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MÁQUINAS E

MECANIZAÇÃO
AGRÍCOLA
Máquinas e
implementos para
agricultura familiar
Rodrigo Garcia Brunini

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Demonstrar as técnicas e máquinas usadas na agricultura familiar.


>> Diferenciar os implementos utilizados na agricultura familiar.
>> Discutir as inovações em máquinas para agricultura familiar.

Introdução
A agricultura familiar é a principal cadeia do agronegócio responsável pela geração
de produtos de consumo in natura para a população, como, por exemplo, olerícolas,
leite, ovos, frutas, castanhas e alimentos minimamente processados, como queijos,
compotas e doces. Para manter essa importante cadeia agrícola, os produtores
familiares usam força animal na tração de implementos e equipamentos, bem
como tecnologias que foram sendo desenvolvidas ao longo dos anos.
Na agricultura familiar, práticas agrícolas como, por exemplo, o manejo do solo
e a manutenção de canteiros e lavouras são realizadas com o uso de implementos
(roçadeiras, arados, pulverizadores, semeadoras e colhedoras, etc.) e máquinas
(motocultivadores, enxadas rotativas, microtratores, etc.). Além desses equipa-
mentos, os produtores também acabam criando as suas próprias tecnologias,
que facilitam as operações exigidas por determinada tarefa no campo e, assim,
diminuem o tempo de serviço.
2 Máquinas e implementos para agricultura familiar

Neste capítulo, apresentaremos as práticas agrícolas e os equipamentos mais


utilizados pela agricultura familiar. Você poderá compreender o funcionamento
dos implementos que fazem parte do cotidiano da pequena propriedade rural,
bem como analisar a eficiência do uso das novas tecnologias que vêm sendo
desenvolvidas de acordo com as demandas da agricultura familiar.

Aplicação de tecnologias voltadas ao


pequeno produtor rural
A fim de melhorar o desempenho agrícola, há muito tempo a humanidade
lança mão de práticas de manejo do solo, como aração, gradagem e uso de
fertilizantes e corretivos. Os gregos, os egípcios e os maias são exemplos
de povos que já dominavam muitas das práticas agrícolas adotadas até
hoje, como é o caso do uso do arado para o revolvimento do solo (Figura 1)
(GAVIOLI, 2011).

Figura 1. No Egito antigo, a aração do solo já era realizada com o uso de tração animal.
Fonte: Mazoyer e Roudart (2010, p. 191).

A evolução das tecnologias agrícolas acompanhou o desenvolvimento


científico e cultural das civilizações. Isso pode ser observado, por exemplo,
no uso de defensivos agrícolas para o controle de pragas e doenças, no me-
lhoramento genético de plantas e no controle do microclima na lavoura, como
as práticas de irrigação e plantio direto. Além disso, também as máquinas e
os equipamentos agrícolas passaram a ser usados de maneira diferente ao
longo dos anos (OCTAVIANO, 2010).
Embora o uso da tração animal como veículo para o suporte de imple-
mentos agrícolas remonte à pré-história, o surgimento do primeiro arado só
ocorreu há 2.800 anos, na China. Em alguns países, como a Índia, o volume
de cargas transportadas por bois e búfalos é, até hoje, maior que o de
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cargas transportadas por trens (EMPRESA BRASILEIRA DE AGRICULTURA E


PECUÁRIA, 1993). No Brasil, a tração animal é frequentemente utilizada nas
principais práticas agrícolas demandadas no campo, sobretudo no manejo
do solo, em operações como, por exemplo, a aração (BARON; ANJOS, 1983;
BERETTA, 1988).
Nessa operação, o animal, preso ao implemento, realiza todo o esforço
necessário para que o arado possa fatiar e revolver o solo, expondo as
camadas mais profundas de modo a contribuir para as demais operações,
como o uso de fertilizantes e corretivos, a semeadura ou, caso seja ne-
cessária, a gradagem (SILVA, 1983). O operador (produtor) tem a função de
manter o implemento na linha de aração e controlar sua profundidade no
solo (Figura 2).

Figura 2. Uso da tração animal na operação de revolvimento do solo.


Fonte: David Mark/Pixabay.com.

