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ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DO PORTO

Curso de Mestrado em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica

A Relevância da Teoria Psicanalítica na


Prática de Enfermagem em Saúde
Mental e Psiquiátrica

Autoras

Ana Santos (ep11343)


Paula Coutinho (ep11342)

Porto, 2024
ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DO PORTO

A Relevância da Teoria Psicanalítica na Prática de


Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica

______________________________________________

Trabalho elaborado no âmbito da Unidade Curricular de


Enfermagem em contexto de Saúde Mental e
Psiquiátrica, inserida no Mestrado de Enfermagem de
Saúde Mental e Psiquiátrica.

Orientador: Profº. Dr. º Wilson Abreu

Autoras: Ana Santos (ep11343)


Paula Coutinho (ep11342)

Porto, 2024
INDICE

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 3

1. FUNDAMENTOS DO MODELO CONCEPTUAL PSICANALÍTICO ............................................... 5

1.1 Contribuições decisivas para o modelo conceptual psicanalítico ......................................... 7

1.2 Conceitos fundamentais da psicanálise ................................................................................ 9

1.2.1 Transferência: o fenómeno da projeção e repetição ............................................ 9

1.2.2 Contratransferência: reações do terapeuta ao cliente ....................................... 10

1.2.3 Snálise dos sonhos............................................................................................... 11

2. DESTAQUE PARA ESTUDOS QUE DEMONSTRAM A EFICÁCIA DO MODELO CONCEPTUAL


PSICANALITICO. ........................................................................................................................... 13

3. DISCUSSÃO CRÍTICA DAS LIMITAÇÕES E CONTROVÉRSIAS DA APLICABILIDADE DO MODELO


CONCEPTUAL PSICANALÍTICO ..................................................................................................... 14

4. A IMPORTÂNCIA DA TEORIA PSICANALÍTICA NO DESENVOLVIMENTO DE OUTROS MODELOS


CONCEPTUAIS ............................................................................................................................. 15

5. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA DE ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL E PSIQUIÁTRICA . 16

6. CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 18

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 20

ANEXOS
Anexo I – Apresentação em Power Point do trabalho académico
INTRODUÇÃO

No âmbito da Unidade Curricular Enfermagem em contexto de Saúde Mental e Psiquiátrica,


inserida no Mestrado de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica no ano letivo 2023/2024,
na Escola Superior de Enfermagem do Porto, foi-nos dada a possibilidade de realizar um trabalho
académico que abordasse um modelo conceptual e a sua operacionalidade/ implicação para o
pensamento e prática em enfermagem de saúde mental e psiquiátrica.

A enfermagem em saúde mental e psiquiátrica (SMP), como campo de atuação especializado,


tem testemunhado uma evolução significativa, impulsionada pela constante evolução das
teorias que fundamentam as suas práticas. Ao explorar o desenvolvimento histórico dessas
teorias em saúde mental, desde as perspetivas psicanalíticas de Sigmund Freud até ás
perspetivas mais contemporâneas, como as teorias de Madeleine Leininger e Dorothea Orem,
ficamos com uma visão ampla das influências teóricas que moldam o cuidado psiquiátrico.

A teoria de Enfermagem é um conjunto de conceitos inter-relacionados que explicam um


fenómeno numa determinada área, baseada em filosofia e dados científicos, com o objetivo de
descrever, explicar, predizer e prescrever cuidados. Por outro lado, um modelo conceptual é um
conjunto de ideias abstratas que representam um fenómeno, descrevendo as relações entre os
conceitos. Alguns autores consideram que os modelos conceituais são mais globais e abstratos,
enquanto as teorias são mais concretas e específicas. (Taffner et al., 2022)

Os modelos conceptuais desempenham um papel crucial na enfermagem, fornecendo aos


enfermeiros uma ferramenta valiosa para compreender a inter-relação entre diversas teorias e
sua aplicação prática em várias situações clínicas. Esta compreensão permite aos enfermeiros
adaptar as suas práticas de acordo com as necessidades específicas de cada cliente,
desenvolvendo planos de cuidados personalizados que se mostram eficazes e pertinentes em
diferentes contextos clínicos.

Na área da enfermagem em SMP, esses modelos conceptuais tornam-se ainda mais essenciais,
fornecendo uma estrutura que facilita a compreensão e aplicação das teorias na prática clínica.
Ao organizar e identificar práticas de enfermagem relevantes para a saúde mental, esses
modelos capacitam os enfermeiros a criar planos de cuidados individualizados e estratégias

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baseadas em evidências e teoria, promovendo uma abordagem mais holística e eficaz no
cuidado aos clientes neste contexto específico. (Happell et al., 2020)

Os modelos conceptuais também ajudam os enfermeiros a entender a pessoa como um todo,


não apenas como um conjunto de problemas ou sintomas. Eles incentivam os enfermeiros a
considerar o contexto social, cultural e ambiental em que o individuo vive, bem como as suas
necessidades físicas e emocionais. (Pehlivan & Güner, 2016)

A compreensão profunda dos modelos conceptuais também capacita os enfermeiros a


reconhecer padrões comportamentais, antecipar desafios e personalizar os cuidados de acordo
com as necessidades individuais dos clientes. Ao integrar esses modelos na prática diária, os
enfermeiros de SMP fortalecem a sua capacidade de promover a recuperação, reduzir o estigma
associado á doença mental e melhorar a qualidade de vida dos seus clientes.

