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183/2015-6
RELATÓRIO
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 024.183/2015-6
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13. Naquele momento, para o CT 107, não foram registrados indícios de sobrepreço. A falta
de detalhamento de um conjunto considerável de itens do DFP, somadas a não detecção de sobrepreço
na referida amostra, levou a Unidade Técnica a propor o arquivamento do processo. O Exmo. Min.
Relator ordenou, assim, o apensamento do processo aos autos ao TC 010.546/2009-4.
14. Com o eclodir da Operação Lava Jato (OLJ) da Polícia Federal, juntamente com
informações trazidas por meio de acordos de leniência e colaborações premiadas, em que se
encontram explícitos relatos de que houve sobrepreço e superfaturamento em diversos contratos da
Repar, o TC 021.480/2009-9 foi convertido em Tomada de Contas Especial por meio do Acórdão
2.163/2015-TCU-Plenário.
15. Ato contínuo, esta Unidade Técnica foi instada a aprofundar a identificação, delimitação
da conduta dos responsáveis citados e a apuração do débito levantado nos autos do TC 010.546/2009-
4, com o angariamento de outras provas, em sinergia com o Ministério Público Federal – MPF e em
conformidade com as proposições expressas no citado decisum.
16. O cálculo do sobrepreço será mais bem examinado no tópico seguinte, mas adianta-se que
a o cálculo efetuado pela SeinfraPetroleo em 8/2015 (TC 010.546/2009-4, peça 155), no montante de
R$ 11.069.762,06, foi corrigido para R$ 1.551.584,16, em virtude de erros materiais.
17. Quanto ao apontamento da deficiência do projeto básico (discutido no processo
010.546/2009-4), de fato, ao que consta no processo, a Petrobras forneceu um conjunto de projetos,
plantas e um memorial descritivo da obra que ainda necessitaria de uma consolidação para a
elaboração do projeto básico. Essa foi a conclusão das instruções anteriores.
18. Por outro lado, consta do Edital que a empresa deveria também montar um plano de
construção e montagem que deveria seguir rigorosamente o projeto executivo, que seria fornecido
pela Estatal (TC 021.480/2009-9, peça 2, p. 172, e peça 10, p. 6 a 13, itens 3 a 3.2). Ou seja, ao que
consta dos autos, a empresa recebeu um conjunto de projetos e o memorial descritivo para embasar
seu orçamento, mas deveria seguir o projeto executivo que a Petrobras já possuía, que não consta nos
anexos ou apêndices do edital.
19. A priori, tal situação restringe a possibilidade de irregularidades por modificação de
projeto pela contratada. Adicionalmente, presumindo um procedimento licitatório regular e a boa-fé
dos proponentes, o baixo grau de detalhamento dos projetos constantes do edital também dificultam a
precificação dos serviços e, consequentemente, da orçamentação da obra.
20. O projeto executivo não foi acostado aos autos do presente processo. De qualquer modo,
sem entrar no mérito da qualidade dos projetos, que não é objetivo desse processo, é cediço que a
Petrobras pautava seus orçamentos nos preceitos da Association for the Advancement of Cost
Engineering – AACE e vinha optando por licitar obras sem projeto básico, mas sim com projetos com
menor nível de detalhamento, cabendo ao contratado a consolidação do projeto básico.
21. Quanto ao reexame da responsabilização, restou afastada a responsabilidade dos gestores
da estatal petrolífera e também da empresa contratada. Foram excluídos ou deixaram de ser incluídos
no rol de responsáveis os agentes e gestores que elaboraram ou aprovaram a estimativa de custo da
Petrobras, visto que não restou evidenciada influência da referida estimativa de custo no sobrepreço.
22. Na instrução acostada à peça 178, a Unidade Técnica concluiu que restou demonstrado
nos autos a: (i) ausência de indícios de irregularidade no processo licitatório no qual oito empresas
apresentaram propostas de preços; (ii) ausência de indícios de ingerência dos gestores da Petrobras
envolvidos nas fraudes reveladas na OLJ; (iii) ausência de indícios de recebimento de vantagens
indevidas por parte da empresa contratada Azevedo & Travassos Engenharia Ltda.; e (iv) ausência de
informações de que a referida empresa contratada tenha participado nas ações delituosas
descortinadas pela OLJ.
23. Soma-se a esses elementos o fato de que, (v) para o contrato específico, os fornecimentos
de materiais e equipamentos deveriam seguir a vendor list informada pela Petrobras, conforme consta
em diversos itens do Edital e Contrato (TC 021.480/2009-9, peças 10 e 8, respectivamente) e; (vi) a
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correspondência exata nos outros referenciais; e (ii) excluir dois cargos da amostra, cuja razão será
explicitada a seguir.
32. O primeiro cargo excluído se trata do cargo de coordenação “projetista de elétrica -
coordenador de projetos”. Como o tratamento do Caged objetiva encontrar um referencial médio para
o cargo, muito provavelmente os cargos de direção e coordenação ou que exigem alta capacidade de
gestão estarão acima da média. Entende-se que são profissionais com valor de mercado diferenciado e
necessários em pequena quantidade, a depender da complexidade da obra.
33. Já o segundo foi excluído por duas razoes: (i) descrição demasiadamente genérica
(“profissional habilitado”), impossibilitando a devida comparação ao Caged; e (ii) trata-se do cargo
de maior remuneração da obra, o que sugere se tratar de profissional também diferenciado. Tal
profissional provavelmente decorre da exigência do item 2.3.1.2 do contrato (TC 021.480/2009-9,
peça 8), que exige um “profissional habilitado, devidamente registrado na correspondente entidade de
classe, em caráter permanente, que dirigirá os serviços durante todo o prazo contratual e cujo nome,
acompanhado do respectivo currículo, deverá ser remetido previamente para a PETROBRAS, que
poderá, justificando, vir a recusá-lo”.
34. Sendo assim, exclui-se um profissional para o serviço de construção civil e outro para o
serviço de montagem eletromecânica, aceitando a premissa de que é razoável que cada disciplina
tenha ao menos um profissional fora dos parâmetros médios de mercado.
35. Por último, identificando-se uma inconsistência das tabelas Sinapi utilizadas, esses
também foram ajustados. Assim, os encargos passaram de 75,18% e 128,95% para 83,19% e
127,87%, respectivamente, mão de obra mensalista e horista.
II.3. Reanálise do BDI
36. Especificamente sobre esta última questão, possivelmente diante da falta de informações
constantes no DFP (peça 211), a Unidade Técnica responsável estabeleceu que o BDI para estes
serviços seria o mesmo da montagem eletromecânica, de 31,83%. Esse valor foi calculado com base
nas informações contidas no próprio DFP ([Total dos Serviços – Custo Direto]/Custo Direto x 100).
37. Assim, com base na diferença entre o BDI calculado acima e o BDI referencial de 28,87%,
definido pelo Acórdão 325/2007-TCU-Plenário, foi imputado o sobrepreço para o fornecimento de
materiais e equipamentos tagueados.
38. O método utilizado, embora constitua tentativa louvável da Unidade Técnica para se
calcular o sobrepreço diante da falta de cooperação da Petrobras (à época), não mais se coaduna
com as diretrizes deste Tribunal. Primeiro, porque o BDI referencial de 28,87% constante do Acórdão
325/2007-TCU-Plenário se referia a obras de linhas de transmissão, sendo o Acórdão 2.622/2013-
TCU-Plenário a referência mais atual para as auditorias de obras civis. Consta dessa decisão do
plenário:
‘9.1. determinar às unidades técnicas deste Tribunal que, nas análises do orçamento de
obras públicas, utilizem os parâmetros para taxas de BDI a seguir especificados, em substituição aos
referenciais contidos nos Acórdãos ns. 325/2007 e 2.369/2011:
VALORES DO BDI POR TIPO DE OBRA
TIPOS DE OBRA 1ºQuartil Médio 3º Quartil
CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS 20,34% 22,12% 25,00%
CONSTRUÇÃO DE RODOVIAS E
19,60% 20,97% 24,23%
FERROVIAS
CONSTRUÇÃO DE REDES DE
ABASTECIMENTO DE ÁGUA,
20,76% 24,18% 26,44%
COLETA DE ESGOTO E
CONSTRUÇÕES CORRELATAS
CONSTRUÇÃO E MANUTENÇÃO
24,00% 25,84% 27,86%
DE ESTAÇÕES E REDES DE
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DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA
ELÉTRICA
OBRAS PORTUÁRIAS, MARÍTIMAS
22,80% 27,48% 30,95%
E FLUVIAIS
BDI PARA ITENS DE MERO
FORNECIMENTO DE MATERIAIS E 11,10% 14,02% 16,80%
EQUIPAMENTOS
9.2. orientar as unidades técnicas deste Tribunal que:
9.2.1. nas análises do orçamento de obras públicas, quando a taxa de BDI estiver fora dos
patamares estipulados no subitem 9.1 deste Acórdão, procedam ao exame pormenorizado dos itens
que compõem essa taxa, utilizando como diretriz para esse exame os seguintes percentuais obtidos no
estudo de que tratam estes autos, levando-se sempre em consideração as peculiaridades de cada caso
concreto: (...)’
39. Em linha com a referida orientação, analisou-se a composição do BDI para os serviços
orçados na DFP.
40. No que se refere às obras civis, o BDI definido pela empresa foi de 24,01%. Para verificar
a razoabilidade desse percentual, examinou-se a composição detalhada constante do DFP e,
adicionando-se os valores de ISS e PIS/COFINS ao método de cálculo adotado por este Tribunal,
chegou-se em um BDI de 24,73% (conforme cálculo contido no arquivo 3 da peça 210).
41. Embora a obra em questão não envolva tecnologia ou estruturas complexas de
engenharia, também é certo que não se trata de uma obra de construção civil comum. O Centro
Integrado de Controle (CIC) consiste em um edifício resistente, que possa manter em funcionamento
diversos equipamentos eletrônicos diante de explosões, conforme detalhamento do edital. Por essa
razão, entende-se que cabe alguma acomodação nos critérios que se referem a obras comuns de
construção civil.
42. Examinando-se a composição do BDI para os serviços de construção civil, a tabela abaixo
resume os percentuais utilizados na proposta, juntamente do referencial delineado no Acórdão
2.622/2013-TCU-Plenário.
Tabela 3 – Composição da Taxa de BDI para Construção de Edifícios
Taxa Referencial
Proposta
1º Quartil Médio 3º Quartil
Administração central 8,00% 3,00% 4,00% 5,50%
Seguro + Garantia + Risco 2,50% 0,80% 0,80% 1,00%
Despesas financeiras 0,00% 0,59% 1,23% 1,39%
Lucro Bruto 6,50% 6,16% 7,40% 8,96%
PIS e COFINS 3,65% - - -
ISS 2,00% - - -
Total 24,01% 20,34% 22,12% 25,00%
43. Sobre a tabela acima, é mister recordar que os trabalhos realizados (Acórdão 325/2007,
2.369/2011 e 2.622/2013, todos TCU-Plenário) fazem tratamento estatístico das séries de dados
amostrais, tanto para os itens da composição de forma individual, como para as taxas de BDI totais.
Isso quer dizer que a aplicação da fórmula aos itens da composição posicionados no 1º quartil, na
média e no 3º quartil não resulta no valor total de BDI para cada faixa. Tal aspecto foi ressaltado no
relatório final que suporta o Acórdão 2.622/2013-TCU-Plenário:
‘Uma questão que precisa ficar esclarecida é quanto à utilização equivocada dos
parâmetros dos componentes para se determinar o valor final do BDI por meio da aplicação da
fórmula do Acórdão 2.369/2011-TCU-Plenário. As estatísticas calculadas, tanto do BDI quanto de
seus componentes, foram feitas separadamente, com os dados de cada variável considerados
independentemente uns dos outros. Portanto, as médias e as faixas de referência obtidas são
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características individuais de cada parâmetro. Assim, constitui erro tomar os valores médios das
faixas definidas no Quadro 15 e aplicá-los na fórmula esperando obter o valor máximo do BDI
definido no Quadro 13. O mesmo se pode dizer em relação ao cálculo feito com os valores dos 1º e 3º
quartis.’
44. Ainda sobre essa questão, o relatório base para o Acórdão 325/2007-TCU-Plenário já
esclarecia que:
‘(...) serão apresentadas duas faixas de valores percentuais para cada item: uma,
reproduzindo os valores observados pela pesquisa realizada junto às empresas contratantes do setor
elétrico, já citadas; outra, indicando uma referência sugerida para esses valores, resultante das
avaliações procedidas no presente estudo. Posteriormente, esses percentuais serão tratados
estatisticamente para uma melhor adequação dos seus valores à realidade de mercado. Esse
tratamento é necessário, pois não seria coerente a simples aplicação da fórmula do LDI aos valores
mínimos e apresentados. Ao ser aplicada a fórmula aos mínimos e máximos de cada item do LDI
obter-se-ia percentuais de LDI extremos muito baixos e muito elevados, respectivamente, distorcendo,
assim, dos valores observados ou dos propostos como referência.’
45. Além disso, deve-se levar em conta que tanto o 1º quartil, quanto o 3º quartil dos
componentes do BDI, não significam um limite mínimo e máximo. A faixa entre esses quartis somente
apresenta uma informação, que não deve ser tratada como piso ou teto, conforme o mesmo relatório:
‘Os percentuais do 1º quartil, médios e do 3º quartil são valores consistentemente obtidos
do modelo teórico empregado, conforme demonstrado no presente trabalho. Logo, considerou-se
adequado estabelecer esses limites como faixas de referência para os valores de BDI. Observe-se que,
estabelecidas essas faixas, significa dizer que 25% dos contratos têm valores de BDI acima do limite
superior e 25% abaixo do limite inferior definidos no Quadro 13, sempre de forma estimativa, pois
baseados em dados amostrais. Dessa forma, tem-se uma medida da abrangência das faixas calculadas
como referencial de BDI. Cabe lembrar que o Sinapi também utiliza os mesmos quartis na divulgação
dos preços referenciais dos insumos pesquisados.
As faixas estabelecidas com os 1º e 3º quartis não traduzem a ideia de que esses valores
equivalem a limites mínimos e máximos de referência admitidos para o BDI, como ficou consignado
com as faixas dos acórdãos anteriores. As faixas com os quartis apenas informam os percentuais
associados a essas duas medidas estatísticas, sem nenhum pré-julgamento quanto a serem máximos ou
mínimos absolutos. No caso de valores de BDI que destoem dos percentuais apresentados, deverão ser
eles, nos orçamentos de referência, adequadamente justificados pelos gestores.
(...)