A tração animal também é largamente utilizada na semeadura e na aplica-


ção de produtos fitossanitários (agrotóxicos). Na semeadura, o implemento,
preso ao animal, tem as funções de fatiar o solo e distribuir as sementes no
sulco de semeadura. Durante o processo, o operador controla o implemento,
a fim de evitar falhas, e inspeciona a profundidade da semeadura (ALMEIDA
et al., 2002).
Outros usos comuns da tração animal são na pulverização, em que a tração
animal facilita o transporte do tanque pulverizador e diminui o tempo de
execução do serviço no campo; no transporte de pessoas, produtos agríco-
las, insumos e produtos oriundos da colheita; na distribuição de adubos e
fertilizantes; entre outros (RANGEL et al., 2007).
4 Máquinas e implementos para agricultura familiar

O uso do equipamento de proteção individual (EPI) é obrigatório


durante a aplicação de defensivos agrícolas e em trabalhos que
ofereçam risco à saúde do trabalhador. Existem duas leis que o regulamen-
tam: a NR 6 — Equipamento de Proteção Individual e a NR 31 — Segurança e
Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal
e Aquicultura.

Os animais mais utilizados para tração são cavalos, burros, mulas, jumen-
tos, bois e búfalos. Os equinos exigem menos alimento que os bubalinos, os
quais, por sua vez, apresentam maior capacidade de tração devido ao seu
peso e força — porém, executam as operações com menor velocidade de
trabalho (EMPRESA BRASILEIRA DE AGRICULTURA E PECUÁRIA, 1993).
Para alguns produtores rurais, a tração animal pode ser a única opção
viável. Embora tenha uma baixa eficiência operacional (relação entre horas
trabalhadas e área agricultável), essa prática agrícola oferece vantagens,
dentre as quais podemos destacar as seguintes (EMPRESA BRASILEIRA DE
AGRICULTURA E PECUÁRIA, 1993):

„„ a tração animal é uma alternativa mais econômica para a pequena


propriedade, podendo servir de montaria, movimentar máquinas es-
tacionárias, tracionar implementos e transportar mercadorias;
„„ o animal tem grande adaptabilidade, podendo ser utilizado em pra-
ticamente qualquer terreno, independentemente de sua topografia;
„„ a criação dos animais pode ser efetuada na própria propriedade rural
pelos agricultores.

Por outro lado, a tração animal também oferece desvantagens:

„„ a dependência das condições de saúde e fitossanitárias dos animais


para a realização da tração animal;
„„ o custo com a alimentação e as instalações (baias, curral, cercas, etc.)
para os animais;
„„ o custo com a saúde dos animais;
„„ a falta de legislação adequada sobre o uso do trabalho animal voltado
para as operações agrícolas, principalmente em relação às práticas
que envolvam produtos fitossanitários;
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„„ a morte do animal e a consequente necessidade de compra de outro


para continuar as operações no campo;
„„ a baixa velocidade de trabalho nas operações agrícolas, se comparada
à velocidade obtida com máquinas dotadas de motores de combustão;
„„ a falta de investimentos tecnológico e financeiro para essa prática
agrícola.

Portanto, o uso da tração animal atende aos objetivos dos pequenos


produtores rurais que atuam na agricultura familiar. Operações como le-
vantamento de canteiros e construção de hortas podem ser concluídas
com certa facilidade utilizando-se os animais como fonte de energia para
esses trabalhos. No entanto, importa ressaltar que é fundamental que os
agricultores familiares recebam aperfeiçoamento tecnológico e especiali-
zado para que efetuem com maior eficácia suas atividades no campo, não
sendo dependentes apenas da tração animal para operar as máquinas e
os implementos agrícolas.

Operações com máquinas e implementos


agrícolas e seus benefícios para
a agricultura familiar
Diversas operações agrícolas demandam ferramentas específicas para serem
realizadas. Sendo assim, é comum haver em pequenas propriedades familiares
implementos e máquinas de uso rotineiro, tais como arados de aivecas ou
discos, grades, enxadas rotativas, motocultivadores, roçadeiras e tratores
de potência reduzida (microtratores), equipamentos esses que tornam mais
fáceis as operações. A seguir, descreveremos o funcionamento dessas má-
quinas e desses implementos, bem como as situações em que eles são mais
empregados na agricultura familiar.

