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A REDE DE
, LOCALIDADES CENTRAIS
NOS PAISES SUBDESENVOLVIDOS*
Roberto Lo bato Corrêa* *

A teoria das localidades centrais foi for- e, de outro, o alcance espacial mínimo serão
mulada, em 1933, por Walter Christaller 1 • considerados mais adiante.
Trata-se de um quadro teórico sobre a dife- Christaller, no entanto, discute não ape-
renciação dos núcleos de povoamento, no nas os elementos e mecanismos que defi-
que se refere à importância que apresentam nem e estruturam uma rede de localidades
enquanto lugares de distribuição de produ- centrais, mas também suas condições e na-
tos industrializados e serviços, ou seja, en- tureza variáveis, incluindo mudanças na or-
quanto localidades centrais. ganização social e econômica. O autor em
Segundo a proposição geral de Christal- questão considera, em sua análise sobre a
ler, a diferenciação entre as localidades cen- variabilidade da rede de localidades cen-
trais traduz-se, em uma região homogênea trais, alguns aspectos que são efetivamente
e desenvolvida economicamente, em uma pertinentes às áreas subdesenvolvidas, ain-
nítida hierarquia definida simultaneamente da que este não fosse o seu propósito.
pelo conjunto de bens e serviços, ofereci- A partir de Christaller, numerosos estu-
dos pelos estabelecimentos do setor ter- dos sobre localidades centrais nos países
ciário e pela atuação espacial dos mesmos. subdesenvolvidos foram realizados. Alguns
Essa hierarquia caracteriza-se pela exis- deles preocuparam-se claramente com as
tência de níveis estratificados de localida- relações entre o subdesenvolvimento e a re-
des centrais, onde os centros de um mesmo de de centros, incluindo questões de natu-
nível hierárquico oferecem um conjunto se- reza metodológica. Estes estudos produzi-
melhante de bens e serviços, e atuam sobre ram contribuições à teoria das localidades
áreas semelhantes, no que diz respeito à di- centrais e à compreensão do subdesenvol-
mensão territorial e ao volume de popu- vimento, em sua dimensão espacial.
lação. Os mecanismos fundamentais que O propósito do presente trabalho é o de
atuam gerando essa hierarquia de centros resgatar as principais contribuições teóricas
são, de um lado, o alcance espacial máximo produzidas nesses estudos. Não se trata,
• Recebido para publicação em 16/6/87.
* * Analista especializado em Geografia da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatfstita - IBGE. Professor visitante do Programa de Pós~
·Graduação em Geografia da UFRJ.
1
Walter Christaller, ver Bibliografia.
R. bras. Geogr .• Rio de Janeiro. 50 (11: 61·83, jan./mar. 1988
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entretanto, de uma rev1sao bibliográfica, netração do território e sua porta de entrada


mas de um esforço de sintetizar os resulta- e de saída.
dos obtidos. A partir da bibliografia perti- Desde o início, concentra as principais
nente ao tema em questão, entendemos funções econômicas e políticas da hin-
que nos países subdesenvolvidos a rede de terlândia, transformando-se em um núcleo
localidades centrais apresenta-se, ao lado desmensuradamente grande, em relação
de possíveis setores regionais onde ela se aos demais centros da hinterlândia. A pri-
caracteriza por forte semelhança com o es- mazia urbana, tal como analisada, entre ou-
quema christalleriano, caracterizada por tros, por Linsky 5 , inclui macrocefalias urba-
três modos de organização. Tais modos, no nas com esse tipo de origem. Por outro la-
entanto, não são mutuamente excludentes, do, dada a natureza funcional desse núcleo
podendo coexistir em uma mesma rede re- urbano, Lentnek, Mitchell e Koening 6
gionaL Trata-se, primeiramente, da rede denominaram-no cidade primaz comercial,
dendrítica de localidades centrais; em se- enquanto Smith 7 refere-se a todo o conjun-
gundo lugar, dos mercados periódicos, e, to de centros como sendo um sistema pri-
por fim, do desdobramento da rede em dois maz.
circuitos. Por outro lado, os modos acima A cidade primaz concentra a maior parte
mencionados não esgotam a rica variedade do comércio atacadista exportador e impor-
de aspectos que caracterizam as redes de tador, através do qual toda a região vê viabi-
centros dos países do Terceiro Mundo, lizada a sua participação na divisão interna-
constituindo, no entanto, os mais importan- cional do trabalho. Concentra, assim, a
tes tipos de organização das mehcionadas maior parte da renda, bem como a elite re-
redes. gional de raízes predominantemente fun-
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balho urbano, transforma-se no mais impor-
AS REDES DENDRÍTICAS tante foco das correntes migratórias de des-
············.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.··:·:·:·:·:·:·:·:·::.:-:-:·:::.;-:>.·.·...-..,...,·.··· tino urbano.
Segundo Johnson 2 , é através de um ar- Em segundo lugar, a rede dendrítica
ranjo estrutural e espacial denominado rede caracteriza-se pelo excessivo número de
dendrítica que se verifica um dos modos de pequenos centros, pequenos pontos de
organização da rede de localidades centrais, venda indiferenciados entre si, no que se re-
nos países subdesenvolvidos: segundo o fere ao comércio varejista. Resulta essa ca-
mencionado autor, a descrição inicial desse racterística do baixo nível de demanda da
tipo de rede deve-se a Sidney Mintz, em seu população e de sua limitada mobilidade es-
estudo sobre mercados haitianos. pacial, bem como da precariedade das vias
Quais são as características básicas da e dos meios de transporte.
rede dendrítica de centros? A este respeito A ausência de centros intermediários in-
as contribuições de Johnson 3 e Kelley 4 , que tersticialmente localizados constitui a ter-
muito se assemelham, são fundamentais: o ceira característica da rede dendrítica. De
que se segue está em grande parte apoiado modo imediato, as causas dessa caracterís-
em ambos os autores. tica derivam do padrão de interações co-
Primeiramente, uma rede dendrítica de lo- merciais atacadistas, marcado por múltiplas
calidades centrais caracteriza-se pela ori- transações, assim descritas: cada centro da
gem colonial, ou seja, é no âmbito da valori- rede recebe de e envia para um núcleo
zação dos territórios conquistados pelo ca- maior e mais próximo da cidade primaz. As
pital europeu que nasce e se estrutura uma interações assim direcionadas impedem o
rede dendrítica. Seu ponto de partida é a aparecimento de centros intermediários in-
fundação de uma cidade estratégica e ex- tersticialmente localizados. Tal padrão es-
centricamente localizada, em face de uma pacial de interações constitui-se, por outro
futura hinterlândia. Essa cidade, de locali- lado, em um esquema de drenagem de re-
zação junto ao mar, é o ponto inicial de pe- cursos em geral; drenagem esta que privile-
2 3 4
E. A. J. Johnson, ver Bibliografia. - E. A. J. Johnson, ver Bibliografia. - K. B. Kellev. ver Bibliografia. -
5 6 7
A. S. Linsky, ver Bibliografia. - B. Lentnek et alii, ver Bibliografia. - C. Smith, ver Bibliografia.
i ·.·.·.·.·.·.·.•.·.·.•.·.•.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.•.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·,·.·.·.·.·,·.·, .·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.··.·.·.•.·.·.·.·.·.·.·.·.·:·.·.·.·.·:·.·.·:·:•.•.•:···

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gia parcialmente a cidade primaz em detri- na rede de Floriano. Por outro lado, como as
mento de sua hinterlândia conforme assina- duas redes estão representadas na mesma
la Johnson 8 • Em realidade na rede dendrítica escala, constata-se a natureza mais com-
verifica-se, em conseqüência do padrão es- pacta da rede de Bauru, que se aproxima,
pacial de interaçõe~, que à medida que se assim, da descrita no modelo de Christaller.
afasta da cidade primaz, os centros urbanos A propósito dos tipos de redes de localida-
diminuem gradativamente de tamanho po- des centrais, no Brasil, consulta-se o traba-
pulacional, no valor de vendas do comércio lho de Cardoso e Azevedo 9 •
atacadista e em termos de expressão políti- Segundo Johnson 10 , no extremo da rede
ca. A Figura 1 descreve diagramaticamente dendrítica de centros, no interior remoto da
as características antes mencionadas. hinterlândia da cidade primaz, localizam-se
As Figuras 2a e 2b, por outro lado, forne- mercados periódicos que, dada a im-
cem dois exemplos de redes urbanas regio- portância que possuem nos países subde-
nais. A Figura 2a refere-se à rede de Floria- senvolvidos, serão considerados em outra
no, no Piauí e no Maranhão, que é do tipo parte do presente trabalho. Mais além, ain-
dendrítico. Nota-se a extensão da rede e a da, o território transforma-se no campo de
grande distância entre os centros da mes- ação preferencial de mascates, vendedores
ma. A Figura 2b diz respeito à rede de Bau- itinerantes sem localização definida, cuja
ru, no oeste paulista. Estruturalmente, função básica é a de promover a integração
diferencia-se muito de sua congênere nor- de áreas da fronteira econômica no merca-
destina. A capital regional não está excen- do mundial, conforme mostra Plattner 11 • Se-
tricamente localizada, como ocorre com gundo ele, à medida que a área remota
Floriano, e há numerosos centros interme- integra-se à economia mundial de modo
diários intersticialmente localizados como mais sólido, os mascates passam a ter uma
Garça, Pirajuí, lbitinga e Lençóis Paulista, localização definida, quer em mercados pe-
centros de zona, ou Botucatu, Jaú e Lins, riódicos, quer em mercados permanentes,
centros sub-regionais, que estão ausentes ou se deslocam para novas áreas de frontei-

A REDE DENDRÍTICA DE CENTROS


I \ FIGURA 1

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Tamanho dos Centros:
População, Valor das

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Vendas Comerciais,
Poder Polftico, etc .