As faixas estabelecidas com os 1º e 3º quartis não traduzem a ideia de que esses valores
equivalem a limites mínimos e máximos de referência admitidos para o BDI, como ficou consignado
com as faixas dos acórdãos anteriores. As faixas com os quartis apenas informam os percentuais
associados a essas duas medidas estatísticas, sem nenhum pré-julgamento quanto a serem máximos ou
mínimos absolutos. No caso de valores de BDI que destoem dos percentuais apresentados, deverão ser
eles, nos orçamentos de referência, adequadamente justificados pelos gestores.’
46. Tendo por base os entendimentos acima, passa-se a análise do BDI da proposta.
II.3.1. BDI dos serviços de construção civil
47. Como se observa, alguns componentes do BDI estão um pouco acima ou abaixo da
referência utilizada. O único item mais discrepante seria o gasto com administração central, que
chega a 8,0%, quando a média é de 4,0% e o 3º quartil das amostras do estudo vão até 5,5%. Por
outro lado, verifica-se que a fórmula de cálculo do BDI utilizada pela empresa soma todos os
componentes sem reincidência, ou seja, as despesas financeiras e o lucro não incidem sobre os valores
de administração central, risco, garantia e seguros. Utilizando-se os componentes do BDI informados
na DFP, com base na metodologia de cálculo atual do TCU (Acórdão 2.369/2011-TCU-Plenário), o
BDI seria de 24,73%.
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48. Levando-se em conta que o referencial de 22,12% foi elaborado com dados de obras de
construção civis comuns, é razoável aceitar que o BDI de 24,01% esteja dentro de uma faixa aceitável
para o caso concreto, situando-se ainda entre o valor da média e do terceiro quartil na categoria
“construção de edifícios”. Sendo assim, para fins de avaliação do sobrepreço, considera-se válido o
BDI apresentado no orçamento da contratada, em substituição ao BDI de 28,87%, constante no
Acórdão 325/2007-TCU-Plenário.
49. Para os aditivos da construção civil, foi mantido o BDI da proposta, tendo em vista a
pouca a pequena variação (um aditivo foi de 24,01% e o outro de 24,17%).
II.3.2. BDI dos serviços de montagem eletromecânica
50. Quanto à montagem eletromecânica, há maior dificuldade em se estabelecer um
referencial de BDI para o serviço, já que este não foi contemplado no estudo que culminou com o
Acórdão 2.622/2013-TCU-Plenário. De qualquer maneira, examinou-se a composição do BDI desse
serviço, constatando-se que é a mesma apresentada para os serviços de construção civil nos quesitos
administração central, risco, seguro e garantias, despesas financeiras, lucro bruto e o tributo ISS.
51. Observa-se, contudo, que o BDI de 31,83% constante do DFP para o serviço de montagem
eletromecânica se embasou nas alíquotas de PIS e COFINS do regime não cumulativo, que são 1,65%
e 7,60%, respectivamente. Portanto, verifica-se uma desconformidade em relação à legislação federal,
que exige a incidência obrigatória do PIS e COFINS cumulativo (0,65% e 3,0% respectivamente) para
a execução de obras, conforme será explicado a seguir.
52. O regime cumulativo é exceção de que trata o art. 10 da Lei 10.833/2003, determinando
que os contribuintes alcançados pela regra não possam fazer compensações de crédito e débito, tais
quais as tributadas pelo imposto de renda com base no lucro presumido ou arbitrado ou optantes do
SIMPLES, devendo pagar o montante fixo de 0,65% para PIS e 3,0% para COFINS. Assim, no caso
da execução de obras de construção civil, é este o percentual que deve ser aplicado sobre o total do
faturamento do contrato administrativo.
‘Segundo o referido dispositivo da Lei 10.833/2003, tem-se:
Art. 10. Permanecem sujeitas às normas da legislação da COFINS, vigentes anteriormente
a esta Lei, não se lhes aplicando as disposições dos arts. 1º a 8º:
(...)
XX - as receitas decorrentes da execução por administração, empreitada ou
subempreitada, de obras de construção civil;’
53. Restaria saber se a montagem eletromecânica estaria inclusa na execução de obras de
construção civil, para efeitos de interpretação da Lei. A questão é esclarecida pela Solução de
Consulta nº 293 – Cosit de 13 de junho de 2017, elaborada pela Receita Federal do Brasil (arquivo 4,
peça 210).
‘CUMULATIVIDADE. NÃO CUMULATIVIDADE. CRÉDITOS. ATIVO IMOBILIZADO.
COMBUSTÍVEIS. CONTRATO FIRMADO EM REGIME DE EPC OU TURN KEY.
Caso o contrato firmado em regime de EPC ou Turn Key envolver o desenvolvimento de
obras de construção civil nos termos do inciso XX do art. 10 c/c inciso V do art. 15 da Lei nº 10.833,
de 2003, será obrigatória aplicação do regime de apuração cumulativa da Contribuição para o
PIS/Pasep em relação às receitas decorrentes da execução desse contrato;
Caso seja aplicável o regime de apuração não cumulativa da Contribuição para o
PIS/Pasep às receitas decorrentes da execução de contrato firmado em regime de EPC ou Turn Key, é
possível o desconto de créditos da referida contribuição em relação a:
a) guindastes, caminhões e veículos de transporte incorporados ao ativo imobilizado e
utilizados na produção de bens destinados à venda ou na prestação de serviços, nos termos do
inciso VI do art. 3º da Lei nº 10.637, de 2002;
b) combustível consumido nos referidos veículos diretamente utilizados na produção de
bens destinados à venda ou na prestação de serviços (no caso presente, na prestação de serviços
‘serviços de montagem eletromecânica e de instalações industriais’);’
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54. Embora o contrato do CT 107 não esteja modelado especificamente no regime de EPC ou
Turn Key, assim como foi formulada a consulta, o contrato envolve diferentes serviços de engenharia
interdependentes. Ao que consta no processo, a Petrobras forneceu um conjunto de projetos e um
memorial descritivo para que a contratada fizesse a consolidação do projeto básico e atualizasse o
projeto executivo existente. Segundo o edital, o projeto executivo seria fornecido pela Petrobras, que
deveria ser executado pela empresa contratada e marcado como “as-built” (TC 021.480/2009-9,
p.173, item 3.1.4).
55. Desse modo, a Azevedo & Travassos Engenharia deveria executar a obra completa, de
modo que o Centro Integrado de Controle fosse entregue pronto para uso. Portanto, deveria ser
obrigatoriamente aplicado o regime da cumulatividade de que trata o art. 10, inciso XX, da
Lei 10.833/2003.
56. Entendimento complementar é apresentado na Consulta nº 43 – Cosit de 14 de fevereiro de
2019 (arquivo 5, peça 210), que responde ao contribuinte se os serviços auxiliares e complementares
incluídos de um contrato de obra deveriam ser abarcados pela regra de cumulatividade, contida no
referido dispositivo da Lei 10.833/2003.
57. De modo a subsidiar a resposta, o documento introduz diversos conceitos sobre a
disciplina da construção civil, dentre as quais ressalta-se:
‘A expressão ‘construção civil’ originou-se em uma época em que só existiam duas
classificações para a Engenharia: a Civil e Militar. As construções que não eram feitas por
engenheiros (militares), tais como fortes e quartéis, eram chamadas de construções civis, feitas por
engenheiros civis. Naquela época, a Engenharia Civil englobava todas as áreas da engenharia,
porém, com o tempo, dada a necessidade de especialização, decorrente do crescente acúmulo de
conhecimento e desenvolvimento tecnológico, ela foi dividindo-se, dando origem às engenharias civil,
elétrica, mecânica, química, naval, entre outras. O engenheiro civil, aos poucos, foi deixando de ser
politécnico, para tornar-se técnico especialista em determinada área. Foram surgindo assim as
categorias de: engenheiro eletricista, engenheiro mecânico, engenheiro químico, entre outras, o que,
consequentemente, reduziu a competência do engenheiro civil. A expressão ‘construção civil’, todavia,
não teve o mesmo desdobramento, permanecendo com o mesmo nome até hoje, embora, em razão do
desenvolvimento tecnológico, tenha alcançando maior campo de ação. Ela continuou com sua
denominação tradicional, apesar do desdobramento da engenharia civil em outras engenharias, cujos
respectivos profissionais nela também atuam. Isso significa dizer que obras de construção civil são
obras relacionadas com qualquer ramo especializado da engenharia, seja ela civil, mecânica, elétrica,
eletrônica, industrial, etc. Na construção civil estão reunidas todas as atividades da engenharia.’
(MORAES, Bernardo Ribeiro de. Doutrina e Prática do Imposto sobre Serviços, 1978).
58. Assim, sendo a construção civil uma disciplina abrangente, que abarca outros ramos
especializados da engenharia para a entrega completa de uma obra, conclui que os serviços auxiliares
e complementares aplicados à execução da obra – e decorrentes do mesmo contrato de administração,
empreitada ou subempreitada – estão incluídos nesse regime, in verbis:
‘37. Os serviços auxiliares e complementares incluídos em tais contratos de obra é que
devem ser abarcados pela regra de cumulatividade, não os serviços de construção civil contratados
independentemente da conclusão de uma obra de construção civil.
38. Para maiores esclarecimentos, faz-se necessário elucidar a finalidade de cada um
desses tipos de contrato (administração, empreitada ou subempreitada):
- Contrato por administração ou a preço de custo - nesse regime, a construtora contratada
é responsável pela execução da obra e cobra para isso uma comissão por administração. É também
chamada de preço de custo porque é no final da execução da obra que o contratante saberá de fato
quanto teve que pagar pelo serviço completo.
- Contrato por empreitada - o proprietário da obra contrata um empreiteiro (normalmente,
construtora), que se obriga a realizar e entregar uma obra específica, mediante remuneração
previamente estabelecida. É também chamado de contrato a preço fixo.
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- Contrato por subempreitada - ocorre quando uma construtora contrata um terceiro para
realizar empreitada. Essa empreiteira (subcontratada) está responsável pela execução da obra, sob a
supervisão do construtor.
39. Nas três espécies de contrato, vemos que o seu objetivo é entregar a obra de
construção civil concluída. Para a conclusão da obra, na maioria das vezes será necessário se utilizar
de serviços auxiliares e complementares da construção civil como instalação e montagem de
elevadores, pintura predial, etc. Esses serviços de construção civil, quando aplicados à execução da
obra e forem vinculados ao mesmo contrato de administração, empreitada ou subempreitada, é que
estão abarcados pela regra esculpida no inciso XX do art. 10 da Lei nº 10.833, de 2003.
(...)
42. Em resumo, submetem-se ao regime cumulativo da Contribuição para o PIS/Pasep e
da Cofins (regime anterior) em razão do comando estatuído pelo inciso XX do art. 10 da Lei nº
10.833, de 2003 (c/c o inciso II do art. 15 do mesmo diploma legal) as receitas decorrentes de contrato
de execução por administração, empreitada e subempreitada de obras de construção civil, sendo que
os serviços auxiliares e complementares de construção civil aplicados à execução da obra e
decorrentes do mesmo contrato de administração, empreitada ou subempreitada estão incluídos nesse
regime, tendo em vista que a finalidade desses contratos é a entrega da obra à contratante. (Solução
de Consulta nº 43 – Cosit Data 14 de fevereiro de 2019)’
59. Portanto, sendo o serviço de montagem eletromecânica parte integrante do contrato de
empreitada da empresa com a Petrobras, o correto seria a aplicação do regime cumulativo da
contribuição para o PIS e COFINS (0,65% e 3,0%, respectivamente) e não o regime não cumulativo
(1,65% para PIS e 7,60% para a COFINS), conforme apresentado.
60. Importante ressaltar que, mesmo quando aplicável o regime não cumulativo, a proposta
dos proponentes deve considerar um fator redutor em razão do aproveitamento dos créditos
tributários previstos na legislação tributária, de modo que os preços contratados pela Administração
Pública reflitam os benefícios tributários concedidos, conforme a seguinte orientação contida no
Acórdão 2.622/2013-TCU-Plenário:
‘9.3.2.4. estabelecer, nos editais de licitação, que as empresas sujeitas ao regime de
tributação de incidência não cumulativa de PIS e COFINS apresentem demonstrativo de apuração de
contribuições sociais comprovando que os percentuais dos referidos tributos adotados na taxa de BDI
correspondem à média dos percentuais efetivos recolhidos em virtude do direito de compensação dos
créditos previstos no art. 3º das Leis ns. 10.637/2002 e 10.833/2003, de forma a garantir que os
preços contratados pela Administração Pública reflitam os benefícios tributários concedidos pela
legislação tributária;’
61. Por outro lado, o entendimento sobre a aplicação obrigatória do regime cumulativo do
PIS e COFINS para serviços de engenharia – quando fazem parte de um mesmo contrato que envolva
obras de construção civil – é posterior à obra. Sendo assim, como não constam do processo as notas
fiscais dos serviços prestados à Petrobras, não se sabe qual era o entendimento da RFB à época dos
fatos, tampouco qual a orientação da Estatal para o fornecedor.
62. Sendo assim, caberia à empresa justificar a inclusão dos percentuais máximos de PIS e
COFINS ao preço ofertado, com base no regime não cumulativo, assim como não ter considerado os
créditos a serem recebidos com a aquisição de bens e serviços de terceiros.
63. Caso a empresa tenha recolhido, ainda que por erro, os valores correspondentes ao PIS e
COFINS pelo regime não cumulativo, não seria necessária a modificação no BDI para que considere
as alíquotas do regime cumulativo, pois nesse caso os valores de qualquer maneira teriam ingressado
aos cofres públicos.
64. O mesmo não se pode dizer dos créditos dessas contribuições não incluídos na DFP, já
que a empresa certamente se beneficiaria de todos os créditos das notas fiscais de compra dos
insumos e serviços adquiridos para a execução da obra.
11
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 024.183/2015-6
65. Pelo fato de não haver informação sobre a forma com que a empresa custeou alimentação,
despesas com SMS, transporte de pessoal e aluguel de equipamentos – pois podem haver sido
utilizados recursos da própria empresa –, tais itens foram desconsiderados. Contudo, é certo que
todos os serviços de subempreitada contratados geram créditos e, portanto, nessa análise foram
considerados para o recálculo do BDI. Assim, estipulou-se como crédito mínimo o percentual de
12,19%, que resulta do valor total do orçamento com subempreiteiros dividido pelo custo total dos
serviços de montagem eletromecânica (R$ 502.490,21 / 4.121.839,80, p. 8 e 9 da peça 211), que
deverá ser deduzido das alíquotas de PIS e COFINS (o cálculo consta na coluna “montagem
eletromecânica”, arquivo 3, peça 210).
