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Elfo et al. Pesquisa de Serviços de Saúde BMC (2017) 17:24

DOI 10.1186/s12913-016-1957-6

DEBATE Acesso livre

O caso dos cuidados de saúde baseados em valores

para pessoas que vivem com condições complexas
de longo prazo
Maria Elfa1,2* , Maria Flink2,3, Marie Nilsson2,3, Malin Tistad1,2, Lena von Koch2,4 e Charlotte Ytterberg2,5

Abstrato

Antecedentes: Há uma tendência para serviços de saúde baseados em valor, buscando cortar custos e ao mesmo tempo gerar valor para o paciente.
O objetivo geral inclui serviços de saúde de maior qualidade e maior segurança dos pacientes e eficiência de custos. A abordagem poderia alinhar-
se com os cuidados centrados no paciente, uma vez que implica um foco na experiência do paciente em todo o seu ciclo de cuidados, incluindo a
utilização de medidas de resultados bem definidas. Os desafios surgem quando a abordagem é aplicada aos serviços de saúde para pessoas que
vivem com condições complexas de longa duração que requerem apoio de vários serviços de saúde. O objetivo deste trabalho é discutir
criticamente a abordagem baseada em valores e suas implicações para pacientes com condições complexas de longo prazo. Dois casos da
prática clínica e da investigação constituem a base do nosso raciocínio, ilustrando vários desafios relativos aos serviços de saúde baseados em valor
para pessoas que vivem com condições complexas de longa duração.

Discussão: Alcançar serviços de saúde baseados em valor que proporcionem os resultados de saúde que são importantes para os pacientes e
proporcionar uma maior centralização no paciente irá colocar exigências acrescidas no sistema de saúde. Os pacientes e os seus cuidadores
informais devem ser incluídos no desenvolvimento e estabelecimento de medidas de resultados. As medidas de resultados devem ser padronizadas
para permitir a avaliação de condições específicas a um nível agregado, mas também devem ser sensíveis o suficiente para captar as necessidades
e objetivos individuais de cada paciente. Os sistemas de saúde que se esforçam por estabelecer serviços baseados em valor devem colaborar
para além das fronteiras organizacionais para criar trajetórias claras dos pacientes, a fim de evitar a fragmentação.

Resumo: A mudança para serviços de saúde baseados em valor tem o potencial de alinhar a prestação de serviços de saúde com cuidados centrados
no paciente, se forem feitos esforços sérios para ter em conta a perspectiva do paciente. Isto é especialmente desafiador em sistemas de saúde
fragmentados e para pacientes com necessidades de cuidados de longo prazo e em vários ambientes.

Palavras-chave: Políticas de saúde, Cuidados baseados em valores, Expectativas de saúde, Cuidados centrados no paciente, AVC, Reabilitação

Introdução identificou alguns desafios que defendemos que precisam de

Este artigo discute a abordagem baseada em valor – ou seja, ser abordados na aplicação de serviços de saúde baseados em
a relação entre a organização, o desempenho e o pagamento valores. Nossos pontos de vista baseiam-se em nossa
de um serviço de saúde e o resultado alcançado – e suas experiência clínica multiprofissional e em projetos de pesquisa
implicações para os pacientes que vivem com condições de na Suécia, que enfocam a saúde na vida cotidiana de pessoas
longo prazo e necessidades complexas, ou seja, condições com condições complexas de longo prazo. Nosso grupo de
que requerem apoio a longo prazo de vários profissionais de pesquisa está bem consolidado nacional e internacionalmente
saúde em vários serviços de saúde. Para este grupo de pessoas temos
e envolve pessoas com formação em enfermagem, serviço
social, reabilitação e fisioterapia. A questão geral deste artigo é
como os serviços de saúde devem garantir que os cuidados
* Correspondência: mel@du.se
1
Escola de Educação, Saúde e Estudos Sociais, Universidade de Dalarna, Falun, baseados em valores se baseiam na perspectiva do paciente.
Suécia 2
Apresentaremos dois casos baseados em narrativas de pessoas
Departamento de Neurobiologia, Ciências do Cuidado e Sociedade, Karolinska com AVC e dados de serviços de saúde da nossa investigação para ilustrar algu
Instituto, Huddinge, Estocolmo, Suécia
A lista completa de informações do autor está disponível no final do artigo