A enfermagem de SMP integra diversos modelos conceptuais, apoiados em teorias, para


compreender e abordar as complexidades da saúde mental. Incluem o modelo conceptual
psicanalítico, o social, o comportamental, o existencial, o médico, o da comunicação entre
outros. Estes modelos oferecem uma abordagem holística da enfermagem psiquiátrica,
garantindo um cuidado integral ao individuo. Este espectro tão diversificado ilustra a riqueza de
perspetivas disponíveis para os enfermeiros especialistas em enfermagem de saúde mental e
psiquiátrica.

A teoria psicanalítica, desenvolvida por Sigmund Freud, desempenha um papel significativo na


influência da enfermagem contemporânea. Ao enfatizar que os processos inconscientes têm um
impacto direto no comportamento humano, a teoria psicanalítica oferece insights valiosos sobre
a origem da doença mental, destacando que os conflitos predominantemente inconscientes
podem desencadear sintomas simbólicos decorrentes da falta de resolução no
desenvolvimento. Assim, torna-se imprescindível para a prática de enfermagem de SMP,
compreender as teorias psicanalíticas e a sua aplicação, fornecendo uma base teórica essencial
para a compreensão aprofundada do comportamento humano e da doença mental. (Happell et
al., 2020).

A influência da psicanálise na enfermagem de SMP também se estende às contribuições de


Melanie Klein, cujo trabalho em "Amor, Culpa e Reparação" destaca a importância de
compreender as experiências emocionais precoces na formação da psique. (Oliveira, 2007) Essa
perspetiva enriquecedora permite aos profissionais de enfermagem abordar não apenas os

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sintomas que se manifestam, mas também as raízes psíquicas subjacentes das condições
mentais.

A aplicação da psicanálise na compreensão dos mecanismos de defesa psicológicos, destacada


por autores como Erik Erikson em "Childhood and Society”, torna-se uma ferramenta valiosa
para os enfermeiros. Reconhecer e interpretar esses mecanismos permite a identificação de
padrões comportamentais prejudiciais, trabalhando em colaboração com os clientes para
promover mudanças positivas. (Berne, 1961).

Este trabalho pretende explorar a interseção entre a teoria psicanalítica de autores


fundamentais como Freud, Klein, Bowlby, Winnicott, Erikson e Berne e a prática da enfermagem
na saúde mental e na patologia psiquiátrica. Assim, ao longo deste trabalho, analisaremos o
impacto da teoria psicanalítica na enfermagem, destacando os princípios fundamentais da
psicanálise e os seus conceitos, bem como o impacto destes na prática da enfermagem de SMP.

A escolha do modelo conceptual psicanalítico para reflexão do pensamento e prática da


enfermagem em saúde mental e psiquiátrica é fundamentada na sua capacidade única de
explorar as profundezas da psique humana, fornecendo uma estrutura abrangente para
compreender os desafios enfrentados pelos clientes.

1. FUNDAMENTOS DO MODELO CONCEPTUAL PSICANALÍTICO

A teoria psicanalítica, desenvolvida por Sigmund Freud no início do século XX, é uma das
abordagens mais influentes na compreensão da mente humana e dos processos psicológicos.
Freud, um médico austríaco, revolucionou a psicologia ao introduzir conceitos pioneiros, como
o inconsciente, o modelo estrutural da personalidade e os mecanismos de defesa, englobando
na sua teoria mais 3 teorias que a fundamentam.

Esta abordagem complexa tem sido crucial para o desenvolvimento da psicologia e influenciou
diversas áreas, incluindo a enfermagem em saúde mental.

A teoria psicanalítica divide a mente em três componentes distintos: consciente, pré-consciente


e inconsciente. O consciente refere-se aos pensamentos e sentimentos acessíveis à perceção

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imediata. O pré-consciente contém informações que não estão atualmente em foco, mas podem
ser trazidas à consciência. O inconsciente é a porção mais profunda e inacessível, abrigando
pensamentos, desejos e memórias reprimidas. (Freud, 1915).

Freud defende que uma grande parte da atividade mental ocorre no inconsciente, influenciando
o comportamento e as emoções sem a consciência direta do indivíduo. A análise desses
componentes fornece insights sobre os processos psicológicos subjacentes, fundamentando
intervenções terapêuticas.

O modelo estrutural da personalidade, composto por id, ego e superego, é um dos conceitos
chave da teoria psicanalítica. O id é a parte mais primitiva e instintiva, buscando a satisfação
imediata de impulsos e desejos. O ego atua como mediador entre o id e a realidade externa,
buscando equilibrar impulsos instintivos com as exigências sociais. O superego representa as
normas morais internalizadas, funcionando como uma instância crítica que guia o
comportamento de acordo com padrões éticos e sociais. (Freud, 1923)

A dinâmica entre essas três instâncias molda a personalidade e influencia as escolhas e ações do
indivíduo. A compreensão deste modelo proporciona uma base para abordar conflitos internos
e compreender a origem de comportamentos complexos.

