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FICHAMENTO

Marcelo Liberato
FICHAMENTO DO TEXTO: INTRODUÇÃO À PSICOTERAPIA EXISTENCIAL

“As diferenças essenciais entre psicoterapia experiencial (humanista) e psicoterapia existencial


situam-se na forma como conceptualizam a capacidade do indivíduo para o processo de
mudança, nos conceitos-chave que estão em jogo e, ainda, na finalidade da intervenção (Villegas,
1989).”

“Na psicoterapia existencial enfatizam-se as dimensões histórica e de projeto e a


responsabilidade individual na construção do seu mundo. Visa mudança e a autonomia pessoal.”

“No essencial, a perspectiva existencial pretende ajudar o cliente a escolher-se e a agir de forma
cada vez mais autêntica e responsável.”

“A psicologia existencial é a psicologia da existência humana com toda a sua complexidade e


paradoxos (Wong, 2004), considerando que a existência humana envolve pessoas reais em
situações concretas.”

“O que caracteriza a existência individual é o ser que se escolhe a si mesmo com autenticidade,
construindo assim o seu destino, num processo dinâmico de vir-a-ser. O individuo é um ser
consciente, capaz de fazer escolhas livres e intencionais, isto é, escolhas livres e intencionais,
isto é, escolhas das quais resulta o sentido da sua existência.”

“O processo de individuação opõe-se ao conformismo com as normas e papéis sociais, o que


conduz a um funcionamento estereotipado e inibidor da simbolização e da imaginação.”

“Cada individuo centra-se na construção de significados com que luta contra o vazio e a falta de
sentido, sendo responsável (existencialmente) pela sua auto-afirmação de desenvolvimento,
estando consciente do que sentiu e pensou, do que sente e pensa e podendo antecipar o que
poderá vir a ser no fundo.”

“O desenvolvimento individual e a integração envolvem um confronto incontornável e inevitável do


individuo com os dados da existência, confronto do qual resulta experiências de ansiedade na
gestão da qual o individuo pode utilizar estratégias variadas.”

“A ansiedade é, ela própria um dado da existência com que o individuo se confronta


inevitavelmente e que pode ser experimentada de forma mais intensa e significativa mais em
certos momentos da trajetória existencial do que noutros.”

“Para May (1958), que introduziu a psicoterapia existencial nos Estados Unidos da América, a
ansiedade patológica resultaria do indivíduo não se confrontar com a ansiedade normal, sendo
esta a que deriva do confronto com os dados da existência.”

Para Yalom (1980), o comportamento perturbado surge diretamente associado ao fracasso na


resolução dos conflitos existenciais, entendidos estes como confrontos entre o individuo e os
dados da existência.”

“A psicopatologia surge quando o projeto se desvia da intenção, quando a realidade da historia


(projeto histórico) se desvia ou afasta do projeto existencial.”
“O individuo não experimenta a sua existência como uma realidade. Tematiza pelo seu passado,
na medida em que o individuo continua a viver em função de identidade e características que já
não são presentes.”

“Em princípio, a psicoterapia existencial não beneficiará significativamente indivíduos que


procuram apenas alivio de sintomas, em que o mal-estar que motiva o pedido de ajuda está
exclusivamente relacionado com representações de doença, buscam dependência ou não
desejam ou temem pôr-se em questão, não desejando confrontar-se com as suas contradições e
possibilidades de mudança.”

“As características principais do encontro terapêutico em psicoterapia existencial são: a


coerência (comportamento mútuo de co-relação), o caráter fortuito, uma vez que o encontro pode
chegar no instante de forma imprevista (acontece...), a liberdade de deixar o outro ser como é, e a
abertura a novas possibilidades.”

“O estilo terapêutico é marcado pela variabilidade adaptável às necessidades individuais,


passividade/atividade, ritmo que segue as preocupações do cliente, temas considerados e
explorados em diálogo e interesse por aquilo que interessa ao sujeito.”

“As atitudes do terapeuta permitem escrutinar o nível de consciência que o cliente tem da sua
experiência e devem também facilitar-lhe tomar ainda mais consciência de si.”

