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A HEGEMONIA DO ESPORTE NA ESCOLA

REIS, Diego Pablo Perobelli – UEL.


diego_perobelli@hotmail.com

PEREIRA, Ana Maria – UEL.


apereira@uel.br

MARILENE, Marilene – UEL.


malilabr@yahoo.com.br

Eixo Temático: Cultura, Currículo e Saberes


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Esta pesquisa científica refere-se ao estudo do esporte no âmbito da escola, desvelando a sua
relação com a Educação e a Educação Física. Três questões orientaram essa pesquisa: Que
esporte nós temos e que esporte queremos no âmbito escolar? Por que alguns esportes estão
presentes na escola e outros não? A hegemonia do esporte está presente na escola? A pesquisa
teve como objetivo analisar como está o ensino do esporte nas aulas de Educação Física,
identificar quais modalidades estão mais presentes no cotidiano escolar e reconhecer qual a
finalidade atribuída a esse conteúdo pelos professores de Educação Física. Consideramos o
esporte um conhecimento construído culturalmente pela humanidade ao longo dos tempos, ou
seja, um saber que deve estar presente no ensino da Educação Física. Para responder as perguntas
e atingir aos objetivos previstos, foi realizada uma pesquisa de campo, em que dados foram
coletados por meio de questionários, destinados aos professores de Educação Física do Ensino
Médio de 08 Escolas Estaduais do Município de Londrina, Estado do Paraná. Os resultados
foram obtidos tendo como técnica a análise de conteúdo. Constatou-se que no âmbito
escolarizado ainda temos um esporte sendo ministrado de forma restrita e unilateral, pois alguns
professores consideram o esporte como uma área de atividades para a promoção da saúde, do
lazer e do treinamento. Entretanto, evidenciamos professores que, ao contrário, mostraram
preocupação com a educação global do aluno, entendendo o esporte como um conteúdo que deve
ser estudado, analisado, contextualizado e praticado dentro e fora do contexto escolar.

Palavras-chave: Educação Física, Esporte, Escola.


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Introdução
A presente pesquisa estudou de forma rigorosa, radical e de conjunto as questões sobre o
Esporte e suas relações com a Escola, a Educação Física e a Educação. Atentamos ao Esporte
“da” Escola e não ao esporte “na” Escola, pelo fato de que esse fenômeno contemporâneo com
suas características não vai ao encontro dos objetivos educacionais do ensino escolarizado,
porque a educação que defendemos baseia-se na reflexão, na criticidade, na problematização e no
diálogo, em processos que possibilitam ao educando a emancipação e autonomia de seus
conhecimentos.
Segundo o Coletivo de Autores, (apud CAPARROZ, 1997 p. 132), o esporte apresenta
uma grande tendência a possuir: “princípios de rendimento atlético, competição, comparação de
rendimento e recordes, regulamentação rígida, sucesso no esporte como sinônimo de vitória,
racionalização de meios e técnicas”. Entretanto, o esporte para estar na escola, e ser ensinado na
escola, isto é, tornar-se um esporte “da” escola, deve ser ressignificado, re-elaborado
consolidado em uma práxis educativa para além da repetição e da mecanização, da finalidade
única da técnica e do rendimento, em que os mais fracos e os menos habilidosos são colocados à
margem e marcados pela exclusão.
O profissional do ensino tem que compreender o que temos e o que queremos do esporte
escolar. Entender a complexidade do mundo esportivo e saber o que deste universo deve compor
os saberes das aulas de Educação Física. Investigar o ensino do esporte no âmbito escolar,
possibilitou uma análise de como os conteúdos da Educação Física, nomeadamente, o esporte
está sendo abordado e desenvolvido pelos professores em suas aulas. Justificou-se essa pesquisa
pela contribuição com a produção do conhecimento sobre o real escolar e, conseqüentemente,
com a possíbilidade de transformação da práxis pedagógica. Os problemas desvelados foram:
Que esporte nós temos e que esporte queremos no âmbito escolar? Por que alguns esportes estão
presentes na escola e outros não? A hegemonia do esporte está presente na escola? Tivemos
como objetivo geral analisar se os esportes são ensinados nas aulas de Educação Física e,
também, identificar quais esportes são ensinados nas aulas de Educação Física, reconhecendo a
finalidade atribuída a esse conteúdo.

