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Aula 06
Alexandre Vastella
A recente mecanização do campo brasileiro tem provocado profundas alterações no espaço geográfico, gerando riquezas, porém ac irrando os
conflitos de terra já existentes.
A partir da segunda metade do século XX, especialmente a partir da década de 1970, a agricultura
passou por um amplo processo de modernização. A introdução de novos insumos, máquinas, e incentivos
agrícolas fizeram com que o campo ganhasse nova dimensão tecnológica, principalmente nas regiões sul,
sudeste, e centro-oeste, onde situa-se o eixo geoeconômico do país. No mesmo período, o acelerado
processo de urbanização demandava novas formas de produção agrícola: com o aumento do êxodo rural
(assunto que veremos na próxima aula), menos pessoas passaram a cultivar alimentos no campo, o que
demandou a sofisticação dos processos produtivos para atender às recentes massas urbanas. Além disso, a
abertura comercial e a globalização protagonizadas nos 1990 promoveram o aumento das exportações do
setor. A baixa tecnologia até então vigente, passou a ser paulatinamente substituída por equipamentos e
tecnologias modernas.
Nota-se que em apenas dez anos, entre 1970 e 1980, o número de tratores mais que triplicou,
passando de pouco mais de 160 mil, para mais de 500 mil. A partir de 1980, com a crise econômica,
política, e inflacionária que o Brasil passava, o ritmo de crescimento diminuiu, porém, continuou
expressivo. O que realmente chama atenção é o recente aumento na velocidade de mecanização: entre
2006 e 2017, foram acrescidos mais de quatrocentos mil tratores, a metade do que havia! Isso significa
que o campo brasileiro está se modernizando em uma velocidade impressionante.
Os resultados da mecanização foram bem visíveis. Entre 1970 e 1980 a produtividade agrícola
quase dobrou, passando de 124,4 milhões de toneladas (1970) para 234,9 milhões de toneladas (1980).
Após 1985, a velocidade de crescimento diminuiu, porém, manteve-se elevada. Em 2006, a produção de
alimentos era mais de seis vezes maior do que em 1960.
No entanto, apesar de ter contribuído para diminuir o preço dos alimentos e a fome no país, a
elevação da produtividade também trouxe impactos negativos, como o aumento do desemprego no
campo e o êxodo rural. Conforme veremos na próxima aula, foi justamente entre os anos 1970 e 1990,
época de mecanização expressiva no campo, que as regiões metropolitanas mais cresceram em todo o
país. “Expulsos” de suas terras pela mecanização, ex-camponeses ajudaram a engrossar as periferias
urbanas, intensificando os problemas sociais nas grandes cidades. De acordo com o gráfico abaixo:
Outra característica a ser compreendida na agropecuária moderna são os fatores que regem a sua
distribuição global. Até a metade do século XX, aspectos físicos como solos férteis, climas favoráveis, e
proximidade à recursos hídricos exerciam grande pressão na distribuição agrícola. Atualmente, no entanto,
embora estes fatores continuem sendo relevantes, não são mais primordiais. No cenário agropecuário
contemporâneo, aspectos antrópicos acabam tendo maior importancia do que aspectos físicos. Em um
mundo globalizado, o contexto político-econômico, o grau de urbanização, a presença de infraestrutura de
transportes e comunicação acabam sendo primordiais ao exercício agrícola. Se anteriormente, a agricultura
era exercida de forma relativamente autônoma - para consumo de subsistência ou mercados locais – esta
passa, no cenário contemporâneo, a ser articulada aos mercados globais.
Deste modo, o setor agropecuário contemporâneo não é mais autônomo, mas sim, integrado à
indústria, aos serviços, à comunicação, aos transportes, e aos demais tipos de redes geográficas que
compõem o território. Retomando a aula anterior, é correto dizer que o modelo de acumulação flexível e a
terceira revolução industrial (ou técnico-científica) chegaram ao campo. Hoje, ao invés do clássico
camponês com a enxada nas mãos, o trabalhador agrícola do século XXI está cada vez mais capacitado
para lidar com a alta tecnologia, sendo cada vez mais necessárias habilidades como, por exemplo, operar
tratores modernos, guiar drones, processar imagens de satélite, ou cultivar sementes produzidas por
biotecnologia. Com a aceleração dos fluxos promovida pela globalização, as cadeias de produção,
armazenamento, transporte, distribuição e consumo, tornam-se cada vez mais interligadas.
• Técnicos agrônomos
• Pesticidas e herbicidas
Monitoramento
• Imagens de satélite
• Drones
• Operação de tratores
Colheita
• Mão de obra especializada
• Locais seguros
Armazenamento • Controle de entrada e saída
• Controle de estoque
• Veículos de transporte terrestre (caminhões)
Transporte
• Integração com modais ferroviário e hidroviário
• Produtos químicos
• Matérias primas de outras fontes
Agroindústria • Energia elétrica
• Mão de obra especializada
• Máquinas especializadas na produção
• Redes de supermercados
Consumo • Transporte rodoviário e urbano
• Embalagens e marketing
Para “complicar” ainda mais, cada aspecto acima mencionado ainda está inserido em cadeias de
produção específicas, tais como empresas especializadas biotecnologia, em tratores e máquinas agrícolas,
em defensivos agrícolas, em sistemas de transporte e logística, em vendas e varejo, e etc. Deste modo,
devido à alta complexidade das cadeias de produção, não é possível saber a exata dimensão do
agronegócio brasileiro, e tampouco, do agronegócio mundial.
Produção familiar de algodão no Maranhão (esq) e de arroz no Vietnã (dir). No Brasil e no mundo, a mecanização do campo ainda é restrita ao
grande capital.
No entanto, nem toda a produção moderna está interligada ao agronegócio. Apesar da intensa
modernização agrícola protagonizada pelo capital hegemônico e da tecnificação voltada à exportação,
tanto no Brasil quanto no mundo, resistem alguns modos tradicionais de produção. Embora o centro-sul
do país tenha absorvido a maior parte das inovações técnicas, áreas do sertão nordestino e do interior da
Amazônia são pouco expressivas na produção do PIB. Nestas localidades, predominam a agricultura e a
pecuária de subsistência, além da agricultura familiar para consumo local e regional. É o caso, por exemplo,
da produção de mandioca realizada por ribeirinhos amazonenses, e da criação de gado realizada em
estados como Piauí e Pernambuco.
Desde o período colonial até a década de 1930, a agropecuária foi o único setor
Vocação agrícola do
realmente expressivo no Brasil. Até hoje, é um dos setores mais importantes para a
Brasil
economia nacional.
Modernização a A partir dos anos 1970, avanços técnicos no campo protagonizaram uma revolução
partir dos anos 1970 nos modos de produção.
Barateamento dos A Revolução Verde acarretou no barateamento dos alimentos, diminuindo a fome
alimentos global e nacional.
Até a segunda metade do século XX, fatores físicos (clima, solos, etc) exerciam
Aspectos de
maior influência na localização. Com os avanços tecnológicos das ultimas décadas,
localização
fatores políticos e econômicos passaram a ser mais importantes.
Acumulação flexível Nas grandes cadeias de produção, devido a mecanização, o camponês está sendo
no campo substituído pela mão de obra especializada.
Porém, o "progresso" não atingiu a todos: tanto no Brasil quanto no mundo ainda
Desigualdades no
resistem vários focos de produção de subsistência e de consumo local, de baixa
território
tecnologia.
O agronegócio é o maior agente deflorestador da Amazônia. No entanto, mercados
Questão ambiental como União Europeia não compram carne irregular. Para mitigar os efeitos dos
impactos no meio ambiente, alguns produtores rurais financiam ONGs ambientais.
Ao contrário do que pregavam os malthusianos, nas últimas décadas, de acordo com dados da
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a produção agrícola mundial
cresceu mais que a população. Este movimento foi mais intenso a partir da Revolução Verde ocorrida a
partir dos anos 1970. A partir deste período, a modernização tecnológica alavancou a produção de
alimentos, que apesar de intensificar os impactos ambientais, também aumentou sua acessibilidade. Não
por acaso, respeitando a tendência mundial, atualmente, no Brasil, há mais obesos do que famintos
[fonte]. O gráfico abaixo, elaborado com base em dados da FAO [fonte], compara o crescimento
populacional e a produção agrícola desde a década de 1960:
Observa-se que apesar de ter evoluído durante todo o período, o crescimento da produção de
agrícola aumentou de velocidade a partir do século XXI. Isto se deve principalmente à maior
informatização do campo, protagonizada por técnicas modernas como drones, imagens de satélite,
tratores automáticos, e avanços nas ciências agronômica e pedológica.
No entanto, apesar deste crescimento, assim como ocorre em contexto brasileiro, a distribuição da
agricultura mundial é bastante desigual. De acordo com a FAO, os principais produtores agrícolas do
mundo são Estados Unidos, China, Índia, Rússia, Brasil e países da União Europeia (não necessariamente
nesta ordem). A tabela abaixo – elaborada com base em dados do United States Department of Agriculture
(USDA) mostra quais são foram os principais produtos agrícolas produzidos no mundo em 2017, ano mais
recente do balanço (importante ressaltar que de um ano para outro, os números de produção podem se
alterar em função do clima e de fatores político-econômicos).
Perceba que a maior parte da produção agrícola global, cerca de ¼ de tudo que é produzido, é cana-
de-açúcar. Isso ocorre principalmente por conta do etanol, um combustível indispensável no mundo atual.
Nos Estados Unidos, ao invés da cana, utiliza-se o milho para gerar o etanol, o que explica o segundo lugar
dessa commodity.
Vale salientar que enquanto o governo brasileiro aprovava a Lei de Terras (1850), que dificultava
significativamente o acesso à terra no país, o governo dos Estados Unidos assinava a Lei da Propriedade
Rural (Homestead Act) (1862), que incentivava, por meio de legalização de posse, a ocupação de terras
pelos imigrantes europeus. Com o fim da guerra civil, o governo construiu hidrovias e ferrovias, o que levou
empreendedores a montarem empresas especializadas em armazenar e transportar a produção.
A maior parte da produção agrícola europeia tende a se concentrar ao longo da linha do Canal da
Mancha e do Mar do Norte, entre a França e a Dinamarca, na porção norte do continente. Apesar disso, a
agricultura europeia ainda encontra destaque em produtos regionais, como o azeite de oliva na Espanha,
Grécia e Portugal; e a uva na Itália e na França. Assim, é preciso ressaltar que produção europeia é
altamente diversificada – tanto em relação aos gêneros quanto ao tipo de relação empregada –não sendo
possível traçar um panorama conclusivo.
Apesar de altamente mecanizada, com elevado grau de sofisticação, a agricultura europeia não é
suficientemente competitiva em cenário global, sendo necessária a polêmica aplicação de subsídios
agrícolas, que totalizam 47 bilhões de euros anuais, correspondendo ao maior segmento orçamentário da
União Europeia [fonte]. No entanto, conforme vimos nas aulas anteriores, na última conferência da OMC
(2015), o bloco concordou em eliminar as barreiras agrícolas num prazo de dez anos, o que poderá
beneficiar diretamente economias emergentes como o Brasil e a Índia.
Agropecuária da União Europeia é bastante diversificada. Na imagem, pecuária intensiva e altamente mecanizada na Alemanha (esq) e extração
artesanal de oliva, na Espanha (dir).
