EDIÇÃO 026

FEVEREIRO/21

NESTA EDIÇÃO:
A TURMA DO LIMOEIRO
PARA SAVAGE WORLDS
E MAIS: A VERSATILIDADE DE TINY DUNGEON
MONSTRO: FENNEKAHN - O CAÇADOR DO DESERTO - PARA SAVAGE WORLDS
CONTO: UM BRINDE A ISSO
Conecte-se ao nosso Universo
em plena expansão!

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EDITORIAL ÍNDICE
Em Fevereiro tem carnaval...
Se bem que esse ano, por conta da continuidade da pan-
demia não teremos, porém a reflexão sobre a época ainda
é válida. Um período onde as pessoas usam fantasias de TURMA DA MÔNICA PARA SAVAGE WORLDS.........03
seus personagens favoritos e saem nas ruas em uma grande Aventuras para crianças de todas as idades nesta adaptação de Turma da Mô-
festa. nica para Savage Worlds.
Familiar? Tirando a parte da grande festa, se "fantasiar"
de uma personagem é algo que estamos acostumados, sem-
pre que sentamos à mesa – ou na frente de uma câmera
UM BRINDE A ISSO..........................................15
Um conto de aventureiros para aventureiros, ambientado no cenário de
para quem joga on line – estamos fantasiando ser nossas
The Dark Eye..
personagens. Normalmente não usamos personagens co-
nhecidas, mas nos inspiramos em tropos e ideias já apre-
sentados em algum momento, misturando essas ideias até A VERSATILIDADE DE TINY DUNGEON.................18
o ponto de ter algo original – ou quase isso. Tiny Dungeon é um RPG minimalista bem versátil (tanto que a linha Tiny D6
Não quero bater naquela tentativa clichê de trazer a ideia engloba vários gêneros), mas como usar essa versatibilidade apenas com o
do carnaval para o RPG, mas sim ressaltar o "role" do RPG. Tiny Dungeon?
Interpretar a personagem vai além de dizer meia dúzia de
frases de efeito e rolar os dados. A ideia é vestir sua per- ]Aposto que você ficou empolgado quando anunciaram um filme de D&D, não
sonagem, mas não no sentido literal – se vc curte um cos- é? Bem, nem sempre as coisas dão certo.
play, larp e afins, vá em frente e seja feliz – mas no sentido
de trazer as emoções dela para a mesa e fazer com que se
misturem com as suas trazendo maior credibilidade à sua
interpretação. FENNEKHAN: O CAÇADOR DO DESERTO..............26
Só rolar os dados, pode até ser divertido para muitos, mas Um sobrevivente de um mundo antigo, um caçador implacável, vivendo no
talvez possa ser mais, não só para você, se você se fantasiar inverno eterno.
de sua personagem.
HORROR E MODERNIDADE...............................30
Rastro de Cthulhu nos dias atuais. Como lidar com a informação na palma
– Fernando "del Angeles" Pires
da mão e nosso dia a dia com câmeras por todos os lados.
COLABORADORES DESTA EDIÇÃO CRÉDITOS
EDITOR
Fernando "del Angeles" Pires

DANIEL TSCHIEDEL CONSELHO EDITORIAL

Analista de Sistemas, criador de fichas para o Roll20 e fã de jogos narrativos Daniel Martins,
de regras simples. Acredita que o RPG tem que ser para todos. G. Moraes,
Rodrigo "Bigg" Campos

ELI DOS SANTOS IDENTIDADE VISUAL

Psicólogo, ativista ambiental, roqueiro e animista. Mora com a esposa, três G. Moraes
gatas e um tantão de plantas. Atualmente, quando não está jogando RPG está DIAGRAMAÇÃO
escrevendo sobre RPG. Fernando "del Angeles" Pires,
G. Moraes
FÁBIO MEDEIROS
Psicólogo, Mestre e Doutorando em Educação pela UFSC. Trabalha com a REVISÃO
formação de professores para uso de mídias digitais e metodologias ativas, Pedro Feio
Game Designer Educacional.
ARTE INTERNA
Editoras originais e Internet (algumas editadas)
RUBENS ALVES
Autor, amante de RPGs indie e defensor do RPG como modo de aprender
tolerância e se conectar com novos pontos de vista. Também gosta de escrever
alguns contos quando tem oportunidade.
ADAPTANDO Savage Worlds

TURMA DA MÔNICA:
LENDAS

A
Turma da Mônica é um tesouro nacional, todos os brasileiros
têm alguma memória para compartilhar sobre a sua relação com
as histórias criadas por Maurício de Souza. Os quadrinhos carre-
gam uma beleza, simplicidade e traços inconfundíveis, e as aventuras de
Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali são fonte de sorrisos para pessoas
de todas as idades.