O Esporte na Escola: Aproximação com a Técnica


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O esporte é fruto da modernidade. A Inglaterra foi pioneira em utilizar o esporte como


meio de educação, por iniciativa de Thomas Arnold, diretor do colégio de Rugby, em 1828. A
valorização do esporte na escola inglesa, segundo Betti (1991), deve-se ao fato de considerarem
os jogos de influência socializante e por educar para a cooperação, a autodisciplina, a iniciativa, a
liderança, o espírito de equipe e ação coletiva, princípios esses necessários ao desenvolvimento
da Inglaterra. A Associação Cristã de Moços (ACM). Instituição religiosa Inglesa,1884,
espalhou-se pela Europa e chegou ao Estados Unidos disseminando as praticas esportivas
Popularizou o esporte ainda em muitos paises, incluindo o Brasil.
Especificamente no Brasil, século XIX, segundo Pagni (1997) era formulado as primeiras
políticas públicas de saúde, que disseminava alguns hábitos e práticas que visava a prevenção de
doenças. Nesse período, apesar das inúmeras oposições que ainda persistiam sobre o exercício
físico, o mesmo era representado como uma das fontes de saúde, da beleza física e da
possibilidade de regenerar nossa constituição racial. Porém, desta vez, reivindicava-se que os
exercícios físicos fossem para todos, ou seja, para maioria da população brasileira, e não apenas
para alguns, como foi para os operários europeus das grandes fábricas inglesas e francesas, e
também para a instituição militar.
Para conseguir que tal prática fosse efetivada na sociedade, o meio proposto foi a
instituição da obrigatoriedade da Educação Física nas escolas oficiais e particulares, juntamente
com as lutas pela extensão da rede de ensino e da constituição de um sistema nacional de
educação. Um dos defensores e idealizador de um programa de esporte para a escola no Brasil
segundo Pagni (1997), não foi um médico, mas sim um educador: Fernando de Azevedo. Esse
educador, além de lutar em favor da extensão da rede pública de ensino, com educação
obrigatória para toda população, também foi um dos pioneiros em tratar questões relacionadas a
Educação Física e Esporte.
A influência do esporte no sistema escolar, segundo Coletivo de Autores (1992), foi de tal
magnitude que tínhamos, então, não o esporte da escola, mas sim o esporte na escola, sendo
subordinada a códigos/sentido da instituição esportiva, caracterizando-se o esporte na escola
como uma extensão da instituição esportiva.
Os esportes adentram à escola tal qual era concebido nas ligas e federações, atrelado a
uma concepção tecnicista que foi incorporando aos poucos as características de performance, que
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entre 1969 e 1979 teve sua ascensão. Bregolato (2003) explica o esporte como uma construção
ufanista, pois a política educacional evidencia o alto rendimento como uma forma de reproduzir a
razão do Estado. Em 1971, cria-se por decreto, o Departamento de Educação Física e Desporto
nas faculdades de Educação Física. Assim sendo, forma-se professores técnicos que possibilita a
promoção do talento esportivo. Em 1980, a rede pública de ensino do Brasil, cria turmas de
treinamento visando à participação dos alunos em campeonatos oficiais, olimpíadas estudantis, e
outras formas de competição. Temos então o esporte sendo abordado como principal conteúdo
nas aulas de Educação Física.
Desse modo, podemos questionar como o esporte é utilizado em nossa sociedade, nas
escolas e, principalmente, nas aulas de Educação Física. O esporte, movimento culturalmente
construído e conteúdo da disciplina Educação Física, vem para a escola e para as aulas enquanto
meio/ferramenta alienantes ou enquanto contributo na formação humana e na construção de
saberes/conhecimentos do sujeito? Ressaltamos que o sentido de esporte tratado nesse estudo
refere-se ao esporte ministrado nas aulas de Educação Física, e não o esporte no contexto geral da
escola. Contudo, nada impede de as escolas desenvolverem projetos esportivos, ou até mesmo,
terem equipes de treinamentos.
Consideramos pertinente o fomento dos esportes nas escolas, já que, muitas das crianças
não têm acesso a esta manifestação que é o esporte de rendimento, algumas vezes por não terem
condições de pagar uma “escolinha” de treinamento de determinadas modalidades. Por mais que
existam gratuitamente projetos de iniciação esportiva nos municípios, muitas crianças ainda têm
dificuldades de ter acesso a esses e de se manter nos mesmos, pois, o fator transporte,
alimentação, vestimentas adequadas, entre outros, são aspectos que podem determinar a
impossibilidade de contato com esse fenômeno que é o esporte performance.
A escola poderia ser um espaço para o fomento dos projetos de iniciação esportiva. É
claro que tal ação deva ser contemplada como uma atividade extra-curricular, para alunos que
desejam tal prática, ou seja, fora das aulas de Educação Física, preferencialmente, num horário
contra-turno ao do período regular de aula que o aluno frequenta.
A competição esportiva quando presente em nossas escolas e aulas de Educação Física,
muitas vezes, é considerada como algo ruim para a escola e para os alunos. Há na atualidade forte
crítica a tal prática, digamos que uma espécie de “diabolização” da competição. Acreditamos que
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a competição é pertinente e deve ser discutida e refletida no ambiente escolar, principalmente,


