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DIREITO PROCESSUAL PENAL

SUJEITOS DO PROCESSO PENAL


SUMÁRIO
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS..........................................................................................................................4
2. O JUIZ........................................................................................................................................................4
2.1 PODERES..................................................................................................................................................5
2.2 PRERROGATIVAS......................................................................................................................................6
2.3. GARANTIAS.............................................................................................................................................7
2.4. VEDAÇÕES..............................................................................................................................................7
2.5. IMPEDIMENTOS DO JUIZ.........................................................................................................................7
2.6. SUSPEIÇÃO DO JUIZ................................................................................................................................8
3. O MINISTÉRIO PÚBLICO.............................................................................................................................9
3.1 CARACTERÍSTICAS....................................................................................................................................9
3.2 PRERROGATIVAS....................................................................................................................................10
3.3 VEDAÇÕES.............................................................................................................................................10
3.4 PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS..................................................................................................................11
3.5 IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO.................................................................................................................11
4. O OFENDIDO............................................................................................................................................12
5. O ACUSADO.............................................................................................................................................13
5.1. CONCEITO.............................................................................................................................................13
5.2 CAPACIDADE..........................................................................................................................................13
5.3. OBRIGAÇÃO DE COMPARECIMENTO DO ACUSADO A ATOS DO PROCESSO..........................................15
5.4 DIREITOS DO ACUSADO.........................................................................................................................29
6. O DEFENSOR/PROCURADOR....................................................................................................................31
6.1 ESPÉCIES DE DEFENSOR.........................................................................................................................31
6.2 DEFESA TÉCNICA PLENA E EFETIVA.........................................................................................................32
6.3 ABANDONO DO PROCESSO PELO DEFENSOR.........................................................................................33
7. O ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO...................................................................................................................34
7.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS.......................................................................................................................34
7.2 IRRECORRIBILIDADE DE DECISÃO...........................................................................................................35
7.3 OUTROS CASOS DE ASSISTÊNCIA...........................................................................................................35
7.4 ASPECTOS PROCESSUAIS........................................................................................................................36
7.5 PODERES DO ASSISTENTE......................................................................................................................36
7.6 O ASSISTENTE DA DEFESA......................................................................................................................37
8. OS AUXILIARES DA JUSTIÇA.....................................................................................................................39
9. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO...........................................................................................39
10. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA......................................................................................................................40
ATUALIZADO EM 09/11/20191

SUJEITOS DO PROCESSO PENAL2

1. Considerações iniciais

Sujeitos do processo são aqueles que participam do processo, direta ou indiretamente. Podem ser
classificados como:

a) Sujeitos principais ou essenciais: são aqueles cuja existência é fundamental para uma relação
jurídica processual regularmente instaurada. São eles: o juiz, o acusador (Ministério Público ou querelante) e
o acusado.

b) Sujeitos secundários, acessórios ou colaterais: são aquelas pessoas que podem, eventualmente,
participar do processo, mas sua ausência não afeta a validade da relação processual. Ex: assistente de
acusação e do terceiro interessado.

2. O juiz

O juiz tem o poder-dever de aplicar o direito objetivo ao caso concreto, de maneira imparcial,
substituindo-se à vontade das partes, pondo fim ao conflito entre a pretensão punitiva do Estado e o
interesse do acusado na preservação de sua liberdade individual.

OLHAOGANCHO:
a) Capacidade genérica de exercício: é aquela que deriva de nomeação oriunda do Poder Executivo e ulterior
posse no exercício do cargo, os quais são precedidos de concurso de provas e títulos, com a participação da
Ordem dos Advogados do Brasil, obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação;
b) Capacidade especial de exercício: diz respeito à competência e à imparcialidade da autoridade
jurisdicional, subdividindo-se 9em objetiva e subjetiva. Capacidade especial objetiva diz respeito à

1
As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos,
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título
do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar
dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe
quaisquer dos eventos anteriormente citados.
2
Tássia N. Neumann Hammes.
competência, ao passo que a subjetiva se refere à ausência de causas de impedimento, suspeição e
incompatibilidade que impeçam o juiz de exercer jurisdição em determinado feito.

2.1 Poderes

Com a finalidade de garantir a efetividade de sua atuação jurisdicional, a lei confere ao juiz
determinados poderes:

a) Poder jurisdicional: são aqueles relativos à condução do processo, tais como a colheita de provas,
a tomada de decisões no processo criminal e a execução do comando sentencial. Ex: poder de negar a perícia
requerida pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade (CPP, art. 184); poder de
determinar a condução do ofendido, das testemunhas e do próprio acusado (CPP, arts. 201, § 1º, 218 e 260);
poder de recusar as perguntas da parte, que puderem induzir a resposta, que não tiverem relação com o
processo ou importarem repetição de outra já respondida (CPP, art. 212). Podem ser divididos em:

(i) Poderes meios:


Podem ser:
- Atos ordinatórios: são os despachos de mero expediente e que têm por objetivo conduzir o
processo.
- Atos instrutórios: são aqueles praticados com a finalidade de reunir elementos de convicção
capazes de permitir ao juiz a aplicação adequada do direito material.

(ii) Poderes-fins:
Podem ser:
- Atos decisórios: decretação de prisão, concessão de liberdade
- Atos executórios: prisão, cumprimento de pena.

b) Poder de polícia/poderes administrativos: tem o objetivo de assegurar a ordem no decorrer do


processo. Frise-se que a expressão poder de polícia possui o sentido de atuação do magistrado, visando a
restringir a liberdade do particular, seja este parte ou terceiro.

Art. 251, CPP: Ao juiz incumbirá prover à regularidade do processo e manter ordem no curso dos respectivos
atos, podendo, para tal fim, requisitar a força pública.
#CEREJADOBOLO: Além dos poderes citados, também confere a lei ao magistrado funções anômalas, que
não se incluem em nenhuma das classificações mencionadas, mas que são facultadas ao juiz. Ex: requisitar a
instauração de inquérito policial em relação a crime de ação pública de que tenha tomado conhecimento,
receber a representação do ofendido (art. 39 do CPP), presidir auto de prisão em flagrante (art. 307 do CPP)
etc.

2.2 Prerrogativas

a) Vitaliciedade (art. 95, I): é adquirida após 2 anos de exercício, só podendo perder o cargo por
sentença judicial transitada em julgado. Nos casos do quinto constitucional e de nomeação para o STF,
haverá a vitaliciedade imediata, no ato da posse.

b) Inamovibilidade (art. 95, II): o magistrado não poderá sair do local que se encontre, salvo por
vontade própria ou por interesse público, assegurada a ele a ampla defesa, desde que por maioria absoluta
do Tribunal ou do CNJ.

c) Irredutibilidade de subsídios (art. 95, III): assegura ao juiz independência funcional, resguardando-
o de perseguições de ordem financeira por parte dos governantes.
2.3. Garantias

a) O ingresso na carreira mediante concurso público de provas e títulos, exigindo-se do bacharel em


direito no mínimo 3 anos de comprovada experiência jurídica, com nomeações segundo a ordem de
classificação no concurso (art. 93, I, da CF e Resolução 75/2009 do Conselho Nacional de Justiça).

b) A promoção para entrância superior, com abertura de vagas em cada localidade ou juízo, a serem
providas, alternadamente, por antiguidade e merecimento (art. 93, II, da CF).

2.4. Vedações

Art. 95. (...)


I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;
II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;
III - dedicar-se à atividade político-partidária.
IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou
privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento
do cargo por aposentadoria ou exoneração. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

2.5. Impedimentos do juiz

As causas de impedimento são circunstâncias objetivas e referem-se ao objeto da lide. Tal previsão é
taxativa, não admitindo analogia ou interpretação extensiva. Ainda, nesse caso, há uma presunção absoluta
de imparcialidade.

#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF: A participação de magistrado em julgamento de caso em que seu


pai já havia atuado é causa de nulidade absoluta, prevista no art. 252, I, do CPP. STF. 2ª Turma. HC
136015/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 14/5/2019 (Info 940).

Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:


I – tiver funcionado seu cônjuge 3 ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro
grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da
justiça ou perito;
3
O dispositivo se refere apenas ao cônjuge, mas a doutrina reconhece por equiparação constitucional do companheiro.
II – ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha;
III – tiver funcionado como juiz de outra instância 4, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão;
IV – ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro
grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.
Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que forem entre si parentes,
consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive.

2.6. Suspeição do juiz

Por outro lado, as causas de suspeição são circunstâncias subjetivas e referem-se às partes. Tal
previsão é exemplificativa. Nesse caso, há uma presunção relativa de imparcialidade.

Art. 254.  O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes:
I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;
II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre
cujo caráter criminoso haja controvérsia;
III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda
ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes;
IV - se tiver aconselhado qualquer das partes;
V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;
Vl - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.
Art. 255.  O impedimento ou suspeição decorrente de parentesco por afinidade cessará pela dissolução do
casamento que Ihe tiver dado causa, salvo sobrevindo descendentes; mas, ainda que dissolvido o casamento
sem descendentes, não funcionará como juiz o sogro, o padrasto, o cunhado, o genro ou enteado de quem
for parte no processo.
Art. 256.  A suspeição não poderá ser declarada nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de
propósito der motivo para criá-la.