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I e I Fluxos do Comércio
I Atacadista
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Áreas de Influência
Varejista

8 9
E. A. J. Johnson, ver Bibliografia. - M. F. T. C. Cardoso e L. M. P. Azevedo, ver Bibliografia.. -
10 11
E. A. J. Johnson, ver Bibliografia. - S. M. Plattner, ver Bibliografia.
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COMPARAÇÃO DE REDES
1978URBA NAS REGIONAIS

FIGURA 2

la/ Red e d e Flonano U


Rede do Tipo D m Exemplo rle
endnttco

••
HIERARQUIA URBANA

Capttal regtonal

Centro sub reg tonal

• Centro de zona

. Centro local
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ra, onde continuam a exercer o papel de cado pela rede de drenagem regional, assu-
mascates. mindo assim uma forma dendrítica.
A Figura 3 nos fornece um exemplo de A longa transcrição que se segue, retirada
uma rede regional de localidades centrais de Oliveira 12 , descreve o funcionamento da
que, até cerca de 1960, constituiu um dos rede dendrítica amazônica:
mais significativos exemplos de rede den- "No topo, ficavam as grandes casas avia-
drítica. Trata-se da rede urbana da doras e exportadoras, que funcionavam co-
Amazônia, durante o período áureo da bor- mo financiadoras, abastecedoras e interme-
racha, 1890-191 O, aproximadamente. A diárias, fornecendo os bens de consumo e
figura em pauta descreve a organização es- instrumentos de trabalhos necessários à ex-
pacial do sistema de "aviamento" regional. ploração dos seringais e cauchais a um avia-
Como se sabe, o "aviamento" é, em dor menor, que podia ser o dono de um es-
essência, o financiamento em bens de con- tabelecimento comercial em povoados pró-
sumo, instrumentos de trabalho e dinheiro, ximos dos seringais. Este, cobrando juros,
feitos pelas grandes casas atacadistas aviava o seringalista que, por sua vez,
"aviadoras" de Belém ou de Manaus, com através do regime de barracão (local onde
o objetivo de obter, mais tarde, a borracha, os produtos eram armazenados e onde era
produto do extrativismo vegetal. A rede ur- marcada a dívida do extrator que ali, com-
bana regional não é mais do que a cristali- pulsoriamente, se abastecia). aviava o cole-
zação no espaço do sistema de "aviamen- tor e, depois disso, a cadeia se invertia, co-
to", que tem um padrão de circulação mar- meçando o processo de entrega da borra-

EXEMPLO DE SISTEMA DENDRÍTICO: A


ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DO SISTEMA
DE "AVIAMENTO" NA AMAZÔNIA NO
APOGEU DA BORRACHA
FIGURA3

,,l
A I
I
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•4 \
I
I
',.,4
\
I

2 - Médio ou pequeno núcleo urbano -comerciante "aviador"

3 - "Barracão" -seringalista - "aviador"

4 - "Barracão" - seringueiro - "aviador"

p Rede hidrográfica

,,..--Caminhos na floresta

- Fluxo ascendente- Bens de consumo + Instrumentos de Trabalho + Dinheiro ("inverno").


- Fluxo descendente - Borracha + lucros ("verão")

12
A. E. Oliveira, ver Bibliografia, p. 236-237.
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cha, até chegar ao mercado internacional: o Vendedores dos mais variados produtos, ar-
extrator entregava o produto coletado ao tesão e prestadores de diversos serviços
seringalista, que o entregava ao comercian- amanhecem no centro com suas mercado-
te e este à casa exportadora em Belém e rias e instrumentos de trabalho. São prove-
Manaus. A partir daí a goma elástica chega- nientes de outro pequeno núcleo, onde no
va ao seu destino na Inglaterra, Estados dia anterior atuaram em seus ofícios, ou de
Unidos e outros países". um centro maior, onde residem e exercem
quase permanentemente a mesma ativida-
A rede dendrítica de localidades centrais
pode evoluir, segundo Kelley 13 , passando de. Alguns vieram da zona rural onde se de-
dicam às atividades primárias: vieram ven-
de uma rede imatura, com apenas dois ní-
der suas produções e compra alguns bens
veis hierárquicos, a cidade primaz, de um la-
que não produzem. Utilizando tropas de bur-
do, e os demais centros que não se apresen-
ro, a cavalo, em carroças, em caminhões e
tam funcionalmente estratificados, de ou-
utilitários, em embarcações e, mesmo, a pé,
tro, para uma rede madura, onde aparece
vendedores e compradores dirigem-se ao
uma estratificação funcional entre os cen-
núcleo em seus dias de mercado. Esses são,
tros da rede. A passagem de um padrão pa-
ainda, os dias em que as pessoas se encon-
ra outro implica em uma maior complexida-
tram, sabem das novidades e realizam even-
de na esfera da produção, circulação e con-
tos sociais, culturais e políticos.
sumo, com a coleta e redistribuição irtra-
-regional de produtos da própria hinterlândia Os mercados periódicos representam
da cidade primaz, visando ao mercado con- uma forma de sincronização espaço-
sumidor regional. A passagem para outro -temporal das atividades humanas. Assim,
padrão de rede, diferente do tipo dendrítico, os dias de funcionamento de cada mercado
pressupõe, por outro lado, mudanças mais acham-se articulados aos dos demais, numa
profundas ·ria esfera da produção, circu- lógica de tempo e espaço, envolvendo o
lação e consumo regional. deslocamento periódico e sincronizado dos
participantes de um dado mercado. Em ou-
tros termos, os comerciantes e prestadores
OS MERCADOS PERIÓDICOS de serviços reúnem-se a cada dia em um de-
terminado núcleo de povoamento, para on-
de converge a clientela de uma área próxi-
ma ao núcleo.
Os mercados periódicos constituem um
dos modos como está estruturada a rede de A periodicidade dos mercados, contudo,
localidades centrais nos países subdesen- é extremamente variável. Frõlich 14 , por
volvidos. Sua existência foi verificada em exemplo, mostra que na África os mercados
diversos contextos sócio-econômicos e cul- diferem-se de região para região: realizam-
turais, na América Latina, África e Ásia. -se a cada três dias de intervalo ou de qua-
tro em quatro, cinco em cinco, seis em seis,
Os mercados periódicos são definidos co- sete em sete ou oito em oito dias. Na região
mo aqueles núcleos de povoamento, peque- central da Coréia do Sul, por outro lado,
nos, via de regra, que periodicamente se 15
Stine mostra que os mercados periódicos
transformam em localidades centrais: uma ocorrem de cinco em cinco dias, variando,
ou duas vezes por semana, de cinco em cin- no entanto, em cada centro, os dias de mer-
co dias, durante o período de safra, ou de cado. Assim, de acordo com o mês lunar,
acordo com outra periodicidade. Fora dos um dado centro pode ter seu mercado nos
períodos de intenso movimento comercial dias 1 - 6 - 11 - 16 - 21 e 26, sendo
esses núcleos voltam a ser pacatos núcleos designados uns por 1 - 6; outros por 2 -
rurais, com a maior parte da população en- 7; 3 - 8; 4 - 9; e 5 - 1 O.
gajada em atividades primárias.
Os mercados periódicos têm merecido a
Nos dias de mercado, o pequeno núcleo atenção de viajantes e exploradores desde,
transforma-se em um centro de mercado. pelo menos, o Século XVIII. No século se-

