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Livro presente sobre investigação a respeito dos campos de experiência View project
Artigo resultado da monografia apresentada no curso de especialização em Educação Infantil View project
All content following this page was uploaded by Paulo Sérgio Fochi on 15 January 2019.
jornada, ciclos de simbolização das crianças, brincar fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra,
heurístico atravessaram as diversas ações realizadas questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a socie-
dentro do OBECI. Ao longo dos quatro anos, foram dade, produzindo cultura”. (Brasil, 2010, p.12)
sendo explorados aspectos do cotidiano das escolas Essa ideia de criança não representa algo simples
e compartilhadas reflexões entre as instituições que de ser incorporado nas práticas do cotidiano. Ainda
pudessem contribuir para a tomada de decisões em somos fortemente atravessados por crenças que mi-
um nível de consciência diferenciado. nimizam as competências das crianças, que não au-
Atualmente, são cinco escolas que compõem o torizam a sua participação nas decisões cotidianas e,
grupo de trabalho do OBECI e pode-se dizer que re- em muitas ocasiões, as tratamos como sujeitos vazios,
presentam um cenário bastante complexo e rico para sem nenhum tipo de experiência prévia, praticamen-
compreender as distintas modalidades de atendimen- te um sujeito sem história e sem identidade.
to da Educação Infantil no Brasil hoje. Estamos falan- Assim, colocar-se diante da experiência concreta
do de duas tipologias de mantenedora, a pública e a de cada uma das instituições e refletir sobre o lugar
privada; de arquiteturas que incluem os atuais prédios das crianças significa enfrentar as nossas crenças so-
do Proinfância5 a escolas que se constituem em casas bre a imagem de criança que cada um de nós tem e
adaptadas. Algumas das escolas atendem toda a eta- que orienta nossas formas de atuar e de se relacionar
pa da Educação Infantil (0-6 anos), algumas apenas com os meninos e as meninas para poder ressignificá-
a etapa creche (0-3 anos), e, outra, apenas as últimas los. Talvez esse seja um ponto de encontro mais coe-
turmas da pré-escola (4-6 anos). Uma delas acolhe rente entre teoria e prática. (Hoyuelos, 2004)
crianças em um prédio de Ensino Fundamental, as Também perseguimos formas de tentar compreen-
demais são somente de Educação Infantil. O número der a dimensão de currículo que as DCNEI afirmam
de crianças também é bastante variado, automatica- como sendo um “conjunto de práticas que buscam ar-
mente, o quadro de profissionais também se modifica. ticular as experiências e os saberes das crianças com os
Têm escolas que atendem apenas turno integral, ou- conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural,
tras, apenas parcial e, outras, turno parcial e integral. artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a
Em outras palavras, esse grupo de instituições promover o desenvolvimento integral de crianças de 0
também representa as diferentes tipologias de orga- a 5 anos de idade”. (Brasil, 2010, p.12)
nização e funcionamento da Educação Infantil no Essa tarefa tem sido importante para avançarmos
Brasil. Sem dúvidas, existem tantas outras formas, dentro do Observatório, quer seja por (i) compreen-
mas o desejo de refletir a formação em contextos de der as práticas do cotidiano como uma das dimensões
professores e a organização do cotidiano nessa etapa curriculares e, a partir disso, organizar os contextos
da educação parece estar bem contemplado, dado os de modo a garantir que as crianças possam viver boas
variáveis presentes no grupo. experiências de aprendizagens cotidianas; ou, ainda,
A visão de criança que buscamos compreender (ii) por refletir e reconhecer os patrimônios que as
no OBECI é aquela proposta pela Diretriz Curricu- crianças têm e, a partir desses, propor modos de arti-
lar para a Educação Infantil – DCNEI, que a afirma cular com aqueles que a humanidade já sistematizou.
como um “sujeito histórico e de direitos que, nas inte- Dessa mesma maneira, ainda estamos caminhando
rações, relações e práticas cotidianas que vivencia, con- no sentido de pensar (iii) como comunicar as expe-
152 strói sua identidade pessoal e coletiva. Brinca, imagina, riências das crianças no interior das escolas, demon-
der o que está acontecendo no trabalho pedagógico e o mar histórias pedagógicas que evidenciem o sentido
que a criança é capaz de fazer sem qualquer estrutura da experiência humana na coletividade.
prédeterminada de expectativas e normal” (Dahlberg; Na abordagem da Documentação Pedagógica, con-
Moss; Pense, 2003, p.192), (ii) o registro como uma sidero ter dois níveis focais do trabalho: o primeiro,
forma de garantir modos concretos de nos enxergar interno, de construção de uma prática observada, in-
e enxergar as crianças no cotidiano das escolas e (iii) terpretada e registrada para a sua retroalimentação
a interpretação para projetar ou progettazione, “como e para a identificação das zonas de construção de
um meio para refletir sobre o trabalho pedagógico e conhecimento das crianças. O segundo nível, exter-
fazê-lo de uma maneira muito rigorosa, metódica e no, trata-se da comunicação das crenças e dos valo-
democrática” (Dahlberg; Moss; Pense, 2003, p.194), res que a instituição construiu; da comunicação dos
em que a interpretação produzida a partir dos re- modos como as crianças interpretam e elaboram a si
gistros e das observações possam propor modos de mesmas, aos outros e ao mundo, ou seja, é um nível
organizar, planejar e produzir conhecimento com os de compartilhamento e diálogo democrático com a
meninos e as meninas. São esses três pilares que su- comunidade.
stentam a função da Abordagem da Documentação Do ponto de vista da formação em contexto, o pri-
Pedagógica, que é a de tornar visíveis as imagens de meiro nível é estruturante para refletir a respeito do
criança, professor e escola, para problematizar e atua- agir do adulto e das crianças, ou seja, compreender
lizar nossas concepções e práticas, uma vez que “por e acolher o sentido que emerge da experiência edu-
meio da documentação, podemos mais facilmente ver cativa. A partir dessa reflexão, saber projetar a conti-
e questionar a nossa imagem de criança, os discursos nuidade da ação educativa, o passado é propulsor do
que incorporamos e produzimos e que voz, direitos e futuro, pois, conforme afirma Dewey (2010, p.28), “as-
posição, a criança adquiriu em nossas instituições, de- sim como nenhum homem vive e morre para si mesmo,
dicadas à primeira infância”. (Dahlberg; Moss; Pense, nenhuma experiência vive e morre para si mesma”.
2003, p.200) Ainda nesse primeiro nível da documentação pe-
Hoyuelos (2006) lembra-nos de que, através da dagógica, podemos construir qualidade dos con-
documentação pedagógica, é possível fazer história. textos educativos, pois é possível observar, registrar e
Eu diria fazer uma história pedagógica e da criança, interpretar as condições que estão sendo dadas para
“fazer história não é um mero fazer crônica, é algo as crianças viverem o dia a dia na escola. Nesse me-
distinto, é projetar nos fatos e na estrutura da trama” smo sentido, é para inovar, pois “deixar vestígios da
(Hoyuelos, 2006, p.209). Essa tem sido a tarefa perse- memória, produzir continuidade, refletir, projetar, co-
guida pelo OBECI, de se compreender capaz de tra- municar, transferir conhecimento são as diversas faces 155
notas
156 1 A ideia de “autogestão” é advinda das perspec-