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1. INTRODUÇÃO:
⇾ Doenças bolhosas: dermatoses caracterizadas por bolhas ou, menos frequentemente, por vesículas.
» Podem ter localizações:
▪︎ Intraepidérmicas (acantolíticas): mais efêmeras e superficiais, como no caso dos pênfigos.
▪︎ Subepidérmicas: maiores e mais duradouras por terem toda a epiderme como teto.
⇾ O pênfigo é um grupo de doenças bolhosas autoimunes com tendência à progressão, de evolução crônica e
ilimitada, com prognóstico reservado.
» Ocorre comprometimento cutâneo e, algumas vezes, mucoso, que têm em comum a produção de
autoanticorpos contra antígenos do desmossomo (estrutura celular responsável pela adesão celular epitelial), levando
à acantólise, resultando em perda de coesão entre os queratinócitos, que provoca a formação das vesículas e bolhas.
▪︎ Esses antígenos são as desmogleínas, glicoproteínas transmembrânicas desmossômicas.
⇾ Classificam-se em diferentes variantes clínicas e etiopatogênicas.
» As formas clínicas mais frequentemente são o pênfigo vulgar e o foliáceo.
▪︎ Existem outras formas menos frequentes como o pênfigo desencadeado por drogas, o herpetiforme,
o paraneoplásico e o pênfigo por IgA.
⇾ Graças à introdução dos corticosteroides sistêmicos, o número de mortes diminuiu, ocorrendo em cerca de 10%
dos pacientes.
» O foliáceo é de melhor prognóstico que o vulgar.
» Em geral, a morte é resultante de infecções ou complicações do tratamento.
⇾ Excepcionalmente pode ocorrer a transformação com maior frequência do PF em PV do que do PV em PF
2. FISIOPATOLOGIA:
- São doenças autoimunes cuja sede primária seria os desmossomos
- Os pênfigos são definidos como doenças autoimunes antidesmogleína, exceto o PP, que tem como antígenos a
desmoplaquina e o antígeno do penfigoide bolhoso 1, além das desmogleínas.
*** As desmogleínas são glicoproteínas transmembrana dos desmossomos.
- A causa pela qual estes elementos tornam-se antigênicos e induzem a produção de anticorpos permanece obscura.
- No Pênfigo vulgar, o principal antígeno desmossômico envolvido é a desmogleína 3 (Dsg3). Pacientes com PV com
acometimento exclusivo das mucosas têm anticorpos apenas contra a Dsg3 (a Dsg1 é praticamente ausente nelas) nas
formas mucocutâneas, os pacientes também apresentam anticorpos anti-Dsg1.
- No Pênͅ figo foliáceo, os pacientes apresentam anticorpos apenas anti-Dsg1, e, por isso mesmo, não apresentam
lesões mucosas.
- A imunofluorescência direta (IFD) revela que o anticorpo principal encontrado na área lesional ou perilesional é o
IgG. Nos casos de lesões agudas, exclusivamente orais, C3 (componente do sistema complemento) pode ser o único
elemento encontrado. Além de C3, têm sido demonstrados C1q e C4, o que evidencia a ativação da via clássica do
complemento, apesar de também ocorrer, raramente, ativação da via alternada.
- Além disso, a IFD pode permanecer positiva na pele de indivíduo em cura clínica por vários anos e, mesmo, sem
medicação de manutenção.
- A imunofluorescência indireta (IFI) revela IgG1 e IgG4 antidesmogleína em títulos elevados, conhecidos como
anticorpos tipo pênfigo. Mais de 95% dos doentes apresentam anticorpos tipo pênfigo.
- PORTANTO, em relação a fisiopatologia da doença, as desmogleínas são compostas de diversos domínios, em que,
dentre os quais, há os domínios extracelulares (EC1-4). Os anticorpos reagem contra esses domínios. Os anticorpos de
classe IgG4 têm maior significado patogênico, ou seja, são os maiores responsáveis pela doença, enquanto os IgG1
estão presentes nos indivíduos sãos – em uma fase pré-clínica –, nos doentes em remissão e em níveis bem mais baixos
do que os IgG4 na doença ativa.
→ RESUMO:
→ Em A:
- O desenvolvimento de bolhas na pele ou mucosa ou ambos dependem do tipo de DSG que está sendo alvo dos
autoanticorpos.
