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Aula 3- Promoção de Saúde e Prevenção de Doenças1

Gregos (Antiguidade, 460 a.C a 146 a.C.): importância das condições de vida como
determinantes de saúde.

Hipócrates: saúde e ambiente – trilogia ar, água e espaços.

Fábula de Esculápio: duas filhas. Panacéia – deusa da cura, das medicinas, dos
procedimentos. Higiéia – a deusa da saúde – Higiene (moderação no viver)

Cultura Romana (antiga): importância das políticas públicas integradas e intersetoriais,


como produtoras de saúde.

Galeno: relacionou liberdade proporcionada por uma renda econômica adequada


à situação de saúde da população.

Período Medieval: “anos negros”. Clero – classe dominante. As ações do governo eram
em relação ao espírito com um abandono total do corpo e de todo seu cuidado.

Renascimento (séc.XV e XVI): não apresentou grandes avanços. Expansão do mundo,


as grandes navegações, o descobrimento da América, produz outro tipo de tensão de
caráter mais sociocultural. Troca entre os países não foi apenas de doença, mas também
as experiências em relação às medidas de prevenção e promoção mais relacionadas à
conversão dos gentios à estilos de vida saudáveis, portanto utilizando processos
comportamentalistas e autoritários.

Séc. XVII e XVIII: muitos avanços na Medicina e na Saúde Pública. Descobrimento do


microscópio. Conhecimento científico: bases da bacteriologia e da microbiologia.
Absolutismo autoritário como forma de governar implicou na adoção da “polícia
sanitária” como política de saúde, que obrigava pela coerção e pelo poder de polícia aos
sadios a adotarem comportamentos adequados à saúde e aos indivíduos doentes a se
isolarem.

Séc. XIX: Os profissionais deram continuidade ao desenvolvimento científico.


Problemas sociais – Revolução Industrial- aumento da mortalidade geral e infantil.
Conceitos de medicina social e saúde coletiva baseados na relação entre saúde e
condições de vida. Estratégia de Promoção da Saúde nos espaços de vida, como
importante elemento para a produção social da saúde.

Pai da medicina social – Rudolf Virchow – Epidemia de Tifo, Prússia, 1847-


1848 – incluiu análises do contexto social e cultural da época e do local. Relaciona
saúde à democracia, educação, liberdade e prosperidade da população pobre. Percursos
das estratégias de Promoção de Saúde – saúde no seu conceito amplo: para que as
populações se tornassem saudáveis, que pudessem conversar em sua própria língua, ter

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Baseado no texto de Westphal, M.F.( 2006) Promoção de Saúde e Prevenção de Doenças. In.: Gastão,
W.S.C. (2006) Tratado de Saúde Coletiva. São Paulo: Hucitec.
um governo autônomo, condições para poder melhorar a agricultura do país e outras
pudessem dar conta das causas ou determinantes das enfermidades identificadas.

Campo biomédico – natureza biológica da doença. Deslocamento do ambiente


físico e social para agentes patogênicos concretos. Doença só tem uma causa, um germe
– saúde é ausência de doença.

Séc. XX: Início da “era bacterológia”. Fármacos: “era da terapêutica”. Mecanicismo.


Unicausalidade. Biologismo. Individualismo. Especialização. Consolidação do modelo
biomédico. Hospitais: centro da assistência e no imaginário coletivo o discurso sobre
saúde geralmente se limita a reflexões a respeito de doenças.

A realidade, especialmente dos países em desenvolvimento, vem mostrando que


o modelo biomédico não é suficiente para dar conta da nova problemática.

Promoção de Saúde e Prevenção de Doenças: as diferenças estão relacionadas às


concepções de saúde e doença que orientam suas práticas e às vertentes político-
ideológicas a que elas têm-se filiado.

Promoção de Saúde

1ª vez: início do séc. XX – Henry Sigerist. Quatro funções da medicina: Promoção da


Saúde, Prevenção das Doenças, Tratamento dos doentes e Reabilitação. Promoção da
Saúde: por um lado ações de educação em saúde e por outro, ações estruturais do
Estado para melhorar as condições de vida.

Final do séc. XIX – Thomas McKeown – fatores que mais contribuíram para melhoria
da qualidade de vida da população inglesa: desenvolvimento econômico, nutrição e
mudança nos níveis de vida da população e muito menos as intervenções de caráter
médico.

Marco referencial da Promoção da Saúde: focaliza suas intervenções nos determinantes


da saúde.