13 14 15
K. B. Kelley, ver Bibliografia. - W. Frõlich. ver Bibliografia. - Stine, ver Bibliografia.
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guinte, sobretudo na sua segunda metade, em determinadas localidades em dias espe-


no bojo da expansão colonial européia, cíficos. Quando um grupo de mercados
amplia-se o interesse pelo conhecimento opera com uma programação periódica (e
das áreas não-européias, decorrendo daí não diariamente), o itinerante pode estar em
descrições sobre os mercados periódicos. cada cidade do circuito em seu dia de mer-
Foram, principalmente, os etnólogos que cado".
realizaram o maior número de estudos; mas Do lado da demanda, o caráter de sub-
os geógrafos, também contribuíram para o sistência da economia camponesa implica
conhecimento "Ciesses mercados. No século em:
atual o número de estudos aumentou, tendo a) não haver necessidade de relações
ocorrido sistematizações e avaliações· dos diárias com o mercado;
resultados obtidos. A este respeito o traba- b) ser muito grande o número necessário
lho de Frõlich 16, sobre os mercados africa- de famílias para justificar um dado mercado,
nos (publicado, originalmente, em 1940), fazendo com que a sua hipotética área de
alicerçado em cerca de quatro centenas de influência se estenda em demasia, a ponto
artigos e livros, constitui um exemplo. de excluir as famílias que moram na perife-
Outras sistematizações e avaliações fo- ria da área. Assim, argumenta Skinner23 :
ram feitas, entre outros, por Bromley e " .... quando os mercados são periódicos e
Symanski 17 no que se refere à América Lati- não diários, os centros de mercado podem
na, por Bromley 18, em relação aos países estar distribuídos mais densamente na pai-
subdesenvolvidos em geral, e por Smith 19, sagem",
este analisando especificamente a bibliogra- de modo que muitos camponeses possam,
fia mais recente sobre os mercados periódi- em pouco tempo e em dias específicos, al-
cos. cançar um dado mercado. Para o consumi-
O estudo de Skinner dor24:
O estudo de Skinner 20 constitui uma ".... a periodicidade do mercado aparece
notável contribuição a respeito dos merca- como um artifício para reduzir a distância
dos periódicos. Refere-se aos mercados chi- que ele deve viajar para obter os bens e ser-
neses da região de Szechwan, estudados viços requeridos",
por ele no período ·1949-1950. Visava a distância esta que seria muito grande se
entender as estruturas de mercado, en- houvesse um único mercado fixo.
quanto sistema econômico, espacial e so- A periodicidade dos mercados chineses é,
cial. Afirma Skinner21 que: por outro lado, muito variável, coexistindo
".... as estruturas de mercado inevitavel- mercados organizados, segundo vários ci-
mente modelam a organização social local e clos. Alguns são regulados pela posição do
fornecem um dos modos cruciais para inte- sol, outros pelo mês lunar, ou ainda por ou-
grar miríades de comunidades camponesas tras razões. Os ciclos mais importantes são:
em um único sistema social que é a socieda- a) de seis dias ou dois, em cada 12 dias:
de total" neste período, os mercados realizam-se em
Skinner argumenta que na China, via de um dado centro, nos dias 1 e 7; em outro
regra, os mercados rurais são periódicos, centro nos dias 2 e 8; em outro mais nos
envolvendo mascates, artesãos, prestado- dias 3 e 9; um outro centro tem seus merca-
res de serviços de reparação, pessoas que dos nos dias 4 e 1O; enquanto dois outros
escrevem cartas, etc. os têm, respectivamente, ncs dias 5 e 11; e
A periodicidade dos mercados deve-se, 6 e 12. No 13.0 dia, recomeça um novo ci-
do ponto de vista do comerciante itinerante, clo envolvendo os mesmos centros.
ao fato de que 22 : b) de cinco dias ou dois em cada dez dias.
" .... a periodicidade na venda tem ayirtude Cada um dos cinco centros interligados no
de concentrar a demanda de seu produto mesmo ciclo terá seu mercado em um dos
16 17
W. Frõlich, ver Bibliografia. - R. J. Bromley e R. Svmanski, ver Bibliografia. _IR R. J. Bromley, ver Biblio-
20
grafia. _:s R. H. T. Smith, ver Bibliografia. - G. W. Skinner, ver Bibliografia. - 21 G. W. Skinner, ver Bibliografia,
22 4
p. 3. - G. W. Skinner, ver Bibliografia, p. 10. 2 3 G. W. Skinner, ver Bibliografia, p. 11 . .!.. G. W. Skinner, ver
Bibliografia, p. 1O.
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seguintes dias: 1 e 6; 2 e 7; 3 e 8; 4 e 9; e, MERCADOS PERIÓDICOS: CICLO DE


finalmente, 5 e 1O. 1 O DIAS - PROVÍNCIA DE
c) de três dias ou três em cada dez dias, SZECHWAN,
sendo um dia de descanso. Os mercados
CHINA - 1949 - 1950
realizam-se nos dias: 1-4-7; 2-5-8; e 3-6-9
FIGURA4
(ver Figura 4 que apresenta este ciclo em
sua forma diagramática).
Os mercados periódicos são hierarquiza-
dos. Os dois níveis inferiores têm ocorrência
no centro elementar (standard market) e
centro intermediário (intermediate market).
Nos níveis hierárquicos superiores, a im-
portância dos itinerantes diminui, ganhando
maior importância os comerciantes e pres-
tadores de serviços fixos.
O centro elementar atende sobretudo às
necessidades do campesinato: sua área de
influência engloba aldeias rurais ou uma po-
pulação rural dispersa. Constitui-se no local
onde o camponês vende seus excedentes e
adquire os bens e serviços de que necessi-
ta. Os dias de mercado nestes centros ele-
mentares verificam-se de modo a minimizar
a competição com o centro intermediário a
que estão subordinados. Assim, centros
elementares vizinhos podem ter os mesmos
• e
Centro Intermediário

Centro Elementar

Circuito dos Comerciantes


dias de mercado mas em nenhum deles de-
verá coincidir com os dias de mercado do 2-5-8 Dias de Mercado em urTl Ciclo de
lO Dias
centro intermediário (ver novamente a Figu-
ra 4).
ciado à dupla atuação, o tipo de centro pode
O centro elementar e sua área de in-
ter dois ciclos de dias de mercado: um, ser-
fluência, por outro lado, não constituem vindo a toda a sua área de influência, com
apenas um espaço onde as transações dias não conflitantes com aqueles dos cen-
econômicas sãO' realizadas. Constituem,
tros elementares subordinados, e outro ci-
também, um espaço social, cultural e políti-
clo com os mesmos dias de seus centros
co, envolvendo tanto relações interclasses elementares. Neste caso o mercado assume
(camponeses, comerciantes e elites locais), menor importância, servindo à área de in-
como a organização de festivais religiosos, fluência mais próxima.
a existência de organiz~ções formais para
O centro intermediário é o local de re-
diversos propósitos, e, ainda, a recreação. sidência dos comerciantes itinerantes, onde
Assim, a respeito do festival religioso reali- eles descansam e renovam o estoque. É,
zado no centro elementar, Skinner25 comen-
ainda, o ponto de encontro das elites locais
ta que ele:
residentes na área de mercado do centro,
" .... fornece uma reafirmação da extensão elite esta que tem parcela de sua demanda
territorial da comunidade e um reforço satisfeita neste tipo de centro.
simbólico de um estrutura centrada na cida- O estudo de Skinner contém várias indi-
de". cações que nos conduzem à compreensão
O centro intermediário, por sua vez, exer- dos mercados periódicos. Os estudos que
ce uma atuação espacial diferenciada. Atua se seguem constituem tentativas de expli-
em área próxima e em distante, nesta estan- cação a respeito da gênese, funcionamento
do presentes os centros elementares. Asso- e evolução dos mercados periódicos.

25
G. W. Skinner, ver Bibliografia, p. 38.
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Tentativas de explicação serviços. Variam ainda em função do nível