Desigualdades no espaço brasileiro: produção artesanal de mandioca por indígenas amazonenses (esq) e produção mecanizada de s oja em Mato
Grosso (dir).
Neste contexto, apesar de não figurar entre as maiores economias do mundo, o Brasil é uma
grande potência agrícola, sendo o maior produtor de cana-de-açúcar global, e um dos maiores
produtores de grãos e carne bovina do mundo. No entanto, conforme veremos nos itens posteriores que
detalham o caso brasileiro, a agricultura latino-americana é profundamente desigual. Enquanto cultivos
voltados à alimentação humana como mandioca, feijão, arroz, e leguminosas contam com baixo aporte
tecnológico; produtos voltados à exportação como soja e cana-de-açúcar, recebem vultosos investimentos
privados e governamentais.
Região Característica
Agropecuária mecanizada, de alto nível tecnológico, de alta produtividade e de grande
América do
volume de exportação. Destacam-se os "belts" norte-americanos e as produções de trigo,
Norte
cereais, e etanol.
Elaborado pela FAO, a publicação bianual Food Outlook (2016) [fonte] evidencia a distribuição
espacial dos principais produtos agrícolas em nível global. De acordo com o estudo, os gêneros agrícolas
mais consumidos no mundo são trigo, arroz, grãos (soja, milho, centeio, cevada, etc.), oleaginosas,
mandioca, carne, e laticínios. Analisaremos a seguir, cada um de acordo com sua produção, importação, e
exportação.
Ao contrário do que muitos pensam, os Estados Unidos não são o principal produtor de trigo: tal
posto é ocupado pela China, responsável por quase 1/5 do total mundial, correspondendo a quase o
mesmo volume de todos os países da União Europeia somados (19%). Apesar de elevada produção, a maior
parte do trigo chinês é destinado para o mercado interno. Interessante notar que a produção de trigo é
mais elevada em países de clima temperado, constituindo no hemisfério norte os maiores exportadores.
De clima tropical e equatorial, o Brasil não produz o trigo suficiente para o seu consumo, sendo um
grande importador do gênero, especialmente da Argentina.
Ao contrário do que ocorre com o trigo e grãos como soja e milho, que são cultivados em grandes
plantações mecanizadas e tecnificadas para exportação, a produção de mandioca é predominantemente
familiar e artesanal, destinada principalmente ao mercado interno e ao suprimento de subsistência. Deste
modo, podemos notar que com exceção do sudeste asiático – onde está a maior parte da população global
– não há um comércio expressivo de mandioca no cenário internacional: os principais produtores do
gênero são países subdesenvolvidos como Nigéria (20% do total global), Tailândia (11%) e Indonésia (9%),
onde prevalecem as formas tradicionais de cultivo. Conforme veremos nos próximos capítulos, grande
parte da mandioca brasileira é produzida por pequenas propriedades familiares, inclusive por ribeirinhos
amazonenses e tribos indígenas.
O Brasil é hoje o segundo maior produtor de carne bovina e de frango do mundo, atrás apenas
dos Estados Unidos – e líder global em exportações de carne bovina. Em 2016, foram exportadas 6,7
milhões de toneladas de carne, que resultaram em um total de 14,211 bilhões de dólares para o país. Hong
Kong e China são os maiores compradores [fonte]. De 2014 para cá, conforme apontam dados da FAO
(gráfico ao lado), o Brasil ultrapassou os Estados Unidos, configurando-se como maior exportador de carne
de aves. O rebanho bovino brasileiro possui mais de 212 milhões de cabeças, sendo os cinco maiores
Por fim, a produção de peixes (mapa e gráfico abaixo), em destaque variedades como salmão, está
concentrada em mares de águas frias, sendo os principais exportadores China e Chile – este último, para os
países desenvolvidos facilitada por grupos como Aliança do Pacífico e APEC. Os principais compradores
deste tipo de produto são países e regiões altamente desenvolvidos como Estados Unidos, União Europeia,
Japão e Rússia.
Mandioca Países subdesenvolvidos Produz 8% da mandioca mundial, mas para o mercado interno.
Peixe Chile e China Apesar do vasto litoral, não está entre os principais.
Conforme mencionado nos itens anteriores, o Brasil possui um enorme potencial de crescimento
no setor agropecuário. Neste item, trataremos dos principais produtos agrícolas do país, focando em seus
valores agregados, em seus contextos de produção e em suas respectivas distribuições geográficas pelo
território. A tabela a seguir mostra o valor bruto da produção agropecuária no Brasil com base na safra de
2018 e em dados do Ministério da Agricultura [fonte].
Primeiramente, é possível notar que a soja é, de longe, o produto agropecuário que mais gera
valor no campo. Em seguida, destaca-se a criação de bovinos e cana-de-açúcar. Perceba que somente
esses três produtos, se fossem somados, concentrariam a larga maioria do valor agregado na produção. O
Brasil também é um grande produtor de frango, milho, algodão, leite, café, suínos e laranja Nos gráficos e
imagens abaixo, podemos ver a distribuição geográfica dos maiores produtos agropecuários nacionais.
Exceto quando a fonte for citada, os dados foram obtidos no estudo Projeção do Agronegócio Brasil -
2017/2018 a 2021/2028, também do Ministério da Agricultura [fonte e link recomendado]; e do Censo
Agropecuário de 2017 do IBGE [fonte e link recomendado]. Sugiro que abram ambos os endereços e vejam
o farto material gráfico que existe por lá.
Soja
O Brasil é o segundo maior produtor de soja, apenas atrás dos Estados Unidos, com uma produção
de 312,362 milhões de toneladas e uma área plantada de 119,732 milhões de hectares [fonte]. O país, de
acordo com estimativas da FAO, será o maior produtor do grão em 2025 [fonte]. Dados da Associação dos
Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) [fonte] indicam que 44% do grão in natura colhido no Brasil é
exportado. Grande parte do restante (49%) é processado e transformado em produtos como farelo e óleo,
respectivamente destinados ao consumo animal e à alimentação ou à produção de biodiesel. Como parte
do farelo (52%) e do óleo (23%) também são destinadas ao mercado externo, consequentemente, a maior
parte da soja produzida no Brasil é exportada para outros países.
A evolução territorial da soja é bastante interessante. Inicialmente introduzida na região sul nos
anos 1970 em estados como Rio Grande do Sul e Santa Catarina, foi paulatinamente se deslocando em
direção ao norte do país, avançando para as regiões centro-oeste, e mais recentemente, para as bordas da
região norte e nordeste.
Introduzida na região sul, a soja migrou para o centro-oeste, e atualmente está rumando
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Professor Alexandre Vastella
Alexandre Vastella
Geografia para o CACD 2019
Aula 06
1339173
De acordo com o Ministério da Agricultura (mapinha acima), a produção de soja é liderada pelos
estados de Mato Grosso, com 27,3% da produção nacional; Paraná com, 16,3%; Rio Grande do Sul com
14,5%; Goiás, 9,9%; Mato Grosso do Sul, 8,2%, Minas Gerais e Bahia, com igual participação de 4,4%. Mas,
a produção de soja está migrando também para novas áreas no Maranhão, Tocantins, Pará, Rondônia,
Piauí e Bahia, que em 2017/18 respondem por 14,0% da produção brasileira. [fonte]. De acordo com o
Censo do IBGE, podemos ver as diferenças de produção da soja no Brasil.
Apesar da grande produção de soja, o Brasil carece de infraestrutura para o escoamento do grão:
mapeado por um artigo acadêmico [fonte], o trajeto da soja até o porto enfrenta gargalos e problemas
estruturais. Conforme aponta o mapa abaixo, o fluxo mais expressivo ocorre do Mato Grosso para o Porto
de Santos, no litoral de São Paulo. Parte deste trajeto é feito via ferroviária; no entanto, retomando nossa
aula anterior, a maior parcela ainda é feita via rodoviária, o que encarece o produto no mercado
internacional. Com exceção da Hidrovia do Rio Madeira (AM), o transporte Aquaviário ainda é pouco
utilizado no país no transporte do grão.
Sobrecarregado, o Porto de Santos não consegue atender toda a demanda. Assim, em menor
quantidade, os portos de Paranaguá (PR), São Francisco do Sul (SC) e Vitória (ES) também recebem a soja
do centro-oeste. Na região sul, o escoamento é facilitado devido à proximidade com o Oceano Atlântico:
destaca-se, neste sentido, o Porto de Rio Grande (RS), no extremo-sul do país. A soja do MATOPIBA
(Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) é escoada via Porto de Salvador (BA) e Porto de Itaqui (MA). Na região
norte, a Ferrovia dos Carajás (PA), utilizada largamente para transporte de minério de ferro, também é
aproveitada para o carregamento de soja.
Cana-de-açúcar
Brasil e Índia, respondem, em conjunto, por mais da metade da produção global. O Brasil é o maior
produtor mundial de cana de açúcar, com uma safra de 632 milhões de toneladas (2014/2015). Além
disso, o Brasil também é o maior produtor de açúcar do planeta, com 36 milhões de toneladas produzidas
e 24 milhões de toneladas exportadas no ciclo 2014/2015 - quantias equivalentes a 20% da produção
global e 40% da exportação mundial, respectivamente. No caso do etanol, o País é o segundo maior
produtor (ranking liderado pelos Estados Unidos). Na safra 2014/2015, o volume produzido atingiu 28
bilhões de litros. [fonte] [fonte]
Conforme vimos na
aula passada,
aproximadamente 20% da
matriz energética nacional
é derivada da cana-de-
açúcar, sendo 11%
proveniente da biomassa do
bagaço de cana e
aproximadamente 6% de
etanol. Graças à variação do
clima do sudeste para o
nordeste – principais
regiões de cultivo – o etanol
e o bagaço podem ser
produzidos o ano inteiro.
Bovinos
Arroz e feijão
Milho
A produção de milho é
bastante diversificada no Brasil.
Sendo um produto básico para o
consumo humano, pode ser
plantado em pequena escala por
assentados e por agricultores
familiares, tanto para a subsistência
quanto para o comércio local e
regional. No entanto, também pode
ser cultivado em grandes
latifúndios, de forma concentrada e
tecnificada, por meio de elevado
aparato técnico, inclusive melhoramentos genéticos. Além do consumo direto do grão, derivados do milho
podem ser usados em mais de 150 diferentes produtos industriais [fonte], especialmente ração para
animais, farelo de milho, e canjicas; além de matéria-prima para óleos, cervejas, sopas, e outros produtos
alimentares.
Mato Grosso (centro-oeste) e Paraná (sul) representam juntos, quase a metade da produção de
milho nacional, totalizando 46%. As safras também são expressivas em demais estados do eixo
geoeconômico centro-sul como Mato Grosso do Sul (10,1%), Goiás (10,2%) e Minas Gerais (8,2%).
Café
Ao contrário do século XIX, onde o cultivo era concentrado em São Paulo e Rio de Janeiro,
atualmente, Minas Gerais lidera a produção nacional de café com 54,9% do total; seguido do Espírito
Santo, com aproximadamente 1/5 do montante nacional. Ao longo de aproximadamente dois séculos, a
produção cafeeira mudou de estado, mas continuou concentrada na região sudeste.