nas aulas de Educação Física. Uma competição não se reduz apenas ao embate entre as equipes,
os alunos podem estudar tal assunto, ou seja, numa proposta de aula os próprios alunos
construiriam um campeonato, em que os mesmos fariam parte de comissões técnicas, criando os
chaveamentos, arbitrando os jogos, entre outras funções que acontecem numa competição.
A competição esportiva pode desenvolver a autonomia. O praticante, no caso o aluno,
pode tentar superar seus próprios limites vencendo obstáculos. A competição pode contribuir não
apenas para o meio esportivo, mas também par a vida daquele que joga, aprendendo a enfrentar
desafios para atingir objetivos desejados de forma ética e solidária.

O Esporte como Conteúdo da Educação Física Escolar


O Esporte “da” Escola: o que queremos?O esporte que queremos nas aulas de Educação
Física é o esporte enquanto conteúdo dessa área de conhecimento. Saberes esportivos que devem
ser estudados, apreendidos, analisados e questionados, já que é uma manifestação cultural e, por
isso, merece destaque em nossas aulas de Educação Física.
A fim de evidenciar a contradição e apresentar os contrapontos entre o esporte rendimento

e o esporte enquanto conteúdo da Educação Física escolar recorremos a Tani (2000), conforme

demonstra o quadro 01:

Esporte/Rendimento Esporte/Conteúdo da Educação

Objetiva o MÁXIMO ← ESPORTE →ÓTIMO


Visa o COMPETIÇÃO ← →APRENDIZAGEM
Ocupa-se com TALENTO ← →PESSOA COMUM
Preocupa-se com POTENCIAL ← →POTENCIAL E LIMITAÇÃO
Submete a TREINAMENTO ← →PRÁTICA
Orienta-se com ESPECIFICIDADE← →GENERALIDADE
Enfatiza o PRODUTO← →PROCESSO
ESPORTE
Resulta em INOVAÇÃO← →DIFUSÃO
Quadro 01 – Esporte Rendimento e conteúdo da Educação Física Tani (2000, p. 89).

Go Tani consegue demonstrar com clareza que o esporte como conteúdo vai além de uma
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prática física e esportiva em que somente o físico é privilegiado. Fica evidente a compreensão
que o esporte ensinado nas aulas de Educação Física é um conteúdo que deve ser estudado.
Não podemos também negar a prática motora e o conhecimento técnico de determinados
movimentos nas aulas. As habilidades motoras poderão ser desenvolvidas durante as aulas, mas
não acreditamos que esse seja o principal, nem o único, objetivo das aulas de Educação Física.
Tubino (2002), enfatiza dois pólos no esporte contemporâneo com diferenças marcantes,

traduzidas no Esporte-Espetáculo e no Esporte-Práxis.