#SELIGA:
CAUSAS DE IMPEDIMENTO CAUSAS DE SUSPEIÇÃO

4
Antes da lei 11.719/08, entendia-se que a mera prática de atos instrutórios não era causa de impedimento.
As causas de impedimento referem-se a vínculos
As causas de suspeição referem-se ao ânimo subjetivo
objetivos do juiz com o processo,
do juiz quanto às partes, em regra são encontradas
independentemente de seu ânimo subjetivo. Há
externamente ao processo.
presunção absoluta de parcialidade.
São causas de nulidade absoluta, alegáveis a Há divergência se gera nulidade relativa ou absoluta,
qualquer tempo pelas partes. Renato Brasileiro diz mas a doutrina majoritária entende que gera nulidade
que os atos praticados são inexistentes. relativa.
Rol é exemplificativo, porque permite a expansão por
Rol é taxativo.
razões de foro íntimo.

3. O Ministério Público

3.1 Características

O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,


incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis (art. 127 da CF).

Trata-se de órgão autônomo e independente, não estando subordinado a nenhum dos poderes da
república, funcionando como fiscal dos poderes, com autonomia organizacional e dotação orçamentária
própria.
3.2 Prerrogativas

a) Vitaliciedade (art. 38, I): é adquirida após 2 anos de exercício, só podendo perder o cargo por
sentença judicial transitada em julgado.

b) Inamovibilidade (art. 38, II): o membro do MP não poderá sair do local que se encontre, salvo por
vontade própria ou por interesse público, assegurada a ele a ampla defesa, desde que por maioria absoluta
do órgão colegiado competente do MP ou do CNMP.

c) Irredutibilidade de subsídios (art. 38, III): assegura ao membro do MP independência funcional,


resguardando-o de perseguições de ordem financeira por parte dos governantes.

Art. 128. (...)


§ 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-
Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas,
relativamente a seus membros:
I - as seguintes garantias:
a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por sentença judicial
transitada em julgado;
b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, mediante decisão do órgão colegiado competente
do Ministério Público, pelo voto da maioria absoluta de seus membros, assegurada ampla defesa; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, § 4º, e ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI,
150, II, 153, III, 153, § 2º, I; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

3.3 Vedações

Art. 128. (...)


II - as seguintes vedações:
a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas processuais;
b) exercer a advocacia;
c) participar de sociedade comercial, na forma da lei;
d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério;
e) exercer atividade político-partidária; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou
privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei. (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 6º Aplica-se aos membros do Ministério Público o disposto no art. 95, parágrafo único, V.  (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

3.4 Princípios institucionais

a) Unidade: seus membros fazem parte de uma mesma instituição, esta chefiada por um Procurador-
Geral.

b) Indivisibilidade: decorre da unidade do Ministério Público. Assim, os integrantes da carreira


podem ser substituídos uns pelos outros, segundo as prescrições legais. Frise-se que só se pode falar em
unidade dentro de cada Ministério Público. Logo, não há unidade entre o Ministério Público Federal e o
Ministério Público Militar, a despeito de ambos fazerem parte do Ministério Público da União.

c) Independência funcional: o Ministério Público é independente no exercício de suas funções, não


se subordinando, no exercício das atribuições respectivas, a qualquer dos Poderes Estatais – Executivo,
Legislativo ou Judiciário.

#OLHAOGANCHO: Princípio do promotor natural.


Segundo Fernando Capez, tal princípio decorre do art. 5º, LIII, da CF: significa que ninguém será processado
senão pelo órgão do MP dotado de amplas garantias pessoais e institucionais, de absoluta independência e
liberdade de convicção e com atribuições previamente fixadas e conhecidas. Com isso, o nosso ordenamento
não admitiria o promotor de exceção, melhor dizendo, não admitiria nomeações casuísticas de membros do
Ministério Público para determinados casos em desobediência às regulamentações anteriores. Eugênio
Pacelli defende fortemente a aplicação do princípio do promotor natural, a ponto de advogar (com base na
doutrina de Paulo César Pinheiro Carneiro) que a violação do referido princípio resultaria em nulidade
absoluta, porque “a vedação do acusador de exceção integra o rol de garantias individuais constitucionais,
constitutivas do devido processo legal, ainda que não expressamente alinhadas em nenhum dos incisos do
art. 5º da Constituição Federal”.

3.5 Impedimento e suspeição


Art. 258 do CPP: Os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos processos em que o juiz ou qualquer
das partes for seu cônjuge, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau,
inclusive, e a eles se estendem, no que lhes for aplicável, as prescrições relativas à suspeição e aos
impedimentos dos juízes.

#DEOLHONAJURIS: É possível a arguição de suspeição de membros do Ministério Público, inclusive do


Procurador-Geral da República nos processos que tramitam no âmbito do STF. O STF entendeu que o então
Procurador-Geral da República Rodrigo Janot não era suspeito para investigar e denunciar Michel Temer.
Entendeu-se que o fato de o PGR dar entrevistas falando sobre o caso, requerer que o inquérito fosse
dirigido para determinado Delegado e ainda que um determinado Procurador, em tese, tenha orientado o
advogado do réu acerca da colaboração premiada não caracterizam hipóteses de suspeição. STF. Plenário. AS
89/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 13/9/2017 (Info 877).

O termo inicial da contagem do prazo para impugnar decisão judicial é, para o Ministério Público, a data da
entrega dos autos na repartição administrativa do órgão, sendo irrelevante que a intimação pessoal tenha se
dado em audiência, em cartório ou por mandado. STJ. 3ª Seção. REsp 1.349.935-SE, Rel. Min. Rogério Schietti
Cruz, julgado em 23/8/2017 (recurso repetitivo) (Info 611).

Art. 257.  Ao Ministério Público cabe:                (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma estabelecida neste Código; e                    
(Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
II - fiscalizar a execução da lei.               (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
Art. 258.  Os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos processos em que o juiz ou qualquer das
partes for seu cônjuge, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau,
inclusive, e a eles se estendem, no que Ihes for aplicável, as prescrições relativas à suspeição e aos
impedimentos dos juízes.

4. O ofendido

O ofendido é o sujeito passivo da infração penal, ou seja, o titular do bem jurídico lesado ou posto
em perigo pela infração penal.

O Código de Processo Penal confere ao ofendido atribuição para a prática de vários atos, como:
a) faculdade de requerer a instauração do inquérito policial, valendo lembrar que, em se tratando de
crime de ação penal privada ou pública condicionada à representação, sua manifestação prévia é condição
sine qua non para o início das investigações (CPP, art. 5o, §§ 4o e 5o);

b) faculdade de requerer qualquer diligência durante o curso do inquérito policial, ficando a critério
da autoridade policial determinar (ou não) sua realização (CPP, art. 14);

c) faculdade de oferecer queixa-crime em face do autor de crime de ação penal privada, podendo
solicitar a nomeação de advogado para tanto, se comprovada sua pobreza (CPP, art. 32);

d) verificada a inércia do órgão ministerial, o ofendido pode oferecer queixa-crime subsidiária (CPP,
art. 29);

e) no processo penal de crime de ação penal pública, pode se habilitar como assistente da acusação
(CPP, art. 268);

f) requerer o sequestro de bens imóveis adquiridos pelo acusado com os proventos da infração,
ainda que já tenham sido transferidos a terceiros (CPP, art. 127);

g) requerer a hipoteca legal sobre os imóveis do indiciado (CPP, art. 134);

h) requerer ao Ministério Público o ajuizamento da ação civil ex delicto ou a execução da sentença


penal condenatória,

5. O acusado

5.1. Conceito

O acusado é a pessoa que figura no polo passivo da relação processual penal, a quem é imputada a
prática de uma infração penal e em face de quem se busca que seja realizada a pretensão punitiva do Estado.

5.2 Capacidade

Nem todos possuem capacidade ou legitimidade para ocupar o polo passivo do processo criminal.
Excluem-se desta condição:
a) Os entes que não possuem capacidade para serem sujeitos de direitos e obrigações. Ex: pessoas já
falecidas.

b) Menores de 18 anos de idade, por faltar-lhes o requisito da legitimidade passiva ad causam. Nesse
sentido, o art. 564, II, do Código de Processo Penal contempla como causa de nulidade (absoluta) do
processo criminal a ilegitimidade de parte, o que abrange, evidentemente, tanto a ilegitimatio ad causam
ativa como a passiva.

c) Pessoas que gozem de imunidade diplomática, o que abrange os chefes de Estado e os


representantes de governos estrangeiros, que estão excluídos da jurisdição criminal dos países em que
exercerem suas funções. Tal imunidade, como regra, não atinge os empregados particulares dos agentes
diplomáticos.

d) Pessoas que possuem imunidade parlamentar material, como a estabelecida constitucionalmente


aos deputados e senadores, que são invioláveis, civil e penalmente, em quaisquer manifestações proferidas
no exercício ou desempenho de suas funções.

#SELIGA:
No tocante às pessoas jurídicas, debate-se a possibilidade de serem incluídas no polo passivo do processo.
Alguns admitem essa possibilidade nos casos de crimes contra a ordem econômica e financeira e contra a
economia popular, bem como na hipótese de crimes ambientais, em face das regras estabelecidas,
respectivamente, nos arts. 173, § 5.º8, e 225, § 3.º9, da Constituição Federal.
Outros, ao contrário, concluem no sentido da impossibilidade dessa inclusão, pois não é a pessoa jurídica, e
sim o seu representante legal, quem possui o elemento subjetivo necessário à configuração do fato típico
(dolo ou culpa), bem como a culpabilidade, consistente no juízo de reprovabilidade da ação ou omissão.

Quanto ao portador de doença mental à época do fato, sendo inimputável (art. 26, caput, do CP) ou semi-
imputável (art. 26, parágrafo único, do CP), isso não impede que o agente integre o polo passivo do processo
penal. Tanto, aliás, que o art. 151 do Código de Processo Penal, ao disciplinar o incidente de insanidade
mental, dispõe que, “se os peritos concluírem que o acusado era, ao tempo da infração, irresponsável nos
termos do art. 22 do Código Penal, o processo prosseguirá, com a presença do curador”. Por outro lado, os
arts. 97 e 98 do Código Penal contemplam a possibilidade de aplicação de medida de segurança ao indivíduo
que, no momento da infração penal, é totalmente incapaz ou apenas parcialmente capaz de compreender o
caráter ilícito de suas ações e de se autodeterminar segundo este entendimento.

