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FUTURO E FUTURABILIDADE

Da modernidade à abertura dos possíveis


FUTURE AND FUTURABILITY/FUTURO Y FUTURABILIDAD
Historiografia, ideários e regimes de historicidade

MIRANDA, Clara Luiza


Doutorado em Comunicação e Semiótica; Profa. Associada no PPGAU-UFES
claravix50@gmail.com
MARGOTTO, Mário Victor Marques
Mestrado em Arquitetura e Urbanismo; Doutorando no PPGAU-UFES
mvmmargotto@gmail.com
RESUMO

O artigo relaciona dimensões temporais, historicidades, crítica de arquitetura


e setores relacionados. Buscamos compreender as modulações de
temporalidades coexistentes, que designam posições distintas nas disputas no
campo historiográfico, tanto na modernidade como na contemporaneidade.
Duas inflexões no regime de historicidade vigente motivaram essa reflexão. A
primeira denominamos historicista, com franco contraste ao ímpeto futurista
anterior. A segunda inflexão está em disputa no campo, seria: presentismo?
atualismo? ou futurabilidade? Mostramos uma coexistência de historicidades
na modernidade, predominando um presente-futuro ou uma iminência do
futuro, que persiste no período contemporâneo de modo pluriversal,
intercultural e pró comum. Assinalamos que, se há uma ruptura ou brecha no
regime de historicidade, advém da Decolonialidade. Essa ruptura decisiva é
uma das condições de possibilidade da abertura dos possíveis da
futurabilidade; a outra condição requer o fim da irracionalidade do capitalismo.
Pois, justamente a indissociabilidade entre Modernidade e Colonialidade se
expressa por meios desfuturizantes, sendo um obstáculo ao reconhecimento
das cronologias plurais, que se opõem ao tempo único universal da
Modernidade Capitalista.

PALAVRAS-CHAVE Futuro; Futurabilidade; Historicidades; Desfuturização;


Decolonialidade.

ABSTRACT

This paper relates temporal dimensions, historicities, architectural criticism,


among other related subjects. Seeks to comprehend the modulations of
coexisting temporalities, which designate different standpoints within the
historiographical field — both in modernity and contemporaneity. It is
motivated by two inflections in the current historicity regime. The first one is
the historicist, in contrast to the previous futurist impetus. The second one is
at debate, would it be: presentism? updatism? or futurability? The study shows
a coexistence of historicities in modernity, predominating a present-future or
an imminence of the future, which persists nowadays in a pluriversal,
intercultural and pro-commons way. Thus, it points out that if there is any
rupture or breach in the historicity regime, it derivates from Decoloniality. This
decisive rupture is an essential condition for opening up the possibilities for
futurability; the other condition requires an end of the irrationality of
capitalism. Therefore, it is precisely the inseparability between Modernity and
Coloniality that is expressed by defuturing means, being an obstacle for
recognizing plural chronologies, in opposition to the ubiquitous and universal
time of Capitalist Modernity.

KEY-WORDS Future; Futurability; Historicities; Defuturing; Decoloniality.


INTRODUÇÃO
“O desafio é habitar vários mundos e formas diversas de inteligibilidade ao mesmo
tempo, num gesto [...] de vai e vem que autoriza um pensamento da travessia e da
circulação. [...] Reconhecer que existem cronologias plurais do mundo que habitamos e
que a tarefa do pensamento é atravessar todos esses feixes [...]” — Achille Mbembe

Esta reflexão, que relaciona dimensões temporais, historicidades, crítica de arquitetura e


da cultura, foi motivada por duas inflexões recentes, no regime de historicidade, que
provocaram transformações na estrutura de percepção do mundo, na sua leitura, mesmo
na relação com ele. Tais eventos delinearam trajetórias 1 com durações próprias e
consequências de alcance distinto. A primeira inflexão chamaremos de historicista, a qual
interrompe o ímpeto em direção ao futuro, já no fim do luto com o declínio das vanguardas
e podemos dizer que se encontra em processo de expiração. A segunda inflexão está
vigente e em disputa: presentismo? atualismo? futurabilidade?
A inflexão historicista se plasma com a emergência de uma nostalgia da história, que nos
anos 1980, desabrocham numa grande onda da memória. Sendo o patrimônio, “seu alter
ego, mais visível e tangível”, a ser “protegido, repertoriado, valorizado, mas também
repensado” (HARTOG, 2013, p. 24).
Nesse contexto historicista, o desconstrutivismo posiciona-se de modo distinto em relação
ao passado, pois “a desconstrução não se ocupa do novo, mas do familiar, do velho”.
Trata-se de localizar “as divisões, rupturas e quebras dentro do sistema, os elementos
instáveis que organizam a estrutura a partir de dentro”, como recurso discursivo ou
projetual (WIGLEY, 1996, p. 196). De certo modo, o desconstrutivismo, como um reverso
do historicismo do século XX, acerca-se da noção de “estranhamente familiar” (VIDLER,
2006), próximo ao conceito de unheimlich de Freud.
Pode-se dizer que tanto o historicismo quanto o desconstrutivismo geraram filiações e
posicionamentos nos debates sobre sua relação com o passado imediato (o Modernismo,
a Arquitetura Moderna, a Modernidade). O período operativo destas tendências converge
com mudanças significativas na forma de acumulação do capitalismo global, com a
crescente hegemonia do capital financeiro, o declínio do Estado do Bem-estar Social, a
revanche a maio de 1968, aos avanços das tecnologias da comunicação e da informação.
Tais eventos e fatos geraram expressões culturais em torno do questionamento sobre o
futuro, “algo que era óbvio nos séculos XIX e [meados do século] XX, ou seja, que futuro
e progresso são equivalentes” (BERARDI, 2019, p. 18), seguido por um diagnóstico de
um futuro catastrófico.
Massey (2008, p. 100) repara que a espacialização da globalização acarreta
deslocamentos da compreensão da modernidade. Concordamos com ela que a “ruptura

1
“Trajetória e estória significam, simplesmente, enfatizar o processo de mudança em um fenômeno. Os
termos são, assim, temporais em sua ênfase, apesar de que, eu defenderia, sua necessária espacialidade
[...]” (MASSEY, 2008, p. 33).