“A relação terapêutica deverá caracterizar-se por um movimento para a reciprocidade positiva, no


interior de uma relação real em desenvolvimento

“A saúde mental seria caracterizada pela abertura ao mundo próprio, enquanto as diferentes
perturbações mentais seriam caracterizadas pelo encerramento do Dasein, uma privação e
bloqueio da relação consigo mesmo, na qual o individuo se fecha ao seu mundo.”

“O método da logoterapia tem por finalidade ajudar os indivíduos que sofrem ou não de neuroses
noogénicas (espirituais) a redescobrirem o significado e propósito das suas vidas, em situações
em que o sofrimento seja induzido por fatores externos ou por fatores internos.

“Centrada no mundo próprio individual, o mundo das experiências subjetivas individuais, a


psicoterapia existencial-humanista norte-americana tem enfatizado os seguintes aspectos
essenciais: A consciência da realidade da existência é que conduz a ansiedade; a finalidade
principal da intervenção terapêutica é ajudar o cliente a identificar e superar as suas resistências
ou modos de evitamento da ansiedade existencial; o confronto com a existência implica a tomada
de consciência do mundo próprio da experiência subjetiva.”

“A perturbação esquizofrênica não poderia ser compreendida apenas em termos de


disfuncionamentos intra-psíquicos, mas sim como uma estratégia que o individuo desenvolveria
para sobreviver a determinadas situações do contexto social.”

“A finalidade seria restabelecer a capacidade do cliente se relacionar com os outros e com a


possibilidade de se encontrar com as suas necessidades e existenciais: amor, segurança
ontológica, liberdade, auto-descoberta, afirmação pelos outros e capacidade de relacionamento.”

“Assim a grande finalidade da intervenção terapêutica é ajudar o cliente a confrontar-se com a


realidade da sua situação e deixar atitudes de auto-decepção, envolvendo-se criativamente com
problemas da vida.”
“A proposta de Van Deurzen-Smith (1998, 1997) tem impregnação filosófica marcada e, em ultima
análise, pretende ajudar o cliente a identificar os seus valores mais essenciais: o que realmente
importa para ele.”

“Esta proposta é operacionalizada através de uma abordagem descritiva da experiência vivida


atual, dos modos de relação com o seu mundo em quatro dimensões: física, social, pessoal e
espiritual.”

“O objetivo da psicoterapia é facilitar ao individuo o encontro com formas de se tornar mais


coerente com o seu projeto ou, então, questionar e reformular o seu projeto.”

“A finalidade é descobrir as estruturas ontológicas da existência que se manifestam na


experiência, o que envolve três fases sucessivas (Cannon, 1993).”

“É a análise da existência que toma por objeto o projeto existencial do sujeito, isto é, a existência
enquanto projeto que tem estrutura narrativa e que é continuidade compreensível das vivências
passadas, presentes e futuras.”

“A análise da existência é a análise dessa continuidade compreensível na dialética eu/mundo que


é o projeto.”

“A análise da existência é um regresso à história (movimento analítico-regressivo) para facilitar a


compreensão do estar-no-mundo, isto é, como é que o problema atual faz parte da pessoa e qual
foi a escolha que fez de si próprio (projeto).”

“A análise da existência exige uma técnica que permita a reler a existência como um texto que
projeta a pessoa, considerando que o seu projeto existencial manifesta-se nas várias
modalidades fenomênicas (linguagem, emoções, comportamento, entre outras).”

“A análise da existência é, assim, uma análise do projeto existencial (a existência enquanto


projeto que tem estrutura narrativa), tem por objetivo a elucidação do significado
(intencionalidade), o seu método é a hermenêutica do discurso, usando a análise semântica de
textos de auto-descrição como técnica.”

“A relação de ajuda que poderá facilitar a mudança é a que ajude o cliente a (re)encontrar a sua
liberdade ontológica (condição humana) e uma maior liberdade prática (Cannon, 1993),
comprometendo-se num processo mais autêntico de criação de si próprio no seu contexto social.”

“O passado não pode ser mudado, mas pode ser assumido. O presente e o futuro são os tempos
de mudança, expansão e realização. A dimensão terapêutica centra-se na restauração da
liberdade que permita uma reconstrução alternativa da experiência.”

