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Introdução ao

Desenho Técnico
Paula Fernanda Scovino Gitahy
Edcarlos Antonio Nunes Coura
Introdução ao Desenho
Técnico

Introdução
Este conteúdo abordará os conceitos básicos do desenho técnico, apresentando
também alguns instrumentos utilizados em sua representação e as regras básicas
para sua construção baseadas nas normas.

Um desenho técnico é a representação gráfica de um objeto em papel ou por meio


digital (a partir de um software gráfico), utilizando linhas, símbolos e demais indicações.
Para padronização de representação e interpretação, devemos utilizar as normas.

Ao final esperamos que você reconheça um desenho técnico e saiba suas principais
características e normas utilizadas para representá-lo.

Leia o texto, observe atentamente as figuras e bons estudos.

Objetivos da Aprendizagem
Ao final do conteúdo, esperamos que você seja capaz de:

• Conhecer os instrumentos do desenho técnico.


• Identificar as regras básicas do desenho técnico.

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Aplicações do desenho técnico
O desenho técnico consiste na representação gráfica de formas, detalhes, dimensões
e posição, através da projeção de objetos no plano, o que permite a visualização das
diferentes vistas e perspectivas, utilizando um sistema de três eixos. Se utilizarmos um
padrão, qualquer pessoa que conhece sobre desenho técnico conseguirá interpretar e
entender com exatidão.

Os desenhos técnicos representam objetos que passarão por processos de


fabricação e/ou montagem, como acontece com plantas da construção civil, projetos
arquitetônicos e projetos de peças industriais. Esses são os chamados desenhos
projetivos.

Planta da construção civil:

inclui planta baixa, projetos de estrutura, de instalações sanitária, hidráulica e


elétrica, e outros. Veja um exemplo de planta baixa na Figura 1.

Figura 1 - Exemplo de planta baixa usada na construção civil


Fonte: Elaborada pelo autor (2022).

Projeto arquitetônico:

inclui plantas baixas e projetos arquitetônicos; representa a concepção de ideia


do profissional, previsão de paisagismo e acabamento. Observe o exemplo na
Figura 2.

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Figura 2 - Exemplo de projeto arquitetônico
Fonte: Elaborada pelo autor (2022).

Projeto de peças industriais:

inclui vistas, cortes e perspectivas da peça para melhor visualização de forma,


dimensão e detalhes (como de montagem). Veja o exemplo na Figura 3.

Figura 3 - Exemplo de projeto de peça industrial


Fonte: Abrantes e Filgueiras Filho (2022).

Tipos de desenho técnico


A Norma Brasileira Regulamentadora (NBR) 10647 da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT) apresenta os termos empregados e também define os tipos
de desenho técnico quanto ao seu aspecto geométrico, ao grau de elaboração, ao grau
de pormenorização, à técnica de execução e ao modo de obtenção (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1989).

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Quanto ao aspecto geométrico, temos o desenho projetivo, resultante da projeção do
objeto sobre um ou mais planos, que compreende diagramas, esquemas, ábacos ou
nomogramas, fluxogramas, organogramas, gráficos, e utiliza vistas (resultantes de
projeções do objeto tridimensional sobre o plano; as mais utilizadas são as ortogonais,
provenientes da projeção cilíndrica ortogonal do objeto) e perspectivas (utilizam um
sistema de três eixos como ponto de partida), e o não projetivo, na qual não temos
a correspondência entre o desenho e o que ele representa, pois não há projeção
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1989).

1. Diagrama:

esquema simplificado, na qual valores funcionais são representados em um


sistema de coordenadas.

2. Esquema:

representa suas relações e funções.

3. Ábaco ou nomograma:

gráfico com curvas que permite obter as soluções de uma equação determinada
pelo simples traçado de uma ou mais retas.

4. Fluxograma:

sequência de operações.

5. Organograma:

quadro com níveis hierárquicos de uma organização ou um serviço, e indica os


arranjos e inter-relações entre eles.

6. Gráfico:

expressa visualmente dados numéricos.

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Quanto ao grau de elaboração, os desenhos podem ser classificados em esboço
(estágios iniciais da elaboração de um projeto), desenho preliminar (nos estágios
intermediários, sujeita a alterações e que corresponde ao anteprojeto), croqui (desenho
não obrigatoriamente em escala, confeccionado normalmente à mão livre e contendo
todas as informações necessárias à sua finalidade), desenho definitivo (integrante da
solução final do projeto, contendo os elementos necessários à sua compreensão).