Operações de manejo e revolvimento do solo


O manejo do solo para a agricultura é uma prática realizada há milênios pelo
ser humano, podendo ser dividida em preparo primário e preparo secun-
dário. Seus objetivos são revolver a camada mais profunda do solo para a
superfície, reduzir de maneira inicial plantas invasoras na área agricultável,
aumentar a infiltração de água no solo, facilitar a distribuição das sementes
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e das mudas no local, contribuir para o aumento da taxa de germinação das


sementes e fornecer de modo homogêneo fertilizantes e corretivos agrícolas
nas camadas do solo.
No preparo primário, ou inicial, os implementos mais comumente utilizados
são os arados e as enxadas rotativas, os quais são responsáveis por ceder as
camadas do solo e, assim, torná-las mais fáceis de ser revolvidas. Nessa etapa,
são muito usados arados de aivecas e discos, visto que, além de afrouxar as
camadas do solo, eles também conseguem revolvê-las, isto é, realizar uma
inversão entre as camadas mais superficiais e as mais profundas do solo.
Essa ação é de extrema importância para a agricultura, pois ela não apenas
descompacta o solo, mas também pode tornar a matéria orgânica presente
em camadas profundas mais próxima da superfície e, consequentemente,
das raízes das plantas (MANTOVANI, 2008).
Já o preparo secundário do solo visa a garantir maior homogeneidade entre
as camadas superficiais, tendo como principais finalidades o destronamento
(quebra dos torrões do solo) e o nivelamento da camada mais superficial.
Nessa prática, os implementos comumente utilizados são as grades. No
entanto, também é possível usar alguns arados e enxadas rotativas, de-
pendendo das condições do solo no local — o produtor pode realizar duas
ou mais “passadas” do implemento na área. Outras finalidades do preparo
secundário são facilitar a distribuição de corretivos do pH do solo (calcário)
e fertilizantes (adubos minerais ou orgânicos), e realizar o controle inicial de
plantas invasoras (PRIMAVESI, 2002).

Implementos agrícolas
As grades e os arados de aivecas ou discos (Figura 3) têm como função
trabalhar sobre a superfície e a subsuperfície do solo, podendo atingir
profundidades de até 40 cm e realizar “recortes” de até 200 cm (STOLF;
SILVA; GOMEZ, 2008). O uso desses implementos visa ao revolvimento das
camadas do solo e à destruição de seus torrões, a fim de que, na sequência,
possam ser realizadas outras operações, como a correção do pH do solo, o
uso de fertilizantes e as práticas de cultivo, como a semeadura, a abertura
de sulcos, canteiros, ou o transplantio de mudas (LINS, 1980). Esses imple-
mentos podem ser tracionados por animais (dependendo do porte) ou, no
caso de implementos mais pesados ou que exijam serviços mais pesados
no campo, por máquinas.
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Figura 3. Esquema do arado de discos.


Fonte: Doungtepro/Pixabay.com.

Dentro da propriedade rural, também são utilizadas as semeadoras-


-adubadoras (Figura 4), que, na agricultura familiar, costumam ser encontradas
em versões menores, se comparadas às usadas na agricultura extensiva. Seus
principais objetivos são facilitar a semeadura de culturas (p. ex.: soja, milho,
olerícolas, pastagens, etc.) e distribuir fertilizantes (químicos ou minerais) e
corretivos, como calcário, por exemplo (ANDERSSON et al., 2014).

Figura 4. Semeadora-adubadora.
Fonte: Barescar90/Pixabay.com.
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Máquinas agrícolas
Com o desenvolvimento e o aperfeiçoamento dos motores de combustão
interna, houve um aprimoramento das máquinas agrícolas. Isso resultou em
alta produtividade no campo, ao oferecer um enorme parque tecnológico para
os pequenos e os grandes produtores rurais (BALASTREIRE, 1987).
Esse nicho de mercado está em constante desenvolvimento e atuali-
zação. Todos os anos, no Brasil e em outros países, empresas do setor de
máquinas agrícolas apresentam suas inovações tecnológicas para as safras
seguintes. Mesmo os pequenos produtores familiares têm à disposição, por
preços acessíveis, algum tipo de máquina que contribuirá para os serviços
da propriedade rural. Como exemplos de máquinas utilizadas na agricultura
familiar, podemos citar os motocultivadores, as enxadas rotativas, os pul-
verizadores e atomizadores, as roçadeiras, as colhedoras mecanizadas ou
semimecanizadas e os microtratores (MENASCHE, 2007).
Os motocultivadores, junto com as enxadas rotativas, são máquinas que
auxiliam bastante o trabalho dos agricultores familiares, pois são capazes
de operar em alta velocidade e com força suficiente para o revolvimento do
solo e o levante de canteiros, fato que torna mais eficiente, organizado e
produtivo o cultivo das olerícolas, como, por exemplo, folhosas, tubérculos,
raízes e frutos (Figura 5). Existem modelos de motocultivadores com maiores
potências, que podem ser utilizados em diversas operações no campo e
acoplados a outros implementos, como roçadeiras (capineiras) (VEIGA, 2015).