• 1
decisiva” na narrativa da Modernidade, que conduz ao reenquadramento do termo, advêm
de autores do Pós-Colonial e da Decolonialidade. Os autores dessa corrente demonstram
a indissociabilidade entre Modernidade e Colonialidade, sendo a Decolonialidade uma
“resposta necessária tanto às falácias e ficções das promessas de progresso e
desenvolvimento que a modernidade contempla, como à violência da Colonialidade”
(MIGNOLO, 2008). Essa ruptura decisiva é uma das condições de possibilidade da
abertura dos possíveis, da futurabilidade. No quadro de referência da Descolonialidade,
Enrique Dussel designa um projeto de coexistência e co-realização de trajetórias múltiplas
e de afirmação da interculturalidade.
Não faz parte do escopo deste artigo verificar que as crises contemporâneas consistem
num novo regime de historicidade, porém buscamos compreender a engrenagem entre
passado, presente e futuro na análise desses discursos e conceitos, que são termos da
definição de um regime de historicidade. Abordaremos as temporalidades como
coexistentes, apontando que o modo como são moduladas constituem um diferencial no
posicionamento nas disputas no campo historiográfico, com repercussão na crítica. No
entanto, assinalamos que pode haver o comando de alguma dimensão temporal,
conforme o discurso, corrente ou período histórico.
Por exemplo, no movimento moderno há momentos em que o futuro comanda — no
Futurismo e na difusão dos lemas do projeto moderno: emancipação, inovação, progresso
e desenvolvimento. De fato, a compreensão da Modernidade foi realizada no registro da
temporalidade, conforme Jürgen Habermas (2000), observamos que a modernidade é
conotada como “uma época”, frequentemente um Zeitgeist. Verificamos aí uma evidência
do presente atravessando o continuum da história, como transição para o futuro — um
presente-futuro. Este advém como uma “aurora”, uma revelação de um período de
realização, de liberdade, de progresso da consciência e de promessas. Habermas (2000,
p. 10) constata que Hegel compreende a

[...] simultaneidade cronológica de desenvolvimentos historicamente não simultâneos.


Constitui-se então a representação da história como um processo homogêneo, [...]. O
espírito do tempo (Zeitgeist), [...], caracteriza o presente como uma transição que se
consome na consciência da aceleração e na expectativa da heterogeneidade do futuro.

Por fim, as modulações de temporalidades hegelianas convergem com observação sobre


a “co-presença de historicidades heterogêneas” na Modernidade. Pois, para ele, é no
regime anterior que o antigo se opõe à Modernidade (RANCIÈRE, 2005, p. 35). Na
discussão da modulação temporal do Movimento Moderno, abordaremos Sigfried Giedion,
Reyner Banham e Manfredo Tafuri. Ainda, apostamos na perspectiva de que essa
coexistência de historicidades heterogêneas persiste, contudo, de modo pleno, no período
contemporâneo desde uma perspectiva pluriversal, intercultural e pró comum, ainda
virtual.
Neste artigo, interessa-nos pensar as concepções de futuro no âmbito de expectativas
catastróficas e escatológicas evidenciadas no contexto de uma crise sanitária e climática,
de um controle psicopolítico do futuro (HAN, 2014) e do “presente hegemônico” (AUGÉ,

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2012). Registramos, ainda, enunciados como o “presentismo” (HARTOG, 2013) e o
“atualismo” (PEREIRA e ARAÚJO, 2016; 2019). Notadamente, abordaremos alternativas
como a “futurabilidade”, ou seja: “a intrínseca pluralidade de futuros possíveis inscritos
no presente” Berardi (2019). Consideramos tal pluralidade mediante contra-enunciados
— outros modos de conhecer e de fazer mundo — ao hegemônico programa único da
“humanidade”.

REGIME DE HISTORICIDADE, ENGRENAGENS PASSADO-PRESENTE-FUTURO


DA MODERNIDADE
Um regime de historicidade é uma maneira de “engrenar passado, presente e futuro”,
conforme Hartog (2013). O autor se inspira no historiador alemão Reinhart Koselleck que
aborda as experiências temporais da história, buscando “como, em cada presente, as
dimensões temporais do passado e do futuro haviam sido correlacionadas” (KOSELLECK
apud HARTOG, 2013, p. 28). Nesse quadro, Hartog (2013, p. 13) interessa-se em
investigar as tensões existentes entre campo de experiência e horizonte de expectativa,
atento aos modos de articulação do presente, do passado e do futuro.
O termo “historicidade” expressa a forma da condição histórica e a relação com o tempo
de diferentes sociedades, coletividades e até mesmo indivíduos, enfatizando
particularmente os momentos de crise do tempo e suas expressões, visando produzir
mais inteligibilidade (HARTOG, 2013, p. 13). Ainda, a operacionalidade do termo “regime”
consiste no seu entendimento como “mescla, composto e equilíbrio sempre provisório ou
instável” (HARTOG, 2013, p. 11). Confere ao regime de historicidade o potencial de captar
a diversidade de historicidades configuradas desde um “conjunto de experiências
estratificadas e difusas” (ARGAN, 1992b), podendo também ser empregado em diversas
escalas.
No entanto, Jacques Rancière (2005, p. 27) adverte que “uma coisa é a historicidade
própria a um regime das artes em geral. Outra são as decisões de ruptura ou antecipação
que se operam no interior desse regime”. Conforme Rancière, o regime poético das Belas
Artes ou representativo, que hierarquiza maneiras de fazer e apreciar artes, é contraposto
pelo regime estético que opera a simultaneidade entre a autonomia da arte e a indistinção
da arte das outras práticas sociais — trata-se de uma nova maneira de lidar com a arte,
de fazer arte e de sua relação com a experiência da vida coletiva e cotidiana, uma nova
maneira de lidar com o “antigo” (RANCIÈRE, 2005, p. 34).
Latour (1994) está certo quando diz “a modernidade possui tantos sentidos quantos forem
os pensadores”. Para ele,

Quando as palavras “moderno”, “modernização” e “modernidade” aparecem, definimos, por


contraste, um passado arcaico e estável. Além disso, a palavra encontra-se sempre
colocada em meio a uma polêmica, em uma briga onde há ganhadores e perdedores, os
Antigos e os Modernos (LATOUR, 1994, p. 15).