© O(s) Autor(es). 2017 Open Access Este artigo é distribuído sob os termos da Licença Internacional Creative Commons
Attribution 4.0 (http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/), que permite uso, distribuição e reprodução irrestritos
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os desafios e questões de pesquisa que propomos precisam ser mais
abordados.
Enquadramento
A procura de serviços de saúde com base nas necessidades e
expectativas do paciente e da família tem feito parte da agenda
internacional nas últimas décadas. O termo cuidado centrado no
paciente implica que o cuidado deve ser baseado na perspectiva e
nos objetivos do paciente e na tomada de decisão compartilhada [1,
2]; esta abordagem é considerada um fator chave de qualidade na
saúde contemporânea [3].
Os cuidados centrados no paciente são proeminentes na legislação
e nos documentos políticos em todo o mundo, e a legislação sueca
sobre cuidados de saúde foi recentemente revista para reforçar ainda
mais os direitos dos pacientes [4] e ainda há muito trabalho a ser
feito antes que os serviços de saúde possam ser considerados
totalmente centrados no paciente. centralizado [5]. A Agência Sueca
de Análise de Serviços de Saúde e Cuidados [6, 7] produziu vários
relatórios que mostram que a Suécia precisa de melhorar os cuidados
centrados no paciente também em comparação com outros países.
Atualmente existe uma tendência de direcionar os serviços de
saúde para uma organização baseada em valor, buscando um serviço
que reduza custos e ao mesmo tempo gere valor para o paciente [8,
9]. Por exemplo, o Hospital Universitário Karolinska, em Estocolmo
— o maior hospital da Suécia — está atualmente a transformar a
prestação de cuidados de saúde num serviço de saúde baseado em
valor. O objetivo geral dos serviços de saúde baseados em valor é
alcançar serviços de saúde de maior qualidade, juntamente com
maior segurança do paciente e eficiência de custos. A abordagem
poderia alinhar-se com o cuidado centrado no paciente se se
concentrar na experiência do paciente em todo o seu ciclo de
cuidados, incluindo o uso de medidas de resultados bem definidas [8,
9], em oposição aos modelos de serviços de saúde mais antigos,
concebidos para concentrar-se em atividades e intervenções de serviço individuais.
O serviço de saúde baseado
em valor Porter [9], um dos iniciadores dos cuidados baseados em
valor, define valor em termos de “resultados de saúde alcançados por
dólar gasto”. Assim, os cuidados baseados em valor constituem
serviços de saúde que criam valor acrescentado, centrando-se na
forma como o serviço é organizado, executado e pago em relação
aos resultados alcançados em termos, por exemplo, da saúde dos
pacientes e das experiências dos serviços de saúde. Importante nos
cuidados de saúde baseados em valor é a transição para o reembolso
de todo o ciclo de cuidados dos pacientes, em vez de uma visita a
um único prestador de cuidados. Um ciclo de cuidados pode conter
vários episódios; embora possa ser possível delinear o ciclo no
contexto de um procedimento cirúrgico, conforme descrito por Porter
[8], fazê-lo é mais desafiador no contexto de uma condição de saúde
complexa de longo prazo. Além disso, um elemento central dos
cuidados de saúde baseados em valores constitui medidas de
qualidade. Os resultados de saúde devem ser medidos a partir da
perspectiva do paciente e de suas redes de apoio (por exemplo,
famílias), em vez de usar medidas de processo [8], e devem,
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quando se trata de condições complexas de longo prazo, inclua
medições do funcionamento mantido do paciente [10]. Lilford e
colegas [11] comparam medidas de resultados e processos e afirmam
que ambas são necessárias para monitorar a qualidade nos cuidados
de saúde. Os resultados do processo devem ser usados para
monitorar a qualidade da prática clínica ou do processo.
A abordagem dos cuidados de saúde baseados em valores é um
desenvolvimento promissor, embora envolva desafios na área dos
serviços de saúde para pessoas que vivem com condições
complexas de longa duração. Os potenciais problemas destacados
neste documento relacionam-se com dificuldades em identificar as
necessidades individuais do paciente e as medidas de resultados
apropriadas para captar o valor do serviço de saúde recebido, bem
como com a questão de quem incluir na avaliação dos resultados e
quando. Na seção seguinte, discutiremos a abordagem baseada em
valor e os limites organizacionais que podem ameaçar a