de demanda da população, isto é, densida-
Uma das explicações a respeito da perio- de demográfica, renda e padrão cultural. O
dicidade dos mercados é dada por Stine 26 • alcance espacial máximo, por sua vez, e
Argumenta ele que após a passagem de profundamente dependente dos custos de
uma economia autárcica para uma econo- transporte. Nas áreas onde há transportes
mia de mercado, se verifica a progressiva baratos e um nível de demanda elevado o al-
especialização produtiva das áreas rurais, cance espacial máximo é amplo e o mínimo
implicando em trocas entre elas. As trocas reduzido, conseqüentemente sendo aquele
são viabilizadas por um conjunto de cen- maior do que este. Isto significa que, além
tros, as localidades centrais, que começam de terem sido satisfeitas as condições ..para
a emergir na "paisagem econômica". No que alguns comerciantes se instalem em
entanto, os agentes que realizam as fun- uma localidade central há, ainda, uma área
ções de troca podem atuar de maneira de mercado onde os consumidores ali resi-
móvel ou fixa, atribuindo aos centros um dentes procuram essa localidade central,
caráter de mercado periódico ou permanen- proporcionando aos ali instalados, lucros
te. No caso da Coréia do Sul, estudada por adicionais.
Stine, verificou-se a coexistência de merca-
dos permanentes e periódicos, estes últi- Mas, é possível que o inverso ocorra, isto
mos ocorrendo nos pequenos centros. é, que o alcance espacial máximo seja menor
A explicação de Stine baseia-se em duas do que o alcance espacial mínimo. Em que
ordens de considerações. De um lado, con- condições isto ocorre? O alcance espacial
sidera a teoria das localidades centrais de máximo tende a reduzir-se quando existe,
Christaller como base para uma explicação de um lado, alto custo de transporte dimi-
satisfatória a respeito do funcionamento nuindo as possibilidades de deslocamento
dos mercados periódicos: particularmente da população e, de outro, quando essa po-
importantes são os conceitos de alcance es- pulação dispõe de pequena renda. A limita-
pacial máximo (range ou maximum range) e da renda, por sua vez, tende a ampliar o al-
de alcance espacial mínimo ( threshold ou cance espacial mínimo, tornando-o em al-
minimum range). De outro, considera que a guns casos, maior do que o alcance espacial
natureza periódica ou permanente dos mer- máximo: em razão da baixa renda, é ne-
cados verifica-se no âmbito de uma mudan- cessário que se amplie o número de consu-
ça gradativa, em que os comerciantes itine- midores para justificar a instalação de co-
rantes passam de uma total mobilidade para merciantes em um pequeno centro, e isto
uma localização compietamente fixa. far-se-á ampliando a área de modo a conter
um maior número de consumidores.
O alcance espacial máximo é a área deter-
minada por um raio a partir de uma dada lo- O que significa o alcance espacial máxi-
calidade central. Dentro dessa área os con- mo inferior ao alcance espacial mínimo?
sumidores efetivamente deslocam-se para a Significa que parte do número de consumi-
localidade central, visando à obtenção de dores necessários para a instalação de co-
bens e serviços. Para além dela, deslocam- merciantes, em uma localidade central,
-se para outros centros que lhes estão mais encontra-se em uma área além daquela de
próximos, implicando, assim, em menores onde é possível deslocar-se para a localida-
custos de transporte ou em menor tempo de central. Stine argumenta que, nesta si-
gasto. O alcance espacial mínimo, por outro tuação, a única possibilidade que resta aos
lado, compreende a área em torno de uma comerciantes é a de se tornarem móveis,
localidade central, que engloba o mínimo de deslocando-se em grupos, de centro para
consumidores suficientes, para que um da- centro. Deste modo justificam a própria
do comerciante nela se instale. existência ao atender a uma clientela disper-
O alcance espacial máximo e o mínimo sa mas próxima dos pequenos centros. As-
variam de acordo com os diferentes bens e sim, em determinados dias cada pequeno

26
Stine, ver Bibliografia.
70 RBG

centro transforma-se em mercado, reunindo Em T 1 os consumidores possuem mínima


comerciantes e consumidores. mobilidade, levando o comerciante a reali-
A Figura 5 refere-se ao outro ponto consi- zar múltiplos deslocamentos. Em T 2 o co-
derado por Stine. Descreve a mudança gra- merciante move-se menos, mas, como em
dativa de um comerciante que passa da mo- T 1 , seus deslocamentos realizam-se no
bilidade (T 1 , T 2 e T 3 ) para uma localização fi- âmbito de uma área que constitui o alcance
xa (T 4 ). Esta mudança verifica-se no proces- espacial mínimo. Em T 3 apenas três merca-
so de redução progressiva da diferença en- dos periódicos são visitados. Finalmente em
tre o alcance espacial máximo e o mínimo: T 4 o comerciante não mais se desloca,
originalmente maior o alcance espacial míni- localizando-se de modo fixo. Os consumi-
mo, em T 4 passa a ser menor do que o al- dores, por sua vez, aumentam a mobilidade
cance espacial máximo. Redução esta que é a cada etapa. Em T 4 deslocam-se apenas
concomitante à diminuição progressiva dos para um único mercado, perfazendo, em
custos de transportes e à melhoria do nível média, um percurso maior. Deste modo Sti-
de renda da população. ne procurou explicar, através de um único
comerciante, a passagem da periodicidade
locacional para uma localização fixa.
Ampliando o raciocínio de Stine con-
DOS MERCADOS PERIÓDICOS sidera-se que se esta mudança gradativa
AO MERCADO FIXO verifica-se de modo a envolver um conjunto
FIGURA 5
de comerciantes e não apenas um único, a
Mmor
evolução passa a referir-se à passagem de
I
mercados periódicos, cada vez menos nu-
I
merosos, para um mercado fixo.
TI
o I
I
' MP
A explicação econômica, formulada por
'
/
Stine, tornou-se consagrada, tendo sido
considerada como básica para se entender
um modelo corrente de distribuição de bens
I
/ e serviços nos países subdesenvolvidos. No
entanto, Bromley, Symanski e Good 27 criti-
I

T2 ( MP
I
cam a ênfase nas explicações econômicas,
I
I
' ', 1
Mobilidade
para se compreender os mercados periódi-
do cos. Afirmam que se deve levar em conside-
Comtlrt:lantt>
ração o contexto social e o desenvolvimen-
to histórico da atividade comercial: para os
j autores citados, os padrões e sistemas de
trocas estão fundamentados em sistemas
de valores modelados por processos cultu-
rais. Argumentam que os mercados periódi-
/;,~--~ /~
cos resultam e persistem devido às necessi-
I
I '
I
,
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I dades dos produtores, à organização do
T .
4 I \ I ( } MF tempo e à inércia e vantagens comparativas
I I ' , \ I
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' ...... ___ ..... /
I
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I
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........ __ _,../
I
do mercados.
'-~- Nula Em relação às necessidades dos produto-
res eles comentam que 28 :
"Muitos dos primeiros comerciantes locais
.~- ... \
eram produtores procurando uma saída para
/ Alcance Espacial M1mmo MF - Merc<!d;;l F1xo seus produtos ou meios de obter outros pro-
'---"
dutos, e seus clientes usualmente também
---+ lt1ner.mo do Comerc11mte eram produtores. Como resultado, os pri-
meiros mercados tinham que estar adapta-
dos às necessidades dos produtores - co-

27 28
R. J. Bromley et alii, ver Bibliografia. - R. J. Bromley et alii, ver Bibliografia, p. 531.
RBG 71

merciantes de tempo parcial e não dos co- podia ser o tradicional dia de descanso se-
merciantes de tempo integral. A periodici- manal ou o dia em que estavam acostuma-
dade era uma vantagem para muito dos par- dos a convergirem para local para ativida-
ticipantes do mercado, em função de serem des religiosas e pagamento de tributos. O
diversos seus papéis econômicos". dia e também o local eram, no entanto, de-
Em relação à organização do tempo Brom- terminados, em parte, por instituições e
ley, Symanski e Good 29 argumentam que os agentes preexistentes e não diretamente
mercados periódicos estão: vinculados ao mercado.
"associados a conceitos sócio-culturais de Os autores, por outro lado, ao reconstruí-
tempo, à duração da semana ou mês e à rem hipoteticamente a gênese e o desenvol-
existência de' dias dedicados ao descan~o, vimento dos mercados, argumentam que, à
cerimônias religiosas, reuniões públicas e medida em que se ampliam o comércio e a
festividades( ... ). divisão do trabalho, surgindo a possibilida-
Muitas instituições econômicas e sociais já de de comerciantes atuarem em tempo inte-
existiam quando as instituições regulares de gral, verifica-se que a comercialização diária
comércio começaram a se desenvolver. Em somente será possível se cada localidade ti-
muitas partes do mundo, as instituições ini- ver J3eu mercado em um dia diferente das
ciais de comércio tinham que estar coorde- demais: se todas tiverem o mercado no
nadas com o calendário definido pela rotina mesmo dia as aspirações dos comerciantes,
da produção, religião, administração, repou- de se tornarem de tempo integral, não serão
so e recreação" realizadas. Como a periodicidade dos mer-
Os autores argumentam, ainda, que mui- cados já estava solidamente estabelecida, a
tas áreas que possuem mercados periódicos mesma foi mantida, adaptando-se a ela os
apresentam condições de possuírem comer- novos comerciantes de tempo integral. Esta
ciantes fixos, negociando com muitos tipos adaptação verificou-se através do desloca-
de produtos. No entanto, os mercados pe- mento periódico e sistemático dos comer-
riódicos coexistem com os comerciantes fi- ciantes para as diversas localidades que
xos ou existem sem eles, apesar da possibi- mudaram os dias de seus mercados, pas-
lidade dos mesmos existirem: argumentam, sando estes a se realizarem em dias diferen-
então, que as explicações de Stine apoiadas tes. Surge, assim, um sistema espaço-
no conceito de alcance espacial máximo e -temporal de mercados periódicos tal como
mínimo, bem como a proposição da mudan- a literatura descreve.
ça gradativa da mobilidade para a fixidez, Este sistema poderá caracterizar total-
não dão conta da realidade, em parte, pelo mente o processo de distribuição dos pe-
fato de não considerarem a gênese dos mer- quenos centros ou poderá conviver, mais
cados. tarde, com a presença de comerciantes fi-
Em relação às origens dos mercados . xos nos mesmos centros de mercijdo. O de-
Bromley, Symanski e Good 30 argumentam saparecimento total, ou quase total, dos
que, normalmente. os: mercados periódicos, por outro lado, não
"mercados originaram-se em sociedades seria o simples resultado da ampliação do
estratificadas com marcante divisão do tra- alcance espacial como quer Stine. Pressu-
balho e fortes influências e ligações exter- põe que assim seja, mas implica, também,
nas. Os comerciantes de fora desempenha- em outros aspectos, envolvendo mudanças
ram importante papel estimulando a criação no padrão cultural e na estrutura das ativi-
de mercados locais, e muitos dos partici- dades comerciais.
pantes locais dos primeiros mercados esta- A sazonabilidade dos mercados .
vam engajados principalmente em ativida- Existe, ainda, uma outra dimensãD da pe-
des econômicas fora do lugar do mercado". riodicidade dos mercados. Caracteriza-se
Em razão dessas origens, tornou-se ne- pela natureza sazonal, de acordo com os pe-
cessário que os produtores - vendedores ríodos de safra e entressafra, e não segundo
- consumidores escolhessem em comum o um ciclo curto, realizado em período de uma
dia para realizarem seus negócios. Este dia semana ou de 1O dias, por exemplo. Esta di-
29 30
R. J. Bromley et alii, ver Bibliografia, p. 531. - R. J. Bromley et alii, ver Bibliografia p. 534.
72 RBG

