental for cometido em unidade de conservação criada por decreto federal, a competência para
julgamento será da Justiça Federal tendo em vista que existe interesse federal na manutenção e preservação da
região. Logo, este delito gera possível lesão a bens, serviços ou interesses da União, atraindo a regra do art. 109,
IV, da Constituição Federal. STJ. 3ª Seção. CC 142.016/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
26/08/2015. Por outro lado, não haverá competência da Justiça Federal se o crime foi praticado dentro de área de
proteção ambiental criada por decreto federal, mas cuja fiscalização e administração foi delegada para outro ente
federativo: No caso, embora o local do dano ambiental esteja inserido na Área de Proteção Ambiental da Bacia do
Rio São Bartolomeu, criada pelo Decreto Federal n. 88.940/1993, não há falar em interesse da União no crime
ambiental sob apuração, já que lei federal subsequente delegou a fiscalização e administração da APA para o
Distrito Federal (art. 1º da Lei n. 9.262/1996). 3. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de
Direito da Vara Criminal e Tribunal do Júri de São Sebastião/DF, o suscitado. STJ. 3ª Seção. CC 158.747/DF, Rel.
Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/06/2018.

Compete à Justiça Estadual a execução de medida de segurança imposta a militar licenciado. STJ. 3ª Seção. CC
149.442-RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 09/05/2018 (Info 626).

Restrição ao foro por prerrogativa de função / Marco para o fim do foro: término da instrução
Restrição ao foro por prerrogativa de função As normas da Constituição de 1988 que estabelecem as hipóteses de
foro por prerrogativa de função devem ser interpretadas restritivamente, aplicando-se apenas aos crimes que
tenham sido praticados durante o exercício do cargo e em razão dele. Assim, por exemplo, se o crime foi
praticado antes de o indivíduo ser diplomado como Deputado Federal, não se justifica a competência do STF,
devendo ele ser julgado pela 1ª instância mesmo ocupando o cargo de parlamentar federal. Além disso, mesmo
que o crime tenha sido cometido após a investidura no mandato, se o delito não apresentar relação direta com as
funções exercidas, também não haverá foro privilegiado. Foi fixada, portanto, a seguinte tese: O foro por
prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às
funções desempenhadas. Marco para o fim do foro: término da instrução Após o final da instrução processual,
com a publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais, a competência para processar
e julgar ações penais não será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o
cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo. STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado
em 03/05/2018 (Info 900).

Crime cometido no exterior e cuja extradição tenha sido negada: posição do STJ (competência da Justiça
Federal)
Compete à Justiça Federal o processamento e o julgamento da ação penal que versa sobre crime praticado no
exterior, o qual tenha sido transferido para a jurisdição brasileira, por negativa de extradição, aplicável o art. 109,
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IV, da CF/88. STJ. 3ª Seção. CC 154656-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/04/2018 (Info 625). O STF
entende que compete à Justiça Estadual: O fato de o delito ter sido cometido por brasileiro no exterior, por si só,
não atrai a competência da Justiça Federal. Assim, em regra, compete à Justiça Estadual julgar o crime praticado
por brasileiro no exterior e que lá não foi julgado em razão de o agente ter fugido para o Brasil, tendo o nosso
país negado a extradição para o Estado estrangeiro. Somente será de competência da Justiça Federal caso se
enquadre em alguma das hipóteses do art. 109 da CF/88. STF. 1ª Turma. RE 1.175.638 AgR/PR, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 2/4/2019 (Info 936).

Competência para julgar caixa 2 conexo com corrupção passiva e lavagem de dinheiro
A doação eleitoral por meio de “caixa 2” é uma conduta que configura crime eleitoral de falsidade ideológica (art.
350 do Código Eleitoral). A competência para processar e julgar este delito é da Justiça Eleitoral. A existência de
crimes conexos de competência da Justiça Comum, como corrupção passiva e lavagem de capitais, não afasta a
competência da Justiça Eleitoral, por força do art. 35, II, do CE e do art. 78, IV, do CPP. STF. 2ª Turma.PET
7319/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 27/3/2018 (Info 895).