#DEOLHONAJURIS: O CPP, ao tratar sobre a condução coercitiva, prevê o seguinte:


Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato
que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença.
O STF declarou que a expressão “para o interrogatório” prevista no art. 260 do CPP não foi recepcionada
pela Constituição Federal.
Assim, não se pode fazer a condução coercitiva do investigado ou réu com o objetivo de submetê-lo ao
interrogatório sobre os fatos5. STF. Plenário. ADPF 395/DF e ADPF 444/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados
em 13 e 14/6/2018 (Info 906).

5.3. Obrigação de comparecimento do acusado a atos do processo

A doutrina tem diferenciado duas espécies de atos, assegurando o poder de condução na primeira
categoria e restringindo o mesmo poder na segunda:

a) Atos de presença obrigatória: são aqueles que não se realizam sem a presença do acusado. Ex:
audiência destinada ao seu reconhecimento por testemunhas. Nessa hipótese, já se decidiu que a ausência
injustificada do acusado prejudica a realização do ato, facultando-se, então, a ordem judicial de condução.
Nesse sentido: “O comparecimento do réu aos atos processuais, em princípio, é um direito e não um dever,
sem embargo da possibilidade de sua condução coercitiva, caso necessário, por exemplo, para audiência de
reconhecimento” (STJ, REsp 346.677/RJ, 6.ª Turma, DJ 30.09.2002).

b) Atos de presença não obrigatória: são aqueles que, embora a garantia constitucional da ampla
defesa imponha ao magistrado o dever de facultar ao réu fazer-se presente, não restarão inviabilizados
diante de seu não comparecimento. Ex: audiência para inquirição de testemunhas para a qual tenha sido
regularmente notificado o imputado.

#OLHAOGANCHO: Quando, regularmente chamado, deixar o acusado de comparecer ao respectivo ato


processual, diz-se ocorrer situação de contumácia. Da contumácia decorre a revelia. Esta é consequência
daquela. No processo penal, a revelia não induz à presunção de verdade dos fatos articulados na inicial
acusatória, impondo-se, sempre, sejam estes comprovados para fins de responsabilização criminal.

5
Disponível em: https://www.dizerodireito.com.br/2018/08/operacoes-policiais-nos-ultimos-anos.html.
#AJUDAMARCINHO #DIZERODIREITO: Inconstitucionalidade da condução coercitiva para interrogatório.
O CPP, ao tratar sobre a condução coercitiva, prevê o seguinte: Art. 260. Se o acusado não atender à
intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser
realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença. O STF declarou que a expressão “para o
interrogatório”, prevista no art. 260 do CPP, não foi recepcionada pela Constituição Federal. Assim, caso
seja determinada a condução coercitiva de investigados ou de réus para interrogatório, tal conduta poderá
ensejar:
• a responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade
• a ilicitude das provas obtidas
• a responsabilidade civil do Estado.

Modulação dos efeitos: o STF afirmou que o entendimento acima não desconstitui (não invalida) os
interrogatórios que foram realizados até a data do julgamento, ainda que os interrogados tenham sido
coercitivamente conduzidos para o referido ato processual. STF. Plenário. ADPF 395/DF e ADPF 444/DF,
Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 13 e 14/6/2018 (Info 906).

Operações policiais
Nos últimos anos temos visto diversas “operações” da Polícia Federal nas quais há ordens judiciais de
condução coercitiva de investigados para que sejam interrogados.
A Polícia está investigando uma série de pessoas, normalmente uma organização criminosa. Em geral, essa
primeira etapa da investigação ocorre de forma oculta, sigilosa e muitas vezes envolve interceptação
telefônica.
Depois de um tempo investigando, a autoridade policial entende que chegou o momento de deflagrar a
operação. Assim, o Delegado, sozinho ou em conjunto com o membro do Ministério Público, formula
representações pedindo uma série de medidas judiciais, como, por exemplo, busca e apreensão, prisão
temporária e/ou prisão preventiva.
Em outras palavras, a fase oculta da investigação passa para uma fase ostensiva, em um momento
conhecido como “deflagração” – no qual são executadas, simultaneamente, as medidas probatórias e
cautelares que não podem ser escondidas dos investigados, como buscas e apreensões, prisões e
interrogatórios.
O objetivo da autoridade policial é que todas essas medidas sejam cumpridas em um só dia, com o
objetivo de surpreender os investigados evitando que destruam “provas” e combinem entre si uma
mesma versão dos fatos.
Diante disso, são feitos esses pedidos ao Juiz, que analisa e defere (ou não) as medidas.
Se deferidas, em um dia, nas primeiras horas do dia (por volta de 6h) diversos policiais cumprem, ao
mesmo tempo, os diversos mandados de busca e apreensão nas casas/escritórios dos investigados e
também os eventuais mandados de prisão.
Segundo a avaliação de alguns Delegados, existem três possíveis medidas cerceadoras de liberdade que
podem ser pedidas contra os investigados:
• prisão preventiva: se os pressupostos do art. 312 do CPP estão preenchidos;
• prisão temporária: normalmente requerida quando a situação do investigado não se amolda ao art. 312
do CPP, mas a sua custódia é considerada imprescindível para as investigações (art. 1º, I, da Lei nº
7.960/89);
• condução coercitiva: quando até havia motivos para se pedir a prisão do investigado/réu, mas existe
uma outra medida cautelar menos gravosa que pode ser decretada e que já cumpre a finalidade
pretendida, qual seja, a mera condução coercitiva para interrogatório.
 
Condução coercitiva do investigado/réu para interrogatório
A condução coercitiva para interrogatório é, portanto, a ordem judicial, materializada em um mandado,
por meio do qual a polícia fica autorizada a levar o investigado, compulsoriamente, para a Delegacia (ou
outro lugar escolhido) a fim de que ali ele seja interrogado, no dia e horário escolhidos pela autoridade
policial.
Em geral, o objetivo idealizado para a condução coercitiva é que o órgão de investigação criminal atue com
o “fator surpresa”, fazendo com que o investigado preste suas declarações no interrogatório sem ter tido
muito tempo para refletir naquilo que irá responder e sem ter tido a oportunidade de conversar com os
outros investigados ou ainda de conhecer quais os outros elementos informativos que a polícia já dispõe
contra ele.
Por isso, normalmente, o mandado de condução coercitiva é cumprido logo no início do dia, por volta das
6h, ao mesmo tempo em relação a todos os investigados naquela operação. A polícia chega à residência
do investigado, explica o mandado, pede que ele se vista e já segue com ele imediatamente para a
Delegacia, onde já há um Delegado esperando para conduzir o interrogatório.
Vale ressaltar que, na condução coercitiva, o investigado é obrigado a comparecer à Delegacia, mas lá
poderá permanecer em silêncio e não responder a qualquer das perguntas formuladas.
Importante destacar também que o investigado, durante o interrogatório, poderá se fazer acompanhar
por advogado ou Defensor Público.
O caso mais famoso de condução coercitiva ocorreu com o ex-Presidente Lula. O Juiz Federal Sérgio Moro,
a requerimento da Polícia Federal, deferiu a condução coercitiva de Lula, que foi efetivada em
04/03/2016, tendo o ex-Presidente sido levado para prestar interrogatório em uma sala no aeroporto de
Congonhas.
Confira a explicação de Vladimir Aras para a condução coercitiva:
“A condução coercitiva autônoma – que não depende de prévia intimação da pessoa conduzida – pode ser
decretada pelo juiz criminal competente, quando não cabível a prisão preventiva (arts. 312 e 313 do CPP),
ou quando desnecessária ou excessiva a prisão temporária, sempre que for indispensável reter por
algumas horas o suspeito, a vítima ou uma testemunha, para obter elementos probatórios fundamentais
para a elucidação da autoria e/ou da materialidade do fato tido como ilícito.
Assim, quando inadequadas ou desproporcionais a prisão preventiva ou a temporária, nada obsta que a
autoridade judiciária mande expedir mandados de condução coercitiva, que devem ser cumpridos por
agentes policiais sem qualquer exposição pública do conduzido, para que prestem declarações à Polícia ou
ao Ministério Público, imediatamente após a condução do declarante ao local do depoimento. Tal medida
deve ser executada no mesmo dia da deflagração de operações policiais complexas, as chamadas
megaoperações.

Em regra, para viabilizar a condução coercitiva será necessário demonstrar que estão presentes os
requisitos para a decretação da prisão temporária, mas sem a limitação do rol fechado (numerus clausus)
do art. 1º da Lei 7.960/89. A medida de condução debaixo de vara justifica-se em virtude da necessidade
de acautelar a coleta probatória durante a deflagração de uma determinada operação policial ou permitir
a conclusão de uma certa investigação criminal urgente.

Diante das circunstâncias do caso concreto, a prisão temporária pode ser substituída por outra medida
menos gravosa, a partir do poder geral de cautela do Poder Judiciário, previsto no art. 798 do CPC e
aplicável ao processo penal com base no art. 3º do CPP. Tal medida cautelar extranumerária ao rol do art.
319 do CPP reduz a coerção do Estado sobre o indivíduo, limitando-a ao tempo estritamente necessário
para a preservação probatória, durante a fase executiva da persecução policial.