mensão sazonal da periodicidade aparece


O EFEITO DA DEMANDA SAZONAL
nas proposições de Funnel 31 sobre o siste-
SOBRE O ALCANCE
ma de localidades centrais, em áreas rurais
ESPACIAL MÍNIMO E AS LOJAS
de baixo nível de renda: os produtores dis-
FIGURA 6
põem de dinheiro em espécie apenas na
época da safra e os comerciantes não têm
condições de possuírem amplos estoques
de produtos. A sazonabilidade marca muito
a demanda e a oferta de produtos consumi-
dos pela população.
Durante o período de safra verifica-se o
aumento efetivo da demanda, implicando
isto na redução do alcance espacial mínimo
e no aparecimento de lojas sazonais, con-
forme indica a Figura 6: de fato, durante a
safra, um número menor de pessoas é sufi-
ciente para se justificar o aparecimento de
lojas sazonais. Localizam-se elas nos espa-
Alcance } entressafra __ _ ~ lojas permanentes
espacial
mfnimo safra ·-·--···-----
ços intersticiais, entre as lojas permanen- • lojas sazonais (safra)

tes, e pertencem a comerciantes de tempo


parcial, que se dedicam, também, às ativi- VARIABILIDADE FUNCIONAL
dades primárias. DE ACORDO COM A SAFRA
Funnel argumenta que a alternativa de E A ENTRESSAFRA
comerciantes permanentes ampliarem o FIGURA 7
raio de suas vendas, implicaria no aumento
dos estoques, o que é extremamente difícil, (hJ Safra

dado o baixo nível de acumulação de capital


de que dispÕem. Implicaria, também, no
deslocamento dos consumidores, que se
caracterizam pelo baixo nível de mobilidade.
O aparecimento de lojas varejistas duran-
te o período de safra possibilita, por outro
lado, que as lojas permanentes desempe-
nhem uma função atacadista sazonal, abas-
tecendo as lojas varejistas sazonais, confor-
me indica a Figura 7. Deste modo, a periodi-
! } )lt)rnl,lllt'lllt'!>

• < PlltrO~ ó.d/tll1di<,

cidade do mercado verifica-se não pelo des-


locamento dos comerciantes, mas pela sa- enorme importância das feiras na economia
zonabilidade da atividade comercial. A rede
regional, poucos são os estudos sistemáti-
de localidades centrais passa, assim, por
cos sobre a questão. O que se pretende, a
um processo de ampliação - redução defi- seguir, é apresentar alguns pontos sobre os
nido temporalmente. mercados periódicos nordestinos. As feiras
do Agreste e do Sertão de Alagoas serão
consideradas como típicas do Nordeste: in-
Apontamentos para um estudo formações sobre elas foram obtidas em um
sobre as feiras no Nordeste trabalho de campo, realizado no segundo
brasileiro
semestre de 1979, no qual os propósitos
No Nordeste brasileiro, os mercados pe- estavam além dos mercados periódicos. Os
riódicos ou feiras constituem um dos com- pontos que se apresentam constituem con-
ponentes fundamentais da rede de localida- clusões preliminares e não esgotam a ampla
des centrais, coexistindo com outros com- variedade de questões associadas às feiras.
ponentes de localização fixa. Apesar da Se não vejamos:
31
D. C. Funnel, ver Bibliografia.
RBG 73

a) As feiras ocorrem em centros de dife- b) Quanto maior for a importância da ci-


rentes tamanhos e funções. Ocorrem em dade, em termos de centralidade, maior
povoados, vilas e pequenas sedes munici- será a importância absoluta de sua feira, im-
pais, com menos de 5.000 habitantes, co- portância determinada segundo o número
mo lgaci, Dois Riachos, Olivença e Lagoa da de participantes e a área de atuação da mes-
Canoa. Ocorrem em centros de zona como ma. Nas cidades mais importantes, como
Pão de Açúcar e Olho d'Água das Flores, e Arapiraca, Palmeira dos Índios e Santana do
em centros sub-regionais como Santana do lpanema, há duas feiras semanais; uma de
lpanema e Palmeira dos fndios, esta com caráter regional e outra visando eminente-
população entre 30 e 40.000 habitantes. mente ao abastecimento urbano de produ-
Mesmo em uma cidade com cerca de tos alimentares (ver Figura 8).
90.000 habitantes, em 1980, como é oca- A feira das segundas-feiras em Arapiraca
so de Arapiraca, as feiras desempenham é, por exemplo, uma das maiores, senão a
enorme papel na vida urbana; maior de todo o Nordeste. Abriga cerca de

MERCADOS PERIÓDICOS (FEIRAS) E CENTRAUDADE


NO AGRESTE E SERTÃO ALAGOANOS - 1979
FIGURAS
74 RBG

5.000 barracas que se distribuem através de Arapiraca. No entanto, a localização fixa


de 20 logradouros aproximadamente. É não implica, necessariamente, no abandono
uma feira regional, atraindo vendedores e da itinerância, ou da posse de barracas, ar-
consumidores de ampla área. madas em frente às lojas, nos dias de feira.
Por outro lado, a cidade de Arapiraca não g) Não existe um único esquema espaço-
só possui a maior feira do Agreste e do -temporal sincronizado, entre os comercian-
Sertão de Alagoas, como também dispõe de tes itinerantes, mas vários simultâneos. As-
um comércio atacadista que abastece, en- sim, os comerciantes itinerantes que, na
tre outros clientes, até os próprios feiran- segunda-feira, estão em Arapiraca, na
tes. terça-feira têm várias opções, como a de
c) No entanto, quanto menor a centralida- venderem seus produtos nas feiras de lgaci
de de uma cidade, maior a importância rela- ou Riacho Grande, um pequeno núcleo no
tiva da feira semanal, para a vida urbana. Município de Santana do lpanema, ou, ain-
Assim, para as pequenas sedes municipais da, dedicarem-se a outras atividades. Aos
de Palestina ou Coité do Nóia, o dia de feira domingos, entre as opções, estão as feiras
é, efetivamente, o dia em que o pequeno de Lagoa do Rancho (Úm pequeno núcleo no
núcleo passa a exercer alguma centralida- Município de Arapiraca), Lagoa da Canoa e
de. Nos demais dias, estes e outros peque- Marimbondo.
nos centros constituem núcleos rurais. h) Há uma variação sazonal nos itinerários
Para cidades como Arapiraca e Palmeira realizados por alguns feirantes. Esta sazo-
dos Índios, ainda que o dia de feira seja o dia nalidade é definida em term.os de "inver-
em que o comércio estabelecido realize o no", período de chuvas que se estende de
maior volume de vendas, os outros dias maio a setembro, e "verão", período seco,
constituem-se em dias onde estes núcleos que ocorre sobretudo nos meses de outubro
exercem, também, significativa centralida- a abril. O fim do "inverno" é o período de
de, através de negócios realizados com o colheitas do fumo, do feijão, do algodão e
seu comércio e serviços especializados. do milho, os principais produtos agrícolas
d) Os pequenos centros, via de regra, têm do Agreste e do Sertão de Alagoas. É a épo-
determinado o dia de feira, de modo a não ca em que há mais dinheiro circulando, au-
con.flitar com o da feira regional da localidac mentando a demanda nas duas menciona-
de central a que a mesma está subordinada. das áreas. Na Zona da Mata, a safra da
Por sua vez, os pequenos centros, mesmo cana-de-açúcar ( o principal produto regio-
próximos entre si, podem ter as suas feiras nal) é, no "verão", época em que a deman-
nos mesmos dias. É o que ocorre, por exem- da aumenta.
plo, na área mais próxima a Arapiraca, onde A diferença sazonal da safra leva muitos
os núcleos de Lagoa da Canoa, Limoeiro de comerciantes itinerantes a adotar circuitos
Anadia, São Sebastião e Coité do Nóia têm sazonais. Assim, na segunda-feira, nos me-
suas feiras no domingo. Outros centros têm ses de "verão", um feirante pode estar na
suas feiras no sábado, enquanto a de Arapi- feira de São Miguel dos Campos e não na de
raca é na segunda-feira. Arapiraca, enquanto que no sábado e no do-
e) Do lado da oferta, os participantes da mingo pode vender nas feiras de Penedo e
feira incluem pequenos produtores rurais e Campo Alegre, respectivamente, e não nas
comerciantes com lojas em cidades como feiras localizadas no Agreste ou no Sertão
Arapiraca, Palmeira dos Índios e, mesmo de Alagoas.
em centros menores, até pessoas que são i) Coexistência (sobretudo em Arapiraca)
feirantes de profissão. Do lado da demanda, da feira com o moderno setor de serviços e
os participantes constituem tanto a popu- comércio especializado: eletrodomésticos,
lação rural como a população urbana, esta concessionárias de automóveis e cami-
última abrangendo pessoas dos mais diver- nhões, óticas, supermercado (este perten-
sos níveis de renda e ocupação. cente a uma grande rede nordestina com se-
f) Muitos feirantes prosperando, acabam de no Recife), bancos, etc. Esta coe-
fixando-se em determinado local, estabele- xistência, aparentemente, não implica em
cendo uma loja comercial em um centro ur- conflitos entre os feirantes, de um lado, e os
bano, como é o caso de muitos dos lojistas comerciantes e empresas de serviços im-
RBG 75