“A psicoterapia existencial, se estiver excessivamente centrada no chamado “mundo interno”,


pode não assumir valores de justiça, defesa dos direitos dos clientes e de solidariedade.”

“A psicoterapia existencial implica ser-se político na relação com os clientes.”

“Uma relação de ajuda existencial servirá para facilitar o exercício da liberdade de escolha, ajudar
a identificar fatores de vazio existencial e de falta de poder pessoal e a aumentar a consciência
crítica e o sentido do coletivo, facilitando atitudes positivas face à participação na vida coletiva.”
A PSICOTERAPIA EXISTENCIAL: UMA PESQUISA FENOMENOLÓGICA

“A filosofia existencial postula a liberdade humana como sendo o ponto de partida para a
construção do eu. Dessa forma, dá lugar a uma proposta indeterminista e humanista, onde o
homem é visto como totalidade.”

“Husserl, em 1884, sob a influência de Franz Brentano – que propunha uma psicologia descritiva
em oposição à psicologia explicativa – fundou a fenomenologia como método, que tem exercido
uma influência considerável nos pensamentos filosófico e científico contemporâneo e os propôs
como recurso apropriado para pesquisar a vivência – o sentido – que quer dizer o que da razão, o
que origina.”

“O método fenomenológico vai preocupar-se em mostrar, e não em demonstrar.”

“Na pesquisa psicológica, em seu sentido qualitativo, a ideia de fenômeno assumiu o sentido de
entidade enquanto coisa, pensamento, pessoa, que se mostra enquanto situada, por meio da
descrição do situar-se.”

“Segundo Binswanger, o método fenomenológico consiste em apreender uma análise existencial


ou empírico-fenomenológica de formas concretas da existência.”

“A psicologia como ciência natural interessa-se pela quantidade do vivido. As ciências do espírito
tinham como tema central a vivência do sujeito, que não é regida pela causalidade, uma vez que
depende do sentido atribuído pelo autor da conduta, supondo a liberdade.”

“A psicologia que se funda no pensamento filosófico pautado no existir, vai aqui considerar as
ideias de Heidegger; este autor enfatiza a importância da linguagem como reveladora da
articulação dos sentimentos e da interpretação frente à relação do ser com o mundo e as
reflexões de Kierkegaard como fundamento daqui que é revelado na linguagem.”

“Para conhecer a estrutura da existência, Heidegger (1989) indica o caminho da quotidianidade,


que admite não ser uma tarefa fácil, mas partindo-se da faticidade do mundo, da vida em ultima
análise e da sua historicidade é que se pode chegar ao ser. “

“O modo existencial que separa o ser-aí dos demais entes do Universo, consistindo na relação do
dasein com o mundo, é essencialmente preocupação. A preocupação impõe a presença do
mundo, a praticidade dos objetos, implicando tanto nos aspectos da vida interior como na vida
exterior.”

“Heidegger (1989), na tentativa de descrever a estrutura do dasein, afirma que este se manifesta
sob três formas ontológicas. A primeira, que é considerada a situação originária, consiste na
abertura do ser para o mundo.”

“A segunda forma ontológica consiste no fato de dar significados ao mundo.”

“A terceira constituição existencial do dasein é a discursividade.”


“A existência humana implica na relação consigo mesma e com o mundo.”

“Em psicologia, a fala é considerada o instrumento fundamental na tarefa do psicólogo.”

“Bandler e Grinder (1975) estruturam uma proposta teórica-prática em psicologia a programação


neurolinguística, a qual definem como um conjunto de técnicas que ensinam a entender os
processos internos das pessoas através da identificação dos padrões das linguagens verbal e
extraverbal.”

“Jaspers (1987) diz que na averiguação de uma psicopatologia, a comunicação se complica,


afetando o sentido do comunicar-se nos aspectos afetivos, intelectuais e até mesmo na própria
linguística.”

“O psicólogo no lugar da escuta, na compreensão do relato daquele que lhe pede ajuda, pode
apreender os pontos de desordem ou de estagnação, facilitando o discurso do cliente e
permitindo que os aspectos conflitivos emerjam.”

