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Analise de Poemas de Alvaro de Campos
Analise de Poemas de Alvaro de Campos
FASE DECADENTISTA
Opiário
(excerto)
Linhas de Leitura
«Eu acho que não vale a pena ter ido ao Oriente e visto a índia e a China.»
«Volto à Europa descontente...»
«…isto acaba mal e há-de haver (...) sangue e um revólver lá pró fim...»
«Deixe-me estar aqui, nesta cadeira, / Até virem meter-me no caixão.»
Recursos expressivos
As imagens e os símbolos:
Ode Triunfal
(excerto)
Linhas de Leitura
IMPORTÂNCIA DO TÍTULO
A palavra ode, de origem grega, significa cântico laudatório ou de exaltação de uma pessoa,
instituição ou acontecimento. Com o epíteto de Triunfal, pretendeu o poeta não só vincar, mas
também hiperbolizar o significado de ode, apontando para qualquer coisa de grandioso, não
apenas no conteúdo, mas também na forma, imprimindo-lhe uma sugestão de força ou exagero,
em nítida coerência com a estética do Futurismo / Sensacionismo.
ASSUNTO
Sob influência de Marinetti e Walt Whitman, a Ode Triunfal canta o triunfo da técnica, as
máquinas, os motores, a velocidade, a civilização mecânica e industrial, o comércio, os
escândalos da contemporaneidade... Sentir tudo de todas as maneiras é o ideal esfuziantemente
revelado pelo sujeito poético, sentir tudo numa histeria de sensações, que lhe permitam
identificar-se com as coisas mais aberrantes («Ah, poder exprimir-me todo como um motor se
exprime!/ Ser completo como uma máquina!»).
DESENVOLVIMENTO DO ASSUNTO
Estabelecendo com esta «flora estupenda, negra, artificial e insaciável» uma ligação eufórica e
exaltada, o sujeito poético deixa-se seduzir vertiginosamente por um excesso de sensações que
mal tem tempo de fixar na sua «mente turbulenta e encandescida». Sente-se arrebatado por um
universo, onde a velocidade, a força e o progresso têm expressão e, por isso, confessa: «Nem sei
se existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me. / Eia! sou o calor mecânico e a
electricidade!». A violência de sensações fá-lo desejar «ser toda a gente e toda a parte» e
limitar a si próprio e ao gozo do instante qualquer noção de temporalidade («O Momento
estridentemente ruidoso e mecânico....»).
A temporalidade unificada
Esta visão excessiva e intensa do real provoca no sujeito poético um estado de quase
alucinação, marcadamente sensual: «Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só
carícia à alma.»; «Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,/ Rasgar-me todo,
abrir-me completamente...»; «Amo-vos carnivoramente,/ Pervertidamente...»; «Possuo-vos
como a uma mulher bela...». Esta paixão quase erótica pelas máquinas e este entusiasmo pela
civilização moderna assume aspectos de um certo masoquismo sádico, que inspira no sujeito
poético sensações novas e violentas, experimentadas até ao histerismo: «Atirem-me para dentro
das fornalhas! / Metam-me debaixo dos comboios! / Espanquem-me a bordo de navios! /
Masoquismo através de maquinismos!».
Não é estranha, por isso, não só a tendência do sujeito poético para humanizar as máquinas
(«Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!»; «Grandes trópicos humanos de ferro e fogo
e força...»), como também a tentativa de ele próprio se materializar, ou tornar-se parte delas:
«Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! / Ser completo como uma máquina!»;
«Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando...».
A denúncia social
Convém registar ainda que a força e a agressividade do sujeito poético são permanentemente
quebradas pela evocação irónica do reverso da medalha da civilização industrial: a
desumanização («Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos!»; «...injustiças,
violências...»), a hipocrisia e a futilidade («...ó grandes, banais, úteis, inúteis, / Ó coisas todas
modernas...»), a corrupção, os escândalos políticos e financeiros («Orçamentos falsificados!»;
«Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos...»), os falhanços da técnica («Eh-lá grandes
desastres de comboios! / Eh-lá desabamentos de galerias de minas!»), a miséria e a devassidão
das multidões («Maravilhosa gente humana que vive como cães, / Que está abaixo de todos os
sistemas morais...»).
A aguda sensibilidade do sujeito poético revelada na denúncia do lado negativo e desumano da
civilização moderna é uma atitude literária, em que a perfeição e a força das máquinas
parecem ser, afinal, compensações para os seus próprios fracassos e para a sua inadaptação,
que irão marcar a última fase poética de Álvaro de Campos.
Recursos expressivos
As metáforas e as imagens deste texto evidenciam a íntima relação do sujeito poético com o
mundo mecânico e industrial, permitindo até a sua plena integração na civilização moderna («E
arde-me a cabeça...»; «...Natureza tropical...»; «Pervertidamente enroscando a minha
vista...»; «Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força...»; «E há Platão e Virgílio dentro
das máquinas e das luzes eléctricas...»);
As enumerações traduzem o frenético desejo do sujeito poético de sentir tudo de todas as
maneiras, registando de forma aparentemente caótica as sensações que experimenta («Desta
flora estupenda, negra, artificial e insaciável!»; «Eh, cimento armado, betão de cimento, novos
processos!»).
Os advérbios de modo evidenciam a atracção erótica e carnal do sujeito pelas máquinas e pela
modernidade («demasiadamente»; «carnivoramente»; «pervertidamente»); As interjeições
confirmam o louvor do sujeito poético à civilização mecânica e a sua contínua agitação («Ó
fábricas, ó laboratórios...»; «Eh-lá hô fachadas das grandes lojas!»; «Eia túneis...»; «Ah, poder
exprimir-me...);
Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.
Nesta composição lírica, sujeito poético afirma no primeiro verso que não é cansaço aquilo que
sente, reiterando essa afirmação ao longo do poema. No entanto, e talvez um pouco
paradoxalmente, refere que a desilusão se lhe “entranha na espécie de pensar”, sublinha a
monotonia da vida (“é a mesma coisa variada em cópias iguais”), exprime a angústia perante o
mistério e a indefinição que perpassam nesse “falso cansaço”; finalmente aceita que, “porque
ouve e vê”, o estado em que se encontra é de cansaço: “Confesso: é cansaço!...” Assim, pode-
se afirmar que, progressivamente, o sujeito poético se deixa dominar por uma letargia, um
estado de cansaço e desistência, que o afasta do mundo.
FASE POÉTICA
Este poema integra-se na fase abúlica de Álvaro de Campos, pelo que revela de incapacidade de
viver a vida, pelo que transmite de tédio, de uma certa desistência perante o mundo e os
outros. Nada motiva o sujeito poético, nada lhe interessa, tudo se resume a um “supremíssimo
cansaço”.
Recursos expressivos
A primeira estrofe inicia-se com a repetição do advérbio de negação “não” empregue numa
frase reticente, o que revela uma certa indefinição. O discurso assume um tom claramente
metafórico (“…domingo às avessas/Do sentimento, /Um feriado passado no abismo...”),
terminando a estrofe também com uma frase reticente. O conjunto destes recursos expressivos,
aliado à repetição anafórica presente nos versos dois e quatro, traduz a tentativa de definir o
estado de espírito que domina o sujeito poético.