plantados na cidade, de outro. Ao contrário, ciedade urbana uma divisão entre aqueles
parece haver interesses comuns. Isto nos que podem ter acesso de maneira perma-
remete ao terceiro modo como se estrutura nente aos bens e servicos oferecidos e
a rede de localidades centrais nos países aqueles que, tendo as m~smas necessida-
subdesenvolvidos: uma estruturação apoia- des, não têm condições de satisfazê-las. ls-
da na coexistência de dois circuitos, um s,e cria ao mesmo tempo diferenças quanti-
moderno - o circuito superior, e o tradicio- tativas e qualitativas no consumo".
nal - o circuito inferior, conforme define Essas diferenças são a causa e o efeito da
Santos 32 • existência de dois circuitos de produção,
distribuição e consumo.
Os dois circuitos econômicos, no entan-
OS DOIS CIRCUITOS DA to, não podem ser vistos como constituindo
ECONOMIA um dualismo ou uma dicotomia urbana.
Constituem, ao contrário, uma bipolari-
zação, pois possuem a mesma origem, o
O terceiro modo como está organizada a mesmo conjunto de causas, apresentando-
rede de localidades centrais nos países sub- -se interligados. Os dois circuitos, em reali-
desenvolvidos diz respeito ao desdobra- dade, não estão isolados entre si. Primeira-
mento da rede em dois circuitos econômi- mente, porque a existência de uma classe
cos. Segundo Santos, 33 os trabalhos pionei- média que utiliza um e outro circuito impe-
ros sobre o assunto devem-se a J. H. Boeke de o isolamento. Em segundo lugar porque
(com um estudo de 1 942 sobre a In- existem articulações de complementaridade
donésia), a Clifford Geertz e, sobretudo, a e de dependência, envolvendo intercâmbios
Theodore Me Gee (sobre o Sudeste Asiáti- de insumos entre os dois circuitos. A longo
co). Milton Santos, 34 a quem se deve a pri- prazo, entretanto, prevalece a dependência
meira sistematização sobre o tema, vem, do circuito inferior ao superior.
desde o final da década de 60, abordando a De modo simplificado, considera-se que o
questão, conforme se exemplifica com seus circuito superior é constituído pelos bancos,
estudos de 1970 e 1977. 35 comércio e indústria voltados para a expor-
tação, pela indústria moderna vinculada ao
mercado interno, pelos serviços modernos e
A Contribuição de Milton Santos
empresas atacadistas e de transportes. Sua
O processo de modernização tecnológica, clientela, urbana ou regional, é formada pe-
verificado nos países subdesenvolvidos las classes ricas, satisfazendo, entretanto,
após a Segunda Guerra Mundial, por atuar parcela expressiva das demandas da classe
de forma muito relativa, teve o papel,, se- média. Por sua vez, o circuito inferior é
gundo Santos, 36 de dividir a vida econômica constituído por atividades que não utilizam
desses países em dois circuitos de pro- capitais de modo intenso, possuindo ainda
dução, distribuição e consumo. Um deles (o uma organização primitiva: a fabricação de
circuito superior) é diretamente resultante bens, certas formas de comércio e serviços
da modernização tecnológica, enquanto o compõem a ampla gama do circuito inferior,
outro (inferior) deriva, indiretamente, da ci- que atende, sobretudo, às classes pobres.
tada modernização tecnológica, dirigindo- O Quadro 1, 38 a seguir, descreve, de modo
-se aos indivíduos que pouco ou nada se be- claro, as características de ambos os circui-
neficiaram com o progresso. Nas palavras tos:
de Santos: 37 Os dois circuitos da economia são facil-
"A existência de uma massa de pessoas mente revelados através da paisagem das
com salários muito baixos ou vivendo de grandes cidades do Terceiro Mundo: moder-
atividades ocasionais, ao lado de uma mino- nos shopping centers que, muitas vezes,
ria com rendas muito elevadas, cria na so- não estão distantes de um conjunto de bi-
32
M. Santos 1979, ver Bibliografia. 2 3 M. Santos 1979, ver Bibliografia. 2 4 M. Santos 1979, ver Biblioqrafia.
35 36 37
M. Santos 1970 e 1977, ver Bibliografia. - M. Santos 1979, ver Bibliografia. - M. Santos 1979, ver
8
Bibliografia. 2 M. Santos 1979, ver Bibliografia, p. 34.
76 RBG

QUADRO I.

CARACTERÍSTICAS DOS DOIS CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA DOS


PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS

Características Circuito Superior Circuito Inferior

Tecnologia capital intensivo trabalho intensivo

Organização burocrática primitiva

Capitais importantes reduzidos

Emprego reduzido volumoso

Assalariado dominante não-obrigatório

Estoques grandes quantidades e/ou alta pequenas quantidades, quali-


qualidade dade inferior

Preços fixos (em geral) submetidos à discussão entre


comprador e vendedor (hag-
gling)

Crédito bancário institucional pessoal não institucional

Margem de lucro reduzida por unidade, mas im- elevada por unidade, mas
portante pelo volume de negó- pequena em relação ao volume
cios (exceção: produtos de luxo) de negócios

Relações com a clientela impessoais e/ou com papéis diretas, personalizadas

Custos fixos importantes desprezíveis

Publicidade necessária nula

Reutilização dos bens nula freqüente

Overhead capital indispensável dispensável

Ajuda governamental importante nula e quase nula

Dependência direta do exterior grande, atividade voltada para reduzida ou nula


o exterior

roscas; ruas onde convivem lojas departa- tos econom1cos em Lima, no Peru, é um
mentais, pertencentes às grandes organiza- exemplo. Ao que tudo indica, no espaço ur-
ções capitalistas, ou lojas especializadas bano, os dois circuitos estão espacialmente
em artigos de luxo, e vendedores ambulan- imbricados.
tes com sucedâneos baratos dos artigos E em relação à rede regional de localida-
vendidos nas lojas; suntuosas agências des centrais? Como os dois circuitos inter-
bancárias e feios e sujos depósitos de ferro- ferem na organização e funcionamento dos
-velho e papel. O funcionamento dos dois centros de uma dada rede regional?
circuitos também é detectável com certa fa- Segundo Santos, 40 os dois circuitos da
cilidade. O estudo de Santos 39 sobre o papel economia interferem na rede de localidades
dos atacadistas articulando os dois circui- centrais estruturando-a de modo a que cada
39 40
M. Santos 1982, ver Bibliografia. - M. Santos 1979, ver Bibliografia.
RBG 77