Trigo
Floresta plantada
Estas florestas
constituem áreas
ocupadas por espécies
vegetais comercialmente
plantadas para a extração
de madeira, celulose, e
borracha. Atualmente, o
país é um dos maiores
produtores de floresta
plantada no mundo e em
4º lugar no ranking
mundial dos produtores
de celulose [fonte]. A
maior parte desta
modalidade é ocupada
por eucalipto, e em
seguida, por pinus [fonte]. As florestas plantadas são mais frequentes no eixo centro-sul: o estado de
Minas Gerais lidera em área plantada, contando 1,49 milhão de hectares, seguido por São Paulo, com 1,18
milhão, Paraná, 817 mil, Bahia 616 mil e Santa Catarina com 645 mil hectares. Juntos, estes estados
abrangem 72% da superfície nacional [fonte].
A desigualdade da estrutura fundiária brasileira teve suas origens no período colonial, há mais de
quatro séculos, mais especificamente em 1530, quando os portugueses iniciaram a ocupação do país por
meio da extração de pau-brasil e da apropriação dos recursos naturais. Entre os séculos XVI e XVIII, a
introdução do sistema de plantations moldou a formação territorial do país. Neste período, o litoral
brasileiro foi ocupado por grandes áreas de cultivo de cana-de-açúcar, caracterizado pelo contraste entre a
mão de obra escrava e o alto poder de capital dos grandes empresários portugueses e holandeses,
detentores dos grandes engenhos.
Grande extensão de terra onde são cultivados produtos tropicais, como banana, café e
Plantation
borracha, em geral para exportação.
Propriedade rural de grande extensão pouco cultivada e/ou explorada por métodos
Latifúndio
arcaicos e que apresenta renda restrita [fonte]
No período colonial, a rígida divisão entre escravos e senhores de engenho (ou grandes
latifundiários europeus) impedia a mobilidade social e inaugurava assim, um longo período de
concentração fundiária no país, pautada na simbiose entre o poder estatal o grande capital. Para Celso
Furtado1, o latifúndio, o trabalho escravo, o plantation açucareira monoprodutora, a relação comercial e
exclusiva com a metrópole, e a grande autonomia dos senhores de engenho foram os pilares essenciais da
agricultura brasileira do período colonial.
Retrato da produção canavieira no período colonial: estrutura fundiária concentrada e sem mobilidade social.
Foi neste contexto que ocorreu a aprovação da Lei de Terras (1850). Tratou-se da primeira iniciativa
de organizar a propriedade privada de terras no Brasil – até então, não havia uma legislação específica para
a sua regulamentação. A partir desta data, a terra só poderia ser adquirida por compra e venda, ficando
proibida a aquisição por meio de posse ou usucapião. Abolia-se assim, o sistema de sesmarias, vigente
desde o período colonial. Quem já ocupava um lote recebeu o título de proprietário; no entanto, quem
quisesse adquirir um terreno, a partir de 1850, deveria necessariamente fazê-lo por meio da posse de
capital. Conforme quadro abaixo:
1
Celso Furtado: Formação Econômica do Brasil
“Dispõe sobre as terras devolutas no Império, e acerca das que são possuídas por título de sesmaria sem
preenchimento das condições legais, bem como por simples título de posse mansa e pacifica; e determina
que, medidas e demarcadas as primeiras, sejam elas cedidas a título oneroso, assim para empresas
particulares, como para o estabelecimento de colônias de nacionais e de estrangeiros, autorizado o Governo
a promover a colonização estrangeira na forma que se declara.”
“Art. 1º Ficam proibidas as aquisições de terras devolutas por outro título que não seja o de compra"
Não por acaso, a Lei de Terras entrou em vigor no mesmo mês da aprovação da Lei Eusébio de
Queirós – também datada setembro de 1850 – que proibia o tráfico negreiro em território nacional. Além
disso, também não por acaso, a Lei de Terras coincide com as iniciativas governamentais de importação de
mãoa.- de obra europeia.
Suspender A participar
o direito de promulgação da Lei de
nos diferentes Terras,
órgãos cujos princípios
da estrutura continuam
institucional em vigor até hoje,
do MERCOSUL.
destinava-se a impedir o livre acesso à terra – o principal meio de produção nas sociedades pré-industriais
– tanto aos ex-escravos como aos trabalhadores imigrantes, para não falar dos trabalhadores livres
nacionais, já existentes em grande número 2. Preocupados com a “concorrência” dos negros libertos e dos
recém-chegados europeus, grandes fazendeiros e políticos tradicionais foram os primeiros a sustentar
apoio a Lei de Terras; legislação esta, que mantinha a estrutura dominante no campo e impedia a
mobilidade social. De fato, enquanto a lei dificultava o acesso à terra das camadas mais baixas da
população, engessava os privilégios das grandes elites dominantes.
Neste contexto, somente entre 1887 a 1930 cerca de 3,8 milhões de imigrantes entraram no Brasil 3.
O colono estrangeiro e sua família eram remunerados segundo um sistema misto, que combinava
pagamento em dinheiro com o direito ao cultivo de gêneros alimentícios em lotes cedidos pelo
proprietário da fazenda. Sem a Lei de Terras, estes colonos poderiam simplesmente ocupar novas áreas, o
que inviabilizaria o novo sistema de colonato vigente.
A Era Vargas, conhecida como Estado Novo foi marcada por uma dicotomia no campo brasileiro: ao
mesmo tempo em que a matriz econômica brasileira se industrializava, os modos de produção agrícola,
caracterizados pela existência de extensos latifúndios, permaneceram praticamente inalterados em sua
estrutura. Neste período, ampliou-se os incentivos aos grandes produtores de café, sobretudo após a crise
econômica que se estabelecera em 1929. Neste período, ocorreu o que Celso Furtado chama de “economia
de transição”, na qual o café embora continuasse expressivo, deixou de ser o carro-chefe da economia
nacional, que passou a ser pautada na industrialização. Ao contrário do setor industrial urbano, o setor
agrário não se sindicalizou durante o Estado Novo, o que foi ocorrer somente após os anos 1960.
2
Tamas Szmrecsanyi. Pequena Histórica da Agricultura no Brasil
3
Boris Fausto: História do Brasil
Após a crise de 1929, produtores queimavam sacas de café para manter o preço elevado no cenário internacional. Até então, o produto era a
principal matriz econômica do Brasil
Após a aparente estagnação da Era Vargas, houve uma série de acontecimentos marcantes. Entre
os mais importantes, está a organização dos trabalhadores rurais – foreiros, moradores, arrendatários,
pequenos proprietários e trabalhadores da Zona da Mata por meio das Ligas Camponesas, apoiadas pelo
Partido Comunista do Brasil (PCB), constituindo os primeiros ensaios de sindicalização rural no país em
“combate ao latifúndio”. Durante o governo de João Goulart, o Estatuto do Trabalhador Rural (1963),
formalizava as relações de trabalho no campo – uma espécie de “CLT rural” – a qual foram estabelecidos
benefícios para a classe, como salário mínimo e férias remuneradas. A figura de João Goulart também foi
importante para o estabelecimento das polêmicas Reformas de Base, no qual procurava, entre outros
tópicos, realizar a reforma agrária no Brasil por meio de mudanças na estrutura fundiária.
O espaço agrário, portanto, é um espaço de lutas. Ao mesmo tempo em que a grande cadeia do
agronegócio traz vantagens óbvias como a diminuição do preço dos alimentos, a dinamização da economia
nacional, e a criação de empregos; carrega consigo mazelas como a concentração de renda, a grilagem de
terras, a “expulsão” do pequeno camponês, e a decorrência de problemas ambientais. Esta luta, para além
dos conflitos armados in loco, também é travada no meio político por meio de entidades como MST, ONGs
ambientalistas, e atores do agronegócio como CNA, UDR, e a famosa “bancada ruralista”.
CAI NA PROVA
CACD/2005 – O Estado-nação brasileiro tem suas raízes na expansão mercantil-colonial europeia do século XVI. Naquele
momento histórico, as burguesias mercantis, aliadas às monarquias, sobretudo portuguesa e espanhola, empreendiam a
busca, para além-mar, do ouro, da prata ou de produtos que, de alto valor comercial nos mercados europeus, pudessem
ser transacionados com muito lucro. O pau-brasil, que abundava em nossas florestas tropicais, ao longo da costa atlântica,
foi o primeiro alvo do saque aos recursos naturais, até então manejados por diversos povos indígenas nômades e
seminômades. Ironicamente, a espécie que acabou por dar origem ao nome do país tornou-se a primeira vítima: o pau-
brasil, madeira de coloração avermelhada que os europeus utilizavam na produção de tinturas, hoje só existe nos jardins e
museus botânicos.
Tendo o texto II como referência inicial e considerando aspectos históricos e geográficos marcantes da colonização
brasileira, julgue (C ou E) os itens a seguir.
1. No início do processo de colonização brasileira (1530), a introdução das plantations de cana-de-açúcar marcou a
forma de apropriação dos recursos naturais e a formação territorial do país.
COMENTÁRIO
A extração do pau-brasil era pontual, e não provocava grandes mudanças territoriais. No entanto, o sistema de
plantations de cana-de-açúcar moldou fortemente o território nacional. Não por acaso, grande parte da
população brasileira ainda hoje está concentrada no litoral do nordeste, região que até hoje é grande produtora
de cana-de-açúcar. Gabarito: Certo
2. No Brasil atual, o latifúndio, uma das principais marcas das condições socioambientais do período colonial,
mantém-se como traço de poder.
COMENTÁRIO
Sim, desde o período colonial, a estrutura fundiária brasileira é extremamente concentrada. A agricultura
voltada à exportação ainda hoje é feita em grandes latifúndios. Gabarito: Certo
3. A Lei de Terras, promulgada no Brasil em 1850, tinha como similar, nos Estados Unidos da América (EUA), o
Homestead Act, que democratizou o acesso à terra naquele país.
COMENTÁRIO
Por meio do Homestead Act, a fim de atrair mão de obra europeia, o governo dos EUA dava a posse de terrenos
a imigrantes que quisessem cultivar no país. No Brasil, ocorreu o contrário: por meio da Lei de Terras, o governo
dificultava o acesso à terra. Assim, o Homestead Act estadunidense democratizou o acesso à terra, mas a Lei de
Terras brasileira não. Gabarito: Errado
4. A disponibilidade de vasta extensão de terras nas mãos de elites rurais respondeu, e ainda responde, às demandas
do mercado mundial.
COMENTÁRIO
No Brasil, a maior parte dos produtos agrícolas destinada à exportação é cultivada em latifúndios dominados
pelas tradicionais elites rurais. Gabarito: Certo
CACD/2006
A Lei de Terras de 1850 também se relaciona à forma pela qual o processo abolicionista foi conduzido no Brasil do século
XIX. Sabendo-se que essa lei obrigava o registro de todas as terras efetivamente ocupadas e impedia a aquisição de terras
devolutas (desocupadas), exceto a realizada por compra, julgue (C ou E) os itens seguintes.
1. Se prejudicava o trabalhador livre pobre, dificultando-lhe o acesso à terra, assim como o ex-cativo, a Lei de Terras
apresentava-se como forte atrativo à mão-de-obra imigrante europeia, que, ao contrário dos nacionais,
geralmente possuía recursos suficientes para a aquisição de pequenas e médias propriedades rurais.