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No entanto, o moderno não estabelece uma relação “antropoêmica” com o antigo, mas
“antropofágica” (LÉVI-STRAUSS apud BAUMAN, 2001), ou seja, não efetua uma
estratégia de aniquilação do antigo, porém sua suspensão ou assimilação. Conforme
Rancière, o regime estético (a modernidade) é justamente “um novo regime de relação
com o antigo”, as revoluções e rupturas são encetadas simultaneamente ao advento dos
museus, a ideia de patrimônio e a criação da história da arte. Ainda para Rancière
(RANCIÈRE, 2005, p. 37): “A modernidade [também] gostaria que houvesse um sentido
único, quando a temporalidade própria ao regime estético das artes é a da co-presença
de historicidades heterogêneas”.
É fato que há uma modulação de coexistência de historicidades na modernidade, embora
se destaque o futuro, melhor dizendo, a iminência do futuro no âmbito das vanguardas
artísticas. Conforme Habermas (2000), as vanguardas sancionam a consciência histórica
moderna, sua relação com o passado que se orienta para empresas futuras e para um
progresso indefinido. As vanguardas artísticas se colocaram como um dispositivo de
antecipação estética das transformações da sociedade industrial, “revolucionando
radicalmente as modalidades e finalidades da arte”, ao atuar diretamente na realidade
histórica, mediante aspectos programáticos, que conduzem uma “política própria”
(ARGAN, 1992a).
Rancière (2005, p. 43) enfatiza especificamente o sentido das vanguardas de “invenção
de formas sensíveis e dos limites materiais de uma vida por vir”. Outro fator destacado
por Rancière é a atribuição de visibilidade a “qualquer um”, a emergência de um novo
tipo de sensorium comum, um senso comum paradoxal. Este “é político na medida em
que ele é sede de uma indiferença radical”, também consiste na denúncia de uma
estrutura de distribuição de ocupações (esfaceladas, como a do trabalhador sem os meios
de produção) e de posições de classe.
São inúmeros os motivos do declínio do regime estético, da insustentabilidade do modelo
teleológico da modernidade. Nesse contexto, Rancière (2005) enuncia o regime pós-
moderno que converge cronologicamente com a inflexão historicista referida no início do
artigo. Contudo reiteramos que o interesse do artigo se coloca na “engrenagem” entre
passado, presente e futuro, enfatizando, sobretudo a modulação do futuro, no discurso
dos historiadores e críticos da arquitetura: Banham, Giedion e Tafuri pelos modernos; e
os contemporâneos: Berardi (futurabilidade), Escobar (pluriversalidade) e Fry
(desfuturação). Assinalamos também que o campo da arquitetura, nomeadamente, o
segmento da crítica de arquitetura, inclusive a crítica operativa, manifesta regimes de
historicidade singulares, senão, procede suas próprias modulações ou hibridações de
historicidades, nem sempre sincrônicas com a história geral.
Mais do que isso, conforme Pallasmaa (2017, n.p.), a arquitetura e outros artefatos
funcionam como mediações entre o espaço e o curso do tempo, conferindo medidas
humanas às escalas temporais que excedem nossas capacidades de percepção e de
compreensão como tempo cósmico e geológico, por exemplo. Quer dizer: “vivemos no
espaço, também habitamos o tempo”. Para Pallasmaa, a ideia é de que a aceleração afeta
as noções e experiências com o tempo, substituindo-as pelas de espaço. A sentença nos

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parece um fator adicional na dificuldade de pensar o tempo. Hartog (2013, p. 26) elenca
outras dificuldades: não pensamos o tempo ou não “pensamos nele”; a naturalização e a
instrumentalização do tempo pelo hábito. Entre as dimensões temporais, a do futuro
apresenta-se como a mais inacessível à mente humana, por outro lado, constituímos o
futuro como uma modalidade de percepção e de imaginação, de espera e de avanço,
como diz Berardi (2019). Como veremos, tal modalidade se forma e se transforma no
curso da história, mesmo no curto período aqui considerado.
O primeiro Manifesto Futurista publicado em 1909 por Filippo Tommaso Marinetti,
conforme Berardi (2019), pode ser considerado a primeira manifestação “consciente” do
“século que acreditou no futuro”. Em seus manifestos, “os futuristas bradam com
arrogância o advento do reino da máquina, da velocidade e da guerra”.
Contudo, os futuristas são uma exceção de uma regra geral, conforme Banham (apud
WHITELEY, 1990). Pois, para ele, os arquitetos pioneiros do Movimento Moderno são tão
classicizantes como os seus predecessores da Academia e o estágio tecnológico deles era
“superficial, simbólico e estilístico”. Para Banham (apud WHITELEY, 1990, p. 208, trad.
nossa), os futuristas tanto consideraram a condição fundamental da tecnologia como
perceberam que “a única constante era a mudança”, ao contrário dos demais
modernistas. Por isso, os historiadores modernistas, como Giedion, excluíram e
esconderam o Futurismo do público. Na interpretação de Whiteley (1990), Banham
compreende os Futuristas como um autre do Modernismo. Enquanto “os modernistas
sachlichkeit [objetividade] ajustam a tecnologia à estética clássica, os futuristas buscam
uma nova estética baseada na condição tecnológica” (BANHAM apud WHITELEY, 1990, p.
208-209, trad. nossa).
Após a passagem do Futurismo, ocorre a Primeira Guerra Mundial, como relatou Walter
Benjamin em Experiência e Pobreza (1933): a geração que viveu entre 1914 e 1918
passou por uma das mais terríveis experiências da história europeia e o testemunho deste
terror empobrece as pessoas de “experiência comunicável”. Conforme Benjamin, isso
decorre da guerra de trincheiras, da experiência econômica pela inflação, da experiência
do corpo pela fome, da experiência moral pelos governantes e do abandono (falta de
condições básicas de vida).
No entanto, o Primeiro Pós-guerra foi prolífico em experiências vanguardistas: artísticas,
arquitetônicas, urbanísticas e no design — destacamos o Construtivismo Russo e a
Bauhaus e as experiências de moradia social na Alemanha, Holanda, Áustria. Estas são
debatidas e divulgadas nos segundo e terceiro CIAMs, focados em melhorias das
condições de vida da população.
Registra-se, no imediato Segundo Pós-guerra, um “estado de instabilidade definitiva”
(FEBVRE, 1946, apud HARTOG, 2013, p. 21) que repercute na crítica de arte e de
arquitetura moderna via de regra. Nos anos de 1960, Giedion (2014) reitera um estado
de “confusão e fastio” no campo da arquitetura, “uma espécie de pausa, de esgotamento”
e de incerteza.
O livro de Giedion, “Espaço, Tempo e Arquitetura, o desenvolvimento de uma nova
tradição” (1941), é uma narrativa legitimadora do movimento moderno, apresentada