Esporte-Espetáculo Esporte-Práxis

• Alta competição • Prática consciente e equilibrada para


as pessoas comuns
• Movido pela mídia
• Praticado em qualquer espaço
•Tendência ao profissionalismo
• Aberto a todos
• Exige sensacionalismo
• É o esporte dos heróis
•É determinado pela Ciência e
Tecnologia

Quadro 02 – Esporte-Espetáculo e Esporte-Práxis. Tubino (2002, p. 40).

Defendemos as modalidades esportivas sendo efetivadas para além do mero fazer, indo ao
encontro de uma educação para o desenvolvimento humano pelo esporte. Há que materializar
uma práxis pedagógica que propicia aos alunos uma formação global que contemple todas as
dimensões humanas, as motoras, as afetivas, as sociais e as cognitivas.
A Hegemonia Esportiva nas Aulas de Educação Física. A Educação Física que
almejamos na Educação Básica deve contemplar um esporte que transcenda as questões
hegemônicas, isto é, superando a idéia de esporte-espetáculo acelerado pelos meios de
comunicação que o coloca no centro de suas programações, transformando o mesmo em
mercadoria, isto é, o esporte conhecido na sua prática hegemônica pela mídia nas competições
esportivas, não constitui uma realidade educacional, pois não apresenta subsídios de formação
geral (Kunz, 2006).
Para Negrine e Gauer (1990, p. 80), “não significa que uma visão educativa de desporto
deva combater o desporto-performance”, esporte-espetáculo ou hegemônico como Kunz
propõem. Por mais que acreditamos que o esporte espetáculo, hegemônico e performático deva
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ser superado nas aulas de Educação Física, compreendemos que os alunos podem conhecer,
refletir e compreender, tal fenômeno, isto é, sendo possibilitado pelos professores a fazerem
relações com seu mundo social, político, econômico e cultural.
Se nossas escolas e, principalmente, professores contribuírem para que esportes menos
conhecidos ou menos hegemônicos façam parte do nosso contexto, poderemos ser um país com
um grande acervo cultura da manifestação esportiva. Sendo assim, seriamos um país também, do
rugby, do pólo aquático, do baysebol, da ginástica, do softbol, da esgrima, do tênis de campo, dos
saltos ornamentais, das lutas, entre outras modalidades que compõem o patrimônio mundial do
esporte em diversas culturas, em diversos locais e em diversos contextos.
Estruturas como piscinas, campos, ginásios e materiais sofisticados, estão longe de ser
alcançados em nosso país, porém não pararemos de buscar o melhor para nossa educação. Afinal,
se não tivéssemos uma cesta de basquete não ensinaríamos basquete? Se não tivéssemos traves de
futebol não ensinaríamos futebol? Se não tivéssemos uma rede de vôlei não ensinaríamos vôlei?
Ou seja, se não tivéssemos uma quadra não teríamos aulas de Educação Física?

Metodologia, Análise e Discussão dos Dados


Como procedimento metodológico a pesquisa se caracterizou como de campo que,
segundo Lakatos e Marconi (1996, p.75), “é aquela utilizada com o objetivo de conseguir
informações e/ ou conhecimento acerca de um problema”. O instrumento de coleta de dados foi o
questionário, constituído de perguntas abertas e fechadas que foram respondidas por escrito na
ausência do pesquisador. Os questionários foram aplicados a uma amostra de 22 professores de
Educação Física de escolas públicas do Ensino Médio do Município de Londrina, sendo que,
apenas 14 professores, entregaram respondidos os questionários.
Para a análise dos dados utilizou-se o método de análise de conteúdo, para efetuar as
categorizações. Para Bardin (1977, p. 117), “a categorização é uma operação de classificação de
elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento”,
tendo como objetivo apresentar de forma simplificada os dados brutos. Dessa forma, as respostas
dos professores questionados foram num primeiro momento separadas e, posteriormente,
agrupadas observando suas aproximações e convergências. Entretanto, mesmo respostas que
apareceram isoladas, foram colocadas em categorias, já que, víamos importância em considerar
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determinados aspectos da pesquisa.