Indígenas agredidos por produtores rurais em disputa por terras pertencentes à comunidade indígena:
competência da Justiça Federal
Os indígenas abordaram produtores rurais que estavam trabalhando nas terras pertencentes à comunidade
indígena, pedindo a paralisação das atividades. Os produtores rurais reagiram agredindo os indígenas com socos e
chutes. A competência para julgar o fato é da Justiça Federal. Isso porque a motivação dos delitos gira em torno
de disputa por terras indígenas, situação na qual a jurisprudência entende que há interesse de toda a comunidade
indígena, a justificar o deslocamento da competência para a Justiça Federal (art. 109, XI, CF/88). Não se aplica a
Súmula 140 do STJ quando o crime envolve interesses coletivos da comunidade indígena. Um dos produtores
rurais agressores era cunhado de um indígena, circunstância que foi considerada irrelevante pelo STJ para a
definição da competência da Justiça Federal tendo em vista que a desavença entre eles não estava ligada a seu
convívio familiar. STJ. 3ª Seção. CC 156.502/RR, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 22/02/2018.

Compete à Justiça Federal julgar os crimes de violação de direito autoral e contra a lei de software relacionados
com o cardsharing
Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes de violação de direito autoral e contra a lei de software
decorrentes do compartilhamento ilícito de sinal de TV por assinatura, via satélite ou cabo, por meio de serviços
de cardsharing. STJ. 3ª Seção.CC 150629-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 22/02/2018 (Info 620).

Não existe razão para reter o passaporte de agente diplomático que responde a processo penal no Brasil se ele
goza de imunidade de execução
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A cautelar fixada de proibição para que agente diplomático acusado de homicídio se ausente do país sem
autorização judicial não é adequada na hipótese em que o Estado de origem do réu tenha renunciado à
imunidade de jurisdição cognitiva, mas mantenha a competência para o cumprimento de eventual pena criminal a
ele imposta. STJ. 6ª Turma. RHC 87825-ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 05/12/2017 (Info 618).

Excepcionalmente, o STF mantém no Tribunal a apuração dos fatos envolvendo pessoas sem foro por prerrogativa
de função caso o desmembramento cause prejuízo às investigações
Em regra, o STF entende que deverá haver o desmembramento dos processos quando houver corréus sem
prerrogativa. Em outras palavras, permanece no STF apenas a apuração do investigado com foro por prerrogativa
de função e os demais são julgados em 1ª instância. No entanto, no caso envolvendo o Senador Aécio Neves, sua
irmã, seu primo e mais um investigado, o STF decidiu que, no atual estágio, não deveria haver o
desmembramento e a apuração dos fatos deveria permanecer no Supremo para todos os envolvidos. Isso porque
entendeu-se que o desmembramento representaria inequívoco prejuízo às investigações. STF. 1ª Turma.Inq 4506
AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 14/11/2017 (Info 885).

Não compete à JF julgar crime ambiental ocorrido em programa Minha Casa Minha Vida pelo simples fato de a
CEF ter atuado como agente financiador da obra
Compete à Justiça estadual o julgamento de crime ambiental decorrente de construção de moradias de programa
habitacional popular, nas hipóteses em que a Caixa Econômica Federal atue, tão somente, na qualidade de agente
financiador da obra. O fato de a CEF atuar como financiadora da obra não tem o condão de atrair, por si só, a
competência da Justiça Federal. Isto porque para sua responsabilização não basta que a entidade figure como
financeira. É necessário que ela tenha atuado na elaboração do projeto ou na fiscalização da segurança e da
higidez da obra. STJ. 3ª Seção.CC 139197-RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 25/10/2017 (Info 615).

Competência para julgar Procurador da República


Compete ao TRF julgar os crimes praticados por Procurador da República, salvo em caso de crimes eleitorais,
hipótese na qual a competência é do TRE. Vale ressaltar que o Procurador da República é julgado pelo TRF em
cuja área exerce suas atribuições, sob pena de ofensa ao princípio do juiz natural.Ex: o Procurador da República
lotado em Recife (PE) pratica um crime em Brasília. Ele será julgado pelo TRF da 5ª Região (Tribunal que abrange o
Município onde ele atua) e não pelo TRF da 1ª Região (que abrange Brasília). Imagine agora que João, Procurador
da República, é lotado na Procuradoria de Guarulhos (SP), área de jurisdição do TRF-3. Ocorre que este
Procurador estava no exercício transitório de função no MPF em Brasília. O Procurador pratica um crime neste
período.De quem será a competência para julgar João: do TRF3 ou do TRF1? Do TRF1. A 2ª Turma, ao apreciar
uma situação semelhante a essa, decidiu que a competência seria do TRF1, Tribunal ao qual o Procurador da
República está vinculado no momento da prática do crime, ainda que esse vínculo seja temporário. STF. 2ª Turma.
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Pet 7063/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 1º/8/2017 (Info
871). Obs: houve empate na votação (2x2) e a conclusão acima exposta prevaleceu em virtude de a decisão ter
sido tomada em habeas corpus no qual, em caso de empate, prevalece o pedido formulado em favor do paciente.