implementação. Além disso, discutiremos e daremos exemplos de
como a qualidade pode ser avaliada na perspectiva do paciente e na
perspectiva do cuidador informal.
Discussão
Limites organizacionais Os
serviços de saúde hoje são frequentemente fragmentados [12, 13];
isto é certamente verdade na Suécia, onde vários intervenientes são
responsáveis pela prestação de serviços de saúde, principalmente o
município ou os conselhos distritais [14]. Além disso, desde 2008, os
prestadores de serviços de saúde tornaram-se mais diversificados;
as empresas privadas de serviços de saúde proliferaram na
sequência da alteração da legislação [15]. A Suécia também carece
de um quadro organizacional eficaz para obter uma visão geral de
todos os serviços de saúde, juntamente com a responsabilidade
pelos percursos dos pacientes ao longo do ciclo de cuidados. Nossa
pesquisa anterior mostrou que os pacientes em geral não vivenciam
transições seguras e que consideram necessária a atuação pessoal
para garantir a continuidade de seus cuidados [16]. Consequentemente,
dados estes ciclos de cuidados fragmentados e a falta de uma
autoridade com responsabilidade abrangente, é difícil identificar que
parte do ciclo de cuidados deve ser avaliada em termos de cuidados
de saúde baseados em valores.
Em contraste com o ciclo de cuidados que se segue à cirurgia,
conforme descrito por Porter [8], é mais desafiador definir um ciclo
de cuidados para uma condição de saúde complexa a longo prazo
(por exemplo, após um acidente vascular cerebral), quando a
necessidade de serviços de saúde relacionados com a doença podem
ser prolongados, até mesmo ao longo da vida, e podem envolver
muitos cuidadores diferentes em diferentes níveis de serviço e
contextos. Uma das nossas descrições de caso – os serviços de
saúde de Erik após o AVC (Tabela 1) – ilustra uma utilização comum,
embora complexa, dos serviços de saúde durante o primeiro ano
após o AVC. A Figura 1 apresenta um resumo da utilização dos
serviços de saúde por Erik (ou seja, dias passados em cuidados
hospitalares e contactos com prestadores de cuidados ambulatórios). O início e o fim d
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Tabela 1 Encontros de Erik com a reabilitação e outros serviços de saúde ao longo
do primeiro ano após um acidente vascular cerebral Erika tinha 78
anos, morava com a esposa e era independente em suas atividades de vida diária
quando sofreu um acidente vascular cerebral que causou hemiparesia moderada
e afasia . Erik recebeu atendimento inicial em uma unidade de AVC, onde permaneceu
por 5 dias; esse período foi seguido por 44 dias em uma enfermaria de reabilitação
geriátrica especializada em reabilitação após acidente vascular cerebral (fig. 1). No
mesmo dia em que recebeu alta e regressou a casa, um fisioterapeuta (PT) e um
terapeuta ocupacional (TO) de uma equipa de AVC, organizada pelo centro de
cuidados primários, visitaram-no em casa para a sua primeira sessão de
reabilitação. Erik enfrentou limitações de atividades como vestir-se, cortar a
comida e caminhar de forma independente, e não conseguia subir escadas. Sua
afasia havia melhorado, mas ele ainda apresentava dificuldades de comunicação.
Inicialmente, o PT e a TO o visitavam quase diariamente; depois disso, estas
sessões foram menos frequentes, mas as sessões de reabilitação na casa
de Erik com a equipa de AVC continuaram durante os três primeiros trimestres
do ano. Complementando a sua formação com a equipa de AVC, a esposa de
Erik e o serviço de ajuda ao domicílio encorajaram diariamente as suas tentativas de
recuperar a independência e de retomar actividades anteriormente valorizadas.
Além da reabilitação domiciliar, Erik também recebeu tratamento de reabilitação
no ambulatório de geriatria do hospital. O foco inicial em fisioterapia e terapia
ocupacional mudou no final do ano para fonoaudiologia. Durante o terceiro
trimestre, quando a reabilitação domiciliária fornecida pela equipa de AVC foi
concluída, Erik iniciou fisioterapia e terapia ocupacional no centro de cuidados
primários. Um ano após o acidente vascular cerebral, Erik melhorou
significativamente, mas ainda tinha dificuldade para subir escadas de forma
independente e falar quando estava cansado ou estressado. Além da reabilitação
prestada na unidade de AVC e na enfermaria de reabilitação de internamento,
Erik recebeu 235 sessões de reabilitação, ministradas por um PT e um TO, um
assistente social médico, fonoaudiólogos e um nutricionista.
Ele também tinha outros contatos de saúde, como médicos de cuidados primários
e enfermeiros distritais.