Apresentaremos abaixo os resultados e as análises demonstrados em quadros para melhor
visualização dos mesmos, evidenciando as categorias, os professores e o número de ocorrências
convertidos em porcentagem.

O Ensino do Esporte nas Aulas de Educação Física


Ao questionar sobre se o professor ensina esporte em suas aulas, todos responderam que
sim. Apenas o professor 05 disse: as vezes mais aproximadamente como jogo.
Com relação à questão sobre quais esportes o professor ensina todos os sujeitos da
pesquisa responderam que ensinavam os esportes clássicos, ou hegemônicos: vôlei, futsal,
basquete e handebol.
Para além dos esportes clássicos, também foram desvelados por alguns professores,

modalidades menos praticadas, como mostra o quadro 03:

Modalidades menos Professores Índice de ocorrência


praticadas

Tênis de mesa 02, 10, 11 e 14. 28,5 %

Atletismo 06, 08, 11, e 13. 28,5 %

Futebol 02, e 09. 14,2 %

Xadrez 02 e 10. 14,2 %

Softbol 06 e 08. 14,2 %

Tênis de campo 06. 7,1 %

Espirobol 10. 7,1 %

Futebol suíço 0 7,1 %

Badminton 14. 7,1 %

Futebol ameicano 14. 7,1 %

Quadro 03 – Modalidades menos praticadas

Apesar dos autores, Kunz (2006), Negrine e Gauer (1990), apresentarem o atletismo como
uma prática hegemônica e bastante presente nas aulas de Educação Física verificamos que tal
modalidade é um esporte não muito praticado em nossas escolas. Observa-se que a pesquisa
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demonstrou que apenas 04 (quatro) dos 14 (quatorze) professores abordaram o atletismo em suas
aulas.
Houve também uma pergunta que se relacionou aos critérios de escolha das modalidades.

Critérios de escolha pelas Professores Índice de ocorrência


modalidades

Diretrizes Curriculares 02, 09, 10, 11 e 13. 35,7 %


Estaduais (DCE)

Estrutura da escola (material 02, 06, 08 e 09. 28,5 %


e espaço)

Planejamento em conjunto 03 e 12. 14,2 %


com outros professores

Conhecimento prévio dos 06 e 08. 14,2 %


alunos sobre determinados
esportes

Quadro 04 – Critérios de escolha pelas modalidades

Percebemos que o vôlei, o basquete, o futsal e o handebol se fazem mais presente, devido
às condições em que se encontram nossas escolas.
Com relação às Diretrizes Curriculares Estaduais, podemos fazer uma inferência que
também remete ao exposto acima, que diz respeito a estrutura das escolas, já que, as mesmas
propõem as modalidades mais clássicas ou hegemônicas. Notou-se que as organizações
curriculares vão ao encontro da realidade escolar atual. Entretanto, não podemos ficar presos no
que os documentos apresentam. Temos, enquanto professores, autonomia para mudarmos ou
alterarmos nossos planejamentos de acordo com a estrutura que a escola se encontra. Pois, se
tivermos uma piscina ou outros espaços, ou materiais que nos possibilitam o estudo e a prática de
outras modalidades que não sejam as hegemônicas, podemos e devemos ensinar e praticar com
nossos alunos.
Quando os professores foram questionados sobre qual a importância do esporte ser
ensinado nas aulas de Educação Física, a pergunta em questão, também contribuiu para
reconhecermos qual a finalidade do esporte nas aulas de Educação Física. Sendo assim, desvelou-
se algumas categorias como mostra o quadro 05 abaixo:
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Importância do ensino do esporte para os Professores Índice de ocorrência


