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Escolas no Vale do Silício não usam computadores e tablets

Alguns pais avaliam que o benefício na educação é limitado e o risco de dependência é alto

 ÉPOCA NEGÓCIOS ONLINE

17 ABR 2019 - 19H27 ATUALIZADO EM 17 ABR 2019 - 19H27

Crianças norte-americanas de zero a oito anos passaram, em média, 48 minutos por dia no
celular em 2017 (Foto: Getty Images via BBC)

Filhos de executivos de grandes empresas do Vale do Silício (EUA) crescem em um dos centros
que está transformando a sociedade do século XXI. Mas se engana quem pensa que essas
crianças aprendem com tablets e computadores de última geração. Cresce na região a oferta
de escolas do ensino fundamental onde alunos estudam da mesma forma que seus pais,
décadas atrás: só com lápis, borracha e papel.

Em certas escolas de Palo Alto, nem mesmo livros didáticos são impressos — são as próprias
crianças que elaboram o conteudo à mão. No Brasil, a Waldorf of Peninsula, escola particular,
telas de computador e gadgets só entram nas salas de aula quando os jovens chegam ao
ensino médio.

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"O que desencadeia o aprendizado é a emoção, e são os seres humanos que produzem essa
emoção, não as máquinas. Criatividade é algo essencialmente humano. Se você coloca uma
tela diante de uma criança pequena, você limita suas habilidades motoras, sua tendência a se
expandir, sua capacidade de concentração. Não há muitas certezas em tudo isso. Teremos as
respostas daqui a 15 anos, quando essas crianças forem adultas. Mas queremos correr o risco?
", questiona Pierre Laurent, presidente do conselho da escola Waldorf e engenheiro de
computação que trabalhou na Microsoft e na Intel.

O engenheiro destaca o que parece ter virado consenso no Vale do Silício: os adultos querem
que seus filhos se afastem de aparelhos tecnológicos na infância por avaliarem que o benefício
de gadgets na educação é limitado e o risco de dependência é alto.

Bill Gates, por exemplo, criou regras para uso de tecnologia em sua casa. O cofundador da
Microsoft declarou impor limites durante a criação dos filhos. Até os 14 anos, seus três
herdeiros não tiveram o próprio celular. "Eles reclamavam que as outras crianças já tinham",
disse em entrevista ao Mirror.

Os filhos de Gates, hoje, têm 15 ,18 e 21 anos. Assim, os aparelhos já foram liberados para
todos, mas não durante as refeições — isso também se aplica aos adultos. E eles também
foram criados com regras sobre o uso perto do horário de dormir.

Tecnologia como vício


Para especialistas, o problema da relação das crianças com a tecnologia é que seu uso se
transforme em vício. Pesquisa da Common Sense Media aponta que crianças norte-americanas
de zero a oito anos passaram, em média, 48 minutos por dia no celular em 2017, três vezes
mais que em 2013 e 10 vezes mais que em 2011.

Controlar a rotina dos filhos é ainda mais difícil quando os pais trabalham fora. Segundo a
pesquisa, adolescentes de famílias de baixa renda gastam duas horas e 45 minutos por dia a
mais em computadores e gadgets do que aqueles de famílias de alta renda.

Para frear essa tendência, dois grandes investidores da Apple, Jana Partners e CalSTRS (fundo
de aposentadoria de professores da Califórnia), enviaram uma carta aberta aos líderes da
companhia pedindo que atuem contra o vício das crianças em celulares. "Analisamos as
evidências e acreditamos que há uma clara necessidade da Apple de oferecer aos pais mais
opções e ferramentas para ajudá-los a garantir que os jovens consumidores usem seus
produtos da melhor forma", escreveram eles.

Em resposta ao pedido, a Apple apresentou o Screen Time — ferramenta que ajuda a


controlar e limitar o uso de dispositivos móveis. Para não perder mercado, o Google
incorporou uma ferramenta semelhante, o Digital Wellbeing.

Para os críticos, contudo, os sistemas não atacam a raiz do problema: a natureza viciante dos
equipamentos tecnológicos. Até que isso seja solucionado, os pais serão responsáveis pela
orientação dos filhos nesta era digital.

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