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CURSO DE ADAPTAÇÃO À GRADUAÇÃO DE SARGENTO

CHEFIA E LIDERANÇA MILITAR

Belém – PA
2023

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APRESENTAÇÃO

O presente material didático corresponde à disciplina Chefia e Liderança


Militar e tem como objetivo nortear o corpo discente e docente no processo de ensino-
aprendizagem dos assuntos relacionados a Liderança no âmbito da Polícia Militar do
Pará.

A importância da disciplina se justifica pela necessidade de proporcionar ao


aluno os conhecimentos teóricos e práticos que deverão ser adotados como fonte
basilar de tratamento entre o sargento, seus comandados e a própria sociedade.

Na medida em que a sociedade se transforma e a corporação acompanha esta


transformação, faz-se necessária a qualificação de seus profissionais. Dentro deste
contexto, torna-se indispensável profissionais que liderem e caminhem no sentido de
enriquecer os objetivos e princípios da instituição, através de ações integradas que
fortaleçam o diálogo e mantenham o processo de comunicação claro e aberto.

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Sumário
INTRODUÇÃO 3

1 - Conceitos básicos 4

2 - Formas de Liderança 7

3 - Liderança Militar 9

4 - Liderança Militar em função dos valores militares 13

5 - Princípios da Liderança Militar do Exército Brasileiro 20

6 - Liderança Organizacional 26

7 - Estilos de Comando 29

8 - Requisitos da Liderança Militar 31

9 - Estudo de Casos de Liderança Militar 33

A liderança de Caxias na Batalha de Itororó 34

A liderança do Fontoura na Guerra de Canudos 34

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CHEFIA E LIDERANÇA MILITAR

INTRODUÇÃO

O exercício da Liderança Policial Militar está intimamente ligado ao ethos


militar, que através de conhecimento metódico da missão policial militar ou pelas
experiências do dia-a-dia tornam o policial militar uma pessoa diferente na sociedade
em que vive. O líder militar lida com a “arma” mais poderosa das tropas militares: o
ser humano. Daí a necessidade dos comandantes de tropas, sejam elas de fração
elementar ou constituída, adotarem uma postura coesa e que denote credibilidade.

A PMPA tem ao longo de 203 anos formando líderes militares, que atuam em
conflitos armados, resolução de problemas sociais e preservando a ordem pública,
como bem assevera a Constituição Federal em seu Art. 144, § 5º1. Nosso estudo terá
como fundamentação teórica o Manual de Campanha do Exército C 20 10 de
Liderança Militar, dentre outras literaturas.

1 Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros
militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.

§ 6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se,
juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.

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1 - CONCEITOS BÁSICOS

Liderança

Segundo o Dicionário Aurélio da língua portuguesa, liderança é uma forma de


dominação baseada no prestígio pessoal, a qual é aceita pelos dirigidos; é a
capacidade de liderar, espírito de chefia; é a função de líder.

Por vezes, o termo liderança pode ser confundido com gerência. Entretanto,
estudiosos do assunto frisam que a liderança não é sinônimo de gerência,
administração ou chefia.

Independentemente do conceito adotado, quatro fatores sempre estarão


presentes quando da manifestação desse fenômeno:

- Uma situação;

- O líder;

- Os liderados; e

- A interação entre líder e liderados.

(1) A situação é criada pelo somatório de elementos de origens interna e


externa que venham a exercer influência sobre o grupo (líder e liderados), a
sociedade ou a instituição. Tais elementos surgirão de ações ou reações ocorridas
nos diversos campos do poder (político, econômico, psicossocial, militar e científico-
tecnológico), afetando a capacidade e a motivação do grupo para o cumprimento de
suas tarefas.

(2) O líder atua como um elemento que influencia o comportamento dos


liderados, independentemente de suas vontades.

(3) Os liderados são o grupo sobre o qual o líder irá exercer a sua influência e
com o qual irá interagir. O conhecimento dos liderados, por parte do líder, é fator
primordial para o exercício da liderança e depende do entendimento claro da natureza
humana, de suas necessidades, emoções e motivações.

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(4) A interação é vital para que ocorra a liderança de um indivíduo em relação a um
grupo. É o processo pelo qual informações, ideias, pensamentos, sentimentos e
emoções tramitam entre os membros do grupo, permitindo a inter-relação entre eles.

Líder

Por líder entende-se ser aquele que consegue estabelecer uma interação
pessoal com o grupo/equipe, influenciando estes a se comprometerem com a busca
de objetivos comuns. Liderar significa descobrir o poder que existe nas pessoas,
torná-las capazes de criatividade, auto realização e visualização de um futuro melhor
para si e para a organização em que trabalham.

Todo policial militar exerce autoridade mediante o poder que o cargo lhe
confere, a liderança militar deve ser efetivada para além do que seu cargo lhe
impulsiona. Liderar, é mais do que exercer a autoridade, é a habilidade de exercer
influência e ser influenciado pelo grupo, através de um processo de relações
interpessoais adequadas para a consecução de um ou mais objetivos comuns a todos
os participantes.

Sendo assim, o maior desafio das organizações é justamente agregar ao cargo


da chefia características de liderança para o melhoramento e maior desempenho dos
colaboradores sob o comando do chefe, dessa forma, criando a possibilidade de se
ter uma chefia com liderança.

Liderança Militar

A liderança militar não é algo que surge de uma hora para a outra, mas é
construída com o passar do tempo, é fruto do relacionamento interpessoal
estabelecido no cumprimento das missões militares. Sintetizando, é possível afirmar
que:

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Liderança Policial Militar

É o processo de influência interpessoal, que logre inspirar e motivar os pares e


subordinados, observando os princípios basilares da Polícia Militar do Pará, quais
sejam, a hierarquia e a disciplina. Agregando nessa Liderança a vontade de servir, o
desprendimento para delegar poderes, as qualidades de alguém que é confiável,
firme e decisiva (CARNEGIE, 2019, pag.06).

A Liderança Policial Militar não se exaure no ambiente castrense, tendo o


policial militar papel importante na sociedade, exercendo forte liderança na
comunidade onde trabalha. Nesse sentido, a sociedade espera do policial militar uma
conduta que seja referência: “pelas suas virtudes supremas, pela conduta airosa,
pela coragem, pela postura firme e determinada; pelo porte físico, pelas elevadas
qualidades pessoais e profissionais, pela bravura e impavidez.” (BRITO, 2010, pag.
41).

Comando

O Código de Ética e Disciplina da PMPA em seu artigo 8º assim define:


“Comando é a soma de autoridade, deveres e responsabilidade que o policial militar é
investido legalmente, quando conduz homens ou dirige uma Organização Policial
Militar. O Comando é vinculado ao grau hierárquico e constitui prerrogativa
impessoal, na qual se define e se caracteriza como chefe.” (Lei 6.833/2066, CEDPM).

Superior Hierárquico

O § 2º do art. 8º do CEDPM define que: “O policial militar que, em virtude da


função, exerce autoridade sobre outro de igual posto ou graduação considera-se

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superior para efeito da aplicação das cominações previstas nesta Lei.” (Lei
6.833/2066, CEDPM).

Subordinação

A subordinação militar baseia-se no cumprimento das leis e regulamentos


respectivos e no dever de obediência aos escalões hierárquicos superiores.
Conforme o artigo 9º do CEDPM: “A subordinação não afeta, de modo algum, a
dignidade pessoal do policial militar e decorre, exclusivamente, da estrutura
hierarquizada da Polícia Militar.” (Lei 6.833/2066, CEDPM).

2 - FORMAS DE LIDERANÇA

Pode-se afirmar, de acordo com Manual de Liderança do Exército Brasileiro,


que a liderança é exercida basicamente de duas formas: a direta e a indireta.

Fig. 01 – Formas de liderança

Liderança direta

(1) A liderança direta, como o próprio nome indica, ocorre em situações nas
quais o líder influencia diretamente os liderados, falando a eles com frequência e
fornecendo exemplos pessoais daquilo que prega.
(2) O líder, nesse caso, estará na linha de frente, interagindo frequentemente
com o grupo.

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(3) Por intermédio da liderança direta, laços de confiança sólidos e duradouros
são estabelecidos com os indivíduos, uma vez que o líder pode satisfazer, em
melhores condições, às necessidades de interação com os seus liderados.
(4) Na antiguidade, os comandantes de grandes exércitos criavam laços de
liderança com seus comandados, principalmente, por meio de exemplos de coragem,
demonstrados nas batalhas travadas contra inimigos ferozes. Nelas, eles
participavam dos combates correndo os mesmos perigos que os liderados. Esses
homens, sem dúvida, exerciam a liderança de forma direta, embora comandassem
dezenas de milhares de soldados.
(5) Nos dias atuais, normalmente exercem a liderança direta aqueles
comandantes que têm oportunidade de interagir diariamente com os subordinados,
observando e sendo observados de perto.

(6) Nesse nível, o líder estará sempre junto aos seus liderados, fornecendo
bons exemplos pessoais. Por essa proximidade, o líder deverá estar atento aos
detalhes, uma vez que as falhas ou erros, porventura cometidos, serão identificados
com facilidade pelo grupo. (Fig.01)

Liderança indireta

(1) Na liderança indireta, o líder exerce a sua influência atuando por intermédio
de outros líderes a ele subordinados. Nesse caso, para que consiga influenciar os
liderados nos escalões subordinados, é fundamental que se estabeleça uma cadeia
de lideranças que atinja todos os indivíduos do grupo. Em outras palavras, é preciso
que os líderes nos níveis intermediários aceitem as ideias daquele que se encontra no
topo da pirâmide e as transmitam aos respectivos liderados como se fossem suas,
evitando quaisquer distorções de entendimento da mensagem.
(2) Em grandes grupos humanos ou em organizações complexas, isso tenderá
a não acontecer e, por esse motivo, o líder de maior nível deverá empenhar-se para
exercer, também, a liderança direta, buscando contato mais aproximado com todos os
liderados, inclusive os dos escalões mais baixos.