a Regiões (SKL) [20]. Atualmente existem cerca de 105 registros que
Erik é um pseudônimo
devem ser claramente definidos, juntamente com os resultados
relacionados a cada desempenho, a fim de facilitar uma avaliação da
qualidade dos serviços de saúde que se alinhe com cuidados de saúde
baseados em valor.
Avaliar a qualidade dos serviços de saúde São
necessárias novas medidas de qualidade que incentivem a coordenação
e a integração dos serviços de saúde ao longo do ciclo de cuidados,
criando incentivos para que os prestadores partilhem a responsabilidade
pelo problema de saúde de cada paciente.
Tais medições ao longo de todo o ciclo de cuidados podem envolver
medidas individuais ou uma combinação de várias, e os resultados de
saúde podem ser estruturados como o estado de saúde alcançado,
resultados relacionados com o próprio serviço (medida baseada na
experiência) e sustentabilidade (quanto tempo o paciente mantém
melhorias na saúde)
[8, 17]. Estas medidas de resultados são todas relevantes para
melhorar a prestação de serviços de saúde, mas como é que as
medidas de resultados escolhidas correspondem ao valor e às
expectativas definidas pelos pacientes? A descrição de Jenny (Tabela
2) ilustra que os objetivos do paciente podem não coincidir com as
metas estabelecidas pelos profissionais de saúde para o paciente.
Nossa pesquisa anterior [18] mostrou que as medidas de resultados
definidas pelos profissionais de saúde nem sempre se alinham com
os resultados mais desejados e relevantes para
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pacientes. Estas perspectivas podem diferir, como demonstrado pela
comparação de problemas após AVC relatados em resposta a uma
pergunta aberta (problemas auto-relatados) com os problemas
capturados por três ferramentas de avaliação padronizadas e
comumente usadas, usadas para os mesmos indivíduos no mesmo
momento. . Os itens/domínios nas ferramentas de avaliação
correspondiam a apenas 15 das 24 categorias de problemas auto-
relatados, e nenhuma das ferramentas de avaliação capturou o
problema relatado com mais frequência (ou seja, fadiga).
Os resultados dos cuidados devem ser medidos ao longo de todo o
ciclo de cuidados, ser multidimensionais e levar em conta condições
complexas [9]. Porter et al. [19] sugerem vigilância nacional para
“garantir uma medição universal, consistente e justa”. Na realidade,
porém, pode ser difícil atribuir um resultado benéfico a um ciclo de
cuidados. No caso de Erik, a melhoria significativa nas atividades da
vida diária também pode ser atribuída ao serviço de ajuda ao domicílio
ou à sua esposa, que o apoiou pacientemente cada vez que ele lutava
com as roupas ou os talheres na sua ambição de recuperar a sua
independência.
Um pré-requisito para a avaliação em cuidados de saúde baseados
em valores consiste em registos que incluam dados sobre os contactos
de cuidados de saúde e as atividades de cuidados de saúde dos
pacientes. A Suécia tem uma longa tradição de registos de cuidados
de saúde de qualidade, que são monitorizados e financiados por um
comité executivo da Associação Sueca de Autoridades Locais e
fornecem dados para gestão e pesquisa. Os registos recolheram
anteriormente dados sobre processos (por exemplo, o número de
pessoas admitidas numa unidade de AVC na fase aguda do AVC) e
resultados (por exemplo, mortalidade ou complicações) e hoje em dia
os registos também incluem cada vez mais medidas de resultados
notificados pelos pacientes. (PROMs) [21] e começaram a desenvolver
medidas de experiência relatada pelo paciente (PREMs) [21]. Um
empreendimento promissor que fornecerá padrões internacionais para
que os PROMs sejam incluídos nos registros de qualidade foi iniciado
por iniciativa de um consórcio internacional para medidas de resultados
de saúde (ICHOMs) [22].
A adição de PROMs aos registros de qualidade é um
desenvolvimento promissor com potencial para aumentar a presença
de medidas de resultados que são importantes para os pacientes. No
entanto, os serviços de saúde ainda devem considerar as necessidades
e objetivos de cada indivíduo, porque os objetivos do próprio paciente
podem não ser os mesmos dos prestadores de cuidados de saúde
[23]. Em última análise, as medidas devem ser o resultado de uma
tomada de decisão partilhada entre o paciente e o prestador de
cuidados de saúde e, quando aplicável, o cuidador familiar. Assim, são
necessárias medições flexíveis que possam captar a perspectiva
centrada no paciente a um nível individual, como ilustrado pelo