Séc. XX – Leavell & Clark (1965): “história natural do processo saúde-doença” –


“tríade ecológica”. Microorganismos interagem com o ambiente, que favorece ou não a
sua sobrevivência e multiplicação como agente etiológico (agente). Exemplo: dengue.
Depende de condições ambientais que favoreçam ou não a sua procriação (ambiente). A
predisposição do individuo (hospedeiro) à doença é o seu componente genético e a sua
resistência, sendo esta relacionada a seus comportamentos ou estilo de vida.

Medidas de intervenção nos diferentes estágios da doença - Objetivo: evitar as doenças


ou seu agravamento.

Promoção da Saúde: é uma ação da prevenção primária. Proteção Específica. Ex:


vacinação, uso de preservativo. Medidas gerais, educativas, que objetivam melhorar a
resistência e o bem-estar geral dos indivíduos (comportamentos alimentares, não-
injestação de drogas, tabaco, exercício físico e repouso, contenção de estresse), para que
resistam à ação dos agentes. Orientações para cuidar do ambiente para que este não
favoreça o desenvolvimento de agentes etiológicos (comportamentos higiênicos
relacionados à habitação e entornos).

Prevenção Secundária e Terciária: redução dos fatores de risco relacionados aos


fatores patogênicos e ao ambiente. Medidas educativas e fiscalização para a adoção ou
reforço de comportamentos adequados à saúde e de enfrentamento da doença.

Prevenção Secundária: dois tipos de população: os indivíduos sadios potencialmente


em risco, para identificar precocemente doentes sem sintomas (ex.: exames para
detecção precoce do câncer ginecológico, exames de escarros para detecção da
tuberculose) e com doentes ou acidentados com diagnósticos firmados, para que se
curem e na impossibilidade que se mantenham funcionalmente sadios, evitando assim
complicações e morte prematura (práticas clínicas preventivas e práticas educativas para
adoção ou mudança de comportamentos – alimentares, atividades físicas etc)

Prevenção Terciária: focaliza os que tem sequela de doenças ou acidentes. Objetivam


a recuperação ou a manutenção em equilíbrio funcional (atividades físicas,
fisioterápicas e saúde mental).

Tensão paradigmática: concepção de saúde e à sua causalidade. Crítica: tríade: agente,


ambiente, hospedeiro. Não considera aspectos positivos e negativos das condições de
vida e trabalho e inserção social dos indivíduos nos níveis de saúde da população.

De: história natural da doença. Para: história social da doença.

Moderno conceito de Promoção de Saúde – diferencia-a do de Prevenção de Doenças.

Lalonde (ministro canadense) – 1970: estilos de vida e ambiente responsáveis por 80%
das causas de doenças. Questiona o papel exclusivo da medicina na resolução dos
problemas de saúde. Atribui ao governo a responsabilidade por outras medidas: controle
de fatores que influenciam o meio ambiente como a poluição do ar, eliminação de ejetos
humanos, águas servidas etc. Informe Lalonde (1974). Políticas governamentais de
saúde devem englobar: ambiente, biologia humana, estilos de vida das pessoas e o
sistema de saúde. Proteção de saúde: intervenções no ambiente. Prevenção: ao sistema
de saúde. Promoção da Saúde: estilos de vida.

Conferência de Alma-Ata (1978). Saúde pela 1ª vez é reconhecida como direito.


Atenção Primária à Saúde, com participação dos usuários. Depende de mudanças nas
relações de poder entre os que oferecem serviços de saúde e os que os utilizam.

Promoção de Saúde: relacionado com autonomia e emancipação.

Congresso Canadense de Saúde Pública “Para além da assistência à Saúde” (1984).


Promoção da Saúde – princípios: 1) Envolve a população como um todo, no contexto de
vida diário, em vez de focalizar as pessoas em risco de serem acometidas por uma
doença específica. 2) É dirigida para a ação sobre determinantes ou causalidade social,
econômica, cultural, política e ambiental da saúde. 3) Combina métodos e abordagens
diversos, porém complementares. 4) Objetiva particularmente efetiva e concreta
participação social. 5) É basicamente uma atividade do campo social e da saúde, e não
somente serviço de saúde.

Estratégia: Cidades Saudáveis – Europa (1985). 1) A preocupação com a pobreza e a


dificuldade de reverter a situação. 2) necessidade de reorientação dos serviços de saúde.
3) A importância da participação comunitária e desenvolvimento de coalizões entre o
setor público, setor privado e o voluntariado.