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como uma tendência inelutável, conforme Nobre (2014). Tal discurso dispõe-se com a
finalidade de estabelecer uma determinada moralidade, como a seguir: “A arquitetura
contemporânea, digna de ser chamada como tal, entende ser sua tarefa principal a
interpretação de um modo de vida válido para a nossa época” (GIEDION, 2014, p. 5). Ele
reitera que os esforços devem ser dirigidos com prioridade “para a questão do
desenvolvimento de uma nova tradição”, ele visualiza “vários indícios que isso já está em
curso” (GIEDION, 2014, p. 4). O intuito de forjar “uma nova tradição” incide na
designação de um sentido único (linear, estável), uma trajetória unívoca.
O quadro de referência conceitual de Giedion (apud MOLELLA, 2002, p. 379, trad. nossa)
é fundado na resiliente tradição hegeliana na Europa de língua alemã, da qual Giedion
herda o conceito do Zeitgeist como um princípio cultural unificador, desenvolvendo a
história como uma “sucessão de Zeitgeists, cada um centrado em uma grande ideia
constituinte”.
Tafuri, em 1972, assevera a recorrência do quadro de instabilidade no campo e declara
que “tal como a arquitetura, a crítica é solicitada a revolucionar-se continuamente” para
adequar os seus parâmetros à conjuntura (TAFURI, 1979, p. 25). Tafuri ressalta que as
tarefas da crítica mudam, porém os problemas mantêm-se “incipientes e confusamente
considerados”. Um dos motivos consiste na evidência da “multiformidade” do movimento
moderno que “desanima perante essa descoberta” (TAFURI, 1979, p. 25).
O trabalho de Tafuri rejeita a noção de ordem temporal, causal e linear, provendo
evoluções do tipo causa-efeito na realidade. Para ele, este é um recurso historiográfico
construído em chave cronológica, mediante uma narrativa teleológica de base hegeliana
e historicista da qual visa demarcar distância. Aliás, a história e a realidade são entes
separados para Tafuri (CASERO, 2012, trad. nossa).
Casero (2012, p. 179, trad. nossa) diz que o discurso de Tafuri se propõe a “construir o
conceito marxista de tempo histórico a partir da concepção marxista de totalidade social”.
Conforme Casero, O Capital é a base teórica de Tafuri ao tratar do tempo da produção
econômica de modo não linear. Em suma: “um tempo de tempos, um tempo complexo
que não pode ser lido na continuidade do tempo da vida ou das reflexões, mas deve ser
construído a partir das estruturas de produção”. A temporalidade não cronológica operada
por Tafuri não é simplesmente uma ”superposição de diferentes ritmos e velocidades”,
“uma vez que história e realidade são separadas” e que ele nega “as relações teleológicas
ou lineares”. Enfim, Tafuri elabora inter-relações temporais que quebram a causalidade
passado-presente-futuro. (TAFURI apud CASERO, 2012, p. 181, trad. nossa).
Devido ao confronto com a historiografia cronológica, Casero (2012, p. 185, trad. nossa)
identifica uma “historiografia aiônica” em Tafuri que, portanto, se propõe como “a
identificação dos momentos de abertura máxima, de indeterminação máxima do
acontecimento”. Além disso, essa característica estabelece uma “indeterminação causal
e não-lógica” da história para que não se converta numa “mera reificação do que existe
ou guardiã dos espólios dos vencedores”, camuflando as contradições socioeconômicas
dos períodos.
Tafuri (apud CASERO, 2012, p. 181, trad. nossa) pondera que não é tarefa da história

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[...] reconstruir o que está quebrado, mas também não lhe é lícito identificar-se com os
vencedores, defeito ainda ativo, complementar à apologia do presente. Em vez disso, seria
possível emprestar sua voz a uma dialética que não tomasse como certo o sucesso das
batalhas descritas, com o resultado de manter os veredictos em suspense. Nada é, desta
forma, dado como certo. O tempo da história é híbrido por constituição.2

DES-FUTURIZAÇÃO E FUTURABILIDADE
No decorrer do século XX, as vanguardas artísticas sucumbem com o avanço da
industrialização e da urbanização. Argan (1993) conjectura que a tecnologia, nesse
período, compete com a imaginação — esta, convertida em atividade receptora —,
prescindindo de projetos e de utopias. Não obstante, a humanidade começa a duvidar
que futuro e progresso sejam equivalentes após confrontar-se, em especial a partir da
década de 1970, com as crises econômicas e ambientais, com a finitude dos recursos e
com a falibilidade da tecnologia. Berardi (2019) estabelece como ponto de inflexão o ano
de 1977 expresso no slogan No Future do movimento punk britânico, ao simbolizar o
esgotamento das grandes narrativas e das utopias modernas, bem como a crise do
fordismo e o surgimento de um modo de produção pós-fordista, de acumulação flexível
(HARVEY, 1992).
Entre o início e o final do Século XX, há uma inversão entre a população rural e urbana,
que é 56,2% em 20203. Identifica-se “o desaparecimento da cidade tradicional”
substituída por uma “não-cidade”, de acordo com Choay (2008, p. 9), para a qual os
“quadros mentais” para compreendê-la são inadequados. Já para Lefebvre (2008), a
leitura dessa fase (1970) comporta um vazio ou um momento sombrio que ele designa
um “campo cego”. “Não se trata apenas de uma ausência de educação, mas de ocultação”
(LEFEBVRE, 2008, p. 38).
Conforme Lefebvre (2008), ocorre a implosão-explosão: uma enorme concentração
(pessoas, atividades, riquezas, coisas, objetos, instrumentos, meios, pensamentos) na
realidade urbana e imensa explosão, projeção de fragmentos múltiplos e disjuntos:
periferias, subúrbios, cidades satélites. A cidade, ou o que dela resta, serve mais do que
nunca à formação de capital, isto é, à realização e à distribuição de mais-valia (LEFEBVRE,
2008, p. 43). Sob uma ordem repressiva, a segregação é o processo anti-urbano mais
recorrente no modelo de urbanização capitalista da segunda metade do século XX
(COLOSSO, 2014, p. 83).
Nesse cenário, a metrópole moderna ocidental converte-se, dentro do imaginário urbano,
no amálgama de uma distopia em curso e de um apocalipse no futuro próximo, “invadindo