objectivo de Jenny de recuperar a sua capacidade culinária (Tabela
2), embora ainda seja possível avaliar a um nível agregado. Alguns
instrumentos são projetados para
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Fig. 1 Uso de serviços de saúde por Erik (ou seja, dias passados em cuidados hospitalares e contactos com prestadores de cuidados ambulatórios)
Tabela 2 Necessidades e experiências de Jenny em reabilitação Jennya é uma
mulher de 79 anos que teve um acidente vascular cerebral há quatro dias. Ela mora sozinha
e até agora era bastante independente. Desde o derrame, porém, ela tem enfrentado problemas
para movimentar o braço e a mão direitos. Ela consegue se vestir, embora demore muito, e
tem que usar roupas mais casuais do que está acostumada, porque é difícil manusear botões
e outros fechos em roupas mais elegantes ou formais.
Ela pode comer com a mão esquerda, mas precisa de ajuda para cortar a comida. Ela acaba
de chegar à unidade de reabilitação e tem grandes expectativas para sua estadia. Ela está
muito motivada e determinada a retornar ao seu nível anterior de independência. Depois de
apenas alguns dias, Jenny recebe alta e volta para casa, onde continua as sessões de
reabilitação com sua equipe de cuidados primários de AVC. Eles a visitam uma vez por
semana e depois de seis semanas termina a reabilitação. Jenny melhorou a função dos braços e
das mãos e a equipa de AVC considera a reabilitação muito bem sucedida, mas Jenny não
regressou ao seu nível anterior de independência. Por exemplo, embora há muito tempo
ela tivesse grande prazer em cozinhar, Jenny agora precisa de serviço de ajuda domiciliar
para entregar caixas de comida para ela aquecer no forno de micro-ondas. Jenny está muito
desapontada e esperava uma reabilitação muito mais intensiva.
a
Jenny é um pseudônimo
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capturar os próprios objetivos de saúde do paciente e quão bem os
cuidados de saúde conseguem atingir esses objetivos (por exemplo,
Escala de Alcance de Metas [24, 25], a Medida Canadense de
Desempenho Ocupacional [26] e a escala de Centralização no Cliente
de Definição de Metas [27]). Mas não é suficiente medir a eficácia
apenas nas experiências dos pacientes quanto ao cumprimento de
metas; há também a necessidade de compreender até que ponto os
cuidados de saúde são bem-sucedidos em termos de satisfação dos
pacientes com os cuidados e da sua qualidade de vida relacionada com a saúde.
Foi relatada uma associação entre satisfação com o cuidado e
qualidade de vida e adesão ao tratamento [21].
Incluir e usar PREMs, que incluem tanto a satisfação com o
cuidado quanto as experiências dele, são essenciais para alcançar a
participação do paciente nos cuidados de saúde e na gestão dos
cuidados de saúde [24, 25]. Portanto, argumentamos que os PREMs
devem ser incorporados como uma medida de resultado relevante na
gestão de condições complexas e de longo prazo.
Presume-se que registros de qualidade e medições de resultados
apoiem o uso de diretrizes baseadas em evidências
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e melhorar a qualidade. Há muito que existe uma rotina de recolha e
análise sistemática de dados, a fim de compreender a qualidade dos
cuidados e identificar áreas de melhoria [28]. No entanto, estudos
demonstraram que as medições podem facilitar melhorias nos cuidados,
mas nem o registo em si nem a notificação de dados iniciam melhorias
de qualidade [29]. Assim, é necessário conhecimento sobre como os
dados que captam os resultados de saúde que são importantes para os
pacientes podem alimentar iniciativas de melhoria da qualidade em
vários contextos e como as partes interessadas envolvidas, ou seja, os
profissionais, cooperam.
Perspectiva dos cuidadores informais
A perspectiva dos cuidadores informais também deve ser considerada
na escolha de medidas de resultados em cuidados de saúde baseados
em valores. Para os pacientes que vivem com condições complexas de
longa duração, uma grande parte dos seus serviços de saúde pode ser
realizada pelos próprios pacientes como autogestão ou por outras
pessoas significativas, como ilustrado pelo caso de Erik (Tabela 1). Uma
revisão sistemática da situação dos cuidadores informais face aos
pacientes que sofreram um acidente vascular cerebral demonstrou
responsabilidades acrescidas e adicionais para os cuidadores, levando
à diminuição do tempo para lazer e trabalho remunerado [30]. Ser um
cuidador informal pode, portanto, afetar a própria saúde do cuidador [31,
32].
Momento e comprometimento das medidas na perspectiva do paciente