O desenvolvimento psicossexual, outro pilar da teoria psicanalítica, é caracterizado pela


progressão através de estadios distintos. Freud delineou cinco estadios: oral, anal, fálico,
latência e genital. Cada estadio está associado a áreas específicas do corpo e a fontes
particulares de prazer, desempenhando um papel crítico na formação da personalidade. (Freud,
1905)

No estadio oral, por exemplo, o foco está na satisfação das necessidades orais do bebé. O
estadio anal envolve a exploração das funções de eliminação, enquanto o fálico é marcado pela
identificação sexual e pelo complexo de Édipo ou Electra. A latência é um período de dormência
em termos de desenvolvimento sexual, e o estadio genital representa a maturidade sexual
completa.

A aplicação prática destes estadios é evidente na compreensão de padrões de comportamento


e nas origens de possíveis conflitos psicológicos. A enfermagem em saúde mental pode
beneficiar ao considerar as influências desses estadios na abordagem terapêutica.

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Os mecanismos de defesa são estratégias psicológicas que o ego utiliza para lidar com conflitos
entre o id, o superego e as exigências da realidade. Freud (1936) identificou uma série de
mecanismos, incluindo a repressão, projeção, racionalização, sublimação, entre outros.

A repressão, por exemplo, envolve a exclusão de pensamentos perturbadores da consciência. A


projeção ocorre quando características indesejadas são atribuídas a outros. A racionalização é a
explicação lógica e aceitável para comportamentos irracionais. A sublimação redireciona
impulsos indesejados para atividades socialmente aceitáveis.

A compreensão desses mecanismos fornece uma visão sobre como os indivíduos lidam com o
stress psicológico, o que é crucial na prática de enfermagem em saúde mental. Reconhecer estes
mecanismos pode sustentar estratégias de intervenção e promover uma abordagem mais eficaz
nos cuidados ao cliente.

1.1 Contribuições decisivas para o modelo conceptual psicanalítico

A teoria psicanalítica, desenvolvida por uma série de proeminentes teóricos ao longo do século
XX, tem desempenhado um papel fundamental na compreensão das complexidades da mente
humana e do comportamento. Freud estabeleceu os alicerces sobre os quais outros teóricos
construíram suas próprias interpretações da psicanálise.

Anna Freud desempenhou um papel crucial no desenvolvimento da teoria psicanalítica,


sobretudo no domínio da psicanálise infantil. O seu trabalho revolucionário concentrou-se na
compreensão do desenvolvimento da personalidade desde a infância, explorando as
complexidades das dinâmicas familiares e identificando mecanismos de defesa específicos nas
crianças. Ela também explorou o impacto das relações objetais (experiências emocionais e
padrões de relacionamento da criança com figuras importantes em sua vida) na formação da
personalidade e na saúde mental ao longo da vida. As suas contribuições incluem ainda o
estabelecimento da psicanálise infantil como uma disciplina distinta, a aplicação da teoria dos
mecanismos de defesa às crianças, insights sobre a formação do ego, estudos sobre o trauma
infantil e a expansão do conceito de identificação. (Fontoni & Fulgencio, 2020)

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A teoria do ego de Anna Freud representa uma contribuição significativa para a compreensão
da estrutura psíquica e do desenvolvimento humano. A sua abordagem destaca o papel
mediador e organizador do ego na psique. A relevância da teoria do ego de Anna Freud reside
na sua capacidade de explicar como o ego, enquanto uma instância da mente, lida com as
exigências do mundo exterior, as mudanças internas do id (instintos e desejos) e as normas e
valores morais do superego. Ela sublinhou a importância do ego como uma entidade separada,
encarregada da negociação eficaz entre diferentes forças psíquicas. (Freud, 2006)

Melanie Klein é reconhecida como uma das principais representantes da segunda geração
psicanalítica mundial, desempenhando um papel fundamental no desenvolvimento da teoria
psicanalítica ao enfatizar a agressividade como um aspecto crucial nos primeiros meses de
desenvolvimento da criança. Divergindo de Freud, Klein concentrou-se na análise psicológica
das mentes infantis, especialmente em relação a fantasias, medos e angústias. (Assis, 1994)

Ela desenvolveu uma técnica de análise através do brincar, interpretando simbolicamente as


manifestações inconscientes da criança durante atividades lúdicas. Klein também aborda as
relações objetais, argumentando que as fantasias são estruturas através das quais o sujeito se
relaciona com objetos externos. (Oliveira, 2007)

Donald W. Winnicott fundamentou o seu trabalho tendo por base a teoria psicanalítica. A sua
teoria sublinha o papel crucial das primeiras relações interpessoais no desenvolvimento
saudável, enfatizando o brincar, o ato criativo e a formação de um self verdadeiro. Segundo
Coelho Jr. e Barone (2007), a teoria de Winnicott desempenha um papel crucial na construção
do significado ético da psicanálise, especialmente em relação à comunicação.

O foco que Winnicott dá aos conceitos de "falso self" e "verdadeiro self" destaca a importância
do desenvolvimento emocional infantil nas relações interpessoais. Ele defende que a formação
de um "falso self" ocorre como uma adaptação superficial para atender às expectativas externas,
enquanto o "verdadeiro self" reflete a expressão autêntica da personalidade, desenvolvida em
relações empáticas e consistentes, principalmente com a figura materna. (Coelho Jr. e Barone,
2007 Apesar de basear-se na psicanálise, a abordagem de Winnicott é distintiva,
proporcionando uma compreensão única e profunda do desenvolvimento humano e das
dinâmicas psicológicas.