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(3) Atualmente, os modernos meios de comunicação de massa possibilitam aos
líderes, em muitas situações, falar diretamente a todos os liderados e ser visto por
todos eles. (Fig.01)

3 - LIDERANÇA MILITAR

Generalidades

(1) Todas as Organizações Militares (OM) estruturam-se em uma hierarquia de


cargos, que define as relações de comando e de subordinação entre os seus
integrantes.
(2) Há comandantes em diferentes escalões, os quais, por vezes, são
chamados de chefes ou diretores, de acordo com a denominação do cargo que
ocupam. Neste manual, ao se utilizar a expressão “comandante”, faz-se referência
também aos chefes e aos diretores militares, uma vez que todos exercem ação de
comando.
(3) A ação de comando pode ser exercida por oficiais e praças. Todo
comandante está investido de uma autoridade legal para exercer suas funções, isto é,
detém um poder que lhe foi delegado por intermédio de leis e regulamentos, ou por
força de uma situação.
(4) Pode-se observar que as diferentes atribuições e prerrogativas do
comandante mencionadas até agora se situam em uma esfera formal. Ou seja, elas
derivam do próprio cargo ocupado pelo comandante ou da função específica,
independentemente das características das pessoas envolvidas na execução das
atividades, ou da missão atribuída ao grupo militar.
(5) Entretanto, mais do que exercer autoridade sobre militares subordinados,
comandar implica lidar com pessoas. Cada militar possui traços de personalidades
distintos e complexos, possui motivações, necessidades, interesses e desejos, os
quais vão além de suas atribuições formais e interferem diretamente no modo como
será cumprida sua missão. Ao lidar com tais aspectos humanos, o comandante passa
a atuar também na esfera informal do relacionamento interpessoal.
(6) Como foi visto, o comandante possui uma autoridade legal, que implica no
fato de que seus subordinados têm a obrigação de cumprir suas ordens. Mas como

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fazer com que as ordens sejam cumpridas da melhor forma possível? Como estimular
os subordinados a contribuírem espontaneamente para o bom andamento do serviço?
Como os fazer agir proativamente, buscando prevenir problemas, propor soluções e
sugerir inovações? Como estabelecer um bom ambiente de trabalho, em que a
cooperação e a camaradagem sejam a regra? Como influenciar a mudança de atitude
dos subordinados que apresentam dificuldades profissionais ou pessoais? Como os
conduzir ao combate em busca do cumprimento da missão, mesmo quando as
circunstâncias envolvem condições extremas e risco de perder a vida?
(7) Questões como essas transcendem o mero exercício formal da autoridade
pelo comandante. Não se trata apenas do cumprimento exterior, mecânico, de ordens,
mas de um envolvimento pessoal, interior, nas tarefas realizadas. Pode-se chamar,
também, de comprometimento afetivo, pois engloba o campo dos valores,
sentimentos e emoções humanas.
(8) Embora muitas vezes não seja percebido, esse campo está sempre
presente nas atividades militares. Cabe ao comandante procurar observá-lo, conhecê-
lo e considerá-lo em suas decisões.
(9) Naturalmente, os subordinados possuem expectativas em relação ao seu
comandante. Esperam, por exemplo, que o chefe militar exerça com seriedade e
responsabilidade suas funções. Esperam que tenha conhecimento profissional
suficiente para dar direções seguras ao grupo que comanda, que atue com justiça e
transparência.
(10) Tal postura requer interesse em conhecer as particularidades dos
subordinados, suas necessidades, dificuldades e aspirações. Significa levar em
consideração esses aspectos nas decisões de comando, tentando conciliar as
características dos subordinados às necessidades do serviço e objetivando cumprir a
missão da melhor maneira possível.
(11) O comandante deve exigir de seus subordinados a máxima dedicação ao
serviço. Por outro lado, deve estar atento aos seus problemas e oferecer apoio nas
dificuldades.

(12) Quando o comandante manifesta interesse genuíno por seus


subordinados e realmente se dedica a conduzi-los com profissionalismo e senso de

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justiça, começa a se estabelecer um vínculo, que ultrapassa as relações formais. Ao
longo do tempo, os subordinados passam a considerá-lo não apenas pela autoridade
formal de comandante, mas desenvolvem respeito à sua pessoa. Pode-se dizer,
então, que começa a emergir a liderança.

Aspectos Básicos

A liderança militar estabelecer-se-á apoiada basicamente em três pilares:


- Proficiência profissional;
- Senso moral e traços de personalidade característicos de um líder; e
- Atitudes adequadas.
Assim, observa-se o que o líder deve saber, ser e fazer, além de interagir com
o grupo e com a situação. São os fatores que criam e sustentam a credibilidade do
líder militar. (Fig. 2)

Fig. 2 – Pilares da Liderança Militar

Proficiência Profissional (saber)

(1) A proficiência profissional indica capacidade, conhecimento, cultura. É


condição sine qua non para o exercício da liderança, pois é a primeira qualidade que
se observa e se exige de alguém que exerce uma função de comando. Abrange,
além dos conhecimentos peculiares à profissão, a capacitação física para estar à
frente dos trabalhos a serem realizados, a habilidade para se comunicar de modo

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eficaz com o grupo, o conhecimento de seus liderados e, sobretudo, o cuidado para
interagir com pessoas, respeitando-as em suas deficiências e dificuldades.

Senso Moral (ser)

(2) O senso moral diferencia os que usam o poder que determinado cargo lhes
confere para fazer o bem e agir em prol da coletividade e da missão, dos que se
aproveitam do cargo para auferir vantagens pessoais. Implica na incorporação à
personalidade (caráter e temperamento) de importantes valores morais.
O indivíduo deve possuir determinados traços de personalidade. A capacidade
de liderança ocorre da junção harmoniosa de valores e de características desejáveis
da personalidade (o ser) com os diversos conhecimentos necessários a um líder (o
saber).
Atitude adequada (fazer)

(3) A atitude adequada, fator preponderante para capacitá-lo ao exercício da


liderança (o fazer), deve ser evidenciada na forma como o homem emprega os
valores e as competências de sua personalidade com as ferramentas que seus
conhecimentos lhe oferecem.
(4) A motivação para liderar será o elemento disparador que levará o líder a
integrar os três pilares acima abordados.

(5) No entanto, ainda que determinado militar possua adequada capacidade de


liderança e motivação para exercê-la, isso não assegura que ele venha a ser um bom
líder. O processo de influência do líder sobre os liderados dependerá de como se
relacionarão os quatro fatores da liderança (situação – líder – liderados – e interação
entre líder e liderados) em determinado contexto.

4 - LIDERANÇA MILITAR EM FUNÇÃO DOS VALORES MILITARES


Dos Valores Militares

No Estatuto dos Militares estão previstos os Preceitos da Ética Militar, que


exigem dos militares condutas moral e profissional irrepreensíveis. Eles são
particularmente importantes para aqueles que exercem funções de comando em
todos os níveis, porque os subordinados esperam que seus comandantes ajam à luz

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do que prescreve a lei. Se assim não o fizerem, serão questionados por isso e
poderão ter grande dificuldade para estabelecerem laços de liderança com os
subordinados.
Os valores representam o grau de importância atribuído, subjetivamente, a
pessoas, conceitos ou fatos. Não são inatos e, sim, aprendidos, variando de acordo
com a sociedade, a cultura e a época. Não podem ser vistos nem ouvidos, mas,
apesar disso, são reais, influenciam de modo consciente ou inconsciente o
comportamento e guiam o indivíduo e o grupo.

Valores Militares são preceitos que, por corporificarem um ideal de plenitude


profissional, devem ser buscados pelos militares.

“São manifestações do Valor Militar (Art 27 do E1-80):

- o patriotismo, traduzido pela vontade inabalável de cumprir o


dever militar e pelo solene juramento de fidelidade à Pátria, até
com o sacrifício da própria vida;

- o civismo e o culto às tradições históricas;

- a fé na missão elevada das Forças Armadas;

- o espírito de corpo, orgulho do militar pela organização onde


serve;

- o amor à profissão das armas e o entusiasmo com que é


exercida; e - o aprimoramento técnico-profissional.”

Para possibilitar um melhor entendimento, os valores aqui estudados serão


divididos em dois grupos: valores básicos e valores militares.

1 – Valores básicos

a) Honra
A honra significa a consciência da própria dignidade, que faz a pessoa agir de
modo a conservar a própria estima e merecer a dos outros. Traduz-se na caserna,
também, como o pundonor militar. É fácil entender que líderes, em qualquer nível, não
podem ser pessoas que tenham a honra abalada. Nessa situação, seria muito difícil
que conseguissem liderar seus comandados. Por isso, é preciso que os comandantes
saibam o que é a honra e qual a importância que ela tem para a liderança militar.
b) Honestidade

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A honestidade é um valor derivado da honra e estreitamente relacionado com a
verdade. A pessoa honesta executa as suas atividades sem enganar ou fraudar e não
admite a corrupção. É inconcebível um líder desonesto, que se deixa corromper por
vantagens oferecidas em troca da execução de ações ilícitas do ponto de vista moral
ou legal. Para o líder, mais importante do que lograr vantagens pessoais e pôr em
risco a sua honra é o seu senso moral e a sua consciência.
c) Verdade
A verdade, tão cara e necessária aos militares, está implícita na honestidade,
mas tem o seu significado próprio, pois também representa a realidade e a
autenticidade. É imprescindível que o militar fale a verdade, e seja autêntico em suas
atitudes perante subordinados, pares, ou superiores.
O militar mentiroso ou falso é figura inadmissível e certamente será rejeitado
pelos seus camaradas em todos os escalões, uma vez que o repúdio à mentira e à
falsidade está profundamente enraizado no inconsciente coletivo dos militares. Por
essa razão, o mentiroso ou falso jamais conseguirá liderar seus subordinados.
d) Justiça
O senso de justiça pode ser definido como o dever moral de dar a cada
indivíduo o que lhe é devido. É a base insubstituível do relacionamento entre as
pessoas e dessas com o Estado. Uma das maiores responsabilidades dos líderes é
mostrar aos subordinados, pela palavra e pelo exemplo, o senso de justiça, que se
traduz em uma consciência clara dos próprios direitos e deveres, bem como dos
direitos e dos deveres dos outros.
Qualquer militar que tenha o privilégio de ocupar um cargo com autoridade
sobre outros indivíduos não pode perder de vista que tem a obrigação moral de
dedicar-se à proteção e à orientação daqueles que lhe são subordinados. Eles estão
sob sua responsabilidade e dependem, quase que inteiramente, do seu senso de
justiça e de suas decisões.
A injustiça praticada contra alguém provoca ressentimentos difíceis de serem
esquecidos. No que diz respeito à liderança, pode-se afirmar que a injustiça praticada
contra um membro de um grupo solapa e destrói a confiança no líder. Caso o líder
perceba que cometeu uma injustiça, deve buscar repará-la imediatamente.

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e) Respeito
O respeito, como valor, é um sentimento de consideração àquelas pessoas ou
coisas dignas de reverência, deferência e gratidão, como os pais, os idosos, as
autoridades responsáveis pelos destinos do País e das instituições, os mestres, as
coisas consideradas sagradas, a família, as personalidades, os comandantes e os
heróis da História de nossa Pátria, bem como os símbolos que a representam.
O respeito é um valor que caminha em quatro direções principais: o respeito
aos entes religiosos; o respeito às leis e aos regulamentos; o respeito aos camaradas;
e o respeito às pessoas em geral. O líder militar tem a obrigação de respeitar os
superiores hierárquicos, de tratar com afeição os irmãos de armas e o subordinado
com dignidade e urbanidade.
f) Lealdade
A lealdade é um valor relacionado com atitudes de solidariedade à instituição
ou ao grupo a que se pertence e se manifesta pela verdade no falar, pela sinceridade
no agir e pela fidelidade no cumprimento do dever e das responsabilidades
assumidas.
A lealdade às pessoas deverá existir em função dos demais valores que elas
defendem ou representam e não em função do cargo ou do poder de que estão
investidas.
Para que a lealdade entre os integrantes de um grupo militar seja estabelecida,
alguns pontos devem ser observados: - a importância da reciprocidade, ou seja, a
lealdade tem que ser recíproca; - a lealdade ao comandante, que arca com a
responsabilidade funcional de conduzir uma organização ou um grupo; - a lealdade
aos companheiros do mesmo nível hierárquico; - a lealdade aos subordinados; e - a
conquista da lealdade, ou seja, não há maneira de exigir que outras pessoas nos
sejam leais; a lealdade tem que ser conquistada.
Não existe coesão em um grupo em que não reine a lealdade, pois, nessas
condições, não se desenvolve a confiança mútua e o grupo se desagrega quando
surgem as primeiras dificuldades.
g) Integridade