COMENTÁRIO
Ao contrário do que a alternativa diz, visto que a Lei de Terras dificultava a acesso à terra, não era um atrativo à
mão de obra imigrante europeia, pois tornava a vida do imigrante mais difícil em solo brasileiro. Além disso,
estes imigrantes raramente possuíram recursos para a aquisição de propriedades. Gabarito: Errado
2. A Lei de Terras foi combatida por setores da aristocracia rural justamente porque ameaçava a sobrevivência da
grande lavoura e a posição privilegiada dos grupos sociais envolvidos nessa atividade econômica.
COMENTÁRIO
A Lei de Terras surgiu exatamente quando o tráfico negreiro foi proibido e também quando imigrantes
europeus estavam chegando no Brasil. Com o aumento da “concorrência”, antigos aristocratas, que queriam
manter seus privilégios de posse, sentiam-se ameaçados. Gabarito: Errado
3. A Lei de Terras dificultava, quando não impedia propriamente, o acesso à propriedade da terra por parte do
trabalhador livre pela evidente razão de que lhe faltavam os recursos financeiros para comprá-la.
COMENTÁRIO
Exatamente, pela Lei de Terras só poderia ter acesso à terra quem a comprasse, acabando com o sistema de
posses vigentes. Com isso, poucos tinham acesso. Gabarito: Certo
4. Pelo que dispunha, a Lei de Terras de 1850 cristalizava uma realidade do início da colonização, ou seja, a
concentração da propriedade fundiária em mãos de poucos
COMENTÁRIO
Isso mesmo. Ao contrário do Homestead Act norte-americano, que democratizou o acesso à terra, a Lei de
Terras brasileira ampliou as desigualdades sociais, pois só quem tinha recursos financeiros poderia comprar
terrenos. Gabarito: Certo
Este número fica ainda mais expressivo se considerarmos a soma da área ocupada por todas as
propriedades rurais, que acordo com Censo Agropecuário de 2017 corresponde a 350 milhões de hectares ´
[fonte]. Sendo assim, considerando que o Brasil inteiro possui aproximadamente 850 milhões de hectares,
pode-se dizer que 41% do território brasileiro é composto por estabelecimentos rurais; ou seja, quase a
metade da área total.
No entanto, apesar de ser uma das mais expressivas do globo, e também ser potencialmente
promissora, a agricultura brasileira é bastante desigual. Dados do Censo Agropecuário de 20064 - os
últimos disponíveis para esse tipo de levantamento – indicam que 84,4% dos estabelecimentos brasileiros
são de agricultura familiar. Contudo, este numeroso contingente de agricultores familiares ocupa uma área
de 80,25 milhões de hectares, ou seja, 24,3% do total. Os estabelecimentos não familiares, apesar de
corresponderem a apenas 15,6% do total dos estabelecimentos, representam cerca de ¾ da área
ocupada. No geral, enquanto a maior parte dos agricultores ocupa uma pequena porção de terra, uma
grande porção de terra é ocupada pela menor parte dos agricultores: ainda de acordo com o Censo
Agropecuário de 2006, a área média dos estabelecimentos familiares era de 18,37 hectares, e a dos não
familiares, de 309,18 hectares [fonte]. A tabela abaixo mostra a evolução da área dos estabelecimentos
rurais desde 1985:
No geral, houve uma redução da área ocupada pelos estabelecimentos rurais entre 1985 e 2006.
Isto se deve principalmente ao aumento da urbanização, da industrialização, e da mecanização do campo –
que trouxe maior produtividade aos cultivos agrícolas, exigindo cada vez mais, menores superfícies
cultiváveis. No entanto, apesar deste dinamismo, a estrutura fundiária manteve-se concentrada: apesar
de menos de 3% da área dos empreendimentos agrícolas ser ocupada por pequenas propriedades, quase a
metade desta área era composta por grandes propriedades acima de 1000 hectares.
Dados mais recentes no Censo Agropecuário de 2017 indicam que o Brasil continua possuindo uma
estrutura agrária concentrada. Vocês devem entender que apesar do Brasil possuir um agronegócio de
ponta, mecanizado e com grande aporte tecnológico, científico e financeiro; o país também é feito de
pequenos produtores, de camponeses, de assentados e de muitos trabalhadores rurais sem terra. Isso faz
parte da dialética do campo (vocês lembram-se da Aula 00 quando falamos sobre dialética?). Isso significa
que o espaço agrário brasileiro é caracterizado por profundas contradições. É importante lembrar-se
dessas desigualdades porque a CESPE adora cobrar isso! É fundamental que o aluno tenha uma visão
abrangente dessas questões, inclusive na terceira fase. Não devemos jamais citar os benefícios do
4
A maior parte do material está atualizada para o Censo Agropecuário de 2017, no entanto, o IBGE ainda não divulgou todos os dados. Por isso, em alguns
momentos ainda utilizaremos o Censo Agropecuário de 2006. Ainda não há, por exemplo, dados atualizados para agricultura familiar. Nas páginas abaixo,
mostraremos mapas de uso e ocupação do solo e agricultura familiar, disponíveis apenas para 2006. Estamos em 2019, mas o IBGE ainda está finalizando o
Censo de 2017.
agronegócio, por exemplo, sem falar dos malefícios e impactos que são igualmente causados. E o inverso
também é verdadeiro, pois a visão dialética é fundamental para passarmos no concurso. Dados mais
recentes do Censo Agropecuário de 2017 nos dão uma noção sobre essas contradições:
Perceba que enquanto há um grande número de estabelecimentos rurais com pouca área, também
há um grande área ocupada por poucos estabelecimentos. Em outras palavras, muita gente com pouca
terra e pouca terra com muita gente; a famosa concentração fundiária.
Estes descompassos no
campo brasileiro podem ser
traduzidos por meio do Índice de
Gini, que mede as desigualdades
sociais, sendo “1”
correspondendo à extrema
desigualdade, e “0” à extrema
equidade (conforme mapa ao lado
produzido pelo IBGE com dados de
2006). Observa-se que as
desigualdades agropecuárias
tendem a ser mais elevadas em
regiões mais pobres, como o
sertão nordestino e o interior do
centro-oeste. Áreas dotadas de
grandes latifúndios como o estado
do Mato Grosso, o oeste baiano,
e a região compreendida pelo
leste maranhense e o oeste
piauiense, estas últimas, ainda
regidas por governos coronelistas,
apresentam maiores
desigualdades fundiárias. Tratam-
se de regiões historicamente
voltadas à produção latifundiária para exportação; como por exemplo, produção de cana-de-açúcar na
região nordeste, e a produção de soja, milho e algodão no centro-oeste, onde a agricultura mecanizada
encontra maior expressividade nos dias atuais.
Foi no centro-oeste, região de grande desigualdade pelo Índice de Gini, que incentivos fiscais e
creditícios do governo alavancaram o a implementação de empreendimentos agropecuários de grande
dimensão, que a partir dos anos 1970, foram paulatinamente substituindo a pecuária extensiva
predominante até então; fazendo com que o mercado de commodities agrícolas ali instalado atualmente
possua escala de grande produção. Para além do centro-oeste, a tecnificação do campo também pode ser
evidenciada áreas como o interior paulista, que se destaca pela produção de cana-de-açúcar e laranja, e em
áreas como o oeste baiano, grande produtora de soja.
Por outro lado, os estados da região sul – especialmente Santa Catarina e Rio Grande do Sul –
correspondem a áreas mais equitativas, bem como o sul dos estados de Goiás e Minas Gerais, que
compõem o eixo geoeconômico do centro-sul. No sul do país, onde a historicamente predominou o padrão
agrário do campesinato europeu e a agricultura familiar para consumo local e regional, encontram-se as
menores desigualdades fundiárias do país. A produção vinícola da Serra Gaúcha, e a produção de aves e
suínos do oeste catarinense constituem exemplos desta estrutura.
Do ponto de vista
territorial, inclusive, o Brasil é
bastante diverso. Por meio do
padrão de ocupação do território
pela agropecuária – também
presente no Censo Agropecuário
de 2006 e sem atualização para
2017 – podemos ter uma
caracterização geral das regiões
brasileiras (mapa ao lado).
sudeste do Pará, no extremo-sul do Rio Grande do Sul, e no sudoeste de Minas Gerais – a agricultura ainda
é bastante concentrada. A especialização em lavoura, onde há maior produtividade, ocorre principalmente
no eixo Rio Grande do Sul-Paraná-São Paulo. No interior paulista, destacam-se principalmente a produção
de cana-de-açúcar e laranja, dois carros-chefes do estado tanto em contexto nacional quanto internacional.
O Rio Grande do Sul e Paraná – embora constituam estados com forte presença de agricultura familiar –
também abrigam grandes propriedades de cultivo de soja e milho para exportação. Já a zona da mata
nordestina – voltada para o litoral – destaca-se pela produção de cana-de-açúcar. As lavouras
especializadas ainda aparecem no centro-oeste, mais especificamente no Mato Grosso, e no oeste baiano;
que conforme vimos anteriormente, tratam-se de regiões produtoras de soja para exportação.
Por sua vez, as florestas naturais (em verde) concentram-se principalmente na região norte, área
ocupada pela Amazônia, maior floresta tropical do mundo, que ocupa cerca de 1/3 do território brasileiro.
Áreas preservadas também podem ser encontradas entre Bahia, Tocantins e Piauí, onde há uma transição
entre o cerrado e a caatinga. E também na região sul, que embora esteja intensamente ocupada, ainda
possui fragmentos preservados de mata atlântica e floresta de araucárias, especialmente na porção
central, em Santa Catarina.
Diversas relações de produção e trabalho rural podem ser encontradas no campo brasileiro. A
produção agrícola pode ser realizada tanto por meio de proprietários de terras, quanto por meio de
assentados por projetos de reforma agrária; ou ainda, por meio de trabalhadores que alugam suas terras
ou trabalham em terras de terceiros. O quadro abaixo resume os tipos de trabalho rural.
Meeiro
Tem contrato de parceria com o proprietário da terra e desenvolve suas atividades,
(também é um
dividindo meio a meio as despesas e os rendimentos obtidos.
parceiro)
Tem a posse legal da terra onde trabalha, beneficiado por programas de reforma
Assentado
agrária.
Posseiro ou
Tem a posse da terra, antes devoluta ou abandonada, e desenvolve atividade agrícola.
ocupante
Proprietário Dono legal da terra, que desenvolve atividades agrícolas em sua própria terra.
O Censo Agropecuário (2017) brasileiro mapeou as condições dos produtores em relação às terras:
o gráfico abaixo evidencia o número de estabelecimentos e da área total em relação ao tipo de trabalho
rural no Brasil.
Nota-se, primeiramente, que no Brasil, a maior parte das terras é cultivada pelos próprios donos,
ou proprietários, tanto em relação a área quanto em relação ao número de estabelecimentos. Outra coisa
que chama a atenção é o fato dos arrendatários ocuparem maior área que as demais categorias, mesmo
sendo números de estabelecimentos semelhantes. Com base nos dados, podemos supor que o
agronegócio tecnificado, aquele voltado à exportação, de grande densidade técnica, também está
utilizando terras alugas e não somente áreas próprias.
De acordo com o Governo Federal [fonte], a agricultura familiar responde por cerca de 70% dos
alimentos consumidos em todo o País. A maior parte da mandioca (87%), do feijão (70%), e do leite de
vaca (58%) produzidos no país são feitos por meio da agricultura familiar. Por outro lado, a maior parte
da soja (84%), do trigo (79%), do arroz (66%), e do café (66%) são cultivadas em propriedades não-
familiares. Tratam-se, no geral, de produtos para a exportação; especialmente a soja, que agrega grande
valor ao PIB brasileiro. Vejamos os gráficos e o mapa abaixo, elaborados com dados do Censo de 2006 –
ainda não saíram dados atualizados de agricultura familiar para 2017.
