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RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo discutir o mito da criação, através da
literatura comparada, com ênfase no suposto direito masculino de dominação sobre as
mulheres, criando valores quase indestrutíveis. Dentre esses valores, aquele que impõe os
mais pesados fardos às mulheres: a mulher teria vindo do homem? Tais fardos colocam
metade da população do planeta em segundo plano frente à proeminência outorgada aos
homens por eles mesmos e também por grande parte das mulheres, que, devido a inúmeros
fatores e anos de submissão, assimilaram o discurso do machismo, tomando-o por natural e
incontestável. Por outro lado, é verdade que existem literaturas e culturas as quais abordam a
mulher como ser divino e completo, independente e construtora de seus valores e história. É
esse enfrentamento – através de culturas e visões de povos diferentes – entre poder feminino e
masculino nos mitos da criação o enfoque do estudo aqui exposto. Os textos escolhidos para
a análise foram os mitos da criação presentes no livro de Gênesis da Bíblia e “A lenda de
Namorói”, conto de Mia Couto. Para a realização deste trabalho, utilizamos como método a
leitura, a interpretação e a análise dos mitos pelo viés da literatura comparada, numa tentativa
de encontrar possíveis similaridades e diferenças, na estrutura dos textos e, principalmente, no
que diz respeito à representação feminina. Para tanto, Carvalhal (2006) dá-nos suporte teórico
em relação à definição de Literatura Comparada (LC), a qual designaria uma forma de
investigação literária que confronta duas ou mais literaturas; já e Coutinho (2013) destaca que
a LC tem como marca fundamental o conceito de transversalidade, tanto em relação à
fronteira entre nações e idiomas quanto em relação aos limites entre áreas do conhecimento.
1. INTRODUÇÃO
1
IFCE. CAMPUS BATURITÉ. LICENCIATURA EM LETRAS PORTUGUÊS E INGLÊS –juniorvmb1@gmail.com,
2
IFCE. CAMPUS BATURITÉ. LICENCIATURA EM LETRAS PORTUGUÊS E INGLÊS –valdemirguara@yahoo.com.br
3
IFCE. CAMPUS BATURITÉ. LICENCIATURA EM LETRAS PORTUGUÊS E INGLÊS –daniellesilveira95@gmail.com
4
IFCE. CAMPUS BATURITÉ. GRADUADA EM LETRAS PORTUGUÊS/LITERATURA PELA UECE. ESPECIALIZAÇÃO EM
SEMIÓTICA APLICADA À LITERATURA E ÁREAS AFINS (EM ANDAMENTO) PELA UECE – annaliesprof@ifce.edu.br
civilizações diversas ideias que nortearam, entre tantos outros aspectos da sociedade, a
literatura.
Os mitos da criação são narrativas simbólicas, que explicam a origem do mundo e do
homem. Eles são encontrados em quase todas as culturas, e, apesar de hoje pensarmos nesses
mitos como histórias fantasiosas, cada comunidade as considerava como um relato sagrado,
que transmitia a verdade absoluta.
Neste estudo será discutido o papel do homem e da mulher, bem como um suposto
direito masculino de dominação sobre as mulheres, criando valores quase que indestrutíveis.
Entre esses valores, destaca-se o patriarcalismo, que tem como definição ideológica a
supremacia do homem nas relações sociais. Em contraponto surge o termo matriarcado que
designa sociedades que foram social, econômica, política e culturalmente criadas por
mulheres.
Para estudo serão consideradas duas obras. A primeira, o livro de Gênesis que trata
sobre a origem de todas as coisas, a partir de um ponto de vista considerado sagrado pelo
cristianismo. A segunda, “A lenda de Namarói” de Mia Couto, conto africano que trata a
criação como uma obra matriarcal. As literaturas têm simbolismos sobre a versão da origem
dos gêneros, bem como o papel por eles exercidos dentro da sociedade.