2
Casero usa um texto a que não tivemos acesso: M. Tafuri, La dignità dell’attimo. Trascrizione
multimediale di Le forme del tempo. Venezia e la modernità, IUAV, 1994. (Prolusione letta il 22 Febbraio
1993 per l’inaugurazione dell’anno accademico 1992-93 dell’Istituto Universitario di Architettura di
Venezia).

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Fonte: World Population Prospects (2019), da ONU (Organização das Nações Unidas).

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progressivamente o território antes ocupado pelos lugares gratificantes e inovadores
imaginados pela utopia positiva” (LIPPOLIS, 2016, p. 18-22). A crise do movimento
moderno, com o advento do pós-modernismo, representou uma espécie de “libertação da
arquitetura do papel pedagógico que lhe fora imposto pelo funcionalismo do segundo pós-
guerra e a sua adaptação à época do triunfo do capitalismo pós-fordista e pós-moderno”
(LIPPOLIS, 2016, p. 11), como sintetiza David Harvey:

O modernismo perdera qualquer aspecto de crítica social. O seu programa pré-político e


utópico, baseado na transformação de toda a vida social através da transformação do
espaço, falhara, e o estilo moderno acabara por se encontrar estreitamente ligado à
acumulação do capital, num projecto de modernização fordista caracterizado por
racionalidade, funcionalidade e eficiência. Em 1972 [...] a arquitectura modernista estava
sufocada e bloqueada, exactamente como o poder das grandes empresas multinacionais
que representava. A estagnação-inflação na arquitectura avançava paralelamente à do
capitalismo: não foi por acaso que Venturi, Scott-Brown e Izenour publicaram Learning
from Las Vegas precisamente em 1972. Na realidade, os críticos do moderno estavam em
circulação havia anos [...] e de certo modo o movimento revolucionário e cultural dos anos
60 representara uma crítica à racionalidade, à funcionalidade e à eficiência. Mas foi
necessário que a crise de 1973 abalasse a relação entre arte e sociedade, para que o pós-
moderno fosse aceite e institucionalizado (HARVEY apud LIPPOLIS, 2016, p. 13).

Fry (2020), por sua vez, argumenta sobre os “efeitos desfuturizantes” do design moderno
devido à sua contribuição para as “condições sistêmicas de insustentabilidade estrutural,
que elimina outros futuros possíveis” (apud ESCOBAR, 2016, p. 40), sob a ideologia seja
do plano, seja do desenvolvimento.
“Defuturing” (des-futurização), termo enunciado por Fry, desde uma perspectiva
ontológica do design4, seria, em termos gerais, “o próprio terreno pelo qual o futuro é
negado” (trad. nossa), compreendendo-se, portanto, que a atividade do design “futura”
ou “des-futura”, ou seja, que os objetos e o conjunto de técnicas que conformam a cultura
nos “enquadram” em modos de ser e habitar o mundo, sendo estes fatores que
condicionam um certo tipo de sustain-ability, ou simplesmente, da habilidade mesmo de
sustentar o pleno desenvolvimento humano (e não-humano) e das diversas naturezas-
culturas possíveis. Daí surge a crítica ao design moderno e ao caráter ubíquo dessa
temporalização cultural, segundo o autor, pelo qual criou-se uma

[...] cultura funcional em nível mundial — uma cultura na qual as pessoas ao redor do
mundo podem realizar as mesmas tarefas, da mesma maneira e pelas mesmas razões
econômicas”, e, conclui o autor ao evidenciar o caráter ubíquo dessa temporalização, “esta
‘cultura mundial’ opera sem qualquer habilidade construída das pessoas para entender cada
outras visões de mundo, para comunicar ou compartilhar valores. O anti-humanismo do

4
Para Escobar (2016, p. 47-58), “el diseño es ontológico porque cada objeto, herramienta, servicio o
incluso relato en el que está involucrado crea formas particulares de ser, conocer y hacer” [...], “el diseño
genera las estructuras de la posibilidad humana”. E, segundo Fry (2020, p. 5): "designers design in a
design world, which arrives by design, that designs their actions and objects, or more simply: we design
our world, while our world designs us". Quer dizer, a cultura dos objetos (FLUSSER, 2007) conformada
pelo design direcionam e orientam, em certa medida, nossa forma de habitar e ser no mundo.

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instrumentalismo do funcionalismo tecnológico na verdade agiu para ocultar a diferença
pelo caráter ontológico das coisas que faz (FRY, 2020, p. 29, trad. nossa).

Flusser (2007, p. 194) adverte: quando o design estorva — “um obstáculo para a remoção
de obstáculos?” —, na medida em que torna a cultura mais “objetiva, objetal e
problemática”, ou seja, mais complexa, logo encolhe o espaço da liberdade na cultura.

O futuro possível [da Modernidade] sempre esteve atrelado ao projeto do humanismo, de


um “eu posso”, de uma colocação do homem como centro do mundo. Um futuro não mais
conjugado de múltiplos tempos como havia outrora, mas de um tempo único universal que
se impõe como controle. Não só de um tempo dominador, mas também de um espaço
dominador, disciplinar e de controle que se disseminou por todas as cidades do mundo
(FUÃO e BECKER, 2014, p. 37).