De fato, a condução coercitiva dos suspeitos sempre será mais branda que a prisão temporária; a medida
restringe de modo mais suave a liberdade pessoal, somente enquanto as providências urgentes de
produção de provas (cumprimento de mandados de buscas, por exemplo) estiverem em curso.
Se o legislador permite a prisão temporária por (até) 5 dias, prorrogáveis por mais 5 dias nos crimes
comuns, a condução coercitiva resolve-se em um dia ou menos que isto, em algumas horas, mediante a
retenção do suspeito e sua apresentação à autoridade policial para interrogatório sob custódia, enquanto
as buscas têm lugar. Ou seja, a condução sob vara deve durar apenas o tempo necessário à instrução
preliminar de urgência, não devendo persistir por prazo igual superior a 24 horas, caso em que se
trasveste em temporária.
Sendo menos prolongada que as prisões cautelares, a condução coercitiva guarda ainda as mesmas
vantagens que a custódia temporária, pois permite que a Polícia interrogue todos os envolvidos no mesmo
momento, visando a evitar, pela surpresa, as versões “combinadas” ou que um suspeito oriente as
declarações de uma testemunha ou a pressione, na fase da apuração preliminar, ou que documentos ou
ativos sejam suprimidos, destruídos ou desviados. ” (ARAS, Vladimir. Debaixo de vara: a condução
coercitiva como cautelar pessoal autônoma. Disponível em: https://vladimiraras.blog/2013/07/16/a-
conducao-coercitiva-como-cautelar-pessoal-autonoma/>; acesso em 27 ago. 2018.
 
Quais os argumentos jurídicos que fundamentariam a possibilidade de decretação da condução
coercitiva?
Os partidários da condução coercitiva sustentam a ideia de que se trata de uma restrição temporária da
liberdade e que corresponde a uma medida bem menos gravosa que a prisão.
Além disso, defendem que, se o juiz pode decretar a prisão (medida mais grave), significa que ele poderia
também decretar a condução coercitiva (medida menos drástica).
Trata-se de uma medida deferida pelo juiz com base em seu poder geral de cautela.
Como fundamento legal que respaldaria a condução coercitiva, alguns magistrados invocavam também o
art. 260 do CPP:
Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro
ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença.
Parágrafo único.  O mandado conterá, além da ordem de condução, os requisitos mencionados no art.
352, no que lhe for aplicável.
 
O raciocínio era o seguinte: a autoridade policial convida, na hora, o investigado a acompanha-lo até a
Delegacia para interrogatório. Caso o investigado se recuse a ir, estaria configurada a hipótese do art. 260
do CPP, podendo ser efetivada a condução coercitiva.
Confira o que disse o Min. Gilmar Mendes sobre o tema:
“O art. 260 do CPP — conjugado ao poder do juiz de decretar medidas cautelares pessoais — vem sendo
utilizado para fundamentar a condução coercitiva de investigados para interrogatório, especialmente
durante a investigação policial, no bojo de engenhosa construção que passou a fazer parte do
procedimento padrão das investigações policiais dos últimos anos.”
 
ADPF
Em 11/04/2016, o Partido dos Trabalhadores (PT) ingressou com uma ADPF no Supremo alegando que as
decisões que estão sendo decretadas em todo o Brasil deferindo condução coercitiva violam diversos
direitos e garantias constitucionais.
Diante disso, o autor sustentou que o art. 260 do CPP não foi recepcionado pela Constituição Federal
1988.
 
Medida cautelar
Em 29/03/2017, o Min. Gilmar Mendes, relator da ADPF, deferiu medida liminar para vedar a condução
coercitiva de investigados para interrogatório, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do
agente ou da autoridade e de ilicitude das provas obtidas, sem prejuízo da responsabilidade civil do
Estado. Desse modo, a partir desse dia, esta prática ficou proibida.
 
Decisão do colegiado
Nos dias 13 e 14/6/2018, o Plenário do STF se reuniu e confirmou a liminar, julgando procedente a ADPF.
Vamos entender os argumentos invocados e quais deles foram acolhidos pelo STF.
 
Direito à não autoincriminação 
O direito à não autoincriminação consiste na prerrogativa do investigado ou acusado a negar-se a produzir
provas contra si mesmo, e a não ter a negativa interpretada contra si.
O direito ao silêncio é um dos aspectos, talvez o mais conhecido, do direito à não autoincriminação.
O direito ao silêncio consiste na prerrogativa, ou seja, no direito que o investigado possui de se recusar a
depor em investigações ou ações penais contra si movimentadas. Esse silêncio não poderá ser
interpretado como se este investigado estivesse admitindo a responsabilidade pelo fato.
O direito ao silêncio foi previsto pela CF/88 nos seguintes termos:
Art. 5º (...)
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado (...)
 
Antes da CF/88, não existia o direito ao silêncio no ordenamento jurídico brasileiro. Ao contrário, o CPP
previa que o silêncio do acusado seria interpretado em seu desfavor. Era a redação originária do art. 186.
Vale ressaltar que, além da CF/88, o direito ao silêncio foi consagrado também em tratados de direitos
humanos dos quais o Brasil é signatário. Nesse sentido:
• Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos;
• Pacto de San José da Costa Rica.
No plano legal, desde a Lei nº 10.792/2003, o direito ao silêncio foi incorporado ao CPP.
Atualmente, tanto o direito ao silêncio quanto a respectiva advertência são previstos na legislação e
aplicáveis tanto à ação penal quanto ao interrogatório policial, tanto ao preso quanto ao solto (art. 6º, V, e
art. 186 do CPP).
Se o acusado for citado ou intimado pessoalmente para qualquer ato e deixar de comparecer sem motivo
justificado, a solução dada pelo CPP é a de que o processo deverá seguir curso sem a sua presença (art.
367, com redação dada pela Lei nº 9.271/96).
Importante chamar a atenção para o fato de que até o Código de Processo Civil introduziu o direito da
parte de não produzir prova contra si própria (art. 379).

A condução coercitiva viola o direito à não autoincriminação?


NÃO. Isso porque o conduzido, ao chegar na Delegacia, é informado de que possui direito ao silêncio.
A autoridade policial interrogante faz a advertência ao investigado de que ele pode permanecer em
silêncio se assim desejar.
O conduzido também goza do direito de se fazer acompanhar por seu advogado (art. 7º, XXI, do Estatuto
da Advocacia).

Assim, só há potencial autoincriminação se o interrogado optar por falar, mesmo após advertido do direito
ao silêncio.
Nessas condições, haverá uma opção suficientemente informada.
Vale ressaltar que o direito ao silêncio, como o próprio nome indica, é um direito (e não um dever).

A palavra do acusado pode ser essencial à defesa. A versão do imputado pode elucidar os fatos e dissipar
suspeitas. Não raro, é a partir do interrogatório que se descobre que o investigado é, em verdade, a
vítima.
Não por acaso, a legislação consagra o direito do réu de manifestar-se pessoalmente sobre as suspeitas
que contra ele pairam.
Cabe à defesa decidir por falar ou calar.
Submeter o investigado a interrogatório não é, por si só, uma violação ao direito à não autoincriminação.
Desse modo, a condução coercitiva não gera violação ao direito à não autoincriminação.
 
Direito ao tempo necessário à preparação da defesa 
O investigado ou acusado da prática de uma infração penal deve ter direito ao tempo necessário à
preparação da sua defesa.
O direito ao tempo necessário à preparação da defesa é uma decorrência das garantias constitucionais do
devido processo legal e à ampla defesa (art. 5º, LIV e LV, da CF/88).
Além disso, tal direito está expressamente consagrado em tratados de direitos humanos dos quais o país é
signatário:
Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (Decreto nº 592/92):
Artigo 14 (...)
3. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena igualmente, a, pelo menos, as seguintes
garantias:
(...)
b) De dispor do tempo e dos meios necessários à preparação de sua defesa e a comunicar-se com defensor
de sua escolha;
 
Pacto de San José da Costa Rica (Decreto nº 678/92):
Artigo 8 (...)
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove
legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes
garantias mínimas:
(...)
c. concessão ao acusado do tempo e dos meios adequados para a preparação de sua defesa;
 
No curso da ação penal, o direito ao tempo necessário à preparação da defesa é conferido com
generosidade pela legislação processual em vigor. Tanto isso é verdade que o interrogatório é a última
providência da instrução. Essa ordem deve ser respeitada em todas as ações penais, mesmo em
procedimentos especiais cuja regência preveja em contrário (STF. Plenário. HC 127900, Rel. Min. Dias
Toffoli, julgado em 3/3/2016).
Assim, o processo penal assegura o tempo necessário para que o réu se prepare para o seu interrogatório.
A condução coercitiva viola o direito ao tempo necessário à preparação da defesa?
NÃO. Na investigação, não há uma acusação formada. O investigado não tem o ônus de preparar defesa,
na medida em que não está enfrentando uma acusação.
Durante o inquérito, o investigado até pode intervir nas investigações, dando sua versão dos fatos,
oferecendo razões etc. Mas essa intervenção não equivale a uma defesa. Não há ampla defesa no
inquérito policial. Logo, não há que se falar em prazo de preparação para o inquérito policial.
Pelo contrário, no curso da investigação, a regra é que o interrogatório seja realizado tão logo quanto o
possível.
O CPP afirma que a autoridade policial deverá ouvir o suspeito “logo que tiver conhecimento da infração”
(art. 6º, V).
Se houver prisão em flagrante, o interrogatório faz parte do auto respectivo (art. 304 do CPP). Ou seja,
será tomado poucas horas após a captura.
De um modo geral, o investigado preso é interrogado logo após a prisão.