66. Por outro lado, caso a construtora tenha calculado seu preço com base nas alíquotas
cheias de PIS e COFINS do regime não cumulativo e tenha recolhido as contribuições pelo regime
cumulativo, a diferença deveria ser incorporada ao cálculo do BDI. Na presente análise,
considerando a boa-fé da empresa, será considerado o cálculo do parágrafo anterior, que constitui um
BDI de 31,33%. De todo o modo, caso fosse arbitrado o BDI máximo calculado para o serviço de
construção civil (24,73%) para a montagem eletromecânica, o impacto seria de somente 0,35% sobre
o valor do contrato.
67. Para os aditivos da montagem eletromecânica, foi mantido o BDI da proposta, tendo em
vista que estavam próximo ao valor da construção civil (um aditivo foi de 24,01% e o outro de
24,18%).
II.4. Reanálise dos itens de Fornecimento
II.4.1. Fornecimento de materiais de aplicação
68. Verificando o método de cálculo do sobrepreço para esses itens, que embasou as
instruções anteriores (peça 155 – TC 010.546/2009-4 e peça 178 do presente processo), observa-se
que tais orçamentos são constituídos unicamente por verba. Logo, não há informação de quantitativos
e preços unitários. Ainda assim, diante da ausência de dados, a equipe técnica imputou o sobrepreço
unicamente com base na diferença entre o BDI contratual e o BDI de referência.
69. O método de cálculo acima possui ao menos duas fragilidades importantes:
a) não se pode afirmar a existência de sobrepreço sem que se
conheçam os quantitativos e preços unitários, pois o BDI é apenas um componente
(taxa de markup) para a determinação do preço de venda de obras públicas. Ainda que
se considere o BDI do contrato fora dos padrões de mercado, é perfeitamente legítimo
que a empresa tenha maiores custos indiretos, ou mesmo lucros, quando o total dos
custos diretos (quantitativos x preços unitários) sejam menores, desde que o preço final
da obra for igual ou abaixo do preço referencial. Isso pode ocorrer tanto em razão do
uso mais eficiente de quantitativos, como por outras variáveis que lhe permitam
praticar preços unitários menores do que a referência da administração pública.
b) com base na análise individual do BDI, considerou-se que todo o
valor referente aos fornecimentos de bens estivesse contemplado na amostra de
auditoria. Ora, sabe-se que não houve qualquer análise de preços ou quantitativos,
inflando assim, o tamanho da amostra. No caso concreto, por exemplo, a amostra
passou de 29% para cerca de 56% sem que quaisquer elementos relativos a
quantidades ou preços tenham sido analisados.
70. Complementando o item ‘a’, vale ressaltar que o Decreto 7.983/2013, art. 2º, inciso VI,
considera que o preço global de referência correspondente ao valor do custo global de referência
acrescido do percentual correspondente ao BDI. Trata-se de método tradicionalmente adotado para a
determinação de preços de venda de obras públicas e privadas, que compreende basicamente duas
grandes parcelas: (i) custos diretos; e (ii) BDI, em que o Preço de venda é igual aos Custos Diretos
multiplicado pelo BDI. A expressão matemática que ilustra o método adotado para o cálculo do preço
de venda de uma obra pode ser apresentada da seguinte forma:
12
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 024.183/2015-6
PV =CD (1+% BDI )PV =CD (1+% BDI )A análise, portanto, deve ser realizada
considerando o preço total da obra, composto por custos diretos mais taxa de BDI. Essa
análise deve ser feita por meio do confronto entre preço orçado/contratado e preço de
mercado, conforme ilustrado a seguir:
a) Preço orçado/contratado <= Preço de mercado; ou
b) Custo orçado/contratado + BDI orçado/contratado <= Custo paradigma + BDI
paradigma
71. Nesse sentido, o exame isolado de apenas um dos componentes do preço (custo direto ou
BDI) não é suficiente para imputação de sobrepreço. A análise de preços deve se dar sempre mediante
a comparação de preço contratado/orçado com o preço de mercado (ou paradigma), visto que uma
taxa de BDI elevada pode ser compensada por custos diretos inferiores aos do orçamento paradigma,
desde que o preço total contratado esteja abaixo do preço de mercado.
72. Por essa razão, as taxas referenciais não podem limitar o BDI das propostas de preços das
empresas licitantes, já que os valores do BDI podem oscilar de empresa para empresa, de acordo com
as suas características particulares, tais como: remuneração desejável, situação econômico-
financeira, localização e porte da empresa, estrutura administrativa, número de obras em execução,
nível de competitividade do mercado etc.
73. Nesse sentido, a jurisprudência desta Corte entende que, durante a fase de licitação, a
desclassificação de proposta de licitante que contenha taxa de BDI acima de limites considerados
adequados por Tribunal só deve ocorrer quando o preço global ofertado também se revelar excessivo,
dado que a majoração do BDI pode ser compensada por custos inferiores aos paradigmas (Acórdão
1.804/2012-TCU-Plenário).
74. Do mesmo modo, a análise dos orçamentos de obras em execução também deve sempre ser
realizada por meio da comparação dos preços contratados em relação aos preços adotados como
paradigma de mercado. A jurisprudência do TCU é pacífica nesse sentido, podendo-se citar os
Acórdãos 424/2003, 1.658/2003, 285/2007, 1.551/2008, 1.053/2009, 1.913/2011, 1.923/2011 e
3.061/2011, todos do Plenário.
75. Por fim, não havendo possibilidade de se analisar preço de venda de bens sem dados
quantitativos e preços unitários, não faz sentido que os serviços de fornecimento de materiais e de
equipamentos tagueados sejam computados como amostra analisada. Além de não ter sido realizada a
devida análise de preços, a imputação de sobrepreço unicamente com base no BDI não se coaduna
com a atual técnica aceita pela jurisprudência deste Tribunal. Por consequência, o fornecimento de
materiais de aplicação foi excluído da amostra.
II.4.2. Fornecimento de equipamentos tagueados
76. No caso dos equipamentos tagueados, a imputação de sobrepreço advém do mesmo
método refutado no tópico anterior. A diferença é que o orçamento dos itens de fornecimento de
materiais de aplicação foi apresentado por meio de verbas, enquanto, no caso dos equipamentos
tagueados, existe detalhamento de quantitativos e preços. O problema nesse caso está na
indisponibilidade de preços de referência.
77. Foi diante dessa dificuldade, e dos indícios de fraude nos contratos da Repar, que o Exmo.
Relator determinou o uso de notas fiscais de fornecedores da Azevedo & Travassos Engenharia. Logo,
os custos de tais equipamentos poderiam ser confirmados pelas notas fiscais de aquisição da empresa.
78. Contudo, conforme trecho da instrução da Unidade Técnica (peça 178) a seguir, há
dificuldades técnicas que inviabilizam a análise das notas fiscais eletrônicas (NFe) recebidas:
‘Diferentemente dos contratos da Repar CT-101 (Consórcio Conpar), CT-111 (Consórcio
Interpar) e CT-149 (Consórcio VWSB/ENFIL), também objetos de TCE autuadas a partir dos
desdobramentos do TC 010.546/2009-4, o DFP da contratada aqui possui quantidade pouco
expressiva em relação aos equipamentos “tagueados”, representando cerca de 10,22 % do valor total
do contrato (Quadro 1, abaixo). Além disso, como mencionado, a característica desses equipamentos
dificulta bastante a análise dos seus preços por meio da comparação com as Notas Fiscais Eletrônicas
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 024.183/2015-6
compartilhadas com a RFB. Esses dois fatores associados, baixa representatividade e alta
complexidade operacional tornam pouco apropriada e oportuna a realização desse procedimento de
fiscalização.
Relevante destacar que o contrato em questão não possui aditivos de valores vultosos, ao
contrário dos aditivos presentes nos contratos da Repar mencionados no parágrafo anterior (CTs 101,
111 e 149). O contrato CT-107 contou com uma TEJ (Transação Extra-Judicial) no valor de
R$ 1.881.132,28 e 26 aditivos (peça 175). Nove dos aditivos envolveram valor (seis de acréscimo e
três de decréscimo) totalizando, junto com a TEJ, acréscimo de R$ 3.218.873,80, equivalente a 7,02%
do valor final do contrato. Quatorze dos aditivos acrescentaram, no total, 179 dias ao prazo da obra
que inicialmente era de 600 dias.
Importante registrar, também, que não há indícios de irregularidades no processo
licitatório. O certame (TC 021.480/2009-9, peça 5, fls. 3 - 8) foi realizado por meio do Convite
029267068 encaminhado a trinta e duas empresas. Oito dessas empresas apresentaram propostas em
27/3/2007, sendo que 62,5% delas situaram-se abaixo do preço mínimo admissível em relação à
estimativa de custo original da Petrobras de R$ 54.281.129,89. Feito reposicionamento desta
estimativa de custo pela comissão de licitação para R$ 48.375.613,84, restou consagrada a proposta
da empresa Azevedo&Travassos em primeiro lugar com o valor de R$ 42.615.539,37.’
79. Oportuno registrar que, para o caso de processos licitatórios válidos e sem indícios de
fraude, entende-se que a utilização de NFe como critério para cálculo de sobrepreço deve ser vista
com ressalvas. Primeiramente, porque diante da presunção de boa-fé do contratado, presume-se que a
administração arrematou o objeto pelo menor preço possível na ocasião. É verdade que tal fato por si
só não exclui a necessidade de que os preços se situem no patamar dos referenciais oficiais utilizados
pela administração, mas tal análise exige a comparação dos preços totais oferecidos com os de
mercado.
80. Ocorre que, caso as notas fiscais sejam utilizadas como parâmetro de sobrepreço, estar-
se-ia tolhendo o direto legítimo do contratado em buscar maiores lucros por meio de sua própria
eficiência na negociação junto a seus fornecedores. Assim, salvo disparidades desarrazoadas de
margens de lucro, a análise deve levar em conta a compatibilidade do preço ofertado com os
referenciais de mercado, não com o custo de aquisição dos bens e serviços vendidos.
81. No mesmo sentido são as considerações pontuadas no relatório do Acórdão 2.622/2013-
TCU-Plenário:
‘179. (...) seja qual for o procedimento de cálculo adotado, deve-se lembrar que o lucro
declarado no BDI é apenas uma meta, que, se alcançada, torna possível a justa remuneração da
empresa em decorrência da obra. Ainda, como na maioria das vezes, sendo empresa de mercado,
detentora de informações e competências, utilizará de sua vantagem de forma a otimizar os custos
para maximizar seu lucro por meio da diferença entre a receita e o custo de produção. Isto é lícito e
aceitável.
180. A Constituição Federal, no seu art. 173, § 4º, condena o abuso do poder econômico,
exteriorizado pela ‘dominação dos mercados’, pela ‘eliminação da concorrência’ e pelo ‘aumento
arbitrário dos lucros’. Observa-se que não há condenação à prática de lucros ou qualquer definição
que considere o que seja lucro abusivo ou aceitável; o que se condena é o aumento arbitrário, que
caracterize abuso de poder econômico.
181. Também, a Lei 8.666/1993, no seu art. 43, inciso IV, ao estabelecer o critério de
julgamento dos preços praticados na licitação, tem como parâmetro os preços correntes no mercado.
Por conseguinte, sendo o preço proposto pelo licitante, incluindo o BDI, compatível com o preço de
mercado, não há que se falar em lucro excessivo.’
82. De qualquer modo, embora não haja indícios de fraude, o uso de NFe pode ser de grande
valia quando da existência de outras irregularidades, como orçamento deficiente e sem detalhamento
de quantitativos e preços unitários. A informação de custo contida nas NFe, nesse caso, pode ser
usada para subsidiar diligências ou buscar outros elementos que indiquem o preço praticado no
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 024.183/2015-6
mercado. Por outro lado, não parece apropriado utilizar o custo de produtos contidos nas NFe como
custo paradigma para cálculo direto de sobrepreço. Reforça-se que tal entendimento refere-se a casos
quando há licitação regular, sem indícios de fraude, e, consequentemente, vale a presunção da boa-fé.
83. Diferentemente é o caso de contratos que apresentam graves indícios de fraude. Nesse
caso, diante da ausência de boa-fé, entende-se que as NFe podem ser utilizadas como referencial de
preço, quando não haja índice oficial correspondente ou outros meios que permitam auferir o preço de
mercado. Nesse caso, diante de dolo ou culpa grave que resultou no dano ao erário, cabe ao
responsável o ônus de trazer suas justificativas que expliquem a diferença de preço dos bens e serviços
orçados e das respectivas notas fiscais de compra. Tal entendimento, inclusive, já vem sendo aplicado
por esse Tribunal.
84. Para o caso concreto, conforme visto em instrução anterior, a situação é que o montante
orçado para o fornecimento de equipamentos tagueados, em relação ao total do contrato, é pouco
representativo (10,22%). De qualquer modo, com vistas a aprimorar as ferramentas técnicas de
análise desta UT, carregou-se a base de dados de NFe dos fornecedores da Azevedo & Travassos
recebida no software Qlikview.
85. São várias as dificuldades encontradas ao se analisar o preço dos bens fornecidos mais de
dez anos após a ocorrência dos fatos:
a) os produtos referem-se, em sua maioria, a componentes e
equipamentos elétricos e eletrônicos, tais como: como painéis, transformadores, dutos,
quadros de distribuição transformadores, conversores de frequência, etc. As descrições
são genéricas, impossibilitando a identificação individual de cada um;
b) na proposta não há especificação de quaisquer custos de entrega,
estando somente incluído o valor do PIS e do COFINS ao valor total dos itens. Ou
seja, o BDI do serviço de fornecimento que consta na DFP é o próprio valor dessas
contribuições. Esclarece-se que, a depender da legislação do ICMS de cada Estado, no
fornecimento de mercadorias (equipamentos, máquinas, etc.) em que o remente assume
contratualmente a obrigação de entregá-la montada para uso, não se tributa o serviço
de montagem e instalação propriamente dito, mas sim a operação praticada de
fornecimento de mercadoria. Ademais, não se sabe como a Petrobras procedeu no caso
dos créditos de IPI e ICMS, se a empresa deveria excluí-los da base de cálculo em
razão da isenção da empresa ou se haveria sua apropriação;
c)pelo fato de as NFes serem emitidas contra a empresa e não a
determinado consórcio constituído para uma finalidade específica, não é possível
saber se tais mercadorias foram destinadas para o contrato em questão somente de
posse das notas fiscais;
d) existem vários campos da NFe que podem conter informação
sobre a Tag, contrato ou destinatário final do produto (Petrobras). Contudo, tais
anotações remetem à própria organização da empresa em lidar com suas compras,
exigindo ou orientando seus fornecedores a especificar tais informações nos
documentos fiscais, para o controle de seus processos.