- Pênfigo vulgar mucosa dominante: anticorpos IgG anti-DSG3 induzem erosões na mucosa oral, sendo DSG3 o tipo
mais abundante de DSG no local, mas não induzem bolhas cutâneas, pois há compensação de DSG1 (não havendo
formação IgG anti-DSG1). Já no tipo mucocutâneo de pênfigo vulgar, tanto anticorpos IgG anti-DSG3 quanto anti-DSG1
estão presentes, assim há a formação de lesões tanto na mucosa quanto na pele.
- No Pênfigo foliáceo, os anticorpos IgG anti-DSG1 induzem bolhas superficiais na pele, mas não na mucosa oral (pois,
nesse caso, não há formação de anticorpos IgG anti-DSG3).
4. TRATAMENTO:
- Antes do advento dos corticoides, não havia nenhum tratamento efetivo para o pênfigo, com evolução fatal em 80 a
90% dos casos. Com a introdução dos corticoides houve mudança crucial na evolução e prognóstico da doença. No
geral, o pênfigo foliáceo responde mais rapidamente e com doses menores de corticoide do que o pênfigo vulgar.
- Utiliza-se Prednisona 1 mg/kg/dia (dose máxima de 100 a 120 mg/dia) → Se não houver resposta no prazo de 7 a 10
dias, substitui-se por triamcinolona na dose equivalente da primeira (5 mg de prednisona equivalem a 4 mg de
triamcinolona).
-A redução do corticoide se inicia após a completa resolução das lesões → A dose é reduzida em 10 mg a cada semana
até atingir-se a de 40 mg/dia. A partir dessa dose, a redução deve ser mais lenta, 5 a 10 mg por mês. Quando se atinge
a dose diária de 10 mg, a retirada ocorre com diminuição de 2,5 mg a cada 2 ou 3 meses, conforme a evolução clínica.
-Quando não há melhora com a corticoterapia sistêmica, associa-se Micofenolato Mofetil 35 a 45 mg/kg/dia.
-Sulfona pode ser indicada como medicação adjuvante nas formas leves e resistentes, quando há dificuldade na
redução da corticoterapia sistêmica → A cloroquina é utilizada nas mesmas situações e quando as lesões se localizam
nas áreas expostas ao sol.
-Corticoterapia tópica (valerato de betametasona 0,1%): pode ser recomendada nas lesões crônicas e nas crianças
com formas generalizadas e que apresentam pouca resposta à corticoterapia sistêmica → Não deve ser usada quando
há infecção bacteriana cutânea e é preciso ter cuidado em relação à formação de estrias, atrofia cutânea e absorção
sistêmica, evitando uso prolongado.
-Infiltração intralesional de Triamcinolona 5 mg/Ml: pode ser indicada nas lesões crônicas, localizadas e resistentes ao
tratamento tópico.
-Medicamentos imunossupressores (Azatioprina e Ciclofosfamida): apresentam pouca eficácia.
-Em virtude da imunossupressão, há maior facilidade de infecções bacterianas, como septicemias, pneumonias e
tuberculose e infecções virais, como o herpes simples → As infecções cutâneas, como piodermites, dermatomicoses
e candidoses, são mais frequentes → Uma das principais causas de morte em decorrência da imunossupressão
induzida por corticoides é a estrongiloidase → ASSIM, Todo doente de fogo selvagem deve ser tratado,
profilaticamente, pelo menos por 2x para estrongiloidase, mesmo com exame de fezes negativo.
-Há necessidade de cuidados gerais, sendo aconselháveis banhos de permanganato de potássio a 1:30.000 e o uso de
cremes e pomadas, eventualmente com algum antibiótico como a neomicina ou gentamicina.
-Antibioticoterapia sistêmica: deve ser indicada quando há infecção bacteriana secundária das lesões, pois ela
contribui para piora da doença bolhosa.
-Aciclovir endovenoso: é utilizado quando há erupção variceliforme de Kaposi.
-Complicações decorrentes da corticoterapia sistêmica devem ser monitoradas, como osteoporose, HAS, DM, gastrite,
úlceras gástrica e duodenal e catarata → Necrose asséptica da cabeça de fêmur e fraturas patológicas também devem
ser consideradas
*** A investigação de osteoporose deve incluir densitometria óssea prévia ao início da corticoterapia
sistêmica, devendo ser repetida anualmente.