3 POR FÁBIO MEDEIROS

 ADAPTANDO
TESOURO NACIONAL
O RPG da Turma da Mônica é uma
adaptação dessas histórias para os jogos de
interpretação, centralizando a ação nos personagens tão
queridos do Bairro do Limoeiro, tanto no período em
que eles são crianças (original) quanto quando eles já
estão mais crescidos (teens), trazendo algumas adapta-
ções para cada um deles.
Seja para você interpretar um dos diversos persona-
gens do universo criado pelo Maurício de Souza, ou
para criar um novo, inspirado em sua própria infância
ou de algum amigo ou familiar. O RPG da Turma da
Mônica vai dar a oportunidade de você se sentir como
parte das histórias em quadrinhos.
O QUE VOCÊ VAI ENCONTRAR NESSA
ADAPTAÇÃO
A primeira parte desta adaptação lida com a criação de per-
sonagens para a Turma da Mônica RPG, trazendo alguns
personagens da turminha já prontos, e as especificidades
das regras de construção de personagens crianças e jovens.
Nesse momento você define as características, complicações
e vantagens do seu personagem, bem como a sua idade (que
vai definir o ponto de início do personagem na escala de
progresso e como se dará sua evolução). No trecho final da
adaptação foi incluída uma aventura pronta que se passa no
Bairro do Limoeiro, para ser jogada com a turminha criança
e com a duração de uma sessão de jogo.
As aventuras de RPG da Turma da Mônica foram
criadas com a intenção de serem jogadas com crianças,
então várias adaptações ao jogo foram feitas tomando
o cuidado para que as crianças se divirtam e se sintam
imersas no mundo da Turma da Mônica. Neste sentido
é bom destacar algumas dicas para mestrar para crian-
ças, visando tornar o espaço agradável e seguro para
elas.
MESTRANDO TURMA DA MÔNICA
RPG PARA CRIANÇAS
UTILIZAÇÃO DE IMAGENS
Apresente muitos recursos visuais para que as crianças
consigam entender o que está acontecendo.
REGRAS SIMPLES
Utilize a mecânica principal do Savage Worlds, explique
sucintamente e evite criar muitas exceções às regras.
NARRATIVA SIMPLES
As tramas precisam ser objetivas sem muitas motiva-
ções implícitas.
SESSÕES CURTAS
Quanto mais jovens as crianças, mais curta a sessão, e
termine no pique, para que elas terminem empolgadas
e falando sobre o que aconteceu.
4
Savage Worlds
DÊ OPÇÕES E MANTENHA O MOVIMENTO
Apresente alternativas para que as crianças imaginem
possibilidades, e não deixe a história estagnar.
COMPARTILHE O CONTROLE
Dê espaço para que as crianças possam definir os rumos
da aventura, mesmo que não seja o que você tinha pla-
nejado.
O MUNDO DA TURMA DA MÔNICA
O cenário utilizado aqui será focado nas histórias do
Bairro do Limoeiro, com a Turma da Mônica principal,
mas caso as suas histórias preferidas sejam do Piteco,
Horácio, Penadinho, Tina ou Rolo você poderá usar es-
sas mesmas regras nas suas aventuras. As histórias cos-
tumam envolver tramas da literatura ou cinema que
se tornaram populares, e integrando algumas de suas
características para as histórias vividas pela Turma da
Mônica. Então sinta-se à vontade para criar aventuras
em que os personagens usam sabres de luz, encontram
criaturas fantásticas, ou mesmo possuem dons sobrena-
turais. Aproveite para introduzir referências a elemen-
tos da cultura pop que você e seu grupo gostem, se ins-
pirando em obras diversas para criar a versão de vocês
numa história nova.
Como as aventuras costumam ser bem episódicas, es-
tas características podem estar presentes somente numa
das histórias, e a Turma da Mônica volta às suas aven-
turas normais nos próximos episódios/ aventuras, ou
 ADAPTANDO
mesmo passam de uma investigação
sobre um fantasma que assusta uma
casa numa aventura para uma missão es-
pacial na seguinte. O nível de fantasia e extraordinário
pode variar bastante de uma campanha ou aventura
para outra, o ideal é que mestre e jogadores conversem
para definir os parâmetros que gostariam para o jogo.
Para facilitar, utilize cenários conhecidos como referên-
cia, por exemplo: nessa aventura criaturas mágicas exis-
tem porém poucas pessoas conhecem, como em Percy
Jackson e o Ladrão de Raios. Na aventura pronta des-
crita no final foi feita uma adaptação da série Stranger
Things para que aconteça no Bairro do Limoeiro.
Savage Worlds é o sistema ideal para fazer essa adap-
tação do universo da Turma da Mônica. O sistema é
simples e genérico, podendo facilmente ser aprendido
e adaptado para cenários com diferentes níveis de tec-
nologia e mágica. Até mesmo o tom das aventuras pode
ser transformado para simular contos de fadas, terror,
aventuras épicas e investigação conforme o tema do epi-
sódio e interesse dos jogadores.
5
Savage Worlds
O mundo da Turma da Mônica abre espaço para as
mais diferentes histórias, porém os principais conflitos
estabelecidos nas histórias são as relações e a amizade
entre os seus membros. Os objetivos das aventuras po-
dem estar vinculados diretamente a isso, como a desco-
berta de um segredo de um dos amigos, ou a mudança
inesperada para outro bairro de um membro da turmi-
nha. Mesmo que a trama não esteja vinculada direta-
mente, são as relações entre eles que irão possibilitar a
resolução dos desafios. Abaixo há uma lista com possí-
veis temas para criar aventuras com a cara da turminha.
TEMAS PARA AVENTURAS
UM DE NÓS ERROU! O QUE FAREMOS PARA
RESOLVER?
Nesta situação podem ser aproveitadas as ações de
aventuras anteriores que deixaram alguma ponta solta,
mas a ideia pode ser também completamente nova, re-
lacionada a algo que uma das personagens fez em casa,
na escola, fora dos momentos em que o jogo está acon-
tecendo.
NÃO PODEMOS FAZER O QUE COMBINAMOS.
COMO PODEMOS SUPERAR ESSA PROIBIÇÃO?
A turminha quer fazer uma atividade que os pais ou a
escola não permitam. Desta forma precisam bolar um
plano para poder obter a permissão, ou, ainda, fazer
sem ninguém ficar sabendo.
 ADAPTANDO
CHEGOU ALGUÉM NOVO NA
RUA, COMO LIDAMOS COM ESSA
PESSOA?
Essa pessoa nova pode ser uma criança que tem alguma
opinião diferente da turma, ou mesmo um adulto ex-
cêntrico que gera as teorias mais absurdas.
UM LOCAL DO BAIRRO ESTÁ ABANDONADO,
VAMOS EXPLORAR?
Um prédio vazio, um terreno baldio ou ainda uma casa
que os donos se mudaram e está lá vazia. Tudo isso
pode ser motivo para uma exploração das crianças.
VAMOS NOS DIVERTIR NUM GRANDE EVENTO
(DATAS COMEMORATIVAS, CIRCO, PARQUE DE
DIVERSÕES).
O circo chegou no bairro, com ele muitas caras e aventu-
ras novas. Pode ser também uma festa religiosa, carnaval.
A ideia é que um evento grandioso atraia a atenção de
todos e apresente oportunidades para novas aventuras.
O CONFLITO É INTERNO, BRIGAS E
DESENTENDIMENTOS ENTRE OS MEMBROS DA
TURMINHA.
Dois membros da turminha estão brigados (podem ser
personagens de jogadores ou não), e isso gera a necessida-
de da turminha se mexer para tentar reverter a situação.
Caso seja de interesse do grupo, é possível customizar
o local onde as crianças vivem, para melhor se encaixar
com as expectativas e memórias dos jogadores. O cenário
pode ser num condomínio fechado de casas, num prédio
com espaços para crianças e outras áreas não tão hospita-
leiras. Uma aventura específica pode servir para ter uma
mudança temporária no cenário: a turminha pode ir até
um shopping center para ir ao cinema; ou a festa de ani-
versário que eles foram convidados pode ser na casa de
um amigo que mora longe ou numa casa de festas.
Misturar o bairro do Limoeiro da Turma da Môni-
ca com os espaços reais conhecidos pelos jogadores
pode trazer boas interações e permitir maior partici-
pação dos jogadores na introdução de detalhes sobre
os locais.
CRIAÇÃO DE PERSONAGENS
A primeira definição ao construir seu personagem é a
idade. Isto irá determinar em que nível de progresso seu
personagem irá ser construído.
As personagens crianças são construídas como Nova-
tos com a complicação Jovem - Maior (pág. 28 SWADE),
como a complicação Jovem custa 2 pontos, restam ape-
nas mais 2 pontos de complicações para serem escolhi-
dos durante a criação (assim como o uso dos seus pon-
tos para atributos, perícias ou vantagens). Estes 2 pontos
de personagem da complicação Jovem poderão ser uti-
lizados no início da sessão de jogo, para customizar os
personagens de acordo com aventuras temáticas - para
6
Savage Worlds
que os personagens possam se tornar exploradores com
um dom ou habilidade específica. Ex.: Na sessão de hoje
o mestre irá transportar a turminha para a nave Falcão
Milenar, e os personagens poderão se tornar pilotos de
naves, mecânicos, patrulheiros espaciais ou mesmo pos-
suir dons mágicos. Os personagens poderão utilizar os
2 pontos de personagem adicionais das complicações-
complicações e assim poder adquirir novas habilidades
disponíveis para esta aventura. A força da imaginação é
poderosa na turminha!
ALTERNATIVAS À VIOLÊNCIA
A Turma da Mônica RPG adapta o Savage Worlds
para que seja adequado ao uso com crianças como
personagens e jogadores, então evita-se que os con-
flitos sejam resolvidos por meio de combates. As re-
gras opcionais de Encontros Rápidos e Tarefa Dra-
mática são excelentes maneiras de mudar o foco das
aventuras para que as soluções encontradas não se-
jam agressivas ou violentas. Nessas aventuras não
há morte de nenhum personagem, eles podem ficar
inconscientes, machucados, desmoralizados, ad-
mitir derrota, fugirem. Existem várias maneiras de
pensar na conclusão de conflitos sem a necessidade
da morte de personagens de jogadores ou mesmo de
personagens interpretados pelo mestre.
 ADAPTANDO
Além disso, a personagem criança
possui apenas 3 pontos de atributo para
distribuir e 10 de perícias. São consideradas Pequenas
(como a complicação pág. 30 do SWADE) e possuem um
total de 4 benes no início de cada sessão para simbolizar
a sua sorte fora do comum, ou talvez a proteção do An-
jinho!
As personagens adolescentes iniciam com a complica-
ção Jovem - Menor. Possuem 4 pontos de atributos e 10 de
perícias e um total de 3 benes no início de uma sessão de
jogo. A regra de adicionar complicações e vantagens em
cada episódio de acordo com o tema da aventura continua.
Deixe 2 (dois) pontos de complicações e vantagens
para serem definidos no início da sessão, eles não serão
definidos na construção da personagem. Estas vanta-
gens e complicações poderão ser escolhidas (ou defini-
das pelo mestre) somente no início da aventura, e deve
envolver o cenário para aquele episódio ou a trama que
irá se desenrolar durante a sessão. Isto pode vir com um
mentor fornecendo a habilidade logo na primeira cena,
a descoberta de algum item ou artefato mágico, ou mes-
mo porque ao acordar a personagem se sente diferente.
IDADE
PONTOS PARA
OBSERVAÇÕES
DISTRIBUIR
Criança atributo: 3/ perícia: 10 4 benes/ Pequeno
Adolescente atributo: 4/ perícia: 10 3 benes
Adulto atributo: 5/ perícia: 12 2 benes
DICAS PARA A CONSTRUÇÃO DE
PERSONAGENS NO ESTILO DA
TURMA
Várias complicações já listadas no livro básico do
Savage Worlds Edição Aventura se encaixam muito
bem com a ideia de personagens crianças da turma,
por exemplo: a complicação “Sensível” pode signifi-
car que a pessoa tem dificuldade em resistir a pro-
vocação sobre suas características físicas (gorducha,
dentuça); “Língua Presa” pode significar uma dificul-
dade em falar a letra R, trocando-a pelo L; “Fobia”
pode ser definido como a aversão ao banho de um
personagem; e a personagem que não pode ver comi-
da sem sua barriga roncar e ela queira devorar tudo
pode ser justificada pela complicação “Hábito”. Utili-
ze as complicações e vantagens do livro com criativi-
dade para que as características de seus personagens
sejam contempladas.
REGRAS DE AMBIENTAÇÃO PARA
AVENTURAS NO BAIRRO DO
LIMOEIRO
A regra de Encontros Rápidos (pág.137) modifica um en-
contro para ser resolvido por testes de perícia, evitando
a sequência de iniciativa e resoluções rodada a rodada.
Para muitas das aventuras no bairro do Limoeiro essa
mesma solução pode ser utilizada, definindo quais se-
7
Savage Worlds
riam as perícias utilizadas antes do encontro e permitin-
do que os jogadores escolham sua forma de resolução ao
definir quais perícias vão utilizar. Para que os jogadores
sejam bem-sucedidos o mestre pode definir um número
de testes de perícia bem-sucedidos antes de um número
de falhas, e os jogadores vão declarando suas ações e des-
crevendo de acordo com os valores dos dados.
Ex.: Cebolinha e Cascão tentam colocar seu plano infalível
em ação para retirar o coelhinho Sansão das mãos da Mô-
nica. O mestre define que para isso, eles precisam resolver
um Encontro Rápido de Roubo utilizando as perícias: Fur-
tividade, Hackear, Ladinagem, Perceber; tendo pelo menos
um sucesso. Ao fazer os testes, Cebolinha escolhe usar Fur-
REGRAS OPCIONAIS PARA PROGRESSÃO
Os personagens não mantêm seu crescimento e
aumentam de nível de progresso após o fim dos ar-
cos de campanhas. Quando se encerra uma história,
os personagens voltam ao estágio inicial, às informa-
ções coletadas podem fazer parte das memórias dos
personagens, que as citam como parte do seu pas-
sado, mas isso não trará nenhum aumento no Pro-
gresso do personagem para campanhas posteriores.
Outra opção para isso é retardar a progressão dos
personagens, que recebem progressão a cada 3 ses-
sões de jogo ao invés de uma progressão por sessão.
A progressão muito rápida pode tornar as crianças
poderosas muito rápido.
 ADAPTANDO
tividade, porém não é bem-sucedido e
acaba sendo visto pela Mônica enquan-
to tenta entrar pela porta de trás da casa. O
Cascão tenta usar sua Ladinagem para destrancar a janela
da sala e pular para dentro pegando o coelhinho que está
no sofá antes da Mônica. Ele também falha no teste, o que
resulta num segundo Encontro Rápido de Crise, agora Ce-
bolinha e Cascão precisam pensar rápido para resolver a si-
tuação e não acabar com alguns hematomas.
Evite a escolha de vantagens de combate e a criação de
personagens com foco em luta. Ao conversar com os joga-
dores participantes sobre o jogo, antes de iniciar a constru-
ção de personagens, deve ficar claro que as aventuras terão
possibilidades de resolução não-violentas, que os persona-
gens não morrem. O tom das aventuras será muito mais
próximo dos quadrinhos da Turma da Mônica se todos to-
parem essa proposta.
8
Savage Worlds
FICHAS DE PERSONAGENS
As personagens que os jogadores irão utilizar podem
ser a própria Turma da Mônica, ou ainda eles podem
criar outros, se inspirando na sua infância ou na de al-
gum amigo, parente. Abaixo seguem estatísticas sugeri-
das para a ficha de personagem de alguns membros da
Turma da Mônica.
As complicações e vantagens foram adaptadas do Sa-
vage Worlds Edição Aventura (SWADE), para represen-
tar as características das crianças, mas as regras conti-
nuam iguais. Por exemplo, a Mônica tem a complicação
Sensível, para representar a dificuldade em lidar com as
provocações dos amigos da turminha, exatamente como
ocorre nos quadrinhos.
 ADAPTANDO Savage Worlds

□ Atributos: Agilidade d4, Astúcia d4, Espírito d6, Força d6, Vigor d6
□ Perícias: Atletismo d4, Conhecimento Geral d4, Furtividade d4, Perceber d6, Persuadir d6,
Atirar d6, Intimidar d6, Lutar d4, Pesquisar d4
□ Tamanho: -1; Movimentação: 6; Aparar: 4; Resistência: 6
□ Complicações: Pequeno, Sensível (Dentuça e Gorducha), Teimoso
□ Vantagens: Brigão (+1d4 de dano com as mãos +1d6 com o Sansão)
□ Equipamento: Vestido vermelho, Coelhinho de Pelúcia (Sansão)

WMÔNICA

□ Atributos: Agilidade d6, Astúcia d6, Espírito d6, Força d4, Vigor d4
□ Perícias: Atletismo d6, Conhecimento Geral d8, Furtividade d6, Perceber d6, Persuadir d4, Provocar d4,
Lutar d4, Pesquisar d6
□ Tamanho: -1; Aparar: 4; Movimentação: 6; Resistência: 3
□ Complicações: Pequeno; Língua Presa (troca o R pelo L), Cauteloso
□ Vantagens: Investigador (+2 em Pesquisar e alguns Perceber)
□ Equipamento: Camisa verde, bermuda preta e sapatos.
WCEBOLINHA

□ Atributos: Agilidade d4, Astúcia d6, Espírito d6, Força d4, Vigor d6
□ Perícias: Atletismo d6, Conhecimento Geral d6, Furtividade d4, Perceber d6, Persuadir d6, Performance d6,
Lutar d4, Pesquisar d6
□ Tamanho: -1; Movimentação: 6; Aparar: 4; Resistência: 4
□ Complicações: Pequeno; Hábito - Maior (Comilona)
□ Vantagens: Carismático (Rerrolagem em Persuadir)
□ Equipamento: Vestido amarelo, gatinho branco (Mingau). WMAGALI

9
 ADAPTANDO Savage Worlds

□Atributos: Agilidade d8, Astúcia d4, Espírito d6, Força d4, Vigor d4
□ Perícias: Atletismo d6, Conhecimento Geral d4, Furtividade d6, Perceber d4, Persuadir d6,
Dirigir d6, Provocar d6, Lutar d4, Pesquisar d4
□ Tamanho: -1; Movimentação: 6; Aparar: 3; Resistência: 3
□ Complicações: Pequeno; Fobia - Maior (Água)
□ Vantagens: Provocador
□ Equipamento: Camisa amarela, bermuda e suspensório vermelho xadrez, guarda-chuva.