“Unidades de significado presentes no discurso psicoterapêutico: Culpa existencial, Angústia


Existencial, Perda do próprio referencial, Rigidez frente ao referencial próprio, Projeto de
aceitação e aprovação por parte do outro, Minimização do sofrimento, Maximização do
sofrimento, Não aceitação dos próprios limites.”

“Seja qual for a situação, a escuta do psicoterapeuta deve ser atenta, a fim de que possa atuar
através da epoquê e exercitada com rigor, segundo os princípios da investigação fenomenológica,
onde a apreensão do discurso do cliente vai se dar através da captação intuitiva e da integração
significativa.”

PSICOTERAPIA EXISTENCIAL E FENOMENOLOGIA

“Em geral, quando se faz psicoterapia, cuida-se primeiro de conhecer e definir através dos
sintomas que o cliente manifesta, a disfunção ou alteração psicológica (ou disfunções ou
alterações) que ele possui.”

“Na psicoterapia Existencial procede-se diferente. A base da relação do terapeuta com o cliente
não é a disfunção ou alteração psicológica, mas sim – de modo direto e imediato – o seu modo de
experimentar a própria vida.”

“A psicoterapia Existencial é fundamentalmente um modo pratico de investigar a existência


humana concreta, a fim de conhecê-la, compreendê-la e torna-la mais produtiva e satisfatória.”

“A psicanálise e outras psicoterapias, que estão centradas nos procedimentos técnicos, devem
necessariamente, para realizar o tratamento, fazer do homem um mecanismo que se observa,
analisa, diagnostica.”

“A psicoterapia Existencial assume uma posição oposta à daquelas forças psicoterápicas que
desejam salvar o homem ao preço de sua própria alienação. Ela é, antes de tudo, um humanismo
porque está interessada em salvar tudo que é humano e procurar resgatá-lo, quando foi perdido,
por todos os meios.”
“O Tema básico da Psicoterapia Existencial é a responsabilidade que o cliente deve ter pela sua
própria vida e a maneira de construí-la eficazmente para torna-la produtiva e satisfatória.”

“O homem não recebe sua existência como uma obra já pronta e acabada. Enquanto vive ele
deve ir progressivamente construindo-a. E o individuo constrói a vida, construindo-se a si
mesmo.”

“O processo de construção de si e da vida é realizado pelo homem através das escolhas que faz
e de das decisões que toma. Por este meio é que ele define vivencialmente a sua identidade
pessoal (o que ele é realmente) e dá uma direção à sua vida.”

“A psicoterapia Existencial busca realizar este propósito de modificação, por meio de um


processo bem trabalhado, cuidadoso e geralmente lento, isto é, bem assimilado e sem
precipitação.”

“Um dos trabalhos mais significativos do terapeuta existencial é ajudar o cliente a tomar uma
consciência vivencial da importância que tem o uso da sua liberdade para se realizar como
pessoa da maneira de exercitá-la para alcançar este objetivo e do modo de assumir a
responsabilidade que decorre deste exercício.”

“Um dos trabalhos mais importantes do terapeuta é ajudar o cliente a discernir de forma teórica e
pratica, até onde chega sua responsabilidade e a dos outros nas interferências que acontecem na
sua vida.”

“Quando são os outros que escolhem e decidem no lugar do individuo, são estes que o
constroem, moldando-o, como desejam, naquilo que escolhem ou decidem por ele.”

“O processo de terapia deve ajudá-lo a tomar consciência, conhecer e compreender as situações


de inautencidade em que ele se encontra pela auto-violação de sua liberdade e pela negação de
si mesmo.”

“Existem momentos, porem, em que a escolha se torna mais difícil e, às vezes, muito complicada,
por entrarem em jogo valores que o individuo considera fundamentais para a sua vida, como
acontece em certas situações em que deve ser feito um rompimento amoroso, uma troca de
emprego, a escolha de um novo estado de vida, uma separação conjugal.”

“Estas crises são partes integrantes a vida e, num ou noutro momento, todos passam
inevitavelmente por elas. Costumam surgir de maneira brusca, perturbando o processo normal da
existência e produzindo um desequilíbrio que pode ser mais ou menos intenso e grave, conforme
o caso em que ocorra.”