86. Ainda assim, procedeu-se com a elaboração de um script no software Qlikview para
agregar as consultas de diversos campos das NFe, onde poderiam existir as informações de Tag,
contrato ou cliente final (Petrobras). Havendo ordenado os equipamentos pela curva ABC, procedeu-
se com as consultas a fim de encontrar as informações necessárias contendo o número da Tag e do
contrato.
87. Ao final de uma bateria teste de consultas, não foram obtidos resultados úteis que
permitissem a continuidade do trabalho. Logo, o serviço de fornecimento de equipamentos tagueados
foi excluído da amostra.
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Montagem
Eletromecânica 4.778.385 3.971.928,5 806.457
Mão de Obra 3.647.976 2.697.864 950.112
Outros* 1.130.409 1.274.065 -143.656
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sobrepreço de 21%, enquanto nos demais itens, um subpreço de 17%, em relação às respectivas
amostras, conforme se pode observar abaixo.
Tabela 6 – Composição do sobrepreço por serviço (em R$)
Amostra DFP c/ Ref. Total c/ Sobrepreço total Sobrepreço
BDI BDI c/ BDI %
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 024.183/2015-6
aumentam o número de horas-extras para a sua completa eficiência; assim como a realização de
outras atividades extras para o cumprimento das normas internas exigidas pela Petrobras.
III.2. Análise das considerações preliminares
117. Não há dúvidas de que a obra em questão, assim como a maioria das obras de
modernização da Repar, possui complexidade diferenciada em relação a obras ordinárias de
construção civil, exigindo a contratação de pessoal mais capacitado e, consequentemente, mais
valorizados pelo mercado. Tais funções especializadas estão ou deveriam estar destacadas no DFP.
118. Contudo, é certo que boa parte dos serviços e funções são ordinários, típicos de obras de
construção civil, tanto é que o próprio DFP da contratada divide-se em um módulo nomeado
“construção civil” e outro intitulado “montagem eletromecânica”.
119. Portanto, há de se reconhecer que é válido o argumento de que o Sinapi não é adequado
para balizar preços de mão de obra cujo trabalho a ser desenvolvido esteja em nível de complexidade
acima do que o referencial se propõe, no caso, funções que não sejam típicas de construção civil.
120. Os últimos trabalhos da Unidade Técnica já têm adequado tais referenciais, utilizando o
Caged para balizar a mão de obra mais qualificada. Isso é possível pois se trata de uma base mais
abrangente, que pode ser tratada e filtrada para refletir a realidade de obras do setor de óleo e gás ou
de construção pesada, conforme o caso. Tal metodologia tem embasado trabalhos recentes, como por
exemplo o Acórdão 2.677/2018-TCU-Plenário, onde se pode obter maiores detalhes.
121. Desse modo, excluíram-se categorias que exigem habilidade de gestão (no caso, somente
coordenação) e reajustou-se a planilha do cálculo do sobrepreço para os itens da mão de obra,
selecionando-se o maior entre os valores referenciais do Sinapi e o Caged. Como resultado, somente
dois cargos foram selecionados para o referencial Sinapi.
122. Quanto à questão das normas e especificidades do setor do petróleo que agregam custos
ao orçamento, lembra-se que eventuais custos adicionais de novas certificações, treinamentos e itens
de segurança para funcionários devem estar detalhados no orçamento. Portanto, não cabe o
argumento de que outros custos estariam embutidos no preço salarial de cada cargo.
123. Importante mencionar que com a nova metodologia empregada à base do Caged, os
registros são filtrados para o setor de construção pesada e óleo e gás, sendo assim selecionada a
média de todos os salários registrados no período (entre admitidos e demitidos). Portanto, para
profissionais que não necessitam de novos treinamentos, o grau de capacitação ou qualificação já está
embutido no preço do referencial.
124. Quanto a necessidade de se considerar os custos referentes à integração, qualificação e
redução de jornadas nos referenciais utilizados, a alegação não procede. Todos esses custos impactam
em quantitativos de mão de obra ou devem constar de rubricas especificas no DFP, não podendo ser
custeados pelo preço da mão de obra. Um entendimento no sentido contrário implicaria que quaisquer
custos sobre a improdutividade da mão de obra fossem alocados no preço, distorcendo o propósito de
qualquer orçamento.
III.3. Críticas ao método de análise e ao uso do DFP
125. A empresa alega que o Demonstrativo de Formação de Preço (DFP) serve apenas como
parâmetro de exequibilidade das propostas apresentadas, jamais para verificar a melhor proposta.
126. Afirma que a utilização dessa metodologia a contratos celebrados sob o regime de
empreitada por preço global, cuja medição é realizada conforme o avanço físico da obra e o
pagamento conforme planilha de preços, a definição de quantitativos de serviços unitários e
respectivos preços desvirtua o seu conteúdo e a sua natureza jurídica.
127. Para fundamentar sua tese, traz manifestação da Comissão Mista de Orçamento do
Congresso Nacional, no relatório que analisou e refutou a proposta de paralisação das obras da
Repar em 2010. Aponta ainda que este Tribunal afastou a utilização do DFP para efeito de cálculo de
sobrepreço/superfaturamento nos TC 029.544/2009-4, 029.545/2009-1, 029.546/2009-9,
029.548/2009-3, adotando as estimativas de custos da Petrobras.
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 024.183/2015-6
128. Por outro lado, alega que os referenciais de mercado utilizados para a comparação do
DFP (Sinapi, CADTERC, Acordos Coletivos, etc.) não se aplicam às especificidades da obra em
apreço. Em resumo, afirma que os levantamentos divulgados por pelo Sinapi correspondem a obras
corriqueiras, ordinárias, enquanto as obras da Repar exigem uma expertise não contemplada
naqueles valores.
129. Aduz que a auditoria, na comparação de preços entre os valores praticados no contrato e
os decorrentes dos parâmetros adotados, não usou critérios uniformes, utilizando mais de uma
referência Sinapi, ABEMI, CADTERC e/ou Caged. Infere que, com isso, a metodologia queda
comprometida, já que, como os valores entre as tabelas também são variáveis, propiciam
comparações em alguns casos mais vantajosas e em outros menos vantajosas.
130. Além disso, alega que, no caso concreto, a licitação ocorreu na modalidade melhor preço
em regime de execução por preço global, na qual há a adjudicação do objeto para o licitante que
apresenta a melhor proposta global para execução do escopo. Sendo assim, não se trata de menor
preço, mas aquele que se comprovar mais vantajoso, considerando sua exequibilidade e conformidade
com os demais requisitos previstos em edital, conforme interpreta o item 6.19 do Decreto 2.745/98.
131. Assim, conclui que, como o critério de julgamento corresponde ao melhor valor global
final, não convém analisar o valor ofertado para cada item que compõe o objeto; sendo o importante
que a proposta vencedora seja compatível com a estimativa global de custos e, ao mesmo tempo,
exequível.
132. Em seguida, observa que em relação aos custos com material, alimentação, transporte,
insumos e alguns equipamentos, há diferença de preço em favor da contratante em alguns itens da
tabela que norteou a instrução (peça 174), sendo o que encarece a obra é o preço da mão de obra,
tema sobre o qual retoma o já argumentado anteriormente.
III.4. Análise das críticas ao método de análise e ao uso do DFP
133. De plano, quanto ao DFP, registre-se que a empresa deveria utilizá-lo para apresentar a
composição dos preços contratuais. Para isso, poderia incluir itens os quais não seriam padronizados
pela Petrobras e especificá-los adequadamente. Nesse sentido, caso o DFP não reflita o custo global
da obra por falta de detalhamento adequado e suficiente, o fato deve ser atribuído à própria
contratada.
134. Tampouco se verifica a inadequação em se auditar o DFP de contratos celebrados sob o
regime de empreitada por preço global. Embora o pagamento seja realizado por medição, o montante
executado deve estar de acordo com o preço total dos quantitativos e preços de serviços contidos no
orçamento.
135. Ademais, causa espécie a intenção de se afastar um documento intitulado “Demonstrativo
de Formação de Preços” de sua capacidade documental de avaliar justamente a formação dos preços
contratados. Não sendo o DFP um documento válido, estar-se-ia diante de uma situação inusitada em
que a proposta vencedora seria homologada pelo licitante sem a apresentação de qualquer
orçamento.
136. Ainda que considerando o raciocínio trazido pela empresa, não há como se separar o
“parâmetro de exequibilidade” da razoabilidade dos próprios preços ofertados. Não é à toa que,
conforme o art. 48, inciso II, da Lei 8.666/1993, os critérios atinentes a uma proposta inexequível
estão pautados justamente no comportamento dos preços unitários ou pelo valor global limite da
oferta. Em linha com esse entendimento, pode-se citar o Acórdão 1.426/2010-TCU-Plenário.
137. Cabe registrar que o entendimento citado da Comissão Mista de Orçamento do Congresso
Nacional quanto à inaplicabilidade do DFP não vincula, em grau algum, a forma de atuação das
unidades especializadas do TCU, que conta com autonomia técnica e regramento legal de atuação
com sede na Constituição Federal e na Lei 8.443/1992.
138. Encerrando esse ponto, cumpre esclarecer que todos os processos do TCU citados pela
defendente (TC 029.544/2009-4, 029.545/2009-1, 029.546/2009-9, 029.548/2009-3) – no ensejo de
comprovar que o próprio tribunal descarta o uso do DFP – consistem em posicionamentos
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 024.183/2015-6
ultrapassados pela jurisprudência mais recente desta Corte. A esse respeito, basta consultar os arestos
mais recentes dos processos de TCE adstritos à Petrobras, a exemplo do Acórdão 2.109/2016-TCU-
Plenário e do Acórdão 2.677/2018-TCU-Plenário.
139. Com relação à suposta inadequação dos referenciais de mão de obra utilizados, cabe
ressaltar que foram empregados três: a CCT da obra, o Caged e o Sinapi.
140. Com relação à CCT, embora o responsável não tenha trazido nenhum elemento para
suportar seu ponto de vista, cabe informar que os referenciais de preço oficiais – como o Sinapi e o
Sicro – se baseiam nesses acordos e convenções coletivas, conforme respectivos manuais. Ademais, a
CCT trata exatamente da pactuação feita entre empregadores e empregados para a obra em questão,
não havendo referenciais mais precisos para representar o preço da mão de obra efetivamente
acertado entre as partes, ainda que possa ser tolerada alguma variação, tendo em vista as diferenças
em relação à CCT anterior, na qual o orçamento foi embasado.
141. Quanto ao Sinapi, já se comentou que de fato o referencial deve ser aplicado somente a
funções típicas de construção civil e, por essa razão, foi substituído pelo Caged. Para as funções com
correspondência em ambos os referenciais, por conservadorismo manteve-se o maior.
142. Já em relação ao Cadterc, não há razão para que tais referenciais sejam distintos na obra
em apreço. Primeiro, porque não há evidências de que a tipologia de uma obra influencie no valor
energético da alimentação fornecida aos trabalhadores. Segundo, porque a magnitude das obras da
Repar deveria, pelas regras usuais do mercado, atrair ganhos de escala quando das tratativas juntos
aos fornecedores, o que tenderia a reduzir o custo unitário ofertado pelos interessados.
143. Em relação à impropriedade sobre o uso de diversos referenciais para o cálculo de
sobrepreço, não se encontra lógica no argumento. Primeiramente, porque os referenciais são
utilizados com critérios objetivos, por exemplo, a mão de obra direta que possui correspondência com
a CCT, será sopesada com esse referencial, por ser o critério mais preciso, pactuado especificamente
para a obra. Com relação ao Sinapi e Caged, utiliza-se o maior valor disponível, em benefício do
auditado.
144. Ademais, os referenciais possuem técnica metodológica distinta, que devem ser utilizados
de modo a melhor espelhar a situação dos preços de mercado atinentes ao objeto auditado. Tendo em
vista que não existe referencial que possa cobrir uma obra complexa por completo, o TCU deve se
utilizar daqueles mais apropriados para cumprir o seu trabalho, conforme entendimento no Voto do
relator que embasou o Acórdão 168/2011-TCU-Plenário:
‘Com efeito, diante da inexistência de referenciais nos sistemas federais tais como Sinapi e
o Sicro, não deve o Tribunal quedar-se manietado, eximindo-se de apreciar a compatibilidade dos
preços de obras públicas com os preços de mercado. Deve, portanto, utilizar-se de outros referenciais
confiáveis disponíveis, desde que adequados à avaliação da obra sob fiscalização, em razão das
especificidades a ela inerentes, sempre orientado pela busca da verdade material e zelando pela boa e
regular aplicação dos recursos públicos.’
145. Por último, o fato de a modalidade de licitação ter sido do tipo melhor preço, conforme o
item 6.19 do Decreto 2.745/98, não prejudica de nenhuma maneira a análise empreendida pela equipe
técnica. Ainda que o critério de julgamento seja o de menor preço total ou preço global, e leve em
consideração outros aspectos técnicos da proponente, os preços unitários devem ser aderentes ao
mercado, os quais são, em regra, aferidos por meio de referenciais da Administração (cabendo
comprovação contrária).
146. Ainda assim, a quantificação de contratos sobrepreço ou superfaturamento de contratos já
executados ou em execução é apurada de forma global. Considera-se a compensação de itens com
preços acima e abaixo do referencial, a exemplo dos Acórdãos 2.482/2008, 2.540/2008, 1.887/2010 e
2.279/2011, todos do Plenário.
147. Portanto, ao contrário do que alegado pela empresa, a Unidade Técnica fez a devida
compensação entre itens com e sem sobrepreço. Em outras palavras, foi utilizada a metodologia da
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limitação do preço global, dentro da amostra analisada. Basta, para tanto, que se cite os vários itens
contendo subpreço que a própria empresa mencionou em sua manifestação.
III.5. Contexto Econômico
148. Em síntese, a empresa alega que o cenário econômico estava extremamente aquecido para
o mercado de obras pesadas, estando a demanda muito acima da capacidade produtiva do setor.
Sendo assim, além da alta especialização necessária para a obra, os preços estavam em alta e não
havia disponibilidade de equipamentos e mão de obra.
149. Para ilustrar o cenário, apresenta matérias publicadas no referido ano, em três dos
principais portais brasileiros de notícias que retratam a alta demanda e os gargalos existentes na
oferta de mão de obra, suprimentos e equipamentos.