WCASCÃO

□ Atributos: Agilidade d4, Astúcia d8, Espírito d6, Força d4, Vigor d4
□ Perícias: Atletismo d4, Conhecimento Geral d8, Furtividade d4, Perceber d6, Persuadir d4, Eletrônica d6,
Lutar d4, Ciência d4, Pesquisar d4, Consertar d6
□ Tamanho: -1; Movimentação: 6; Aparar: 3; Resistência: 4
□ Complicações: Pequeno, Obrigação, Guiado
□ Vantagens: Obstinado
□ Equipamento: Camisa vermelha, bermuda preta, sapatos, kit de alquimia.
WFRANJINHA

□ Atributos: Agilidade d4, Astúcia d6, Espírito d8, Força d4, Vigor d6
□ Perícias: Atletismo d4, Conhecimento Geral d6, Furtividade d4, Perceber d6, Persuadir d8, Idiomas d4,
Curar d6, Performance d8
□ Tamanho: -1; Movimentação: 6; Aparar: 3; Resistência: 4
□ Complicações: Pequeno, Impulsiva
□ Vantagens: Carismática
□ Equipamento: Macacão laranja, camisa rosa, tênis rosa com cadarços coloridos. WMILENA

10
 ADAPTANDO
COISAS ESTRANHAS NO
BAIRRO DO LIMOEIRO
INTRODUÇÃO
Coisas estranhas estão acontecendo no Bairro do Li-
moeiro. O Xaveco foi visto pela última vez no campinho
de futebol logo após o jogo que a turminha venceu o
time da rua de baixo. Depois do jogo a turma ficou con-
versando até que, quando começou a anoitecer, todos se
despediram e seguiram para suas casas.
Ao perceber que Xaveco não chegou em casa, a turma
pegou seus equipamentos e correu para o local do desa-
parecimento.
O DESAFIO
O desaparecimento do Xaveco é o início da revelação de mui-
tas coisas estranhas que estão acontecendo no Bairro do Li-
moeiro. As pessoas estão agindo como animais, e os animais
também estão alterando seu comportamento. Cachorros
agindo como se fossem coelhos, gatos como se fossem gali-
nhas… e o Xaveco está se comportando como um tatu. Por
isso ele acabou se escondendo em buracos debaixo da terra.
1º ENCONTRO - O
DESAPARECIMENTO DE XAVECO
Dona Xarlene – a mãe do Xaveco, liga para a mãe de
uma das crianças. A partir daí as crianças acabam re-
cebendo a informação que o Xaveco não retornou para
casa após o jogo de futebol no campinho. Essas informa-
ções deveriam ser suficientes para que as crianças quei-
ram fazer sua própria investigação, mas talvez uma das
crianças que estava no jogo pode informar para eles que
viu o Xaveco sozinho no campo depois que todo mundo
já tinha ido embora.
Testes bem-sucedidos com a perícia Perceber ou Sobre-
vivência podem revelar que o Xaveco foi na direção da flo-
resta ao lado do campinho. Testes de Intimidar ou Persua-
dir nas crianças do time da Rua de Baixo podem revelar
que elas chutaram a bola do Xaveco para dentro da flores-
ta no intervalo do jogo, pois estavam perdendo e ficaram
irritadas.
ENTRANDO NA FLORESTA
Após a turminha descobrir para onde o Xaveco foi, o
próximo passo é a entrada na floresta. Esta parte deve
ser narrada de maneira a transmitir apreensão e medo
para os jogadores, destacando a escuridão dentro da flo-
resta (mesmo durante o dia) além de barulhos e movi-
mentos sendo percebidos em volta deles. Nos momen-
tos de maior apreensão os jogadores podem fazer um
teste de Medo, em caso de falha ficam nauseados. No
caso de uma falha crítica, devem jogar na Tabela opcio-
nal de Medo a seguir.
Teste de Perceber revela que tem alguns animais na
floresta, se combinados com testes de Furtividade para
se aproximar deles sem assustá-los (ou alguma outra so-
lução criativa) é possível notar também como eles estão
11
Savage Worlds
TABELA OPCIONAL DE MEDO
D12 EFEITO
1-2 Distraído: até o fim do seu turno
3-4 Vulnerável: até o fim do seu turno
5-8 Abalado
A Marca do Medo: Atordoado e alteração
9
física cosmética.
Aterrorizado: Adquire a complicação Hesi-
10-11
tante pelo restante do encontro.
Apavorado: Corre imediatamente para lon-
12 ge do perigo com sua movimentação total
mais o dado de corrida e está Abalado.
PARA O MESTRE
Essas informações não devem ser passadas para os
jogadores. O Xaveco não está mais na floresta, ele en-
trou no buraco onde a bola estava, a pegou e logo se
sentiu mal e foi correndo para casa. Mas ele já esta-
va sob efeito do Mundo Trocado e em pouco tempo
começou a se comportar como um tatu. Agora ele
está escondido num prédio em construção, fazendo
buracos e se escondendo neles.
se comportando. Sucesso em testes de Ciência ou Co-
nhecimento Geral podem revelar que o animal observa-
do está se comportando de maneira estranha, se o teste
tiver uma ampliação a personagem saberá que ele está
agindo como se fosse de outra espécie.
 ADAPTANDO
A turminha agora procura pelo Xave-
co na floresta, podendo encontrar alguma
pista sobre o caminho que ele foi a partir de
testes de Sobrevivência ou Conhecimento Geral que indicam
a direção da Rua do Limão, com uma ampliação é possível
identificar que ele estava correndo quando saiu da floresta
e com duas ampliações que ele estava passando mal (Sobre-
vivência). Com uma ampliação em Conhecimento (Geral) é
Savage Worlds
possível identificar que ele estava indo em direção a sua casa.
AJUDA DA TURMINHA
Ao caminhar em direção a casa do Xaveco a turminha passa Caso o grupo fique travado em alguma parte da
por um prédio em construção no começo da rua do Limão e investigação e não saiba o que deve fazer, é possível
precisa fazer um teste de Perceber para reparar que a bola do que eles busquem ajuda com outros amigos da tur-
Xaveco está na entrada do quintal de obras. ma, procurem informação com outros grupos. Tudo
isso pode ser válido, valorize as escolhas do grupo, e
A BOLA PERDIDA se as decisões fizerem sentido e os testes forem bem-
A turminha segue as pistas sobre o paradeiro do Xaveco -sucedidos, recompense com as informações que os
coloquem de volta no encalço do Xaveco. O Franji-
nha é sempre uma boa escolha para um personagem
que pode ajudá-los com alguma orientação, suges-
tão, ou respondendo alguma dúvida. Nada impede
que eles saiam da floresta, busquem ajuda e depois
voltem para continuar a procura pelo amigo desapa-
recido.
até o prédio que está em construção no começo da rua.
Alguns animais com personalidade trocada começam a
ser vistos pelo grupo, até que fique mais claro para eles
que os animais se comportam como se fossem de outra
espécie.
2º ENCONTRO - O CACHORRO À
ESPREITA
Um dos animais que está na obra é um cachorro grande
que está se comportando como se fosse uma onça (ou al-
gum outro animal predador, fique à vontade para alte-
rar como você achar mais adequado). Ele vai ameaçar os
membros da turma que entrarem no canteiro de obras.
12
 ADAPTANDO Savage Worlds

Xaveco está escondido embaixo de Para o cachorro-onça, utilize as estatísticas do cão (COMBINAÇÃO DE TESTES DE
umas madeiras empilhadas, fugindo (pág. 219 SWADE) e acrescente a habilidade Bote do leão
do cachorro-onça como se fosse um tatu. (pág. 223 SWADE). A resolução deste encontro poderá
PERÍCIAS)
Conseguindo encontrar o amigo desaparecido, a turmi-
Um teste bem-sucedido de Perceber de alguém que ser feita com alguma jogada inteligente que despiste o
nha ainda precisa lidar com o comportamento de “tatu”
esteja ativamente procurando revela que um menino cachorro, o acalme por tempo suficiente para a turmi- dele. Isto pode exigir algumas boas interações até conse-
loiro de cabelos cacheados e camisa amarela está embai- nha encontrar o Xaveco e sair do local, ou ainda com guir fazer com que o Xaveco-tatu aja conforme o neces-
xo das madeiras. Se o teste estiver acontecendo no meio
ameaças que o façam recuar e ficar acuado. sário. O Xaveco lembra de todos os amigos, então não
de outras ações, exija a rodada inteira para procurar e
vai ser muito difícil conquistar sua confiança, mas ele
ainda assim será necessário uma ampliação para que o
teste revele o Xaveco, caso contrário revelará que tem
3º ENCONTRO - DE PERNAS PARA não fala, só engatinha e caso seja confrontado com al-
gum perigo irá correr para um canto e se enrolar como
algum animal escondido do predador. O AR - ENCONTROS RÁPIDOS
uma bola, escondendo a cabeça com as mãos. Esta parte
da aventura pode ser resolvida com a interação dos per-
O QUE ESTÁ ACONTECENDO NO BAIRRO DO LIMOEIRO? sonagens com o NPC, sem necessidade de lançar dados.
O Xaveco foi a primeira pessoa afetada pelo problema, mas alguns animais estão sofrendo com as mudanças
Caso o grupo prefira agilizar, um teste de Persuadir é o
há algum tempo. Todas as criaturas que ficarem em lugares escuros e isolados por muito tempo são suscetí-
suficiente para tranquilizar o amigo.
veis a mudanças de comportamento, mas somente irá ocorrer com aqueles que ficarem com muito medo. Este
Para que o Xaveco recupere sua personalidade de
sentimento está criando um meio de interação entre o Mundo Trocado e o que vivemos. Em termos de jogo,
criança é necessário que o grupo o prepare para a tran-
o personagem que se encontra nessa situação precisa fazer um teste de Medo (rolagem de Espírito como ação
sição, criando um espaço seguro e demonstrando que
livre) ou ficar acometido com Náusea (pág.141 SWADE). Se a falha for crítica ele canaliza a energia do mundo
trocado e assume o comportamento de um animal de lá. são de confiança e não pretendem fazer nenhum mal a
Por enquanto isso significa somente assumir comportamentos de outros animais. Mas alguém mal intencio- ele. Depois disso, Xaveco precisa comer e dormir con-
nado pode querer se aproveitar e aumentar a proximidade entre os dois mundos. Se este canal for utilizado fortavelmente para se recuperar completamente. Quan-
de maneira engenhosa talvez até permita que as pessoas viajem fisicamente para o mundo trocado. Mas isto é do acordar ele voltará a ser o menino de sempre, lem-
assunto para outras aventuras com coisas estranhas acontecendo no Bairro do Limoeiro. brando-se de todas as memórias do tempo em que se
Caso algum personagem da turminha fique isolado na floresta ou em algum outro lugar e tenha medo, o teste comportava como um tatu.
de Medo será necessário. Numa falha crítica ele irá trocar sua personalidade com a de algum animal (além de A turminha pode ir atrás de ajuda para descobrir o
jogar na Tabela opcional de Medo). Converse com o jogador para que ele interprete um animal um pouco mais que fazer, entrando em contato com personagens como
inteligente que o comum, e que tenha todas as memórias do seu personagem. o Franjinha, ou fazendo suas próprias pesquisas na inter-
net ou biblioteca. Incentive que sejam curiosos e preocu-

13
 ADAPTANDO
pados. Esta busca é o momento final
da aventura e deve exigir diferentes
testes para que toda a missão seja bem-su-
cedida. A tarefa será dividida em 3 etapas, cada uma as-
segurando uma das necessidades para o Xaveco voltar
ao normal. Cada etapa é um encontro rápido diferente
que precisa ser resolvido separadamente, sem ter uma
sequência correta. Caso Entender o Problema seja resol-
vido, o grupo terá a informação mais clara sobre cada
uma das outras etapas e o que precisa ser feito nelas.
1ª ETAPA - ENTENDER O PROBLEMA - PESQUISAR,
CONHECIMENTO, OCULTISMO, CIÊNCIA
Nesta etapa o grupo precisa ir atrás de informação para
saber o que está acontecendo com o Xaveco e os outros
animais. Caso resolvam esta etapa o grupo saberá mais
claramente o que precisa fazer para concluir as duas ou-
tras etapas.
2ª ETAPA - ACALMAR O AMIGO - PERSUADIR,
CURA, SOBREVIVÊNCIA, PERFORMANCE
O Xaveco-tatu vive ficando com medo, se escondendo,
enrolando, fugindo, atacando, correndo de um lado
para o outro. Caso o grupo consiga resolver esta etapa o
amigo da turminha ficará mais quieto, acompanhando a
pessoa que teve mais sucessos para acalmá-lo.
3ª ETAPA - PREPARAR O AMBIENTE -
SOBREVIVÊNCIA, CONHECIMENTO, CONSERTAR,
PERCEBER
Nesta etapa o grupo precisa preparar um espaço que seja
condizente com o que o Xaveco-tatu gosta. Então preci-
sa ser: quentinho; apertado, mas aconchegante; com um
foco de luz apenas, ficando a maior parte na penumbra;
silencioso e sempre com a presença de pelo menos um
amigo da turminha.
Uma coisa importante é que o Xaveco-tatu voltará a
ficar agitado caso o grupo faça alguma piada sobre ele e
a situação em que está. Ele gosta de piadas e coisas en-
graçadas, mas sofre muito com bullying.
Para o grupo ser bem-sucedido em cada uma das eta-
pas é necessário 1 sucesso com duas ampliações ou 3
sucessos em diferentes testes. Cada falha gera uma difi-
culdade a mais para os testes posteriores, caso ocorram
3 falhas o grupo não consegue resolver aquela etapa e
precisará levar o Xaveco para os seus pais ainda se com-
portando como um animal.
RESULTADOS
Após esta aventura o grupo poderá levar o Xaveco em
segurança para a casa da Dona Xarlene onde ela está
com o Seu Xavier (o pai do Xaveco que mora em ou-
tra cidade), a Xabéu (irmã mais velha) e a Vó Xepa, que
estão morrendo de preocupação. Na porta da casa são
recebidos pela Xabéu, que parece ser a pessoa em me-
14
Savage Worlds
lhores condições na família para conversar com pessoas
de fora. Mas todos ficam muito felizes ao ver o Xaveco e
agradecem a turminha por trazê-lo em segurança.
Os adultos não vão dar muita importância para his-
tórias sobrenaturais que as crianças contarem, vão as-
sumir que o menino ficou assustado com a floresta ou
o cachorro da construção e não conseguiu sair sozinho
do local. Caso ele volte ainda se comportando como um
animal, irão ficar preocupados e cuidarão dele como se
isso fosse um trauma. Eventualmente ele voltará a ter o
comportamento normal após uma boa noite de sono em
casa.
Caso o grupo tenha interesse em continuar a história
sobre Coisas Estranhas acontecendo no Bairro do Li-
moeiro, em uma próxima aventura alguma criatura do
mundo trocado pode vir parar na região, ou um portal
físico pode acabar se abrindo entre os mundos e coisas
(e pessoas) daqui podem parar lá.
Caso a história vá continuar, a turminha pode conquis-
tar um estágio de progressão, e os jogadores o utilizam
para avançar sua personagem. A mestre pode também
dar uma complicação vinculada aos resultados dessa
aventura para cada personagem, que poderá selecionar
uma vantagem ou outro avanço de acordo com o que
ocorreu durante essa aventura.
 CONTO The Dark Eye

UM BRINDE A
ISSO

Q
uando as primeiras fagulhas subiram aos
céus e mesclaram sua luz dourada com as
estrelas prateadas, Allacaya pensou que isso
daria um belo verso. E continuou a prender a corda
na cravelha do alaúde. Baixou então os olhos e ob-
servou Bengram Banhem do outro lado da fogueira.
O anão estava deitado em uma cama improvisada
com peles encostada em uma das árvores da clarei-
ra. Parecia mais corado e, até mesmo, mais animado.