“As crises são uteis porque, colocando o individuo em situações embaraçosas e desconfortáveis
servem para impulsiona-lo a fazer novas escolhas e tomar novas decisões, que possam conduzi-
lo a um reinicio de vida mais construtiva e mais adequada às suas possibilidades e exigências
atuais e às circunstâncias em que está vivendo.”

“As crises existenciais não foram feitas para destruir o homem, como pode parecer à primeira
vista e como geralmente sentimos. Elas agem como uma espécie de empurrão (geralmente
doloroso), dado pela vida, para que a pessoa siga em frente.”

“A crise é um instrumento precioso para purificar e modelar a existência, tornando-a mais genuína
e produtiva.”
“Convém notar que a crise só aparece porque a existência do homem não é estática, mas
dinâmica. A vida se encontra em processo constante de transformação.”

“Ser é afirmar a própria vida, conservando-a e aperfeiçoando-a. É transformar suas meras


possibilidades em capacidades reais. É ter fidelidade para consigo mesmo, não querendo ser
mais e também não procurando ser menos que sua própria realidade.”

“Não ser é a morte, a negação de si, a infidelidade para consigo, a frustração das próprias
potencialidades e da realização pessoal. E representar o papel falso da pessoa que ele não é, na
busca de atrair a estima, a admiração e o prestígio dos outros.”

“Angustia e Medo são conceitos correlatos, mas diferentes. O medo pode gerar angustia e vice-
versa. O medo é o sentimento que temos diante de um perigo que pode ser determinado e
apontado. O medo só aparece quando o individuo sente-se impotente para enfrentar o perigo e
não tem meios para evitá-lo ou para fugir dele.”

“A angustia sempre indica a existência de um problema significativo para a nossa vida que, se
não for logo resolvido, poderá destruir ou frustrar algo de muito importante para nós.”

“A angustia neurótica se desenvolve exatamente por este motivo, porque o individuo não soube
enfrentar a angustia normal gerada por um conflito e, para evitá-la, tentou esquecê-lo, colocando-
o como fundo da consciência.”

“A angustia neurótica, por outro lado, é uma reação desproporcional à ameaça do perigo objetivo,
envolve repressão e outras formas de conflito intrapsíquico e é controlada por várias espécies de
bloqueios da atividade e da consciência, como as inibições, o desenvolvimento de sintomas e os
diversos mecanismos de defesa neurótica.”

“A Psicoterapia Existencial pretende criar condições favoráveis para que o cliente, através de
uma reflexão profunda e compartilhada pelo terapeuta, possa examinar a própria vida.”

“Esta analise reflexiva deve levar o cliente a tomar consciência dos seus modos inautênticos de
ser e de agir, a conhecer e compreender os fatores conscientes e inconscientes que os provocam
e que os mantêm para corrigi-los e transforma-los, realizando assim modificações construtivas em
sua personalidade.”

“Maslow afirma que só é bom para o homem o que pode conduzir ao desenvolvimento desejável
na direção da atualização da natureza humana.”

“Chama-se a vivencia os fatos vividos pelo individuo, mas não todos. Tudo o que o indivíduo vive
é experiência. As vivencias são experiências feitas com impacto emocional e que deixaram
marcadas de uma certa intensidade.”

“A psicoterapia Existencial procura cumprir seus objetivos através de um relacionamento entre


terapeuta e cliente que tem a feição de um verdadeiro encontro humano.”

“A tarefa principal do terapeuta existencial no encontro é procurar compreender o seu cliente, não
apenas no que ele manifesta diretamente por palavras e gestos, mas também no significado, sem
sempre claro, que ele da á vida e que se revela, de forma ampla, pelo seu próprio modo de ser e
de agir.”

“Tanto a orientação existencial como a fenomenologia são, cada uma de seu modo, formas de
abordagens humanistas, que aplicamos à Psicoterapia. Colocam o ser humano como centro e
medida do processo considerando que se encontram dentro dele as fontes e forças mais
relevantes para a sua construção, transformação e aperfeiçoamento.”