Jacques Lacan, com "O Estadio do Espelho como Formador da Função do Eu", reconfigurou a
psicanálise, introduzindo o "estadio do espelho" e enfatizando a linguagem e a simbolização. A

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teoria psicanalítica é fundamental no trabalho de Lacan, pois ele acreditava que a psicanálise
era uma disciplina científica que poderia ajudar as pessoas a entenderem melhor a si mesmas e
a lidar com seus problemas emocionais e psicológicos. Ele desenvolveu uma abordagem única
para a prática clínica, que enfatiza a importância da transferência e da interpretação. (Leitão &
Mendes, 2018)

1.2 Conceitos fundamentais da psicanálise

A transferência e a contratransferência são conceitos fundamentais na psicanálise e a sua


compreensão é crucial na prática clínica, especialmente na enfermagem psiquiátrica. A
transferência refere-se à projeção de sentimentos, experiências e expectativas do cliente para
o profissional de saúde, enquanto a contratransferência representa as respostas emocionais e
experiências do profissional em relação ao cliente.

Na prática clínica, especialmente na psicanálise e na psicoterapia, os conceitos de transferência


e contratransferência desempenham papéis fundamentais, influenciando a dinâmica entre o
cliente e o profissional de saúde. Esses fenômenos psicológicos, introduzidos por Freud, são
cruciais para compreender as complexidades das interações terapêuticas e impactam
diretamente o processo de tratamento.

1.2.1 Transferência: O Fenómeno da Projeção e Repetição

A transferência é um fenómeno psicológico em que os sentimentos, emoções e padrões de


relacionamento de um indivíduo são transferidos para outra pessoa, neste caso, o terapeuta.
Esses sentimentos transferidos frequentemente refletem dinâmicas passadas, especialmente
aquelas relacionadas a figuras significativas na vida do cliente, como pais ou cuidadores.
(Minerbo, M., 2013)

A transferência pode se manifestar de várias formas, podendo desencadear sentimentos


intensos de amor, ódio, confiança ou desconfiança em relação ao terapeuta, muitas vezes sem

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uma base objetiva para esses sentimentos. Essas projeções, embora inicialmente inconscientes,
fornecem ao terapeuta informações valiosas sobre os conflitos internos e as experiências
emocionais profundas do cliente.

Por exemplo, um cliente que teve uma relação difícil com um pai autoritário pode transferir
sentimentos de raiva e submissão para o terapeuta.

Esta dinâmica permite que o terapeuta explore questões não resolvidas e o ajude a
compreender e enfrentar padrões de relacionamento problemáticos. Compreender estas
transferências permite ao enfermeiro abordar as necessidades emocionais do mesmo de forma
mais eficaz.

1.2.2 Contratransferência: Reações do Terapeuta ao Cliente

Contratransferência refere-se aos sentimentos, emoções e reações emocionais do terapeuta em


relação ao cliente. Estas respostas podem ser influenciadas pelas próprias experiências do
terapeuta, incluindo as suas histórias de vida, traumas passados e personalidade. Assim, a
contratransferência pode influenciar a qualidade da relação terapêutica.

É crucial que os terapeutas estejam cientes de suas próprias reações emocionais para evitar que
elas influenciem negativamente a terapia. Uma contratransferência não reconhecida pode levar
a respostas inadequadas ou a uma falta de compreensão sobre as necessidades do cliente.
(Minerbo, M., 2013)

A contratransferência pode ser positiva, negativa ou neutra e pode variar ao longo do curso do
tratamento.

Por exemplo, se um cliente evoca memórias dolorosas no terapeuta, pode ocorrer uma
contratransferência negativa. Se não for reconhecida e gerida, isso pode impactar a qualidade
da terapia. Por outro lado, uma contratransferência positiva pode ser útil se refletir uma empatia
autêntica e uma conexão genuína com o cliente.

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Se um enfermeiro experimenta sentimentos intensos em relação a um cliente, isso pode afetar
a objetividade e a capacidade de fornecer cuidados eficazes. Reconhecer e gerir essas reações
emocionais é essencial para manter uma relação terapêutica saudável e produtiva.

Implicações para a relação terapêutica

Na relação terapêutica na prática de enfermagem os conceitos de transferência e


contratransferência assumem um papel central, nomeadamente:

✓ Compreensão Profunda do Cliente: A transferência e contratransferência oferecem uma


janela para as dinâmicas emocionais inconscientes do cliente, permitindo uma
compreensão mais profunda dos desafios psicológicos.
✓ Intervenções Mais Eficazes: Ao reconhecer e compreender a transferência e
contratransferência, os terapeutas podem ajustar suas abordagens terapêuticas para
atender às necessidades específicas do cliente.
✓ Exploração de Padrões Relacionais: A transferência muitas vezes revela padrões
relacionais recorrentes na vida do cliente. Isso permite uma exploração mais profunda
desses padrões e a possibilidade de promover mudanças positivas.
✓ Consciência Pessoal do Terapeuta: A contratransferência destaca a importância da
consciência pessoal do terapeuta. Isso promove uma prática mais reflexiva, reduzindo o
risco de reações não conscientes que podem prejudicar a terapia.