Recorrendo a Escobar (2016, p. 11-17, trad. nossa), podemos assimilar a crise


contemporânea enquanto a crise de um modelo civilizatório: o da modernidade capitalista
Ocidental. E, sendo assim, os modos de desenhar ou projetar da cultura apresentam-se
como componentes indissociáveis desta crise. Segundo o autor, poderíamos afirmar, de
um ponto de vista ontológico, “que as políticas públicas e o planejamento do
desenvolvimento, bem como [o] design, são tecnologias políticas fundamentais da
modernidade e elementos-chave na constituição moderna de um mundo único
globalizado”. Não obstante, além de constituir uma cultura dentro dos limites do próprio
sistema ou modo de produção capitalista e de reforçá-lo, já nos alertava Papanek (1995)
há algumas décadas a respeito da crise ambiental e sanitária ocasionada pela atividade
de arquitetos, urbanistas e designers. Em suma, se o futuro já não é mais o que
costumava ser (NOVAES, 2013), convém retomar a perspectiva proposta por Fry (2020,
p. 10) na medida em que o autor nos recorda que o futuro nunca é um espaço em branco
— uma tábula rasa —, um vazio ilimitado a ser preenchido pelos objetos da atividade
humana. Pelo contrário, e, por habitualmente conseguirmos apenas visualizar implicações
a curto prazo, esquecemos que habitamos um mundo já colonizado pelas ações do
passado e por aquelas que estão ocorrendo agora.
Não obstante, derivado dos processos mundializados de aceleração e de disjunção,
vivencia-se hoje, como “único horizonte”, a experiência ubíqua de um presente imposto,
atualizado continuamente (PEREIRA e ARAÚJO, 2019). Ademais, a realidade em formação
configura-se em uma inacessível complexidade, na qual “não sabemos ver a desordem
do mundo atual” (NOVAES, 2013, p. 17), convergindo na imagem apresentada por Wisnik
(2018): a do “nosso aprisionamento num nevoeiro à espera de sua dissipação”.
Esse enclausuramento ideológico — devido aos processos de globalização e
planetarização a partir do final do século XX — desdobra-se em uma espécie de
confinamento temporal da experiência espaço-tempo. O presente, agora tornado
hegemônico (AUGÉ, 2012), prolonga-se continuamente, visando a suprimir quaisquer
possibilidades de alteridade radical. A imaginação é debilitada, nos sugerindo que “não
há alternativas”. Será que não há alternativa? Os trabalhadores estão condenados à
improvisação e à precarização? Estarão como a família pobre do filme Parasita (2019),
de Bong Joon Ho, imersa em situações-limite, impedida de planejar? Aliás, a

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“sobrevivência depende, hoje, do grau de inserção do sujeito na dinâmica acelerada
imposta pela união de tecnociência e capital global” (WISNIK, 2018). Também depende
de antecipação, de “um saque no futuro” (SANTOS apud WISNIK, 2018).
Frente ao tempo – e, consequentemente, à memória, ao agora e ao por vir –, uma vez
imersos em uma cultura permeada por imagens técnicas e por suportes eletrônicos que
as veiculam e as armazenam em um fluxo contínuo e incessante, a nossa própria relação
com aquilo que entendemos por passado, presente e futuro, parece se alterar. A sensação
é de vivermos em uma situação de enclausuramento, fechada e global, saturando a
imaginação sobre o horizonte de possibilidades. Na realidade, se há algum horizonte, este
seria um por vir do capitalismo, segundo Lapoujade (2013, p. 237): “[é] que as mutações
tecnológicas nunca fazem senão reforçar um único e mesmo sistema, o do capitalismo,
sempre mais triunfante. O futuro está inteiramente encerrado no interior dos limites do
capitalismo, que captura todas as suas possibilidades para estender-se, propagar-se”.
Emerge, dessa forma, a imagem de um mundo colonizado pela extensão das redes
tecnológicas de informação e comunicação e pelo mercado liberal globalizadas — marcado
pela instantaneidade da circulação de dados e imagens. Han (2014) observa que a nova
concepção de poder consiste no controle psicopolítico do futuro. A técnica de poder do
regime neoliberal é prospectiva, permissiva e projetiva. Seu aparato técnico-ideológico é
(re)formulado pela transparência do espaço virtual em rede e pela tirania do dataísmo.
Projetam-se objetos (design), condicionam-se e controlam-se as vidas, mas não se
resolvem questões básicas do bem viver.
O futuro, encerrado nos limites circunscritos pelo aparato técnico e pela ideologia
neoliberal, é operado “em função do que a axiomática [capitalística] permite, prevê,
favorece, torna possível para uma dada classe de indivíduos”, reforçando um processo de
“seleção que a axiomática opera no seio de uma massa qualquer para distribuir
eletivamente, hierarquicamente, suas potências e direitos” (LAPOUJADE, 2017, p. 269).
Diante de um passado em disputa, do presentismo (HARTOG, 2013), ou atualismo
(PEREIRA e ARAÚJO, 2019), e da hipótese de suspensão ou cancelamento do futuro
(BERARDI, 2019), as expectativas que se apresentam são catastróficas, escatológicas.
“[O] futuro já não é mais percebido (tal qual no século passado) como fonte de esperança,
como promessa de expansão e de crescimento” (BERARDI, 2019, p. 5). Na hipótese
presentista, “o tempo urge e o presente manda”, um presente onipresente, “Mais uma
vez, uma experiência de tempo desorientado”:

Longe de ser uniforme e unívoco, este presente presentista é vivenciado de forma muito
diferente conforme o lugar ocupado na sociedade [como sempre]. De um lado, um tempo
dos fluxos, da aceleração e uma mobilidade valorizada e valorizante; do outro, aquilo que
Robert Castel chamou de précaríat, isto é, a permanência do transitório (HARTOG, 2013,
p. 14).