centro atue simultaneamente nos dois cir- fato de o circuito superiorestarvoltado para
cuitos, dispondo de duas áreas de in- as atividades modernas e para a população
fluência. de nível de renda elevado, capaz de consu-
A interferência se faz, em realidade, mir bens e serviç'os desse circuito. Como
através dos mecanismos básicos de estru- essa população efetivamente consumidora
turação da hierarquia urbana, o alcance es- acha-se concentrada em alguns pontos do
pacial mínimo e máximo. Para se compreen- território - especialmente nas localidades
der isto, é necessário considerarmos três ní- centrais mais importantes da hinterlândia
veis hierárquicos de centros: a metrópole, a metropolitana -, verifica-se a referida des-
cidade intermediária e a cidade local. continuidade.
No circuito inferior, o alcance espacial mí-
A Figura 9a pretende sumariar o que foi
nimo é reduzido nos três níveis de localida-
exposto. A cidade local atua, efetivamente,
des centrais. O alcance espacial máximo, através do circuito inferior, enquanto a
por sua vez, é relativamente maior na cida-
metrópole o faz através do superior. As ci-
de local do que na intermediária. Na
dades intermediárias desfrutam uma centra-
metrópole, apresenta tendência a
lidade que lhes é fornecida pelos dois circui-
confundir-se com os seus limites urbanos,
tos, ora um tendo maior importância, ora o
ou seja, os bens e serviços oferecidos pelas
outro.
atividades do circuito inferior não atraem re-
sidentes fora do centro metropolitano, aten- A Figura 9b, por sua vez, constitui um es-
dendo apenas à demanda de uma vasta po- forço visando a representar, teoricamente,
pulação pobre citadina. A cidade local, por a rede de localidades centrais, de acordo
sua vez, tem sua centralidade apoiada, basi- com os dois circuitos da economia. 41 Repro-
camente, nas atividades desse circuito, en- duz a versão diagramática e geral das idéias
tre elas as que se reúnem nos mercados pe- de Christaller - o modelo de localidades
centrais de acordo com o princípio de mer-
riódicos: atraem consumidores de uma rela-
tiva longa distância. cado -, introduzindo-se as duas áreas de
No circuito superior, o alcance espacial influência de que cada centro dispõe.
Sem excluir a teoria das localidades cen-
mínimo assume certa expressão espacial,
tanto na metrópole como nas cidades inter- trais, a contribuição de Santos, na realida-
mediárias. Na cidade local é hipotético pois, de, ultrapassa-a, enriquecendo-a. Diz ele
que:42
efetivamente, a pequena localidade central
não desempenha funções vinculadas a esse "O problema dos dois circuitos da econo-
circuito. Nos países subdesenvolvidos, a mia urbana aparece, portanto, como um as-
pequena renda da maioria da população faz pecto essencial dos inumeráveis problemas
com que o número de pessoas capazes de que os países subdesenvolvidos enfrentam
justificar o aparecimento de atividades mo- atualmente. É também um testemunho da
dernas esteja localizado em uma vasta área, falência das teorias e dos esforços de plani-
muito além do alcance espacial máximo da ficação do desenvolvimento tentados até
cidade. agora, pelo menos nos países de economia
O alcance espacial máximo, por outro la- liberal".
do, é inexistente na cidade local, assumindo A rede de localidades centrais dos países
expressão na cidade intermediária e, sobre- subdesenvolvidos é uma das dimensões es-
tudo, na metrópole. Na realidade, é através paciais (talvez a mais importante) dos dois
do circuito superior que o ce11tro metropoli- circuitos da economia urbana. Reflete a po-
tano estabelece relacões com a sua área de breza de parcela considerável da população,
influência, mas é éonveniente considerar isto é, o resultado das diversas formas de
que esta área não é espacialmente contí- exploração social. Nesse sentido, e por essa
nua. A distribuição de bens e serviços pela via, o estudo das redes de localidaaes cen-
metrópole caracteriza-se por apresentar trais no Terceiro Mundo ganha uma di-
descontinuidades espaciais. Isto se deve ao mensão política.
41 42 43
M. Santos 1979, ver Bibliografia.- M. Santos 1979, ver Bibliografia, p. 287.- G. I. Missen eM. I. Logan,
ver Bibliografia.
78 RBG

OS DOIS CIRCUITOS DA ECONOMIA E A


REDEDECENTROSURBANOS
FIGURA 9

(ai Importância Relativa das Zonas de Influência dos Dois Circuitos


em Relação aos Diferentes Níveis Urbanos
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Cidade Local Cidades Intermediárias Metrópole

-·-· Circuito lnfefim


~-- . .... Circuito Superior

(b) O Hexágono de Christaller, Princípio de Mercado, Alterado pelos


dois Circuitos da Economia

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Circuito superior
HIERARQUIA URBANA
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e Metropolitano

e Intermediário

Local
O Circuito inferior

O estudo de Missen e Logan 43 é um exce-- níveis mínimos de margem de lucro. Verifi--


lente exemplo de verificação das proposi-- cam, também, a complexidade das relações
ções de Santos. Refere--se à planície de Ke-- entre os dois circuitos, indicando várias ca--
lantan na porção ocidental da Malásia, uma deias de comercialização, de acordo com a
área rural onde o circuito inferior da econo-- origem dos produtos e a localização dos in--
mia é extremamente significativo, sendo o termediários e consumidores.
mais importante em todos os centros urba--
nos.
Missen e Logan consideram que o circuito Outros Estudos
inferior é em parte determinado pela grande
oferta de pessoas que necessitam trabalhar. Contribuicão semelhante encontra--se no
A entrada delas no circuito faz--se através estudo de éorrêa, 44 onde é considerado o
de variados modos de fracionamento da ca-- comportamento espacial dos consumidores
deia de comercialização e pela aceitação de em áreas onde convive uma população de
44
R. L. Corrêa, ver Bibliografia.
RBG 79

alto, médio e baixo status sócio- condições de comprar ou utilizar apenas


-econômicos. Isto implica em diferenças de uma parcela dos produtos e serviços ofere-
nível de consumo que45 "refletem, em últi- cidos na região em que vivem. Segundo
ma análise, a capacidade que cada grupo de Corrêa.: 47
status sócio-econômico tem em gastar "Seu consumo se limita a bens extrema-
maior ou menor percentual de sua renda em mente necessários, obtidos através de uma
bens e serviços que aqueles estritamente agricultura de subsistência, e localmente
necessários à sobrevivência". através do artesanato tradicional ou de fir-
A população de médio e alto status, coAs- mas que distribuem uma gama variada de
tituída pelos proprietários dos meios de pro- produtos industriais de qualidade inferior e
dução e assalariados regulares e bem remu- baratos. Os serviços utilizados são míni-
nerados, que constitui o segmento social mos, sendo prestados por órgãos governa-
com poder aquisitivo e mobilidade espa- mentais quando estes fazem sentir sua
cial46 "pode se deslocar à procura de bens e ação, ou por pessoas não qualificadas pro-
serviços que não são oferecidos localmen- fissionalmente, como "curiosos" e "curan-
te, dirigindo-se às localidades centrais de deiros".
maior nível hierárquico, onde são oferecidos . A população de baixo status possui limi-
bens e serviços de menor freqüência de tada mobilidade espacial. Para ela, não exis-
consumo e mais caros. Em realidade, esta te de fato uma hierarquia urbana, utilizando
população de médio e alto status sócio- apenas os centros locais para satisfação de
-econômico compra ou utiliza os bens e ser- sua reduzida demanda: na realidade, a hie-
viços oferecidos pelos centros locais, capi- rarquia de localidades centrais existe ape-
tais sub-regionais e pela capital regional. Pa- nas em função da população de médio e alto
ra esta população existe realmente uma hie- status.
rarquia urbana". A Figura 1O procura descrever o compor-
Os assalariados irregulares e regulares tamento espacial da população dos dois
mal remunerados, os camponeses e aqueles grupos de status sócio-econômico. A rede
engajados no terciário primitivo possuem urbana desdobra-se em dois planos que, de

STATUS SÓCIO-ECONÔMICO E CENTRALIDADE:


O COMPORTAMENTO DOS CONSUMIDORES
LOCALIDADES FIGURA 10
CENTRAIS
SERVINDO À
POPULAÇÃO
DE

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Capital Regional ---------------------------------''' , , , --

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Médio e Alto Status

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.........

