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A INSERÇÃO DA

MULHER NO GRAFFITI

CULTURA, ARTE E POLÍTICA

Tata Maria

Em uma conjuntura predominantemente


masculina, mulheres grafiteiras desafiam os
Vocabulário
estigmas e vão às ruas para colorir muros.

Tag: Assinatura do nome. Considerado um ato subversivo nos anos 80, atualmente o
Toy: Não respeita outros escritores. graffiti vem se posicionando no âmbito das artes visuais. Uma
Bomb: Graffiti ilegal feito em arte contemporânea que está além dos meios urbanos, está
portas, muros, geralmente à noite.
em evidência. O graffiti deixa de ser visto como um ato de
Bomber: Aquele que faz Bombs
vandalismo para ser apreciado como arte que manifesta a
pela cidade.
Throw-up :Vomitar, estilo simples insatisfação com o poder público e denuncia de forma
de letra. concreta as mazelas de uma sociedade em desigualdade
Cap: Bico do spray, pode ser Fat
de classe, gênero e raça. É uma arte efêmera que chega
(traço grosso para coberturas) ou
para democratizar a arte. Nesse cenário, as mulheres
Skinny (contornos ou detalhes).
Marker: Marcadores usados para grafiteiras vêm chamando a atenção e desafiando padrões
fazer tags. de uma sociedade de herança machista.
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As mulheres vêm se destacando


em suas ações. Trazem à tona
suas ideologias e posicionamento
de gênero, buscando uma
posição igualitária.

Panmela Castro, início como


Anarkia Boladona. As mulheres que estão em Rojas, artista que vive em
voga neste movimento, São Francisco; Lady Pink, a
questionam o espectador diva precursora do graffiti
O livro Graffiti Woman, com seus personagens feminino nascida no
fez uma avaliação de normalmente de Equador e criada em Nova
125 grafiteiras do mundo.
representação feminina, York, foi a única mulher
Dentre elas, estão 8
brasileiras. com bonecas, personagens grafiteira do cenário por
de desenhos animados, muito tempo; a polonesa
construindo um diálogo da Olek e a japonesa Lady
voz da mulher para o Aiko, também residentes de
mundo. Há diversas artistas Nova York; Hassani, uma das
Piecebook: Livro de sketches
respeitadas e conhecidas primeiras artistas mulheres
(rascunhos) do escritor.
Insides: Bombardear, encher de no mundo inteiro por suas do Afeganistão; Mizrahi e
tags os trens ou ônibus por dentro. obras de traços mais Toofly, que juntas fundaram
Piece: Graffiti bem pintado e com
delicados, cores, o Younity, um fórum de
um fundo.
mensagens contra artistas que lutam por mais
Top-to-bottom: Trem que é
pintado de cima até embaixo. preconceito entre gêneros espaço e reconhecimento.
End-to-end: Trem que é pintado ou classe.
No Brasil, a pioneira foi a
de uma lado até o outro.
Whole Car: Fusão do Top-to- Das mulheres que se paulista Nina Pandolfo, que
bottom com o End-to-end, destacam com suas obras se considera uma agente
quando o trem é pintado por no contexto urbano mundial de intervenção. O
completo.
estão: a grafiteira Kashink, movimento das mulheres no
Crew: Equipe/grupo de amigos
que pintam juntos.
moradora de Paris; a Brasil cresceu muito desde

Wildstyle: Estilo agressivo de letras francesa Miss Van, hoje então, conquistando
entrelaçadas e complicado de ler. moradora de Barcelona; espaço e respeito.

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Os coletivos de
mulheres no graffiti

“Até padrão de qualidade


se coloca em cima do
graffiti feito pela gente”

- Gabi Bruce, Flores Crew

Panmela Castro, Rio de Janeiro

Para se manterem mais fortes neste movimento muitas das


grafiteiras se organizam em grupo - CREW, assim podem
agir de forma mais reforçada. A união faz com que essas
mulheres criem coragem para desbravar as ruas e espalhar
sua voz. Sair para pintar em grupo é a maneira que " Feminismo clama
encontram para furar o bloqueio dos homens. por igualdade, pelo
fim da dominação
Na capital Paulista, a Crew Noturnas, formada em 2006
de um gênero sobre
pelas artistas Tikka, Zeila e Suzue, aproximaram outras
outro. Feminismo
seguidoras deste movimento, como Kel, Miss, Pan, Prila e não é o contrário de
Yá. Muitas usam apelidos curtos para se distinguir em sua machismo.
identidade com arte urbana. Com apoio de famílias elas se Machismo é um
sentem orgulhosas de suas atitudes perante os riscos que sistema de
correm nas ruas. dominação.
No Rio de Janeiro se destacam algumas outras, como a
Feminismo é uma
luta por direitos
TPM Crew, que, desde 2002, liderada por Marcela Zaroni,
iguais"
aborda a presença da mulher nas artes e outras questões.
Um outro movimento forte no Rio de Janeiro é a Rede
- Geledés, texto de
NAMI, idealizada pela grafiteira Panmela Castro,
Clara Averbuck
conhecida mundialmente por lutar contra a violência
doméstica e conscientizar mulheres sobre seus direitos.