professores

Conhecimento/contextualização/conteúdo 04, 06, 09 e 10. 28,5 %

Gosto pela prática esportiva 02, 10 e 13 21,4 %

Formação dos alunos 03 e 08. 14,2 %

Socialização 10 e 12. 14,2 %

Lazer 10. 7,1 %

Treinamento 05. 7,1 %

Quadro 05 – Importância do esporte para os professores

A maioria dos professores estão preocupados com a educação, entendendo o esporte como
um conteúdo que possui conhecimento importantes ao processo de formação humana, sendo
contextualizado em nossa sociedade, pois acreditam que os esportes contribuem nesse sentido.
Por outro lado, os professores 02, 10 e 13, aceitam o esporte como importante nas aulas,
ao proporcionar aos alunos o prazer pela experiência física e esportiva. Assim, observamos que
tais professores acreditam que a Educação Física ainda é uma área somente de atividade, em que
a prática motora em excesso deve se fazer presente em todas as aulas. Defendemos que tais
movimentos não podem ficar no fazer pelo fazer, no jogar pelo jogar. Não se trata de negar a
prática, ela deve estar relacionada a um contexto social e político.
Os professores 10 e 12, ambos vêem o esporte como promoção da socialização nas aulas
de Educação Física. A escola é uma instituição de ensino e de aprendizagem, mas que também
pode contribuir com socialização. Todavia, não são somente o jogo, a dança, a luta e a ginástica,
que vão socializar os educandos, já que, os mesmos se encontram numa instituição que por si só é
socializadora. Todo o contexto escolar pode proporcionar a socialização, bem como, todas as
disciplinas que são ensinadas e não somente a Educação Física e seus conteúdos específicos.
Na questão referente à concepção dos professores sobre a contribuição do esporte em
suas aulas para a formação/educação do aluno e como isso ocorre às categorias levantadas
evidenciam um alto grau de convergência a pergunta anterior que tratava da importância, pois os
professores acreditam que o esporte é relevante para a formação/educação do aluno.Observou-se
que os professores consideram as modalidades esportivas como base das aulas de Educação
Física.
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O esporte contribui com: Professores Índice de ocorrência

As relações sociais (cooperação, respeito, 02, 04, 08, 09, 11, 12 e 14. 50 %
solidariedade, disciplina, cidadania,
socialização, inclusão)

O conhecimento e saberes 06, 07, 09, 10 e 13. 35,7 %

O respeito às regras e colegas 03, 07 e 14. 21,4 %

A promoção da saúde 08 e 12. 14,2 %

A assimilação de táticas e técnicas 05. 7,1 %

Quadro 06 – Contribuição do esporte.

Observamos que os professores 08 e 12 apresentaram respostas voltadas à concepção de


saúde. Para esses educadores a Educação Física escolar está a serviço da saúde e o movimento
fica atrelado somente ao desenvolvimento dos aspectos biológicos e orgânicos. Essa concepção
de esporte remete a pedagogia tradicional influenciada pela tendência biologicista compactuada
com o desenvolvimento da aptidão física.
Para o professor 05 a assimilação pelos alunos das técnicas e táticas das diferentes
modalidades esportivas é suficiente para a formação do aluno. O problema centra-se no
aprendizado do esporte ficar reduzido apenas aos elementos técnicos e táticos de uma dada
modalidade, tendo como objetivo fim em si mesmo. Na discussão contemporânea da educação a
técnica tem sido alvo de criticas e até mesmo de negação. Bracht esclarece que “[...] não é por se
ensinar a técnica que se é tecnicista, a questão reside em tomá-la como fim em si e não como
meio de solução de problemas” (Fensterseifer, 2008, p.397)
Não podemos considerar as aulas de Educação Física como um local de treinamento. É
claro que se percebemos em nossos alunos habilidades e técnicas apuradas para alguma
modalidade, podemos sim encaminhar e até treiná-lo, contudo num horário do contra-turno aos
das aulas de Educação Física ou como atividade extra-curricular.
Os professores, 06, 07, 09, 10 e 13, apresentam preocupação com a contextualização do
esporte no mundo atual, isto é, elucidam outros possíveis assuntos a serem estudados, como:
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questões relacionadas a política, capitalismo, consumismo, ecologia, violência, atividade física e


saúde, ética, moral, etc. Dessa forma, podemos inferir que tais professores vêem o esporte nas
aulas de Educação Física, enquanto conteúdo que possibilita a construção de saberes e
conhecimentos relacionados ao contexto sócio-econômico-político-cultural.
O esporte enquanto prática tão só deve ser substituído por meio de estratégias que
proporcione aos alunos, reflexão, análise, discussão, compreensão, construção e re-elaboração.
Entretanto, não desconsideramos a prática motora, pois a vivência e a experimentação do
movimento são fundamentais e devem estar presentes nas aulas de Educação Física.

