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sábado, 6 de novembro de 2010

Resumo de Livro: ELIADE, Mircea. Mito e realidade

ELIADE, Mircea. Mito e realidade. Ed. 4°.


Trad. Pola Civelli. São Paulo: Perspectiva, 1994.
“A noção da origem está ligada, sobretudo, à idéia da perfeição e beatitude” p. 52.

CAP 1. A ESTRUTURA DOS MITOS.


Sec. XIX – o mito era a mesma coisa que fábula, invenção, ficção.
Sec. XX – aceitar o mito com olhos da sociedade arcaica, onde o mito designava uma
história verdadeira, de caráter sagrado e de exemplar significado. O mito tem um novo
status semântico, na verdade é um resgate.
- O mito acabou por designar tudo o que não pode existir realmente.
- O mito fornece os modelos para a conduta humana, conferindo valor à existência.
- O mito está ligado a sociedades arcaicas.
“O mito é uma realidade cultural extremamente complexa, que pode ser abordada e
interpretada através de perspectivas múltiplas e complementares” p. 11.
“O mito conta uma história sagrada; ele relata um acontecimento ocorrido no tempo
primordial, o tempo fabuloso do princípio. Em outros termos, o mito narra como, graças
às façanhas dos entres sobrenaturais, uma realidade passou a existir... é sempre,
portanto, uma narrativa de criação: ele relata de que modo algo foi produzido e
começou a ser. O mito fala apenas do que realmente ocorreu, do que se manifestou
plenamente. Os personagens dos mitos são os entes sobrenaturais. Eles são conhecidos,
sobretudo, pelo que fizeram no tempo prestigioso dos primórdios. Os mitos revelam,
portanto, sua atividade criadora e desvendam a sacralidade (ou simplesmente a
sobrenaturalidade) de suas obras. Em suma, os mitos descrevem as diversas e, algumas
vezes dramáticas, irrupções do sagrado (ou do sobrenatural) no mundo. É essa irrupção
do sagrado que realimente fundamenta o mundo e o converte no que é hoje” p. 11.
“O mito é considerado uma história sagrada e, portanto, uma história verdadeira, por
que sempre se refere a realidade” p. 12.
“A principal função do mito consiste em revelar os modelos exemplares de todos os
ritos e atividades humanas significativas...” p. 13.
- Nas sociedades arcaicas os mitos são tidos como histórias verdadeiras e as fábulas
como falsas. Nas histórias verdadeiras estão àquelas que tratam da origem do mundo, os
protagonistas, os ancestrais - entes divinos, celestiais. Surge o herói que salva o povo do
inimigo comum.
“Em suma, nas histórias verdadeiras, defrontamo-nos com o sagrado e o sobrenatural; as
falsas, ao contrário, têm um conteúdo profano” p. 14.
- Os mitos narram os acontecimentos primordiais em conseqüência dos quais o homem
se converteu no que é hoje. Somos resultados dos eventos primordiais.
“O homem moderno se considera constituído pela História, o homem das sociedades
arcaicas se proclama o resultado de um certo número de eventos míticos”. P. 16.
- O que aconteceu na ORIGEM de todas as coisas pode ser repetido através do poder
dos rituais. Ao ser rememorar os mitos e reatualizá-los, nós somos capazes de repetir o
que os Deuses, os heróis ou os ancestrais fizeram.
“Aprende-se não somente como as coisas vieram à existência, mas também onde
encontrá-las e como fazer com que reapareçam quando desaparecem” p. 18.
- O tempo mítico é o tempo do sonho.
“Os mitos ensinam como repetir os gestos criadores dos Entes Sobrenaturais e,
conseqüentemente, como assegurar a multiplicação de tal ou tal animal ou planta” p. 18.
- Conhecer a origem de algo equivale a adquirir poder sobre ele, reproduzi-lo.
- Não é preciso basta conhecer o mito da origem, é preciso recitá-lo.
“Recitando ou celebrando o mito da origem, o indivíduo deixa-se impregnar pela
atmosfera sagrada na qual se desenrolaram esses eventos miraculosos. O tempo mítico
das origens é um tempo forte, porque foi transfigurado pela presença ativa e criadora
dos entes sobrenaturais. Ao recitar os mitos, reintegra-se àquele tempo fabuloso e a
pessoa torna-se conseqüentemente, contemporânea, de certo modo, dos eventos
evocados, partilha da presença dos deuses ou dos heróis”. P. 21
“Ao viver os mitos, sai-se do tempo profano, cronológico, ingressando num tempo
qualitativamente diferente, um tempo sagrado, ao mesmo tempo primordial e
indefinidamente recuperável” p. 21.
Para as sociedades arcaicas os mitos: a) constitui a história dosa atos dos entes
sobrenaturais; b) a história narrada pelo mito é verdadeira; c) o mito se refere sempre a
uma criação; d) conhecendo o mito, conhece-se a origem das coisas, chegando-se a
dominá-la; e) vive-se o mito ao rememorá-lo ou reatualizá-lo. (p. 22).
“Não se trata de uma comemoração dos eventos míticos, mas de sua reiteração. O
indivíduo evoca a presença dos personagens dos mitos e torna-se contemporâneo deles.
Isso implica igualmente que ele deixa de viver no tempo cronológico, passando a viver
no tempo primordial, no tempo em que o evento teve lugar pela primeira vez. É por isso
que se pode falar no tempo forte do mito: é o tempo prodigioso, sagrado, em que algo
de novo, de forte e de significativo se manifestou plenamente” p. 22.
“Em suma, os mitos revelam que o mundo, o homem e a vida têm uma origem e uma
história sobrenaturais, e que essa história é significante, preciosa e exemplar” p. 22.