Quanto ao grau de pormenorização, o desenho pode ser classificado em de


componente, de conjunto e detalhe. O desenho de componente é a representação
de vários componentes separados. No desenho de conjunto, os componentes estão
reunidos, formando um todo. Já o detalhe é a representação de uma vista, geralmente
ampliada, de um componente ou parte complexa do objeto.

Quanto à técnica de execução, temos o desenho manual (feito a mão livre ou com
instrumento) e à máquina (feito em softwares específicos para tal).

Quanto ao modo de obtenção, temos o desenho original e a reprodução. A reprodução


pode ser feita por cópia (na mesma escala do original), por ampliação ou redução
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1989).

Material e instrumentos de desenho


Para a confecção de um desenho técnico manual de qualidade, necessitamos de uma
superfície plana, rígida e lisa, na qual os demais instrumentos e materiais serão apoiados:

• Lápis e lapiseira: para realizar os traços referentes ao desenho. O grafite apre-


senta diferentes durezas, que influenciam na espessura do traço. Logo, os gra-
fites mais duros são recomendados para rascunhos e traços finos e os mais
macios para traços mais espessos e permanentes (MONTENEGRO, 2001). A
Tabela 1 relaciona o grau de dureza dos grafites comerciais:

Tipos de grafite Dureza


9H a 4H Extremamente duros

3H, 2H e H Duros

F e HB Médios

B e 2B Macios

3B a 6B Extremamente macios

Tabela 1 – Classificação com tipos de grafite


Fonte: Silva et al. (2006).

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• Régua graduada: em centímetros e polegadas, para traçar linhas retas.
• Transferidor: para medir e marcar ângulos; pode ser de 180° ou 360°.
• Escalímetro: utilizado na execução de desenhos em escalas diversas.
• Compasso: para traçar circunferência de diâmetros variados, arco de circunfe-
rência, além de transportar medidas (MONTENEGRO, 2001).
• Borracha: para apagar possíveis rasuras no desenho; deve ser macia e branca.

Papel:

segundo a NBR10068, série A, sendo o A0 o tamanho máximo e o A4 o tamanho


mínimo, como mostrado na Figura 4. Todos os desenhos de um único projeto
devem ser feitos em papéis com a mesma dimensão (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE NORMAS TÉCNICAS, 1987).

Figura 4 - Tamanho do papel usado no desenho


Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (1989).

Esquadros:

em formato de triângulo retângulo, servem para traçar ângulo retos (90°) ou de


30°, 45° ou 60°. Geralmente vem em pares: um triângulo isósceles (45°/45°/90°)
e um escaleno (30º/60°/90°), como mostra a Figura 5.

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Figura 5 - Esquadro usado no desenho a mão
Fonte: Macrovector/Freepik (2019).

Normas de desenho técnico


No Brasil, a ABNT regula as normas para desenho técnico, de acordo com as exigências
internacionais da International Organization for Standardization (ISO). Portanto, o
desenho técnico utiliza uma linguagem gráfica universal.

Todo desenho técnico deve respeitar as normas descritas pela ABNT, de forma que
a representação gráfica desejada seja interpretada de maneira simples pelos que
possuem um conhecimento mínimo sobre ela.

Algumas das normas da ABNT utilizadas são: NBR10647 – Desenho Técnico,


NBR10068 – Folha de desenho: Leiaute e dimensões, NBR8403 – Aplicação de linhas
em desenhos – Tipos de linhas – Largura das linhas, NBR10582 – Apresentação
da folha para desenho técnico, NBR8402 – Execução de caractere para escrita em
desenho técnico, NBR10126 – Cotagem em Desenho Técnico, NBR8196 – Desenho
Técnico - Emprego de escalas, e NBR6492 – Representação de projetos de arquitetura.

A folha deve conter uma legenda dentro do quadro para desenho, no canto inferior
direito, tanto horizontal como verticalmente, de tal forma que contenha a identificação
(número de registro, título, origem etc.). A legenda deve ter 178 mm de comprimento,
nos formatos A4, A3 e A2, e 175 mm nos formatos A1 e A0.

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Além disso, as informações na legenda devem estar divididas em: 1) zona de
identificação, localizada no canto inferior direito da legenda e delimitada por traço
contínuo grosso da espessura da linha da moldura, constando a identificação do
desenho e da empresa; e 2) zona de informação adicional, que deve ficar adjacente à
zona de identificação, por cima ou à esquerda desta.

A zona de informação pode, ainda, ser subdividida em: a) informação indicativa -


escala e convenções gráficas; b) informação técnica - convenções e tolerâncias; e c)
informação administrativa - revisão, data e assinaturas.