***O uso de cálcio e vitamina D deve ser orientado de acordo com avaliação clínico-laboratorial.
*** Quando houver osteopenia ou osteoporose, o acompanhamento endocrinológico é obrigatório.
-Considerada a forma mais grave → pode surgir em qualquer idade, mas é mais comum entre a 4°e 6° década de vida.
-Acomete os dois sexos igualmente na fase adulta → NO ENTANTO, antes dos 20 anos a incidência é maior no sexo
feminino.
-Tem distribuição universal, mas em judeus é descrito um número maior de casos → estudos de histocompatibilidade
mostram maior incidência do HLA-DR4 (judeus asquenazes).
-Alguns recém nascidos de mães com pênfigo vulgar apresentam doença transitória, que desaparece após 3 semanas
→ tal fato é derivado da passagem de autoanticorpos pela placenta de mãe para filho.
2. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS:
-Inicialmente, ocorrem lesões em mucosa oral em 50-70% dos doentes, alcançando 90%
durante a evolução. As lesões podem acometer toda a mucosa bucal, mas predominam na
mucosa jugal, palato e gengivas → essa fase mucosa pode durar meses, sendo frequente o
diagnostico errôneo de estomatite aftosa → além disso, podem se apresentar como gengivite
descamativa.
-As bolhas, nesse caso, são flácidas, rompendo-se precocemente e deixando áreas erosivas em número variável,
dolorosas que sangram facilmente → assim, ocorre comprometimento da alimentação, gerando deficit nutricional e
do estado geral.
-Outras mucosas podem ser afetadas: conjuntival, nasal, faríngea, laríngea, esofagiana, vaginal, cervical, uretral e anal.
- Além disso, essas lesões bolhosas podem ocorrer de forma isolada (couro
cabeludo, na face, nas axilas e na virilha) mas têm tendência à generalização.
3.TRATAMENTO:
-Corticoterapia sistêmica: altas doses prednisona de 1 a 2 mg/kg/dia (dose máxima de 100 a 120 mg/dia), de acordo
com a gravidade da doença, por um período nunca inferior a 6 semanas → A dose deve ser aumentada (mais 40 a 60
mg) se não houver resposta clínica após 4 a 6 semanas de tratamento → depois de 6 semanas, as doses devem baixar
gradualmente (7 a 21 dias) até uma dose de manutenção. Não havendo melhora, indica-se a associação com
medicação imunossupressora. Principais usados:
Os doentes que não apresentam melhora significativa podem ser tratados com pulsoterapia com metilprednisolona 1
g/dia IV em 3 dias consecutivos. Pulsoterapia com ciclofosfamida IV 10 mg/kg também pode ser indicada.
Imunoglobulina IV na dose total de 2 g, dividida em 5 dias consecutivos é outra opção terapêutica. -Outra opção de
eficácia ainda maior é a utilização de pulso de imunoglobulina intravenosa → Plasmaférese é indicada para diminuir
os autoanticorpos circulantes.
-Sulfona 100 mg/dia: pode ser indicada nos quadros leves ou nas lesões mucosas resistentes de pênfigo vulgar, como
medicação adjuvante da corticoterapia sistêmica.
-É conveniente ser feito, no início da terapêutica com corticoide, um tratamento para estrongiloidíase, mesmo com
exame parasitológico de fezes negativo, já que uma das causas de morte, além de septicemias e tuberculose, é a
estrongiloidíase disseminada.
-A tendência atual é associar medicamentos que aliviem a osteoporose causada pelos corticosteroides, sobretudo em
mulheres na menopausa:
-Em casos refratários aos Ttos descritos, usa-se o Rituximabe, que é um anticorpo monoclonal anti-CD20, que se liga
à molécula CD20 dos linfócitos pré-B e B, provocando sua lise e, assim, diminuindo a produção dos anticorpos
antidesmogleína, pode ser utilizado → Recomenda-se uso semanal, por 4 semanas IV, na dose de 375 mg/m2 de
superfície corpórea, acompanhado da corticoterapia sistêmica.
-Em caso de lesões refratárias aos tratamentos propostos, recomenda-se a pesquisa de eventual infecção viral
concomitante, e, se confirmada, tratá-la conforme a etiologia.
-Deve ser feito por histopatologia (bolha acantolítica), acompanhada preferencialmente pela IFD e IFI e citologia do
líquido das bolhas (células acantolíticas), associadas à clínica.
-Em algumas situações particulares, pode-se solicitar sorologia para detecção de Dsg1 ou 3, com títulos que podem
estar relacionados com a atividade da doença no PV e no PF.