Conduta de um dos pedófilos conexa com um grupo maior localizado em outro juízo
Se o crime do art. 241-A do ECA for praticado por meio do computador da residência do agente localizada em São
Paulo (SP), mesmo assim ele poderá ser julgado pelo juízo de Curitiba (PR) se ficar demonstrado que a conduta do
agente ocorreu com investigações que tiveram início em Curitiba, onde um grupo de pedófilos ligados ao agente
foi preso e, a partir daí, foram obtidas todas as provas. Neste caso, a competência do juízo de Curitiba ocorrerá
por conexão, não havendo ofensa ao princípio do juiz natural. STF. 1ª Turma. HC 135883/PR, rel. orig. Min. Marco
Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/6/2017 (Info 868).

Competência para julgar o delito do art. 241-A do ECA praticado por meio de Whatsapp ou chat do Facebook:
Justiça Estadual
O STF fixou a seguinte tese: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em disponibilizar
ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente (arts. 241, 241-A e 241-B do ECA), quando
praticados por meio da rede mundial de computadores (internet). STF. Plenário. RE 628624/MG, Rel. orig. Min.
Marco Aurélio, Red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 28 e 29/10/2015 (repercussão geral) (Info 805).
O STJ, interpretando a decisão do STF, afirmou que, quando se fala em “praticados por meio da rede mundial de
computadores (internet)”, o que o STF quer dizer é que a postagem de conteúdo pedófilo-pornográfico deve ter
sido feita em um ambiente virtual propício ao livre acesso. Por outro lado, se a troca de material pedófilo ocorreu
entre destinatários certos no Brasil, não há relação de internacionalidade e, portanto, a competência é da Justiça
Estadual. Assim, o STJ afirmou que a definição da competência para julgar o delito do art. 241-A do ECA passa
pela seguinte análise: • Se ficar constatada a internacionalidade da conduta: Justiça FEDERAL. Ex: publicação do
material feita em sites que possam ser acessados por qualquer sujeito, em qualquer parte do planeta, desde que
esteja conectado à internet. • Nos casos em que o crime é praticado por meio de troca de informações privadas,
como nas conversas via Whatsapp ou por meio de chat na rede social Facebook: Justiça ESTADUAL. Isso porque
tanto no aplicativo WhatsApp quanto nos diálogos (chat) estabelecido na rede social Facebook, a comunicação se
dá entre destinatários escolhidos pelo emissor da mensagem. Trata-se de troca de informação privada que não
está acessível a qualquer pessoa. Desse modo, como em tais situações o conteúdo pornográfico não foi
disponibilizado em um ambiente de livre acesso, não se faz presente a competência da Justiça Federal. STJ. 3ª
Seção. CC 150564-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 26/4/2017 (Info 603).

A investigação criminal contra Prefeito deverá ser feita com o controle jurisdicional do TJ
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O prefeito detém prerrogativa de foro, constitucionalmente estabelecida. Desse modo, os procedimentos de


natureza criminal contra ele instaurados devem tramitar perante o Tribunal de Justiça (art. 29, X, da CF/88). Isso
significa dizer que as investigações criminais contra o Prefeito devem ser feitas com o controle (supervisão)
jurisdicional da autoridade competente (no caso, o TJ). STF. 1ª Turma. AP 912/PB, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
7/3/2017 (Info 856).

A simples menção por um dos investigados do nome de autoridade com foro por prerrogativa de função não
obriga a remessa da investigação ao Tribunal
A simples menção ao nome de autoridades detentoras de prerrogativa de foro, seja em depoimentos prestados
por testemunhas ou investigados, seja em diálogos telefônicos interceptados, assim como a existência de
informações, até então, fluidas e dispersas a seu respeito, são insuficientes para o deslocamento da competência
para o Tribunal hierarquicamente superior. STF. 2ª Turma. Rcl 25497 AgR/RN, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
14/2/2017 (Info 854).