150. Sendo assim, conclui que há inúmeros fatores objetivos que ensejam uma variação de
preços entre contratos, mesmo em relação a um mesmo empreendimento. Arremata que fatores
extrínsecos, de ordem econômica, geológica, mercadológica ou decorrentes da diluição do custo de
fornecimento/serviços não contemplados em itens específicos da planilha, contribuem para a variação
apontada pelo relatório de fiscalização, e não significam sobrepreço, eis que objetivamente
justificáveis.
III.6. Análise do contexto econômico
151. Com relação ao cenário de aquecimento de mercado, é mister frisar que o contrato
CT 107 possui cláusulas para reajuste contratual, inclusive com índice de variação de custos da mão
de obra especializada (TC 021.480/2009-9, peça 8, p. 26) – na proporção relativa a este insumo frente
ao valor global do contrato.
152. O aumento de preços da mão de obra resultante da pressão de demanda certamente é
refletido no índice de reajuste escolhido. De não ser assim, a álea extraordinária deve ser comprovada
com base no valor global do empreendimento, levando-se em consideração todos os insumos da obra.
153. No caso concreto, houvesse um descolamento do índice de preço escolhido com o preço da
mão de obra empregada, a empresa poderia pleitear o reequilíbrio econômico-financeiro ao gestor do
contrato. Importante frisar que a demonstração de tal desequilíbrio, no caso o impacto do
aquecimento de mercado da mão de obra, deveria ser evidenciado sobre o valor contratual, incluindo
a variação de preço de todos os demais insumos relevantes do contrato (Acórdão 1.604/2015-TCU-
Plenário).
154. Tampouco se pode acatar que fatores extrínsecos possam contribuir para a diferença entre
o valor de sua oferta e os referencias de preço utilizados. Todos os serviços devem ser precificados no
orçamento em rubrica apropriada, inclusive as incertezas, havendo espaço para tais contingências no
BDI aplicável.
155. Os referenciais justamente objetivam capturar uma faixa média ou mediana de preços do
mercado e a amostra da auditoria deve buscar ser o mais representativa possível, de modo que possa
refletir tais preços. Quando um débito é imputado a partir de verificação amostral, constitui ônus do
responsável, caso assim o queira, demonstrar que eventualmente há subpreço em outros itens não
avaliados.
156. Em regra, nas análises de sobrepreço e superfaturamento, o TCU adota a
representatividade amostral com base na metodologia da Curva ABC, na qual se analisa a
economicidade de cerca de 80% dos valores contratados. Contudo, como se observou na decisão
proferida pelo Acórdão 2.419/2015-TCU-Plenário, tal exigência pode ser mitigada pela existência de
indícios de irregularidades na licitação ou no contrato firmado.
157. De fato, tal entendimento é o que melhor se compatibiliza com o interesse público, visto
que, do contrário, estar-se-ia assumindo que determinados contratos públicos não estariam ao
alcance do controle externo exercido por esta Corte de Contas. Nesses casos, cabe ao jurisdicionado
comprovar que, dentre a amostra não analisada, estão concentrados preços abaixo dos referenciais,
de modo a elidir o sobrepreço ora apontado.
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em conta a compatibilidade do preço ofertado com os referenciais de mercado, não com o custo de
aquisição dos bens e serviços vendidos.
168. Por outro lado, consignou-se que, mesmo diante da ausência de indícios de fraude, o uso
de NFe pode ser de grande valia quando da existência de outras irregularidades, como orçamento
deficiente e sem detalhamento de quantitativos e preços unitários. A informação de custo contida nas
NFe, nesse caso, pode ser usada para subsidiar diligências ou buscar outros elementos que indiquem
o preço praticado no mercado. Reforça-se que tal consideração vale apenas para casos quando haja
licitação válida, sem indícios de fraude, e consequentemente, com presunção da boa-fé. Diante de
fraudes e irregularidades graves, não se verifica óbice no uso dos documentos fiscais como
parâmetros de preços, tendo em vista que nesses casos há intenção ou culpa grave no dano ao erário.
169. Na sequência foi analisada a manifestação apresentada pela empresa. Embora a Azevedo
& Travassos Engenharia Ltda., ao opor os seus embargos em face do referido Acórdão 2.747/2016-
Plenário, tenha se colocado à disposição do TCU para apresentar todas as notas fiscais e os demais
documentos inerentes ao CT 107, os argumentos trazidos foram superficiais e pouco contribuíram
para a análise do sobrepreço ora imputado.
170. Com exceção do ajuste dos referenciais de mão de obra, todos os demais argumentos ou
foram genéricos ou se restringiram a desqualificar o método de análise empregado por esta Corte de
Contas, sem trazer elementos concretos que pudessem comprovar os gastos ou os custos incorridos na
obra.
171. Portanto, não foram apresentados os esclarecimentos solicitados pelo Exmo. Min. Relator,
como a apresentação de memorial de cálculo e documentação subjacente comprobatória sobre o
sobrepreço ora apontado pelo valor de R$ 1.551.584.
172. Diante da análise empreendida na presente instrução, o cálculo de sobrepreço foi
atualizado segundo os mais atuais procedimentos da Unidade Técnica e jurisprudência dessa Corte,
tendo como resultado o valor de R$ 1.197.209, que representa 9,13% da amostra e 2,61% do valor
contratual, considerando todos os aditivos.
173. Da amostra analisada, 70% se refere à mão de obra e 30% a outros serviços, como
alimentação, transporte e equipamentos de montagem. Verificou-se que o sobrepreço se concentrou
nos itens de mão de obra do contrato, que foram totalmente analisados (salvo itens pontualmente
excluídos). Sabendo-se que a amostra analisada representa 28,61% do contrato, restam ainda 71,39%
de itens não analisados da proposta de preços, que não se referem à mão de obra, remanescendo
grande incerteza sobre a subsistência do débito. Ainda mais quando se observa que os demais itens
restantes não se referem à mão de obra e que os outros itens analisados apontaram subpreço de 17%.
174. Desse modo, conclui-se que a amostra é pouco representativa, tanto em termos de
tamanho como de sua composição. Além disso, tratando-se de uma obra não convencional, ainda
existe a possibilidade de acomodação de alguns critérios, principalmente no que se refere à
correspondência dos cargos do DFP com o Caged. Logo, o sobrepreço preliminar calculado de 2,61%
em relação ao contrato, com uma amostra de 28,61%, pode ser assentado em patamar ainda menor,
antes mesmo de futura discussão de mérito.
175. Importante ressaltar que o plenário desta Casa já decidiu pela imputação de débito mesmo
em casos de baixa representatividade amostral, por meio do paradigmático Acórdão 2.419/2015-TCU-
Plenário, de Relatoria do Exmo. Min. Benjamin Zymler. Contudo, naquela circunstância, estava-se
diante de contratações por dispensa de licitação e indícios de fraude, além de outras irregularidades
como projeto básico deficiente.
176. No caso concreto, a suspeita inicial de fraude e superfaturamento do contrato se deu em
virtude de irregularidades encontradas, de forma geral, nas obras da Repar, sobretudo após a
confirmação de tais indícios pela OLJ. Contudo, mesmo após a divulgação da extensa lista de
empresas cartelizadas que atuavam no âmbito das obras da Petrobras e da revelação das pessoas e
fatos por meio de acordos de leniência, delações premiadas e notícias da imprensa, não foram
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referência para a mão de obra. Tal metodologia surgiu no final de 2018 como resultado
da análise de alegações de defesa apresentada por responsáveis arrolados numa TCE
relativa à Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e foi corroborada no
Acórdão 2.677/2018-TCU-Plenário (Ministro Benjamin Zymler).
4. Além disso, a alteração da análise, no que diz respeito à taxa de BDI incidente
sobre os itens para os quais não havia custos de referência, foi adequadamente
fundamentada e se alinhou ao entendimento do TCU de que as análises de orçamentos
devem ser feitas sobre os preços (custos somados ao BDI), e não apenas sobre uma única
parcela de sua composição, visto que eventual valor acima dos comumente praticados
em alguma das parcelas pode ser compensada na outra levando ao um preço alinhado ao
mercado.
5. Não se ignora que casos específicos podem demandar a análise isolada de uma
ou outra parcela (custo ou BDI), quando, por exemplo, o valor do BDI ou de parcelas
que o integram fundamenta valores de aditivos contratuais. No entanto, o presente
processo não apresenta situação específica que justifique a análise isolada do BDI,
sendo, então, adequado seu alinhamento ao caso geral.
6. Deve-se destacar que, embora se denominem as análises de “novas”, não
significam uma reviravolta em relação às realizadas anteriormente. Tanto é assim que
resultaram em conclusão semelhante de que a diferença encontrada entre o preço de
referência era pequena e, levantado em uma amostra não significativa, não configura
superfaturamento no contrato.
7. Um ponto que considero relevante para essa conclusão é a distribuição do
“sobrepreço” na amostra analisada (parágrafos 102 a 104). Basicamente, o eventual
sobrepreço decorreria da parcela de mão de obra, que foi totalmente analisada e que foi
a responsável pela diferença. Os demais itens analisados apresentaram subpreço.
8. Tal verificação, somada à extrema dificuldade – se não impossibilidade – de
obtenção de preços de referência para a amostra não examinada, reduz sobremaneira, do
ponto de vista de análise de risco para a alocação de recursos, a atratividade de se
buscar aprofundar ainda mais a análise desse orçamento. O enorme esforço que seria
necessário para evoluir a avaliação dos preços dos itens restantes, além da grande
possibilidade de se tornarem inúteis, considerando que é a terceira vez que a Unidade
Técnica tenta fazê-lo, contudo sem sucesso, teriam um baixo potencial de incremento de
eficiência no resguardo dos cofres públicos.
9. Não se pode ignorar que o auditor, contando com sua experiência e com o
diligente auxílio de outros colegas, buscou aumentar a amostra com o uso das notas
fiscais obtidas junto à Secretaria Especial da Receita Federal. A brevidade da descrição
que consta dos parágrafos 89 a 92 da instrução não reflete o grande esforço que foi
despendido nessa tentativa, que acabou por se tornar infrutífera pelas razões lá expostas.
Sobre isso haverá comentários adicionais mais adiante neste pronunciamento.
10. Chama a atenção, também, a postura que a empresa adotou neste processo,
principalmente porque se assemelha à de outras empresas, com a proposta de adoção do
direito consensual, para o auxílio da marcha processual.
11. Antes de mais nada, cabe ressaltar que não se trata propriamente de uma crítica
sobre a estratégia de defesa escolhida pela empresa, visto que os responsáveis têm total
liberdade para escolher a estratégia mais conveniente. Aqui, se trata, tão somente, de
apresentar uma singela reflexão, partindo-se da experiência adquirida em outros casos
similares, da possibilidade de adoção pelos responsáveis de atitudes protelatórias que
podem impactar negativamente na eficiência do TCU e na, consequente, eficácia de suas
decisões.
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12. Tal colocação tem como premissa a proposta dos responsáveis de cooperar com
este Tribunal no progresso processual. Nas diversas oportunidades em que se debruçou
sobre o tema, esta Corte de Contas, sempre imbuída pelos princípios da verdade material
e da presunção de boa-fé, decidiu em favor dos responsáveis, abrindo nova etapa de
manifestação aos agora ditos “colaboradores”.
13. Ao menos nos casos que transitaram por esta Diretoria, tais “propostas de
colaboração/cooperação” têm se mostrado, na verdade, uma nova oportunidade para se
aduzir outras razões de justificativa ou alegações de defesa, quando as anteriores,
apresentadas no momento processual adequado, não prosperam. Ou seja, vê-se nessas
propostas uma tentativa de se eternizar a etapa de defesa, dificultando-se a conclusão do
deslinde processual, ainda mais levando em consideração os sucessivos pleitos dilatórios
e a infinidade de documentos apresentados sem o adequado detalhamento, ou destoantes
do caso em exame.
14. Nesse contexto, vê-se, na verdade, que, ao invés de ajudar, as tais “propostas de
colaboração/cooperação” atrapalham a conclusão dos exames. Isso, porque geram
impactos nos prazos prescricionais e na eficácia dos processos de execução das decisões
do TCU.
15. Destaca-se que no caso deste processo, a situação não foi diferente.
16. Ao opor embargos de declaração em face do
Acórdão 2.747/2016-TCU-Plenário, que determinou à Secretaria da Receita Federal do
Brasil o encaminhamento das notas fiscais relacionadas ao contrato em exame, a
empresa Azevedo & Travassos aduziu o seguinte (peça 123, p. 8):
‘Diante das dificuldades relatadas no decorrer da instrução processual, e que
resultaram na decisão embargada, a AZEVEDO & TRAVASSOS coloca-se à disposição
de V. Exas. para apresentar no prazo de 90 (noventa) dias todas as Notas Fiscais
emitidas por fornecedores contra a empresa, emitidas pela própria empresa contra a
PETROBRÁS, e outros documentos relacionados, todos pertinentes ao âmbito do
contrato objeto destes autos. (grifos acrescidos)’
17. No Acórdão 1.083/2018-TCU-Plenário, decidiu-se abrir à empresa Azevedo &
Travassos a oportunidade de cumprir seu compromisso de contribuir com o processo, nos
termos propostos. Motivou-se tal decisão nos seguintes termos:
‘Considerando, enfim, que, ao opor os seus embargos em face do referido Acórdão
2.747/2016-Plenário, a Azevedo & Travassos colocou-se expressamente à disposição do
TCU para apresentar todas as notas fiscais e os demais documentos inerentes ao CT-107,
devendo, por essa linha, a referida empresa promover, então, o necessário
esclarecimento sobre a subsistência, ou não, do referido o indício de superfaturamento
sob o montante de R$ 1.551.584,16, com a devida apresentação de todo o memorial de
cálculo e de toda a subjacente documentação comprobatória, sob pena de ter de
promover o ressarcimento desse valor ao erário em consonância com o art. 71, II, da
CF88, o art. 8º da Lei n.º 8.443, de 1992, e a Súmula n.º 187 do TCU; (grifos
acrescidos)’
18. A decisão posterior que deliberou sobre pedido de prorrogação de prazo
(Acórdão 1.742/2018-TCU-Plenário), reforçou mais uma vez a proposta de colaboração
externada anteriormente pela empresa:
‘Considerando que a Azevedo & Travassos Engenharia Ltda. colocou-se expressamente
à disposição do TCU para apresentar todas as notas fiscais e os demais documentos
inerentes ao CT-107, devendo, por essa linha, a referida empresa promover, então, o
necessário esclarecimento sobre a subsistência, ou não, do referido indício de
superfaturamento, com a devida apresentação de todo o memorial de cálculo e de toda a
subjacente documentação comprobatória, em sintonia com os princípios administrativos
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c) pelo fato de as NFes serem emitidas contra a empresa e não a determinado consórcio
constituído para uma finalidade específica, não é possível saber se tais mercadorias
foram destinadas para o contrato em questão somente de posse das notas fiscais;
d) existem vários campos da NFe que podem conter informação sobre a Tag, contrato
ou destinatário final do produto (Petrobras). Contudo, tais anotações remetem à própria
organização da empresa em lidar com suas compras, exigindo ou orientando seus
fornecedores a especificar tais informações nos documentos fiscais, para o controle de
seus processos.’ (grifos acrescidos)
53. Levando-se em conta que, em outras tantas situações, as notas fiscais foram
usadas com sucesso para a identificação dos preços de compra dos equipamentos
tagueados e dos itens de fornecimento, como nos casos da TCE já citadas anteriormente,
merecem ser esclarecidas as principais diferenças que justificaram a dificuldade que
impediu a adoção de procedimento semelhante neste caso.