O momento e
a extensão das medidas relatadas pelos pacientes que são necessárias
para medir o valor também devem ser considerados. Na reabilitação do
AVC, e conforme ilustrado pelo caso de Erik (Tabela 1 e Fig. 1), estão
envolvidas várias equipas multiprofissionais (compostas, por exemplo,
por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais,
assistentes sociais médicos, fonoaudiólogos e nutricionistas). desde a
primeira fase aguda até à reabilitação contínua do paciente, resultando
numa cadeia de cuidados por vezes sobreposta. Além disso, os pacientes
que sofreram acidente vascular cerebral apresentam frequentemente
uma elevada prevalência de outras condições crónicas que podem
envolver profissionais de saúde de diversas organizações (fig. 1). No
caso de Jenny (Tabela 2), a sua perspectiva e objetivo valorizado não
foram alcançados, até onde sabemos, quando a sua reabilitação foi
interrompida.
Tudo isto requer uma consideração cuidadosa ao decidir o que,
quando e quanto deve ser medido. O que deve ser medido está
intimamente relacionado com os objectivos definidos para os serviços
de reabilitação ou de cuidados. Na nossa opinião, um serviço de saúde
verdadeiramente baseado em valores deve permitir aos pacientes
participar no estabelecimento de objectivos para a sua própria reabilitação
e determinar como os objectivos devem ser alcançados. Os prestadores
não devem envolver os pacientes apenas quando se trata de relatar os
resultados. Quando os fatores devem ser medidos está relacionado ao
ciclo de cuidado do paciente e requer
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coordenação entre os prestadores de cuidados de saúde, tanto na
continuidade dos cuidados como nos diferentes níveis de cuidados de saúde.
Além disso, os objetivos de reabilitação podem levar muito tempo para
serem alcançados; por exemplo, os resultados relacionados com a
adaptação a uma nova situação de vida ou com a resolução de problemas
da vida quotidiana podem levar vários meses ou anos a serem
alcançados. O quanto deve ser medido está relacionado com a extensão
da notificação necessária para medir adequadamente todos os serviços
de saúde prestados, sem criar um fardo demasiado grande para o
paciente.
Conclusões Este
artigo procurou refletir criticamente sobre serviços de saúde baseados
em valor para pacientes com doenças de longa duração e necessidades
complexas e apontar alguns desafios. Nos serviços de saúde baseados
em valor, as medidas de resultados relevantes com um sistema de
reembolso interligado deverão impulsionar o desenvolvimento no sentido
de uma qualidade mais elevada. Esta mudança tem o potencial de
alinhar a prestação de serviços de saúde com cuidados centrados no
paciente, numa tentativa de levar em conta a perspectiva do paciente.
Concluímos, no entanto, que as seguintes questões ainda precisam ser
consideradas antes que os serviços de saúde baseados em valores
possam ser implementados:
No desenvolvimento e estabelecimento de PROMs e PREMs,
estas medidas de resultados também devem ser padronizadas
para permitir a avaliação de condições específicas a um
nível agregado, mas ainda devem ser sensíveis o suficiente para
captar as necessidades e objetivos individuais de cada
paciente.
Devem ser desenvolvidas estratégias para gerir a
avaliação de quais resultados se relacionam com qual
desempenho. Isto é especialmente evidente em
sistemas de saúde fragmentados e para pacientes com
necessidades de cuidados de longo prazo e em vários
ambientes. Assim, os sistemas de saúde que se
esforçam por estabelecer cuidados baseados em
valores devem colaborar para além das fronteiras
organizacionais para criar trajetórias claras dos pacientes.
A avaliação das medidas de resultados não conduzirá a melhorias
de qualidade por si só. As melhorias da qualidade exigem, entre
outras coisas, conhecimento sobre como os dados que captam
os resultados de saúde importantes para os pacientes podem
alimentar iniciativas de melhoria da qualidade em vários
contextos. Assim, há desafios que precisam de ser enfrentados
antes que os serviços de saúde baseados em valores possam
conduzir à melhoria da qualidade das pessoas com condições
complexas a longo prazo.
Abreviações
ICHOMs: Consórcio internacional para medidas de resultados de saúde;
PREMs: Medidas de experiência relatada pelo paciente; PROMs: relatados pelo paciente
medidas de resultado
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Agradecimentos Os 14. Wadmann S, Strandberg-Larsen M, Vrangbaek K. Coordenação entre cuidados de saúde

