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RESENHA I - GESTÃO DE PESSOAS: A MULTIDISCIPLINARIDADE EM CONSTANTE

TRANSFORMAÇÃO

DOS SANTOS, Israel Soares.

INTRODUÇÃO
Essa resenha tem como objetivo passar pela história da Gestão de Pessoas, desde seu surgimento
no século XX como “Departamento Pessoal” até o seu formato atual que conta com adoção de tecnologias,
técnicas científicas aplicadas, como programação neurolinguística, e ampla literatura em formato de “best
sellers”, além das próprias pesquisas acadêmicas. Esse estudo é de interesse para entender como as
relações humanas horizontais ou verticais são impactadas com o avanço dos modelos de gestão, mudanças
institucionais e adoção de novas tecnologias.

DESENVOLVIMENTO
Contrariando o que se imagina popularmente, já se falava sobre ideias humanistas que tinham
como alvo o ser humano dentro de organizações muito antes do momento que é considerado a “descoberta”
do ser humano. É importante entender que não houve uma transição de uma gestão mecanicista para as
teorias das relações humanas. Na realidade, as duas teorias coexistem e, em um contexto de oposição, as
duas se aperfeiçoam por meio de um debate de ideias.
As práticas de recursos humanos surgiram por conta de algumas transformações acontecidas no
fim do século XIX e início do século XX. O forte desenvolvimento tecnológico e econômico da época criou
uma demanda por mão de obra qualificada, por exemplo. A necessidade de operários qualificados foi
tornando os processos seletivos menos subjetivos e parciais, adquirindo características tayloristas que se
preocupavam, dentre outras coisas, com a permanência do contratado na empresa. Isso porque era um
prejuízo investir na qualificação e desenvolvimento de um profissional que não ficasse na empresa por
muito tempo.
O início do século também foi marcado pela difusão das doutrinas humanistas nas organizações.
Também aconteciam embates nas relações de trabalho, onde os trabalhadores se viam prejudicados pela
sua dedicação pouco remunerada. Esses embates dariam origem a reformas como forma de conter o
sindicalismo que era crescente. Isso tudo, somado aos avanços das ciências comportamentais, daria origem
às práticas de gestão de pessoas.
No início, as atividades de gestão de pessoas estavam relacionadas a questões burocráticas e
administrativas. O que era conhecido como “departamento pessoal” executava atividades como folha de
pagamento, registro de horas trabalhadas e questões contratuais. O foco estava em manter registros
precisos e garantir o cumprimento das regulamentações trabalhistas. No entanto, essa abordagem era
centrada em tarefas e não considerava estratégias relacionadas ao desenvolvimento e ao engajamento dos
colaboradores.
Com o tempo, a área evoluiu para Recursos Humanos (RH), refletindo uma mudança no
entendimento do valor dos funcionários dentro das organizações. O RH passou a desempenhar um papel
mais estratégico, estando diretamente ligado a atividades como recrutamento e seleção de talentos,
desenvolvimento e treinamento técnico, gestão de carreiras. Na prática, foi um período de profissionalização
das empresas e desenvolvimento das atividades administrativas. Os estudos das escolas de administração
tiveram influência nessas mudanças que significaram melhorias para as empresas e também para os
funcionários.
Atualmente, o termo "Gestão de Pessoas" é amplamente adotado, refletindo uma mudança na
forma como as organizações abordam seus colaboradores. Nesse período foi crescente a preocupação com
o alinhamento de objetivos da empresa com os funcionários. Nesse sentido, houve uma reestruturação
hierárquica para tornar possível esse alinhamento que exigia cada vez mais capacitação dos próprios
gestores de pessoas. Os gestores passaram a agir também como headhunters, na busca de talentos com
características cada vez mais específicas, para a ocupação de altos cargos. A atual gestão de pessoas
também é marcada por uma retórica individualista que coloca as pessoas como “empreendedoras de si
mesmas”, justamente para criar um ambiente de competitividade e alta produtividade, no ritmo de um
mundo de constantes transformações.
Além da evolução histórica, é crucial considerar o impacto da tecnologia e da Inteligência Artificial
(IA) na gestão de pessoas. Os resumos anteriores destacam o uso dessas ferramentas no recrutamento e
seleção (R&S), trazendo eficiência, mas também gerando preocupações relacionadas à falta de contato
humano e possíveis viéses.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A jornada da gestão de pessoas no Brasil, desde sua origem como Departamento Pessoal até sua
configuração atual como Gestão de Pessoas, é uma narrativa de constante adaptação às mudanças
sociais, econômicas e tecnológicas. A evolução do campo reflete a crescente importância atribuída aos
colaboradores nas organizações e destaca a necessidade de alinhamento estratégico.
Hoje, como Gestão de Pessoas, essa disciplina reconhece a importância de criar ambientes de
trabalho saudáveis, desenvolver talentos e promover uma cultura de inovação e inclusão. No entanto,
enfrenta desafios relacionados ao uso da tecnologia, incluindo questões de diversidade e inclusão, já que
algoritmos são parciais e podem acabar “aprendendo” padrões excludentes. Nesse sentido, há casos de
inteligências artificiais perpetuando racismo e discriminando pessoas até mesmo em relação às suas
condições socioeconômicas.
Ainda há desafios relacionados aos próprios discursos da área. É comum que se popularize o
superficial e, nesse sentido, alguns departamentos adotaram ideias individualistas que caem como uma
luva na organização. Esses discursos que colocam o trabalhador como “protagonista da sua própria
história” acabam por fazê-lo um viciado em produtividade, pouco crítico ao sistema que está inserido, crítico
de si mesmo nos piores moldes. Byung Chul-Han, filósofo sul-coreano, é um grande crítico desse discurso e
o considera um catalisador de problemas no mundo contemporâneo.
Em suma, a capacidade de adaptação e aprendizado contínuo é fundamental para prosperar nesse
ambiente empresarial em constante transformação. A história da gestão de pessoas é uma jornada de
evolução constante, destacando a importância de acompanhar as tendências e se adaptar às mudanças em
um mundo empresarial em constante evolução.

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