Mais de 80% de todos os estabelecimentos produtores de mandioca, feijão, arroz, milho, aves,
suínos, café, leite de vaca, e bovinos são de agricultura familiar. Curiosamente, este percentual também é
elevado para gêneros como soja (76%) e trigo (69%), tradicionalmente cultivados em grandes propriedades
não-familiares. Isto se deve principalmente à dinamização das relações produtivas no campo. Por muitas
vezes, pequenos camponeses alugam seus terrenos a grandes empresas produtoras de soja, que neste
caso, tornam-se arrendatários.
Do ponto de vista especial, conforme mapa abaixo, a agricultura familiar concentra-se basicamente
em três áreas do país: no interior da região norte, no interior da região nordeste, e na região sul, cada
qual com seu padrão de ocupação diferente.
Na região sul, conforme vimos anteriormente, está a maior parte do cultivo nacional de arroz (Rio
Grande do Sul é o maior estado produtor) e feijão (principalmente Paraná), dois grãos tradicionalmente
presentes na mesa do brasileiro. Também há outras formas de produção familiar como criação de animais
e vinicultura, além de milho e trigo – estes dois últimos, cultivados com maior aparato técnico. Isto reflete
um padrão europeu de ocupação camponesa nesta área, que ao contrário do restante do território
nacional regido pelo sistema de plantation, foi historicamente baseado na propriedade familiar e nas
pequenas lavouras. Hoje, na região sul convivem tanto as formas de cultivo familiar quanto as médias e
grandes propriedades de alto aporte técnico. Coexistem assim, lavouras para exportação e para consumo
interno.
Por outro lado, a predominância da agricultura familiar nos interiores das regiões norte e nordeste
pode ser explicada: pelo baixo nível técnico empregado nas lavouras; pelo reduzido interesse do
agronegócio (muito embora este esteja avançando sistematicamente para a Amazônia) e pelas
desfavoráveis condições do solo, que sendo, em grande parte, arenoso e aluvial na região norte e com
pouca matéria orgânica no sertão nordestino, desfavorece a atividade agrícola de larga escala. Atualmente,
a agricultura do interior da Amazônia é predominantemente de subsistência: cultivada por ribeirinhos,
indígenas, e por pequenos povoados, serve, principalmente à alimentação local. Além da pesca e do
extrativismo, destacam-se culturas como mandioca e milho. Já no sertão nordestino – demasiado seco
para agricultura de larga escala – destaca-se a criação de gado e de caprinos, e o cultivo de gêneros como
milho, palma, e outros para consumo local. Do ponto de vista comercial, destaca-se o plantio de frutas
irrigadas no vale do Rio São Francisco, no oeste baiano.
Visando a “elevação da renda da família produtora rural”, o governo federal criou, em 1995,
o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Este promove financiamentos
a “implantação, ampliação ou modernização da estrutura de produção, beneficiamento,
industrialização e de serviços”, tanto no estabelecimento rural quanto em áreas comunitárias
próximas [fonte]. Após mais de vinte anos de operação, o PRONAF investiu mais de R$ 156
bilhões em projetos, auxiliando mais de 2,6 milhões de famílias [fonte]. No entanto, este
estudo científico [fonte] aponta que apesar dos benefícios, um dos problemas do programa é a
inadimplência dos beneficiários, cuja capacidade de pagamento foi superestimada pelo
governo.
O Ministério ainda aponta que a produção de grãos deverá passar de 232,6 milhões de toneladas
em 2017/2018 para 302 milhões de toneladas em 2027/28, indicando um acréscimo de 69 milhões de
toneladas ou 29,8% produção atual do Brasil a uma taxa anual de crescimento de 2,5%. A área de grãos
deve expandir-se dos atuais 61 milhões de hectares para 71 milhões de hectares em 2027/28. Jáa produção
de carnes (bovina, suína e aves), deverá crescer 27% no mesmo período. No entanto, o documento aponta
que este avanço exigirá investimentos maciços nos setores de infraestrutura, pesquisa e financiamento.
Em pleno cenário de crise econômica, não dá para prever, de fato, se estes investimentos serão feitos
CAI NA PROVA
CACD/2017
O Brasil é, na América Latina, um dos países que mais reorganizou sua atividade agropecuária desde meados do século XX.
Desde então, a reestruturação produtiva da agricultura brasileira tem-se norteado pela racionalidade com funcionamento
regulado pelas relações de produção e distribuição globalizadas, direcionando-se, cada vez mais, ao atendimento da
crescente demanda do mercado urbano interno e à produção de commodities para a exportação, in natura ou após
passarem por algum tipo de transformação industrial, o que aumenta seu valor agregado.
Tendo esse fragmento de texto como referência inicial, julgue (C ou E) os itens seguintes, acerca da estruturação e do
funcionamento do agronegócio no Brasil.
1. A expansão da moderna agricultura nos biomas Cerrado e Amazônia tem-se constituído a partir de reduzidos
fluxos migratórios em direção às pequenas e médias cidades dessas regiões e de poucos conflitos no campo, uma
vez que a mecanização excessiva das atividades agrárias gera poucos empregos tanto no campo quanto na
cidade.
COMENTÁRIO
Ao contrário do afirmado, a expansão da moderna agricultura para o Cerrado e Amazônia NÃO está se
constituindo a partir de “reduzidos fluxos migratórios”; afinal, conforme veremos na aula que vem, as cidades
médias do Brasil (especialmente no Centro-Oeste) estão crescendo mais do que as metrópoles tradicionais
como São Paulo e Rio de Janeiro. Além disso, a questão também está errada ao afirmar que essa expansão
ocorre com “poucos conflitos no campo”. Acabamos de ver na aula que o Brasil possui inúmeros conflitos no
campo, especialmente nas bordas da Amazônia, como é caso emblemático do sudeste do Pará. Gabarito:
Errado.
2. As regiões produtivas do agronegócio brasileiro são competitivas no mercado global de commodities e
caracterizadas pela especialização produtiva que atende a parâmetros internacionais de qualidade e de custos.
COMENTÁRIO
Sim, o Brasil é uma potência agrícola com especialização produtiva e padrões internacionais de qualidade.
Gabarito: Certo
3. Para atender, principalmente, ao mercado internacional, adotam-se, nas áreas do bioma Cerrado, os modelos de
ocupação do território e de produção desenvolvidos pelo agribusiness nos países centrais do capitalismo global,
que favorecem a produção em larga escala, intensiva em tecnologia, a partir dos latossolos de média e alta
fertilidade.
COMENTÁRIO
A maior parte da questão está correta, o que pode induzir o candidato ao erro. O “pulo do gato” está em
afirmar que o Cerrado possui solos de “média e alta fertilidade”, o que a deixa errada. O Cerrado é um bioma
de alta produtividade agrícola APESAR de seu solo pobre, e não por causa dele. A partir dos anos 1970, para que
a agricultura de larga escala ocorresse, foi preciso muita pesquisa agronômica. A EMBRAPA teve um papel
decisivo nesse processo. Vale ressaltar que as manchas de fertilidade no território brasileiro são escassas e
foram historicamente ocupadas; são elas: solo de massapé (Zona da Mata do nordeste ocupada pela cana-de-
açúcar) e solo de terra roxa (região sudeste ocupada pelo café). Gabarito: Errado
4. Característica marcante do atual período da agricultura brasileira é a ocupação de milhões de hectares de cerrado
pela agricultura moderna globalizada, ao mesmo tempo em que se aprofundam a divisão territorial do trabalho,
os conflitos envolvendo povos e comunidades tradicionais, o uso intensivo dos recursos naturais e a perda de
biodiversidade.
COMENTÁRIO
O cerrado está em grande parte, ocupado pela agricultura moderna globalizada (destaque ao cultivo de soja e
milho), o que apesar de contribuir positivamente à economia, gera inúmeros impactos ambientais (os quais
veremos detalhadamente na Aula 11). Conforme estudamos acima, a ocupação agrícola gera contradições
espaciais, como os conflitos de terra e a intensificação da divisão territorial do trabalho. Gabarito: Certo
CACD/2010
1. Historicamente, as políticas públicas, visando à exportação, privilegiaram a agricultura de larga escala, o que
forçou o processo de modernização da agropecuária e contribuiu para o êxodo rural.
COMENTÁRIO
Desde o período colonial até os dias atuais, as políticas públicas sempre privilegiaram a agricultura para
exportação. E de fato, na segunda metade do século XX, houve um grande êxodo rural no Brasil, principalmente
para as grandes cidades da região sudeste. Gabarito: Certo
2. A pluriatividade, realidade da nova concepção de espaço rural adotada pelo agronegócio, ainda não se incorporou
à agricultura familiar, baseada na agricultura de subsistência.
COMENTÁRIO
3. A revalorização do espaço rural como lugar para se trabalhar e para se viver, uma das recentes transformações
ocorridas no campo, não se relaciona diretamente com as demandas pela terra e com os assentamentos rurais.
COMENTÁRIO
A revalorização do espaço rural se relaciona com o agronegócio, com a desconcentração industrial, e com a
ruralização da população Trata-se de um movimento de geração de empregos nas áreas rurais, impulsionada
pela industrialização e pela dinamização de médias e pequenas cidades. No entanto, ao contrário do que afirma
a questão, as “demandas pela terra” e os “assentamentos rurais” se relacionam com esses novos movimentos,
intensificando as disputas pela terra. Gabarito: Errado
4. O Programa de Apoio à Agricultura Familiar (PRONAF), ao fragmentar o espaço rural, provocou a redução da
produtividade agrícola e, como consequência, a redução da oferta de alimentos nas cidades de pequeno e médio
porte.
COMENTÁRIO
Como a maior parte dos alimentos é produzida pela agricultura familiar, o PRONAF, ao contrário do que a
questão afirma, estimulou a oferta de alimentos nas cidades de pequeno e médio porte. Gabarito: Errado
5. Na primeira metade do século XX, o espaço rural brasileiro caracterizou-se pelas grandes plantações cafeeiras, a
que se seguiu a agricultura familiar com sua pluriatividade e o processo de modernização da base técnica na
agropecuária, que caracterizou o final do século.
COMENTÁRIO
A questão está correta, mas está pedindo para assinalar apenas UMA ALTERNATIVA. Neste caso, a “alternativa
A” corresponde melhor ao que está pedindo no enunciado. Gabarito: “Errado”
CACD/2008
A análise da dinâmica da modernização da agricultura brasileira é importante para o entendimento da sociedade do Brasil
contemporâneo. A esse respeito, julgue (C ou E) os itens subsequentes.
1. Atualmente, observa-se, nas áreas de expansão da fronteira agrícola no Brasil, um sistema produtivo intenso e
mecanizado, que gera poucos empregos diretos e baixo índice de urbanização e de migrações.