Figura 5. Motocultivador com enxada rotativa na construção de canteiro de olerícolas.


Fonte: StarShadow/Pixabay.com.
Máquinas e implementos para agricultura familiar 9

Algumas culturas, como frutas, hortaliças, raízes, bulbos e plantas or-


namentais, necessitam de equipamentos com design próprio para que as
atividades sejam executadas com eficiência operacional e facilidade. Isso
porque esses veículos precisam trafegar em espaços reduzidos e, algumas
vezes, com topografia irregular (REGO, 2007). Para tanto, os produtores podem
encontrar microtratores capazes de entregar resultados satisfatórios de
acordo com as necessidades de cada cultura no campo.
Os microtratores (até 50 cv) são muito utilizados na agricultura familiar,
pois desenvolvem serviços mais pesados e acoplam inúmeros implementos
agrícolas, como, por exemplo, roçadeiras, arados, grades, pulverizadores,
distribuidores de adubos e corretivos, colhedoras, carretas, etc. (Figura 6).
Além disso, eles podem ser usados em outras atividades, como operações
de bombas de água para irrigação (acopladas na tomada de potência) e
transporte de insumos agrícolas e animais.

Figura 6. Microtrator trabalhando em operação no campo.


Fonte: Charlesricardo/Pixabay.com.

No mercado agrícola, é possível encontrar roçadeiras e enxadas


rotativas manuais. Como são equipamentos que utilizam menos
potência, o seu uso é exclusivo para serviços mais leves no campo.
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Regulagem das máquinas e dos implementos agrícolas


As práticas de regulagem das máquinas e dos implementos agrícolas têm como
objetivo preservar a qualidade das operações a serem realizadas no campo,
garantindo o melhor desempenho e o uso adequado da energia demandada
pelo trabalho que será executado, seja com tração animal ou mecânica.
É necessário que haja equilíbrio entre as forças verticais e transversais dos
arados, de modo que a força do arraste (tração) seja útil no trabalho exercido
pelo trator ou animal. Antes de dar início à regulagem dos arados, é importante
que se avaliem as condições físicas do animal (saúde, porte, cascos e idade) e as
características operacionais do trator, como, por exemplo, qual é a quantidade
necessária de lastro (peso nas rodas ou na frente do trator) para a operação,
assim como a bitola (distância entre as rodas) do trator (SILVEIRA, 1989).
Na tração mecânica, as regulagens mais utilizadas são o acoplamento
do implemento (arados, grades, semeadoras, etc.) no sistema hidráulico do
trator. Para tanto, são usados os três pontos (braços) de acoplamento (Figura
7). A operação pode obedecer à seguinte sequência (MIALHE, 1974):

1. engate do implemento ao braço inferior esquerdo (1º ponto);


2. engate do implemento ao braço superior (3º ponto);
3. o engate do braço inferior direito (2º ponto).

Figura 7. Vista dos pontos de acoplamento do trator.


Fonte: Mengozzi (2015, documento on-line).
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Antes do acoplamento dos implementos agrícolas, é importante verificar


e regular a bitola, cuja regulagem é definida de acordo com a largura total
do corte e a largura do pneu, conforme a equação a seguir (MIALHE, 1974):

B=L+l

onde:

„„ B: largura da bitola do trator, em metros;


„„ L: largura total de corte, em metros;
„„ l: largura do pneu, em metros.

Outra regulagem importante é a do centro de resistência, que corresponde


ao equilíbrio entre a linha de tração do trator e a linha de tração do imple-
mento. Realizada por meio das correntes estabilizadoras, essa regulagem
tem como principal objetivo tornar mais suave a dirigibilidade do trator na
operação (BALASTREIRE, 1987).
Os arados necessitam de regulagens específicas, que garantem a homo-
geneidade do corte das fatias do solo, como, por exemplo, as apresentadas
a seguir (BALASTREIRE, 1987).