45 46 47
R. L. Corrêa, ver Bibliografia, p. 54. - R. L. Corrêa, ver Bibliografia, p. 54.- R. L. Corrêa, ver Bibliografia,
p. 55.
80 RBG

certo modo, reportam-se aos dois circuitos população de baixo nível de renda compra-
da economia a que Milton Santos se refe- va somente nos "armazéns" da vila, en-
re.48 Segundo Corrêa: 49 quanto os dois outros grupos deslocavam-
"No (plano) superior está o conjunto hierar- -se para Araruama, Niterói e Rio de Janeiro,
quizado de localidades centrais: uma capital onde compravam em modernos supermer-
regional, 3 capitais sub-regionais e 9 cen- cados.
tros locais, cada um atuando como tal. Este Em relação aos produtos de consumo me-
conjunto de centros serve à população de nos freqüente (como sapatos e confec-
médio e alto status sócio-econômico. No ções), verificou-se que o grupo de baixo ní-
plano inferior está o conjunto de nove cen- vel de renda ustJalmente realizava suas
tros, todos atuando como centros locais e compras na vila, enquanto o grupo de nível
servindo à população de baixo status sócio- de renda média recorria, com razoável
-econômico. Em outras palavras, o modelo freqüência, para Araruama, Niterói e Rio de
mostra que a capital regional atua, também, Janeiro. O grupo de alta renda, por sua vez,
como capital sub-regional e centro local pa- predominantemente recorria aos três men-
ra a população de médio e alto status, mas cionados centros.
atua somente como centro local para a po- Considerando-se a compra de bens
pulação de baixo status sócio-econômico". duráveis como aparelhos eletrodomésticos
Um teste desta proposição foi realizado e eletrônicos, verificou-se que a maioria da
por Freire, Sant' Anna, Teixeira e Corrêa, 50 população de baixa renda não os possuía;
considerando a população residente na vila os poucos que dispunham de tais bens ti-
de São Vicente de Paula,. no Município de nham, em parte, adquirido-os na própria vi-
Araruama, Rio de Janeiro. Trata-se de uma la. Os grupos de renda média e alta dispu-
pequena localidade central, de muito baixo nham, via de regra, de tais produtos, tendo
nível hierárquico, que não possuía, em comprado-os sobretudo em Niterói e Rio de
1978 (quando foi feita a pesquisa de cam- Janeiro e não na próxima Araruama. A va-
po) nem agência bancária nem médico. riedade da oferta e os preços mais baixos
Seus mais importantes estabelecimentos explicam esta preferência.
comerciais, denominados "bazar" ou "ar- A população de baixo nível de renda, por
mazém", possuíam pequenos estoques de outro lado, recorria aos serviços de médico
uma gama muito variada de bens de consu- geral na cidade de Araruama ou, alternativa-
mo freqüente. Sua população era inferior a mente, ao serviço público, oferecido, gra-
2.000 habitantes e situava-se a cerca de tuitamente, um dia por semana na própria
20 km da cidade de Araruama, com a qual vila. A população de nível médio de renda,
se conectava através de 16 viagens diárias além dessas opções procurava, também, al-
de ônibus. De Niterói, distava cerca de 11 O gumas vezes, centros urbanos maiores. Ao
quilômetros, e a conexão se fazia através de contrário, a população de alto nível de renda
quatro viagens diárias de ônibus. raramente usava os serviços médios locais,
As entrevistas realizadas, abrangendo deslocando-se para Araruama, Niterói e Rio
20% dos domicílios, indicaram que a popu- de Janeiro.
lação tinha comportamento espacial dife- Esta pesquisa confirmou, assim, as pro-
renciado, dependendo do seu nível de ren- posições de Corrêa 51 a respeito do desdo-
da: baixo (até dois salários mínimos). médio bramento da rede de localidades centrais
(de dois a cinco) e alto (com mais de cinco em dois planos, bem como ratificou a pro-
salários mínimos). posição mais geral de Santos 52 sobre os
Em relação aos produtos alimentares dois circuitos da economia nos países sub-
básicos - arroz, feijão, óleo comestível, fa- desenvolvidos: São Vicente de Paula consti-
rinha de mandioca, sal, açúcar e café -, a tui o principal e quase único centro para a
vila era o lugar preponderante de compra população de baixo nível de renda, para
para todos os níveis de renda. Contudo, a quem não existe, efetivamente, uma hierar-

48 M. Santos 1979, ver Bibliografia. ~ R. L. Corrêa, ver Bibliografia, p. 55.


9
~o L. A. R. Freire e et ali i, ver Biblio
grafia. - 51 R. L. Corrêa, ver Bibliografia. ~~ M. Santos 1979, ver Bibliografia.
RBG 81

quia urbana. Já Araruama, Niterói e Rio de transformar ou mesmo extinguir essas for-
Janeiro constiturm os centros hierarquica- mas. O seu conhecimento sistemático, por
mente maiores, mas apenas para a popu- outro lado, pode ser extremamente útil em
lação de médio e alto nível de renda, para termos de política econômico-social através
quem efetivamente existe uma rede hierar- da incorporação adaptada à organização
quizada de localidades centrais. sócio-espacial do futuro, a exemplo do que
ocorre na Lapônia finlandesa e na Sibéria.
111 - O comportamento espacial dos con-
TEMAS DE PESQUISA sumidores, segundo as diferentes classes
sociais. Esta é uma temática praticamente
inexplorada na literatura brasileira, e parece
Nas páginas anteriores, procurou-se apre- ser extremamente útil para se compreender
sentar o que se entende por três principais as diversas redes regionais de localidades
modos de organização da rede de localida- centrais em seu desdobramento funcional,
des centrais nos países subdesenvolvidos. isto é, os dois circuitos de economia.
Com toda a certeza a questão não está es- IV - Os dois circuitos que compõem a
gotada. O que se pretende agora é - à gui- economia urbana. Trata-se da mais fértil
sa de conclusão -, indicar alguns temas de temática que poderá enriquecer muito a lite-
pesquisa que poderão contribuir para uma ratura sobre a organização sócio-espacial
compreensão mais profunda da questão em do Terceiro Mundo, do Brasil e a própria teo-
pauta. Os temas, que podem ser considera- ria das localidades centrais. Sugere-se que
dos de forma combinada, são os seguintes: se considere, de um lado, a variabilidade es-
a) Estudos de temas selecionados como: pacial da importância dos dois circuitos e,
I - Redes dendríticas que, dado o mode- de outro, as complexas relações entre am-
lo colonial que foi implantado no País, têm bos os circuitos. Os diversos significados
historicamente marcado a rede urbana bra- advindos das diferenças que se encontrar
sileira, influenciando, ainda hoje, a sua or- constituem contribuições fundamentais que
ganização sócio-espacial. Considere-se, por estão para ser elaboradas.
exemplo, os casos de Belém, Fortaleza, Re-
cife, Salvador e mesmo a rede comandada b) Estudos comparativos de diferentes re-
por São Paulo e seu porto de Santos. des segundo:
Questiona-se em que medida uma dada re- I - Zonas com diferentes modos de or-
de regional guarda as características de ganização da produção: zonas de planta-
uma rede dendrítica ou, ao contrário, se a tion, de pecuária extensiva ou semi-
mesma foi afetada por outros processos, -extensiva, de pequena produção agrícola e
tendo sido alterada em seu papel e configu- zona urbano-industrial. A zona canavieira
ração espacial. Em que medida, ainda, não nordestina, o sertão pastoril, o oeste catari-
tem sido reproduzido no interior este mes- nense e a região em torno de Campinas são
mo padrão, como se sugere terem. sido os indicadas como possíveis exemplos para es-
casos (em um dado momento) de Ponta tudo.
Grossa e Londrina, no Paraná, e de Feira de
Santana, na Bahia; Montes Claros, em Mi- A base desta proposta reside no fato de
nas Gerais, e Floriano, no Piauí, atualmen- que o caráter desigual do subdesenvolvi-
te? mento brasileiro suscita a necessidade de
11 -- As diferentes formas de periodicida- se conhecer os diferentes modos como
de dos mercados (seja a "feira" semanal do estão organizadas as diversas redes regio-
Nordeste ou o estabelecimento sazonal, se- nais de localidades centrais. Elas consti-
ja o itinerante sem localização definida co- tuem uma dimensão do subdesenvolvimen-
mo o "regatão" da Bacia Amazônica) estão to em sua realização espacialmente desi-
sempre presentes na literatura relativa ·ao gual, refletindo diferenciais de demanda das
Terceiro Mundo. Muito pouco se conhece atividades produtivas, de densidade de-
sobre elas no Brasil. Agrava-se, ainda, o fa- mográfica, nível de renda e padrões de con-
to de que as mudanças que se verificam no sumo, afetando assim a oferta de bens e
País tendem - ao que tudo indica - a serviços.
82 RBG

11 - O tempo de existência das diversas calidades centrais, a comparação se faz


redes. As diferenças vão se traduzir, em considerando-se a mesma rede de centros
parte, em diferenças de número de centros em tempos distintos, e não mais duas redes
e padrões locacionais, em razão das neces- no mesmo momento. Tal estudo permite
sidades comerciais e de circulação do mo- que se considere o papel da dinâmica regio-
mento em que os centros foram implanta- nal, principalmente as mudanças no modo
dos e da evolução por que passaram. Pode- de organização da produção, alterando a re-
-se contrastar, por exemplo, uma rede re- de de localidades centrais. Permite,
cente de centros - como a do norte mato- também, verificar a força de inércia das for-
-grossense - com outra, mais antiga, man- mas espaciais, isto é, dos centros da rede,
tidas, naturalmente, as condições mais ou submetidos às mudanças na produção, cir-
menos similares em relação ao modo como culação, distribuição e consumo. Como su-
a produção está organizada. gestão, pensa-se em áreas de ocupação an-
tiga ou relativamente antiga que pas"saram
111 - Momentos diferentes do tempo, ou por um processo de "modernização" na
seja, de acordo com os diferentes períodos produção, como se exemplifica com a re-
que caracterizaram uma mesma rede de lo- gião de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul.

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