POR ELI DOS SANTOS

 CONTO
O guerreiro das forjas observava
atentamente as faixas em volta de sua
mão esquerda. Sabia que Irinja havia feito
um bom trabalho e que não corria mais riscos de sangra-
mento ou infecção. Ainda assim, sobrarem-lhe oito dedos
nas mãos. Lembrou-se do chicote negro saído como um
tentáculo de dentro dos mantos negros da criatura. Uma
sombra tomando a forma de um estalo certeiro e faminto
que levara o mindinho e o anelar embora, direto para o
chão de terra pisoteado pelas botas de seus companheiros.
– Oito dedos, oito demônios.
– Como? – perguntou Irinja, abaixando-se ao seu lado
para ouvir melhor.
– Nesses anos todos de jornadas e combates, o heshtot
que enfrentamos hoje foi apenas o oitavo demônio que
encontrei. Mas também foi o primeiro a deixar uma ci-
catriz permanente para levar para a vida que me resta.
A Abençoada de Irinja tocou o ombro do companheiro.
– Mais uma vez, obrigado – respondeu o anão, sorrin-
do pela primeira vez naquele dia – Ainda posso empu-
nhar o martelo junto a bigorna, ou o machado junto aos
ogres. Mas não me acostumo a ideia de ter meu próprio
sangue fora do corpo. Talvez seja um sinal de devo me
aposentar e me contentar em contar minhas histórias à
jovens inspirados.
– Você precisa descansar, Bengram – falou Yendor – E
talvez precise de um pouco de cerveja, também. Hoje
parece um boa noite para bebermos um pouco de nosso
suprimento, o que acham?
O caçador meridiano deixou mais um punhado de gra-
vetos na fogueira e se levantou, olhando ao redor. Allacaya
acenou com a cabeça e baixou o rosto para observar as cor-
das que agora afinava em seu alaúde, erguendo o olhar logo
em seguida para encontrar um brilho e um sorriso em Irinja.
– Parece uma boa ideia – respondeu Bengram.
– Parece justo – Jaakon surgiu por entre as sombras da
floresta de Natandia, aproximando-se do calor do fogo
da clareira e dos companheiros. – Esta talvez seja uma
das últimas noites de paz e alegria, antes de rumarmos
para o Extremo Norte, para além das Pedras da Sala-
mandra, onde aguarda nossa missão.
Bengram baixou os olhos mais uma vez para sua mão
esquerda, mas decidiu não interromper Jaakon Karen-
kis. O guerreiro havia salvado sua vida, hoje. Fora espe-
cialmente hábil e brutal ao golpear o heshtot com suas
espadas abençoadas.
– Histórias foram contadas sobre a Ordem dos Cava-
leiros do Teatro e sobre os Karenkis, minha família.
– Nossa família, irmão – provocou Irinja, com um riso.
– Histórias serão contadas sobre nossa viagem até
aqui e até sobre os invocadores naquele lugar maldito –
continuou Jaakon, evitando olhar para o anão, embora
soubesse de seus pensamentos. – Mas o que a compa-
nhia fez entre aventuras? Só a companhia guarda essas
histórias. E por isso devemos celebrar esta noite!
– Você fala demais, irmão.
– Você demorou, guerreiro – interrompeu Yendor –
Achei que fosse apenas limpar suas lâminas.
16
The Dark Eye
– Aproveitei e rastreei a área ao nosso redor. Queria
ter certeza que estávamos seguros. Você poderia ter fei-
to isso também, não é, caçador?
– Eu estava ocupado acendendo a fogueira para sua
celebração.
– Eu percebi. Desde o riacho eu pude ouvir suas vozes
e ver suas chamas.
Uma nota mais alta, e ainda desafinada, do alaúde de Al-
lacaya quebrou o silêncio que se seguiu. O vento frio balan-
çou capas e cabelos. Logo em seguida, os passos de Irinja
sobre as folhas secas da clareira disputaram com os ruídos
dos galhos crepitando na fogueira. Ela segurou a mão de
Jaakon e o convidou a se sentar a seu lado, sobre um tronco
caído. Ele fora tão belo, mas o passar dos anos e a chegada
das responsabilidades marcavam seu rosto sisudo.
– Estávamos preocupados...
– Eu estou muito empolgado com os rumores sobre o
Olho Negro, irmã – sussurrou o guerreiro natandiano.
– Todos nós estamos, amigo – Yendor deu as costas
aos Karenkis e se afastou até a rocha onde apoiara sua
mochila. Revirou-a por uns instantes antes de exibir a
todo o grupo de companheiros um barril – Essa cerveja
vem direto das Colinas de Kosh.
– Há! Então, é a melhor cerveja de Aventuria! – um exaltado
Bengram tentou se acomodar melhor e sentar-se mais ereto so-
bre a cama, mas dor e o mal estar de outros pequenos ferimen-
tos o lembraram imediatamente de que deveria ir devagar.
– Se todos me acompanharem, acredito que ela seja
ideal para essa noite.
 CONTO
– E também para os peixes que
você nos pescou.
– Os peixes! Esqueci de levá-los ao fogo.
Jaakon foi o primeiro a rir. E foi um riso de alívio e de
alegria. Um riso que contagiou Yendor. Logo em segui-
da, Allacaya pareceu deixar sua atenção sair do alaúde
e também parecia se divertir, o que contagiou Irinja. O
anão foi o último.
Ele olhou mais uma vez para a mão esquerda. Em se-
guida, fitou as rugas e os pelos esbranquiçados da mão
direita. Subiu o rosto e encarou Irinja.
– Abençoada de Peraine – disse para si mesmo. – Oito
dedos, oito demônios.
Jaakon se levantou e foi até onde o caçador meridiano ha-
via deixado o barril. Apanhou-o e pensou no Olho Negro,
no Extremo Norte e, por fim, no heshtot. Abriu a tampa e
parou. Yendor e Irinja estavam prestando a atenção nele.
– Me dê logo isso daí.
O natandiano entregou o barril ao outro guerreiro
da companhia e voltou para se sentar ao lado da irmã.
Abraçou-a com um tímido sorriso no rosto.
– Seus olhos estão assustados, Jaakon.
– Não se preocupe com isso. Ainda sou capaz de guiar
esse grupo e dar uns bons golpes de espada.
– Me preocupo com suas escolhas e seus fardos. Me
preocupo com meu irmão, não com meu guia.
Outra nota do alaúde de Allacaya se elevou acima das fa-
las do grupo. Dessa vez, parecia mais próxima da afinação
correta. E não vinha desacompanhada. O aroma do pei-
xe sobre o fogo já se fazia sentir no vento, bem como seus
temperos também vindos de Kosh. Foi quando os amigos
perceberam que, além de cansados, estavam com fome.
Toda a atenção agora parecia ir para as suas salivações.
– O fogo está ardendo belamente, hoje. Está forte. Só
mais alguns minutos e poderemos nos calar um pouco.
– Enquanto isso, podemos matar nossa fome de histó-
rias, Yendor?
– Por favor, Bengram.
O anão destampou o barril e aspirou profundamente seu
aroma agridoce. De olhos fechados, ergueu o objeto e a voz:
– Eu proponho um brinde a todas as palavras e verbos,
a todas as línguas, que nos permitem contar histórias.
– Ho! Sim! Um brinde a isso! – responderam os amigos.
Deu um longo gole, quase se engasgando, até ser in-
17
The Dark Eye
terrompido pelo caçador. Yendor tomou o barril e cami-
nhou até o centro da clareira, de frente para a fogueira.
Olhou para o céu e brindou:
– Então eu brindo a todos aqueles que estão em uma história.
– Um brinde! Aho! Um brinde a isso!
Depois de engolir a espessa e aquecida cerveja, Yen-
dor a levou até as mãos de Jaakon. Se olharam e se ace-
naram brevemente. Então o guerreiro natandiano segu-
rou o barril com as duas mãos e olhou fixamente para a
fogueira por uns instantes.
– E eu brindo a todas as histórias que podem ser contadas.
– Brindemos! Um brinde a isso! Sim!
Entregou o barril para sua irmã e se sentou de volta no tron-
co. A abençoada de Peraine se levantou e olhou a cada um de
seus amigos, detendo por fim o olhar em Allacaya. Sorriu, in-
clinou a cabeça para o lado e ergueu um tanto do barril:
– Eu brindo a todos que contam histórias.
– Um brinde a isso! Aho! Sim!
Irinja bebeu um bom gole da cerveja e entregou de
volta o barril para Yendor.
Em pé, a elfa da floresta soltou uma das mãos do seu ins-
trumento e recebeu o barril sorrindo para o amigo. Não gos-
tava tanto de cerveja, como não gostava tanto de peixe. Ainda
assim, a barda deu um pequeno gole da bebida e devolveu ao
caçador, olhando na direção além dele, para Irinja.
– Eu brindo, e agradeço, a todos aqueles que escutam
essas histórias.
E antes que todos pudessem concordar, Allacaya Sau-
damilho cantou uma história.
FERRAMENTAS DO MESTRE Tiny Dungeon

A VERSATILIDADE DE
TINY DUNGEON

O
Tiny Dungeon é um jogo recém-lançado pela editora e já se tornou um
dos meus jogos favoritos. E isso se deve ao seu sistema de regras sim-
ples, elegante e que funciona muito bem. Seu sistema é o Tiny D6, cuja
espinha dorsal é a seguinte: sempre que um Teste for necessário, role 2d6. Caso
você possua alguma Vantagem, role 3d6 e caso possua alguma Desvantagem,
role 1d6. Se você tirar 5 ou 6 em algum dos dados, você obtém sucesso, se não,
falha.
Apesar do Tiny Dungeon ser um jogo com temática de fantasia medieval,
seu sistema é versátil o suficiente para que se possa aproveitar o potencial do
motor Tiny D6 em outros cenários, conforme desejar. Isso é comprovado inclu-
sive por outros jogos de outras temáticas já lançados para o Tiny D6 no merca-
do externo.