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A integridade de caráter ou probidade é o valor moral identificado como o mais
importante, porque condensa todos os demais. A integridade deve ser entendida
como a qualidade daquele a quem nada falta do ponto de vista moral e sugere a ideia
de um caráter sem falhas. Portanto, o militar íntegro ou probo é honrado, honesto,
verdadeiro, justo, respeitoso e leal.
2 – Valores Militares

a) Patriotismo
O patriotismo é o amor incondicional à Pátria e às suas tradições. O patriota
coloca os interesses do País acima dos particulares, sendo capaz de renúncias e
sacrifícios em prol do cumprimento de objetivos que contribuam para o crescimento
de sua comunidade e de sua sociedade. A Pátria é o país em que nascemos e ao
qual estamos presos por profundas raízes pessoais e familiares. A ideia de Pátria
carrega um forte potencial emocional porque enfatiza a continuidade histórica de um
povo, isto é, a sucessão de gerações que construíram, com sacrifício, o patrimônio
comum do território conquistado, das riquezas, das ideias, dos símbolos, da
miscigenação das raças, da linguagem e dos valores culturais. Implica, ainda, no
entendimento de que esse patrimônio herdado dos antepassados deve ser transmitido
aos filhos, aos netos e aos bisnetos, em uma infindável sucessão de gerações. A
Pátria é uma entidade fundamental que, muitas vezes, só se aprecia devidamente
quando dela se é privado.
b) Civismo
O civismo caracteriza-se pelo cumprimento dos deveres de cidadania e dos
esforços necessários ao progresso e ao engrandecimento do País. O militar com
espírito cívico atua e participa das atividades de sua comunidade e sociedade.
Civismo é o zelo pela preservação e pelo fortalecimento dos valores nacionais. É a
dedicação à família. É a solidariedade com os demais cidadãos em momentos de
crise. O civismo não se desenvolve apenas pelo aprendizado das regras, senão pela
atuação intensa e permanente em benefício da Pátria. É o respeito pelas tradições
históricas, pelos heróis nacionais e pelos valores que eles defendiam, bem como
pelos símbolos nacionais, que representam o povo e a sua cultura, a Nação e a
Pátria.

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c) Idealismo
O idealismo é um valor resultante de dois vetores: a fé na missão da PMPA e o
amor à profissão policial militar, cuja expressão é o entusiasmo profissional.
d) Espírito de Corpo
O espírito de corpo caracteriza-se pelo sentimento de orgulho de pertencer a
PMPA
e) Disciplina
A disciplina, um dos pilares de qualquer exército profissional, é um importante
valor que traduz a capacidade de proceder, de modo consciente e espontâneo,
conforme as ordens legais recebidas, as normas e as leis estabelecidas.
f) Interesse pelo aprimoramento técnico-profissional.
Sendo a guerra uma arte em constante evolução, o aprimoramento técnico-
profissional é condição indispensável para que qualquer militar seja proficiente na
carreira das armas. É conveniente lembrar que a proficiência é um dos pilares da
liderança militar. Além dos ensinamentos colhidos nos bancos escolares e nas suas
experiências de vida, todos os militares devem buscar o auto aperfeiçoamento, que
traduz a disposição ativa para mobilizar seus recursos internos, visando a aprimorar e
a atualizar os seus conhecimentos.
Dos Valores Policiais Militares

A Lei nº 6.833/2006 que instituiu o Código de Ética e Disciplina da PMPA,


elenca no Art. 17 os valores policiais militares, trazendo em seu caput a seguinte
definição: “São atributos inerentes à conduta do policial militar, que se
consubstanciam em valores policiais militares”.

Ainda de acordo com o CEDPM no § 1º do Art. 17 ressalta que: “Os valores


cominados no caput deste artigo são essenciais para o entendimento objetivo do
sentimento do dever, da honra pessoal, do pundonor policial-militar, do decoro da
classe, da dignidade e compatibilidade com o cargo.

No exercício da Liderança, o militar não pode deixar de observar e praticar tais


valores, eles devem ser o norte para o comandamento de qualquer corpo de tropa,

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direcionando as decisões para aquilo que for ético e legal, bem como fortalecendo a
Corporação.

Decidir e agir em uma situação concreta envolve, via de regra, aspectos de


ordem moral. Ao líder compete desenvolver, em si próprio e nos seus liderados,
sobretudo pelo exemplo, a consciência de elevados padrões morais, capazes de fazê-
los exibir conduta ilibada sob quaisquer circunstâncias. Não transigir com os
princípios e padrões morais confere ao líder o respeito e a confiança dos
subordinados, mesmo que eventualmente suas atitudes sejam pouco simpáticas.
O líder militar deverá possuir uma consciência reta e trabalhará para preservar
os valores morais que são inerentes à sua profissão. Não poderá entregar-se à
imoralidade ou à infração voluntária e consciente de princípios morais consagrados;
tampouco poderá ser um amoral, isto é, uma pessoa que perdeu o senso moral e
tornou-se incapaz de discernir entre o bem e o mal.
Portanto, pode-se afirmar que o comportamento do militar, em qualquer nível
hierárquico, deve-se subordinar aos ditames dos elevados padrões de integridade de
caráter, encerrados na própria concepção de sua atividade profissional.

Citaremos abaixo os valores policiais militares elencados no Código de Ética


da PMPA:

I. a cidadania;
II. o respeito à dignidade humana;
III. a primazia pela liberdade, justiça e solidariedade;
IV. a promoção do bem-estar social sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade, religião e quaisquer outras formas de discriminação;
V. a defesa do Estado e das instituições democráticas;
VI. a educação, cultura e bom condicionamento físico;
VII. a assistência à família;
VIII. o respeito e assistência à criança, ao adolescente, ao idoso e ao índio;
IX. o respeito e preservação do meio ambiente;
X. o profissionalismo;
XI. a lealdade;

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XII. a constância;
XIII. a verdade real;
XIV. a honra;
XV. a honestidade;
XVI. o respeito à hierarquia;
XVII. a disciplina;
XVIII. a coragem;
XIX. o patriotismo;
XX. o sentimento de servir à comunidade estadual;
XXI. o integral devotamento à preservação da ordem pública, mesmo com o risco da
própria vida;
XXII. o civismo e o culto das tradições históricas;
XXIII. a fé na missão elevada da Polícia Militar;
XXIV. o espírito de corpo, orgulho do policial militar pela OPM onde serve;
XXV. o amor à profissão policial-militar e o entusiasmo com que é exercida;
XXVI. o aprimoramento técnico-profissional.

A Hierarquia Militar como Fundamento da Liderança Militar

A Hierarquia e a disciplina são a base institucional das Forças Armadas, como


a Polícia Militar é força auxiliar do Exército Brasileiro, é instituição de Estado e seus
integrantes compõem a força militar no âmbito estadual, logo adota como seus
princípios fundamentais a Hierarquia e a Disciplina.

De acordo com o CEDPM em seu Art. 5º a Hierarquia Policial Militar é


definidas como: “A hierarquia policial militar é a ordenação progressiva da autoridade,
em níveis diferentes, decorrente da obediência dentro da estrutura da Polícia Militar,
alcançando seu grau máximo no Governador do Estado, que é o Comandante
Supremo da Corporação.”

A autoridade e a responsabilidade crescem com o grau hierárquico, sendo


que, a ordenação se faz por postos ou graduações; dentro de um mesmo posto ou

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graduação se faz pela antiguidade no posto ou na graduação. O respeito à hierarquia
é consubstanciado no espírito de acatamento à sequência de autoridade.

A disciplina e o respeito à hierarquia devem ser mantidos em todas as


circunstâncias da vida entre militares da ativa, da reserva remunerada e reformados.

5 - PRINCÍPIOS DA LIDERANÇA MILITAR DO EXÉRCITO BRASILEIRO

Este capítulo foi retirado do Caderno de Instrução “Liderança Militar”, utilizado


na AMAN, foi aproveitado pela comissão encarregada de elaborar o anteprojeto do
novo C20-10, Liderança Militar.

O objetivo deste capítulo é transmitir algumas orientações práticas sobre o


comando e a liderança militar, o que será feito por intermédio de 12 princípios de
liderança, que são ações importantes a serem desenvolvidas pelo comandante para
a construção da liderança militar, que deve obter junto aos seus subordinados.

Estudar e entender o fenômeno da liderança é simples, quando esta tarefa é


comparada ao seu exercício. Sempre é mais fácil dizer “o que fazer”, do que “como
fazer”, sendo mais complicado, ainda, passar à realidade, ou seja, executar “o que se
quer fazer”.

No caso específico da liderança militar, o comandante, em qualquer nível


hierárquico, lidará com pessoas e com situações diferentes umas das outras, por isto,
é tarefa muito complexa estabelecer fórmulas ou regras que assegurem o sucesso. É
importante frisar que para liderar não basta querer, é preciso um pouco mais que o
simples exercício da vontade.

Aqui serão estudados princípios ou orientações que abrem caminho para que
um comandante se torne o líder daqueles que comanda. Eles descrevem ações
aparentemente simples, mas que, praticadas em conjunto, dão bons resultados.
Contudo, exigirão persistência e bom senso por parte de quem os praticar.

Serão chamados de Princípios de Liderança Militar.

21
1º PRINCÍPIO - Conheça os indivíduos que estão sob suas ordens e
tenha interesse pelo seu crescimento profissional e bem estar.

Não é possível trabalhar entrosado com um grupo sem conhecer as pessoas


que o integram. Se assim não for, será muito difícil colocar a pessoa certa no lugar
certo, isto é, fazer com que cada um exerça suas atividades na função mais
adequada ao seu perfil profissional. É interessante observar que o conhecimento das
habilidades e da personalidade dos liderados (caráter e temperamento) permitirá a
composição de equipes homogêneas, cujos integrantes se complementem em suas
capacidades.

O líder militar administra dois interesses antagônicos: o interesse do serviço e


o interesse dos subordinados. O interesse do serviço é balizado pela missão que
precisa ser cumprida.

2º PRINCÍPIO - Comunique-se com correção e eficiência.

Já foi explicado anteriormente que sem comunicação não pode haver


liderança e que o líder irá convencer os liderados a agirem de uma determinada
maneira por intermédio de palavras e bons exemplos. Em consequência, o
comandante tem que se comunicar de modo correto.

Na comunicação com os subordinados, em princípio, não se deve proferir


palavras de baixo calão, que vulgarizam a mensagem, diminuindo sua importância.

O comandante falará usando palavras que sejam conhecidas pelos


interlocutores. Se as pessoas com quem fala não o entenderem, não haverá
comunicação e a mensagem ficará perdida.

3º PRINCÍPIO - Aja com decisão e firme autoridade, mas tenha


paciência, empatia e tato.

O líder militar, em muitas situações, terá que decidir e dar ordens. Entretanto,
só deverá tomar decisões e emitir as ordens correspondentes após estudar as
situações que se apresentarem. Reunirá todos os dados disponíveis e, se houver

22
tempo, consultará os especialistas no assunto em pauta; não deverá esquecer que,
mais adiante, poderá necessitar de argumentos convincentes para defender e
justificar seus pontos de vista e as decisões tomadas.