„„ Nivelamento transversal: trata-se de uma regulagem realizada no


segundo braço do trator. Também é possível realizá-la no primeiro e
no segundo braço, mas nunca apenas no primeiro.
„„ Largura de corte: com a função de administrar a maior ou a menor lar-
gura de corte, essa regulagem pode ser realizada na barra transversal.
As larguras de corte variam de 30 cm a 45 cm.
„„ Sucção vertical e lateral: essa regulagem é feita unicamente no arado
de aiveca, pois a aiveca deve ter uma folga entre o seu corpo e o solo
(de 5 mm a 13 mm). Essa folga auxilia na estabilidade da aiveca quando
está trabalhando no solo, bem como na absorção dos esforços de
trabalho, mantendo estável a profundidade de trabalho.
„„ Regulagem do ângulo vertical: realizada apenas no arado de discos,
essa regulagem visa à penetração do disco no solo. Trata-se da regu-
lagem de um ângulo vertical menor (mais usual em solos argilosos),
que varia de 15° a 25°. Quanto maior for o ângulo entre disco e solo,
menor será a sua penetração.
„„ Regulagem do ângulo horizontal: variando de 42° a 60°, essa regulagem
é útil apenas para o arado de discos. Tendo como objetivo variar a
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fatia de solo a ser cortada pela angulação do disco, essa prática pode
diminuir o esforço do trator na operação.
„„ Regulagem da roda guia: realizada pela mola da roda guia e pelo sis-
tema hidráulico do trator, essa regulagem tem o intuito de controlar a
profundidade da operação — com a mola pressionada, a profundidade
diminui, e, com a mola esticada, a profundidade aumenta.

A regulagem também é necessária para as enxadas rotativas, usadas


principalmente para destruir os torrões e homogeneizar o solo. A velocidade
de avanço da enxada rotativa e do motocultivador deve ser de 4,0 km/h
a 9,0 km/h, com as lâminas rotacionando entre 112 rpm e 216 rpm e a
profundidade de trabalho estando entre 12 cm e 20 cm no solo (MCCOLLY;
MARTIN, 1995).

A enxada rotativa deve ser usada com cuidado, de modo a preservar


a integridade física tanto do operador quanto do equipamento. Para
evitar acidentes com esse implemento, recomenda-se verificar se há tocos,
pedras, etc. no local.

Adaptações tecnológicas e criativas


de máquinas e implementos para a
agricultura familiar
A melhoria contínua da agricultura familiar se deve, em grande medida, à
capacidade dos produtores rurais de encontrar soluções criativas a partir dos
recursos disponíveis. A demanda por tecnologias que facilitem as operações
da empresa rural familiar é cada vez maior, sendo a mecanização agrícola
um dos meios necessários a qualquer processo de melhoria do sistema
produtivo da agricultura de base familiar. Sendo assim, um pré-requisito
essencial para atender às diferentes necessidades dessas propriedades é a
disponibilidade de máquinas e equipamentos. Em muitos casos, a carência
de máquinas e implementos adequados às unidades familiares de produção
vem retardando a adoção de sistemas produtivos mais racionais (REICHERT;
REIS; DEMENECH, 2015).
Para contornar as dificuldades impostas pela rotina da propriedade
rural, é necessário que o produtor que gera renda dentro da agricultura
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familiar seja também criativo. A seguir, serão apresentados alguns exemplos


de problemas e soluções criativas que demonstram a capacidade desses
produtores para lidar com as dificuldades enfrentadas pela agricultura
familiar no Brasil.

Exemplo 1: encanteirador de morango

Um produtor adaptou o encanteirador de morango — que contribui no


levantamento de canteiros para o cultivo das plantas — utilizando uma
enxada rotativa como opção viável às necessidades da operação. Para
facilitar o levantamento dos canteiros, o manejo do plástico e a irrigação,
o produtor ajustou chapas de aço em cada uma das laterais do encantei-
rador, como se pode observar na Figura 8. Com essa adaptação, é possível
obter maior eficiência na formação dos canteiros, além de se conseguir
distribuir os adubos (químicos e orgânicos) ao mesmo tempo (REICHERT;
REIS; DEMENECH, 2015).

Figura 8. Encanteirador de morango adaptado.


Fonte: Reichert, Reis e Demenech (2015, p. 29).

Exemplo 2: Microtrator Tobatta com adaptação de semeadora para


plantio direto

Os microtratores Tobatta são usados em diversos contextos no campo para


operações em pequenos espaços, o que os torna úteis em práticas como a
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semeadura. No entanto, essa operação demanda do produtor a disponibilidade


do Tobatta e da semeadora como implemento de acoplamento.
Para realizar o plantio direto de milho em sua propriedade, um agricultor
adaptou uma semeadora a um microtrator Tobatta antigo (Figura 9). Com
esse arranjo entre máquina e implemento, é possível ter maior rendimento
operacional na semeadura do milho, sobretudo se este for plantado em
consórcio (isto é, simultaneamente em uma mesma área agrícola) com outras
culturas (REICHERT; REIS; DEMENECH, 2015).