COMENTÁRIO
De fato, as áreas de expansão agrícola são intensas e mecanizadas, mas ao contrário do que a questão afirma,
gera fluxos de migrações e acentua a urbanização das médias e pequenas cidades. Gabarito: Errado
COMENTÁRIO
De fato, a irrigação promovida pelo Rio São Francisco e a soja e o milho produzidos no MATOPIBA dinamizam a
região nordeste, além da produção algodoeira maranhense. No entanto, a região nordeste continua carecendo
de bons índices de desenvolvimento humano. Gabarito: Errado
3. O cerrado brasileiro é um bioma propício à atividade agrícola, como comprova sua alta produtividade nas últimas
décadas, graças, especialmente, à fertilidade do seu solo, que não exige corretivos.
COMENTÁRIO
Cerrado, Amazônia e Caatinga NÃO são biomas propícios à atividade agrícola. Os melhores solos do país são o
“massapê” (zona da mata nordestina) e “terra roxa” (sudeste e sul do Brasil), concentrados principalmente no
bioma Mata Atlântica. Fiquem tranquilos, no final do curso teremos uma aula só de biomas do Brasil! Gabarito:
Errado
4. O fato de as indústrias deixarem de se concentrar no sudeste do Brasil tem relação com o processo de
modernização da agricultura brasileira.
COMENTÁRIO
De fato, a modernização agrícola foi um dos fatores decisivos para a desconcentração industrial ocorrida a
partir dos anos 1970. Lembrem-se que cada vez mais “agropecuária” e “indústria” estão conectados. Gabarito:
Certo
O Brasil é, na América Latina, um dos países que mais reorganizou sua atividade agropecuária desde
meados do século XX. Desde então, a reestruturação produtiva da agricultura brasileira tem-se norteado
pela racionalidade com funcionamento regulado pelas relações de produção e distribuição globalizadas,
direcionando-se, cada vez mais, ao atendimento da crescente demanda do mercado urbano interno e à
produção de commodities para a exportação, in natura ou após passarem por algum tipo de transformação
industrial, o que aumenta seu valor agregado. Denise Elias. Globalização, agricultura e urbanização no
Brasil. Internet: (com adaptações).
Tendo esse fragmento de texto como referência inicial, julgue (C ou E) os itens seguintes, acerca da
estruturação e do funcionamento do agro negócio no Brasil.
1) A expansão da moderna agricultura nos biomas Cerrado e Amazônia tem-se constituído a partir de
reduzidos fluxos migratórios em direção às pequenas e médias cidades dessas regiões e de poucos conflitos
no campo, uma vez que a mecanização excessiva das atividades agrárias gera poucos empregos tanto no
campo quanto na cidade.
3) Para atender, principalmente, ao mercado internacional, adotam-se, nas áreas do bioma Cerrado, os
modelos de ocupação do território e de produção desenvolvidos pelo agribusiness nos países centrais do
capitalismo global, que favorecem a produção em larga escala, intensiva em tecnologia, a partir dos
latossolos de média e alta fertilidade.
CACD/2015 (Cespe/UNB)
O Brasil, terceira maior potência mundial agropecuária, enfrenta desafios logísticos, de infraestrutura e
legais para continuar a crescer nesse setor, competindo internacionalmente. No que se refere a esse
assunto e aos múltiplos aspectos a ele relacionados, julgue (C ou E) os itens a seguir.
7) O atual modelo de uso do território brasileiro é marcado por uma regulação híbrida, cabendo tanto à
iniciativa privada quanto ao poder público as ações de planejamento e execução de obras para escoamento
da produção, por exemplo.
8) Denominam-se demandas corporativas os investimentos públicos que, na visão política nacional, são
destinados a superar as deficiências em transporte, conferir competitividade e promover o crescimento
sustentável do país, a partir do investimento estatal no setor de logística, considerado área estratégica de
segurança nacional.
CACD/2013 (Cespe/UNB)
9) Configuração de novas atividades rurais relacionadas à vida urbana, como turismo, lazer, mercado
imobiliário e serviços.
10) Violência urbana, que tem provocado uma inversão do êxodo rural e, em consequência, na redução no
processo de urbanização brasileira nos cinco últimos anos.
11) Ligação da agricultura à indústria de alimentos, sem desconfigurar os setores agrícolas tradicionais,
como as unidades familiares de subsistência.
12) Atual expansão agrícola ou expansão das fronteiras de recursos do Centro-Sul em direção ao Nordeste
e ao Norte do país, com dissolução de grande parte dos problemas agrários históricos.
13) Baixa possibilidade de aquisição de moradia nas cidades brasileiras, especialmente nas pequenas é
médias cidades.
CACD/2010 (Cespe/UNB)
14) Historicamente, as políticas públicas, visando à exportação, privilegiaram a agricultura de larga escala,
o que forçou o processo de modernização da agropecuária e contribuiu para o êxodo rural.
15) A pluriatividade, realidade da nova concepção de espaço rural adotada pelo agronegócio, ainda não se
incorporou à agricultura familiar, baseada na agricultura de subsistência.
16) A revalorização do espaço rural como lugar para se trabalhar e para se viver, uma das recentes
transformações ocorridas no campo, não se relaciona diretamente com as demandas pela terra e com os
assentamentos rurais.
17) O Programa de Apoio à Agricultura Familiar (PRONAF), ao fragmentar o espaço rural, provocou a
redução da produtividade agrícola e, como consequência, a redução da oferta de alimentos nas cidades de
pequeno e médio porte.
18) Na primeira metade do século XX, o espaço rural brasileiro caracterizou-se pelas grandes plantações
cafeeiras, a que se seguiu a agricultura familiar com sua pluriatividade e o processo de modernização da
base técnica na agropecuária, que caracterizou o final do século.
CACD/2008 (Cespe/UNB)
19) Atualmente, observa-se, nas áreas de expansão da fronteira agrícola no Brasil, um sistema produtivo
intenso e mecanizado, que gera poucos empregos diretos e baixo índice de urbanização e de migrações.
21) O cerrado brasileiro é um bioma propício à atividade agrícola, como comprova sua alta produtividade
nas últimas décadas, graças, especialmente, à fertilidade do seu solo, que não exige corretivos.
22) O fato de as indústrias deixarem de se concentrar no sudeste do Brasil tem relação com o processo de
modernização da agricultura brasileira.
CACD/2006 (Cespe/UNB)
Mencionada no texto, a Lei de Terras de 1850 também se relaciona à forma pela qual o processo
abolicionista foi conduzido no Brasil do século XIX. Sabendo-se que essa lei obrigava o registro de todas as
terras efetivamente ocupadas e impedia a aquisição de terras devolutas (desocupadas), exceto a realizada
por compra, julgue (C ou E) os itens seguintes.
23) Se prejudicava o trabalhador livre pobre, dificultando-lhe o acesso à terra, assim como o ex-cativo, a Lei
de Terras apresentava-se como forte atrativo à mão-de-obra imigrante européia, que, ao contrário dos
nacionais, geralmente possuía recursos suficientes para a aquisição de pequenas e médias propriedades
rurais.
24) A Lei de Terras foi combatida por setores da aristocracia rural justamente porque ameaçava a
sobrevivência da grande lavoura e a posição privilegiada dos grupos sociais envolvidos nessa atividade
econômica.
25) A Lei de Terras dificultava, quando não impedia propriamente, o acesso à propriedade da terra por
parte do trabalhador livre pela evidente razão de que lhe faltavam os recursos financeiros para comprá-la.
26) Pelo que dispunha, a Lei de Terras de 1850 cristalizava uma realidade do início da colonização, ou seja,
a concentração da
CACD/2005 (Cespe/UNB)
O Estado-nação brasileiro tem suas raízes na expansão mercantil-colonial européia do século XVI. Naquele
momento histórico, as burguesias mercantis, 4 aliadas às monarquias, sobretudo portuguesa e espanhola,
empreendiam a busca, para além-mar, do ouro, da prata ou de produtos que, de alto valor 7 comercial nos
mercados europeus, pudessem ser transacionados com muito lucro. O pau-brasil, que abundava em nossas
florestas tropicais, ao longo da 10 costa atlântica, foi o primeiro alvo do saque aos recursos naturais, até
então manejados por diversos povos indígenas nômades e seminômades. 13 Ironicamente, a espécie que
acabou por dar origem ao nome do país tornou-se a primeira vítima: o pau-brasil, madeira de coloração
avermelhada que os 16 europeus utilizavam na produção de tinturas, hoje só existe nos jardins e museus
botânicos.
27) Tendo o texto II como referência inicial e considerando aspectos históricos e geográficos marcantes da
colonização brasileira, julgue (C ou E) os itens a seguir.
28) No início do processo de colonização brasileira (1530), a introdução das plantations de cana-de-açúcar
marcou a forma de apropriação dos recursos naturais e a formação territorial do país.
29) No Brasil atual, o latifúndio, uma das principais marcas das condições socioambientais do período
colonial, mantém-se como traço de poder.
30) A Lei de Terras, promulgada no Brasil em 1850, tinha como similar, nos Estados Unidos da América
(EUA), o Homestead Act, que democratizou o acesso à terra naquele país.
31) A disponibilidade de vasta extensão de terras nas mãos de elites rurais respondeu, e ainda responde, às
demandas do mercado mundial. GABARITO???
CACD/2004 (Cespe/UNB)
32) Nas últimas décadas, ocorreu grande expansão na produção primária destinada à exportação, o que
atesta o caráter eminentemente agrícola do país.
33) O crescimento agrícola do país se deu não só pela modernização tecnológica, mas também em função
do aumento das terras cultivadas, com a instauração de processos erosivos acelerados e perda de solo.
34) O progresso técnico generalizado na produção agrícola brasileira ocasionou o desaparecimento das
relações não-capitalistas de produção e comercialização.
Com relação ao processo de modernização agrícola brasileira e suas implicações, julgue os itens
subseqüentes.
35) Embora sejam evidentes os esforços de modernização das atividades no campo, o aumento do volume
da produção brasileira decorre do aumento da área de terra cultivada.
36) Resultante da maior inserção do país no contexto internacional, a modernização agrícola, com a
consequente queda da necessidade de trabalho humano no campo, contribuiu para o processo de
urbanização no Brasil.
37) O desenvolvimento agrícola ocorrido no Brasil coloca o como provedor de bens primários para o
mercado mundial, já que o país apresenta incipiente nível de industrialização.
38) No Brasil, as mudanças nos padrões produtivos geram efeitos sociais, tais como o desemprego, o
subemprego e a migração inter e intra-regional.
39) Os conflitos pela posse de terra no Brasil ocorrem tanto nas áreas tradicionais de produção
agropecuária como nas novas áreas de expansão agrícola, a exemplo da região Centro-Oeste.
O Brasil é um importante produtor agrícola que tem ampliado suas exportações, principalmente as do
agronegócio. Ganhos em produtividade são reconhecidos em todos os fatores da produção: terra, trabalho
e capital. Tendo em vista o panorama da agricultura brasileira na atualidade, sua evolução e características
principais, julgue os itens que se seguem.
42) A expansão de rodovias no país foi a principal responsável por migrações intra e inter-regionais,
fazendo surgir novas cidades nas áreas de expansão da fronteira agrícola.
43) A maior participação do transporte fluvial no escoamento da produção agrícola no Brasil também é um
fator responsável pela expansão da agricultura no país.
44) Um dos aspectos que compõem o quadro de modernização da agricultura brasileira é a formação de
complexos agroindustriais como aqueles ligados à fruticultura.
45) A persistência de conflitos agrários no país se deve à exclusão do pequeno produtor que cultiva para a
sua subsistência, já que o agronegócio apresenta maior rentabilidade.