Competência para julgar crimes ambientais envolvendo animais silvestres, em extinção, exóticos ou protegidos
por compromissos internacionais
Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime ambiental de caráter transnacional que envolva animais
silvestres, ameaçados de extinção e espécimes exóticas ou protegidas por compromissos internacionais
assumidos pelo Brasil. STF. Plenário. RE 835558/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 9/2/2017 (repercussão geral)
(Info 853)

Arquivamento da investigação com relação à autoridade com foro privativo e remessa dos autos para a 1ª
instância para continuidade quanto aos demais
Se o STF entende que não há indícios contra a autoridade com foro privativo e se ainda existem outros
investigados, a Corte deverá remeter os autos ao juízo de 1ª instância para que continue a apuração da eventual
responsabilidade penal dos terceiros no suposto fato criminoso. STF. 1ª Turma. Inq 3158 AgR/RO, rel. orig. Min.
Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgado em 7/2/2017 (Info 853).

Estelionato praticado por falso tribunal internacional de conciliação é julgado pela Justiça Estadual
Compete à Justiça Estadual apurar suposto crime de estelionato, em que foi obtida vantagem ilícita em prejuízo
de vítimas particulares mantidas em erro mediante a criação de falso Tribunal Internacional de Justiça e
Conciliação para solução de controvérsias. STJ. 3ª Seção. CC 146726-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 14/12/2016 (Info 597).

Fraudes praticadas na administração de operadora de plano de saúde que não seja seguradora
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Compete à justiça estadual o processamento e julgamento de ação penal que apura supostas fraudes praticadas
por administrador na gestão de operadora de plano de saúde não caracterizada como seguradora. A Lei nº
9.656/98 autoriza que os planos de saúde possam ser constituídos por diferentes formas jurídicas. Existem planos
de saúde que são cooperativas, outros que são sociedades empresárias, entidades de autogestão etc. A Lei nº
10.185/2001 permite que sociedades seguradoras possam atuar como "plano de saúde". Dessa forma, existem
alguns planos de saúde que são "entidades seguradoras". Outros planos, no entanto, são cooperativas, entidades
de autogestão etc. Se a operadora de plano de saúde for uma "seguradora", aí sim ela será considerada como
instituição financeira. Caso contrário, ela não se enquadrará no art. 1º, caput ou parágrafo único, da Lei nº
7.492/86. STJ. 3ª Seção. CC 148110-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Rel. para acórdão Min. Maria
Thereza de Assis Moura, julgado em 23/11/2016 (Info 595).

Declarações de particular que ofendem a honra de outro particular deverão ser julgadas na Justiça Estadual,
mesmo que feitas perante órgão federal
Não compete à Justiça Federal julgar queixa-crime proposta por particular contra outro particular pelo simples
fato de as declarações do querelado terem sido prestadas na Procuradoria do Trabalho. A competência será da
Justiça Estadual. Caso concreto: o querelante entendeu que as declarações prestadas pelo querelado no MPT
ofenderam a sua honra e que o depoente praticou calúnia e difamação. Importante: se o MP entendesse que
havia indícios de que o depoente praticou falso testemunho, a competência para apurar este delito (art. 342 do
CP) seria da Justiça Federal, nos termos da Súmula 165-STJ ("Compete a justiça federal processar e julgar crime de
falso testemunho cometido no processo trabalhista"). STJ. 3ª Seção. CC 148350-PI, Rel. Min. Felix Fischer, julgado
em 9/11/2016 (Info 593).

Crime praticado por militar da ativa e conduta prevista apenas na Lei de Licitações
Compete à Justiça Comum Federal - e não à Justiça Militar - processar e julgar a suposta prática, por militar da
ativa, de crime previsto apenas na Lei nº 8.666/93 (Lei de Licitações), ainda que praticado contra a administração
militar. STJ. 3ª Seção. CC 146388-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/6/2016 (Info 586). Este entendimento
acima não mais prevalece com a Lei nº 13.491/2017.

Aposentadoria da autoridade e manutenção do processo no Tribunal em razão de conexão com outros réus
Em regra, havendo a aposentadoria do Desembargador, ele deixa de ter foro por prerrogativa de função no STJ e
passa a ser julgado em 1ª instância. Se houver, no entanto, outros réus com foro privativo no STJ, é possível que
este Tribunal reconheça que existe conexão entre os fatos e que será útil ao deslinde da causa que os réus
continuem a ser julgados conjuntamente. Neste caso, não haverá desmembramento e o réu sem foro privativo
será julgado também no Tribunal com os demais. Este procedimento não viola a CF/88, conforme definido na
Súmula 704-STF. STF. 1ª Turma. HC 131164/TO, rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/5/2016 (Info 827).
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Inexistência de nulidade na atuação de juízes instrutores nas ações penais no STF/STJ


É possível que os Ministros do STJ e STF, em ações penais originárias destes Tribunais, deleguem a realização de
atos de instrução aos chamados juízes instrutores, não havendo nulidade nesta prática. Os juízes instrutores
atuam como longa manus do magistrado relator e, nessa condição, procedem sob sua supervisão. Trata-se,
portanto, de delegação limitada a atos de instrução, com poder decisório restrito ao alcance desses objetivos. A
atuação dos juízes instrutores encontra respaldo no art. 3º da Lei 8.038/90. STF. 1ª Turma. HC 131164/TO, rel.
Min. Edson Fachin, julgado em 24/5/2016 (Info 827).