“Quando um psicoterapeuta afirma que segue a orientação fenomenológica está querendo dizer
(entendida esta afirmação de forma sumária e simples) que a base para sua terapia são os
fenômenos que se encontram na consciência do cliente, ou seja, a maneira como este percebe e
sente a realidade.”

“Fato é o que se diz estar presente na realidade e fenômeno é o que está presente na
consciência do individuo.”

“A base do trabalho que o fenomenologista realiza como terapeuta, não se encontra nos “fatos”,
mas nos “fenômenos” que lhe são transmitidos pelo relato do cliente. Conhecer e compreender o
“mundo interior” do cliente é conhecer e compreender os “fenômenos” que povoam a sua
consciência tal como ele os conhece, compreende e sente.”

“Fenômeno é uma “percepção” da realidade.”

“Um ponto fundamental para o fenomenologista é que o comportamento do individuo não é uma
reação à realidade como tal, mas, sim, ao significado que ele lhe atribui. Quer dizer, o individuo
se comporta como resposta ao significado que ele dá ao que existe.”

“No processo de psicoterapia a mudança da “percepção” do cliente segue também este caminho:
não se realiza pela força das argumentações ou das sugestões do terapeuta, mas por meio de
uma “iluminação” do entendimento que lhe permite fazer uma descoberta, à qual se dá o nome de
insight.”

“O insight usa-se este termo para indicar uma “descoberta” súbita de um novo significado para
alguma coisa, proporcionada por uma compreensão mais profunda que se tem da mesma.”

“Assim como a pessoa tem uma percepção das coisas que a rodeiam, possui também uma
percepção de si. Chama-se de auto-imagem à configuração destas percepções. Ela constitui a
“versão” que o indivíduo tem a respeito de sua própria pessoa e que, pelo menos sob muitos
aspectos, não coincide com que os outros pensam a seu respeito. Mas, apesar disso, a auto-
imagem é sempre vista por ele como a expressão da “verdade” daquilo que ele é.”

“A “consciência”, sob o ponto de vista da Fenomenologia, não é uma espécie de reservatório


fechado sobre si mesmo, como se fosse uma caixa, onde se encontram trancados os estados
interiores do homem. Mas, ao contrário, ela está sempre “voltada para fora”, procurando “saber” o
que acontece em volta de si.”

“Assim para o terapeuta fenomenologista, o importante é a consciência e não o inconsciente.


Mas, nem por isso é necessário negá-lo.”

“Sob o ponto de vista fenomenológico, há diversas maneiras de se conceber o inconsciente. De


modo simples, May o considera como sendo aquelas potencialidades de conhecer e experimentar
que o indivíduo não quer ou não pode atualizar.”

“Para Rogers, as experiências inconscientes existem. E, para explicá-las, ele se utiliza


conhecidos termos da Psicologia da Forma, de figura e fundo. Diz que tais “experiências”
encontram-se naquela parte do campo fenomênico em que não chega à luz da consciência e que,
por isso, não podem se tornar figura. Elas permanecem, portanto, “ali mesmo”, na consciência, e
só não podem ser “vistas” porque estão como fundo.”
“Podemos dizer, em termos gerais, que a Fenomenologia é o estudo dos fenômenos, isto é, dos
“fatos”, como são apreendidos pela consciência. Ela possui, no entanto, uma característica
fundamental que é a de procurar compreendê-los pela observação direta e não por meio de
teorias.”

“A base que permanece inalterável para o fenomenologista é esta: a compreensão do fenômeno


virá sempre da observação direta e imediata do próprio fenômeno. O uso da teoria não antecede,
mas vem depois da compreensão obtida pelo ato de observar. Neste caso, a compreensão pode
ser complementada, confirmada e/ou consolidada pelas contribuições que as teorias oferecem.”

“A fenomenologia se interessa pelo tempo presente. O diálogo psicoterápico é do “aqui e agora”.


Mas, não podemos tratar o nosso cliente como se não tivesse um passado, uma historia. Existe
uma forma do fenomenologista “trabalhar este passado”, sem negá-lo. É levando em
consideração as experiências anteriores pelo modo como afetam as percepções atuais, isto é,
como interferem na maneira do indivíduo ver, sentir e reagir diante da realidade de agora.”