As margens são limitadas pelo contorno externo da folha e quadro (que limita o
espaço para o desenho). As margens esquerda e direita, bem como as larguras das
linhas devem ter dimensões mínimas e a margem esquerda serve para ser perfurada
e utilizada no arquivamento, apresentada na Figura 6 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, 1987).

Figura 6 - Delimitação das margens e o espaço destinado para a legenda


Fonte: Silva et al. (2006).

De acordo com a NBR8403 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1984),


a representação das linhas é feita de acordo com as características das próprias
linhas, como forma e espessura.

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As linhas de contorno visível

são cheias e contínuas, com espessura de 0,6 mm, apresentados na Figura.

Figura 7 - Linha de contorno visível


Fonte: Elaborada pelo autor (2019).

As linhas internas

são cheias e contínuas, porém com espessura menor que as linhas de contorno,
0,4 mm.

Figura 8 - Linha interna


Fonte: Elaborada pelo autor (2019).

As linhas de contornos e arestas não visíveis

são objetos que, na vista apresentada, é invisível ao observador; devem ser


representadas tracejadas, com espessura de 0,2 mm.

Figura 9 - Linha de contornos invisíveis


Fonte: Elaborada pelo autor (2019).

As linhas de eixos ou coordenadas

devem ser representadas com traço, ponto e traço. Os traços devem ser
longos, com espessura de 0,2 mm, e servem par indicar o centro de arcos e
circunferências, linhas de simetria e trajetórias no desenho.

Figura 10 - Linhas de eixo ou coordenadas


Fonte: Elaborada pelo autor (2019).

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As linhas de projeção

devem ser representadas por traço, dois pontos e traço. Os traços devem ser
mais curtos que os das linhas de eixo e com espessura de 0,2 mm. Quando as
projeções são importantes, devem ter a mesma espessura que as linhas de
contorno.

Figura 11 - Linhas de projeção


Fonte: Elaborada pelo autor (2019).

As linhas de cota

devem ser cheias e contínuas, com espessura igual ou inferior a 0,2 mm. As
cotas representam toda e qualquer medida em desenho técnico.

Figura 12 - Linha de cota


Fonte: Elaborada pelo autor (2019).

As linhas auxiliares

(utilizadas na construção de desenhos, guias de letras e números) devem ser


cheias e contínuas, com espessura de 0,1 mm, conforme Figura.

Figura 13 - Linhas auxiliares


Fonte: Elaborada pelo autor (2019).

As linhas de interrupção

devem ser cheias, com um símbolo no centro que indica a interrupção do


desenho e com espessura de 0,2 mm.

Figura 14 - Linhas de interrupção


Fonte: Elaborada pelo autor (2019).

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As linhas de indicação e chamada

usadas para adicionar informação específica ou uma pequena explicação no


projeto, devem ser cheias e contínuas, com espessura de 0,2 mm.

Figura 15 - Linha de indicação e chamada


Fonte: Elaborada pelo autor (2019).

Segundo a NBR8196 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1999), os


desenhos técnicos maiores e muito pequenos, precisam de escalas. As escalas mais
usadas são 1/2, 1/5, 1/10, 1/25, 1/50, 1/75, 1/100, 1/200, 1/250 e 1/500, para redução;
e, para ampliação, a escala deve ser invertida.

Representação digital e analógica


Em desenho técnico, principalmente relacionado à arquitetura, a representação pode
ser classificada em digital e analógica.

Na representação analógica, tradicionalmente feita à mão livre, devemos estar atentos


às normas da ABNT, quanto aos traços, legendas, cotagem. A correta utilização dos
materiais e instrumentos facilita a execução do desenho e também evita erros. Deve-
se segurar o lápis (ou a lapiseira) firmemente para obtermos traços firmes, uniformes
e limpos.

Ao usar a régua, você deve tomar cuidado para não traçar sobre a graduação e danificar
a superfície desse material, pois isso pode levar a erros de traçado depois. A régua, o
esquadro, o escalímetro e o transferidor devem estar sempre limpos para não sujar o
papel e o desenho. Atente-se também para o fato de que o escalímetro não deve ser
usado para traçar retas, pois se corre o risco de apagar ou deformar sua graduação.

Já na representação digital, desenvolvida com o auxílio de software gráfico em


computador, tablet, celular e telas interativas, as normas já estão “embutidas” nas
suas configurações. Alguns softwares contam também com bibliotecas de objetos
para projetos hidráulicos, sanitários, elétricos, planta baixa e outros.

