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DIÁLOGOS URBANOS E
PAISAGÍSTICOS (FUNDAMENTOS
DE URBANISMO)
AULA 6
CONVERSA INICIAL
Nesta etapa, teremos a inserção do tema da sustentabilidade no planejamento urbano. Para tanto,
iniciaremos esta etapa com o conceito do termo sustentabilidade. Em seguida, vamos conversar sobre
alguns exemplos internacionais e nacionais de projetos considerados sustentáveis. O último tópico traz
uma noção geral dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que a ONU e seus parceiros estão
trabalhando para alcançar.
CONTEXTUALIZANDO
A sustentabilidade é um aspecto que vem ganhando cada vez mais relevância com o passar dos
anos e se tornou indispensável para o gestor público, assim como para todos aqueles que decidam
pensar e projetar o meio urbano.
acessibilidade e inclusão.
Ou seja, o planejador urbano deve buscar alcançar um equilíbrio entre a eficiência dos serviços
públicos e a utilização do uso do solo, com a possibilidade de manutenção econômica desses sistemas a
longo prazo, ao mesmo tempo em que potencializa a qualidade de vida dos cidadãos, bem como a
possibilidade de que todos tenham acesso a esses serviços e sistemas.
O termo desenvolvimento sustentável foi utilizado pela primeira vez no ano de 1972, no livro The
limits to growth, escrito por um grupo de cientistas americanos. Sua definição foi dada pelas Nações
Unidas, por meio do relatório de 1987 “World Commission on Environment and Development”,
E, para se ter um urbanismo sustentável, verifica-se que é um termo bastante abrangente. Tem a
vertente ambiental, social e econômica, e é comum observarmos que o termo está relacionado a
diversas palavras: ambiental, eficiência energética, poluição, mobilidade, centros urbanos, igualdade
social, sistema democrático etc. O que todas essas palavras têm em comum? Como podemos ter
cidades que melhorem seus deslocamentos, diminuindo a poluição, valorizem seus centros urbanos e
tenham eficiência energética? É um grande desafio, mas os gestores, planejadores, arquitetos e
urbanistas podem sim fazer a diferença desde pequenas ações até o planejamento de bairros ou
cidades, sempre tendo em mente o equilíbrio e a sustentabilidade para cada escala de projeto. Mas
também fazem parte da sustentabilidade de uma cidade a sua população. A conscientização da
população sobre conceitos e atitudes que garantam o equilíbrio do consumo, a diminuição da poluição,
a diminuição na geração de lixo, o desperdício de água e a promoção da reciclagem colaboram para
NBR ISO 37120:2017, a primeira norma técnica para cidades sustentáveis no Brasil, aprovada em
janeiro de 2017, e o documento denominado Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável
(DOTS), que define oito importantes princípios: compactação das áreas urbanas com o intuito de
encurtar distâncias, mistura de usos para estimular a diversidade, adensamento do território de acordo
com a capacidade de transporte coletivo, distribuição do espaço viário, integração das áreas das cidades
por meio do transporte coletivo, estímulo ao deslocamento a pé e priorização na criação de redes de
mobilidade para o uso da bicicleta.
Duas personalidades importantes do urbanismo sustentável são Jane Jacobs e Jan Gehl.
Jane Jacobs era uma escritora e ativista política nos Estados Unidos. Sua obra mais conhecida é
Morte e vida de grandes cidades, na qual faz críticas ao urbanismo desenvolvido nos Estados Unidos na
década de 1950. Na época, a escritora morava em Nova Iorque, que era palco de transformações e
projetos mais voltados para grandes rodovias e remodelações urbanas que não levavam em
consideração a escala humana e muito menos a participação popular. Jacobs defendia os princípios de
uma cidade eco-humana, ou seja, uma cidade participativa e baseada na escala humana.
Jan Gehl[1] é um arquiteto e urbanista dinamarquês que, há mais de 50 anos, atua de forma
diferente e oposta ao pensamento modernista. Sua premissa em seus projetos é criar cidades para as
pessoas, priorizando a escala humana.
Na minha opinião, nós precisamos fazer bairros ou centros de cidades muito melhores,
baseados na ideia de pessoas caminhando muito mais e pedalando muito mais quando isso for
possível. Muitas cidades decidiram fazer isso. Na minha cidade, Copenhague, 45% das pessoas
vão ao trabalho ou à escola de bicicleta, mas não era assim 20 anos atrás. Quanto mais
infraestrutura, mais seguro se torna e mais pessoas pedalam, pois é bom para o clima, é bom
para você, bom para a economia, bom para a poluição, é bom para o barulho. É realmente
muito bom.
Como planejador urbano de Copenhague, Jan Gehl propôs uma série de intervenções na cidade, o
que a tornou merecedora de diversos títulos, como a cidade mais sustentável, mais habitável e até
mesmo mais feliz do mundo. A primeira delas ocorreu em meados da década de 1960, com a conversão
da Strøget (uma importante rua que estruturava uma rede de vias com um fluxo significativo de
veículos) em uma via de pedestres, sendo a primeira da Dinamarca e uma das primeiras do mundo a ser
transformada em calçadão. Até hoje, é considerada um dos maiores complexos pedonais do mundo.
reivindicar meios alternativos de locomoção urbana, evitando que a cultura das bicicletas em
Copenhague fosse extinta. A partir desse período, o planejamento urbano da cidade voltou a privilegiar
pedestres e ciclistas, em vez de veículos. Ao dar mais espaço para bicicletas e aumentar o número de
ciclistas, os carros puderam se locomover com mais fluidez novamente (8). Isso foi o início de uma série
de intervenções que transformaram Copenhague no exemplo de qualidade de cidade que é hoje. Como
resultado, 55% das viagens na região central já são feitas de bicicleta (9).