A prontidão na realização do interrogatório é compatível com os direitos da defesa e com os objetivos da


investigação criminal.
Frequentemente, o tempo é essencial para o sucesso das apurações. A conjugação da inquirição de
testemunhas, vítimas e suspeitos com a colheita de outras provas é vital para que os fatos sejam
revelados.
Por conta da necessária velocidade das apurações, de um modo geral, regras de delimitação de tempo e
de lugar dos atos processuais não se aplicam ao inquérito policial.

Não há sequer direito subjetivo ao interrogatório policial. O Ministério Público pode denunciar pessoa que
em momento algum foi tratada como suspeita pela autoridade policial.
O desconforto do investigado com o momento do interrogatório é eficazmente contrabalanceado pelo
direito ao silêncio e pelo direito a apresentar razões por intermédio de advogado (art. 7º, XXI, do Estatuto
da OAB).
Dessa forma, a condução coercitiva não se traduz em violação, ainda que potencial, ao direito ao prazo
necessário para preparação da defesa.
 
Direito ao devido processo legal 
Na ação alegava-se que a condução coercitiva afrontaria o direito ao devido processo legal (art. 5º, LIV,
CF/88). Isso porque a condução coercitiva não estaria prevista expressamente no CPP e seria decretada
com base em um poder geral de cautela do juiz. Ocorre que, para o autor da ADPF, o processo penal não
admite poder geral de cautela e o magistrado somente poderia decretar medidas processuais típicas, ou
seja, expressamente previstas na lei.

O STF afirmou o seguinte: a possibilidade de o juiz conceder ou não medidas cautelares atípicas no
processo penal é um tema controvertido e este Tribunal não irá, neste momento, definir uma posição
sobre o tema. Assim, o STF não irá dizer, agora, se existe ou não poder geral de cautela do juiz no processo
penal. Obs.: durante os debates, o Min. Celso de Mello afirmou que, diante do postulado constitucional da
legalidade estrita em matéria processual penal, inexiste, no processo penal, o poder geral de cautela dos
juízes.

A condução coercitiva não é uma medida completamente atípica. Isso porque o art. 260 do CPP admite a
condução coercitiva, muito embora mencione a prévia intimação. Ou seja, há base legal para restringir a
liberdade do imputado, forçando-o a comparecer ao ato processual. Existe previsão legal de condução
coercitiva. O problema estaria na inobservância do rito legal, considerando que os juízes têm decretado a
condução coercitiva mesmo sem o investigado manifestar qualquer recusa.
Desse modo, a questão aqui não envolve discutir se seria possível a concessão de medidas cautelares
atípicas, mas sim a possibilidade de se afastar o rito legal previsto para a sua produção (art. 260 do CPP).
Assim, não se pode falar que a condução coercitiva viole o devido processo legal por se tratar de medida
cautelar atípica.
 
Direito à imparcialidade, à paridade de armas e à ampla defesa 
Na ADPF argumentava-se também que a atuação do magistrado que determina a condução coercitiva, em
fase de investigação representaria uma iniciativa probatória indevida.
Além disso, seria uma atuação que desequilibraria acusação e defesa, intervindo no princípio da paridade
de armas, decorrência da ampla defesa e do contraditório (art. 5º, LV, CF/88).
Por fim, seria medida que impediria o exercício do direito efetivo de defesa pelo imputado.
O STF também não concordou com este argumento e afirmou que a condução coercitiva não viola o
direito à imparcialidade, à paridade de armas e à ampla defesa.

Na fase de investigação, o juiz atua como garantidor de liberdades. É do sistema constitucional que
algumas medidas sejam requeridas a um magistrado mesmo antes da instauração da relação processual.
Várias dessas medidas são expressamente mencionadas na Constituição Federal, como, por exemplo,
busca domiciliar (art. 5º, XI), interceptação telefônica (art. 5º, XII), prisão (art. 5º, LXI).

A imparcialidade não é violada pela atuação do juiz. Pelo contrário, é a imparcialidade do magistrado que
garante a liberdade contra intromissões indevidas.
Ao deferir uma medida interventiva, o juiz está aplicando a lei. Não há nisso violação ao equilíbrio das
partes na relação processual.
Dessa forma, o argumento da violação à imparcialidade e da paridade de armas não se sustenta.

A Constituição de 1988 (art. 5º, LV) ampliou o direito de defesa, assegurando aos litigantes, em processo
judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, o contraditório e a ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes.

No curso do inquérito policial, na medida em que não se tem ainda processo contraditório em sentido
estrito, o direito à ampla defesa é assegurado, essencialmente, pelo direito à assistência de advogado (art.
5º, LXIII, CF). Esse direito aumenta de dimensão no curso da ação penal, no qual a assistência do advogado
é obrigatória (art. 261 do CPP).
Convém registrar que uma alteração na Lei, ocorrida em 2016, passou a prever como direito do advogado
“assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do
respectivo interrogatório ou depoimento” – art. 7º, XXI, da Lei 8.906/94, introduzido pela Lei nº
13.245/2016.
O direito à ampla defesa, no que aplicável ao interrogatório, é garantido pelo direito à assistência do
advogado, associado ao direito ao silêncio.
A condução coercitiva não afasta esse direito.
 
Direito à liberdade de locomoção 
O STF entendeu que a condução coercitiva viola a liberdade de locomoção.
A Constituição Federal consagra o direito à liberdade de locomoção de forma genérica, ao enunciar o
direito à liberdade (art. 5º, caput), a ser restringido apenas sob observância do devido processo legal (art.
5º, LIV), e, de forma específica, ao estabelecer regras estritas sobre a prisão (art. 5º, LXI, LXV, LXVI, LXVII).
A Carta também enfatiza a liberdade de locomoção ao consagrar a ação especial de habeas corpus como
remédio contra restrições e ameaças ilegais (art. 5º, LXVIII).
A condução coercitiva representa uma supressão absoluta, ainda que temporária, da liberdade de
locomoção. O investigado ou réu é capturado e levado sob custódia ao local da inquirição. Há uma clara
interferência na liberdade de locomoção, ainda que por um período breve.
 
Presunção de não culpabilidade 
O princípio da presunção de não culpabilidade (art. 5º, LVII, da CF) assegura às pessoas ainda não
condenadas o direito de não serem tratadas como culpadas.
A condução coercitiva consiste em capturar o investigado ou acusado e levá-lo sob custódia policial à
presença da autoridade para ser submetido a interrogatório.
A restrição temporária da liberdade mediante condução sob custódia por forças policiais em vias públicas
não é o tratamento que se deve dar a uma pessoa inocente.
Na condução coercitiva o investigado conduzido é claramente tratado como culpado.
Logo, a condução coercitiva viola o princípio da não culpabilidade (ou da presunção de inocência), previsto
no art. 5º, LVII, da CF/88.
 
Dignidade da pessoa humana 
A dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88), prevista entre os princípios fundamentais do estado
democrático de direito, orienta seus efeitos a todo o sistema normativo, constituindo, inclusive, princípio
de aplicação subsidiária às garantias constitucionais atinentes aos processos judiciais.
Para o Min. Gilmar Mendes, o investigado ou réu é conduzido coercitivamente como uma forma de
demonstração de sua submissão à força do Estado acusador. Não há finalidade instrutória clara, na
medida em que o arguido não é obrigado a declarar, ou mesmo a se fazer presente ao interrogatório.
Desse modo, a condução coercitiva desrespeita a dignidade da pessoa humana.
 
Validade das restrições: o direito de ausência ao interrogatório
Restrições à liberdade de locomoção e o tratamento pontual de investigados como culpados são
aceitáveis, desde que proporcionais.

A liberdade de locomoção não é um direito absoluto. Pode ser restringido, inclusive por atos
administrativos. Assim, por exemplo, o controle de trânsito fronteiriço, o controle de entrada em imóveis
públicos de uso especial, a interdição de prédios privados em caso de descumprimento de obrigações de
segurança, a interdição de vias públicas para obras, o semáforo e o pedágio.

A não culpabilidade tampouco é um direito absoluto. O ordenamento jurídico dispõe de uma infinidade de
medidas que, infelizmente, representam tratamento desfavorável ao investigado ou ao acusado.
Exemplos: prisão processual, medidas cautelares diversas da prisão, medidas assecuratórias, medidas
investigativas invasivas etc.

Importa definir se a interferência representada pela condução coercitiva é, ou não, legítima.


A condução coercitiva no inquérito tem uma finalidade lícita – acelerar as investigações.
No entanto, poderia perfeitamente ser substituída por medidas menos gravosas. Por exemplo, em vez de
conduzido, o investigado poderia ser simplesmente intimado a comparecer de pronto à repartição pública,
caso tenha interesse em ser interrogado. Talvez o ato processual pudesse ser marcado no próprio dia, na
medida em que o CPP não prevê anterioridade mínima para intimações. Na melhor das hipóteses para a
defesa, aplicar-se-ia o prazo mínimo de 48 horas previsto no art. 218, § 2º, do CPC/2015, por analogia.

Parece seguro afirmar que, na maior parte das investigações, esse prazo seria satisfatório ao interesse da
agilidade das apurações.
Desse modo, o STF concluiu que a condução coercitiva para interrogatório é incompatível com a CF/88. A
expressão “para o interrogatório”, prevista no art. 260 do CPP, não foi recepcionada pela Constituição.
 