autores gostariam de agradecer à Área de Pesquisa Estratégica em Ciências do Cuidado do primários e secundários na Dinamarca e na Suécia. Int J Integr Care. 2009;9:e04.

Karolinska Institutet por apoiar este estudo.

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valfriehetssystem). 2008:962.

Financiamento Não aplicável. 16. Flink M, Hesselink G, Pijnenborg L, Wollersheim H, Vernooij-Dassen M,

Dudzik-Urbaniak E, Orrego C, Toccafondi G, Schoonhoven L, Gademan P, et al. O ator principal
– um estudo qualitativo sobre a participação dos pacientes no processo de
Disponibilidade de dados e materiais Não
transferência na Europa. BMJ Qual Saf. 2012;21:89–96.
aplicável.
17. McHugh M, Joshi M. Melhorando avaliações de programas de compras baseados em valor.
BMC Health Serv Res. 2010;45:1159–569.
Contribuições dos autores
18. Tistad M, Ytterberg C, Tham K, von Koch L. Má concordância entre
Aplicamos a norma de “contribuição igualitária”. Seguimos as diretrizes do Comitê
deficiências descritas pelos pacientes e ferramentas de avaliação estabelecidas três meses
Internacional de Editores de Revistas Médicas (ICMJE) para critérios de autoria. ME, MF,
após o AVC: uma abordagem de métodos mistos. J Neurol Sci. 2012;313:160–
MN, MT, LVK, CY fizeram contribuições substanciais para a concepção e desenho do estudo,
6.
bem como para a análise e interpretação dos dados. ME, MF, MN, MT, LVK, CY
19. Porteiro MIM. Uma estratégia para a reforma dos cuidados de saúde – rumo a um sistema baseado em valores.
redigiram o artigo ou o revisaram criticamente, fornecendo importante conteúdo intelectual. ME,
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Interesses conflitantes Os
e experiência de atendimento e resultados relatados pelo paciente - uma revisão da
autores declaram não ter interesses conflitantes. literatura. Sambanden mellan tiltfredssställelse med e upplevelse vården e pacienterapporterat

utfall - uma literatura de literatura. 2013.

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Não aplicável. 22. Consórcio Internacional para Medição de Resultados de Saúde (ICHOM). http://www.ichon.org.
Acessado em 20 de novembro de 2016.
Aprovação ética e consentimento para participação Não 23. Di Blasi Z, Harkness E, Ernst E, Georgiou A, Kleijnen J. Influência dos efeitos do contexto dos
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Vården ur patienternas perspektiv—jämförelser mellan Sverige och 10 andra länder (O cuidado
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Central e nós o ajudaremos em cada etapa:
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9. Porter ME, Pabo EA, Lee TH. Redesenhar a atenção primária: uma visão estratégica para • Aceitamos consultas pré-envio • Nossa
melhorar o valor, organizando-se em torno das necessidades dos pacientes. Saúde
ferramenta de seleção ajuda você a encontrar o periódico mais relevante •
Aff. 2013;32(3):516–25.
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10. Porteiro MIM. O que é valor nos cuidados de saúde. N Engl J Med. 2010;36:2477–81.
11. Little P, Everitt H, Williamson I, Warner G, Moore M, Gould C, Ferrier K, Payne S. Preferências dos • Envio on-line conveniente
pacientes para abordagem centrada no paciente para consulta em cuidados primários: estudo
• Revisão completa por pares
observacional. Br Med J (Clin Res Ed). 2001;322:468–72.
• Inclusão no PubMed e em todos os principais serviços de
12. Instituto de Medicina (IOM). Atendimento de emergência hospitalar: no ponto de ruptura. Washington:
Imprensa da Academia Nacional; 2006. indexação • Máxima visibilidade para sua pesquisa
13. Statens ofentliga utredingar (SOU). Relatórios oficiais do governo sueco
2016:6. Cuidado eficaz (Effektiv vård). Estocolmo: Governo Sueco; 2016. Envie seu manuscrito em
www.biomedcentral.com/submit