Atualmente, apesar de receber críticas, como o alto custo de vida local e restrições à imigração, a
cidade possui abundância de áreas verdes, ótima mobilidade urbana e construções com alta qualidade
arquitetônica. Entre seus moradores, 97% afirmam estar satisfeitos (10).
Créditos: Arcady/Shutterstock.
Créditos: f11photo/Shutterstock.
Em 2002, o prefeito Lee Myung-bak lançou um plano ousado para remover a rodovia e revitalizar o
rio, resultando em uma transformação completa não apenas na paisagem urbana, mas também no
ambiente ambiental e social. O projeto é uma materialização dos conceitos de cidade sustentável,
valorizando o pedestre em vez do carro, melhorando a qualidade ambiental, incluindo a redução da
poluição atmosférica e sonora, e reintroduzindo a natureza no ambiente urbano.
De acordo com Turbay e Cassilhas, “uma referência brasileira que orienta o desenho urbano, dando
prioridade às pessoas e relacionando aspectos como maior eficiência e segurança no transporte,
mobilidade ativa e redução da emissão de poluentes, é o projeto ‘Ruas Completas’ da WRI Cidades
Sustentáveis, em parceria com a Frente Nacional dos Prefeitos[2]”. Gostaria de dar dois exemplos
Um exemplo é o das ruas compartilhadas do Projeto Gestão de Risco Climático Bairro Novo do
Caximba. O sistema viário proposto segue o mapa abaixo, com a definição da hierarquia das vias: via
Parque, rua do Comércio, vias de articulação (ruas que fazem a ligação das principais até as internas), via
que receberá o transporte coletivo e as vias compartilhadas. Todas as hierarquias de vias respeitam suas
funções, e as ruas compartilhadas são vias em que não há meio-fio, ou seja, o nível da rua é o mesmo
para pedestres, carros e bicicletas. A forma de compartilhamento é total. A inovação no projeto da rua
compartilhada do bairro Novo do Caximba está na priorização do pedestre, no conceito de ter a rua
como a extensão da casa das pessoas, como um lugar de encontro, com iluminação para pedestres,
mobiliário urbano e o uso de pavimento em concreto poroso para auxiliar no sistema de drenagem.
Figura 5 – Projeto Gestão de Risco Climático Bairro Novo do Caximba – Esquema Sistema Viário
Figura 6 – Projeto Gestão de Risco Climático Bairro Novo do Caximba – Esquema Via Compartilhada
Figura 7 – Projeto Gestão de Risco Climático Bairro Novo do Caximba – Esquema Via
Outro exemplo citado por Turbay e Cassilhas é o município de Curitiba, onde o desenho urbano
determinado por eixos estruturais proporciona a densidade de ocupação nesses locais, com a inserção
de vias marginais de tráfego lento e galerias de comércio no pavimento térreo, incentivando a circulação
de pessoas e o convívio social.
Iniciaremos esse exemplo com o depoimento do engenheiro Carlos Ceneviva, que diz: “Tem que
pensar a cidade do ponto de vista do pedestre, do usuário do transporte coletivo, do ciclista e do
motorista, nessa ordem de prioridade”. Ceneviva foi responsável, junto com Julius Forrer, pelo desenho
do esquema de vias rápidas da cidade de Curitiba.
TROCANDO IDEIAS
O transporte, a mobilidade urbana e o uso e ocupação do solo devem ser integrados e pensados
em conjunto para tornar a cidade eficiente. A multimodalidade na mobilidade também contribui para
garantir o direito básico do cidadão, que é ter acesso a serviços e equipamentos públicos, ao trabalho e
à moradia.
NA PRÁTICA
Que tal darmos uma olhada no site das Nações Unidas Brasil – ONU[3] para saber quais são os
Crédito: ONU
No site também é disponibilizado o valor total de recursos disponíveis (US$ 191,3 milhões) e em
quais ODS eles foram implementados:
FINALIZANDO
Ao final deste estudo, podemos perceber como o objeto de trabalho do planejamento urbano, a
cidade, é dinâmico. Destacamos que o planejamento urbano deve ser abordado de forma integrada e
intersetorial pelos gestores, reconhecendo que as cidades enfrentam conflitos, desafios e soluções.
Terminamos este estudo de forma otimista, encorajando nossos gestores a buscar sempre realizar seu
trabalho de maneira que promova acessibilidade, eficiência e sustentabilidade da cidade para seus
cidadãos.
REFERÊNCIAS
HAYAKAWA, I.; ROCHA, D. Traços de Curitiba: 50 anos de planejamento urbano. Curitiba: Edição do
Autor, 2020.
[1] Confira uma entrevista com o arquiteto, em que ele responde a algumas perguntas sobre a