Considerações finais
Percebeu-se na análise e discussão de dados, que ainda nossas escolas e nossas aulas de
Educação Física, têm muito a superar e romper os paradigmas tradicionais que ainda prevalecem
nesse ambiente.
Segunda a pesquisa, as modalidades mais praticadas são as mesmas a algum tempo, ou
seja, não superamos o fator da hegemonia esportiva na escola reforçada pela mídia e evidenciada
por estudos teóricos da área. Constatamos também que temos professores que acreditam que a
saúde, o treinamento e o lazer são algumas das finalidades atribuídas ao esporte para nas aulas de
Educação Física. Assim, podemos compreender que as aulas de Educação Física no âmbito
escolar não apresentam mudanças, ainda trazendo resquícios da política pública de saúde do
Século XIX. Temos também, numa visão reduzida às partes, o esporte na escola enquanto técnica
para treinos e para lazer e entretenimento.
Contudo, alguns professores apresentaram em suas respostas possíveis melhora e
transcendência em suas práxis pedagógica, uma vez que, mostraram preocupação com a
formação/educação do aluno, evidenciando a importância do aprendizado de um conteúdo
cultural e não somente da vivência de prática estéril e imitativa.
Os professores que demonstraram compreender o esporte enquanto
conteúdo/conhecimento, também foram os que apresentaram outras alternativas, esportes menos
praticados e menos hegemônicos em suas aulas. Dessa forma, podemos concluir que mesmo que
nossas escolas não apresentem estruturas e materiais apropriados, e mesmo que nossas diretrizes
apresentem somente algumas modalidades, podemos ensinar aos nossos alunos outras
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modalidades deferentes daquelas do seu cotidiano.


Portanto, queremos um esporte que seja “da” escola, que contribua com o
desenvolvimento dos alunos, seja no âmbito educacional, social, político, econômico e cultural.
Queremos um esporte que favoreça ao educando o conhecimento, a vivência, a compreensão e a
construção de novos saberes e conhecimentos. Que dê condições ao aluno de se superar,
transcender e transformar por meio da reflexão, da criticidade, do dialogo tudo aquilo que o
incomoda, e por extensão, da ação.

REFERÊNCIAS

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Educação Física e Desportos, 1997.

BREGOLATO, Roseli Aparecida. Cultura corporal do esporte: São Paulo. Ícone, 2003.

CAPARROZ, Francisco. Entre a Educação Física da Escola e a Educação Física na Escola: a


Educação Física como componente curricular. Vitória: UFES, 1997.

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da educação física. São Paulo: Cortez,


1992.

KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógico do esporte. 7. ed. Ijuí: Unijuí, 2006.

LOVISOLO, Hugo. Esporte Competitivo e Espetáculo Esportivo. IN: MOREIRA, Wagner


Wey; SIMÕES, Regina. Fenômeno esportivo no início de um novo milênio. Piracicaba: Unimep,
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NEGRINE, Airton; GAUER, Ruth Maria Chittó. Educação Física e Desporto: uma visão
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PAGNI, Pedro Ângelo. no A prescrição dos exercícios físicos Brasil (1850-1920): cuidados
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TANI, Go. Esporte e processos pedagógicos. IN: MOREIRA, Wagner Wey; SIMÕES, Regina
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4460

TUBINO, Manoel. As teorias da Educação Física e do esporte: uma abordagem


epistemológica. São Paulo: Monole, 2002.

VIANNA, Cláudia. Sexo e gênero: masculino e feminino na qualidade da educação escolar.


IN: AQUINO, Julio Groppa (org.). Sexualidade na escola: alternativas teóricas e práticas. São
Paulo: Summus, 1997.

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