1.2.3 Análise dos sonhos

A análise dos sonhos, uma prática essencial na psicanálise, emerge como uma ferramenta rica e
dinâmica na enfermagem psiquiátrica contemporânea, integrando conceitos teóricos
fundamentais com abordagens terapêuticas inovadoras.

Freud, pioneiro na interpretação dos sonhos, considerava os sonhos como "a via régia para o
inconsciente". Nesse contexto, os sonhos são compreendidos como expressões simbólicas de
conflitos internos, desejos reprimidos e experiências passadas. (Freud, 1900) Essa perspetiva
pode influenciar diretamente a prática da enfermagem psiquiátrica, pois os enfermeiros podem

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utilizar a análise dos sonhos como uma lente para explorar as camadas mais profundas da psique
do cliente.

Um exemplo prático dessa abordagem é observado quando um cliente relata frequentes


pesadelos relacionados a situações de abandono. Essa manifestação onírica pode sugerir
questões subjacentes relacionadas ao medo da rejeição ou solidão. A aplicação de técnicas
psicodinâmicas durante as sessões terapêuticas permite que os enfermeiros auxiliem os clientes
na compreensão e confrontação dessas emoções reprimidas (Jung, 1916).

A análise dos sonhos também pode desempenhar um papel crucial na enfermagem psiquiátrica
como ferramenta diagnóstica. A identificação de padrões recorrentes nos sonhos oferece
insights valiosos sobre as dinâmicas emocionais e psicológicas do cliente. Schredl, M. et al.
(2000) destacam a importância de uma abordagem sistemática na interpretação dos sonhos
para diagnosticar e compreender as complexidades das condições de saúde mental.

A abordagem integrativa da análise dos sonhos também se estende às práticas de diagnóstico e


formulação de planos de cuidados. Ao identificar padrões recorrentes nos sonhos, o terapeuta
pode adaptar intervenções de forma mais precisa. Isso não apenas enriquece o plano de
cuidados, mas também capacita o cliente a participar ativamente no seu processo de tratamento
(Schredl, M. et al., 2000)

A interpretação dos sonhos encontra espaço até mesmo em abordagens terapêuticas


contemporâneas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Hartmann destaca que,
quando inserida nesse contexto, a análise dos sonhos pode ser utilizada para reestruturar
pensamentos negativos e padrões disfuncionais, enriquecendo a abordagem prática da TCC na
enfermagem psiquiátrica. (Hartmann, 2011)

Em síntese, a análise dos sonhos na enfermagem de SMP pode transcender a mera interpretação
simbólica para tornar-se uma ferramenta prática, diagnóstica e terapêutica. Integrando
conceitos fundamentais da psicanálise com as práticas contemporâneas, os enfermeiros podem
oferecer cuidados mais holísticos e centrados no cliente, promovendo uma compreensão mais
profunda dos desejos inconscientes e das complexidades emocionais que permeiam o cuidado
em saúde mental.

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2. DESTAQUE PARA ESTUDOS QUE DEMONSTRAM A EFICÁCIA DO MODELO

CONCEPTUAL PSICANALITICO.

A teoria psicanalítica tem desempenhado um papel significativo na compreensão das dinâmicas


psicológicas e emocionais dos indivíduos. Na enfermagem em SMP, a aplicação desta teoria tem
sido explorada como uma ferramenta valiosa para compreender e abordar os desafios
emocionais enfrentados pelos clientes. A teoria psicanalítica, fundamentada no entendimento
do inconsciente, dos processos de defesa e dos estadios de desenvolvimento psicossexual,
oferece uma lente única para a compreensão das complexidades mentais. Ela ajuda os
enfermeiros a compreender os comportamentos inconscientes dos clientes, a identificar
conflitos subjacentes e a aumentar a consciência do cliente sobre as causas de seus
comportamentos. Além disso, a teoria psicanalítica fornece conceitos importantes, como
mecanismos de defesa, transferência, contratransferência e empatia, que são úteis na prática
de enfermagem psiquiátrica. (Pehlivan, T., & Güner, P., 2016)

Kurimoto et al. (2017) referem a utilização da teoria psicanalítica na enfermagem SMP como
promotora de um cuidado mais centrado no sujeito e destacam a importância da compreensão
do cuidado de enfermagem a partir da concepção do sujeito do inconsciente proposta por
Lacan. Referem ainda que a utilização da pesquisa narrativa, fundamentada na psicanálise
freudiana e lacaniana, evidencia a necessidade de os profissionais de enfermagem se absterem
de uma posição de saber o que é melhor para o outro, enfatizando a singularidade do cliente e
a construção de saídas únicas para a resolução dos mesmos.

A relação terapêutica é um dos pontos-chave explorados na aplicação da psicanálise na


enfermagem. A ênfase na relação entre o enfermeiro e o cliente, permitindo a expressão aberta
de pensamentos e sentimentos, espelha a abordagem psicanalítica da livre associação e da
análise da transferência e contratransferência (Dossey & Keegan, 2012). Essa perspetiva procura
compreender as origens inconscientes dos sintomas e promover a resolução de conflitos
psicológicos.