“O método fenomenológico. Para que se possa ir diretamente às coisas, mas de uma forma
sistemática, a fenomenologia utiliza um “método” – o “método fenomenológico” - que é regido por
dois princípios: um positivo e outro negativo. O primeiro determina que se apreenda
intuitivamente a essência do “fenômeno”. O segundo estabelece que, para intuir a essência,
torna-se necessário a libertação de qualquer interferência alheia ao fenômeno e de qualquer
preconceito.”

“O insight aparece, portanto, como fecho conclusivo para encerrar o processo de compreensão
que o diálogo terapêutico procurava. “O esclarecimento fenomenológico” manifesta, de forma
descritiva, esta compreensão que foi obtida.”

“É o esclarecimento fenomenológico que contém, digamos assim, a “profundidade” da


compreensão do fenômeno. Por isso, qualquer diálogo psicoterápico deve ser feito com o intuito
de buscá-lo.”

“A raiz de todo distúrbio psicológico é sempre um conflito. Maslow diz que entre os estudiosos do
assunto existe praticamente um consenso em afirmar que os distúrbios psicológicos tem a sua
origem e são mantidos pelo “conflito” e pela “frustração.”

“De modo geral, o que ocasiona conflito é o receio de uma escolha ser malfeita e frustrar
necessidades e desejos, quer no presente ou na previsão do futuro. Por isso, pelo temor desta
frustração, o conflito pode ser mantido.”

“Na psicoterapia de que estamos tratando, o caminho para resolver esta situação é transformar o
referido conflito em figura, para poder ser analisado e solucionado, como qualquer conflito
normal.”

“Chama-se, portanto, de reação anormal à forma inadequada do individuo se comportar devido a


distorções perceptivas.”

“Os distúrbios psicológicos não devem ser considerados como “enfermidades” e nem se deve
chamar de “doentes” quem é afetado por eles.”

“A analise das vivencias é um dos recursos mais uteis e eficazes que se pode ter para a
compreensão mais profunda das reações do cliente.”
“Acontece porem que o tema central do diálogo psicoterápico, na orientação existencial e
fenomenológica, é a própria vida do cliente. Este ajudado pelo terapeuta, vai evocar e refletir
sobre suas experiências para conhecer e compreender os seus comportamentos e os desejos e
necessidades que os motivaram.”

“Convém notar, porém que, no caso de “motivação”, a busca da “causalidade” não é feita de fora,
pela observação de alguém (como acontece nas ciências naturais), mas pelo próprio indivíduo
que procura dentro de si a explicação de seus comportamentos.”

VERSÕES DE SENTIDO: UM INSTRUMENTO FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL PARA A


SUPERVISÃO DE PSICOTERAPEUTAS INICIANTES

“É comum que os psicoterapeutas iniciantes tenham uma parca apreensão dos conceitos e dos
temas dos enfoques teóricos que adotam, bem como de seus recursos técnicos e de seu
manejo.”

“Entretanto, se o psicoterapeuta deve estar plenamente presente no processo psicoterápico, aí


deve estar incluída, certamente, a sua racionalidade, sem excluir as vivências emocionais e
intuitivas propiciadas por um enfoque de psicoterapia que se propõe a lidar com indivíduos plenos
e sem dicotomias e com seu sofrimento psíquico.”

“A omissão da realização de seu próprio processo psicoterápico pessoal é um serio agravante da


situação do psicoterapeuta iniciante, com repercussões preocupantes no acompanhamento dos
pacientes, como o mau manejo de sentimentos negativos, tanto do psicoterapeuta quando do
paciente.”

“Quanto mais familiarizados conosco mesmos, menor a ameaça que sentimos diante do que
encontramos (Benjamin, 1978: 23).”

“Desta forma, é razoavelmente comum que psicoterapeutas iniciantes estejam tão preocupados
consigo mesmo que, lamentavelmente, podem mesmo esquecer seu compromisso com seus
pacientes e/ou com suas tarefas.”

“É comum que se enfatize a importância essencial do embasamento teórico do psicoterapeuta,


mas é menos frequente que se discutam os riscos de um apego à teoria, ou seja, a tendência de
muitos psicoterapeutas iniciantes a servir à teoria como uma defesa contra suas próprias dúvidas,
adotando uma atitude formal, intelectual ou perfeccionista.”