No trato com seu pessoal, o líder militar será decidido e usará de firme
autoridade, sem esquecer que é necessário temperar a firmeza com paciência,
empatia e tato. Não é preciso gritar ou ofender as pessoas, perdendo o equilíbrio
emocional. Procederá com sereno rigor.

Neste contexto, é fundamental contar-se com líderes pacientes, dotados de


elevado tato e desenvolvida empatia, que saibam dosar suas ações e argumentem
com as pessoas com firmeza, mas sem feri-las ou ofendê-las.

4º PRINCÍPIO - Ensine o subordinado a confiar.

A confiança é o alicerce da credibilidade que o líder militar desfruta junto aos


liderados.

Mas esta confiança não surge do nada e não aparece de repente. A confiança
no líder vai surgindo aos poucos, à medida que os liderados nele identificam uma
pessoa digna de respeito.

Por isto, se o comandante quiser liderar não poderá dar maus exemplos,
mostrando que não possui alguma das parcelas da capacidade de liderança: atitude
positiva evidenciada para comandar, conhecimentos, habilidades, senso moral e
atributos da área afetiva que favorecem a liderança militar.

Mas não é apenas no líder que os liderados devem confiar. Precisam confiar
no grupo ao qual pertencem, nos equipamentos e processos com os quais trabalham
e, sobretudo, em si próprios.

5º PRINCÍPIO - Pondere suas decisões e mantenha o equilíbrio


emocional.

23
O juízo sobre a situação-problema está diretamente ligado à capacidade de
decisão do líder. Não é suficiente decidir. É preciso escolher uma linha de ação que
conduza a bons resultados.

Para decidir de forma ponderada não se deve agir intempestivamente, é


preciso pensar refletir por algum tempo, o que variará segundo a gravidade e a
urgência do problema.

No relacionamento com outras pessoas é muito importante manter uma atitude


de equilíbrio e calma. Este estado emocional desarma as intenções agressivas dos
interlocutores e facilita o diálogo equilibrado.

6º PRINCÍPIO - Elogie o trabalho bem feito, assim como o esforço


sincero realizado para cumprir a missão, mesmo que não se tenha alcançado o
objetivo pretendido.

Existem alguns indivíduos que só enxergam erros e jamais reconhecem os


acertos dos outros. Estão sempre à procura de pontos falhos e gostam de corrigir os
enganos que descobrem nos trabalhos alheios. Poderiam ser chamados de “críticos
de obras prontas”.

Se o comandante quiser liderar, terá que ser justo e reconhecer o trabalho


bem feito. Um elogio oportuno reforça a atitude correta e o elogiado tenderá a
esforçar-se para manter o bom padrão alcançado. Todos necessitam de estímulos,
que aumentem seu amor próprio e sua autoconfiança.

7º PRINCÍPIO - Apoie e estimule a iniciativa de seus comandados e


incentive-os para que apresentem soluções para os problemas do grupo.

Quando um grupo está executando um trabalho, com o objetivo de produzir


algum bem ou serviço, mas seus integrantes não têm iniciativa e só se movimentam
após receberem ordens, alguma coisa está errada. Tal situação gera várias
consequências danosas: prazos não são cumpridos, cai a qualidade do trabalho,

24
materiais de emprego militar são danificados, acidentes ocorrem com frequência e
problemas de todo tipo acontecem, aparentemente sem motivo.

Há comandantes que temem as iniciativas dos que estão em funções


subalternas e por isto as inibem. Pensam que a iniciativa do subordinado poderá
eclipsar suas ações.

Geralmente, os que assim agem são pessoas inseguras e têm, elas próprias,
pouca iniciativa. Outros não estimulam tal atributo em seus subordinados, porque
temem as iniciativas equivocadas, que possam comprometer o andamento dos
trabalhos.

Concluindo, se o comandante estiver liderando, não precisará temer a


iniciativa dos subordinados.

8º PRINCÍPIO - Converse com seu pessoal, mantenha todos bem


informados e tenha sempre uma palavra positiva para animar seus
comandados.

O comandante deve manter contato permanente com seu pessoal e mesmo


aquele que estiver em um nível de liderança mais elevado deve, sempre que for
possível, falar diretamente aos subordinados, permitindo que eles também falem.
Quem se isola, caminha na contramão da liderança, pois não se comunica de forma
eficaz.

Não se pode liderar à distância, é preciso manter contato aproximado com os


liderados e se comunicar com eles de maneira eficaz.

9º PRINCÍPIO - Em todas as situações, procure controlar o medo e


demonstrar coragem.

Já houve tempo em que a coragem era demonstrada pelo líder militar quando
ele se lançava contra um inimigo feroz, à frente de seus seguidores, armado de lança
e espada. Era a época dos líderes guerreiros, que praticavam a liderança heróica,
modo de agir que foi sendo modificado à medida que os combates corpo a corpo

25
perderam o sentido, pelo menos para os comandantes de maior nível, diante da
invenção e aperfeiçoamento das armas de fogo de todos os tipos e calibres. Mesmo
assim, ninguém põe em dúvida que, até hoje, o líder militar deve ser corajoso, pois
enfrentar o perigo e a morte faz parte de suas atribuições.

Mas este atributo não se manifesta apenas como “coragem física”, que se
confunde com a intrepidez, a audácia e o destemor, mas também como “coragem
moral”, que está vinculada à capacidade de decidir em situações de risco e de perigo,
onde o líder militar coloca-se, a priori, como o responsável pelo sucesso ou insucesso
que advirá da decisão tomada.

De um modo geral, as pessoas não gostam de correr riscos. Muitos montam


grandes e brilhantes planos, mas não têm coragem para executá-los. Os mais
corajosos, geralmente, serão vencedores, porque são capazes de correr riscos.

10º PRINCÍPIO - Seja um permanente bom exemplo para os


subordinados. Aja com responsabilidade, com honestidade e fale sempre a
verdade, mesmo que ela não lhe seja favorável. Evite cometer falhas que
comprometem sua credibilidade.

Se alguém deseja liderar, é fundamental que se comunique com as pessoas,


utilizando de persuasão, que deverá estar coerentemente respaldada por bons
exemplos daquilo que prega. Explicando de outra maneira, de nada adiantarão
belíssimos discursos, se as atitudes do orador não forem coerentes com o que ele
fala. Por este motivo, um comandante não pode dar maus exemplos àqueles que
deseja liderar. Se assim o fizer, rapidamente perderá a confiança do grupo e a
credibilidade.

Os subordinados são juízes exigentes e é extremamente difícil enganá-los por


muito tempo.

Duas falhas graves e muito visíveis deverão ser evitadas a todo custo: a falta
de responsabilidade e a desonestidade. Portanto, os comandantes em todos os
níveis têm que ser e parecer honestos para que possam liderar homens de bem.

26
A mentira nada mais é que uma desonestidade, mas é útil comentá-la
separadamente, devido às suas peculiaridades.

Nas Forças Armadas a mentira é, por lei, considerada uma “transgressão


disciplinar”, que deve ser corrigida e, se necessário, rigorosamente punida. Por isto, o
líder militar falará sempre a verdade, mesmo que num primeiro momento isto possa
prejudicá-lo.

Fique bem claro que um comandante poderá cometer erros, mas não poderá
ser identificado como um mentiroso pelos seus comandados. Nesta condição não
conseguirá liderá-los.

6 - LIDERANÇA ORGANIZACIONAL

Como deixar essa poderosa arma tinindo e sempre carregada? Os militares


americanos perceberam que a transformação de suas tropas numa poderosa
máquina vitoriosa dependeria da reconstrução dos padrões de liderança para
fortalecer a coesão em torno do comprometimento com os valores e objetivos maiores
da instituição e isso somente poderia ser levado adiante com o profundo envolvimento
de cada subordinado preparado para ter semelhantes qualificações e motivação de
seus chefes.

A disciplina moderna se fundamenta no respeito pelas iniciativas, direitos e


dignidade do subordinado no esforço direcionado às missões. Missões são
compartilhadas e junto aos subordinados se obtém sugestões e informações
relevantes, embora ao chefe sempre caiba a decisão final, cuja implementação todos
são mobilizados a colaborar com entusiasmo, mesmo quando tenham discordado
dela.

Quando as balas da adversidade estiverem zunindo sobre as cabeças dos


membros de cada setor eles devem se concentrar no que aprenderam e focar na
missão e nos compromissos que assumiram. Dificuldades, adversidades devem ser
aperitivos no dia-a-dia como desafio às competências, à criatividade, à coesão das
equipes, o que as fortalece para crises que venham a aparecer no caminho. O que há

27
de antigo na formação do líder militar e vem sendo renovada é a importância do
caráter, da integridade, do zelo aos valores centrais da instituição.

Não pode haver verdadeiro líder sem integridade caracterizada pela ação
ajustada a princípios, não meramente ao que seja prático no momento. O
conhecimento esclarecido da finalidade da organização (instituição) em que os líderes
se integram constitui, para eles, fator determinante na assunção de um modo proativo
de liderança em vez de um modo simplesmente reativo.

Ao líder confrontado com o dilema da liderança competirá, como responsável


pela motivação dos seus subordinados e, ao mesmo tempo, como responsável pelo
seu empenhamento eficiente e eficaz no cumprimento das metas organizacionais,
saber escutar, em permanência e com humanidade, os seus anseios e necessidades
e com eles discuti-los com clareza e coragem, levando ao conhecimento superior,
com idêntica clareza e coragem, as suas propostas de conciliação sempre que elas
excedam as suas competências.

Contudo, num excelente estudo sobre um modelo de liderança para a ética


organizacional, ensaiaram a seguinte aproximação: "A ética, num contexto
organizacional, compreende um quadro de padrões de comportamento, expresso em
normas, princípios, orientações de procedimento ou regras de comportamento,
definindo o que apropriado (certo) ou inapropriado (errado). Fundamentados num
sistema de valores e princípios morais, estes padrões são comumente compreendidos
e geralmente aceites pelos membros do grupo como linhas de orientação legítimas e
adequadas para dirigir a conduta pessoal e profissional num quadro organizacional.
Sujeitos a diferentes graus de sancionamento, os padrões de comportamento ético
permitem que os grupos funcionem mais eficientemente e orientam o processo de
tomada de decisão. Os padrões éticos numa organização são aceitos:

a) Porque são considerados legítimos e praticáveis e são,


consequentemente, interiorizados como tendo autoridade útil sobre o comportamento
(neste particular, a consciência e a culpa reforçam internamente a adesão)

28
b) Porque são reforçados pela ameaça ou uso de punições e de outras
sanções externas. Qualquer violação destes padrões constitui comportamento
antiético."

6.1 Qualidades e Funções de Liderança

LÍDERES ORGANIZACIONAIS OLHAM PARA DENTRO

Neste capítulo, nosso assunto é um tipo bastante diferente de maestria em


liderança. Se líderes inspiradores são como estrelas de rock, líderes organizacionais,
que vamos analisar agora, são como executivos da gravadora ou como agentes
teatrais. Líderes organizacionais não suplicam por adulação ou aplauso. Geralmente
sentem-se desconfortáveis sob os holofotes. Não anseiam pelas críticas que se
seguem ao sucesso ou fracasso espetaculares. Líderes organizacionais buscam sua
recompensa dentro de si mesmos, na sólida fundação que criam.