Em Belo Horizonte, desde de 2005 A Crew As minas de


Mina, traz para a capital mineira sua irreverência em colorir
os muros não só da capital, mas também de cidades

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vizinhas. Formada por destaca pela singularidade


A capital pernambucana é a cada integrante. Dentre
quatro integrantes, Krol,
cidade nordestina com mais
mulheres ativas na arte do Viber, Musa e Nica, buscam elas, Nina Moraes, inserida
graffiti. neste nicho desde 2006, se
fazer das suas
manifestações projetos que destaca em seus
possam agregar mais personagens, onde a
mulheres ao movimento. maioria são bonecas tendo
a sutileza como diferencial.
Na região nordeste, onde a
questão machista é bem Essas grafiteiras estão
forte, esse movimento simbolizando e
também ganha força. Em resignificando seu lugar na
Salvador, a Crew Toque sociedade, cada uma traz
Feminino, liderada por sua mensagem, sempre
Mônica, que desde 2005 com o questionamento
marca os muros da capital. sobre o posicionamento de
Na cena pernambucana, gênero. São mulheres que
a Flores Crew é um coletivo desafiam a estética e a
independente formado em linguagem das ruas,
2004, que busca contribuir transformando a opinião de
para uma sociedade menos muitos que ainda não
Recifusion colore mais uma desigual, tendo como tiveram a sensibilidade de
vez o Recife com
grafitagens. precursora Gabi Bruce. Há ver que elas estão a todo
também a 33 Crew ; Várias vapor nas ruas, desafiando
Queixas Crew, e o coletivo preconceitos, trazendo um
Borboletas de Passagens, novo cenário para o graffiti.
que se reúnem com único
Nos últimos 15 anos, a
objetivo de dissipar o
presença das mulheres no
machismo existente na
graffiti se tornou mais
cultura nordestina. A capital
significativa no Brasil. Elas
pernambucana é a cidade
vem se tornando cada vez
nordestina com mais
mais independentes em
mulheres ativas nesta arte.
suas ações.

Na cena gaúcha, a Crew


Meygas, de Porto Alegre, se

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O graffiti e sua aberto em São Paulo Alguns, porém, acreditam

dimensão próxima ao MAC e o túnel que o graffiti não deveria ir

mercadológica da Conceição em Porto para galerias ou ser


Alegre, que reuniram comercializado,

Desde do fim da década de diversos grafiteiros e suas acreditando que assim

80, o graffiti já não está tão obras. Muitos eventos perderia a sua originalidade

enquadrado no papel de pontuais de graffiti e arte de arte urbana e passaria a

transgressor, da poluição urbana também vem ser uma mercadoria sem

visual, quando os maiores ocorrendo pelo Brasil nos propósito em sua essência.

ícones desta arte urbana últimos anos. Na cidade de Deixaria de ser uma arte

são consagrados em São Paulo foi instituído o dia efêmera no meio urbano.

galerias conceituadas de do graffiti, 27 de março.


O graffiti brasileiro vem
arte. O fato de pessoas Em algumas capitais pelo conquistando espaço, não
antes marginalizadas serem mundo o graffiti foi só nas avenidas, mas
agora reconhecidas como reconhecido como também nas telas de
artistas seria a forma mais patrimônio cultural. O graffiti cinema, como com o
legítima de democratização não só se solidificou como documentário "Cidades
da arte. linguagem visual urbana, Cinzas", de 2013, projeto

Hoje galerias específicas como também ganhou independente que tem

desta arte vem ganhando status de arte e patamar de como objetivo apresentar o

campo, um exemplo é a solução para o cinza descaso do poder público

GAU - Em Lisboa Galeria predominante do concreto perante as obras exibidas

ArtUrbana que publica das construções. nas avenidas paulistas.

semestralmente exemplares
possibilitando visibilidade Nina Moraes, Porto Alegre
É verdade que é
aos grafiteiros em voga na
predominantemente
capital portuguesa. masculino, mas cada
vez mais aparecem
Com toda essa
meninas fazendo
efervescência nas artes intervenções nas ruas
urbanas, o poder público do mundo todo e
brasileiro vem dando com trabalhos muito
espaço para estes artistas, expressivos.
como a exposição à céu
- Nina Moraes

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Considerações Nos últimos 15 anos as


Finais mulheres vem conquistando
espaço no graffiti,
A conclusão desta pesquisa evidenciando suas
aponta com clareza a atenções, utilizando as ruas
importância da militância como suporte de acesso
feminina no graffiti que vem para transmitir suas
se posicionando ao longo mensagens e fortalecer o
dos anos pelo mundo. movimento. Elas estão em
Afirmando-se como uma evidência, em formato de
postura na sociedade de crew ou solas, tornando o
direitos igualitários, o graffiti graffiti uma comunhão com
Nina Moraes
possui abrangência em a transformação social, e
Ou “as mulheres..”
ações culturais, políticas e pronunciando a igualdade
Ou uma citação dela
artísticas. de gênero.

“Sempre me desafiei. Assim quebrei várias barrerias internas e externas. Sempre


questionei todas as informações e regras que vinham até mim, vi que a maioria
não cabia na minha vida, no meu jeito de pensar e ser. Nunca me vi como um
ser frágil e inferior . Acho que é muito pessoal. Você só precisa ter vontade de
fazer as coisas.”

- Mag Magrela em entrevista com Tata Maria

Tata Maria, produtora cultural Projeto de Graduação em


Ciência Sociais - Ênfase em
(21) 98871-4777 Política e Produção Cultural
tata.taceli@gmail.com
Por Alessandra Taceli
Linkedin (Táta Maria)
Facebook
Nina Moraes, Porto Alegre Nina Moraes
Capa vertical: Panmela Castro Colaboradoras Mag Magrela
Capa horizontal: Mag MAgrela Pat Bado

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