POR DANIEL TSCHIEDEL

 FERRAMENTAS DO MESTRE
Nesse artigo vou propor uma for-
ma de fazer adaptações com o Tiny
Dungeon.
ADAPTANDO AS PERSONAGENS
(AVENTUREIRAS)
As personagens no jogo possuem as seguintes carac-
terísticas: Herança, Traços, Ramo da Família, Crença e
Proficiência em um Grupo de Armas. A Herança basi-
camente define a quantidade de Pontos de Vida da per-
sonagem e algum Traço específico. O Ramo da Família,
além de servir como semente narrativa, provê Vantagem
para a personagem em determinadas situações. A Cren-
ça possui apenas efeito narrativo e a proficiência apenas
dirá quantos dados a personagem rola ao utilizar cada
tipo de arma.
Olhando para essas características e em como elas se
refletem nas regras do jogo (mecanicamente) a composi-
ção das personagens pode ser resumida em:
□ Pontos de Vida;
□ Conjunto de Traços;
□ Proficiência com armas.
Ao verificarmos a quantidade inicial de Pontos de
Vida de cada Herança, vemos que uma personagem
começa, aproximadamente em média, com seis Pontos
de Vida. Quanto aos traços, cada uma começa com três
Traços mais um Traço adicional garantido pela sua He-
rança, ou seja, um total de quatro Traços.
Tiny Dungeon
Quanto à proficiência com armas, o jogador escolhe
um Grupo de Armas para ser proficiente e um tipo es-
pecífico de arma para ser especializado. Essa regra será
usada exatamente dessa forma.
UMA FORMA ALTERNATIVA DE SE
ENXERGAR OS TRAÇOS
Os Traços fornecem habilidades adicionais para a sua per-
sonagem que, em geral, ou alteram as regras do jogo em
alguma situação ou fornecem Pontos de Vida extras ou ga-
rantem Vantagem em Testes em determinadas situações.
Portanto, é possível simplificar o uso dos Traços para fun-
cionarem como os Rótulos de Poder do City of Mist, mas
em vez de darem bônus nas rolagens, simplesmente garan-
tirem Vantagem em Testes onde algum Traço seja relevante.
Dessa forma, cada Traço passaria a ser apenas uma
palavra, como um verbo, substantivo ou adjetivo que
defina alguma habilidade ou característica da persona-
gem. Assim, durante um Teste, os jogadores e a Mestre
em comum acordo determinam se aquele Traço se apli-
ca à ação pretendida. Se a resposta for sim, então a per-
sonagem faz a rolagem com Vantagem.
Para facilitar a criação de Traços, segue uma lista su-
gestiva do que eles podem representar:
□ Uma área de conhecimento (arquitetura, história,
biologia, medicina, criptografia, computação…);
□ Uma perícia (saltar, arremessar, nadar, pilotar, ras-
trear, furtividade…);
□ Uma qualidade (bonito, forte, ágil, detalhista, sangue frio…)
19
 FERRAMENTAS DO MESTRE
E QUANTO A MAGIAS E
PODERES?
Para que uma personagem possua algum po-
der ou magia, ela deverá gastar um dos Traços para defi-
ni-lo. No caso de magia, ela pode funcionar exatamente
como o Traço Tocado pela Magia, ou seja, a personagem
que possuir um Traço mágico, poderá conjurar feitiços
de forma aberta usando as mesmas regras desse Traço.
Os poderes funcionarão de forma aberta assim, como
a magia. Por exemplo, um poder como o disparar raios
pelas mãos, além dos efeitos narrativos que possa gerar,
simplesmente permitirá que a personagem realize um
ataque à distância mesmo desarmada.
NOVA FORMA DE CRIAÇÃO DE
PERSONAGENS
Juntando-se as informações levantadas acima, a criação
de personagens poderia ser feita da seguinte forma:
□ Todos começam com seis Pontos de Vida;
□ O jogador define quatro Traços para a personagem;
□ Em seguida, escolhe-se um Grupo de Armas para
ser proficiente e um tipo específico de arma para
ser especializado;
□ Por fim, o jogador define a Crença do personagem.
E é só isso. Todo o restante das regras do jogo perma-
necem iguais às regras conforme descritas no livro base
do Tiny Dungeon.
ARMAS MODERNAS
Em cenários mais modernos, armas à distância possuem
uma variedade maior do que na fantasia medieval. Para
refletir isso, sugiro a subdivisão do Grupo de Armas à
Distância, em Armas à Distância Leves e Pesadas. Essa,
inclusive, foi a abordagem utilizada no jogo Tiny Fron-
tiers, um jogo de aventuras espaciais que também utili-
za o Tiny D6.
Dessa forma, segue uma lista sugestiva de armas mais
modernas:
□ Corpo a Corpo Leve: faca, machado, espada laser,
sabre, soqueira, cacetete (ou qualquer outra usada
com uma mão);
□ Corpo a Corpo Pesada: machado de duas mãos, es-
pada laser de dois lados, bastão de choque, motos-
serra (ou qualquer outra usada com duas mãos);
□ À Distância Leve: revólveres, pistolas laser, bes-
ta de mão (ou qualquer outra que possa ser usa-
da com apenas uma mão ou com poder destrutivo
menor);
□ À Distância Pesada: rifle, granada, lança mísseis,
metralhadora (ou qualquer outra que necessite de
duas mãos para ser usada ou com poder destrutivo
maior).
USO DE VEÍCULOS
Tiny Dungeon é um jogo com uma proposta de rolagens
simples, contendo personagens descomplicadas e com
poucas minúcias. Em vez de focar em customização me-
20
Tiny Dungeon
cânica na criação de veículos, podemos tratá-los como
uma extensão das próprias personagens.
Dessa forma, todos os Testes envolvendo o uso de veí-
culos devem considerar as habilidades das personagens,
e não as características delas. Portanto, em determinado
Teste para a personagem realizar uma manobra com o
veículo, se ela possuir algum Traço que se aplique, como
o Traço piloto, ela rola com Vantagem e, se não tiver, rola
apenas os 2d6, independente se é um veículo mais ágil
ou não.
Para definir um veículo, basta escrever uma frase que
o defina. E cada veículo possui seis Pontos de Vida, as-
sim como as personagens. Por exemplo, um avião caça
F-35, poderia ser definido com a seguinte frase: pequeno
caça de guerra para dois tripulantes, armado com metralhado-
ras e lança mísseis em cada asa.
A descrição do veículo servirá para ajudar a Mestra e
os jogadores a arbitrarem a possibilidade de uma ação
ser efetiva ou não. Portanto, em combate, quando um
veículo for atacado, ele vai sofrer dano, se fizer sentido
na ficção. Por exemplo, é muito difícil uma personagem
conseguir causar dano em um avião com um revólver,
mas com uma bazuca, sim. Ou uma nave X-Wing não
conseguirá causar dano à Estrela da Morte apenas atiran-
do nela.
E a quantidade de dados rolados será definida pela pro-
ficiência em armas da personagem e pela situação da cena
em si. Se a personagem for proficiente com armas à dis-
tância, então ela vai rolar 2d6, mas se não for, rola apenas
FERRAMENTAS DO MESTRE
1d6. Entretanto, se houver algo que atrapalhe a persona-
gem na cena, como por exemplo um combate no meio das
nuvens que dificultam a visão, seguindo as regras do Tiny
Dungeon, a personagem, mesmo que tenha proficiência,
vai rolar em Desvantagem, ou seja, apenas 1d6.
Com essas regras é possível jogar utilizando qualquer
tipo de veículo, inclusive robôs gigantes! Um robô será
definido basicamente por uma descrição de sua forma e
tamanho (para ser usado narrativamente) e das armas
que ele utiliza. Novamente, usamos as habilidades da
personagem para fazer os testes. Se a personagem for
especializada com o tipo de arma Espada Grande, se o
robô utilizar uma arma desse tipo, então o Teste será
feito com 3d6. Por outro lado, se a personagem não for
proficiente com Armas à Distância, então ao atirar com
seu robô, o Teste será com 1d6.
Como no Tiny Dungeon, para a mecânica do jogo, só
importa saber a qual grupo uma arma pertence, as ar-
mas de veículos serão basicamente as mesmas da lista de
armas para personagens, porém em uma escala maior,
para refletir na narrativa o seu uso.
EXEMPLO DE ADAPTAÇÃO
Para exemplificar o uso dessas regras usarei o gênero
Space Opera. Trata-se de um gênero temático muito po-
pular e adorado por muitos. Um exemplo desse gênero
é a franquia Star Wars, talvez uma das mais adaptadas
para os mais diversos sistemas de RPG, inclusive para o
Savage Worlds.
21
Tiny Dungeon
Vejamos um exemplo de uma ficha para o persona-
gem Luke Skywalker, utilizando as regras de criação
propostas acima:
□ Nome: Luke Skywalker
□ Pontos de Vida: 6;
□ Traços: Mecânica; Destemido; Pilotar; Tocado pela
Magia (uso da Força); Proficiente em Armas Corpo a
Corpo Leve e Especializado em Sabres de Luz;
□ Crença: A Força guiará o meu caminho.
Dessa forma, por exemplo, sempre que o personagem
fizer alguma ação relativa à mecânica, como consertar
algum dróide, ele fará o Teste com Vantagem. O mesmo
se aplica aos demais Traços. Além disso, por possuir o
Traço mágico Tocado pela Magia, ele pode realizar al-
guns feitos usando a Força assim como acontece no ce-
nário de Star Wars, como realizar telecinese em objetos,
saltar para mais longe ou manipular mentes fracas.
CONCLUINDO
Fica claro que o Tiny Dungeon com seu sistema Tiny D6
é bastante versátil e flexível. É possível sentar com seus
amigos rapidamente para jogar praticamente qualquer
cenário usando ele. E isso acontece porque o jogo não se
preocupa com detalhes de situações e regras complexas
de combate. Tudo pode ser resolvido com a mecânica
central básica e com arbitragens feitas em conjunto da
Mestra com os jogadores.
Bom divertimento.
 ALÉM DO RPG Multissistema

QUANDO O CINEMA INTERPRETA O RPG

D
esde seus primeiros anos o cinema tem como tradição adaptar outras mídias para sua própria linguagem. Isso se deve muito ao fato de originalmente
ter sido concebido nos moldes de um teatro: os primeiros enquadramentos, os primeiros cenários e os primeiros perfis de atuação comprovam isso. E o
teatro, como sabemos, transforma um texto em movimento e som. Era de se supor que o cinema fizesse o mesmo. Especialmente com obras literárias.
Basta perceber quantos dos filmes que você assistiu nos últimos anos, quantos dos filmes famosos que ganharam prêmios, são adaptações de livros.