54. Nos casos das outras TCE, os contratos foram executados por consórcios de
empresas (Consórcios Conpar, Interpar, CCPR-Repar, CNCC, CII – Ipojuca
Interligações, Rnest-Conest) constituídos exclusivamente para a execução do contrato.
Conforme determina a legislação, os consórcios possuem CNPJ próprios, distintos dos
das empresas.
55. Assim, as notas fiscais relativas aos insumos adquiridos foram emitidas em
nome do consórcio, o que permitiu facilmente identificar as notas fiscais que tiveram os
consórcios como destinatários, ou seja, que correspondem às aquisições realizadas para
aquelas obras.
56. No presente caso, ao contrário, o contrato foi firmado com apenas uma
empresa, que realiza compras para atender diversos outros contratos, bem como suas
próprias necessidades. Não há nada que permita distinguir as notas fiscais relativas às
compras realizadas para a construção do Centro Integrado de Controle da Repar das
emitidas para a execução de todos os demais contratos.
57. Rememora-se que o compartilhamento de informações fiscais pela Secretaria da
Receita Federal do Brasil com o TCU é realizado com base no art. 198, § 1º, inciso II, da
Lei 5.172/1966 (Código Tributário Nacional:
‘Art. 198. Sem prejuízo do disposto na legislação criminal, é vedada a divulgação, por
parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de informação obtida em razão do
ofício sobre a situação econômica ou financeira do sujeito passivo ou de terceiros e sobre
a natureza e o estado de seus negócios ou atividades.
§ 1º Excetuam-se do disposto neste artigo, além dos casos previstos no art. 199, os
seguintes:
(...)
II – solicitações de autoridade administrativa no interesse da Administração Pública,
desde que seja comprovada a instauração regular de processo administrativo, no órgão
ou na entidade respectiva, com o objetivo de investigar o sujeito passivo a que se refere a
informação, por prática de infração administrativa.’
58. Sob a ótica deste tribunal, as apurações são sempre relacionadas a atos e/ou
contratos específicos e a sujeitos passíveis identificados. No presente caso, examinou-se
o Contrato 0800.0032558.07-2 (CT 107), firmado, no ano de 2007, entre a empresa
Azevedo & Travassos Engenharia Ltda. (CNPJ 57.259.392/0001-25) com a Petróleo
Brasileiro S/A (CNPJ 33.000.167/0001-01), para a execução das obras do Centro
Integrado de Controle da Repar.
59. Em sua manifestação a Secretaria da Receita Federal do Brasil, em razão da
dificuldade de atender ao escopo solicitado (separando as notas fiscais apenas no
contrato solicitado), encaminhou todas as notas emitidas de 2008 até 20/11/2016, em que
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a empresa Azevedo & Travassos Engenharia Ltda. constou como destinatária. Além
disso, esclareceu que não foram localizadas notas fiscais no ano de 2007.
60. De toda maneira, é importante ressaltar que a amplitude do acesso concedido
não outorgou ao TCU o direito de examinar todos os dados entregues, em razão disso
fez-se o uso de recursos tecnológicos, para limitar, ao máximo possível, os documentos
àqueles que tivessem relacionados ao objeto da apuração. O próprio Ministro-Relator,
em seu voto condutor do Acórdão 1.191/2017-TCU-Plenário, ao reproduzir trecho do
voto do Acórdão 3.032/2015-TCU-Plenário (Ministro Augusto Sherman), ressaltou a
necessidade de limitação:
‘32. Diferentemente da quebra de sigilo fiscal ou empresarial, que se
caracteriza pela obtenção ampla, irrestrita e genérica aos dados e informações
fiscais ou empresariais correspondentes a todas as transações do investigado,
permitindo-se ampla devassa nesses documentos, amplo acesso, as informações
ora requeridas mediante a diligência alvitrada, com vistas a conhecer a
formação dos preços praticados pelo fiscalizado perante a Administração, se
limita apenas aos documentos relativos aos fornecimentos relacionados ao
contrato administrativo, e que compõem os custos dos insumos e serviços
formadores dos referidos preços.’
61. Por certo que os filtros aplicados não teriam precisão absoluta, mas traria
redução significativa do universo de documentos a serem analisados, limitando-os ao
objeto em apuração. Fez-se tal procedimento, porque, conforme ressaltado no trecho
acima, “as informações ora requeridas (...) se limita apenas aos documentos relativos
aos fornecimentos relacionados ao contrato administrativo.
62. Apesar dessa tentativa, conforme relatado pelo auditor-instrutor no item ‘c’ do
trecho anteriormente transcrito de sua instrução, verificou-se a impossibilidade de
identificação das Notas Fiscais destinadas ao contrato objeto destes autos.
63. É interessante notar que essa dificuldade também pode ocorrer em obra
executada por consórcio, como foi o caso verificado no TC 023.672/2015-3 (Montagem
Eletromecânica da Unidade de Tratamento de Água e Condensados da Repar). Naquele
caso, as notas fiscais foram emitidas não em nome do consórcio, mas de suas empresas
integrantes, valendo-se da autorização prevista no art. 4º, § 1º, da Instrução
Normativa 1.199/2011 da Receita Federal do Brasil.
64. Não obstante isso, há ainda outra diferença relevante entre os casos paradigmas
e o presente.
65. Como as compras se destinavam exclusivamente à execução daquelas obras, as
nomenclaturas adotadas pelo consórcio na compra dos equipamentos se assemelhavam
bastante àquelas adotadas no contrato. Em alguns casos, havia inclusive a menção ao
número da tag. Assim, o cotejamento entre os equipamentos comprados e os itens
tagueados era bastante mais simples. Não que isso fosse exigível dos consórcios, mas,
sendo eles formados para a execução de um único contrato, é natural uma organização
administrativa alinhada com seus termos.
66. Diferentemente, em se tratando se uma empresa que executa diversos contratos,
não se espera, tampouco se poderia exigir, que ela adaptasse sua organização a cada
contrato assinado. Portanto, não há surpresa na ausência de aderência entre as
descrições das notas fiscais de aquisição de insumos e de equipamentos com a
nomenclatura utilizada no contrato, o que explica as dificuldades relatadas nos itens ‘a’
e ‘d’ do trecho anteriormente transcrito da instrução.
67. Por fim, outra diferença bastante importante entre as situações das TCE em que
se utilizou notas fiscais com sucesso diz respeito à maneira como os equipamentos foram
montados ou adquiridos.
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68. Nos demais casos, os consórcios não atuaram na fabricação dos equipamentos,
tendo-os comprado prontos para a instalação nas unidades que estavam construindo.
Desse modo, as notas fiscais já apresentavam os preços dos equipamentos montados,
com todos os insumos incorporados. Isso, combinado à semelhança de descrição da nota
fiscal e do contrato, permitiu a identificação do custo total do equipamento.
69. No presente caso, por outro lado, a empresa responsável pela obra se imbuiu da
atividade de montagem dos equipamentos que foram instalados no Centro Integrado de
Controle da Repar, de modo que as notas fiscais não refletem a compra de equipamentos,
mas das partes e peças usadas na fabricação desses equipamentos.
70. Desse modo, a obtenção do custo total do equipamento demandaria conhecer
não somente os custos dos insumos, informação que se obtém das notas fiscais, mas
também quais e em que quantidades são utilizados para a fabricação dos equipamentos.
Novamente, uma informação que não está ao alcance do TCU.
CONCLUSÃO
71. Feitos todos esses destaques, reafirmo minha concordância integral com a
instrução e submeto o processo à consideração superior.”
4. Contudo, por intermédio do Exmo. Sr. Procurador Rodrigo Medeiros de Lima, o MPTCU
manifestou a sua discordância em relação à aludida proposta da unidade técnica, tendo, para tanto,
lançado o seu parecer à Peça 218 nos seguintes termos:
“Cuidam os autos de Tomada de Contas Especial (TCE) constituída a partir da conversão
do TC 021.480/2009-9 (relatório de auditoria, apensado a este processo), em atendimento ao subitem
9.1 do Acórdão 2.163/2015-TCU-Plenário (relator: Ministro-Substituto André Luís de Carvalho), a
fim de analisar indícios de irregularidades relativos ao Contrato 0800.0032558.07-2 (CT 107),
celebrado entre a Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras) e a empresa Azevedo & Travassos Engenharia
Ltda.
2. O objeto do ajuste, firmado em 14/6/2007, era a execução das obras do Centro Integrado de
Controle, relativas ao projeto de modernização e adequação do sistema de produção da
Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), localizada no Município de Araucária/PR
(contrato à peça 8, p. 10-45, do TC 021.480/2009-9).
3. Nesta TCE, não foi levada a efeito a citação de possíveis responsáveis, tendo em conta que o
exame promovido pela Secretaria Extraordinária de Operações Especiais em Infraestrutura
(SeinfraOperações), na instrução à peça 212 (pronunciamentos concordantes do diretor e do
secretário-substituto às peças 213 e 214, respectivamente), apontou para a existência de
sobrepreço em amostra não representativa da totalidade dos itens praticados no CT 107.
4. As principais conclusões da SeinfraOperações sobre as possíveis irregularidades que
motivaram a conversão do TC 021.480/2009-9 em TCE, com relação às quais o Ministério
Público manifesta sua aprovação, constam dos seguintes trechos da instrução à peça 212 (p.
24-25):
‘177. Diante da análise empreendida na presente instrução, o cálculo de sobrepreço foi
atualizado segundo os mais atuais procedimentos da Unidade Técnica e jurisprudência dessa Corte,
tendo como resultado o valor de R$ 1.197.209, que representa 9,13% da amostra e 2,61% do valor
contratual, considerando todos os aditivos.
178. Da amostra analisada, 70% se refere à mão de obra e 30% a outros serviços, como
alimentação, transporte e equipamentos de montagem. Verificou-se que o sobrepreço se concentrou
nos itens de mão de obra do contrato, que foram totalmente analisados (salvo itens pontualmente
excluídos). Sabendo-se que a amostra analisada representa 28,61% do contrato, restam ainda 71,39%
de itens não analisados da proposta de preços, que não se referem à mão de obra, remanescendo
grande incerteza sobre a subsistência do débito. Ainda mais quando se observa que os demais itens
restantes não se referem à mão de obra e que os outros itens analisados apontaram subpreço de 17%.
35
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 024.183/2015-6
179. Desse modo, conclui-se que a amostra é pouco representativa, tanto em termos de
tamanho como de sua composição. (...)
(...)
183. Portanto, é importante frisar que a insubsistência do débito ora imputado não se
relaciona com o pequeno percentual do sobrepreço em relação ao contrato, mas sim devido à baixa
consistência da amostra – tanto por seu tamanho, quanto por sua baixa representatividade em relação
ao conjunto de itens que ainda restaram por analisar – (...).’ (grifos nossos e do original)
5. Com base nas conclusões indicadas no parágrafo precedente, a unidade técnica sugeriu que o
Tribunal julgasse regulares “as contas dos responsáveis referentes ao Contrato
0800.0032558.07-2 (CT 107)” (letra “b” do parágrafo 186 da instrução à peça 212, p. 25),
dando-lhes quitação plena.
6. Além da mencionada proposta, a SeinfraOperações observou a necessidade de que o TCU
rejeitasse “(...) os argumentos apresentados pela empresa Azevedo & Travassos Engenharia
Ltda. em resposta à oportunidade que lhe foi dada para se manifestar em atendimento ao seu
pedido expressado nos embargos ao Acórdão 2.747/2016-Plenário [relator: Ministro-
Substituto André Luís de Carvalho]” (letra “a” do parágrafo 186 da instrução à peça 212, p.
25).
7. O Ministério Público reitera sua concordância com as conclusões da SeinfraOperações,
quanto à insubsistência de débito nesta TCE, mas sugere que este processo conte com o
desfecho a seguir detalhado.
8. Antes de o subitem 9.1 do Acórdão 2.163/2015-TCU-Plenário ter determinado a conversão do
TC 021.480/2009-9 em TCE, cabe destacar que havia sido promovida, no âmbito do referido
processo de auditoria, a audiência dos seguintes responsáveis (aqueles que, no entendimento
da SeinfraOperações, deveriam ter suas contas julgadas regulares nesta TCE), conforme
detalhado no quadro a seguir:
RESPONSÁVEL /
QUALIFICAÇÃO À
IRREGULARIDADE DESCRITA NO OFÍCIO DE AUDIÊNCIA
ÉPOCA DAS
OCORRÊNCIAS
Azevedo & Travassos “Contratar e se beneficiar de contrato assinado com sobrepreço.” (peça 2
Engenharia Ltda.1 do TC 021.480/2009-9, p. 85)
Empresa contratada
José Sérgio Gabrielli de “Estimar preço secreto ou autorizar licitar com projeto básico deficiente,
Azevedo sem parcelamento, sem orçamento de quantitativos de serviços e
Presidente da Petrobras respectivos preços unitários, sem respectiva composição de custos de
preços unitários e sem justificativa da economicidade de tal conduta;
irregularidades que causaram sobrepreço no contrato IERP 107 e são
contrárias à Lei 8.666/93 e, principalmente, ao Decreto 2.745/98 -
Regulamento do Procedimento Licitatório Simplificado da Petrobrás, bem
como infringiram os itens 1.2 (contratou com antieconomicidade), 1.3
(contratou com projeto básico praticamente inexistente e sem parcelamento
(art. 23 da Lei 8.666/93) e o item 1.8, alíneas "a" e "b". Além disso,
praticou esses atos sem provar a economicidade de contratar sem projeto
básico, conforme manda o item 1.9 do referido Regulamento, segundo o
1
Justificativa para a realização de audiência da empresa contratada: “s empresas ou os consórcios também devem ser
ouvidos em audiência, haja vista que têm direito a demonstrar que não há sobrepreço no contrato antes de serem citados. O
RI/TCU não apresenta a figura da audiência para as empreiteiras, mas há decisões do Supremo Tribunal Federal (MS
24.536) que anularam decisões deste Tribunal por conta de a empresa não ter sido ouvida em audiência.”(peça 1 do TC
021.480/2009-9, p. 167 –grifos nossos).