49) O avanço sobre novas terras por força da expansão dos cultivos tem
sido um fator de atenuação da concentração fundiária existente no Brasil.
Os movimentos sociais rurais no Brasil têm crescido e são marcados pelo conflito e pela violência. Com
referência a esse assunto, julgue os itens subseqüentes.
50) Os diversos movimentos sociais rurais apresentam-se em todas as regiões do país como fruto da
sobrevivência de antigas estruturas regionais oligárquicas na produção agrícola, que se recusam ou são
incapazes de fazer parte da dinâmica modernizadora em curso no campo.
51) No desenvolvimento capitalista do país, o Estado atuou na implantação de projetos que valorizam
economicamente determinadas áreas, o que deu origem a conflitos pela posse de terra entre diversos
grupos sociais, incluindo a população indígena.
52) A luta pelo acesso à terra desencadeou migrações inter-regionais, com camponeses brasileiros
emigrando na intenção de obter propriedades mais baratas.
Gabarito
GABARITO
1 E 14 C 27 C 40 C
2 C 15 E 28 C 41 E
3 E 16 E 29 C 42 C
4 C 17 E 30 E 43 C
5 E 18 E 31 C 44 C
6 C 19 E 32 E 45 E
7 C 20 E 33 C 46 C
8 E 21 E 34 E 47 E
9 C 22 C 35 E 48 C
10 E 23 E 36 C 49 E
11 E 24 E 37 E 50 E
12 E 25 C 38 C 51 C
13 E 26 C 39 C 52 C
CACD/2008
A lavoura cafeeira foi o objetivo da ocupação de vastas áreas do território brasileiro. Apresente uma
cronologia do movimento de expansão dessa cultura, identificando as regiões incorporadas no processo
e caracterizando as relações de produção dominantes nos distintos períodos.
CACD/2013
O avanço da cafeicultura em território paulista foi marcado por um novo padrão geográfico de ocupação
do solo, que contrariava alguns elementos básicos do modelo de organização territorial estabelecido
desde os tempos coloniais. Aponte a inovação básica introduzida, fazendo uma explanação comparativa
entre os modelos.
A primeira questão (2008) exige que o aluno tenha uma noção espacial da evolução do café. Para isso é
preciso que ele tenha domínio mental dos mapas e do sentido dos fluxos históricos (onde o café surgiu no
Brasil e para onde foi com o tempo). Também exige que o aluno saiba a evolução das técnicas empregadas
ao longo do tempo. O importante neste caso, não é ser um expert em agronomia, mas ter uma noção geral
dos processos de mecanização no campo e dos impactos da Revolução Verde no território brasileiro. Como
a segunda questão (2013) também foca na evolução da técnica, resolveremos as duas como se fosse
apenas uma.
Resolução da questão:
Entre os séculos XVIII até a primeira metade do século XX, o café constituiu a principal matriz de
exportação brasileira. Facilitado pelas condições naturais favoráveis, rapidamente o cultivo se estendeu
do Vale do Paraíba fluminense – região pioneira – passando pelo interior paulista, e finalmente, para os
estados da região sul, especialmente Paraná. Atualmente, Minas Gerais e Espírito Santo (ambos na região
sudeste) são os maiores produtores, abrangendo, juntos, aproximadamente ¾ do montante nacional.
Embora a importância relativa do café tenha diminuído ao longo do tempo, atualmente o Brasil é o maior
produtor mundial de café, consolidando sua posição global.
No entanto, a produção de café atual diverge bastante das primeiras formas de cultivo. No século
XIX, a produção era manual, tecnicamente precária, cujo esgotamento do solo provocava a migração da
produção para outras áreas do país. Possibilitado pela mão de obra imigrante – especialmente italiana – o
cultivo de café encontrava forte respaldo nas terras das regiões sudeste e sul; onde predomina o solo de
terra roxa – do italiano terra rossa – altamente fértil e propício à agricultura. Além disso, as condições
hidrográficas e pluviométricas são excelentes nesta área do país.
Apesar de ter dinamizado, de certa forma, a estrutura social, o sistema de colonato implantado no
século XIX ainda escondia grandes desigualdades sociais. Possibilitada principalmente pelo tráfico de
escravos e pela extração de ouro em Minas Gerais, a acumulação primitiva de capital permitiu que a elite
reinvestisse seus ganhos nas lavouras de café, que demandavam vultosos investimentos iniciais – até
porque, um pé de café demora cerca de quatro anos para gerar frutos. Enquanto os imigrantes viviam em
condições precárias, os “barões do café”, detentores de terras e capital, exerciam o domínio político e
econômico do país.
Contudo, após um longo período de ascensão, a expansão cafeeira sofreu forte revés com a Crise
de 1929: em meio à queda de preço no cenário internacional, na tentativa de manter os preços elevados,
e estimulados pelo governo brasileiro, produtores queimavam as sacas excedentes. A partir deste período,
a matriz econômica brasileira foi sendo acrescida da indústria, diminuindo a importância relativa do café.
Após os anos 1970, no entanto, com a Revolução Verde brasileira, a mecanização do campo, e as políticas
agrícolas governamentais (como isenção de impostos, créditos, e estímulos à ocupação do interior
brasileiro), o café ganhou novo fôlego. Neste período, inclusive, são criados órgãos importantes de
Atualmente, ao contrário do que ocorria no período colonial, a produção ocorre em solos de grande
desenvolvimento técnico, de forma altamente mecanizada e cientifizada. Como o antigo problema de
esgotamento de solos pôde ser corrigido por meio de técnicas agronômicas, regiões inusitadas como o
estado de Rondônia, naturalmente infértil, pôde ser absorvido pela agroindústria cafeeira – muito embora
neste estado seja produzido o café “robusto”, que é diferente do café “arábica” mineiro.
No entanto, embora este modelo tecnificado tenha possibilitado o aumento expressivo da produtividade
agrícola, também foi responsável pela intensificação de impactos ambientais como a poluição do solo e da
água, o desmatamento, a desigualdade fundiária, o êxodo rural, e demais problemas. Enquanto o
agronegócio agroexportador concentra suas atividades em culturas rentáveis – como o próprio café, que é
dotado de grande capital de investimento – as culturas alimentares como feijão, arroz, e mandioca,
normalmente cultivadas em propriedades familiares, contam normalmente com baixos graus de
investimento, fatores estes, que mantém as desigualdades sociais no campo.
- Entender a cronologia espacial do café no território brasileiro (inicialmente RJ, depois SP, depois PR e
atualmente MG, ES, RO).
- Entender a importância do ciclo do café na economia brasileira
- Entender a relação entre produção de café, urbanização e industrialização.
- Entender as diferenças de produção cafeeira do século XIX (trabalho manual) para as lavouras
automatizadas da contemporaneidade.
- Entender as condições físicas que nortearam a espacialização do café (áreas de alta pluviosidade e solos
férteis).
- Entender que a produção tradicional do café provocava esgotamento do solo (o que demandava novas
áreas), mas que este problema foi corrigido atualmente pela agronomia.
- Aplicar o conceito de acumulação primitiva de capital (Marx) nos investimentos cafeeiros no Brasil.
- Saber citar algumas estruturas criadas pelo café (como a Estrada de Ferro Santos-Jundiaí).
- Dimensionar e entender o impacto da crise de 1929 na produção cafeeira e também na industrialização
daí resultante.
- Saber que o Estado estimulou o agronegócio nos anos 1970 (por exemplo, EMBRAPA, INCRA, órgãos
regionais).
exploraram estas “vantagens comparativas”, e de que forma isto tem influenciado a evolução de nossa
formação econômico-social.
Parece uma questão difícil, mas não é. Sabendo que a discursiva trata basicamente da cana de açúcar (solo
de massapé) e do café (solo de terra roxa), fica relativamente fácil responder. É só comparar os dois
sistemas levando em consideração as suas diferenças técnicas, espaciais, e temporais. A questão exige
poucos conteúdos, bastando que o aluno tenha uma boa noção dos ciclos econômicos brasileiros e da
formação territorial do Brasil.
Resolução da questão:
Não obstante a grande dimensão territorial, o Brasil possui, basicamente, duas manchas de
fertilidade natural. A primeira, está localizada no litoral do Nordeste, mais especificamente na Zona da
Mata; área historicamente ocupada pela cultura da cana de açúcar – constituindo até hoje, uma grande
região produtora. A segunda, ocupada pelo café entre os períodos imperial e republicano, situa-se nas
regiões sul e sudeste, especialmente nos estados de São Paulo e Paraná. Além de fatores antrópicos,
devido à grande fertilidade dos solos “massapé” (região nordeste) e “terra roxa” (regiões sul e sudeste), a
cana de açúcar e o café foram os dois principais produtos agrícolas nos primeiros quatrocentos anos de
história brasileira, responsáveis por grande parte da estrutura fundiária atual – vale ressaltar que até hoje,
o Brasil é o maior produtor mundial de ambos os produtos.
Introduzida na fértil Zona da Mata nordestina, a cana de açúcar, voltada basicamente para a exportação,
conforme afirma Celso Furtado, constituiu o primeiro grande empreendimento agrícola no Brasil, cujo
cultivo iniciou-se ainda no século XVI. Do ponto de vista geomorfológico, a cultura da cana foi facilitada
pelo solo massapé, que ao contrário dos solos encontrados no Sertão e Agreste nordestinos, é rico em
nutrientes e matéria orgânico, além de ser abastecido por consideráveis regimes pluviométrico e
hidrográfico. Do ponto de vista econômico, a cana de açúcar era produzida sob rígida estrutura social,
pautada na dicotomia entre os senhores de engenho, detentores de poder e capital, entre os escravos sem
possibilidade de ascensão social. Produzida sob um sistema agrícola de plantation – ou seja, em grandes
propriedades monocultoras – a cana de açúcar cristalizou as desigualdades fundiárias no campo brasileiro,
muitas das quais persistem até os dias atuais.
Além disso, a produção desta cultura solidificou o padrão de ocupação demográfico brasileiro: como as
terras férteis estavam próximas ao litoral, a população tendeu a se concentrar nestas áreas, acarretando
na urbanização das mesmas. Embora este padrão tenha sido atenuado com o início das produções aurífera
e cafeeira ocorridas no interior, até hoje o litoral nordestino constitui uma das principais manchas
demográficas do Brasil. O interior da região nordeste, no entanto, foi historicamente ocupado por
produções dispersas como a criação de gado e a agricultura de subsistência – condições observadas até
hoje no território – o que acarretou em menor grau de urbanização.
Iniciado no século XVIII no Vale do Paraíba fluminense, o cultivo de café rapidamente se espalhou para o
interior paulista, e consequentemente, para Minas Gerais e Paraná. Ao contrário dos senhores de
engenho, os oligarcas cafeeiros investiam o capital acumulado nas regiões produtoras, especialmente em
De forma geral, enquanto a cana de açúcar viabilizou a “empresa colonial” – nas palavras de Celso Furtado
–, cristalizou a estrutura fundiária brasileira, e consolidou o padrão de ocupação demográfica litorâneo; o
café forneceu as bases para a formação socioeconômica nacional, sendo responsável principalmente pela
industrialização, pela urbanização, e por grande parte da infraestrutura da região sudeste.
- Saber que o solo de massapé (Zona da Mata) e terra roxa (sul e sudeste) são os solos mais férteis do
Brasil.