POR ELI DOS SANTOS

 ALÉM DO RPG
Mas em pouco tempo a indústria
do cinema percebeu que o formato au-
diovisual poderia adaptar outras expres-
sões artísticas. Não seria diferente com os RPGs. Pode-
mos confirmar isso pela quantidade imensa de filmes
que foram adaptados em RPGs desde a década de 1980
até hoje, inclusive com adaptações não oficiais realiza-
das por fãs, revistas etc. Afinal, parece muito tentadora
a ideia de trazer para sua mesa de jogo e para seus ami-
gos, as mesmas personalidades e aventuras que assistiu
nas telas do cinema.
PRIMEIRAS CENAS
Com a ascensão dos RPGs como fenômeno cultural nos
Estados Unidos, o cinema começou se voltar para os jo-
gos de interpretação. Um dos primeiros esforços nesse
sentido é a conhecida cena logo nos primeiros minutos
de E.T., o extraterrestre, dirigido por Spielberg em 1982.
Lá, o irmão do protagonista está jogando dados com os
amigos em torno de um tabuleiro, tentando fazer seu
elfo acertar uma flecha. É uma cena rápida, que não
influencia na história do filme mas estabelece a ideia
de que era comum se reunir para uma partida de RPG
nas noites de finais de semana. Essa mesma abordagem
pode ser vista na Hora do Pesadelo 3, de 1987, onde uma
das vítimas de Freddy Krueger revela discretamente
um gosto pessoal por jogos de interpretação de fantasia.
Também não é especialmente relevante para a história,
apesar de ser relevante para o personagem.
Nesse meio, teve até uma cena um pouco mais cla-
ra sobre RPGs. Se trata da abertura de Heróis não tem
idade, de 1984 e também estrelado por Henry Thomas,
protagonista de E.T, que mostra uma sessão de jogo de
espionagem, mas do ponto de vista da imaginação dos
jogadores. Embora sirva mais para situar o contexto dos
personagens e de onde tiram suas ideias e ações, o RPG
nesse filme não serve muito mais para movimentar a
história em si. Entretanto, é preciso olhar com atenção
para outro ponto: tanto aqui, quanto nos outros filmes
citados até agora, está implícito que RPG aproxima pes-
soas e as transforma em amigas, dispostas a tudo umas
pelas outras. Mesmo que seja contra o próprio hobby.
PERIGO, PERIGO!
Com a popularidade dos RPGs veio o medo. Uma po-
lítica conservadora acreditava que fenômenos culturais
como heavy metal, quadrinhos e RPGs, eram perigosos
para a juventude. Supostamente essas mídias alienavam
crianças e adolescentes, os induziam a se colocar em risco
e praticar satanismo. Um dos exemplos mais notórios era
uma lenda urbana que se corria boca a boca entre pais
e mães e dizia respeito um estudante universitário que
desaparecera nos túneis de condução de gás de algum
estado do país. Mais tarde a história foi noticiada por jor-
nais e virou dois livros: um ficcional e outro escrito pelo
próprio investigador do caso.
Foi adaptando esse livro que a indústria dos filmes nos
trouxe Labirintos e Monstros em 1982, estrelando um jovem
23
Multissistema
Tom Hanks no papel de um garoto aceitando o convite de
um grupo de jogadores. Aos poucos, ele se afasta dos seus
deveres e se envolve cada vez mais em mapear o labirinto
perfeito e trazer mais veracidade e imersão ao jogo. Infe-
lizmente, o filme não menciona que a pessoa verídica por
trás desse personagem sofria de dependência química e
rigorosa repressão de sua orientação sexual, apesar da ten-
tativa das amigas e amigos em protegê-lo. O que culmina
na sensação que é por conta dos perigos do RPG a quase
morte do protagonista e necessidade de isolamento social.
No ano seguinte, outro filme trouxe uma abordagem
parecida, mas com um teor sobrenatural. Trata-se de Mor-
te em jogo. Aqui, também um personagem parece incapaz
de discernir fantasia de cotidiano e vai gradualmente se
convencendo ser herdeiro de uma linhagem de homens
amaldiçoados pelo demônio. A partir daí ele se vê impe-
lido a assassinar os outros jogadores de seu grupo. A di-
ferença aqui, porém, é que o jogo não é exatamente pe-
rigoso, ele é está mais para uma ferramenta por onde os
demônios conseguem agir. De qualquer maneira, até o
fim do filme fica evidente mais uma vez como a amizade
vai prevalecer entre os jogadores, independente do que
passem juntos. Se a premissa aqui parece interessante o
mesmo não se pode dizer da execução, infelizmente.
MUNDOS DE FANTASIA
A próxima década viu tanto uma expansão do mercado
dos RPGs em seus primeiros anos quanto um desinte-
resse do público logo em seguida. E isso se refletiu na
 ALÉM DO RPG
presença dos jogos no cinema. Fo-
ram anos sem nenhum filme impor-
tante dentro do tema com exceção dos
espanhóis Nadie conoce a nadie e Corazon del guerrero, am-
bos de 1999. Enquanto o primeiro apresenta jogadores
deslocados no pano de fundo de uma trama de inves-
tigação, paranoia e confusão, o segundo acaba por se
assemelhar um pouco ao Morte em jogo mas em um viés
de fantasia, quando apresenta um aventureiro medieval
que é transportado por um feitiço para dentro do corpo
de um adolescente de imaginação vívida. É através do
RPG que o protagonista e seus amigos vão descobrin-
do o que de fato está acontecendo e por quê há bruxos
e guerreiros perseguindo-os como se o destino do Uni-
verso dependesse disso.
A ideia é boa e parece sob medida para agradar fãs do
hobby. Há um destaque para os jogos e para a amizade
entre os jogadores, mas também há magia e aventura
movendo a história, dando vida à imaginação dos per-
sonagens. Seria um excelente caminho para o cinema
seguir. Mas os anos 2000 chegaram com uma nova pro-
messa para o cinema, com grandes produções investin-
do pesado na adaptação de grandes obras literárias de
fantasia. Grandes expectativas estavam sendo geradas
em cima de uma produção que iria revolucionar a in-
dústria: a trilogia do Senhor dos anéis.
Multissistema
Vendo que havia mercado para elfos, anões, feiticei-
ros, batalhas e dragões alados, foi natural que algum es-
túdio tentasse se aproveitar e antecipar uma das obras
influenciadas pelos livros de Tolkien. Assim chegava aos
cinemas a adaptação de Dungeons & Dragons. Contando
com um orçamento razoável, alguns atores em ascen-
são e outros consagrados, o longa metragem se lançou
a uma tarefa no mínimo audaciosa: cativar velhos joga-
dores e atrair novos interessados. Para isso, ele também
teria um roteiro de quase duas horas, repleto de efeitos
visuais, maquiagens e cenários. Tudo o que precisava
fazer era emular a experiência imaginativa que acontece
dentro da mente durante uma sessão de RPG. E prova-
velmente daí resultou um dos motivos do desgosto ge-
ral pelo filme Dungeons & Dragons.
Não basta encontrar e desarmar e armadilhas dentro
de uma masmorra enquanto se busca um tesouro ca-
paz de invocar dragões, tão pouco basta agrupar uma
elfa, um anão, um mago e sabe-se lá o que mais contra
globinoides e mortos-vivos. A experiência de se jogar
vai além disso. O RPG é sensorial em diferentes níveis:
os personagens sentem cheiros, sentem emoções, tem
ideias próprias e tomam decisões. O público de uma
sessão de jogo não é um expectador passivo. Trata-se de
um público que quer contar as próprias histórias de he-
roísmo e ousadia, de medo e derrota. Ir ao cinema e as-
sistir inerte como um produtor imaginou uma sessão de
jogo não parece exatamente interessante. Principalmen-
te, se for uma sessão que apenas o produtor e a indústria
24
 ALÉM DO RPG
parecem ter jogado, e não algo com
o qual jogadores expectadores de fato
se identifiquem.
O resultado foi um filme com bilheteria e críticas ruins.
Mesmo assim, a marca que o nome carrega parece pesar
e duas outras produções (direto para as locadoras) sur-
giram, com uma recepção ainda pior pela crítica. E a in-
sistência continuou. Em 2008 foi adaptado em animação
Dragões do crepúsculo de outono, um dos mais famosos
romances de D&D. Também foi muito mal recebido. Até
um cenário da editora Fantasy Flight Games para D&D,
Midnight Chronicles, saiu direto em vídeo-on-demand
no ano seguinte, com baixas performances de público.
Se como dissemos antes, é tentador trazer um filme para
os jogos, o caminho contrário parece que não pode ser
afirmado. E D&D não foi o único a comprovar isso. Em
2008 A era da escuridão, reuniu um elenco interessante
em uma adaptação de Mutant chronicles que surtiu os
mesmos efeitos em público, crítica e retorno financei-
ro. Com tantos fracassos, era de se esperar que RPGs e
jogadores se tornassem piadas. Na verdade, era de se
esperar que velhas piadas voltassem à tona.
RINDO DE SI
A partir de 2005, algumas comédias vieram de cantos antes
desconhecidos. Filmes independentes de baixo orçamento
estavam mostrando nerds obcecados por alguma obra de
nicho e totalmente inaptos a se envolver socialmente. Des-
de o triangulo amoroso entre uma gótica, um mestre de
RPG e um devoto de Tolkien de GamerZ, passando pelo
falso documentário sobre um grupo de RPG que quer ba-
ter o recorde de campanha mais longa em Gamers, até o jo-
gador que questiona sua capacidade de narração quando
um novato chega ao seu grupo em Zero Charisma. E se você
começou a esboçar um sorriso no canto da boca ao ler essas
descrições, não se culpe. Esses filmes não chegaram para
ofender. Pelo contrário, eram homenagens.
Notadamente passionais, esses foram filmes realiza-
dos por jogadores para jogadores. Depois de rodar fes-
tivais e ganhar empatia do público, eles abriram portas
que o cinema não compreendia: RPG é sobre o que acon-
tece ao redor da mesa. Os espectadores conseguiam se
identificar com os personagens, rir de suas piadas, tor-
cer por suas jogadas e entender suas aflições. A partir
daí, as produções sobre o tema tomariam outro rumo.
Alguns roteiros envolviam LARPS ou MMORPGS, tan-
to em um contexto cômico quanto em um contexto dra-
mático ou de horror. E podemos conversar sobre eles
em outra ocasião. Por ora, um filme sobre o tradicional
RPG de mesa, papel e lápis que vale a menção é o islan-
dês Astrópía, de 2007.
Ele parte de uma ideia aparentemente clichê, sobre
uma celebridade local que se vê desolada e descolada
quando seu namorado é preso em um ato inconsequen-
te. Para lidar com sua dor e falta de esperança, ela pro-
cura emprego numa livraria de RPG, a tal Astrópía. De
início munida de preconceitos estereotipados a respeito
da cultura nerd (tal qual muitos espectadores do filme)
25
Multissistema
ela logo descobre que RPGs são sobre amizade, afinal.
Mais ainda, ela percebe que RPGs são apenas uma parte
da vida de seus jogadores, e não o todo (retomando al-
gumas ideias que já eram vistas nos filmes dos anos 80).
A partir daí, ela começa sua jornada pessoal de desco-
brir o hobby e tudo aquilo que ele pode trazer para sua
visão de mundo. Parte de sua jornada está em descobrir
quão “normal” um rpgista pode ser e quão “pouco nor-
mal” as outras pessoas também podem ser. E tudo bem!
Trata-se de uma comédia delicada e bonita, que fez
enorme sucesso em seu país natal. País esse, aliás, que
tem uma única livraria de RPG (que não é a Astrópía)
e que divide seu espaço com wargames, boardgames,
cardgames e literatura de nicho, estes sim, de apelo mui-
to maior no público islandês. O que demonstra como a
mensagem da vida ao redor de uma mesa de jogo pode
ser muito poderosa e palatável para qualquer pessoa,
jogadora ou não, quando bem feita. Afinal, a mensagem
é a de aceitação, de acolhimento.
A magia desse universo está em evitar tragédias como
a do Labirinto de emoções e outros filmes dessa lista. Está
em rir. Afinal, quantas vezes você já não se pegou gar-
galhando com os amigos ao redor de uma mesa de jogo?
E rindo depois, fora da mesa? Que tal, então, chamá-
-los para uma sessão de cinema em casa no próximo fim
de semana? Aposto que um bom filme, daqueles que te
faça rir e se emocionar, renderá ótimos personagens e
incríveis histórias. Não se esqueça da pipoca. Aliás, até
na mesa de jogo uma pipoca é sempre bem-vinda.
 MONSTRO Savage Worlds

FENNEKHAN:
O CAÇADOR DO
DESERTO
C
açador do deserto não é um nome muito ameaçador para quem
mora num planeta congelado, mas assassinos invisíveis estão à
espreita por toda Ehlerrac, como relíquias do passado, se recu-
sando a morrer mesmo quando seu habitat deixou de existir. Vivendo
em um mundo que é antítese de toda sua natureza os Fennekhan acre-
ditam que estão no inferno, afinal o mundo acabou.
Azagar era uma terra verdejante e próspera, especialmente no con-
tinente de Ehlerrac, mas antes do sol explodir haviam alguns esparsos
desertos aqui e ali, evitados não apenas por serem difíceis de atravessar,
mas também por causa dos caçadores das areias. As antigas histórias
falam de miragens que atacam e desaparecem sem deixar pegadas, ma-
tando todos os viajantes que andassem em grupos pequenos. Pouco era
conhecido sobre eles, exceto que eram invisíveis, brutais e que reivindi-
cavam o deserto como seu lar.