Para exemplificar a condição presentista, Hartog (2013) recorre aos conceitos de Rem
Koolhaas: “Junkspace” e “Cidade Genérica”, pois a cidade genérica não tem história e o
junkspace obsoleta sem envelhecer. De acordo com Hartog, tais procedimentos impedem
a formação da lembrança, pois, “sua recusa em se cristalizar lhe garante uma amnésia

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instantânea”. “Mas [ele pergunta] pode-se viver em uma cidade presentista?” (HARTOG,
2013, p. 15-16).
Pereira e Araújo consideram a condição atualista, para se diferenciar da hipótese do
presentismo, como uma produção incessante de dados/informações, além da atual
economia midiática que protela o amanhã (PEREIRA, 2022, p. 92). Entre outras coisas,
Pereira e Araújo afirmam que: “essa forma de presente como atualidade não está
destituída de futuro ou passado, mas estabelece com eles relações ‘impróprias’. [...] Essa
atualidade se vê em toda a história, seja do presente, seja do futuro, mas é uma
identificação como uma variedade do mesmo, que se ‘atualiza em função da atualidade”.
Como acontece com as “atualizações automáticas que emergem nos smartphones”, por
exemplo (apud Pereira, 2022, p. 82).
No mesmo contexto, apresenta-se a obsolescência, como o outro lado do que os autores
colocam como updatism (atualismo): de software, de hardware, a necessidade de possuir
os produtos da última geração, de estar com o antivírus em dia, mas também de estar
atualizado de maneira integral, caso contrário estaríamos habitando uma espécie de lugar
anacrônico, inseguro, obsoleto, desatualizado e, por que não, precarizado: “Atualizar
opõe-se não apenas ao inatual, mas ao desatualizado como obsoleto. A obsolescência
programada está profundamente enraizada na cultura capitalista, constituindo até, como
diz Harvey (2016), num aspecto fraudulento do capitalismo contemporâneo.
Retornando à discussão da historicidade: presentismo ou atualismo? Para Pereira, a
condição temporal presentista não caracteriza um novo regime de historicidade, mas de
“um falso reconhecimento que oculta o que está realmente se repetindo”. Dessa forma,
a experiência que eles definem “como atualista produz a ilusão de que a realidade se
reproduz automaticamente, sem ação e atenção à vida”. Os filósofos dizem que seu
objetivo é proporcionar a concepção de “possibilidades de quebra da atual desatenção à
vida” (PEREIRA e ARAÚJO apud PEREIRA, 2022, p. 101).
Nesse cenário, aparecem como contraponto algumas “ideias para adiar o fim do mundo”
(KRENAK, 2019) ou, pelo menos, para dispor de um outro fim de mundo possível. Berardi
(2019) propõe que pensemos em termos de “futurabilidade”, quer dizer, sobre a própria
“multidimensionalidade do futuro”; ou ainda, sobre “a intrínseca pluralidade de futuros
possíveis inscritos no presente”. Exercício de como colocar o autor, de interpretar as
possibilidades inscritas no presente, enquanto conteúdo imanente na constituição do
nosso próprio espaço-tempo: possibilidades plurais, um “campo de bifurcações”, um
“rizoma de possibilidades”. Nessa linha, o slogan No Future de 1977 poderia ser
reelaborado em outros termos, segundo o autor: Not One Future, But Many, ou seja, “não
apenas um futuro, mas tantos futuros quantos foram possíveis” (trad. nossa). Inscrição
deslocar-se-ia semanticamente, por conseguinte, de ação de prescrição ou programa pré-
inscrito ao qual seríamos obrigados a nos submeter, ou como prevenção, imaginação
antecipatória, espera ou premonição, para aquilo que ainda não vemos, mas é conteúdo
latente no presente.
Compreende-se que este reenquadramento de programas e de possibilidades translada a
temporalidade ubíqua do moderno para a ancoragem do espaço-tempo em uma

• 11
possibilidade pluriversal (ESCOBAR, 2016), de múltiplas trajetórias e estórias (MASSEY,
2008), inserida na articulação entre passado, presente e futuro, ou seja, no
(re)agenciamento e (re)distribuição das potências e multiplicidades. Tal proposição
direciona para um tensionamento e abandono do programa único da “humanidade”,
conduzindo-nos, portanto, a agenciar a pluralidade de possibilidades inscritas no
presente.
Perante a grande narrativa da temporalização moderna, da flecha do tempo, nos lembra
Latour (1994, p. 75) que é “a seleção que fez o tempo, e não o tempo que faz a seleção”,
quer dizer, é a multiplicidade de agenciamentos dos possíveis que produzem outros
espaços-tempos — quando no moderno, essa seleção era “feita por alguns poucos em
nome de muitos”. Dessa maneira, poderiam sobrevir outros modos de conhecer e de fazer
mundo, por exemplo, “pela reclamação e legitimidade de outros mundos que foram
negligenciados e diminuídos” (NATÁLIO, 2016, on-line).
Dussel (2005, p. 31) preconiza que este contingente de mundos “sacrificados” pelo
empreendimento colonial moderno, de humanos e não-humanos, enquanto a “outra-face”
oculta e essencial da Modernidade, ou seja, a alteridade negada pelo grande projeto de
conquista e expansão do capitalismo moderno ocidental: “o mundo periférico colonial, o
índio sacrificado, o negro escravizado, a mulher oprimida, a criança e a cultura popular
alienadas etc. (as ‘vítimas’ da ‘Modernidade’) como vítimas de um ato irracional (como
contradição do ideal racional da própria ‘Modernidade’)”. Logo, revela-se a possibilidade
de uma “trans-modernidade”, enquanto um “projeto mundial de libertação em que a
Alteridade, que era coessencial à Modernidade, igualmente se realize”, quer dizer, “na
qual a Modernidade e sua Alteridade negada (as vítimas) se co-realizariam por mútua
fecundidade criadora”.
Essa perspectiva, no nosso entendimento, poderia desdobrar-se em ao menos duas
contingências concomitantes acerca da nossa relação com as diversas temporalidades (e
espacialidades) do porvir e a arquitetura, o urbanismo e o design: por um lado, a de um
futuro menos programável, mais aberto e flexível5 — contudo, não menos ativo ou dotado
de alguma passividade, e, portanto, atento à indeterminação, à imprevisibilidade e à
entropia do nosso tempo, bem como à pluralidade de possibilidades de agenciamento; e,
por outro lado, a oportunidade de abarcar a heterogeneidade de espaços-tempos que
habitam — ou podem vir a habitar — o mundo.