1. SINAIS CLÍNICOS:
2. CITOLOGIA:
-Caracterizado por élulas acantolíticas que permitem o dignóstico de pênfigo, mas sem especificidade, pois ocorrem
em todas as formas da doença.
3. HISTOPATOLOGIA:
-São encontradas bolhas intraepidérmicas e fendas decorrentes de acantólise (lise dos acantos)→ no interior das
bolhas, identificam-se células acantolíticas.
4. IMUNOFLUORESCÊNCIA:
-Para o diagnóstico na grande maioria dos casos, as reações de imunofluorescência são suficientes → NO ENTANTO,
existem outras técnicas imunológicas, mais empregadas em pesquisa, que também podem ser utilizadas no
diagnostico, como: Immunoblotting, a imunoprecipitação e a técnica de ELISA, existindo preparações comerciais de
desmogleínas para serem testadas com os soros dos doentes.
-Direta (IFD):
-Indireta (IFI):
➔ Positiva em 90 a 100% dos casos, em geral, em títulos bastante elevados quando em atividade clínica,
havendo, na maioria dos casos, correlação entre títulos e atividade da doença.
➔ Revela IgG1 e IgG4 antidesmogleína em títulos elevados, conhecidos como anticorpos tipo pênfigo.
➔ O método ELISA é empregado no monitoramento da atividade dos PF e PV, por intermédio da titulação
dos anticorpos anti-Dsg1 e 3.
➔ Existem casos de pênfigo sem anticorpos séricos específicos, sobretudo em doença localizada ou em fase
inicial.
DIAGNOSTICO DIFERENCIAL
-Lesões:
• Mucosas: aftas, herpes, eritema multiforme, líquen plano, doença de Behçet, penfigoide bolhoso e penfigoide
cicatricial.
• Cutâneas: farmacodermia, Stevens-Johnson, eritrodermias de outra natureza (apenas para o PF), dermatite
seborreica, lúpus eritematosos e outras doenças vesicobolhosas.
-Do ponto de vista histopatológico, faz-se com doença de Darier, Hailey-Hailey e de Grover.
➤ Efeitos na PA
⇾ Aumentam a sensibilidade da musculatura lisa vascular as catecolaminas e a angiotensina II, além de diminuir a
dilatação endotelial mediada pelo óxido nítrico → aumenta a RVP → aumenta a PA do indivíduo.
⇾ A hipertensão arterial ocorre em 15 a 20% dos indivíduos em uso crônico de corticosteróides, devido à retenção
salina e ao aumento da reatividade vascular.
2. MEDIDAS PREVENTIVAS:
➤ DIETA:
- Restringir dieta hipercalórica + sódio
- Deve ser rica em em proteína, potássio e cálcio
- Deve-se orientar atividade física regular (três vezes por semana).
➤ PREVENÇÃO DE INFECÇÕES:
1. Tuberculose: Deve-se realizar teste tuberculínico pré-tratamento (ou até 12 dias após início da prednisona). Caso
positividade para a doença → realizar quimioprofilaxia contra a tuberculose
- A droga de escolha para a quimioprofilaxia da tuberculose é a isoniazida, na dose de 10mg/kg/dia, com dose máxima
de 300mg, via oral, diária, por seis meses consecutivos.
2. Estrongiloidíase: Realizar exame parasitológico de fezes inicial e a cada seis meses. Tratar, se necessário, com
tiabendazol ou ivermectina.
➤ PREVENÇÃO DE OSTEOPOROSE:
- Consiste em administração de dieta rica em cálcio, exercícios físicos, suplementação de cálcio e vitamina D, e a terapia
de reposição hormonal em mulheres menopausadas, quando indicada.
- Recomenda-se mensurar a densidade óssea basal e fazer reavaliação periódica anual para identificar os pacientes de
maior risco (perda óssea rápida). A densidade óssea é mensurada na coluna lombar e no colo femoral dos pacientes.
Todos os homens e mulheres pós-menopausa em programação de uso prolongado corticosteróide, na dose mínima
de 5 mg/dia e que apresentem densidade óssea abaixo do normal, devem receber bisfosfonatos para evitar um quadro
de osteoporose. Mulheres em idade fértil, tratadas com bisfosfonatos, devem fazer contracepção → teratogênico.
➤ OLHOS: medir pressão intraocular (glaucoma) e fazer exame com lâmpada de fenda (catarata) a cada seis meses.