36
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 024.183/2015-6
Sérgio de Araújo Costa “Realizar licitação com projeto básico deficiente (praticamente
Membro da Comissão inexistente), sem parcelamento, sem orçamento de quantitativos de serviços
de Licitação do CT 107 e respectivos preços unitários e respectiva composição de custos de preços
– Petrobras unitários e sem justificativa da economicidade de tal conduta (item 1.9 -
Decreto 2745/98).” (peça 2 do TC 021.480/2009-9, p. 96)
Maria Emília “Realizar licitação com projeto básico deficiente, sem parcelamento, sem
Guimarães Lovato orçamento de quantitativos de serviços e respectivos preços unitários e
Santos respectiva composição de custos de preços unitários e sem justificativa da
Membro da Comissão economicidade de tal conduta (item 1.9 - Decreto 2745/98).” (peça 2 do TC
de Licitação do CT 107 021.480/2009-9, p. 99)
– Petrobras
Marco Túllio Jennings “Realizar licitação com projeto básico deficiente, sem parcelamento, sem
Membro da Comissão orçamento de quantitativos de serviços e respectivos preços unitários e
de Licitação do CT 107 respectiva composição de custos de preços unitários e sem justificativa da
– Petrobras economicidade de tal conduta (item 1.9 - Decreto 2745/98).” (peça 2 do TC
021.480/2009-9, p. 100)
Estefano Lapkouski “Realizar licitação com projeto básico deficiente, sem parcelamento, sem
Neto orçamento de quantitativos de serviços e respectivos preços unitários e
Membro da Comissão respectiva composição de custos de preços unitários e sem justificativa da
de Licitação do CT 107 economicidade de tal conduta (item 1.9 – Decreto 2745/98).” (peça 2 do
– Petrobras TC 021.480/2009-9, p. 101)
Clarice Regina Czarnik “- Irregularidade na condição de Membro ou Presidente da Comissão de
Coelho Martins Licitação do Contrato IERP 107.
Membro da Comissão - Realizar licitação com projeto básico deficiente, sem parcelamento, sem
de Licitação do CT 107 orçamento de quantitativos de serviços e respectivos preços unitários e
e Fiscal ou gerente do respectiva composição de custos de preços unitários e sem justificativa da
CT 107 - Petrobras economicidade, de tal conduta (item 1.9 - Decreto 2745/98).
- Irregularidade na condição de Fiscal ou Gerente do Contrato IERP 107.
- Medir e autorizar pagamento de objeto com sobrepreço.” (peça 2 do TC
021.480/2009-9, p. 86-87 – grifos do original)
César Arantes Sobral “- Irregularidade na condição de Membro ou Presidente da Comissão de
Membro da Comissão Licitação do Contrato IERP 107.
de Licitação do CT 107 - Realizar licitação com projeto básico deficiente, sem parcelamento, sem
e Fiscal ou gerente do orçamento de quantitativos de serviços e respectivos preços unitários e
CT 107 - Petrobras respectiva composição de custos de preços unitários e sem justificativa da
economicidade, de tal conduta (item 1.9 - Decreto 2745/98).
- Irregularidade na condição de Fiscal ou Gerente do Contrato IERP 107.
- Medir e autorizar pagamento de objeto com sobrepreço.” (peça 2 do TC
021.480/2009-9, p. 88-89 – grifos do original)
9. As razões de justificativa apresentadas pela empresa Azevedo & Travassos Engenharia Ltda. e
pelos treze gestores da Petrobras foram analisadas pela então Secretaria de Fiscalização de
Obras 3 (Secob-3) nos termos da instrução à peça 3 (p. 50-66) do TC 021.480/2009-9
(pareceres concordantes do diretor e do secretário da Secob-3 à peça 3, p. 82-83 e 84,
respectivamente, dos mencionados autos).
10. Da referida instrução da Secob-3, merecem transcrição os seguintes excertos:
‘79. Para o achado referente ao sobrepreço, tornou-se necessária uma análise
individualizada por contrato, objetivo da presente análise. Quanto aos indícios de projeto básico
deficiente, ausência de parcelamento, orçamento incompleto e restrição à competitividade, a unidade
técnica que elaborou o relatório de fiscalização apresentou uma caracterização geral abrangendo
39
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 024.183/2015-6
todos os contratos, ou seja, praticamente as mesmas observações para todos os contratos. Portanto,
essas irregularidades, serão analisadas no processo originário (TC 010.546/2009-4 2), uma vez que se
trata de assunto comum a todos os contratos envolvidos. (...).
80. Nesta instrução foi analisado [apenas] o indício de sobrepreço para o Contrato n°
0800.0032558.07-2 (CT-107: Centro Integrado de Controle — CIC (...).’ (peça 3 do TC 021.480/2009-
9, p. 65 – grifos nossos)
11. Ao final de sua manifestação, a Secob-3 propôs o acolhimento das razões de justificativa
apresentadas pelos gestores da estatal, sem tecer comentários sobre o desfecho de mérito a ser
conferido à defesa até aquele momento apresentada pela empresa Azevedo & Travassos
Engenharia Ltda. no TC 021.480/2009-9 (peça 3 desses autos, p. 66). Em seguida, os autos
foram submetidos pela unidade técnica ao Ministro-Substituto André Luís de Carvalho.
12. Da Proposta de Deliberação que fundamentou o Acórdão 2.032/2011-TCU-Plenário, sob
relatoria do Ministro-Substituto André Luís de Carvalho, proferido no TC 021.480/2009-9,
cabe transcrever algumas passagens, por meio das quais é possível verificar que não houve
manifestação de mérito do Tribunal sobre as defesas apresentadas naqueles autos, em relação
às audiências indicadas no quadro do parágrafo 8 deste parecer:
‘9. (...) nos presentes autos, examina-se, exclusivamente, o suposto sobrepreço do Contrato
n° 0800.0032558.07-2 (CT-107) (...).
(...)
14. Segundo apresentado pela Secob-3, os itens analisados nesta oportunidade —
relacionados, como disse, ao Contrato n° 0800.0032558.07-2 (CT-107) — somaram R$ 12.606.125,53,
o que equivale a 29,58% do valor do contrato. E do exame destes itens não foram encontrados
indícios de sobrepreço.
15. A baixa representatividade da amostra (cerca de 30%) deu-se em razão da
insuficiência de detalhamento dos itens do contrato, que são apresentados, em sua maioria, na forma
de valores globais. E tal irregularidade está sendo tratada, de forma específica, no âmbito do TC
010.546/2009-4.
16. Diante disso, considero que o melhor encaminhamento a ser adotado, nesta
oportunidade, é o apensamento definitivo destes autos ao referido TC 010.546/2009-4, para que ali
seja examinado se os elementos contidos neste processo são efetivamente suficientes para afastar a
existência de sobrepreço no contrato, considerando-se, neste novo exame, os itens não examinados.’
(grifos nossos)
13. Por meio do Acórdão 2.032/2011-TCU-Plenário, foi determinado, apenas, o apensamento do
TC 021.480/2009-9 ao TC 010.546/2009-4, sem que houvesse o acolhimento ou rejeição das
razões de justificativa apresentadas em razão das audiências da empresa Azevedo & Travassos
Engenharia Ltda. e dos gestores da Petrobras.
14. Quando da apreciação do TC 010.546/2009-4, o Ministro-Substituto André Luís de Carvalho
teceu, na Proposta de Deliberação que fundamentou o Acórdão 2.163/2015-TCU-Plenário, as
seguintes considerações quanto às audiências promovidas no TC 021.480/2009-9:
‘3. (...) a Secex/PR, responsável pela condução da fiscalização, identificou cinco indícios de
irregularidades (...):
a) projeto básico deficiente ou desatualizado [irregularidade indicada nas audiências
realizadas no TC 021.480/2009-9];
b) ausência de parcelamento do objeto [irregularidade indicada em parte das audiências
realizadas no TC 021.480/2009-9];
2
Auditoria realizada no âbito do Fiscobras/2009 nas obras relativas ao projeto de modernizaç̃ e adequaç̃ do sistema de
produç̃ da Repar (total de dezenove contratos analisados, incluso o CT 107).
40
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 024.183/2015-6
41
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 024.183/2015-6
justificativa relativas aos demais achados 3 de todos os contratos para ser realizada no
processo originador (este [TC 010.546/2009-4]), conforme trecho de instrução constante de
um desses processos apartados (TC 021.479/2009-8, peça 11, p. 1):
4. Direcionados os autos à responsabilidade da Secob-3, considerando que os indícios de
irregularidade relacionados aos Achados 3.1 [Projeto básico deficiente ou desatualizado], 3.2
[Ausência de parcelamento do objeto], 3.3 [Orçamento incompleto ou inadequado] e 3.5
[Restrição à competitividade da licitação, irregularidade que não foi detectada no certame que
precedeu à assinatura do CT 107] foram caracterizados pela Secex-PR de modo conjunto,
abrangendo todos os contratos, esta Unidade Técnica optou por analisar nos processos
apartados apenas os indícios de sobrepreço, relegando a apreciação dos demais achados no
processo originador (TC 010.546/2009-4). (Destaques inseridos).
(...)
23. Em suma, nestes autos restam pendentes a apreciação das manifestações relativas aos
achados 3.1, 3.2, 3.3, e 3.5 do relatório de auditoria (...).
(...)
41. (...) importa registrar que as razões de justificativa dos gestores da Petrobras foram
apresentadas em conjunto e repetidas em cada um dos processos apartados. (...)’
16. A partir da leitura das transcrições da Proposta de Deliberação apresentada pelo Ministro-
Substituto André Luís de Carvalho no Acórdão 2.163/2015-TCU-Plenário e da instrução da
SeinfraPetróleo à peça 155 do TC 010.546/2009-4, chega-se às seguintes conclusões:
a) as audiências de empresas e gestores da Petrobras, apesar de apresentarem
irregularidades comuns (ou parcialmente comuns) a todos os dezenove contratos fiscalizados
na auditoria realizada na Repar no âmbito do Fiscobras/2009, foram promovidas em cada um
dos processos apartados (para cada contrato fiscalizado), entre eles o TC 021.480/2009-9;
b) os gestores da Petrobras apresentaram, de acordo com a SeinfraPetróleo,
razões de justificativa de mesmo teor em todos os processos apartados – à exceção do Sr. José
Sérgio Gabrielli de Azevedo, que apresentou defesa distinta;
c) nos processos apartados, incluso o TC 021.480/2009-9, a análise promovida
pelas unidades técnicas do TCU se restringiu à avaliação da existência, ou não, de sobrepreço;
d) as demais irregularidades, que não o eventual sobrepreço dos contratos
analisados na auditoria do Fiscobras/2009, foram objeto de exame apenas no TC
010.546/2009-4.
17. Após analisar as razões de justificativa das empresas contratadas e dos gestores da Petrobras,
a SeinfraPetróleo verificou que a solução processual mais adequada seria a rejeição das
defesas no âmbito do TC 010.546/2009-4 – “à exceção do acolhimento das razões de
justificativa apresentadas pelas comissões de licitação para o quesito ‘projeto básico
deficiente’, e da ‘ausência de parcelamento da licitação’” (parágrafo 441 da instrução à peça
155 do referido processo) –, postergando-se a aplicação de eventuais sanções para as TCEs
nas quais cada contrato seria analisado.
18. No sentido indicado no parágrafo precedente, assim se manifestou a SeinfraPetróleo na
instrução à peça 155 do TC 010.546/2009-4 (p. 71 – grifo nosso):
‘445. No âmbito das TCE a serem instauradas [ou relatórios de auditoria que vierem a ser
convertidos em TCE, conforme ocorreu com o TC 021.480/2009-9], cabem, inclusive, o
angariamento de outras provas, em sinergia com o MPF, para mais perfeita identificação dos
responsáveis e apuração esmerilhada do débito (que pode, inclusive, aumentar, com a reunião
de elementos “reais” dos custos contratados pelos consórcios). Mesmo diante disso, não
obstante a rejeição das razões de justificativa apresentadas pelos gestores, as condutas – e
3
No caso do CT 107, as seguintes irregularidades que constaram dos ofícios de audiência emitidos no âmbito do TC
021.480/2009-9: projeto básico deficiente ou desatualizado; ausência de parcelamento do objeto; e orçamento incompleto
ou inadequado.
42
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 024.183/2015-6
respectivas multas – devem ser mais bem graduadas em paridade com a respectiva citação, de
onde se sugere que os procedimentos processuais específicos para as aplicações de
penalidades sejam empreendidos no âmbito das TCE.’
19. Ao final da instrução à peça 155 do TC 010.546/2009-4 (p. 72), a SeinfraPetróleo sugeriu ao
Tribunal, entre outras providências, a adoção das seguintes medidas:
‘449.2 acolher as razões de justificativa apresentadas [em relação a todas as irregularidades]
pelos membros das comissões de licitação da Petrobras para as audiências determinadas pela
alínea “c.1” do despacho do Exmo. Ministro Valmir Campelo à peça 2, p. 80-82;
449.3. acolher as razões de justificativa apresentadas pelos gestores em razão do
“parcelamento irregular do objetivo” [rectius: objeto];
(...)