A condução coercitiva para o interrogatório é uma medida ilegítima, tenha havido ou não prévia
intimação
Vale ressaltar que a condução coercitiva é ilegítima mesmo que o investigado tenha sido previamente
intimado para comparecer à Delegacia para interrogatório e tenha se recusado. Assim, mesmo que seja
obedecida rigorosamente a cautela do art. 260, ainda assim a condução coercitiva para interrogatório será
indevida. Isso porque a CF/88 e os tratados internacionais, ao preverem o direito do investigado ao
silêncio, asseguram também a ele, como decorrência, o direito de ausência ao interrogatório.
Ora, se o investigado não é obrigado a falar no interrogatório, ele também não pode ser obrigado a
comparecer ao interrogatório.
Pode-se dizer, portanto, que existe um direito de ausência do investigado ao interrogatório.
O direito de ausência, por sua vez, afasta a possibilidade de condução coercitiva.
 
Condução coercitiva pode ser adotada para outras hipóteses
Para que a condução coercitiva seja legítima, ela deve destinar-se à prática de um ato ao qual a pessoa
tem o dever de comparecer, ou, ao menos, que possa ser legitimamente obrigada a comparecer.
Exemplo 1: condução coercitiva quando houver dúvida sobre a identidade civil do investigado.
Em sentido semelhante, a condução coercitiva “quando houver dúvida sobre a identidade civil” do
imputado seria uma possibilidade, na medida em que essa é uma hipótese que autoriza mesmo a medida
mais gravosa – prisão preventiva, na forma do art. 313, parágrafo único, do CPP:
Art. 313 (...)
Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil
da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser
colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a
manutenção da medida.
 
Exemplo 2: condução coercitiva para fazer a qualificação do investigado (1ª fase do interrogatório).
Mesmo que não paire dúvida sobre a identidade, pode-se cogitar da condução coercitiva para a
qualificação do acusado, correspondente à primeira parte do interrogatório, relativa à pessoa do acusado
– art. 187, § 1º, e art. 185, § 10, do CPP. Nesse ponto, o acusado não tem direito ao silêncio. A qualificação
foi inserida legalmente como fase do interrogatório, na forma do art. 187 do CPP. Logo, sob tal aspecto, a
realização da qualificação poderia justificar a condução coercitiva.
Fato é que as informações sobre a pessoa do acusado chegam aos autos por diversas vias. Antecedentes,
por exemplo, podem ser obtidas consultas ao rol dos culpados e ao sistema processual. Assim, dificilmente
a qualificação será relevante ao processo a ponto de permitir a adoção de uma medida consideravelmente
radical, como a condução coercitiva.
De qualquer forma, nas hipóteses estreitas em que a qualificação se afigura imprescindível, o juiz pode, de
forma devidamente fundamentada, ordenar a condução coercitiva do investigado ou acusado, como um
ato que não possa ser realizado sem sua presença, na forma do art. 260 do CPP.
Para a 2ª parte do interrogatório (o interrogatório sobre os fatos – art. 187, § 2º do CPP) não se admite a
condução coercitiva.
 
Prisão não pode ser utilizada para interrogatório
Como vimos acima, um dos argumentos dos partidários da condução coercitiva está no fato de que ela
seria uma medida menos gravosa que a prisão temporária e que a prisão preventiva. Isso é verdade. A
condução coercitiva é um minus em relação à prisão preventiva por conveniência da instrução criminal ou
em relação à prisão temporária. A condução coercitiva é, de fato, menos gravosa.
A questão, entretanto, é que realizar o interrogatório não é uma finalidade legítima para a prisão
preventiva ou temporária.
A consagração do direito ao silêncio impede a prisão preventiva/temporária para interrogatório, na
medida em que o imputado não é obrigado a falar.
Por isso, a condução coercitiva para interrogatório representa uma restrição da liberdade de locomoção e
da presunção de não culpabilidade, para obrigar a presença em um ato ao qual o investigado não é
obrigado a comparecer. Daí sua incompatibilidade com a Constituição Federal.
 
Em suma:
O CPP, ao tratar sobre a condução coercitiva, prevê o seguinte:
Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer
outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença.
O STF declarou que a expressão “para o interrogatório” prevista no art. 260 do CPP não foi recepcionada
pela Constituição Federal.
Assim, não se pode fazer a condução coercitiva do investigado ou réu com o objetivo de submetê-lo ao
interrogatório sobre os fatos.
STF. Plenário. ADPF 395/DF e ADPF 444/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 13 e 14/6/2018 (Info 906).
 
Sanções
Caso seja determinada a condução coercitiva de investigados ou de réus para interrogatório, tal conduta
poderá ensejar:
a) a responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade que determinou;
b) a ilicitude das provas obtidas;
c) a responsabilidade civil do Estado.
 
Modulação dos efeitos
O STF afirmou que o entendimento acima não desconstitui (não invalida) os interrogatórios que foram
realizados até a data do julgamento, ainda que os interrogados tenham sido coercitivamente conduzidos
para o referido ato processual.
 
Condução coercitiva de investigados e réus
Importante esclarecer que o julgado acima tratou apenas da condução coercitiva de investigados e réus à
presença da autoridade policial ou judicial para serem interrogados.
Assim, não foi analisada a condução de outras pessoas como testemunhas, ou mesmo de investigados ou
réus para atos diversos do interrogatório, como o reconhecimento de pessoas ou coisas. Isso significa que,
a princípio essas outras espécies de condução coercitiva continuam sendo permitidas.

É POSSÍVEL A INTERVENÇÃO DE AMICUS CURIAE NO PROCESSO PENAL? NÃO, POR AUSÊNCIA DE PREVISÃO
LEGAL.
Determinado Deputado Federal estava respondendo a ação penal no STF pela suposta prática do crime de
peculato. O partido político que ele integra requereu a sua intervenção no feito como amicus curiae. O STF
indeferiu o pedido afirmando que a agremiação partidária, autoqualificando-se como amicus curiae,
pretendia, na verdade, ingressar numa posição que a relação processual penal não admite, considerados os
estritos termos do CPP. STF. 1ª Turma. AP 504/DF, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Dias
Toffoli, julgado em 9/8/2016 (Info 834).

5.4 Direitos do acusado

a) Direito de não produzir prova contra si mesmo;


b) Direito de ser citado;
c) Direito de não ser preso, senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da
autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar,
definidos em lei (CF, art. 5º, LXI, c/c art. 283 do CPP);
d) Direito a um processo e julgamento público, salvo quando o sigilo for necessário para a
preservação da intimidade ou dos interesses sociais (CF, art. 5o, LX, c/c art. 93, IX);
e) Direito de ser processado e julgado pelo juízo competente;
f) Direitos atinentes à tutela da liberdade de locomoção: integridade física e moral do preso, sua
indevida exposição à mídia, o uso de algemas, a comunicação imediata da prisão ao juiz competente, ao
Ministério Público, e à Defensoria Pública, se o autuado não informar o nome de seu advogado, a
comunicação imediata da prisão à família do preso ou à pessoa por ele indicada, o direito à identificação dos
responsáveis pela prisão ou pelo interrogatório policial;
g) Direito de não ser recolhido à prisão, nos crimes afiançáveis, quando prestada a fiança;
h) Direito à liberdade provisória, com ou sem fiança, cumulada (ou não) com as medidas cautelares
diversas da prisão;
i) Direito de não ter contra si utilizada uma prova obtida por meios ilícitos, mesmo que se trate de
prova ilícita por derivação;
j) Direito de não ser submetido à identificação criminal, quando civilmente identificado, salvo nas
hipóteses previstas na Lei n° 12.037/09;
k) Direito de não ser considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;
l) Direito ao duplo grau de jurisdição: reconhecido expressamente pela Convenção Americana sobre
Direitos Humanos (Dec. 678/92, art. 8o, § 2o, “h”), o duplo grau será estudado no Título referente aos
recursos;
m) Direito ao interrogatório: pois trata-se de meio de defesa;
n) Direito a tradutor ou intérprete, quando desconhecer o idioma nacional ou não puder se
comunicar por motivos relacionados à deficiência auditiva ou vocal (CPP, art. 192 e 193).

Art. 259.  A impossibilidade de identificação do acusado com o seu verdadeiro nome ou outros qualificativos
não retardará a ação penal, quando certa a identidade física. A qualquer tempo, no curso do processo, do
julgamento ou da execução da sentença, se for descoberta a sua qualificação, far-se-á a retificação, por
termo, nos autos, sem prejuízo da validade dos atos precedentes.
Art. 260.  Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro
ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença.  (Vide
ADPF 395)(Vide ADPF 444)
Parágrafo único.  O mandado conterá, além da ordem de condução, os requisitos mencionados no art. 352,
no que Ihe for aplicável.
Art. 261.  Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor.
Parágrafo único. A defesa técnica, quando realizada por defensor público ou dativo, será sempre exercida
através de manifestação fundamentada.           (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
Art. 262.  Ao acusado menor dar-se-á curador.
Art. 263.  Se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado defensor pelo juiz, ressalvado o seu direito de, a todo
tempo, nomear outro de sua confiança, ou a si mesmo defender-se, caso tenha habilitação.
Parágrafo único.  O acusado, que não for pobre, será obrigado a pagar os honorários do defensor dativo,
arbitrados pelo juiz.
6. O Defensor/procurador

Segundo o CPP, nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem
defensor. Caso o acusado decida que não vai constituir defensor, o juiz providenciará a nomeação de um, eis
que a defesa técnica é indisponível na seara processual penal (art. 261, CPP).

Frise-se que o defensor constituído pelo réu para sua defesa em juízo deverá acostar aos autos
instrumento de mandato, sob pena de nulidade ou até mesmo inexistência dos atos que vier a praticar.

#SELIGA: O que é nomeação ou constituição apud acta?


Trata-se de exceção à regra de que o defensor constituído pelo acusado deverá acostar instrumento de
mandato nos autos, sob pena de nulidade ou inexistência dos atos que venha a praticar, existe no art. 266 do
CPP. Estabelece esse dispositivo que “a constituição de defensor independerá de instrumento de mandato se
o acusado o indicar por ocasião do interrogatório”, consignando o magistrado, no termo de audiência, esta
circunstância.