Diferentes iniciativas em Promoção de Saúde: 1) Biomédicas: saúde como ausência de


doenças e o trabalho centrado na cura, tratamento e prevenção de doenças específicas.
2) Comportamentais: transformação dos comportamentos dos indivíduos, voltados aos
estilos de vida, limitadas a fatores sob controle dos indivíduos. 3) Educacionais:
focalizadas também no estilos de vida, porem na perspectiva do empoderamento
individual ou da auto-ajuda, sendo os aspectos estruturais e as relações de poder não
consideradas centrais para a mudança. 4) De empodaramento coletivo: associadas ao
desenvolvimento comunitário baseado na participação de todos os envolvidos no
problema. 5) Para a transformação social: centradas na construção participativa de
políticas publicas saudáveis sendo orientadas pelo principio da equipdade, que orienta
para as mudanças das relações de poder e para ações sobre determinantes sociais da
saúde (políticas públicas equitativas e intersetoriais).

Prevenção de doenças – não estimulam nas coletividades processos de ampliação do


poder, a valorização das suas potencialidades, para que estas advoguem por melhoria
das suas condições de vida e trabalho. Não envolvem as coletividades nos processos de
decisão em relação às políticas de saúde para enfrentamento dos seus problemas. Não se
assume, portanto, como prática política emancipatória, um imperativo ético no mundo
contemporaneo.

Promoção de Saúde- nova abordagem- pode ser aplicada a atividades de prevenção,


tratamento, reabilitação e até em atividades de assistência de longo prazo.

I Conferência Internacional de Promoção de Saúde (Otawa,1986): Carta de Otawa.


Saúde: “o mais completo bem-estar fisico, mental e social determinado por condições
biológicas, sociais, econômicas, culturais, educacionais, políticas e ambientais”.

Implementação da Promoção de Saúde: extrapolam o setor saúde e exigem parcerias


com outros setores de governo – políticos, sociais, econômicos, culturais, ambientais,
comportamentais e biológicos.

Conferência de Adelaide (Austrália, 1988): Criação de ambientes saudáveis. ECO


(1992). Sustentabilidade ambiental nos processos de desenvolvimento local e global.

Conferência de Jacarta (Indonésia, 1998): Globalização da economia, modernização


tecnológica. Economia de mercado global interferindo na dinâmica da vida e do
trabalho. Declaração de Jacarta – cinco prioridades até o sec. XXI: 1) Promover a
responsabilidade social pela saúde. 2) Aumentar a capacidade da comunidade e o poder
dos indivíduos para controlar as ações que pudessem interferir nos determinantes de
saúde. 3) Expandir e consolidar alianças para a saúde. 4) Aumentar as investigações
para o desenvolvimento da saúde. 5) Assegurar a infra-estrutura.

V Conferência de Promoção da Saúde (México, 2000). Humanidade tem de buscar


construir um mundo mais equitativo.

VI Conferência Global de Promoção de Saúde (Bancoc, Tailândia, 2005). “Políticas e


parcerias para a saúde: procurando interferir nos determinantes sociais da saúde”.
Globalização e sua influencia nas questões de saúde (aspectos negativos e positivos).

América Latina – 1ª vez (1992) – I Conferência Latino-Americana de Promoção da


Saúde (Bogotá, Colômbia). Equidade. Promoção da Saúde como produção social.

Proposta sociopolítica. Iniquidades. Participação da sociedade no processo de


tomada de decisão sobre saúde e qualidade de vida. Transcender o setor saúde para
enfrentar os determinantes.

Críticos: prática prescritiva. Utilizada para configurar conhecimentos e práticas


na perspectiva neoliberal e conservadora, estimulando a livre escolha a partir de uma
lógica de mercado. A responsabilidade individual é reforçada e a do Estado diminuída.
“Imperalista” da saúde ao impor certos estilos de vida considerados saudáveis.

Princípios da Promoção da Saúde

1) Concepção holística de saúde – multicausalidade do processo saúde-doença.


2) Equidade como principio e como conceito – relação com justiça social.
3) Intersetorialidade.
4) Participação social.
5) Sustentabilidade – desenvolvimento sustentável e garantir um processo
duradouro e forte

Campos de Ação da Promoção da Saúde

1) Elaboração e implementação de Políticas Públicas Saudáveis: potencial


para produzir saúde socialmente (Ex.: ECA, Política Nacional de Trânsito,
Política Nacional de Promoção de Saúde do Ministério da Saúde.
2) Reforço da ação comunitária – empoderamento da comunidade.
3) Criação de espaços saudáveis que apoiem a Promoção da Saúde.
4) Desenvolvimento de habilidades pessoais.
5) Reorientação dos serviços de saúde.

Significado da Promoção da Saúde no contexto atual.

Promoção da Saúde – ameaçada pela “Revolução pelo Bem-estar” – mobilizada pelo


setor privado para aumentar o consumo dos produtos considerados saudáveis, dando à
população a impressão de estar se protegendo e promovendo sua qualidade de vida.

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