Numerosos estudos têm investigado a eficácia das intervenções baseadas na teoria psicanalítica
na enfermagem em saúde mental. Uma revisão sistemática de Jackson et al. (2017) examinou
diversos ensaios clínicos e estudos de caso que aplicaram intervenções psicanalíticas em

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contextos de enfermagem psiquiátrica. Os resultados indicaram melhorias significativas na
sintomatologia e no bem-estar psicológico dos clientes submetidos a essas abordagens,
especialmente em casos de perturbações de personalidade e perturbações do humor.

Outro estudo de destaque, conduzido por Smith et al. (2019), avaliou a eficácia da psicoterapia
psicanalítica em clientes com perturbações alimentares. Os resultados indicaram que a
compreensão aprofundada dos processos inconscientes subjacentes aos comportamentos
alimentares disfuncionais levou a mudanças significativas nos padrões comportamentais e na
qualidade de vida dos participantes.

Esses estudos fornecem evidências encorajadoras sobre a aplicabilidade da psicanálise na


prática de enfermagem em saúde mental. No entanto, é importante abordar criticamente as
limitações e controvérsias associadas a essa abordagem.

3. DISCUSSÃO CRÍTICA DAS LIMITAÇÕES E CONTROVÉRSIAS DA APLICABILIDADE

DO MODELO CONCEPTUAL PSICANALÍTICO

Apesar dos avanços nas evidências que apoiam a eficácia das intervenções baseadas na
psicanálise, existem autores que apontam várias limitações e controvérsias associadas a essa
abordagem na enfermagem em saúde mental.

Uma limitação é a natureza demorada e intensiva da terapia psicanalítica, que pode não ser
prática em ambientes de cuidados agudos ou em contextos com recursos limitados (Fonagy &
Target, 2002). Além disso, a aplicação da teoria psicanalítica muitas vezes depende da
capacidade do cliente em se comprometer com o processo de autoexploração, o que pode ser
desafiador em casos de gravidade extrema ou em clientes resistentes à introspeção.

Outra controvérsia diz respeito à falta de evidências empíricas sólidas em comparação com
abordagens terapêuticas mais breves e orientadas para o presente, como a Terapia Cognitivo-
Comportamental (TCC) (Leichsenring & Rabung, 2008). Enquanto alguns estudos apoiam a
eficácia da psicanálise, outros questionam a sua superioridade em relação a abordagens mais
direcionadas a sintomas específicos.

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A interpretação subjetiva é uma característica intrínseca à psicanálise, o que levanta questões
sobre a objetividade e validade das conclusões tiradas durante o processo terapêutico. A
interpretação do terapeuta pode ser influenciada por sua própria bagagem teórica e
experiências pessoais, introduzindo elementos de viés que podem afetar a qualidade da
intervenção.

4. A IMPORTÂNCIA DA TEORIA PSICANALÍTICA NO DESENVOLVIMENTO DE

OUTROS MODELOS CONCEPTUAIS

A teoria psicanalítica desencadeou uma revolução no entendimento da mente humana e


influenciou significativamente uma gama diversificada de teorias em diferentes campos. O seu
impacto vai além da psicologia, alcançando áreas como a psiquiatria, a literatura, a educação
entre outras ciências.
Uma das contribuições mais notáveis da teoria psicanalítica é a sua influência nas teorias de
enfermagem, onde a compreensão profunda da psique humana desempenha um papel crucial
na prestação de cuidados holísticos.
Além do campo da enfermagem, a teoria psicanalítica encontrou ressonância em teorias que
exploram o desenvolvimento humano e as relações interpessoais. A teoria do apego,
desenvolvida por John Bowlby e Mary Ainsworth, incorpora conceitos psicanalíticos para
explicar como as relações iniciais moldam a saúde mental e emocional ao longo da vida. A ideia
de que as primeiras experiências de vinculação deixam uma marca duradoura na psique humana
ecoa os princípios fundamentais da psicanálise.
Além disso, a teoria das relações objetais, uma extensão da psicanálise por Melanie Klein e
outros, explora como os relacionamentos interpessoais, especialmente na infância, influenciam
a formação da personalidade. Essa teoria destaca a importância de representações mentais
internalizadas dos outros, apontando para a continuidade do impacto das experiências
interpessoais ao longo da vida. (Assis, 1994)
A influência da teoria psicanalítica vai além das disciplinas que exploram diretamente a mente
humana. Na literatura, a psicanálise inspirou interpretações mais profundas de personagens e
enredos, destacando os impulsos inconscientes subjacentes. Na educação, a compreensão dos

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processos inconscientes trouxe insights sobre a motivação do aluno, o que moldou abordagens
pedagógicas.
Contudo, é importante reconhecer que a teoria psicanalítica não está isenta de críticas. Seus
conceitos, por vezes, são considerados especulativos e difíceis de serem empiricamente
testados. Além disso, as ênfases em aspectos sexuais e impulsos instintivos foram criticadas por
simplificar demais a complexidade da mente humana.
Apesar das críticas, a teoria psicanalítica persiste como um farol intelectual que ilumina os
recônditos da psique humana. Sua importância reside na capacidade de provocar
questionamentos profundos e oferecer uma estrutura conceitual rica para compreender os
aspectos mais complexos do comportamento humano. Ao transcender as fronteiras da
psicologia clínica, a teoria psicanalítica estendeu seus tentáculos para diversas disciplinas,
deixando um legado duradouro no panorama intelectual. Ela continua a inspirar inovações
teóricas, estimulando a exploração contínua da mente humana e suas interconexões com o
mundo ao nosso redor.

5. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA DE ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL E

PSIQUIÁTRICA

O alicerce fundamental do modelo conceptual psicanalítico é a compreensão de que grande


parte da atividade mental ocorre no inconsciente. Assim, este modelo conceptual engloba várias
vertentes na sua dinâmica, nomeadamente:

➢ Compreensão profunda dos processos mentais

A teoria psicanalítica exerce uma influência significativa sobre a abordagem dos enfermeiros em
questões de saúde mental, proporcionando-lhes uma base para avaliação e intervenção mais
holística e centrada no cliente. Ao levar em consideração os conflitos inconscientes e a história
desenvolvimental do cliente, os enfermeiros podem adaptar suas intervenções de maneira mais
abrangente. A perspetiva psicanalítica permite uma compreensão mais profunda dos processos
mentais, indo além dos sintomas visíveis para explorar as raízes inconscientes dos problemas.
Isso é particularmente valioso na enfermagem psiquiátrica, onde muitos distúrbios têm origens
complexas e multifacetadas, permitindo uma abordagem mais abrangente e eficaz no
tratamento dessas condições. (Happell et al., 2020).

UC Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica Pág. 16


➢ Abordagem Holística da Personalidade

A teoria psicanalítica proporciona uma estrutura que permite a exploração dos processos
inconscientes que orientam esse comportamento. Na prática da enfermagem em saúde mental,
é crucial não apenas considerar os sintomas visíveis, mas também compreender as dinâmicas
internas que moldam a personalidade do cliente. Esta abordagem possibilita aos enfermeiros
em saúde mental reconhecer e interpretar os comportamentos dos clientes de forma mais
abrangente, indo além da simples manifestação dos sintomas. Ao considerar as causas
subjacentes, os profissionais podem implementar intervenções mais informadas e eficazes no
tratamento das questões de saúde mental. (Happell, et al., 2020)

➢ Desenvolvimento Psicossexual e Ciclos de Vida

O entendimento do desenvolvimento psicossexual, que percorre estadios desde a infância até a


maturidade, proporciona insights sobre as influências formativas em diferentes fases da vida.
Isso é particularmente relevante ao lidar com questões de desenvolvimento infantil e trauma na
enfermagem psiquiátrica. (Couto, 2017)

➢ Mecanismos de Defesa e Estratégias de Adaptação

Freud definiu os mecanismos de defesa como operações mentais ou métodos utilizados pelo
Ego para se proteger contra a ansiedade. Esses mecanismos seriam processos inconscientes que
protegeriam a mente de sentimentos e pensamentos difíceis de lidar ou de impulsos carregados
de desejo e que o Ego consideraria perigosos ou que entravam em conflito com as exigências do
Superego. (Campos, 2019)

Na enfermagem em saúde mental e psiquiátrica, compreender essas estratégias de adaptação


é essencial para orientar intervenções terapêuticas eficazes nomeadamente nas perturbações
da ansiedade. A psicoterapia psicodinâmica é uma abordagem da psicanálise que procura
explorar os conflitos inconscientes e as defesas psicológicas que contribuem para a ansiedade.
O objetivo é trazer à consciência os pensamentos e sentimentos reprimidos, permitindo que o
paciente compreenda e lide de forma mais eficaz com suas emoções. (Busch, F. et al.1999;
Cramer, 2000)

➢ Relação Terapêutica

A incorporação dos princípios psicanalíticos pode aperfeiçoar a habilidade dos enfermeiros em


saúde mental para estabelecer e manter relações terapêuticas eficazes com os clientes. Isso

UC Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica Pág. 17


envolve a aplicação de técnicas de comunicação e empatia fundamentadas na compreensão dos
processos inconscientes e das dinâmicas interpessoais (Happell et al., 2020).

A teoria psicanalítica destaca a importância da relação terapêutica, enfatizando fenômenos


como transferência e contratransferência. Na enfermagem de SMP, a consciencialização desses
fenômenos é essencial para a construção de relações terapêuticas sólidas.

➢ Exploração Profunda de Traumas e Experiências Passadas

A abordagem psicanalítica permite uma exploração profunda de traumas e experiências


passadas que podem influenciar o estado mental atual do cliente. Isso é crucial na identificação
de gatilhos emocionais e na formulação de planos de cuidados personalizados. A psicanálise
oferece benefícios significativos no tratamento do stress pós-traumático, proporcionando uma
compreensão aprofundada das raízes do trauma, a resolução de conflitos internos, a
reconstrução do significado do evento traumático, o desenvolvimento de mecanismos de
confrontação saudáveis e a promoção do autoconhecimento e crescimento pessoal. Essa
abordagem terapêutica valiosa oferece suporte emocional e a possibilidade de transformação
psicológica significativa, ajudando os clientes a lidar de forma mais adaptativa com o impacto
do trauma em suas vidas. (Albuquerque et al., 2018)

➢ Abordagem Terapêutica

A compreensão dos princípios psicanalíticos pode alicerçar as abordagens terapêuticas


utilizadas na prática de enfermagem em SMP. Isso pode incluir a aplicação de técnicas
terapêuticas baseadas na psicanálise, como a escuta ativa, interpretação dos processos
inconscientes e a exploração das relações interpessoais. (Happell et al. 2020) A compreensão
aprofundada proporcionada pela teoria psicanalítica contribui significativamente para a
formulação de diagnósticos precisos e para o desenvolvimento de planos de cuidados
abrangentes na enfermagem em saúde mental.