Eles deixam que os outros liderem a parada pelo mundo exterior. Lou
Gerstner, da IBM, por exemplo, é um executivo soberbo especialista em mudanças
corporativas. Quando se tornou o principal executivo da IBM (numa época em que já
havia planos traçados para a dissolução da empresa, que um dia foi tão orgulhosa),
Gerstner fez algo que teria sido considerado tabu para muitos líderes empresariais do
passado. Ele não fez nada, pelo menos, não imediatamente.

A QUEDA DA PIRÂMIDE CORPORATIVA

Esse é o jeito do líder organizacional, alguém cuja vez definitivamente chegou.


No passado - há 50 ou 500 anos - as grandes empresas eram organizadas como as
pirâmides antigas. Coma uma enorme quantidade de pessoas na base, seguidas por
camadas de supervisores e gerentes em ordem ascendente. Cada nova camada com
autoridade maior do que a camada imediatamente inferior.

Essa estrutura tão cheia de níveis ficou cada vez mais elevada até que atingiu
o pináculo. Era onde o rei, o general, o CEO, o presidente e a diretoria tinham de se
sentar e onde o clássico líder inspirador também se sentia mais confortável. Era essa
a melhor maneira de estruturar uma organização? Talvez tenha sido, em muitos

29
casos e em muitas épocas, especialmente quando o líder era bem talhado para a
posição. Até bem pouco tempo, porém, ninguém se importava em perguntar se essa
era a melhor maneira. A organização em forma de pirâmide era simplesmente o
modo como as coisas funcionavam.

No século XXI, muitas dessas pirâmides estão desabando. Limites, níveis e


linhas de demarcação estão evaporando a todo instante. A cada dia, novas
tecnologias igualam o acesso à informação.

7 - ESTILOS DE COMANDO
Generalidades

a. Um estilo de comando corresponde à maneira como o comandante se porta para


estabelecer a direção, aperfeiçoar planos e ordens, e estimular seu grupo para atingir
metas. Algumas teorias admitem que a liderança pode ser tipificada como autocrática,
participativa ou delegativa. Entretanto, de acordo com o conceito de liderança militar
apresentado no capítulo 3 deste manual, as referidas tipificações caracterizam-se
como estilos de comando e, não, de liderança.
b. Dessa forma, a seguir serão listados os estilos de comando mais comuns, os quais
correspondem à postura do comandante frente aos seus comandados.

Estilo de Comando Autocrático

a. Esse estilo de comando dá ênfase à responsabilidade integral do comandante, que


fixa normas, estabelece objetivos e avalia resultados. O comandante é o único a
encontrar as melhores soluções para a sua equipe e espera que os comandados
executem seus planos e ordens sem qualquer ponderação.
b. O comandante, quando no uso desse estilo de comando, centraliza todas as
decisões e não se utiliza do assessoramento dos seus subordinados para o estudo da
situação. A experiência indica que esse estilo de comando, quando empregado
indiscriminadamente e por tempo prolongado, tende a desgastar os vínculos afetivos
estabelecidos entre o comandante e os comandados.
c. No entanto, poderão ocorrer ocasiões nas quais o uso desse estilo de comando
seja adequado, como, por exemplo, em situações de combate em que os

30
subordinados devam agir de forma imediata, sem qualquer questionamento ou
discussão sobre as ordens emanadas, sob pena do fracasso da missão.
d. Portanto, caberá ao comandante decidir em quais momentos deve usar esse estilo
de comando, estando sempre consciente da adequabilidade de sua aplicação e dos
efeitos, positivos ou negativos, que podem vir a causar no cumprimento da missão.

Estilo de Comando Participativo

a. Nesse estilo de comando, o comandante encara como sua responsabilidade o


cumprimento da missão por meio da participação, do engajamento de todos e do
aproveitamento das ideias do grupo. Ao adotar o estilo participativo, o comandante
procura atuar mais sintonizado com o grupo, ouvindo e aproveitando suas sugestões,
para depois decidir. Com isso, poderá obter, com maior facilidade, um verdadeiro
envolvimento de todos os integrantes do grupo no atingimento de seus objetivos, pois
as pessoas ouvidas tendem a se sentirem corresponsáveis tanto no êxito, quanto no
insucesso das ações que forem empreendidas.
b. Ao agir dessa maneira, será mais fácil o desenvolvimento de vínculos de coesão,
de colaboração espontânea e de interdependência entre os membros do grupo, além
de elevar os níveis de criatividade de cada indivíduo. Podem ser criadas, também,
melhores condições para o desenvolvimento de atitudes de respeito e confiança em
relação ao comandante, favorecendo os laços de liderança.
c. O estilo de comando participativo não exclui a autoridade do comandante, a qual
deve ser exercida em sua plenitude. Cabe ao comandante as decisões finais, depois
de ouvidos e considerados os pareceres, muitas vezes conflitantes, dos comandados.
Estilo de Comando Delegativo

a. O estilo de comando delegativo é mais indicado para grupos que tratem de


assuntos de natureza técnica. O comandante, nessas situações, atribui a seus
assessores a tomada de decisões especializadas. Nesses grupos, os conhecimentos
e experiências dos comandados poderão estar no mesmo patamar ou acima dos
conhecimentos e experiências do comandante, o qual dependerá de assessoramento
para a tomada da decisão.

31
b. Aponta-se, como ponto crítico desse estilo de comando, a necessidade de o
comandante saber delegar atribuições aos comandados, sem perder o controle da
situação. Para isso, deverá ouvir cada assessor ou chefe subordinado e, com
habilidades de relacionamento interpessoal, acatar ou rejeitar a assistência que lhe foi
prestada, decidindo em função do objetivo final.
c. Esse estilo de comando é bastante empregado nos níveis intermediários e
superiores, nos quais, muitas vezes, o poder de decisão será delegado aos
comandantes subordinados. Além disso, o estilo delegativo também será
caracterizado nas operações de execução descentralizada.

Aspectos a Observar

a. A maneira como a questão dos estilos de comando muitas vezes é abordada pode
conduzir a um entendimento equivocado dos conceitos, levando o indivíduo a crer que
deve optar definitivamente por um estilo único. Para cada situação e para cada perfil
de grupo comandado poderá ser necessária a adoção de procedimentos peculiares a
determinado estilo de comando, inclusive a alternância do uso de mais de um estilo
em uma mesma situação.
b. Dessa forma, seria impróprio buscar ser um comandante que sempre exerce o
estilo de comando participativo, por exemplo. Na verdade não se deve fazer tal
escolha. Haverá situações de crise, situações em que estará lidando com pessoas
insensíveis e de atitude recalcitrante, nas quais esse estilo de comando não se aplica,
sendo necessário atuar como comandante autocrático. Raciocínio semelhante poderá
ser adotado em relação aos outros estilos de comando. Em um grupo em que
preponderam indivíduos competentes e com elevada dose de iniciativa, o comando
autocrático poderá restringir a capacidade dos subordinados e gerar resultados
negativos para o atingimento das metas daquele grupo.

8 - REQUISITOS DA LIDERANÇA MILITAR

Os líderes militares devem satisfazer aos seguintes requisitos da liderança:

• Liderar em tempos tranquilos para estar preparado para o combate;

• Desenvolver os líderes individuais;

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• Desenvolver equipes de liderança;

• Descentralizar as decisões e missões.

Liderar em tempos tranquilos para estar preparado para o combate;

As forças auxiliares necessitam de líderes com aptidão para olhar para além
das preocupações do tempo de tranquilidade e capazes de executarem as suas
missões de combate mesmo depois de longos períodos de paz. As atividades
administrativas são importantes, mas não devem, de forma alguma, ser consideradas
prioritárias em relação ao treino realista de combate. Os líderes têm que instruir e
treinar as suas tropas numa perspectiva de guerra.

Desenvolver os líderes individuais;

Este objetivo é alcançado através de um dinâmico sistema de


desenvolvimento dos líderes apoiado em três pilares:

● Estabelecimentos de Ensino Militar, Escolas Práticas e Centros de Instrução;


● Experiência própria, sobretudo operacional;
● Autodesenvolvimento, sendo a iniciativa individual e o auto aperfeiçoamento
as "chaves" para o treino e desenvolvimento de todos os líderes. O líder pode
e deve continuar a desenvolver os conhecimentos adquiridos através do
ensino e instrução ministrados no primeiro dos pilares referidos, por recurso,
inclusive, ao ensino civil.

Desenvolver equipes de liderança

A aptidão para desenvolver equipes de liderança resulta essencial para o


sucesso em operações de combate. A doutrina operacional atual exige que a
liderança, para além do seu sentido tradicional de esforço de influência individual, seja
ainda considerada em termos de equipas de liderança. Uma equipe de liderança
consiste de um líder e dos subordinados necessários para planear e executar
operações. Por exemplo, uma equipe de liderança de pelotão consistirá, usualmente,
do oficial comandante de pelotão e dos sargentos chefes de secção.

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O desenvolvimento de equipes de liderança revela- se ainda mais importante
nas unidades de escalão superior. Uma efetiva equipe de liderança é capaz de
garantir a continuidade no combate de acordo com a intenção do comandante. As
equipas de liderança reagem com rapidez devido ao seu conhecimento comum dos
requisitos da missão.

Descentralizar as decisões e missões

Os líderes devem criar um clima de liderança em que a tomada de decisão é


descentralizada no escalão apropriado. Este clima é necessário para os líderes
subordinados aprenderem e, então, demonstrarem flexibilidade mental, iniciativa,
inovação e assunção de riscos que a nossa doutrina de treino e de operações requer.
Os líderes devem gerir a descentralização tendo em conta a aptidão, treino e
experiência dos subordinados, que podem necessitar de ser preparados e apoiados,
bem como encorajados.

Ainda que a descentralização deva permitir a iniciativa dos subordinados no


respeitante a julgamentos no quadro da intenção do comandante, os líderes devem
manter os subordinados estritamente responsáveis pelas suas ações no seu nível de
responsabilidade. A implementação com êxito da descentralização requer tempo e
paciência. A sua finalidade é desenvolver a aptidão dos subordinados para resolver
problemas. O líder deve estabelecer níveis, decidir o que necessita ser executado, e
então deixar os subordinados competentes decidirem como cumprir a missão.

9 - ESTUDO DE CASOS DE LIDERANÇA MILITAR


Historicamente as instituições militares são as organizações que melhor
formam líderes, inclusive para o mundo dos negócios. Todos os conceitos trabalhados
encontram aplicabilidades específicas no âmbito militar, uma vez que a missão a qual
são empregados os militares tem suas peculiaridades.

Engana-se quem pensa que a força da liderança militar estaria no


autoritarismo da cadeia de comando- obediência a qualquer custo, onde fala quem
pode e obedece quem tem juízo.

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Há algo de novo e um bom tanto do militarismo antigo. A novidade é a
reformada concepção do subordinado, supervalorizado como fator de sucesso na
vitória, ou, como dizia um coronel americano: “a vontade dos soldados é três vezes
mais importante que suas armas!”.

A - A LIDERANÇA DE JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER “O TIRADENTES” NA


INCONFIDÊNCIA MINEIRA (1789).

ALFERES JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER – “O TIRADENTES”

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tiradentes

35
Nasceu em Minas Gerais no dia 19.11.1746, ficou órfão de mãe aos 9 anos e
de pai aos 15 anos de idade. Sua educação a partir daí ficou ao encargo do padrinho
que era dentista.