Este trabalho justifica-se pela necessidade de estabelecer uma reflexão sobre a
construção social envolta no papel da mulher bem como romper paradigmas que já não
servem para o século XXI.
2. METODOLOGIA
3. DISCUSSÃO
3.1 A CRIAÇÃO
[...] Assim foram concluídos os céus e a terra, e tudo o que neles há. [...] (BÍBLIA,
2000)
Moisés foi um profeta chamado por Deus para livrar os filhos de Israel do cativeiro
no Egito e guiá-los pelo deserto rumo à terra prometida de Canaã. Por terem os
acontecimentos registrados em Gênesis, ocorrido antes da época de Moisés, ele não os
testemunhou. Ele ficou sabendo sobre eles por meio de revelação (sonho).
Por outro lado, se observarmos o trecho referente à criação no conto de Mia Couto,
podemos perceber um aspecto semelhante, conforme constatamos no trecho a seguir:
[...] Vou contar a versão do mundo, razão de brotarmos homens e mulheres. [...]
(COUTO, 1990)
Quem relata a estória é uma senhora que conheceu os fatos narrados através de
sonhos guiados pelos seus antepassados. Em ambas as narrativas os fatos não detém uma
origem certa, comprovada, visto que tudo se deu por sonhos.
3.2 O HOMEM
No mito judaico-cristão, o homem aparece como uma criação divina, logo, reflexo de
algo perfeito. Passa a viver e, segundo a escrita de Gênesis, o mesmo passa a ser o dominador
do espaço e de tudo que este espaço possui, incluindo a natureza.
[...] Os homens não haviam. E assim foi até aparecer um grupo de mulheres que não
sabia como parir. Elas engravidavam mas não devolviam ao mundo a semente que
consigo traziam. [...] (COUTO, 1990)
O homem surge numa perspectiva feminina, sendo ele uma anomalia ou desvio da
natureza. O contexto que se estabelece apresenta mulheres no centro do poder. A reescrita da
narrativa sobre as origens traz uma sobreposição a várias tradições, pois há uma
desconstrução da figura masculina como um modelo imposto, apontando para uma
organização matriarcal.
3.3 A TERRA
[...] 15 O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e
cultivá-lo. [...] (BÍBLIA, 2000)
A ideia de que o homem desde o princípio seria o “dono” da terra, que dela cuidaria
se faz presente nesse trecho da Bíblia. Há, portanto um sentimento de pertença e poder da
figura masculina como predestinada para essa função.
Por outro lado, a leitura trazida na lenda africana direciona o olhar para outro
enfoque de relação de poder e manipulação sobre a terra e seu aspecto de fertilidade.
[...] as mulheres sabiam colher a chama, semeavam o fogo como quem conhece as
artes da semente e da colheita [...] (COUTO, 1990)
[...]18 Então o Senhor Deus declarou: "Não é bom que o homem esteja só; farei para
ele alguém que o auxilie e lhe corresponda". [...] (BÍBLIA, 2000)
[...] No princípio, todos éramos mulheres. Os homens não haviam. E foi assim até
aparecer um grupo de mulheres que não sabia como parir. [...] (COUTO, 1990)
3.5 A VIDA
[...] 21 Então o Senhor Deus fez o homem cair em profundo sono e, enquanto este
dormia, tirou-lhe uma das costelas, fechando o lugar com carne. [...] (BÍBLIA,
2000)
[...] Uma mulher deu a luz. Os homens se espantaram: eles desconheciam o ato do
parto. A grávida foi atrás da casa, juntaram-se as outras mulheres e cortaram
acriança onde ela se confundia com a mãe. Decepado o cordão, o um se fez dois, o
sangue separando os corpos [...] (COUTO, 1990)
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1970.
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Nova Versão Pastoral. São Paulo: Bíblica Brasil, 2000.
CARVALHAL, Tânia Franco. Literatura Comparada. São Paulo: Editora Ática, 4ª edição
revista e ampliada, 2006.