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PARECER CRM-MG Nº 133/2018 – PROCESSO-CONSULTA Nº 6.

178/2017
PARECERISTA: Cons. Marcílio Monteiro Catarino

EMENTA: Definição dos critérios para alta hospitalar é


prerrogativa exclusiva do médico assistente. Paciente que
permanece na instituição após a alta hospitalar é questão
administrativa e deve ser resolvida pela diretoria do
Hospital, com auxílio do Setor Jurídico e Assistência
Social.

DA CONSULTA
"Tendo em vista situações encontradas na assistência médica hospitalar, em
especial na Clínica Médica, e levando em conta o parecer 3.815/2009, pelo parecer
deste Conselho sobre as seguintes situações:
1. Do registro em prontuário e notificação de setores institucionais:
a. Estando um paciente internado(a), ao atingir critérios clínicos compatíveis com a
alta hospitalar, é obrigação do médico assistente comunicar o fato a ele(a) e/ou a
seus familiares e registrar de forma clara em prontuário a alta ou é facultado a ele
manter a internação para aguardar a solução de pendências não relacionadas à
condição clínica para formalizar a alta em prontuário?
b. Em se tratando de impossibilidade social ou de resistência do(a) paciente ou
familiares à alta, não havendo mais indicação clínica para internação, deve o médico
proceder à alta em prontuário e direcionar o caso para os respectivos setores do
hospital (Serviço Social, Diretoria, Administração, Jurídico) ou manter a internação
hospitalar - persistindo nas visitas médicas e elaboração de prescrições - até que as
questões sejam solucionadas, mesmo estando o paciente em condição clínica de
tratamento ambulatorial?
2. Dos riscos inerentes à internação desnecessária:
c. No tocante aos riscos para o(a) paciente decorrentes de permanência em
ambiente hospitalar além do tempo necessário para resolução da doença que
justificou a internação, o médico assistente pode ser considerado responsável na
eventualidade de complicações associadas a essa permanência?
Entendemos que o parecer supracitado trata principalmente das situações de
abandono e recusa explícita do paciente em deixar o hospital, contudo temos
encontrado com frequência crescente situações em que familiares, buscando
receber recursos não previstos das operadoras de saúde suplementar para suporte
domiciliar, retardam a alta, eventualmente ameaçando os colegas responsáveis por
ela .”
DO PARECER
FUNDAMENTAÇÃO:
O médico é quem detém o conhecimento técnico para definir os critérios para a alta
hospitalar, portanto, sendo um ato médico, trata-se de prerrogativa personalíssima
do médico.
O paciente em condições para alta hospitalar que permanece na instituição após o
tempo necessário para o restabelecimento da sua saúde física ou mental, além de
gerar potenciais riscos a sua própria saúde advinda dos efeitos de uma longa
permanência hospitalar, com aumento da incidência de eventos adversos (ex.:
infecções, escaras de decúbito, depressão, etc.), também provoca a limitação do
uso dos leitos por outros pacientes.
Na grande maioria das situações vividas nos hospitais, a recusa de alta deve-se a
razões sociais e econômicas. Pode ocorrer a alegação de o paciente não possuir
casa ou quando os familiares não o vão buscar ou não há condições adequadas no
domicílio para a sua recuperação, ainda a falta de recursos financeiros para arcar
com os cuidados e medicamentos. Em alguns casos os pacientes não querem sair
do hospital por não se sentirem devidamente recuperados ou recearam a falta de
acompanhamento médico. A permanência do paciente na unidade médica após a
alta pode trazer à tona uma realidade de abandono e desinteresse familiar e suas
necessidades socioeconômicas para atender um parente com necessidades.
A manutenção do paciente internado, sua transferência para hospitais de menor
complexidade ou a alta para o domicílio, são decisões de competência e
responsabilidade médica. Por sua vez, não cabe à administração do hospital (e
muito menos à equipe médica), a transferência ou a retirada coercitiva do paciente
das dependências do hospital.
Nesses termos, compete à administração, fundamentada em relatório médico,
requerer a tutela jurisdicional para garantir a desocupação da vaga, justificando-se
tal medida na necessidade de outros pacientes que dela necessitam e que ficariam
prejudicados, além dos potenciais prejuízos ao paciente que permanece
hospitalizado além do necessário.
DO PARECER-CONSULTA NO. 3.815/2009 da lavra do Conselheiro: DR.
VALENIO PÉREZ FRANÇA CRM 8.282
[...] “a hospitalização prolongada sem justa causa com ou mesmo sem a aplicação
imoderada de procedimentos desproporcionais (distanásia) em nada atendem à
qualidade de vida do paciente; considerando que um leito hospitalar ocupado além
do necessário estará privando outros de utilizá-lo; considerando que o médico tem
autonomia para exercer sua profissão, sendo prerrogativa do médico assistente a
decisão da alta hospitalar, como parte do ato médico; considerando que a realização
de uma junta médica para uma segunda opinião é procedimento salutar e
recomendável “[...]
RESPONDENDO AOS QUESTIONAMENTOS DO CONSULENTE:
a. Estando um paciente internado(a), ao atingir critérios clínicos compatíveis
com a alta hospitalar, é obrigação do médico assistente comunicar o fato a
ele(a) e/ou a seus familiares e registrar de forma clara em prontuário a alta ou é
facultado a ele manter a internação para aguardar a solução de pendências
não relacionadas à condição clínica para formalizar a alta em prontuário?
O médico deve esclarecer aos familiares que o paciente tem condições clinicas para
alta hospitalar e, havendo recusa para sair do hospital, o médico deve realizar o
registro formal e detalhado do caso em prontuário, até justificando a alta.
Ressaltando que, durante o período que o paciente permanecer aguardando dentro
da instituição, o médico assistente deve prestar o atendimento médico necessário ao
caso.
b. Em se tratando de impossibilidade social ou de resistência do(a) paciente ou
familiares à alta, não havendo mais indicação clínica para internação, deve o
médico proceder à alta em prontuário e direcionar o caso para as respectivos
setores do hospital (Serviço Social, Diretoria, Administração, Jurídico) ou
manter a internação hospitalar - persistindo nas visitas médicas e elaboração
de prescrições - até que as questões sejam solucionadas, mesmo estando o
paciente em condição clínica de tratamento ambulatorial?
O médico deve manter a alta hospitalar enquanto for pertinente, notificar o serviço
social e a diretoria técnica e clínica do hospital para adoção de medidas
administrativas.
a. No tocante aos riscos para o(a) paciente decorrentes de permanência em
ambiente hospitalar além do tempo necessário para resolução da doença que
justificou a internação, o médico assistente pode ser considerado responsável
na eventualidade de complicações associadas a essa permanência?
Não. Considerando que o paciente e familiares foram mais bem esclarecidos sobre
as consequências e os riscos de eventos adversos decorrentes de uma longa
permanência hospitalar.

Belo Horizonte, 26 de setembro de 2018

Cons. Marcílio Monteiro Catarino


Parecerista

Aprovado em Sessão Plenária do dia 28 de setembro de 2018

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