POR RUBENS ALVES

 MONSTRO
A HISTÓRIA
O passado dos fennekahn foi quase todo
perdido, arrancado deles por mestres cruéis.
Eles acreditam que houve um período em que eram ino-
centes e felizes, vivendo em paz no deserto como uma
tribo nômade. Um dia eles foram capturados e suas for-
mas originais foram deturpadas por magia para se tor-
narem monstros assassinos. Sua primeira ordem foi ma-
tar o resto do seu povo, os inocentes, para se certificar de
que apenas os escravos restariam. As gerações seguintes
nasceram em cativeiro, esquecendo a cada geração um
pouco mais da sua identidade.
Embora os mestres tivessem apagado sua historia,
uma coisa a magia e a tortura não pôde apagar, pois
era mais profunda do que ambas podiam penetrar: a
devoção pelo sol. Os fennekhan nasceram no deserto,
banhados pelo calor e pelo brilho de sua deusa Ilena, o
sol. Quando o fim do mundo aconteceu eles perderam
tudo. Mas o mesmo evento que lhes tirou tudo, tam-
bém os ajudou a alcançar a liberdade, durante o cata-
clisma algo perturbou a magia que os mantinha escra-
vos e eles aproveitaram a oportunidade para matar seus
mestres, permitindo a fuga. Hoje em dia nem mesmo
os fennekhan lembram quem eram esses mestres pois
escolheram nunca mais falar deles, para os apagar da
memória assim como estes tinham feito com o passa-
do deles. Enquanto todos tentavam sobreviver os fen-
nekhan espreitavam para roubar comida e mantimen-
tos, muitos morreram, incapazes de se adaptar ao frio, a
raça esteve à beira da extinção dezenas de vezes durante
esse período, mas eventualmente a sociedade voltou a
florescer e os caçadores perduraram em sua sombra.
APARÊNCIA
Os fennekhan lembram raposas do deserto humanoi-
des, tendo a mesma estatura que um pequenino e cons-
tituição de um anão. Como a maioria dos habitantes de
Ehlerrac jamais viu uma raposa nem mesmo em pintu-
ra, é comum que acreditem que os caçadores do deserto
são um tipo de grayn extremamente deformado, com
orelhas enormes em riste, focinho curto e pêlo caramelo.
COMPORTAMENTO
Os Fennekhan tecnicamente possuem consciência como
qualquer uma das outras raças, mas algum efeito má-
gico deteriorou suas capacidades mentais quando eles
mataram seus mestres, os tornando mais ferais. São ca-
pazes de falar embora raramente o façam, eles só se co-
municam com os de sua espécie em uma língua secre-
ta que a cada geração parece perder algumas palavras.
Embora sejam solitários eles conseguem agir em conjun-
to por curtos períodos de tempo, mas só se reúnem por
motivos práticos: caçar, roubar, matar e procriar. Eles
só vivem em grupo por longos períodos quando estão
criando filhotes, geralmente eles formam um casal que
cuida dos filhotes durante 2 anos, mas às vezes um ter-
ceiro fennekhan pode se juntar ao grupo para ajudar os
pais, costumeiramente um fennekhan mais velho que
27
Savage Worlds
ambos. Quando obrigados a viver em conjunto contra
sua vontade por longos períodos de tempo eles se tor-
nam temperamentais. Mesmo nesse estado Fennekhan
raramente matam uns aos outros, mas se tornam mais
agressivos, cometendo assassinatos cada vez mais bru-
tais e menos discretos, o que acaba atraindo atenção o
bastante para que sejam caçados por aventureiros. Eles
são muito suscetíveis a temperatura, podendo morrer
de frio mesmo dentro de uma das cidades, caso estejam
muito longe da área do feitiço de calor, por isso costu-
mam viver quase que exclusivamente nas áreas de ve-
rão, escondidos em becos e telhados.
CULTURA E SOCIEDADE
Sendo extremamente individualistas e solitários, eles
sobrevivem principalmente do saque, mas não se im-
portam com dinheiro, roubam principalmente manti-
mentos, roupas, objetos práticos e armas. Uma pequena
parte deles age como assassinos profissionais, aceitan-
do dinheiro como pagamento, mas eles nunca revelam
sua verdadeira natureza para o cliente, ou sequer falam
com eles, usando modos de se comunicar indiretamen-
te, como globos de voz ou suas miragens ilusórias; para
gastar o dinheiro eles costumam usar o mesmo método,
contatando criminosos para fazer as compras por eles
e as deixar em algum lugar secreto. A maioria dos que
lidam com os caçadores do deserto não sabem o que eles
realmente são, mas sabem que os que tentam passar a
perna nos “fantasmas” logo são encontrados mortos.
 MONSTRO
Os fennekhan acreditam que o mun-
do é uma espécie de limbo, um purgató-
rio no qual devem sofrer para compreender
a dor que sua deusa sentiu ao morrer. A descoberta dos
cristais solares foi particularmente significativa para a
raça, eles acreditam que são pedaços do corpo de Ilena,
e que seu uso pelas demais raças é um sacrilégio, infeliz-
mente eles não podem fazer muito sobre isso a não ser
atacar um ou outro indivíduo solitário que esteja por-
tando um cristal pequeno. Eles juntam cristais e os guar-
dam em locais secretos, formando pequenos tesouros,
eles apreciam o calor dos cristais como o carinho de sua
deusa, mas também vêem sua utilidade, criando vestes
com pequenos cristais para os aquecerem quando estão
longe das áreas de verão da cidade, geralmente usando
algum material que bloqueie sua luz, deixando apenas o
calor. Quando ficam numerosos demais em uma cidade,
os indivíduos mais novos juntam os cristais solares que
possuem, fazem roupas super reforçadas, que fariam
um humano comum morrer de calor e partem para ou-
tra cidade através das arcadas.
Os fennekhan odeiam os grayn, o motivo desse senti-
mento não é muito conhecido, mas tem algo a ver com
os mestres que os escravizaram. Embora sejam proibi-
dos de falar sobre isso, eles acreditam que os mestres
eram grayn pelas reações que seus antepassados tinham
ao vê-los. Eles não hesitam em matar grayns solitários,
mesmo que isso não vá trazer benefício a eles.
Savage Worlds
FICHAS
W FENNEKHAN JOVEM
Caçador jovem que espreita pelos grandes centros da cida-
de, roubando e ocasionalmente matando presas indefesas.
□ Agilidade d10, Astúcia d4, Espírito d10, Força d6,
Vigor d6
□ Perícias: Lutar d8, Atirar d10, Furtividade d8,
Ladinagem d8, Perceber d4.
□ Movimentação: 8; Aparar: 6; Resistência: 4
□ Equipamento: Adagas (For + d4), trajes com
cristais solares, poções de aquecimento.
□ Habilidades especiais:
□ Fraqueza ambiental: Frio.
□ Invisibilidade: Como o poder homônimo descrito
na pág. 198 do Savage Worlds Edição Aventura.
Eles podem ativar e cancelar esse poder a vontade,
sem custo, mas o poder é cancelado caso sejam
atordoados, feridos ou após atacarem.
□ Miragem: Fennekhans podem criar uma ilusão semi
sólida com uma resistência similar à da água mas
a textura de uma névoa muito espessa. Essa ilusão
sempre toma a forma de um Fennekhan, mas é meio
opaca e pouco realista a não ser sob baixa iluminação,
ela pode interagir com objetos leves, mas não atacar.
A miragem é desfeita quando sofre dano, e possui o
mesmo aparar do seu dono. Apenas uma miragem
pode ser criada por vez, e criá-las é uma ação livre.
□ Mordida: For + d4.
28
 MONSTRO
□ Resistencia ambiental: Calor.
□ Tamanho: -1
□ Estratégia: Os caçadores do deserto
preferem inimigos solitários ou em grupos pequenos.
Eles começam atacando enquanto invisíveis e então
se deixam perceber pelo inimigo. Depois que o
inimigo foca sua atenção neles eles ficam invisíveis,
criando uma miragem onde estavam. Eles tentam
fazer os inimigos acreditarem que a miragem é o seu
corpo real no processo de ficar invisível. Enquanto
os inimigos atacam a miragem, o fennekhan ataca
novamente por trás. Eles costumam fugir e esperar
um momento mais propício se não conseguirem
finalizar a luta rapidamente.
W FENNEKHAN ASSASSINO
Um tipo mais ardiloso e sagaz de Fennekhan, que decidiu
lidar com as outras raças mesmo que apenas indiretamente,
são ainda mais cuidadosos do que seus irmãos, já que são
vistos com desconfiança por eles devido ao que fazem.
□ Agilidade d10, Astúcia d6, Espírito d10, Força d6,
Vigor d6
□ Perícias: Lutar d8, Atirar d10, Furtividade d10,
Ladinagem d8, Perceber d6+2.
□ Movimentação: 8; Aparar: 6; Resistência: 4
□ Vantagens: Prontidão, Rápido.
□ Equipamento: Adagas (for +d4) Besta (2d8,
15/30/60, PA 2 CDT 1), gazuas, globos de voz,
venenos, antídoto, poções de aquecimento.
□ Habilidades especiais: (Todas as habilidades
descritas na ficha de Fennekhan jovem)
□ Estratégia: Eles tentam finalizar o inimigo atirando
à distância com sua besta enquanto estão invisíveis,
se forçados a um combate corpo a corpo eles usam
uma estratégia similar a dos Fennekhan jovens, mas
são mais criativos, também usando sua miragem para
ativar armadilhas pelo ambiente, que eles costumam
preparar de antemão. Eles costumam atacar só
quando estão no ambiente ideal, preparado por eles.
W FENNEKHAN FERAL
Alguns fennekhan percebem que suas capacidades mentais
têm se deteriorado, principalmente quando um feral nasce, tais
Fennekhan são incapazes de aprender a falar ou fazer qualquer
coisa que exija muita capacidade mental, eles se parecem mais
animalescos, andando praticamente de quatro. Geralmente
são mortos pelos próprios Fennekhan, mas alguns escapam...
□ Agilidade d10, Astúcia d4, Espírito d10, Força d8,
Vigor d6
□ Perícias: Lutar d10, Atirar d10, Furtividade d8,
ladinagem d6, Perceber d4.
□ Movimentação: 8; Aparar:7; Resistência: 4
□ Equipamento: Cristal solar.
□ Habilidades especiais: (Todas as habilidades
descritas na ficha de Fennekhan jovem)
□ Estratégia: Embora possuam as habilidades
impressionantes da sua raça, os ferais não possuem
inteligência o bastante para usá-las de modo
29
Savage Worlds
efetivo. Eles raramente atacam a não ser que se
sintam encurralados, quando o fazem eles usam de
invisibilidade, mas preferem usar suas miragens
para fazer o inimigo acreditar que está sendo
atacado por dois indivíduos, um modo de tentar
intimidar, eles continuam a repetir a tática mesmo
quando ela não dá certo. Eles não sabem utilizar
armas, apenas seus caninos afiados.
GANCHOS
□ Um grupo de caçadores que está grande demais co-
meçou a agir de modo mais violento, direcionando
sua fúria principalmente aos grayn da região. Isso
acirra as tensões raciais na cidade, pois há alguns
humanos e anões que acusam os grayn de serem la-
drões violentos devido ao antigo estigma social. Em
resposta aos assassinatos, os grayn começam a matar
seus maiores críticos. Nenhum dos dois lados confia
na guarda da cidade para resolver o problema e se os
aventureiros não descobrirem logo o que está aconte-
cendo um banho de sangue pode acontecer.
□ Um estranho feiticeiro que se intitula de professor El-
tron pede ajuda de um grupo de aventureiros para
capturar um fennekhan feral com vida. Ele estuda a
raça a anos e é fascinado por eles, acreditando que
pode corrigir suas tendências agressivas através de
sua pesquisa mágica, mas para isso ele vai precisar
que os aventureiros capturem o espécime antes que
seus semelhantes o matem por ser feral.
TEORIA DE JOGOS Rastro de Cthulhu

HORROR E
MODERNIDADE

C
ertas épocas parecem mais adequadas para jogos de horror, como a
era vitoriana ou os anos 30, tempos mais charmosos e pitorescos no
imaginário popular. Quando não há celulares nem o conhecimento
de milhares de bibliotecas bem na palma da sua mão, é mais difícil nave-
gar pelos mistérios ocultos e, consequentemente, é mais fácil para o guar-
dião controlar o que acontece. Mas e quando o jogo se passa nos tempos
modernos? Como impedir que uma investigação se torne algo tão trivial
como uma pesquisa no google? Como manter o ar de mistério num mun-
do onde todas as fronteiras parecem já ter sido exploradas?