Ingressou na Companhia de Dragões de Vila Rica, como Alferes e devido as


cobranças de impostos na região passou a participar das reuniões da Inconfidência
mineira desde 1787. Nesse sentido, teve contato com as ideias de liberdade
provenientes das 13 Colônias da América do Norte que no ano de 1776 conseguiram
sua emancipação política se transformando numa república com o sistema federalista.
Esse processo de independência norte-americana influenciou bastante nas ações do
movimento que contestava a cobrança da derrama nas Minas Gerais.

As ideias de liberdade discutidas nas 13 colônias foram às mesmas que


provocaram a independência norte-americana em 1776 e que fizeram parte da
revolução francesa em 1789. Esses ideais foram divulgados por Tiradentes entre os
seus camaradas nas Minas Gerais.

A partir de denúncias de um dos integrantes movimento emancipacionista nas


Minas Gerais, Joaquim Silvério dos Reis, em troca de perdão das dívidas pessoais
delatou o movimento, sendo este debelado e Tiradentes o único preso condenado a
pena de morte em 21 de abril de 1792.

DECRETO-LEI Nº 9.208, DE 20 DE ABRIL DE 1.946 institui o Dia das Polícias Civis e


Militares, que será comemorado a 21 de abril.

“(...) O PRESIDENTE DA REPÚBLICA. Considerando que os grandes


homens da História Pátria que mais se empenharam pela manutenção da
ordem interna, avulta a figura heróica do Alferes Joaquim José da Silva Xavier
(Tiradentes), o qual anteriormente aos acontecimentos que foram base de
nossa Independência, prestara a segurança pública, quer na esfera militar,
quer na vida civil, patrióticos serviços assinalados em documentos do tempo e
de indubitável autenticidade; Considerando que a ação do indômito proto-
mártir da Independência, como soldado da Lei e da Ordem, deve constituir
um paradigma para os que hoje exercem funções de defesa da

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segurança pública, como sejam as polícias civis e militares, às quais incumbe
a manutenção da ordem e resguardo das instituições;Usando da atribuição
que lhe confere o Art. 180 da Constituição, decreta: Artigo único - Fica
instituído o DIA DAS POLÍCIAS CIVIS E MILITARES que será comemorado
todos os anos a 21 de abril data em que as referidas corporações em todo o
País realizarão comemorações cívicas que terão como patrono o grande vulto
da Independência Mineira.RIO DE JANEIRO, 29 de abril de 1946, 125º da
Independência e 58º da República.EURICO G. DUTRA Presidente.(...)”

O Governo do Pará, por sua vez, homenageia Tiradentes, criando em 17 de setembro


de1980, através do Decreto nº 985, a Medalha do Mérito Tiradentes, destinada a
homenagear civis e militares que tenham prestado relevantes serviços à Corporação.
O 2º Batalhão de Polícia Militar do Pará, localizado na Rua Gaspar Viana esquina da
Avenida Assis de Vasconcelos tem o nome de Batalhão Tiradentes.

Segundo Lucas Figueiredo no dia 21 de abril de 1792 o Rio de Janeiro foi


tomado por um aparato militar que culminou no enforcamento de “Tiradentes”. “as seis
horas da manhã, soldados – a pé e a cavalo – cercaram o prédio da cadeia da
relação”. Assim Tiradentes foi enforcado “(...) o algoz então pegou a corda que
prendia o laço em volta do pescoço do Alferes e jogo-as por cima das traves da
forca.” “no alto do patíbulo, enquanto o cadáver de Tiradentes pendulava preso à
corda(...).”[1]

É importante destacar sua liderança histórica:

► O processo contra Tiradentes inicia-se em março de 1789.

► Tiradentes foi preso em maio de 1789.

37
► Os demais envolvidos foram degredados e Tiradentes condenado ao
enforcamento.

► Tiradentes foi executado em 21.04.1792, no Rio de Janeiro, tendo as partes


do corpo levadas para Minas Gerais.

► Na condenação prescrevia-se que seu corpo seria esquartejado.

► Durante o Império a imagem de Tiradentes foi esquecida.

► 1871 – circula o primeiro jornal republicano do Pará, com o nome Tiradentes


(Feitosa, 1994:41)

► Foi reconhecido após a proclamação da República como símbolo da luta


pela Independência e contra a monarquia.

► 1946 – Gaspar Dutra torna-o: “Patrono das Polícias Militares e Civis do


Brasil”.

► 1965 – Castelo Branco reconhece-o como: “Patrono Cívico da Nação


Brasileira”.

É comemorado o seu dia, na PMPA, com desfile militar, promoções e a entrega


da medalha “Tiradentes”.

► 21 de Abril – Desfile Militar

► Tiradentes – 2º Batalhão

► Tiradentes Esporte Clube

► Escola Tiradentes

► Medalha Tiradentes

► Prova Hípica Tiradentes

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► Promoção

► Medalha do Mérito Tiradentes

► Diploma da Medalha do Mérito Tiradentes da Policia Militar do Pará.

Fonte: livro didático da PMPA.

39
2 - A LIDERANÇA DE LUIS ALVES DE LIMA E SILVA “O DUQUE DE
CAXIAS”

FONTE: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Alves_de_Lima_e_Silva

Segundo José Murilo de Carvalho Caxias foi considerado um herói nacional


que teve sua construção a partir dos anos de 1920 do século XX e partir daí passa a
ser considerado patrono do Exército Brasileiro como padrão de Liderança Militar[2].

Adriana Souza destaca “a exaltação patriótica” e o “culto a Caxias” como


“patrono” do Exército Brasileiro que busca alicerçar um Duque como liderança militar

40
a serviço de um estado forte. O mesmo era visto como um antidoto para a indicisplina
militar que ocorreu nos anos de 1920 no Brasil.[3]

Celso Castro observa que Luís Alves de Lima e Silva (1803-1880) é cultuado
oficialmente pelo Exército a partir de 1923 mesmo com a sua morte tenha ocorrido a
partir de 1880 43 anos antes. Dessa forma, ocorre pelo Exército Brasileiro uma
construção da liderança de Caxias ao longo do século XX. Um homem considerado
um estrategista e aristocrata que desde o século XIX convive com outra figura do
Exército “o General Osório”. Porém, nos de 1930 Caxias é estabelecido pelo EB como
o grande exemplo de liderança a ser seguido.[4]

Espadim de Caxias símbolo da Honra Militar.

Fonte:https://www.defesanet.com.br/doutrina/noticia/30285/Espadim-de-Caxias--simbolo-da-H

onra-Militar

Segundo Exército Brasileiro Duque de Caxias representa:

41
“Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, nasceu em 25 agosto de
1803, na fazenda de São Paulo, no Taquaru, Vila de Porto da Estrela, na
Capitania do Rio de Janeiro, quando o Brasil era Vice-Reino de Portugal.
Hoje, é o local do Parque Histórico Duque de Caxias, no município de Duque
de Caxias, estado do Rio de Janeiro.

Filho do Marechal de Campo Francisco de Lima e Silva e de D. Mariana


Cândida de Oliveira Belo. Ao seu pai, veador da Imperatriz Leopoldina,
coube a honra de apresentar em seus braços à Corte, no dia 2 de dezembro
de 1825, no Paço de São Cristóvão, o recém-nascido que, mais tarde, viria a
ser o Imperador D. Pedro II.

Em 22 de maio de 1808, época em que a Família Real portuguesa transfere-


se para o Brasil, Luiz Alves é titulado Cadete de 1ª Classe, aos 5 anos de
idade.

Pouco se sabe da infância de Caxias. Pelos almanaques do Rio de Janeiro da


época e publicados pela Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
que davam o nome das ruas em que moravam as autoridades
governamentais, sabe-se que seu pai, desde capitão, em 1811, residia na rua
das Violas, atual rua Teófilo Otoni. Esta rua das Violas, onde existiam
fabricantes de violas e violões e onde se reuniam trovadores e compositores,
foi o cenário principal da infância de Caxias.

Sabe-se que estudou no Convento São Joaquim, onde hoje se localiza o


Colégio D.Pedro II, e próximo do Quartel do Campo de Santana, que ele viu
ser construído e que hoje é o Palácio Duque de Caxias, onde está instalado o
Comando Militar do Leste.

Em 1818, aos quinze anos de idade, matriculou-se na Academia Real Militar,


de onde egressou promovido a Tenente, em 1821, para servir no 1º Batalhão
de Fuzileiros, Unidade de elite do Exército do Rei.

O retorno da Família Real e as consequências que daí advieram concorreram


para a almejada emancipação do país. D. Pedro proclamou a independência
do Brasil e organizou, ele próprio, em outubro de 1822, no Campo de
Santana, a Imperial Guarda de Honra e o Batalhão do Imperador, integrado
por 800 guapos militares, tipos atléticos e oficiais de valor excepcional,
escolhidos da tropa estendida a sua frente. Coube ao Tenente Luiz Alves de

42
Lima e Silva receber das mãos do Imperador D. Pedro I a bandeira do
Império recém-criada, na Capela Imperial, em 10 de novembro de 1822.

No dia 3 de junho de 1823, o jovem militar tem seu batismo de fogo, quando o
Batalhão do Imperador foi destacado para a Bahia, onde pacificaria um
movimento contra a independência comandado pelo General Madeira de
Melo. No retorno dessa campanha, recebeu o título que mais prezou durante
a sua vida – o de Veterano da Independência.

Em 1825, iniciou-se a Campanha da Cisplatina e o então Capitão Luiz Alves


desloca-se para os pampas, junto com o Batalhão do Imperador. Sua bravura
e competência como comandante e líder o fazem merecedor de
condecorações e comandos sucessivos, retornando da campanha no posto
de major.

A 6 de janeiro de 1833, no Rio de Janeiro, o Major Luiz Alves casava-se com


a senhorita Ana Luiza de Loreto Carneiro Viana, que contava, na época,
com dezesseis anos de idade.

Em 1837, já promovido a Tenente-Coronel, Caxias é escolhido, por seus


descortino administrativo e elevado espírito disciplinador, para pacificar a
província do Maranhão, onde havia iniciado o movimento da Balaiada.

Em 2 de dezembro de 1839, é promovido a Coronel e, por Carta Imperial,


nomeado presidente da província do Maranhão e Comandante-Geral das
Forças em operações, para que as providências civis e militares emanassem
de uma única autoridade.

Em agosto de 1840, mercê de seus magníficos feitos em pleno campo de


batalha, Caxias foi nomeado Veador de Suas Altezas Imperiais.

Em 18 de julho de 1841, em atenção aos serviços prestados na pacificação


do Maranhão, foi-lhe conferido o título nobiliárquico de Barão de Caxias. Por
quê Caxias? "Caxias simbolizava a revolução subjugada. Essa princesa do
Itapicuru havia sido mais que outra algema afligida dos horrores de uma
guerra de bandidos; tomada e retomada pelas forças imperiais, e dos
rebeldes várias vezes, foi quase ali que a insurreição começou, ali que se
encarniçou tremenda; ali que o Coronel Luiz Alves de Lima e Silva entrou,
expedindo a última intimação aos sediciosos para que depusessem as armas;
ali que libertou a província da horda de assassinos. O título de Caxias

43
significava, portanto: – disciplina, administração, vitória, justiça, igualdade e
glória", explica o seu biógrafo Padre Joaquim Pinto de Campos.