6.1 Espécies de defensor

a) Defensor constituído: é o advogado que foi constituído pelo acusado para patrocinar sua defesa
técnica no processo penal.

b) Defensor Público: é o integrante da Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos


Estados, cuja função precípua é prestar assistência jurídica integral e gratuita àqueles que comprovarem
insuficiência de recursos.

#DEOLHONAJURIS: A LC 80/94 (Lei Orgânica da Defensoria Pública) prevê, como uma das prerrogativas dos
Defensores Públicos, que eles devem receber intimação pessoal (arts. 44, I, 89, I e 128, I). Se uma decisão ou
sentença é proferida pelo juiz na própria audiência, estando o Defensor Público presente, pode-se dizer que
ele foi intimado pessoalmente naquele ato ou será necessário ainda o envio dos autos à Defensoria para que
a intimação se torne perfeita? Para que a intimação pessoal do Defensor Público se concretize, será
necessária ainda a remessa dos autos à Defensoria Pública. A intimação da Defensoria Pública, a despeito da
presença do defensor na audiência de leitura da sentença condenatória, somente se aperfeiçoa com sua
intimação pessoal, mediante a remessa dos autos. Assim, a data da entrega dos autos na repartição
administrativa da Defensoria Pública é o termo inicial da contagem do prazo para impugnação de decisão
judicial pela instituição, independentemente de intimação do ato em audiência. STJ. 3ª Seção. HC 296.759-
RS, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 23/8/2017 (Info 611). STF. 2ª Turma. HC 125270/DF, Rel. Min.
Teori Zavascki, julgado em 23/6/2015 (Info 791).

c) Defensor dativo: é aquele nomeado pelo juiz para o acusado que não tem advogado, para aquele
que não tem condições de contratar um, e para aquele que, embora possa constituir um advogado, deixar de
fazê-lo. Caso não haja Defensoria Pública na comarca (ou subseção judiciária), incumbe ao juiz a nomeação
de advogado dativo para patrocinar a defesa do acusado.

Apenas faculta-se ao defensor nomeado recusar o patrocínio por “motivo relevante”, vale dizer,
plenamente justificado ao magistrado (art. 264 do CPP).

d) Defensor ad hoc (ou substituto): é aquele nomeado pelo juiz apenas para um determinado ato
processual, quando o defensor a ele não comparecer sem motivo justificado, a despeito de ter sido
notificado para o ato.

e) Defensor curador: é aquele nomeado ao índio não adaptado, assim como ao acusado após a
instauração do incidente de insanidade mental.

6.2 Defesa técnica plena e efetiva

Não basta assegurar a presença formal de um defensor, ou seja, apenas a defesa técnica. No curso
do processo penal, é necessário que se perceba efetiva atividade defensiva do advogado no sentido de
assistir seu cliente.

Essa é a razão pela qual a Lei n° 10.792/03 acrescentou o parágrafo único ao art. 261 do CPP, de
modo a exigir que a defesa técnica, quando realizada por defensor público ou dativo, seja sempre exercida
por manifestação fundamentada. Destarte, defesa meramente formal, que se limita a um pedido vago e
genérico de absolvição, desprovido de qualquer fundamentação, caracteriza-se como verdadeira ausência de
defesa, acarretando a anulação do feito

#DEOLHONASÚMULA:
Súmula 523 STF: No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o
anulará se houver prova de prejuízo para o réu. 

6.3 Abandono do processo pelo defensor

Nos termos do art. 265 do CPP, “o defensor não poderá abandonar o processo, senão por motivo
imperioso, comunicado previamente o juiz, sob pena de multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários-mínimos, sem
prejuízo das demais sanções cabíveis”.

Vale destacar que o mencionado dispositivo não exime o profissional de observar o disposto no art.
5.º, § 3.º, da Lei 8.906/1994, no sentido de que “o advogado que renunciar ao mandato continuará, durante
os dez dias seguintes à notificação da renúncia, a representar o mandante, salvo se for substituído antes do
término desse prazo”.

É certo, ainda, que o não comparecimento do advogado pode ocorrer de duas formas:

a) Não comparecimento injustificado, o juiz nomeará um defensor ad hoc, e o ato será realizado.
b) Não comparecimento justificado, o juiz poderá adiar a realização do ato judicial. Ex.: advogado
junta a prova de que tem uma audiência no mesmo horário.

Art. 264.  Salvo motivo relevante, os advogados e solicitadores serão obrigados, sob pena de multa de cem a
quinhentos mil-réis, a prestar seu patrocínio aos acusados, quando nomeados pelo Juiz.
Art. 265.  O defensor não poderá abandonar o processo senão por motivo imperioso, comunicado
previamente o juiz, sob pena de multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários mínimos, sem prejuízo das demais
sanções cabíveis.           (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 1o A audiência poderá ser adiada se, por motivo justificado, o defensor não puder
comparecer.           (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 2o Incumbe ao defensor provar o impedimento até a abertura da audiência. Não o fazendo, o juiz não
determinará o adiamento de ato algum do processo, devendo nomear defensor substituto, ainda que
provisoriamente ou só para o efeito do ato.           (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
Art. 266.  A constituição de defensor independerá de instrumento de mandato, se o acusado o indicar por
ocasião do interrogatório.
Art. 267.  Nos termos do art. 252, não funcionarão como defensores os parentes do juiz.
7. O assistente de acusação

7.1 Considerações gerais

O Código de Processo Penal prevê o assistente de causação no seu art. 268, segundo o qual “em
todos os termos da ação pública, poderá intervir, como assistente do Ministério Público, o ofendido ou seu
representante legal, ou, na falta, qualquer das pessoas mencionadas no art. 31 (cônjuge, ascendente,
descendente ou irmão do ofendido) ”.

#SELIGA: É possível a habilitação de pessoa jurídica como assistente de acusação, quando reconhecida sua
condição de vítima?
De acordo com o STF, sim. Não foi outro, aliás, o entendimento da Corte diante de requerimento feito pela
Petrobras, para o fim de atuar como assistente de acusação em ação penal movida contra réus que, ao longo
de quase uma década, locupletaram-se, ilegalmente, de valores decorrentes de licitações fraudulentas, que
importaram em prejuízos de milhões à estatal (Ação Penal 996/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, decisão
monocrática, j. 01.12.2016).

#ATENÇÃO: O art. 270 do CPP proíbe o corréu, no mesmo processo, de intervir como assistente de
acusação.

Vale dizer que a figura do assistente de acusação é polêmica, havendo duas correntes sobre o
assunto:

a) Primeira: admite-se a intervenção da vítima e demais legitimados previstos no art. 268 do CPP
como assistentes do Ministério Público em face do interesse civil que lhes é inerente em obter a reparação
do dano patrimonial causado pela prática criminosa. Os adeptos dessa linha de pensamento consideram que
o pressuposto da atuação da vítima em delito de ação pública tem em vista apenas auxiliar o Ministério
Público a alcançar uma sentença condenatória transitada em julgado, já que esta se constitui em título
executivo judicial, passível de execução na esfera civil, conforme dispõem os arts. 91, I, do CP, 515, VI, do
Código de Processo Civil/2015, e 63 do CPP.

b) Segunda (majoritária): sendo o assistente de acusação a vítima ou pessoas e ela vinculadas, seu
interesse não se limita à obtenção de um título executivo civil, objetivando, isto sim, à condenação do réu
como forma de repressão ao crime praticado.
Art. 268.  Em todos os termos da ação pública, poderá intervir, como assistente do Ministério Público, o
ofendido ou seu representante legal, ou, na falta, qualquer das pessoas mencionadas no Art. 31.
Art. 269.  O assistente será admitido enquanto não passar em julgado a sentença e receberá a causa no
estado em que se achar.
Art. 270.  O co-réu no mesmo processo não poderá intervir como assistente do Ministério Público.
Art. 271.  Ao assistente será permitido propor meios de prova, requerer perguntas às testemunhas, aditar o
libelo e os articulados, participar do debate oral e arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público,
ou por ele próprio, nos casos dos arts. 584, § 1º, e 598.
§ 1o O juiz, ouvido o Ministério Público, decidirá acerca da realização das provas propostas pelo assistente.
§ 2o O processo prosseguirá independentemente de nova intimação do assistente, quando este, intimado,
deixar de comparecer a qualquer dos atos da instrução ou do julgamento, sem motivo de força maior
devidamente comprovado.
Art. 272.  O Ministério Público será ouvido previamente sobre a admissão do assistente.

7.2 Irrecorribilidade de decisão

Art. 273.  Do despacho que admitir, ou não, o assistente, não caberá recurso, devendo, entretanto, constar
dos autos o pedido e a decisão.

#ATENÇÃO: A jurisprudência é consolidada no sentido de que o deferimento e o indeferimento do pedido de


admissão podem ser impugnados via mandado de segurança.

7.3 Outros casos de assistência

a) Art. 26, parágrafo único, da Lei 7.492/86: assistência da Comissão de Valores Mobiliários
(CVM) e do Banco Central nos Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional;

b) Art. 80-82 do CDC: nos crimes do CDC e em crimes e contravenções contra as relações de
consumo, podem ser assistentes do MP os legitimados do art. 82 (União, Estado, DF, município, órgãos e
entidades da Administração Pública destinados à defesa do consumidor e associações);

c) Art. 530-H do CPP: no crime de violação de direito autoral (art. 184, CP), podem ser
assistentes as associações titulares de direito do autor;
d) Art. 2° do DL 201/67: órgãos federais, estaduais ou municipais interessados na
responsabilização do prefeito.