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Existem vários softwares disponíveis, sendo que há opções gratutas e que exigem
licença de uso. Alguns permitem a construção de desenhos apenas em um plano (2D),
enquanto outros permitem também a construção tridimensional (3D).

Alguns dos softwares mais utilizados nas áreas de engenharia e arquitetura são:
AutoCAD, SketchUp, SolidWorks e DataCAD. Temos disponível também o software
gratuito e mais famoso do Linux, o LibreCAD.

1. Representação analógica:

desenho tradicional (Figura 16), feito à mão com o auxílio de materiais e


instrumentos como lápis, papel, régua, compasso, escalímetro, transferidor e
outros.

Figura 16 - Desenho feito a mão


Fonte: Wikipedia (2019).

2. Representação digital:

utiliza softwares gráficos em meios digitais, como computador, tablet, celular e


outros (Figura 17).

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Figura 17 - Desenho feito no computador
Fonte: AutoDesk (2019).

Uso do AutoCad
O AutoCAD auxilia em todas as fases de um projeto de arquitetura ou da construção civil
e de instalações. Ele é um dos softwares mais utilizados para criar e manipular projetos
e desenhos técnicos. Por isso, a importância de conhecê-lo, desde que se é estudante.

Seu uso revolucionou a indústria de projetos, porque possibilitou produtividade,


reduzindo erros e retrabalhos. O AutoCAD pode ser usado tanto na elaboração de
desenhos técnicos em 2D, quanto na produção de projetos tridimensionais.

Além da atuação na área técnica, para fins promocionais, no AutoCAD é possível obter
imagens fotorrealistas dos objetos enquadrados em uma cena, utilizando materiais,
luz, posição de câmera e sombreamentos. O tipo de iluminação, por exemplo, pode
ser: luz ambiente, luz pontual e projetores, sendo possível controlar a sua direção,
intensidade, posição e cor.

É comum também a associação do AutoCAD aos programas de cálculo, o que permite,


assim, uma ligação bidirecional entre o modelo desenhado e o modelo de análise. É
feita essa análise comparativa e o resultado pode ser visualizado na forma gráfica ou
discriminado em uma listagem completa. Os fatores analisados são: deslocamentos,
tensões, temperaturas, cargas de instabilidade. Esses resultados possibilitam ao
projetista refazer o modelo, alterando a forma ou dimensões para adequar o projeto
às necessidades pretendidas.

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Os desenhos em apenas um plano de representação são
chamados desenhos em 2D (Figura 18).

Figura 18 - Desenho 2D feito no AutoCAD 2012


Fonte: Elaborada pelo autor (2019).

Desenhos com mais de um plano para sua representação


são objetos tridimensionais ou em 3D (Figura 19).

Figura 19 - Desenho 3D feito no AutoCAD 2012

Fonte: Elaborada pelo autor (2019).

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Conclusão
Neste conteúdo, vimos o que é o desenho técnico, as áreas em que é utilizado
(engenharia e arquitetura), os instrumentos para sua construção e as principais
normas que o rege.

Você pôde conhecer a construção de um desenho técnico à mão livre ou representação


analógica, e ver também que na representação digital são utilizados softwares gráficos
e computador e tablet como suporte e interface

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Referências
ABRANTES, J.; FILGUEIRAS FILHO, C. A. Desenho técnico básico: teoria e prática. Rio
de Janeiro: LTC, 2018.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR8403: Aplicação de linhas em


desenhos – Tipos de linhas – Largura das linhas. Rio de Janeiro: ABNT, 1984.

______. NBR10068: Folha de desenho: Leiaute e dimensões. Rio de Janeiro: ABNT,


1987.

______. NBR8196: Desenho Técnico – Emprego de escalas. Rio de Janeiro: ABNT, 1999.

______. NBR10647: Desenho Técnico. Rio de Janeiro: ABNT, 1989.

AUTODESK. Aplicativo Web do AutoCAD, 2019. Disponível em: https://www.autodesk.


com.br/solutions/cloud-based-online-cad-software. Acesso em: 18 out. 2019.

KUBBA, S. A. A. Desenho técnico para construção. Porto Alegre: Bookman, 2014.

SILVA, A. et al. Desenho Técnico Moderno. Rio de Janeiro: LTC, 2006.

WIKIPEDIA. Imagem de uma prancheta de desenho: o modo tradicional de se


elaborarem desenhos técnicos. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/
Desenho_arquitet%C3%B4nico#/media/Ficheiro:Drafting_table.jpg. Acesso em: 18
out. 2019.

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