CAP. 2 – PRESTÍGIO MÁGICO DAS ORIGENS (p. 25)


Mitos de Origem e mitos cosmogônicos.
“Toda história mítica que relata a origem de alguma coisa pressupõe e prolonga a
cosmogonia. Do ponto de vista da estrutura, os mitos de origem homologam-se ao mito
cosmogônico. Sendo a criação do mundo a criação por excelência, a cosmogonia torna-
se o modelo exemplar para toda espécie de criação. Isso não quer dizer que omito de
origem imite ou copie o modelo cosmogônico, pois não se trata de uma reflexão
concertada e sistemática” p. 25.
“Todo mito de origem conta e justifica uma situação nova – nova no sentido de que não
existia desde o início do mundo” p. 26.
- Geralmente o guru recita a história da humanidade desde a criação do mundo, e
termina contando o nascimento daquele para o qual está sendo realizado o rito.
- É o mito, portanto, da instalação territorial do grupo, em outros termos, a história de
um novo começo, réplica da criação do mundo.
- No ritual da comemoração a pessoa mergulha na plenitude primordial, deixa-se
penetrar pelas forças gigantescas que tornaram possível a criação. O ser é projetado para
fora do tempo profano e deslocado para o tempo sagrado das origens. A cerimônia
inclui a execução de diferentes etapas da criação. Reatualizam um após outro os eventos
ocorridos nos tempos míticos. É a recitação solene do evento primordial, apóia um novo
recomeço, um recomeço a partir da origem.
- A origem é o modelo. Na comemoração, o homem atual repete o feito, por excelência,
do gesto arquetípico dos heróis. É preciso saber como o acreano surgiu pela primeira
vez. Tentar imitar os heróis é almejar os mesmos resultados, as mesmas glórias.
OBS: devemos pensar não um único começo, mas vários; uma pluralidade de origens.
“O retorno à origem, que permite reviver o tempo em que as coisas se manifestaram
pela primeira vez, constitui uma experiência de importância capital para as sociedades
arcaicas” p. 36.
- A finalidade da comemoração é relembrar a fonte de tudo; é reviver as origens. É um
“voltar atrás” até o tempo original. A recuperação do tempo primordial é indispensável
para assegurar a renovação total do cosmo.
- O mito de origem inicia, geralmente, por uma cosmogonia. “O mito recorda
brevemente os momentos essenciais da criação do mundo, para contar a seguir, a
genealogia da família real, ou a história tribal...” p. 37.
- A cosmogonia é a origem do mundo. A idéia mítica da origem está imbricada no
mistério da criação. O mito de origem é como se deu a origem do mundo; é a explicação
para o referido fenômeno. A cosmogonia é o exemplo para as demais criações.
“Em suma, a origem de uma coisa corresponde à criação dessa coisa” p. 39.

CAP. III – MITOS E RITOS DE RENOVAÇÃO (p. 41).


- As diferentes fases do ritual levam a sucessivamente níveis de regressão.
- Os mitos de origem recordam aos homens como o mundo foi criado.
OBS: a renovação obedece a um obedece a um modelo, o da origem.
“Não se pode, contudo, renovar o mundo senão repetindo o que os imortais fizeram...
eis por que o sacerdote reproduz o itinerário exemplar dos imortais e repete os seus
gestos e as suas palavras... O mundo não só se torna mais estável e regenerado, como é
igualmente santificado pela presença simbólica dos imortais” p. 50.
“A idéia de que a perfeição estava no princípio parece ser muito antiga” p. 51.
- Há uma obsessão pela beatitude da origem ou dos primórdios. Por isso, a regressão do
cosmo ao estado amorfo. Devemos analisar a possibilidade da mobilidade da origem.
“A partir de um certo momento, a origem não se encontra mais apenas num passado
mítico, mas também num futuro fabuloso” p. 52. A idade ouro também está no futuro.