#OUSESABER: Segundo Brasileiro, é plenamente possível que o Poder Público atue como assistente da
acusação, o que se pode constatar em duas leis:
I - DECRETO-LEI 201/67: Art. 2º, p. 1º - caso em que os poderes públicos (federais, estaduais e municipais)
poderão atuar como assistentes de acusação nos processos de apuração de crimes de responsabilidade em
face de prefeitos;
II - Lei 7492/86: Art. 26, p. un. - permite que a CVM atue como assistente de acusação em crimes financeiros,
quando a atividade financeira do agente criminoso esteja sujeita a sua fiscalização.

7.4 Aspectos processuais

A admissão do assistente é cabível em qualquer momento da ação penal pública, não sendo
admitida a sua atuação na fase anterior ao recebimento da denúncia e no curso da execução criminal.

Ademais, no Tribunal do Júri, o assistente somente será admitido se tiver requerido sua habilitação
até 5 (cinco) dias antes da data da sessão na qual pretenda atuar (art. 430 do CPP).

Outro aspecto relevante a mencionar refere-se à circunstância de que o assistente recebe o processo
no estado em que se encontrar por ocasião de sua habilitação, não sendo lícito ao juiz determinar a
repetição de atos já realizados tão somente para oportunizar a intervenção daquele, tampouco facultar-lhe a
produção de provas cujo momento oportuno já tenha sido superado.

7.5 Poderes do assistente

A intervenção do assistente é ampla, mas não se iguala à do acusador oficial, estando seus poderes
limitados taxativamente no artigo 271 do CPP. Assim, ao assistente será permitido:

a) Propor meios de prova: teoricamente não pode arrolar testemunhas, vez que o rol é proposto na
denúncia, mas nada impede a indicação de testemunhas para serem ouvidas a critério do juiz. Apesar disso,
doutrina e jurisprudência admitem que o assistente arrole testemunhas desde que dentro do número
máximo permitido ou indique testemunhas para serem ouvidas a critério do juiz (“testemunhas do Juízo”).
b) Formular quesitos para a perícia e indicar assistente técnico;

c) Formular perguntas às testemunhas (sempre depois do MP);

d) Aditar os articulados, ou seja, complementar as peças escritas apresentadas pelo MP;

e) Participar do debate oral;

f) Arrazoar os recursos interpostos pelo MP;

g) Interpor e arrazoar seus próprios recursos: o art. 577 do CPP não traz o assistente como legitimado
para interpor recursos, pois trata apenas dos sujeitos processuais com legitimidade ampla, sendo que o
assistente de acusação tem legitimidade restrita e subsidiária (supletiva). Com o crescente entendimento de
que o ofendido tem interesse em uma condenação justa e proporcional (não apenas patrimonial), doutrina e
jurisprudência (STF e STJ) têm admitido a legitimidade recursal do assistente para agravar a pena ou incluir
qualificadora na fase de pronúncia, verificada a inércia do MP.

O prazo para o assistente apresentar recurso é de 15 dias se não habilitado (a petição do recurso
serve como pedido implícito de habilitação) e de 5 dias para o assistente habilitado.

#DEOLHONASÚMULA:
Súmula 448 STF: O prazo para o assistente recorrer supletivamente começa a correr imediatamente após o
transcurso do prazo do Ministério Público.

7.6 O assistente da defesa

Para alguns doutrinadores, a Lei n. 9.099/95 também prevê a figura do “assistente da defesa”, qual
seja, o responsável civil que conduz a composição civil para a satisfação patrimonial da vítima, com
repercussão direta na situação jurídica do infrator, com a extinção da punibilidade.

#OUSESABER: O que se entende por parte adjunta ou adesiva no processo penal?


Parte "adjunta" ou "adesiva" não é nada mais que o assistente de acusação. Enquanto há partes principais
sem as quais o processo penal não existe: MP e acusado; há partes NÃO imprescindíveis ao processo, como o
assistente à acusação. Logo, mesmo sem o assistente, o processo existe.
#OLHAOGANCHO: Admite-se habilitação de assistente de acusação em processo para apuração de ato
infracional?
Não. Conforme jurisprudência pacífica do STJ, o ECA não prevê a figura do assistente de acusação, não
podendo se falar em aplicação analógica do CPP, até porque o escopo do procedimento é diverso, devendo-
se preservar a condição de pessoa em desenvolvimento do infrator. Uma vez não sendo admitida a figura do
assistente de acusação, este, por consectário lógico, caso erroneamente seja habilitado, não tem
legitimidade para recorrer.

#DEOLHONAJURIS: Em regra, o Defensor Público não precisa de mandato (procuração) para representar a
parte, em processos administrativos ou judiciais. Isso está previsto na LC 80/94. Exceção: será necessária
procuração se o Defensor Público for praticar algum dos atos para os quais a lei exige poderes especiais
(exemplos: transigir, desistir, renunciar – art. 38 do CPC). Se a vítima (ou seus sucessores) quiserem ingressar
no processo criminal como assistente de acusação, será necessário que outorguem uma procuração ao
Defensor Público para que este as represente em juízo? NÃO. Quando a Defensoria Pública atuar como
representante do assistente de acusação, é dispensável a juntada de procuração com poderes especiais. O
Defensor Público deve juntar procuração judicial somente nas hipóteses em que a lei exigir poderes
especiais. Atuar como representante do assistente de acusação não é considerado um poder especial, não se
exigindo procuração especial. A participação da Defensoria Pública como representante do assistente de
acusação pode ser negada sob o argumento de que a vítima ou seus sucessores não são hipossuficientes
(“pobres”)? NÃO. Compete à própria Defensoria o direito de apurar o estado de carência de seus assistidos.
STJ. 5ª Turma. HC 293.979-MG, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 5/2/2015 (Info 555).

Segundo o art. 268 do CPP, poderá intervir, como assistente do Ministério Público, o ofendido (pessoalmente
ou por meio de seu representante legal, caso seja incapaz). Caso a vítima tenha morrido, poderá intervir
como assistente: a) o cônjuge; b) o companheiro; c) o ascendente; d) o descendente; ou e) o irmão do
ofendido. Imagine que Maria fez um seguro de vida no qual foi previsto o pagamento de indenização de R$
500 mil a seu marido (João) caso ela morresse. Alguns meses depois, Maria apareceu morta, envenenada. O
inquérito policial concluiu que havia suspeitas de que João foi o autor do crime, razão pela qual ele foi
denunciado por homicídio doloso. Uma das cláusulas do contrato prevê que, se o beneficiário foi quem
causou a morte da segurada, ele não terá direito à indenização. A seguradora poderá intervir no processo
criminal como assistente da acusação para provar que João foi o autor do crime? NÃO. A seguradora não
tem direito líquido e certo de figurar como assistente do Ministério Público em ação penal na qual o
beneficiário do seguro de vida é acusado de ter praticado o homicídio do segurado. O art. 268 prevê quem
poderá intervir como assistente de acusação e neste rol não se inclui a seguradora. O ROL É DO CADI! O
sujeito passivo do crime de homicídio é o ser humano e o bem jurídico é a vida, de forma que, por mais que
se reconheça que a seguradora possui interesse patrimonial no resultado da causa, isso não a torna vítima do
homicídio. Vale ressaltar que, em alguns casos, a legislação autoriza que certas pessoas ou entidades, mesmo
não sendo vítimas do crime, intervenham como assistentes de acusação. STJ. 6ª Turma. RMS 47.575-SP, Rel.
Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 14/4/2015 (Info 560).

Durante os debates no Plenário do Tribunal do Júri, o Promotor de Justiça pediu a absolvição do réu, tendo
ele sido absolvido pelos jurados. O assistente de acusação, que intervinha no processo, tem legitimidade
para recorrer contra essa decisão? SIM. O assistente de acusação possui legitimidade para interpor recurso
de apelação, em caráter supletivo, nos termos do art. 598 do CPP, ainda que o Ministério Público tenha
requerido a absolvição do réu. STJ. 6ª Turma. REsp 1.451.720-SP, Rel. originário Min. Sebastião Reis Júnior,
Rel. para acórdão Min. Nefi Cordeiro, julgado em 28/4/2015 (Info 564).

8. Os auxiliares da Justiça

É a designação genérica dos auxiliares permanentes, cuja participação é obrigatória em todos os


processos (oficial de justiça, escrivão, etc.), e dos sujeitos variáveis da administração da justiça, como os
peritos e intérpretes. Em regra, os auxiliares da justiça gozam de fé pública (presunção juris tantum).

Aplicam-se as prescrições sobre suspeição aos auxiliares da justiça (art. 274, CPP). As partes podem
arguir o embaraço, devendo o juiz decidir de plano, sem possibilidade de recurso (art. 105, CPP). Não se pode
opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito, mas elas deverão declarar-se suspeitas,
quando ocorrer motivo legal (art. 107, CPP).

Os peritos e os intérpretes são auxiliares eventuais da justiça para casos que exijam conhecimentos
especializados. Possuem o mesmo dever de veracidade das testemunhas. São aplicáveis a eles, além das
hipóteses de suspeição do juiz, mais três impedimentos:
a) os que estiverem sujeitos a penas restritivas de direito de interdição temporária do exercício da
profissão ou cargo público;
b) os que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente sobre o objeto da
perícia;
c) os analfabetos e os menores de 21 anos.
9. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO

DIPLOMA DISPOSITIVOS
Constituição Federal Art. 127 e art. 129
Código de Processo Penal Art. 251 a 281

10. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

Jurisprudência do site Dizer o Direito.

Manual de Processo Penal – Renato Brasileiro.

Manual de Processo Penal – Nestor Távora.

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