Em 1841, Caxias é promovido a Brigadeiro e, em seguida, eleito


unanimemente deputado à Assembléia Legislativa pela província do
Maranhão e, já em março de 1842, é investido no cargo de Comandante das
Armas da Corte.

Em maio de 1842, iniciava-se um levante na província de São Paulo,


suscitado pelo Partido Liberal. D. Pedro II, com receio de que esse
movimento, alastrando-se, viesse fundir-se com a revolta farroupilha, que se
desenvolvia no sul do Império, resolve chamar Caxias para pacificar a região.
Assim, o Brigadeiro Lima e Silva é nomeado Comandante-Chefe das Forças
em operações da província de São Paulo e, ainda, Vice-Presidente dessa
província.

Cumprida a missão em pouco mais de um mês, o Governo, temeroso que a


revolta envolvesse a província das Minas Gerais, nomeia Caxias
Comandante do Exército pacificador naquela região, ainda no ano de 1842.
Já no início do mês de setembro, a revolta estava abafada e a província,
pacificada.

No dia 30 de julho de 1842, "pelos relevantes serviços prestados nas


províncias de São Paulo e Minas", é promovido ao posto de Marechal de
Campo graduado, quando não contava sequer quarenta anos de idade.

Ainda grassava no sul a revolta dos farrapos. Mais de dez presidentes de


província e generais se haviam sucedido desde o início da luta, sempre sem
êxito. Mister da capacidade administrativa, técnico-militar e pacificadora de
Caxias, o Governo Imperial nomeou-o, em 1842, Comandante-Chefe do
Exército em operações e Presidente da província do Rio Grande do Sul.

Logo ao chegar a Porto Alegre, Caxias fez apelo aos sentimentos patrióticos
dos insurretos através de um manifesto cívico. A certo passo, dizia: "Lembrai-
vos que a poucos passos de vós está o inimigo de todos nós – o inimigo de
nossa raça e de tradição. Não pode tardar que nos meçamos com os
soldados de Oribes e Rosas; guardemos para então as nossas espadas e o
nosso sangue. Abracemo-nos para marcharmos, não peito a peito, mas
ombro a ombro, em defesa da Pátria, que é a nossa mãe comum".

44
Mesmo com carta branca para agir contra os revoltosos, marcou sua
presença pela simplicidade, humanidade e altruísmo com que conduzia suas
ações. Assim ocorreu quando da captura de dez chefes rebeldes
aprisionados no combate de Santa Luzia, quando, sem arrogância, com
urbanidade e nobreza, dirigiu-se a eles dizendo: "Meus senhores, isso são
conseqüências do movimento, mas podem contar comigo para quanto estiver
em meu alcance, exceto para soltá-los".

Se no honroso campo da luta, a firmeza de seus lances militares lhe


granjeava o rosário de triunfos que viria despertar nos rebeldes a ideia de
pacificação, paralelamente, seu descortino administrativo, seus atos de
bravura, de magnanimidade e de respeito à vida humana, conquistaram a
estima e o reconhecimento dos adversários. Por essas razões é que os
chefes revolucionários passaram a entender-se com o Marechal Barão de
Caxias, em busca da ambicionada paz. E, em 1º de março de 1845, é
assinada a paz de Ponche Verde, dando fim à revolta farroupilha.

É, pois, com justa razão que o proclamam não só Conselheiro da Paz, senão
também o Pacificador do Brasil – epíteto perpetuado em venera nobilitante.

Em 1845, Caxias é efetivado no posto de Marechal de Campo e é elevado a


Conde. Em seguida, mesmo sem ter se apresentado como candidato, teve a
satisfação de ter seu nome indicado para Senador do Império pela província
que pacificara há pouco. Em 1847, assume efetivamente a cadeira de
Senador pela província do Rio Grande do Sul.

A aproximação das chamas de uma nova guerra na fronteira sul do Império


acabaram por exigir novamente a presença de Caxias no Rio Grande do Sul
e, em junho de 1851, foi nomeado presidente da província e Comandante-
Chefe do Exército do Sul, ainda não organizado. Essa era a sua principal
missão: preparar o Império para uma luta nas fronteiras dos pampas gaúchos.

Assim, em 5 de setembro de 1851, Caxias adentra o Uruguai, batendo as


tropas de Manoel Oribe, diminuindo as tensões que existiam naquela parte
da fronteira.

Em 1852, é promovido ao posto de Tenente-General e recebe a elevação ao


título Marquês de Caxias.

45
Em 1853, uma Carta Imperial lhe confere a Carta de Conselho, dando-lhe o
direito de tomar parte direta na elevada administração do Estado e, em 1855,
é investido no cargo de Ministro da Guerra.

Em 1857, por moléstia do Marquês de Paraná, assume a presidência do


Conselho de Ministros do Império, cargo que voltaria a ocupar em 1861,
cumulativamente com o de Ministro da Guerra.

Em 1862, foi graduado Marechal do Exército, assumindo novamente a função


de Senador no ano de 1863.

Em 1865, inicia-se a Campanha da Tríplice Aliança, reunindo Brasil,


Argentina e Uruguai contra as Forças paraguaias de Solano Lopez.

Em 1866, Caxias é nomeado Comandante-Chefe das Forças do Império em


operações contra o Paraguai, mesma época em que é efetivado Marechal do
Exército. Cabe destacar que, comprovando o seu elevado descortínio de
chefe militar, Caxias utiliza, pela primeira vez no continente americano, a
aeroestação (balão) em operações militares, para fazer a vigilância e obter
informações sobre a área de operações.

O tino militar de Caxias atinge seu ápice nas batalhas dessa Campanha. Sua
determinação ao Marechal Alexandre Gomes Argolo Ferrão para que fosse
construída a famosa estrada do Grão-Chaco, permitindo que as Forças
brasileiras executassem a célebre marcha de flanco através do chaco
paraguaio, imortalizou seu nome na literatura militar. Da mesma forma, sua
liderança atinge a plenitude no seu esforço para concitar seus homens à luta
na travessia da ponte sobre o arroio Itororó – "Sigam-me os que forem
brasileiros".

Caxias só deu por finda sua gloriosa jornada ao ser tomada a cidade de
Assunção, capital do Paraguai, em 1º de janeiro de 1869.

Em 1869, Caxias tem seu título nobiliárquico elevado a Duque, mercê de


seus relevantes serviços prestados na Campanha contra o Paraguai.

Em 1875, pela terceira vez, é nomeado Ministro da Guerra e presidente do


Conselho de Ministros.

Caxias ainda participaria de fatos marcantes da história do Brasil, como a


Questão Religiosa, o afastamento de D. Pedro II e a Regência da Princesa

46
Isabel. Já com idade avançada, Caxias resolve retirar-se para sua terra natal,
a província do Rio de Janeiro, na Fazenda Santa Mônica, na estação
ferroviária do "Desengano", hoje Juparaná, próximo a Vassouras.

No dia 7 de maio de 1880, às 20 horas e 30 minutos, fechava os olhos para


sempre aquele bravo militar e cidadão que vivera no seio do Exército para
glória do próprio Exército.

No dia seguinte, em trem especial, chegava na Estação do Campo de


Santana o seu corpo, vestido com o seu mais modesto uniforme de Marechal
de Exército, trazendo ao peito apenas duas das suas numerosas
coondecoraçõoes, as únicas de bronze: a do Mérito Militar e a Geral da
Campanha do Paraguai, tudo consoante suas derradeiras vontades
expressas.

Outros desejos testamentários são respeitados: enterro sem pompa; dispensa


de honras militares; o féretro conduzido por seis soldados da Guarnição da
Corte, dos mais antigos e de bom comportamento, aos quais deveria ser dada
a quantia de trinta cruzeiros (cujos nomes foram imortalizados no pedestal de
seu busto, no passadiço do Conjunto Principal antigo da Academia Militar das
Agulhas Negras); o enterro custeado pela Irmandade da Santa Cruz dos
Militares; e seu corpo não embalsamado.

Quantas vezes o caixão foi transportado, suas alças foram seguras por seis
Praças de Pré do 1º e do 10º Batalhão de Infantaria.

No ato do sepultamento, o grande literato Visconde de Taunay, então Major


do Exército, proferiu alocução assim concluída: "Carregaram o seu féretro
seis soldados rasos; mas, senhores, esses soldados que circundam a
gloriosa cova e a voz que se levanta para falar em nome deles, são o corpo e
o espírito de todo o Exército Brasileiro. Representam o preito derradeiro de
um reconhecimento inextinguível que nós militares, de norte a sul deste vasto
Império, vimos render ao nosso velho Marechal, que nos guiou como General,
como protetor, quase como pai, durante 40 anos; soldados e orador, humilde
todos em sua esfera, muito pequenos pela valia própria, mas grandes pela
elevada homenagem e pela sinceridade da dor".

Em 25 de agosto de 1923, a data de seu aniversário natalício passou a ser


considerada como o Dia do Soldado do Exército Brasileiro, Instituição que o
forjou e de cujo seio emergiu como um dos maiores brasileiros de todos os

47
tempos. Ele prestou ao Brasil mais de 60 anos de excepcionais e relevantes
serviços como político e administrador público de contingência e, inigualados,
como soldado de vocação e de tradição familiar, a serviço da unidade, da paz
social, da integridade e da soberania do Brasil Império.

Em mais uma justa homenagem ao maior dos soldados do Brasil, desde


1931, os Cadetes do Exército, da Academia Militar das Agulhas Negras,
portam como arma privativa, o Espadim de Caxias, cópia fiel, em escala, do
glorioso e invicto sabre de campanha de Caxias, que desde 1925 é guardado
como relíquia pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, que o Duque de
Caxias integrou como sócio honorário a partir de 11 de maio 1847.

O Decreto do Governo Federal de 13 de março de 1962 imortalizou o nome


do invicto Duque de Caxias como o Patrono do Exército Brasileiro.

Atualmente, os restos mortais do Duque de Caxias, de sua esposa e de seu


filho, repousam no Panteon a Caxias, construído em frente ao Palácio Duque
de Caxias, na cidade do Rio de Janeiro.[5]

É importante destacar:

O Exército Brasileiro considera Caxias como uma grande Liderança Militar por toda
sua atuação no periodo imperial brasileiro e sua representação de homem
disciplinado e disciplinador.

3 - A LIDERANÇA DE ANTONIO SÉRGIO DIAS VIEIRA DA


FONTOURA “O CEL FONTOURA” NA GUERRA DE CANUDOS (1897)

CEL. PM ANTÔNIO SÉRGIO DIAS VIEIRA DA FONTOURA–PATRONO DA PMPA.

48
Fonte: Albúm do Pará - 1908

Coronel PM - Antônio Sérgio Dias Vieira da Fontoura – nascido à 17 de agosto de


1864, na cidade de Belém, sendo filho de Francisco Antônio Dias Fontoura e de
Adelaide Angélica Rodrigues Vieira Fontoura batizado solenemente, na Igreja de
Santa Ana, a 1º de fevereiro de 1865, tendo como padrinhos o Marechal de Campo
Francisco Sérgio de Oliveira e sua esposa Mafalda Malafaia e Picaluga de Oliveira.
Casou-se com Joana Costa de Fontoura.