“Neste sentido Calligaris (2004) alerta que a orientação terapêutica na qual você se formou ou
está se formando [...] não é uma ideologia, nem uma fé na qual seria preciso que você
acreditasse, nem uma espécie de dívida que você contraiu com seus mestres e que o forçaria a
se fazer seu repetidor e arauto fiel (Calligaris, 2004: 65).”

“Além da importância do investimento na fundamentação teórica-técnica, Moreira (2001) destaca


o valor da experiência vivida do psicoterapeuta iniciante para a sua formação, e,
consequentemente, da submissão a seu próprio processo psicoterápico.”

“Calligaris (2004) destaca alguns traços de caráter que considera desejáveis em quem deseja se
tornar psicoterapeuta: gosto pronunciado pela palavra; carinho espontâneo e extrema curiosidade
pela variedade da experiência humana, gerada da variedade “animada” de sua própria vida, com
o mínimo possível de preconceito; e uma boa dose de sofrimento psíquico.”

“É na mesma direção de Ribeiro (1986) destaca que o psicoterapeuta não é um deus onipotente,
é um homem consciente de suas fragilidades.”

“Para Calligaris (2004), “de fato, se a psicoterapia faz seu efeito, o paciente para de idealizar o
terapeuta” (Calligaris, 2004: 7). De fato, no processo psicoterápico, “há muitos momentos em que
é inevitável que o paciente nos considere e nos use como modelos” (Ibid.:148). Entretanto, “a
identificação dos pacientes conosco nos impõe uma responsabilidade”.”

“Neste sentido, Cardoso (1985) destaca que a maioria dos psicoterapeutas, dos mais diferentes
referenciais, concorda que a função da supervisão do psicoterapeuta iniciante é “leva-lo a
perceber o quanto de idealizado existe em sua atuação, quanto de sua vivência como pessoa
atua no processo terapêutico, sem esquecimento do natural auxílio ao seu desenvolvimento
teórico e aperfeiçoamento técnico” (Cardoso, 1985: 11).”

“Da mesma forma, Ribeiro (1999) destaca que “o psicoterapeuta não pode e não tem de decidir
nada para o cliente, mas pode decidir com o cliente, num encontro profundo que de fato
contamine a totalidade da relação” (Ribeiro, 1999: 29).”

“O uso da técnica deve ser cauteloso e fundamentado numa estratégia que sintetize a teoria e a
prática do psicoterapeuta e o vínculo entre vivencia, compreensão, pensamento e ação entre
psicoterapeuta e paciente.”

“A tarefa da psicoterapia, conforme Cardoso (1985) inclui o conhecimento teórico, a vivência


técnica, o vínculo autêntico com o paciente, a satisfação com o trabalho, além do
desenvolvimento pessoal do outro e de si mesmo como seres humanos.”

“Podemos definir a psicoterapia como um processo interpessoal que envolve psicoterapeuta e


paciente por meio de contatos verbais e não-verbais, com objetivo definido de auxílio às
dificuldades emocionais do paciente, visando à sua própria integração à vida (Cardoso, 1985).”

“A literatura teórica é um ponto de apoio essencial e de referencia ao psicoterapeuta, mas não


basta por si mesma, devendo sempre ser adotada com flexibilidade, fundamentando e sendo
fundamentada pela prática profissional, pelas vivências pessoais, pela supervisão e pela
psicoterapia do próprio psicoterapeuta. Neste sentido, as atitudes e as posturas do psicoterapeuta
não podem ser ensinadas, mas podem ser aprendidas.”

“A aceitação e respeito são atitudes compreensivas fundamentais na facilitação da busca do


paciente por meio do encontro existencial propiciado pela psicoterapia.”

“Desta forma, para Calligaris (2004), a função do psicoterapeuta não é ensinar seus pacientes
nem “mexer” com suas vidas, mas favorecer a conscientização dos desejos dele.”

“A função da supervisão de um jovem terapeuta ou analista, salvo situações catastróficas, deve


ser autorizar o terapeuta, inspirar-lhe confiança...” (Calligaris, 2004): 124).”

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