449.5. rejeitar as razões de justificativa apresentadas pelos gestores abaixo relacionados, em
relação às audiências determinadas pelo despacho do Exmo. R. Ministro Valmir Campelo
(peça 2, p. 80-82), sem, todavia, aplicar-lhes multa na corrente fase processual, tendo em vista
a necessária dosimetria das condutas decorrentes da precisa quantificação de prejuízos e
delimitação dos responsáveis provenientes da Tomada de Contas Especial aberta em razão do
subitem 449.1 [inclusa a presente TCE], supra:
i) José Sérgio Gabrielli de Azevedo - cargo: Presidente da Petrobras;
ii) Renato de Souza Duque - cargo: Diretor de Engenharia;
iii) Pedro José Barusco Filho - cargo: Gerente-executivo de Engenharia;
iv) Sérgio dos Santos Arantes - cargo: Gerente de Custo e Estimativas de Prazos de Serviços e
Logística da Engenharia - Gerente da SL/ECP;
v) Sandoval Dias Aragão - cargo: Gerente Geral de Serviços e Logística da Engenharia;
vi) Fernando Almeida Biato - cargo: Gerente Geral da Engenharia/Ieabast;
vii) José Paulo Assis - cargo: Gerente de Implementação de Empreendimentos para a Repar -
Gerente da Engenharia/Ieabast/Ierp;’ (grifos nossos)
20. Com relação às mencionadas propostas da SeinfraPetróleo, é possível verificar, da Proposta
de Deliberação que fundamentou o Acórdão 2.163/2015-TCU-Plenário – vide transcrição no
parágrafo 14 deste parecer –, que o Ministro-Substituto André Luís de Carvalho posicionou-se,
com a adesão do Plenário do Tribunal, pelo seguinte encaminhamento a ser dado às
audiências (inclusas aquelas promovidas no TC 021.480/2009-9):
a) projeto básico deficiente ou desatualizado e orçamento incompleto ou
inadequado:
‘20. (...) a despeito de até concordar com a manifestação da unidade especializada quanto aos
dois aludidos achados, entendo que o TCU não deve rejeitar nem acolher as razões de
justificativa apresentadas pelos responsáveis no presente momento processual, devendo deixar
o exame dessa defesa para a TCE que vai ser autuada [esta TCE, por exemplo] (...).’
b) ausência de parcelamento do objeto:
‘27. (...) peço licença para, no presente momento processual, discordar das conclusões da
SeinfraPetróleo, pois entendo que o exame dessa questão também pode ser melhor conduzido
no âmbito da aludida TCE [incluso este processo], permitindo que o TCU delibere sobre esta
matéria com base em informações mais precisas e circunstanciadas.’
21. Com base na Proposta de Deliberação apresentada pelo Ministro-Substituto André Luís de
Carvalho, o Tribunal não se manifestou, no mérito, quando da prolação do Acórdão
2.163/2015-TCU-Plenário, quanto às razões de justificativa da empresa Azevedo & Travassos
Engenharia Ltda. e dos gestores da Petrobras. Dessa deliberação constou, contudo, o seguinte
comando:
‘9.5. determinar à SeinfraPetróleo que, na instrução final relativa às tomadas de contas
especiais a que se refere o item 9.1. deste Acórdão [inclusa a presente TCE], faça constar
expressamente:
43
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 024.183/2015-6
(...)
9.5.3. inclusão, em sua proposta de mérito, das eventuais penalidades decorrentes da
rejeição das razões de justificativa apresentadas pelos responsáveis nos presentes autos;’ (grifo nosso)
22. A partir do histórico de atos levados a efeito nos diversos processos indicados anteriormente
neste parecer, que culminaram com a elaboração, pela SeinfraOperações, da instrução à peça
212 desta TCE, o Ministério Público conclui que a unidade técnica propôs o julgamento pela
regularidade das contas de todos os responsáveis arrolados nesta TCE – automaticamente
inseridos no e-TCU, a partir do rol constante do TC 021.480/2009-9 –, sem se atentar para a
necessidade de cumprimento do subitem 9.5.3 do Acórdão 2.163/2015-TCU-Plenário.
23. A SeinfraOperações, portanto, não se manifestou, em sua derradeira intervenção nesta TCE,
sobre: (a) sua concordância ou discordância quanto às propostas indicadas pela
SeinfraPetróleo à peça 155 do TC 010.546/2009-4 (p. 72); (b) necessidade de aprofundamento
e/ou reexame das razões de justificativa apresentadas pela empresa Azevedo & Travassos
Engenharia Ltda. e pelos gestores da Petrobras, considerando o posicionamento do Ministro-
Substituto André Luís de Carvalho, manifestado nos parágrafos 20 e 27 da Proposta de
Deliberação que fundamentou o Acórdão 2.163/2015-TCU-Plenário; e (c) eventual
necessidade/possibilidade de aplicação de sanção individual aos gestores da Petrobras que já
contavam com proposta de rejeição de suas razões de justificativa no TC 010.546/2009-4.
24. Preliminarmente, quanto à audiência da empresa Azevedo & Travassos Engenharia Ltda.,
promovida no TC 021.480/2009-9, o Ministério Público verifica que se tratou, de fato, da
oitiva prevista no art. 250, inciso V, do Regimento Interno/TCU. Assim, não se vislumbra a
necessidade, quando do desfecho desta TCE, de o Tribunal acolher ou rejeitar a manifestação
da referida pessoa jurídica (peça 2 do mencionado processo de auditoria, p. 152-182), por
configurar mera oitiva.
25. Por se tratar de tema correlato, o Parquet de Contas observa, também, que não há necessidade
de rejeitar os argumentos apresentados pela empresa Azevedo & Travassos Engenharia Ltda.
em resposta à oportunidade que lhe foi dada para se manifestar em atendimento ao seu pedido
expressado nos embargos ao Acórdão 2.747/2016-Plenário, na forma sugerida pela
SeinfraOperações (letra “a” do parágrafo 186 da instrução à peça 212, p. 25).
26. Na verdade, em termos formais, à empresa foi dada a oportunidade de se manifestar nesta TCE
por meio do subitem 1.8.1 do Acórdão 1.083/2018-TCU-Plenário (Relator: Ministro-Substituto
André Luís de Carvalho), por meio de oitiva, fundamentada nos termos do art. 157 do
Regimento Interno/TCU. Desse modo, não se vislumbra a necessidade ou viabilidade jurídica
de o Tribunal vir a se manifestar, no mérito, sobre a resposta da empresa (peça 205 desta TCE,
intitulada ‘razões de justificativa’), ante a insubsistência de débito neste processo e pelo fato
de a manifestação da empresa não ter contribuído para as conclusões às quais chegou a
SeinfraOperações na instrução à peça 212.
27. No que se refere às audiências dos gestores da Petrobras, conforme determinado pelo subitem
9.5.3 do Acórdão 2.163/2015-TCU-Plenário, deverá a Corte de Contas se manifestar, no
momento oportuno, quanto a ‘eventuais penalidades decorrentes da rejeição das razões de
justificativa apresentadas pelos responsáveis’.
28. Das três irregularidades que contaram com proposta de mérito da SeinfraPetróleo (peça 155
do TC 010.546/2009-4, p. 72), apenas aquelas atinentes ao “projeto básico deficiente ou
desatualizado” e ao “orçamento incompleto ou inadequado” contaram com a sugestão de que
as defesas de parte dos gestores da Petrobras fossem rejeitadas (considerando a proposta de
acolhimento das razões de justificativa dos membros das comissões de licitação da Petrobras).
Quanto à irregularidade atinente à “ausência de parcelamento do objeto”, houve a sugestão
de acolhimento, pela referida unidade técnica, das razões de justificativa apresentadas por
todos os responsáveis.
44
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 024.183/2015-6
29. Ante a percuciência do exame promovido pela SeinfraPetróleo na instrução constante à peça
155 do TC 010.546/2009-4, o Ministério Público manifesta sua concordância quanto à
necessidade de serem rejeitadas as razões de justificativa apresentadas pelos Srs. José Sérgio
Gabrielli de Azevedo, Renato de Souza Duque, Pedro José Barusco Filho, Sandoval Dias
Aragão, Sérgio dos Santos Arantes, Fernando Almeida Biato e José Paulo Assis, no que se
refere às irregularidades relacionadas ao ‘projeto básico deficiente ou desatualizado’ e ao
‘orçamento incompleto ou inadequado’.
30. Considerando que as irregularidades relacionadas à confecção do projeto básico e ao
orçamento da licitação que precedeu à assinatura do CT 107, em 14/6/2007, remontam aos
anos de 2006 e 2007; que o ato que ordenou a audiência dos responsáveis foi exarado em
9/9/2009 (despacho do Ministro Valmir Campelo, relator, à época, do TC 021.480/2009-9 –
peça 2, p. 80-82, desses autos), interrompendo, assim, o curso do prazo prescricional, contado
na forma do Acórdão 1.441/2016-TCU-Plenário (redator: Ministro Walton Alencar
Rodrigues); e que não se constatou, desde 9/9/2009, a incidência de hipóteses de suspensão do
prazo prescricional, nos termos do subitem 9.1.5 do referido acórdão; o Ministério Público
verifica a incidência da prescrição da pretensão punitiva.
31. Quanto à questão fulcral objeto de exame nesta TCE, o Parquet de Contas concorda com a
SeinfraOperações, de que o fato de ter sido identificado sobrepreço em amostra não
representativa dos itens do CT 107 – “tanto por seu tamanho, quanto por sua baixa
representatividade em relação ao conjunto de itens que ainda restaram por analisar”
(parágrafo 183 da instrução à peça 212, p. 25) – indica a inviabilidade de ser promovida a
citação da empresa contratada e de responsáveis da Petrobras neste processo.
32. De fato, conforme ponderações do diretor da SeinfraOperações, não parece se mostrar viável
a continuidade do feito, ante a seguinte situação verificada no caso concreto sob exame:
‘7. Um ponto que considero relevante para essa conclusão é a distribuição do
“sobrepreço” na amostra analisada (parágrafos 102 a 104 [da instrução à peça 212]). Basicamente,
o eventual sobrepreço decorreria da parcela de mão de obra, que foi totalmente analisada e que foi a
responsável pela diferença. Os demais itens analisados apresentaram subpreço.
8. Tal verificação, somada à extrema dificuldade – se não impossibilidade – de obtenção
de preços de referência para a amostra não examinada, reduz sobremaneira, do ponto de vista de
análise de risco para a alocação de recursos, a atratividade de se buscar aprofundar ainda mais a
análise desse orçamento. O enorme esforço que seria necessário para evoluir a avaliação dos preços
dos itens restantes, além da grande possibilidade de se tornarem inúteis, considerando que é a terceira
vez que a Unidade Técnica tenta fazê-lo, contudo sem sucesso, teriam um baixo potencial de
incremento de eficiência no resguardo dos cofres públicos.’ (peça 213, p. 1-2 – grifos nossos)
33. Desse modo, como não foi possível atestar, de modo inequívoco, a existência ou inexistência de
superfaturamento nos preços praticados no CT 107, o Ministério Público sugere, adiante, que
o Tribunal, com fundamento no art. 212 do Regimento Interno/TCU, arquive esta TCE, sem
julgamento do mérito, por ausência de pressupostos de desenvolvimento válido e regular do
processo.
34. Diante do exposto, este membro do Ministério Público de Contas da União manifesta sua
discordância em relação à proposta da SeinfraOperações, sugerindo o seguinte
encaminhamento para esta TCE:
a) reconhecer a audiência da empresa Azevedo & Travassos Engenharia Ltda.,
efetuada no TC 021.480/2009-9, como a oitiva prevista no art. 250, inciso V, do Regimento
Interno/TCU;
b) acolher integralmente as razões de justificativa apresentadas no TC
021.480/2009-9 pelas Sras. Clarice Regina Czarnik Coelho Martins e Maria Emília Guimarães
Lovato Santos e pelos Srs. César Arantes Sobral, Estefano Lapkouski Neto, Marco Túllio
Jennings e Sérgio de Araújo Costa;
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VOTO
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1. Processo nº TC 024.183/2015-6.
1.1. Apenso: TC 021.480/2009-9.
2. Grupo II – Classe II – Assunto: Tomada de Contas Especial.
3. Responsáveis: Azevedo & Travassos Engenharia Ltda (CNPJ 57.259.392/0001-25); Clarice Regina
Czarnik Coelho Martins (CPF 916.571.999-91); César Arantes Sobral (CPF 941.593.008-04); Estefano
Lapkouski Neto (CPF 402.175.409-10); Fernando Almeida Biato (CPF 329.803.107-00); José Paulo
Assis (CPF 167.249.849-04); José Sérgio Gabrielli de Azevedo (CPF 042.750.395-72); Marco Tullio
Jennings (CPF 069.177.677-60); Maria Emilia Guimarães Lovato (CPF 508.894.199-49); Pedro José
Barusco Filho (CPF 987.145.708-15); Renato de Souza Duque (CPF 510.515.167-49); Sandoval Dias
Aragão (CPF 229.203.586-34); Sérgio de Araújo Costa (CPF 174.345.217-91); Sérgio dos Santos
Arantes (CPF 335.417.367-04).
4. Entidade: Petróleo Brasileiro S.A.
5. Relator: Ministro-Substituto André Luís de Carvalho.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Rodrigo Medeiros de Lima.
7. Unidade Técnica: Secretaria Extraordinária de Operações Especiais em Infraestrutura
(SeinfraOperações).
8. Representação legal:
8.1. Hélio Siqueira Júnior (OAB/RJ 62.929) entre outros, representando a Petróleo Brasileiro S.A.;
8.2. Anapaula Catani Brodella Nichols (OAB/SP 87.362), entre outros, representando a Azevedo e
Travassos Engenharia Ltda;
8.3. Carlos Roberto de Siqueira Castro (OAB/DF 20.015), entre outros, representando César Arantes
Sobral, José Sérgio Gabrielli de Azevedo, Marco Tullio Jennings, Sérgio de Araújo Costa e Sérgio dos
Santos Arantes;
8.4. Maria Francisca Sofia Nedeff Santos (OAB/PR 77.507), entre outros, representando Pedro José
Barusco Filho;
8.5. Rodrigo Alexander Calazans Macedo (OAB/RJ 123.041), entre outros, representando Clarice
Regina Czarnik Coelho Martins, Fernando Almeida Biato, José Paulo Assis, Maria Emilia Guimarães
Lovato e Sandoval Dias Aragão.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial constituída a
partir da conversão do TC 021.480/2009-9, em atendimento ao item 9.1 do Acórdão 2.163/2015-TCU-
Plenário, com vistas, especificamente, a apurar os indícios de irregularidade no Contrato
0800.0032558.07-2 (CT-107) celebrado pela Petróleo Brasileiro S.A. com a Azevedo & Travassos
Engenharia Ltda para a execução das obras no Centro Integrado de Controle junto ao projeto de
modernização e adequação do sistema de produção da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) no
Município de Araucária – PR;
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da 2ª
Câmara, ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. promover o arquivamento da presente tomada de contas especial, sem o julgamento de
mérito, nos termos do art. 212 do RITCU, em face da ausência dos pressupostos de constituição e
desenvolvimento válido e regular do processo, diante dos elementos de convicção até aqui obtidos pelo
TCU;
9.2. enviar a cópia do presente Acórdão, com o Relatório e o Voto, ao sucessor da Força-
Tarefa do Ministério Público Federal junto à Operação Lava-Jato no Paraná, ao sucessor da Força-
Tarefa da Advocacia-Geral da União junto à Operação Lava-Jato no Paraná, ao juízo federal na 13ª
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Fui presente:
(Assinado Eletronicamente)
RODRIGO MEDEIROS DE LIMA
Procurador
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