Figura 9. Tobatta com adaptação de semeadora para plantio direto.


Fonte: Reichert, Reis e Demenech (2015, p. 43).

Exemplo 3: Triciclo pulverizador

Para motorizar o equipamento e, assim, tornar a operação mais rápida, a


empresa JC Triciclos Agrícolas uniu uma motocicleta popular a um implemento
de pulverização (Figura 10). O uso da motocicleta surgiu como uma opção viável
para atender à necessidade dos pequenos produtores de usar equipamentos
de pulverização com menor custo-benefício.
Máquinas e implementos para agricultura familiar 15

Figura 10. Triciclo pulverizador.


Fonte: Moto... ([20--], documento on-line).

Exemplo 4: Tratorzinho “tuque-tuque”

As operações de preparo do solo, colheita e pós-colheita exigem o trans-


porte de produtos e insumos agrícolas, demandando dos produtores
rurais veículos adequados para essa função. A fim de evitar a compra de
novos veículos e, assim, diminuir custos, um produtor rural construiu o
microtrator “tuque-tuque” apresentado na Figura 11. A construção do
veículo se deu a partir de um motor de moto e partes de um automóvel
Chevette (chassi, caixa de transmissão, diferencial e conjunto de rodas).
Com essa adaptação, o produtor consegue realizar todo o transporte de
insumos para as práticas agrícolas dentro da propriedade rural, o que
proporciona eficácia e diminui o tempo das operações (REICHERT; REIS;
DEMENECH, 2015).
16 Máquinas e implementos para agricultura familiar

Figura 11. Tratorzinho “tuque-tuque”.


Fonte: Reichert, Reis e Demenech, (2015, p. 78).

Esses exemplos mostram um pouco dos problemas enfrentados pelo


produtor da agricultura familiar para reduzir custos e tornar mais eficientes
os processos no campo. A demanda por máquinas e equipamentos agríco-
las específicos por nicho ou atividade mobiliza os agricultores para buscar
soluções inovadoras, que, na grande maioria das vezes, dependem de sua
própria criatividade.

Futuro da agricultura familiar e máquinas


e implementos agrícolas
Há um desenvolvimento cada vez mais acentuado das novas tecnologias
agrícolas, como máquinas que operam via satélite, computadores de bordo e
veículos aéreos não tripulados. Porém, uma vez que o custo de tais tecnologias
é alto, os pequenos agricultores familiares acabam não tendo acesso a essas
modernizações (SAUER, 2008). O que tem contribuído para mudar esse cenário
são os incentivos de empresas privadas e universidades públicas, que têm se
unido com produtores familiares para realizar ensaios de campo com o uso
de máquinas e implementos em pequenas lavouras e hortas, propiciando o
aumento da produtividade e oferecendo condições de investimentos futuros
pelos produtores (BUAINAIN; ROMEIRO; GUANZIROLI, 2003).
A história da agricultura é permeada por muitas modificações. A evolução
de técnicas e a inserção de tecnologias trazem segurança, comodidade e
Máquinas e implementos para agricultura familiar 17

um pouco mais de conforto a quem trabalha no campo. Com a adoção das


novas tecnologias, será possível reduzir cada vez mais o uso de tração animal
à medida que ela continuar sendo substituída pela tração mecânica. Além
disso, aumentará cada vez mais a eficiência operacional de práticas agrícolas
como o revolvimento do solo, a semeadura, a distribuição de corretivo e
fertilizantes, entre outras.
Entre os fatores limitantes para a aquisição de máquinas agrícolas pelos
pequenos produtores familiares, estão o elevado custo desses equipamentos,
a alta carga tributária e a escassez de políticas públicas que atendam a todos.
Nesse sentido, a pequena propriedade rural, se receber o apoio adequado
das entidades governamentais, das universidades públicas, das empresas
do setor privado e dos produtores, poderá se tornar o novo laboratório da
agricultura moderna, sendo capaz de gerar segurança alimentar para as
cidades e para o país. Assim, a agricultura familiar se tornará pioneira no
desenvolvimento de novas máquinas e implementos agrícolas. Compete ao
profissional da agronomia conhecer essas tecnologias e difundir seus usos
a fim de atender a esse nicho de mercado, responsável por boa parte da
produção alimentícia do nosso país.

Referências
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