CAP. IV – ESCATOLIGUA E COSMOGONIA (p. 53)


“O mito da perfeição do princípio está claramente testificado na Mesopotâmia, entre os
judeus e os gregos” p. 60.  Paraíso primordial.

CAP. V – O TEMPO PODE SER DOMINADO (p. 71).


- Para o homem arcaico, o conhecimento da origem de uma coisa é a mesma coisa que
dominá-la.
“O desejo de conhecer a origem das coisas caracteriza igualmente a cultura ocidental.
No século XVIII e, sobretudo, no século XIX, multiplicaram-se as pesquisas
concernentes não só a origem do Universo, da vida, das espécies ou do homem, mas
também à origem da sociedade, da linguagem, da religião e de todas as instituições
humanas. Há um esforço para conhecer a origem e a história de tudo o que nos cerca...”
p. 72.
- No século XX, com a psicanálise, a origem toma outros rumos. Essa disciplina
elaborou técnicas capazes de rever a origem da história pessoal do homem, de
identificar o evento preciso que pôs fim à beatitude da infância.
- De Freud vem as seguintes idéias: a) a beatitude da origem e do começo do ser
humano; b) A idéia segundo a qual, a recordação ou mediante um voltar atrás, é
possível reavivver certos incidentes traumáticos da primeira infância. c) o voltar atrás é
a técnica por onde a cura se manifesta.
“O retorno individual à origem é concebido como uma possibilidade de renovar e
regenerar a existência daquele que a empreende” p. 74.
- O retorno à origem prepara um novo nascimento, mas este não repete o primeiro. “A
idéia fundamental é que, para se ter acesso a um modo superior de existência, é preciso
repetir a gestação e o nascimento, que são, porém repetidos ritualmente,
simbolicamente...” p. 76. O retorno produz rejuvenescimento, transmite longevidade.
- Ir atrás do começo absoluto do qual tudo parte. Para Freud, rememorar o passado é
dominá-lo, impedi-lo de influenciar o presente. Percorrer o tempo em direção contrária
depende da memória, daí a importância da história, fazer recordar o passado.
- A ORIGEM: qual o lugar do nascimento?
- O conhecimento sobre origem possui um prestígio excepcional no conhecimento.
“Essa história primordial, dramática e algumas vezes trágica, deve ser não só conhecida,
mas não só conhecida, mas também continuamente rememorada” p. 84.

CAP. VI – MITOLIGIA, ONTOLOGIA, HISTÓRIA (p. 85).


- O tempo mítico pode não ser o da cosmogonia ou da ontologia, mas ao da história.
- O essencial é atingido por um prodigioso voltar atrás.  
- Foram os gregos que desenvolveram os pressupostos básicos do pensamento mítico: a
importância da origem; o papel da memória e a história como sagrada.

CAP. VII – MITOLOGIA DA MEMÓRIA E DO ESQUECIMENTO (p. 103).


- A recordação implica a um esquecimento. A rememoração pretende atingir as
profundezas do ser, descobrir o original, a realidade primordial da qual proveio o
cosmo.
- Na Grécia, os poetas inspirados pelas musas eram capazes de acessar as realidades
originais.
- Temos a memória dos eventos primordiais (cosmogonia, teogonia e genealogia) e a
memória dos eventos históricos
- A morte seria o retorno a um estado primordial.

CAP. VIII – GRANDEZA E DECADÊNCIA DOS MITOS (p. 123).


“A rememoração e a reatualização do evento primordial ajudam o homem primitivo a
distinguir e reter o real” p. 124.
“O ritual abole o tempo profano, cronológico e recupera o tempo sagrado do mito” p.
126.
- Os mitos fazem menção a um passado glorioso, repleto de eventos grandiosos que
pode ser imitados, pois os gestos paradigmáticos têm igual aspecto positivo.
“O rito força o homem a transcender os seus limites, obriga-o a situar-se ao lado dos
deuses e dos heróis míticos, a fim de poder realizar os atos deles. Direta ou
indiretamente, o mito eleva o homem” p. 128.
- A reforma foi um retorno à bíblia. Ter uma origem bem estabelecida significa
prevalecer-se de uma origem nobre. As nações tentam provar a origem nobre. A paixão
pela origem nobre explica igualmente o mito racista do arianismo, periodicamente
revalorizado no ocidente. O ariano é o ancestral primordial, modelar e glorioso.
- A recitação dos eventos significativos é parte do ritual.

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