Ingressou na carreira militar por ato do governo do estado,


datado de 14 de março de 1890, no posto de Capitão para comandar a 3º companhia
do então Corpo Provisório de Linha.

Graduou-se no posto de Major em data de 8 de dezembro de


1893, sendo neste efetivado em 29 de janeiro de 1894, conforme decreto do

49
Presidente da República, em reconhecimento aos serviços relevantes prestados à
nação, por ocasião da Revolta da Armada em 1893.

Concederam-lhe as honras do posto de “major honorário do


exército brasileiro”.

Fora promovido ao posto de Tenente-coronel em 23 de


setembro de 1895, e em seguida destinado a comandar o 2º Corpo de Infantaria do
Regimento Militar do Estado.

Fontoura foi agraciado com a medalha de bravura, pela colônia


paraense radicada na bahia, em atenção à sua participação no combate de 25 de
setembro de 1987 (ordem do dia de 14/03/1898).

Sua promoção ao posto de Coronel deu-se em 09 de outubro


de 1900, tendo comandado o Regimento Militar do estado até 04 de agosto de 1911.

Desde cedo, Fontoura revelou ser um intransigente cultor das


virtudes militares. mas, foi logo no governo de Augusto Montenegro que ele
demonstrou ser um disciplinador rígido, dando ao regimento uma modelar e eficiente
organização, a qual pelo seu trabalho foi considerada a mais completa do país.

No decorrer desse período, vários problemas começaram a


perturbar Fontoura, inclusive alguns desgostos que o abalaram profundamente, o que
o levaram a acometer-se de uma série doença nervosa, talvez proveniente da
chamada “neurose de guerra”, fato que o obrigou a deixar o comando da agora
Brigada Militar do Estado.

Destarte, por incapacidade física, foi reformado no posto de


Coronel, através do decreto nº 1816 de 04 de agosto de 1911.

O Governo do Estado reconhecendo o valor e o caráter de


Fontoura mandou averbar, para fins de melhoria de reforma, todo o tempo de serviço
prestado a guarda nacional, como alferes, e no antigo Corpo Provisório de Linha.

50
Apesar de reformado, ainda permaneceu algum tempo na
atividade na Corporação, cercado de admiração e respeito, tudo em função da sua
indiscutível envergadura moral e a auréola de bravura.

Um dado importante de seu caráter era a impecável aparência


com que se trajava, bem como seu espírito sempre alegre, sorridente e jovial. sobre
ele, dizia-se que era possuidor de um “papo” imperdível. Já na sua intimidade tinha
uma distração que poucos sabiam, tocava cavaquinho.

No decorrer dos anos vieram as dificuldades. o governo do


estado deixou de atrasar o pagamento da Brigada Militar do Estado, inclusive seus
proventos, com o qual mantinha sua reforma. Nessa calamitosa situação, o velho
herói de Canudos passou por sérios problemas financeiros.

Eis que, o que fora um dos homens mais garbosos e valorosos


da nossa corporação, senão o mais passara agora a andar maltrapilho, acabrunhado,
com passos trôpegos, em uma clara demonstração de decadência física. Sabe-se
que, durante este período, passava os dias sentado nos bancos da praça Dom Pedro
II, onde situa-se o largo do palácio do governo, sempre à espera de algum abono.

Alquebrado e corroído pela doença implacável, Fontoura


perdeu a razão. foi, então, recolhido ao Hospital da Santa Casa de misericórdia do
Pará e dias depois fora transferido para o hospital “Juliano Moreira”, onde faleceu às
06:00 horas do dia 25 de fevereiro de 1923.

Atualmente, seus restos mortais encontram-se no mausoléu


dos heróis, na alameda nobre do cemitério da Santa Izabel.

51
52
Fonte:
https://www.gazetareal.com.br/noticia/563/deputado-eraldo-pimenta-recebe-medalha-ordem-do-merito-
da-policial-militar.

Fonte:
https://www.gazetareal.com.br/noticia/563/deputado-eraldo-pimenta-recebe-medalha-ordem-do-merito-
da-policial-militar.

53
É importante destacar sua liderança histórica:

O Coronel Antonio Sérgio Dias Vieira da Fontoura é o Patrono da Policia


Militar do Pará desde e a partir de 1990 é o nome da Academia de Policia Militar que
forma os Oficiais da Instituição Militar.

No campo do lazer e das disputas esportivas que aconteciam em Belém dos


anos de 1920 e 1930, houve um contexto de mudanças políticas e de construções
culturais a partir de experiências dos sujeitos que se voltavam para o discurso
regional e político nos anos do governo José Malcher e no caso da Polícia Militar do
Pará, o seu Comandante Geral Coronel Ferreira Coelho, que juntos buscaram
fortalecer a Instituição Militar do Estado através do culto a memória de Canudos e seu
líder Cel Fontoura.[6]

A corrida “Volta da Cidade” mostra como a liderança Histórica de Fontoura serve de


base para outros Policiais Militares como o Coronel Anastácio das Neves, que
participou da prova nos anos de 1940, logo que sentou Praça como Soldado, e o
considerado “super atleta” capitão Abelardo, o grande corredor, principalmente, nos
anos de 1970 a 1980, que ganhou 10 corridas “Coronel Fontoura” (antiga Volta da
cidade) como primeiro lugar, nos mostra uma memória do esporte que conta a história
da Polícia Militar, seus sujeitos e sua relação com a sociedade belenense. Memórias
que nos leva a pensar como a “Corporação de Fontoura” também pode ser estudada
por eventos que aparentemente não estão ligados à Segurança Pública.

A Academia de Polícia Militar Cel Fontoura (APM), criada pelo Decreto nº 6.784 de 20
de abril de 1990, é uma Unidade de Ensino Superior de Segurança Pública da Polícia
Militar do Pará, destinada a promover a formação, o aperfeiçoamento, a habilitação, a
adaptação e a especialização de Oficiais da Polícia Militar. Bem como capacita-los as
atividades de Administrador Público. Conforme DECRETO Nº 3.626, DE 30 DE

54
AGOSTO DE 1999 que aprova o Regulamento da Academia de Polícia Militar Coronel
Fontoura publicado no Aditamento ao Boletim Geral 181 de 22 de setembro de 1999.

Espadim “Cel. Fontoura” po O Espadim “Cel. Fontoura” possui

gravado em sua lâmina a inscrição em latim "PRO LEGE VIGILANDA”

que significa “para vigilância da lei”.

“Recebo o Espadim ‘Cel. Fontoura’, símbolo da honra policial militar


e prometo portá-lo com dignidade, cumprindo os deveres de aluno-oficial
da Polícia Militar.”

(COMPROMISSO DO ALUNO-OFICIAL)

Segundo o Jornal a Folha do Norte de 1941

(..) Nossa Policia Militar, naquele dia, com o esplêndido feito épico,
desangustiou a nação, reerguendo o moral e galvanizando-lhe as
esperanças, que refloriram, vividas e imarcessiveis, libertando as instituições
da ignominia e das máculas de uma tristeza que nos doía n'alma' pertubando-
nos o porvir, prenhe de nuvens tétricas... E foi a decisão enérgica,

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varonil, singular do Soldado Paraense, sintétizado na personalidade do
nosso comterraneo, que proporcionou á nação o desafogo a que aludimos e
que imensamente util, no seu aspecto pragmático, foi ao regimem e ao país.
Por isso mesmo é que, havendo o governo do Pará de eleger um dia para ser
o de nossa Força Publica selecionou o de 25 de setembro, num preito
justissimo á memoria do coronel Fontoura, major honorário do nosso
Exército e benemerito não só de sua corporação como da República.(...)[7]

[1] FIGUEIREDO, Lucas. O Tiradentes: uma biografia de Joaquim José da Silva


Xavier. 1ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. P. 363

[2] CARVALHO, José Murilo de. In: SOUZA, Adriana Barreto. Duque de Caxias: o
homem por trás do monumento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. Contra
capa.

[3] SOUZA, Adriana Barreto. Duque de Caxias: o homem por trás do monumento. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. P. 28.

[4] CASTRO, Celso. A invenção do Exército Brasileiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed.
2002. p. 11-13.

[5] [5]

https://www.eb.mil.br/patronos/-/asset_publisher/DJfoSfZcKPxu/content/biografia-resu
mida-do-duque-de-caxias

[6] Publicação sobre “A corrida Cel Fontoura” no ano de 1937. Museu digital da PMPA.

[7] Jornal Folha do Norte, pág. 01 de 25 SET 1941. Publicado no Museu digital da PMPA.

56
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADAIR, John. Chefiar ou liderar? Seu sucesso depende dessa escolha. Tradução de
Débora da Silva Guimarães Isidoro. São Paulo: Futura, 2005.
BRASIL, [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil: texto
constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações determinadas
pelas Emendas Constitucionais nºs 1 a 6/94, pelas Emendas Constitucionais nos 1/92
a 91/2016 e pelo Decreto Legislativo nº 186/2008. - Brasília: Senado Federal,
Coordenação de Edições Técnicas, 2016.
, Exército. Estatuto dos Militares (Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980). 1
ed. Brasília, DF, 1980.
, EXÉRCITO. Estado Maior. C 20 10: LIDERANÇA MILITAR. 2ª Ed. Brasília
– DF, 2011.
, EXÉRCITO. Estado Maior. CI 20 – 10/1: COMANDANTE – Chefe e Líder.
1986. Disponível em:
https://crucis.decex.eb.mil.br/ava/pluginfile.php/10876/mod_resource/content/1/4.%20
CI%2020-10-1%20-%20Cmt%20%2C%20Ch%20e%20Ldr.pdf
BRITO, Divino Pereira de. Excelência profissional: estratégias de sucesso para o
exercício de comando. Belo Horizonte: Fundação Guimarães Rosa, 2010.
CARMEGIE, Dale. Liderança: como superar-se e desafiar outros a fazer o mesmo.
Traduzido por Emirson Justino. Barueri, SP: Companhia Editora Nacional, 2019.
Curso Nacional de Polícia Comunitária/Grupo de Trabalho, Portaria SENASP nº
014/2006 – Brasília – DF: Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP.
2006.
Doutrina sobre Liderança Militar adotada pelo Exército Brasileiro. Doutrina Militar
Terrestre. 2021. Disponível em:
https://crucis.decex.eb.mil.br/ava/course/view.php?id=36
LEIRNER, Piero de Camargo. Meia-volta, volver: um estudo antropológico sobre a
hierarquia militar. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1997.
PARÁ, [Constituição Estadual (1989)]. Constituição do Estado do Pará: texto
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http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/243099, Lei nº 5.251, de 31 de julho de 1985.

57
, Lei nº 6.833, de 13 de fevereiro de 2006. Institui o Código de Ética e
Disciplina da PMPA.
, Lei Complementar nº 053, de 07 de fevereiro de 2006. Dispõe sobre a
Organização Básica da PMPA.

, POLÍCIA MILITAR. Livro Didático do CGS/2019: CHEFIA E LIDERANÇA


MILITAR. Belém – PA, 2019.
NETO, Mario Hecksher. ESTUDOS DE CASO DE LIDERANÇA MILITAR. Disponível
em: https://crucis.decex.eb.mil.br/ava/course/view.php?id=36

58

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