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1. Introdução
DE
UNIOESTE - CAMPUS
UNIOESTE
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Mestre em Comunicação Social pela PUC-RJ e atualmente é FOZ DO IGUAÇU
doutorando em Literatura, Cultura e Contemporaneidade, pelo V. 14 - nº2 - p. 178-188
departamento de Letras da PUC-RJ. Endereço Eletrônico: 2º sem. 2012
Ideação
tiagoleite79@gmail.com
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existência precede a idéia que constrói sobre sua essência. Nesse
sentido, ele se considerava um existencialista-humanista.
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Sartre não foi o primeiro a rejeitar o conceito iluminista
de Humanidade. O humanismo do esclarecimento, apesar de
todo o prestígio que gozou do século XVIII em diante, sempre
contou com ilustres adversários, teístas ou ateístas. Porém, esse
discurso pronunciado em 1946, logo após o fim da Segunda
Guerra Mundial, parece revelar aos olhos contemporâneos o
prenúncio (ou diagnóstico) do declínio de uma visão de mundo
que por alguns séculos teve enorme ascendência sobre o
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ocidente.
Hoje em dia, o discurso anti-humanista tem
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experimentado uma difusa onda de popularidade que se origina
de fontes variadas e aponta para diferentes destinos. Apesar de
não haver um consenso positivo sobre qual seria a melhor
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alternativa teórica e prática ao ideário iluminista, é notória a
falência de sua autoridade diante dos sucessivos ataques a seus
preceitos filosóficos e políticos.
FOZ
No meio das ciências humanas, em particular, a
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conversão maciça a essas críticas se verifica pela proliferação
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da condenação enfática a todo e qualquer vestígio de
racionalismo, assim como pela derrocada da crença iluminista
na construção de um mundo justo e igualitário. A convicção
na aliança entre razão e justiça social, preponderante até pouco
tempo, adquiriu status de lenda ingênua e alienante.
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Em função disso, investe-se contra as obsoletas noções LETRAS
de sujeito cartesiano e de tempo linear; contra as ultrapassadas
teorias políticas modernas diante da hegemonia inconteste do
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estáveis e a propósitos autorais, em favor da apreensão/expressão
de uma arte nas fronteiras do irrepresentável, situada em
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2. Argumentação
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renegadas.
Podemos destacar, de início, a importância adquirida
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suficientemente seguras para que possamos afirmar o
alinhamento entre a realidade e aquilo que tomamos como
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verdade.
É desnecessário dizer que, nesse caminho, o pensamento
iluminista teve suas intenções legislativas, fundadas sobre termos
racionais e universalistas, colocadas sob graves suspeitas. Da
mesma forma, o projeto humanista de justiça e liberdade foi
questionado em suas bases, por ter sido arquitetado sobre
determinações (lingüísticas, culturais, políticas) puramente
contingenciais, que, segundo constatou-se, não passavam de
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sentidos hegemônicos, resultantes de momentâneas
estabilizações dentro de um confronto de poderes e desejos
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incessantes, e não do sólido progresso das descobertas racionais
acerca da realidade do mundo e da verdade dos homens, como
os “esclarecedores” desejaram crer um dia.
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Racionalidade e verdade, com efeito, foram dois termos
que passaram a figurar em muitas teorias pós-modernas como
sinônimos de seus sentidos opostos, isto é, como mentira
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arbitrária. Tornou-se comum pensar que a verdade (quando se
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assume a existência de alguma) não pode ser medida pela razão,
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e que esta, longe de ser um critério extra-histórico, provou ser
apenas mais um véu por trás do qual se escondem as complexas
teias das instituições, dos afetos e da linguagem.
Para os adeptos desse ponto de vista, devemos abandonar
os critérios racionais delineadores de nossa identidade, em favor
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dos processos múltiplos e dispersos de nossas potências vitais, a LETRAS
fim de nos tornarmos independentes das configurações
cristalizadas e totalizantes da mentalidade dualista platônica.
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racional e transparente a si próprio (ou o “sujeito unificado”),
contra o qual advogam as chamadas teorias da diferença, jamais
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à refutação.
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Hume
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distinção entre as noções de razão e de verdade, não se chama
crise das referências, mas simplesmente, crítica. Segue abaixo
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uma síntese de seu argumento:
Tomemos como exemplo uma coisa agradável como a crise de
representação; mesmo admitindo-se que quem fala dela tenha uma
definição de representação (coisa que frequentemente não ocorre),
se é que entendo bem o que eles querem dizer – e, isto é, que não
conseguimos construir e trocar entre nós imagens do mundo que
tenham certeza de adequar a própria forma, admitindo-se que ela
exista, deste mundo -, pelo que sei a definição dessa crise iniciou-se
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com Parmênides, continuou com Górgias, deu não pouca dor de
cabeça a Descartes, constrangeu a todos com Berkeley e Hume e
assim por diante, até a fenomenologia (...). Mesmo que se admita,
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contudo, a antiguidade da crise, continuo não entendendo o papel
que se quer que ela desempenhe. Eu cruzo uma avenida com sinal
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vermelho, o guarda apita e depois me multa (a mim e não a outrem).