POR RUBENS ALVES

 TEORIA DE JOGOS
A ERA DE INFORMAÇÃO
Um grupo de investigadores precisa ir
até uma vila remota procurar um artefa-
to. Com algumas pesquisas na internet, eles descobrem
onde o lugar fica, sua história, notícias recentes e até
mesmo o telefone de alguns locais, ao qual eles já po-
dem tentar se comunicar para obter alguma informação
sem sair de onde estão. Ao chegarem na vila e serem
recebidos no quarto alugado por um app eles percebem
uma pintura muito estranha, ao tirar uma foto e pesqui-
sar na internet eles descobrem que se trata de um artista
obscuro do século 19 e que há controvérsias sobre sua
morte. Parece muito fácil, não é? Praticamente todas as
informações podem ser obtidas à distância, não há mais
a chance de chegar à cidadezinha sem saber o que espe-
rar, não há como encontrar um símbolo místico e não
saber o que ele significa. Quando os cultistas loucos co-
meçarem a aparecer, nada impede dos investigadores
de chamarem a polícia onde quer que estejam, nada os
impede de gravar seus últimos momentos e colocar na
internet para que todos vejam o segredo do lugar. Bem-
-vindo a era da informação. Você deve estar se pergun-
tando como fazer um jogo de mistério funcionar com
todas essas ferramentas na mão dos investigadores.
INTERNET LENTA?
A resposta tentadora é a de falar que a internet está lenta, que
não há sinal exatamente no momento que os personagens
mais precisam, mas será que vale a pena? Dar ferramentas
para os jogadores e então nunca deixar que eles as utilizem
nunca cai bem. Talvez uma ou duas vezes não poder usar
o GPS ou ligar pra polícia torne o jogo mais divertido, mas
isso logo perde a graça quando isso sempre acontece. Para
realmente causar um impacto quando essas ferramentas fa-
lharem (ou fizerem coisas estranhas…) é preciso que os jo-
gadores passem a confiar nelas. Permita que eles usem todas
as vantagens que têm a favor deles, deixe que se acostumem
com isso antes de tentar subverter esses elementos. Consi-
dere que para cada vez que eles tiverem algum empecilho
do tipo, pelo menos outras duas vezes eles possam fazer uso
das facilidades modernas sem empecilhos.
INFORMAÇÃO NÃO É IGUAL A
CONHECIMENTO
No mundo moderno o verdadeiro desafio não é encon-
trar informação, mas sim conseguir filtrar o que é útil.
Quando os investigadores pesquisarem algo, dê a eles
uma orgia de pistas. Tentam pesquisar um símbolo ocul-
tista? Uma deturpação dele era usada por uma banda de
metal que terminou com um dos membros assassinando
o outro, mas isso tem algo a ver com o mythos ou é apenas
resultado do uso de drogas? Talvez variações do símbolo
tenham sido usadas em não uma, mas centenas de obras
diferentes e pesquisar cada caso, mesmo pela internet, de-
moraria semanas; talvez a verdade esteja se escondendo
na página 264 de um post off-topic sobre “sonho lúcido”
feito 7 anos atrás em um fórum de bodybuilding. Mesmo
com acesso à internet os investigadores precisam de al-
31
Rastro de Cthulhu
gum tempo para pesquisar, tal como teriam de fazer em
uma imensa biblioteca, embora as informações possam
ser obtidas mais rapidamente, há tantas que interpretar
tudo pode demorar tanto quanto procurar escassas infor-
mações em um acervo particular de livros.
A PERSPECTIVA DOS GRANDES
ANTIGOS
Para os antigos, nossa internet, nossas ondas de rádio,
nossa rede de energia e todas as tecnologias provenien-
tes delas são como os feromônios que as formigas usam
para se comunicar. Assim como não sabemos as nuan-
ces da comunicação das formigas, os grandes antigos
também desconhecem as nossas. Mas eles tudo podem
e conseguem reproduzir esses “feromônios” mesmo
sem compreender seu propósito, eles apenas sabem que
quando enviam certos tipos de sinais, coisas acontecem.
Alguns sinais de rádio aparentemente fazem as pe-
quenas “formigas” terem pesadelos, coisa que para eles
talvez seja percebida como um chiado engraçado, algo
que eles provoquem por pura distração, tal qual um hu-
mano faria soprando um dente-de-leão. Sendo seres li-
vres das amarras da nossa realidade, os grandes antigos
podem quebrar as leis que nos governam ao reproduzir
nossos sinais, talvez os sinais que eles enviem agora só
sejam percebidos 300 anos atrás e coisas impossíveis po-
dem acontecer, como objetos desligados funcionarem,
ou aviões caírem depois de receber estranhas ondas de
rádio.
 TEORIA DE JOGOS Rastro de Cthulhu

EFEITOS ESTRANHOS □ Depois de fazer uma ligação próxima ao covil de AS DIFICULDADES DO MUNDO MODERNO
Considerando que nossas redes de uma criatura sobrenatural elas passam a perseguir Nem todos os problemas precisam ser de origem sobre-
comunicação podem ser afetadas por seres o investigador como se pudessem rastrear sua posi- natural, empecilhos mundanos podem ser igualmente
sobrenaturais, não há razão para que elas não sejam usa- ção através do celular. problemáticos. A tecnologia pode ser uma espada de dois
das para propagar sua influência. Ao invés de impedir gumes, num mundo cheio de câmeras os investigadores
□ Ao chegar na pequena vila que tinham pesquisado
que os investigadores usem as facilidades modernas, use também precisam tomar cuidado com o que estão fazen-
na internet os investigadores descobrem que nenhum
de efeitos estranhos para os confundir e tornar o jogo de- do ou podem ser presos, principalmente se estiverem
safiador. O objetivo não é impedir o uso da tecnologia, dos crimes que eles viram na parte de “controvérsias”
fazendo algo ilegal durante a investigação. Os cultistas
mas sim de surpreender e demonstrar que nada é imune do artigo da wikipédia aconteceu, na verdade eles podem usar a internet a seu favor, hackeando investi-
a riscos. Seguem aqui alguns exemplos como inspiração: começam a acontecer apenas quando os personagens gadores, disseminando falsas informações e recrutando
□ Após tirar uma foto de algo relacionado ao mythos, o ce- chegam, exatamente como descritos na página. membros em potencial ao redor de todo o globo.
lular do investigador começa a chamar corridas de uber
sozinho, curiosamente é sempre o mesmo motorista que
aparece, e precisa ser dispensado. O celular continua a
pedir as corridas mesmo quando o aplicativo é deletado,
e sempre exatamente para onde quer que o investigador
esteja, mesmo que a localização esteja desligada, isso con-
tinua mesmo se o celular for destruído e o motorista fica
cada vez mais confuso e desconfiado acerca do investi-
gador. Eventualmente o motorista fica obcecado e tenta
sequestrar o investigador para completar sua “corrida”.
□ Após entrar em um site estranho cheio de símbolos
do mythos o notebook do investigador desliga e nada
nem ninguém consegue ligá-lo apesar de não parecer
ter defeito algum. Meses depois o computador liga,
mesmo se estiver sem energia e mostra o mesmo
site, isso se repete a cada 7 meses, e a cada vez novas
informações valiosas são apresentadas no site, mas
consomem a sanidade do investigador caso lidas.

32
 TEORIA DE JOGOS
Muitos cultos podem ter passado a se
esconder a plena vista, sendo considera-
dos apenas charlatões pela maioria das pes-
soas, mas são tidos como inofensivos. Assim como os jogado-
res, os inimigos também podem se transportar rapidamente,
talvez até mais rapidamente, em jatinhos fretados, ou até
mesmo, como sugerido no tópico acima, através da internet.
O EXÓTICO VS A GLOBALIZAÇÃO
Um tema comum nas aventuras lovecraftianas é o mis-
tério do exótico e estrangeiro, mas o que era conside-
rado exótico no passado pode não ter o mesmo apelo
num mundo globalizado. Hoje em dia, documentários
que flertam com a ideia de que os faraós eram alieníge-
nas são recebidos com risos, a egiptomania não tem o
mesmo apelo, o que antes era exótico se tornou comum.
Em filmes, livros, jogos e diversas outras obras um novo
tipo de tema começou a ganhar apelo, o medo do que é
familiar. As pessoas começam a voltar seus olhares para
o que está perto delas e tentam enxergar isso pelas lentes
do horror. No conto “Um estudo em rosa” Neil Gaiman
transforma a família real britânica (e outras famílias no-
bres) em híbridos de criaturas lovecraftianas ao invés de
usar pescadores em uma vila remota. Em Lovecraft coun-
try os cultistas não são negros praticando voodoo, mas
sim homens brancos e ricos, policiais e outras figuras im-
portantes, a suposta nata da sociedade norte americana.
Ao invés do assombro pelo exótico o horror moderno
se volta para o mundano e familiar. Onde o seu jogo se
passa? Examine o passado do local, analise quais elemen-
tos nunca teriam sido escolhidos como inspiração para
um conto clássico de Lovecraft, talvez haja potencial ali.
No mundo moderno não existe lugar que não tenha sido
explorado, nenhuma cultura que não tenha sido registra-
da, o horror está naquilo que conhecemos, mas deixamos
passar despercebido, considerando inofensivo.
INSPIRAÇÕES
Uma fonte gigante de inspirações para horror cósmico in-
fluenciando a tecnologia moderna é a Fundação SCP, um
órgão secreto fictício encarregado de encontrar, capturar
e proteger as mais diversas criaturas, anomalias e objetos
sobrenaturais. O projeto é alimentado por uma comuni-
dade fiel que expande o site da SCP foundation como se
fosse uma wikipédia do inexplicável, há centenas e cen-
tenas de diferentes artigos sobre as várias anomalias con-
tidas pela fundação, elas podem ser acessadas e lidas de
graça tanto em inglês quanto em português. Muitos dos
artigos contêm ótimas ideias de como a tecnologia pode
ser influenciada por fenômenos que desafiam a realidade.
O jogo Control (2019) da Remedy é bastante inspirado na
própria SCP e outra ótima influência. No campo dos filmes
Pontypool (2008) é um ótimo exemplo: um fenômeno inex-
plicável contamina as pessoas com loucura assassina e isso
parece estar ligado ao uso de certas palavras comuns em in-
glês; no meio do caos operadores de rádio tentam decifrar
como isso acontece e prevenir o resto da população, mas
como explicar, através de uma rádio, que a língua não deve
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Rastro de Cthulhu
ser utilizada sem a utilizar? Um desafio paradoxal lovecraf-
tiano digno de uma aventura de rastro. Outra menção digna
é o filme o chamado, tanto o original de 1998 quanto a versão
ocidental de 2002 são ótimos exemplos de uma influência
sobrenatural se espalhando com o uso da tecnologia.
O CHARMOSO SÉCULO 21
O que torna muitas das épocas usadas em jogos de RdC
charmosas é o modo como são representadas. Também
é possível fazer isso com o século 21. Acesse páginas de
nostalgia, veja quais doces e brinquedos eram moda 15
anos atrás, quais eram as notícias na política? Qual era o
clima do mundo naquela época? Talvez seja difícil fazer
isso para um jogo que se passe em 2021, mas ainda é
perfeitamente possível representar um 2020 caricato, ou
um 2001 com a memória fresca de atentados terroristas,
um 2012 pensando num fim do mundo, sem muita se-
riedade, pensando num fim que ainda estava distante.
Fazer um jogo de época é como fazer uma caricatura,
acentuam-se as qualidades e os defeitos, a intenção não é
ser realista, e sim realçar os detalhes que você quer que se-
jam lembrados. Então fica aqui o conselho, quando se passa
o seu jogo moderno? Qual a caricatura que você quer fazer
dessa época? Pense nisso e pesquise os detalhes dessa épo-
ca, o zeitgeist dela, a impressão geral das pessoas sobre ela,
assista às repercussões, resumos que passam nos canais de
TV, cada década e cada ano tem uma “personalidade” pró-
pria, é possível fazer um jogo de época mesmo que tenha
sido apenas 5 anos atrás.
 APOIADORES PUNKVERSO
BIBLIOTECÁRIO:
Bruno Vassalo, Gabriel Alves Rodrigues, Ismael da Silva Machado, Jefferson
de Araújo Lima da Silva, Joao Amadeu Nascimento Vieira, Leandro Campos,
Luis Gustavo Remistico, Luiz Felipe Bruno, Matheus Gonzaga, Mattheus Belo,
Nina Bichara, Paulo Ramon Nogueira de Freitas, Roberto "Necrobeto" Barreto
Miyoshi Moreira, Thallys de Freitas Soares, Victor Hugo Scatamburlo, Victor
Scudeler Bechelli. Wallas Pereira Novo

INVESTIGADOR SELVAGEM:
Alessandro Vorussi, Claus Tessmann, Felipe Dos Santos Silva, Franco Gugliel-
moni, Gabriel Amabile Boscariol, Gene Cavalcante, Gustavo Aurélio Cooper,
Icaro Victor Oliveira, Marcelo Augusto Galvao, Marcelo Passamani Machado,
Mauricio Ermel, Milton Diogo, Patricia Brito, Rafael Panczinski de Oliveira, Ra-
fael Tokarski Ribas, Rodrigo Carvalho Dias. Thiago Henrique Ferreira, Tiago
Dienstbach, Tiago Luiz Mairink Barão

PUNKER:
Amauri Antunes Pereira Junior, Chrysthowam A. Santos, Denis Oliveira, Ema-
nuel G. M., Fabio Carvalho, Fábio Corrêa, Felipe Figueiredo, Guilherme Fabri-
cio, Gustavo José Jordan Prado, Hades Oneiroi, Igor Luís, Jefferson Geovane,
Kirlian Silvestre, Lauro Ângelo Gonçalves de Moraes, Luiz Fernando Rossafa
Dias Macedo, Maiquel Leonel, Mateus Herpich, Nicholas Ataide Minora, Rafael
de Lima, Ricardo Mallen Machado de Souza, Sérgio Ricardo Almeida Matuda,
Valdir Possani, Vitor Bornéo, Vitor Carvalho, Vítor Alves Patriarcha

MESTRE:
Fábio Medeiros, Marcelo Augusto Reis Silva, Miguel Souza Silva, Peter Bidel CATARSE.ME/PUNKVERSO
Schwambach
 EDIÇÃO 027
MARÇO/22

NA PRÓXIMA EDIÇÃO:
BIENVENIDOS À FAMÍLIA MADRIGAL
ENCANTO PARA SAVAGE WORLDS
E MAIS: IMPROVISO PAUTADO NA MECÂNICA
MONSTRO: CTHUGHA, O GRANDE ANTIGO DO FOGO
ROLANDO OS DADOS: VILÕES PARA SAVAGE WORLDS