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ALMEIDA FILHO, J. C. P. de. Sobre competências de ensinar e de aprender línguas. In: ALMEIDA
FILHO, J. C. P. de (Org). Competências de aprendizes e professores de línguas. Campinas, SP: Pontes,
2014.
Introdução
p. 11
Conceito de abordagem:
O conceito superordenado de abordagem, a partir do texto seminal de Anthony (1963), pode hoje ser
representado como uma capacidade de ação complexa, atravessada por atitude(s) traduzidas em postura(s), a
partir de uma base de conhecimentos relevantes atribuíveis a pelo menos duas categorias distintas – uma
tácita, implícita e espontânea; e outra de origem formal, teórica, declarativa ou explicitável. Uma abordagem
se movimenta no plano das ideias e pode ser reconhecida através da observação cuidadosa e do
procedimento de análise de abordagem de ensinar e de aprender línguas.
p. 12
Os processos de aprender e ensinar línguas
... duas correntes interdependentes (a do aprender e a do ensinar) que vão se tocando em dadas
circunstâncias, que vão se posicionando em paralelas que não convergem entre si e até mesmo com uma
delas interrompendo a trajetória enquanto a outra segue ativada.
...um processo dual que interage de múltiplas formas para a construção do ensino e da aprendizagem de
línguas, longe de indicar harmonia certa entre as duas correntes, longe de representar causalidade [...]
equivale a um desaguadouro de ações empreendidas para ensinar e aprender.
p. 13
Conceito de abordagem
O que anima esse duplo processo [ensinar e aprender] é a força da abordagem, entendida como a agregação
de uma configuração de competências emanada de uma dada filosofia de ensinar para o caso dos
professores, e de uma filosofia de aprender para os alunos aprendizes de uma nova língua.
Conceito de abordagem
p. 14
Parto, portanto, de abordagem como o conceito matricial constituído de conhecimento relevante a ser
combinado com capacidades de ação, de decisão de agir de certo modo e de ação de ensinar ou de aprender
de fato.
p. 15
[...] professores não podem atuar sozinhos, sem os aprendentes, esperando resultados de aquisição.
[...] O professor [...] tem frequentemente um papel importante, preponderante, crucial, mas temos de aceitar
também a incidência de outras forças que podem dominar ou se compor de alguma forma com as existentes
instaurando abordagens híbridas.
p. 18
Por que devemos analisar abordagens e competências
A análise de abordagem e de competências nos permite atuar de forma menos genérica na formação
reflexiva de professores, garantindo fidedignidade às interpretações construídas. Quando indagamos sobre a
questão central que é o querer saber por que um aluno aprende como aprende o que aprende e por que um
professor ensina do modo como ensina, podemos começar a responder pela análise de abordagem para saber
que filosofia ou visão move o aprendente e o professor na prática e no concreto, como o agente aluno e o
agente professor se constituem nesse lugar invisível da abordagem constituidora do eu aprendedor e do eu
ensinador de língua quando requisitos e expectativas para isso tiverem sido minimamente atendidos.
p. 19
É a análise de abordagem e de competências de professores que pode permitir-nos começar a pensar o
processo de formação de uma perspectiva diferente, visando conhecer cada agente, aluno, professor e
terceiro agente, como eles se constituem, e a partir daí avançar rumo a novas consciências e esperançosas
ações de desenvolvimento via reflexão. Quando o professor Sá sabe como se constitui sua abordagem, quais
são os seus conceitos compostos de língua, de aprender, de ensinar uma LE/L2/L1, a meta passa, então, a ser
o exame e a interpretação da ação (de ensinar e aprender) facultada pelas competências.
p. 18
O modelo de 5 competências para professores de Almeida Filho (1993) continua o mesmo:
O sistema de cinco competências para professores segue conforme previsto no modelo OGEL desde o início
(ALMEIDA FILHO, 1993).
p. 19-20
Conceito de abordagem e abordagem de ensinar e de aprender
Uma abordagem começa a se instalar dentro de nós muito cedo. A abordagem de ensinar é aquela que guia o
professor a fazer o que faz e aquela outra do aprendiz a fazê-lo agir de determinados modos com a
expectativa de aprender o novo idioma.
p. 20
Diferença entre aprendiz, aluno e aprendente
Estou vocalizando agora o aprendente, a pessoa que se coloca no lugar de aprender outra língua e cultura. O
termo aprendente nos serve bem com o propósito de afastar um pouco os sentidos construídos ao longo do
tempo para as palavras “aluno”, “estudante” e “aprendiz” que trazem conotações indesejadas ao lado das
válidas de uma espécie de paciente estudante que imita para apanhar um “ofício” de manipular outro idioma
como o faz seu professor. Esses vocábulos de uso corrente não técnico portam diversos significados, como
penduricalhos neles atados e muitos deles trazem à memória de trabalho sentidos pouco produtivos do que
seja “estudar” uma língua, do que representa ser um aluno num contexto escolar convencional na nossa
tradução. Quando interpomos o neologismo “aprendente” queremos dizer sem mais acréscimos, pelo menos
por um tempo, “aquele que está posto no processo de aprender uma nova língua”.
p. 21
Análise de abordagem de aprender e das competências de aprendentes
O aluno aprende com as abordagens do professor
Temos tarefas derivadas como (1) a de estabelecer a relação de analisar abordagem e de analisar
competências de alunos aprendendo com as abordagens e competências de seus professores ensinando, e (2)
a de conhecer e ratificar a validade de construto da abordagem e das competências de alunos aprendendo
que forma o conjunto teórico em pauta nesta publicação.
p. 21
Deve-se incluir o professor como agente em uma pesquisa sobre alunos
Quando os propositores de projetos vão fazer pesquisa sobre aprendizagem, direcionando o foco para o
aprendente e suas características, é claro que não se pode subtrair, cortar o professor em ação, por que o
professor, nesse caso, será um elemento ou fator externo incontornável quando se aprende em grupos ou em
aulas particulares. Ignorar a ação docente, nesse caso, seria artificial e redutor. A perspectiva privilegiada de
que estou tratando consiste em focalizar tudo, inclusive o professor ensinando, para se entender o processo
de aprender com competências, mesmo que haja a interlocução com os processos de ensinar e as pressões de
opiniões incisivas de terceiros influentes.
p. 23
Os traços culturais também afetam a aprendizagem
A história de ensino de línguas de um país revela traços de caráter regional ou nacional que afetam a
aprendizagem e o ensino de línguas e essas marcas constituidoras poderão ser discernidas nas observações
cuidadosas.
p. 24-25
Conceito de competência acadêmica
A competência profissional, do modo como a concebemos, para os mestres não cabe exatamente para
alunos, obviamente. Aqui talvez possamos tratar de uma competência acadêmica, uma competência de saber
pensar no que se faz estrategicamente para aprender cada vez melhor novas línguas desejadas ou
necessárias, uma capacidade de cuidar de si no processo adquiridor. Podemos reconhecê-la também como
essa competência humanizadora, da pessoa tomar conta do seu próprio processo de aprender e ainda cuidar
dos colegas de turma facilitando-lhes algumas fases do processo e sendo compreensivo(a) com as limitações
e com os incômodos típicos da instabilidade das fases mais iniciais do processo. [...] Trata-se de uma
competência reflexiva, explicadora de ações, capaz de análise fundamentada e de autocrítica e que busca
caminhos alternativos, inventa a renovação e faz pensar num futuro.