6. CONCLUSÃO

A enfermagem psiquiátrica integra diversas teorias para compreender e abordar as


complexidades da saúde mental. Incluem a teoria psicanalítica, do desenvolvimento, social,

UC Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica Pág. 18


comportamental, humanística, biológica, de dinâmica familiar, de papéis socioculturais e de
enfermagem. Essas teorias oferecem uma abordagem holística da enfermagem psiquiátrica,
garantindo um cuidado integral ao indivíduo. Este espectro tão diversificado não apenas destaca
a complexidade do campo, mas também ilustra a riqueza de perspetivas disponíveis para os
enfermeiros especialistas em enfermagem de Saúde mental e psiquiátrica.

A aplicação prática dessas teorias na enfermagem psiquiátrica é vital para um cuidado eficaz. A
teoria psicanalítica orienta os enfermeiros na compreensão de comportamentos inconscientes,
enquanto a teoria do desenvolvimento ajuda na avaliação da maturação cognitiva. As teorias
sociais consideram o impacto dos fatores sociais, e as teorias comportamentais auxiliam na
modificação de padrões de comportamento. Todas essas teorias, quando integradas, formam
uma abordagem multidimensional que leva a melhores resultados para os clientes.

A psicanálise, uma abordagem revolucionária desenvolvida por Sigmund Freud no final do século
XIX, tem sido um marco influente na compreensão da mente humana e no tratamento de
distúrbios psicológicos. Esta teoria que explora as complexidades do inconsciente, trouxe
contribuições valiosas para diversos campos, incluindo a enfermagem psiquiátrica. A relação
entre a psicanálise e a enfermagem neste contexto específico é fascinante, pois transcende a
simples aplicação de teorias psicológicas tradicionais para abraçar uma compreensão mais
profunda das dimensões emocionais e psicológicas dos indivíduos.

Ao longo deste trabalho, fomos analisando o impacto da teoria psicanalítica na enfermagem de


saúde mental e psiquiátrica, destacando os seus princípios fundamentais e o impacto destes na
conceção dos cuidados. A ênfase na exploração do inconsciente permite aos enfermeiros uma
compreensão mais profunda das dinâmicas psicológicas que influenciam o comportamento dos
clientes.

Reconhecer e interpretar os mecanismos de defesa psicológicos permite a identificação de


padrões comportamentais prejudiciais, trabalhando em colaboração com os clientes para
promover mudanças positivas.

Explorar a interseção fascinante entre a teoria psicanalítica de autores como Freud, Klein,
Erickson, entre outros, e a prática da enfermagem psiquiátrica trouxe-nos uma visão mais
abrangente da aplicabilidade deste modelo ao pensamento de enfermagem, pois procuramos
não apenas compreender as contribuições passadas, mas também avaliar criticamente a
relevância contínua deste modelo na prática contemporânea da enfermagem.

UC Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica Pág. 19


7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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UC Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica Pág. 22


Anexo
Anexo I – Apresentação em Power Point do trabalho académico

A Relev ncia da Teoria Psicanalítica


na Prática de Enferma em em Sa de
Mental e Psi uiátrica

Autoras

Al uns autores consideram ue os modelos


conceptuais s o mais lobais e abstratos en uanto
as teorias de Enferma em s o mais concretas e
especí cas . Ta ner et al. 2 22
,
,

Import ncia dos Modelos Conceptuais na Enferma em

Relev ncia na Sa de Mental e Psi uiátrica

Aborda em olística na Enferma em Mental

Recon ecimento de Padrões Comportamentais

Promoç o da Recuperaç o e Reduç o do Esti ma

Diversidade de Modelos na Enferma em Psi uiátrica


ESTUDOS QUE DEMONSTRAM A EFICÁCIA DO MODELO
CONCEPTUAL PSICANALITICO NA ENFERMAGEM SMP
Impacto na Enferma em em Sa de Mental e Psi uiátrica

,
, , ,
, ,

Aborda em Psicanalítica na Relaç o Terap utica

, ,

E cácia das Intervenções Psicanalíticas

, ,
,

Considerações Críticas na Aplicaç o da Psicanálise em Enferma em


,

, ,

IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA DE ENFERMAGEM EM


SAÚDE MENTAL E PSIQUIÁTRICA

Compreens o profunda dos processos mentais , ,

Aborda em olística da Personalidade , ,

Desenvolvimento Psicosse ual e Ciclos de Vida C ,

Mecanismos de Defesa e Estrat ias de Adaptaç o

C , , C ,

Relaç o Terap utica ,

E ploraç o Profunda de Traumas e E peri ncias Passadas


,

Aborda em Terap utica


Autoras
Nen um corpo de con ecimento se apro ima da teoria
psicanalítica em termos de sua capacidade de e plicar os
mist rios da mente umana.
C GABBARD 2 16

Autoras

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