5
Fuão e Becker conjecturam: “[...] o porvir não pode ser arquitetado, planejado, projetado representado,
mas ele pode entrar na arquitetura, na medida em que ela é uma URA, arquitetura é arte e, portanto, é
abertura, diferente da somente objetiva arquitetura-racionalista” (FUÃO e BECKER, 2014, p. 45).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
“[...] ainda não sabemos como o tempo funciona de fato. A natureza do tempo talvez
continue sendo o maior mistério de todos. [...], possivelmente, o mistério do tempo diz
respeito mais ao que somos do que ao cosmos” — Carlo Rovelli

As modulações de temporalidades designam posições distintas nas disputas no campo


historiográfico, tanto na modernidade como na contemporaneidade. Na Modernidade, o
projeto de uma trajetória unívoca e a instrumentalização de uma temporalidade universal
perpassa a historiografia, seja da mutação contínua de Banham, seja dos modernistas
hegelianos ou da Objetividade; designa uma história única, moldando a temporalidade
linear e cronológica, tergiversando sobre a simultaneidade do não simultâneo, ou seja, a
interdependência entre subdesenvolvimento e desenvolvimento, como partes de um
mesmo processo de exploração econômica e de acumulação do capital. A historiografia
aiônica de Tafuri oferece uma distinta abertura de possibilidades, no entanto, é
eurocentrada, refletindo a “crise da arte como ciência europeia” identificada por Argan
(1992a) no período da Guerra Fria.
A confusão, o desânimo, a incerteza e a incipiência no campo da arquitetura tendo como
um dos motivos a “multiformidade” do movimento moderno corroboram com o revés da
pretensão de um sentido único e do princípio cultural unificador. Isso também indica que
as fronteiras do mundo moderno-colonial são epistêmicas e ontológicas. Ainda, um dos
efeitos da temporalidade universal é o desaparecimento do lugar como âmbito da
construção cultural das relações sociais, políticas e econômicas (ESCOBAR, 2005).
Além disso, o tecnologismo de Banham não é menos parcial do que os demais
modernistas, na compreensão do contexto em sua totalidade, uma ambição hegeliana é
entender o sistema como um todo. As tecnologias são socialmente estruturadas,
territorializadas e indissociáveis da forma como a sociedade produz, reproduz a vida e
cria espaço, configurando um dado incontornável do mundo contemporâneo. Não
obstante, o discurso ufanista, tendo como chave a inovação tecnológica, oblitera que tal
inovação constitui um “negócio” desde o Século XIX, que opera pelo favorecimento de
estratégias para o capital extrapolar as barreiras de circulação e acelerar o “tempo de
rotação” (HARVEY, 2016, p. 106). Harvey (2016, p. 130) explica que as inovações
proporcionam possibilidades mutáveis para incrementar a lucratividade do capital,
concentrando riqueza e criando desigualdade. O seu crescimento incremental e
exponencial efetua uma colonização planetária, avançando sobre a natureza de tal modo
que é um dos fatores da crise sanitária e climática que presenciamos no Século XXI.
Finalmente, “a inovação tecnológica se tornou um objeto de fetiche do desejo capitalista”
(HARVEY, 2016, p. 131), promovendo uma “ética impudente” de “inovação pela inovação”
que, frequentemente, não passa de fraude ou estorvo.
No campo da arquitetura e urbanismo, reiteramos que as políticas públicas e o
planejamento do desenvolvimento e o design são “elementos-chave na constituição
moderna de um mundo único globalizado” (ESCOBAR, 2016). De modo que, as mutações
tecnológicas reforçam o sistema hegemônico, genérico do capitalismo triunfante que

• 13
encerra inteiramente o futuro, capturando as suas possibilidades de abertura e
pluralidade. E, neste contexto, “o futuro não precisa mais de nós” (BERARDI, 2019).
A espacialização da globalização conduz ao reenquadramento da Modernidade conforme
Massey (2008, p. 100), consistindo em uma ruptura decisiva com este regime de
historicidade, a ual designamos uma das condições de possibilidade da futurabilidade;
outra condição importante é o bloueio da “loucura da razão econômica do capitalismo”
(HARVEY, 2014).
Após a nostalgia historicista, a emergência da discussão sobre o futuro é bem-vinda,
enseja a retomada da imaginação e poderia ressignificar a espera. Questionamos, por
isso, a consternação com a dificuldade de previsão ou de antecipação, plasmada na
expressão “Não sabemos mais pensar no futuro” (VALÉRY apud NOVAES, 2013). Se
perdemos nossos “meios tradicionais de pensar e prever”, não poderíamos criar meios
condizentes com “hibridismo do tempo da história”, e compreendendo componentes
necessários da pluralidade, da diversidade e “abertura”? (retomando Tafuri).
Solnit (2017, n.p.), citando Virginia Wolf, celebra justamente ignorar o futuro: “O futuro
é a escuridão, e essa é a melhor coisa que o futuro pode ser, [...]. É uma declaração
extraordinária, afirmando que o desconhecido não precisa ser transformado em conhecido
por meio [...] da projeção de sinistras narrativas políticas ou ideológicas”.
Para escapar da nebulosidade contemporânea, que satura e bloqueia a imaginação sobre
o horizonte de possibilidades indicamos: atenção ao presente, desprogramação do futuro
e reflexão sobre os termos da futurabilidade e da pluriversalidade.
Escobar (2016) nos convida a imaginar, por meio do design, uma transição deste mundo
circunscrito pela modernidade capitalista ocidental para um mundo pluriversal, quer dizer,
por meio de um design atento para a multiplicidade de trajetórias e dos possíveis inscritos
no presente. No atual contexto “pós-futurista”, na espécie de “prisão do presente” nos
quais se encontram, atualmente, os campos da arquitetura, urbanismo e design e,
tomando de empréstimo as palavras de Bogéa (2014, p. 109), talvez possamos imaginar
uma espécie de reconciliação “com a espessura do tempo de onde se pode vislumbrar o
traço coletivo da cultura”, ademais, “[s]em promessa de futuro, mas atentos ao presente
naquilo que ele configura e que por algum tempo perdurará”.
No quadro de referência da Descolonialidade, Dussel (2005) designa um projeto de
coexistência e co-realização de trajetórias múltiplas e de afirmação da interculturalidade.
Esta postura se coaduna com o “pensamento crítico de fronteira” como uma crítica da
modernidade, com vista a um mundo transmoderno pluriversal de múltiplos e diversos
projetos ético-políticos que viabilizem o diálogo e uma comunicação verdadeiramente
horizontais entre os povos.

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