Decisão sobre desmembramento das investigações e sobre levantamento do sigilo compete ao Tribunal
competente para julgar a autoridade
Durante a investigação, conduzida em 1ª instância, de crimes praticados por pessoas sem foro privativo, caso
surja indício de delito cometido por uma autoridade com foro no STF, o juiz deverá paralisar os atos de
investigação e remeter todo o procedimento para o Supremo. O juiz não pode decidir separar os procedimentos e
remeter ao Tribunal apenas os elementos colhidos contra a autoridade, permanecendo com o restante. Chegando
ao STF, compete a este decidir se deverá haver o desmembramento ou se o Tribunal irá julgar todos os suspeitos,
incluindo as pessoas que não têm foro privativo. Em suma, cabe apenas ao STF decidir sobre a necessidade de
desmembramento de investigações que envolvam autoridades com prerrogativa de foro. De igual forma, se
surgem diálogos envolvendo autoridade com foro no STF, o juiz que havia autorizado a interceptação não poderá
levantar o sigilo do processo e permitir o acesso às conversas porque a decisão quanto a isso é também do STF.
STF. Plenário. Rcl 23457 Referendo-MC/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 31/3/2016 (Info 819).

Crime cometido no exterior


O fato de o delito ter sido cometido por brasileiro no exterior, por si só, não atrai a competência da justiça
federal. STF. 1ª Turma. HC 105461/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/3/2016 (Info 819).

Competência para julgar o crime do art. 297, § 4º, do CP


De quem é a competência para julgar o crime de omissão de anotação de vínculo empregatício na CTPS (art. 297,
§ 4º, do CP)? * STJ: Justiça FEDERAL. O sujeito passivo primário do crime omissivo do art. 297, § 4.º, do Diploma
Penal, é o Estado, e, eventualmente, de forma secundária, o particular, terceiro prejudicado, com a omissão das
informações, referentes ao vínculo empregatício e a seus consectários da CTPS. Cuida-se, portanto de delito que
ofende de forma direta os interesses da União, atraindo a competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109,
IV, da CF/88. Nesse sentido: STJ. 3ª Seção. CC 145567/PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 27/04/2016. *
1ª Turma do STF: Justiça ESTADUAL. Nesse sentido: 1ª Turma. Ag.Reg. na Pet 5084, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 24/11/2015.
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Competência no caso de crimes praticados contra consulado estrangeiro: Justiça Federal


Segundo o tratado internacional assinado e promulgado pelo nosso país (Convenção de Viena sobre Relações
Consulares), a proteção das repartições consulares é de incumbência e interesse do Estado receptor, ao qual
compete impedir eventuais invasões e atentados aos Consulados e respectivos agentes, assim como o ocorrido no
caso em análise. Em outras palavras, o Brasil comprometeu-se, por tratado internacional, a proteger as
repartições consulares. Logo, é responsabilidade da União garantir a incolumidade de agentes e agências
consulares, já que o funcionamento de uma repartição consular é decorrência direta das relações diplomáticas
que a União mantém com Estados estrangeiros. Dessa feita, as condutas ilícitas praticadas ofenderam
diretamente interesse da União, situação na qual se fixa a competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109,
IV, da CF/88. STF. Decisão Monocrática. RE 831996, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 12/11/2015.

Disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente


Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em disponibilizar ou adquirir material
pornográfico envolvendo criança ou adolescente (arts. 241, 241-A e 241-B do ECA), quando praticados por meio
da rede mundial de computadores (internet). STF. Plenário. RE 628624/MG, Rel. Orig. Min. Marco Aurélio, Red. p/
o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 28 e 29/10/2015 (repercussão geral) (Info 805).

12. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO

DIPLOMA DISPOSITIVOS
Código de Processo Penal Art. 69 ao art. 91

13. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

Manual de Processo Penal – Renato Brasileiro;

Manual de Processo Penal – Norberto Avena;

Buscador/Jurisprudência do site Dizer o Direito.

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