- Entender a relação entre solos férteis, ocupação agrícola, demografia e urbanização (um fator foi
alavancando o outro na história brasileira).
- Entender que a maioria dos biomas brasileiros são inférteis, e que, por exemplo, o Cerrado só se tornou
o maior produtor agrícola por conta de técnicas agronômicas.
- Compreender profundamente os ciclos da cana de açúcar e do café.
- Assim como na questão anterior, ter domínio da evolução espacial da agricultura no Brasil (onde surgiu,
para onde foi, e por que).
- Entender as diferenças produtivas da cana de açúcar (colônia, trabalho escravo) e o café (império e
república, trabalho assalariado).
- Entender as diferenças de impactos entre a cana de açúcar (que viabilizou a "empresa colonial") com o
café (que impulsionou a economia nacional).
O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo e apresenta taxas anuais de crescimento
da produção bem superiores à média mundial. Apesar disso, a área destinada à agricultura ainda é
pequena, se comparada à de outros grandes produtores mundiais, como a China e os Estados Unidos da
América (EUA). Indique o percentual aproximado do território brasileiro destinado à produção agrícola e
identifique os principais entraves existentes hoje para a expansão das terras agricultáveis.
Esta é uma das poucas questões do CACD que cobra um valor específico (porcentagem de áreas
agricultáveis, que é 8%), e isto já a torna particularmente difícil. Porém, a maior dificuldade é relacionar a
grande quantidade de conteúdo exigida: para responde-la, você deverá relacionar a Geografia Agrária (Aula
06) com a Geografia e Gestão Ambiental (Aula 10 sobre leis ambientais e Aula 11 sobre ameaças nos
biomas), e com o Planejamento Territorial no Brasil (Aula 03). É uma questão bastante complexa, mas não
é impossível! Se estudar dá para responder!
Resolução da questão:
O Brasil é uma das maiores potências agrícolas do mundo. Constituindo o quinto maior território
do mundo, o país também é o maior exportador de cana de açúcar, café, carne bovina e carne de frango;
sendo também, o segundo maior produtor de soja. Atualmente, 8% do território brasileiro é destinado a
produção agrícola; no entanto, os estabelecimentos agropecuários, somados, correspondem a 43% do
território. Estes dados revelam que a maior parte das propriedades rurais encontra-se subutilizada,
encontrando assim, forte potencial de expansão. O agronegócio brasileiro – sendo altamente mecanizado
e dotado de sofisticado aparato técnico – é um dos mais competitivos do mundo, encontrando taxas de
crescimento acima da média mundial. Projeções do Ministério da Agricultura indicam que as produções de
grãos, carne de porco, e carne de frango, deverão aumentar cerca de 30% até 2025. Até este período, não
obstante o aumento previsto de 30% na produção agrícola nacional total, a o total da área agricultável
deverá aumentar pouco mais de 12%.
A tradição agropecuária do Brasil remonta suas origens no período colonial, mais especificamente
após o século XVI, quando os portugueses introduziram o cultivo de cana de açúcar, estabelecido nos
férteis solos de massapé da Zona da Mata nordestina – produto largamente exportado até hoje pelo país.
O café, introduzido no Vale do Paraíba fluminense e depois no interior paulista entre os séculos XVIII e XIX,
em áreas dotadas de terra roxa – um solo altamente fértil para a agricultura – constituiu a pauta
majoritária de exportação nacional até meados do século XX. Outras culturas como a borracha e as drogas
do sertão na Amazônia, o cacau na Bahia, o algodão no Maranhão, o charque e o mate no Rio Grande do
Sul, e o gado nos interiores do nordeste e do Rio Grande do Sul, também constituíram produtos de
expressiva relevância para o país. Abrangendo uma grande variedade climática – equatorial, tropical e
subtropical –, e também dotado de vasto potencial hidrográfico e pluviométrico, o Brasil reúne as
características naturais para a tão almejada expansão agropecuária.
Percentualmente, a agropecuária brasileira não representa valores tão elevados quanto nos séculos
XVIII e XIX; no entanto, em números absolutos de quantidade de produção e variedade de produtos, o país
conseguiu galgar expressividade mundial. Isto ocorreu devido a alguns fatores, como a Revolução Verde, a
industrialização do campo, a adoção de maquinários modernos; em suma, a introdução do meio técnico
científico informacional em áreas rurais. Estes sistemas técnicos permitiram que regiões
geomorfologicamente desfavoráveis, como o cerrado, passassem a contar com elevada produtividade.
Além disso, o governo federal também promoveu, de forma deliberada, a expansão das fronteiras
agrícolas: a criação de órgãos como EMBRAPA (1972), e INCRA (1970) favoreceram esse processo.
florestas nativas (entre 1990 e 2000, o setor foi responsável por 70% do desmatamento verificado em
território nacional). Não obstante a ocorrência destes problemas, o Brasil possui uma das legislações
ambientais mais rígidas do mundo, que apesar de necessária face à conservação e preservação dos
ecossistemas, nem sempre é cumprida pelos produtores. Uma das leis mais importantes, neste quesito,
são a CONAMA 001/1986 que exige estudos de impactos ambientais para projetos de grande porte –
incluindo agroindústrias como usinas de cana; e mais recentemente, o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (2000), que estabelece áreas de preservação e conservação no território nacional, como por
exemplo, Florestas Nacionais (FLONAs), Parques Estaduais, e Reservas Particulares do Patrimônio Natural
(RPPNs); além de terras indígenas (que atualmente ocupam cerca de 13% do território). As Áreas
Prioritárias de Conservação da Biodiversidade (APCBs), os corredores ecológicos, e as áreas demarcadas
por quilombos e assentamentos rurais, também não podem ser ocupadas pelo agronegócio. O Código
Florestal (originário de 1964 e revisado recentemente em 2012) estabelece Áreas de Preservação
Permanente (APPs). Segundo esta lei, o desmatamento não é permitido no entorno de pelo menos 30
metros de cursos d’água e nem em 50 metros de nascentes, diminuindo as áreas disponíveis para a
agropecuária. Além disso, toda propriedade deve possuir uma Reserva Legal destinada à preservação. Na
Região Sudeste, este percentual gira em torno de 20%. Já na Região Norte – berço da Floresta Amazônica –
pode chegar à 80%.
Além dos sensíveis aspectos ambientais, há entraves sociais para a expansão agropecuária no
Brasil. Além da políticas de preservação e conservação da fauna e da flora, países desenvolvidos como
Estados Unidos, e integrantes da União Europeia, possuem estruturas fundiárias equilibradas com pouca
desigualdade e tensão social, o que não ocorre no território nacional. Nas últimas décadas, sobretudo
após os anos 1980, evidenciou-se um recrudescimento dos conflitos no espaço agrário brasileiro, como a
morte de Chico Mendes (1988) e a criação do MST (1984), grupo este, que apesar de dividir opiniões
perante à sua atuação, luta pela reforma agrária e pela distribuição de renda no campo. Apesar de
altamente produtivo e dotado de expressividade internacional, o espaço agrário brasileiro, de acordo com
os Índices de Gini, é mais desigual que a média da América Latina e dos países da OCDC: enquanto
culturas destinadas à exportação como soja, cana de açúcar, milho, e café são cultivadas sob elevado
aparado técnico, e sob grande disponibilidade de áreas e capital; lavouras destinadas à alimentação
interna como feijão, arroz, e mandioca, são em grande maioria, caracterizadas pelo baixo nível de
produtividade e tecnificação, sobretudo nas regiões norte e nordeste.
Neste aspecto, as desigualdades também podem ser observadas de forma regional. Embora a região sul,
historicamente influenciada pelo campesinato familiar europeu, apresente elevados níveis de agricultura
familiar, especialmente no que tange à produção de feijão, arroz, e frutas como uva e maçã (não obstante
a elevada produção de soja voltada à exportação nesta região); as regiões sudeste e centro-oeste são
caracterizadas por cultivo intenso, mecanizado e tecnificado, disposto em modelo de plantation; neste
caso, destacam-se as culturas da cana-de-açúcar, laranja, soja e milho. Apesar de contar com manchas de
produtividade como as regiões do MATOPIBA ou o vale frutífero do Rio São Francisco, as regiões norte e
nordeste, especialmente no interior, são dotadas de baixo nível técnico; normalmente contando apenas
com agricultura e pecuária de subsistência e consumo local. Para que o agronegócio cresça de forma
sustentável, é necessário, portanto, respeitar os limites ambientais, e a equidade social no campo. Neste
ponto, apesar da grande produtividade, o Brasil ainda tem muito o que evoluir.
- Saber que o Brasil é uma potência agrária mundial e saber contextualizá-lo no cenário internacional.
- Saber o percentual de áreas agrícolas (8%) (sim, a questão pede o número exato).
- Dimensionar o potencial de expansão da agropecuária brasileira.
- Entender também o quadro geral da evolução da agricultura brasileira desde o período colonial até os
dias atuais.
- Entender a formação do arquipélago econômico brasileiro (diferentes regiões e diferentes vocações
agrícolas; por exemplo, charque no RS, drogas do sertão no AM, algodão no MA, etc.).
- Entender a incorporação do meio-técnico-científico-informacional (Milton Santos) no campo ocorrida a
partir dos anos 1970.
- Entender os estímulos governamentais para a produção agrícola ocorrida a partir dos anos 1970
(EMBRAPA, INCRA, etc.).
- Entender os “entraves” para a expansão agropecuária (impactos e legislações ambientais, questões
sociais, indígenas, etc.).
- Entender as principais legislações ambientais que envolvem a produção agropecuária (Código Florestal
junto com APPs e Reserva Legal; SNUC, APCBs, CONAMA 001/1986, etc) (caso tenham dúvidas,
trataremos disso detalhadamente na Aula 10).
- Compreender os "entraves" sociais para a expansão agropecuária (MST, quilombos, desigualdade no
campo, conflitos de terra, indígenas, etc.).
- Comparar o campo brasileiro com outros países (temos uma estrutura agrária historicamente desigual,
cujo Índice de Gini é maior que a média da América Latina).
- Citar o contraste existente entre as culturas brasileiras (agricultura familiar: arroz, feijão, mandioca...)
(agricultura mecanizada: soja, cana de açúcar, café...)
- Saber que a região nordeste é dotada de baixo nível técnico (agricultura de subsistência) porém há
manchas de tecnificação como o Vale do São Francisco (frutas) e o MATOPIBA (soja).
- Saber que a região norte também é dotada de baixo nível técnico (agricultura de subsistência) porém há
manchas de tecnificação como a agropecuária no Pará e em Rondônia.
Bibliografia sugerida
Para o entendimento da Geografia Agrária do Brasil, recomendo basicamente a leitura do
documento Projeções do Agronegócio elaborado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. Nele constam os principais produtos do agronegócio brasileiro, inclusive, foi largamente
utilizado como fonte neste PDF.
Já para os principais produtos em escala mundial, aconselho a leitura do documento Food Outlook
elaborado de forma bianual pela FAO (ONU). Não se preocupem com o excesso de dados/números,
procurem entender os processos gerais, ok?
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS – FAO. Food Outlook.
Biannual Report on Global Food Markets. Disponível em: <http://www.fao.org/3/a-i6198e.pdf>
ROSS, Jurandyr Sanches (org). Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 2000. Capítulo: 8.
Agricultura Brasileira Transformações Recentes