Como pode acontecer tudo aquilo se o que está em crise é a ideia
do sujeito, a de signo e a de representação recíproca? (ECO, 1984,
p.149)
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Como se pode ver, não é de hoje a suspeita de que nosso
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pensamento não reflete a realidade especularmente. Igualmente,
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a exatidão de nossas representações não só foi tomada com
parcimônia e ironia por vários iluministas, como foi alvo do
romantismo, do marxismo, da psicanálise, do modernismo etc.
Assim, quando pensamos criticamente sobre a realidade
social e subjetiva por meio de certas representações, está claro
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de que se trata da manipulação de uma abstração que não deve LETRAS
ser (e obviamente não é nunca) substancializada. É óbvio que
não existem entidades materiais perfeitamente delimitadas tais
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afinidades entre seus domínios. É curioso perceber que, para
alguns críticos contemporâneos, certos conceitos abstratos,
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36). Com isso, não custa lembrar mais uma vez que as questões
tratadas aqui, de certa forma, extravasam as polêmicas
contemporâneas e remetem a história da cultura ocidental
184 (moderna ou não), e a ideia da razão como instrumento de
Ideação
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Sobre esse assunto ver. (BRITTO, 1996) “Desconstruir para quê?”.
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questionamento à obediência cega à tradição e às crenças
religiosas de cada época.
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Antes de concluir, é fundamental ressaltar que existem
inúmeras abordagens coevas sobre os temas do iluminismo,
humanismo, razão, sujeito, representação etc., nos mais variados
campos de conhecimento (estética, filosofia da linguagem,
antropologia), que nem de longe foram contempladas aqui nesse
artigo. Não pretendo criticar o pensamento pós-moderno como
uma totalidade homogênea, fazendo tábula rasa das inúmeras
diferenças internas às suas teorias. Meu objetivo é, antes de
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qualquer coisa, realçar um certo descaso comum à boa parte
dessas correntes em relação ao ethos iluminista-humanista de
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rejeição a todo discurso fechado ao debate e de afirmação da
liberdade de expressão e criação sem restrições, a não ser que
limitem a liberdade do outro.
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Não pretendo, portanto, negar que algumas teorias atuais
como as que afirmam a contingência radical da linguagem,
relativizando o verdadeiro alcance da razão humana, têm
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forçado nossa imaginação a atuar para além da tradição
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representacionista do “sujeito cognoscente / objeto do
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conhecimento”. Não se pode ignorar, igualmente, que as várias
denúncias ao totalitarismo do discurso humanista têm mostrado
o quanto suas causas nobres encobriram e encobrem as mais
vis modalidades de exercício de poder nos níveis institucional
e moral.
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O que ressalto é apenas a forma banal pela qual o LETRAS
iluminismo e a modernidade têm sido reduzidos a apenas mais
um ato de fé (nos poderes da razão), com a desvantagem de
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diferentes: é preciso não mais querer acabar com a dominação do
homem pelo homem, dizem alguns; é preciso não mais tentar dominar
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3. Conclusão
altamente desejáveis.
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A duras penas o meio intelectual brasileiro tentou se livrar
dos vícios da submissão colonialista, para depois cair numa
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certa sonolência intelectual da vitimização esquerdista, bastante
influente no meio artístico e acadêmico. Contudo, assim que o
problema se mostrou infinitamente maior e mais complexo do
que ser capitalista ou socialista, parece que se abriram as portas
para um grupo de teóricos intolerantes, esses geralmente de
direita, proclamar seu individualismo como a pura fonte da
sabedoria, enfim livre das trocas ideologizadas.
Por conta disso, ao menos no que diz respeito ao terreno
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teórico e abstrato, é interessante lembrar que a critica ao
humanismo e à razão como ferramentas de ação social, não faz
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desaparecer o motivo de seu surgimento: o abuso de autoridade
elitista e a violência desenfreada. Bertrand Russel dizia que:
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se olharmos a história, verificamos com facilidade que os maiores
males que os homens já infligiram a si próprios, foram resultado da
ação de algumas pessoas que estavam absolutamente certas de algo
que na verdade era falso. Agir de forma dogmática na crença de que
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a verdade é monopólio do seu partido, pode ser a causa de grandes
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monstruosidades. (RUSSEL, 1954, p. 31).
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Um pouco de prudência antes de negar ou afirmar de
forma implacável qualquer visão de mundo é, na grande maioria
das vezes, algo desejável. Quanto ao argumento comum à Sartre
e aos intelectuais contemporâneos de que as concepções
humanistas pintam o ser humano como possuidor de uma
DA
bondade e dignidade que, já se verificou, a maioria não tem, LETRAS
diria, lembrando Milan Kundera, que “enquanto os angelicais
destacam-se por seu discurso peculiarmente desprovido de
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Bibliografia
DO
CÍCERO, Antônio. Finalidades sem Fim. São Paulo. Cia das Letras,
2010.
EAGLETON, Terry. O problema dos desconhecidos – um estudo da 187
ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
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ECO, Umberto. Viagem na irrealidade cotidiana. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1984.
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http://www.journal.ufsc.br/index.php/traducao/article/viewArticle/5883
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