Um dos feriados mais recorrentes do subgênero slasher, o
Natal é um período conhecido pela festividade emotiva de seres humanos interessados em se reunir para trocar abraços, presentes, renovar os seus ciclos de amor, dentre outras ações, mesmo que tudo esteja mergulhado na mais profunda das hipocrisias. Lançado em 1984, mesma época do clássico Natal Sangrento, este curioso O Terror Pode Esperar traz em cena um assassino que entra em cena para dizimar qualquer um que esteja trajado com símbolos natalinos, em especial, o icônico figurino de Papai Noel. Bizarro, o filme dirigido por Edmund Purdon, não chega a ser tão estranho quanto Natal Diabólico, nem tem a fluência da história de Billy, mencionada anteriormente. Fica, então, neste entre-lugar, se apresentando como uma história de terror violenta, mas com irregularidades em seu ritmo, bem como no desenvolvimento de seus personagens.
Com roteiro de Derek Ford e Alan Birkinshaw, o filme traz
em sua cena de abertura o padrão adotado por este tipo de narrativa. Alguém espreita um casal indo para o carro se relacionar sexualmente, para em poucos instantes, cometer um duplo assassinato com doses generosas de violência. Após este primeiro momento de sangue derramado, seguimos para uma festa natalina divertida, repleta de pessoas fantasiadas, até que outra morte grotesca acontece, desta vez, com um homem trajado de Papai Noel. Sendo um ataque em público, percebemos que o psicopata de O Terror Não Pode Esperar não está para brincadeira. A coisa se intensifica, com outros personagens sendo mortos, algo que deixa um considerável rastro de sangue pela cidade, situação que ocasiona também uma histeria coletiva. Quem estará por detrás da estranha máscara? Com um painel gigante de personagens, precisamos assistir até o flashback final para compreender o responsável pela trilha de corpos em pleno Natal.
No final das contas, mais uma vez, temos um
representante do profícuo subgênero slasher que investe nos traumas, tendo o sexo como elemento catalisador da tragédia responsável por transformar um inocente em psicopata do futuro. Descobrimos que o assassino é uma figura ficcional recorrente da história, alguém que no passado testemunhou o pai, trajado de Papai Noel, se relacionando com uma mulher que não era a sua mãe, tudo isso em plena comemoração, dentro de casa. Ao surpreender a situação logo após o filho, a esposa embasbacada é atacada pelo marido que temia um escândalo, se acidentando na escada do lar, morrendo e deixando todos aterrorizados com o evento traumático. É um acontecimento que fabrica o nosso psicopata, uma vítima que decide colecionar outras vítimas no futuro, num ciclo de horror sanguinolento.
As motivações, como de habitual, são clichês, mas
convencem.
Ademais, no desenvolvimento narrativo de O Terror Pode
Esperar, os realizadores investem nos habituais recursos estéticos para montagem de uma produção dentro da cartilha slasher: a direção de fotografia de Alan Pudney coloca o assassino numa posição de ponto de vista constante, para que possamos contemplar aquilo que ele enxerga e que será seu alvo dentro de alguns instantes, além da costumeira aproximação de planos quando as mortes se estabelecem em cena, tendo em vista chocar o espectador com a violência desmesurada, aqui, elevada ao extremo, nos fazendo ao menos adentrar pela perplexidade diante da estranheza do roteiro. A trilha sonora assinada por Des Dolan está longe de ser considerada uma obra-prima, mas insere uma textura percussiva que funciona para a proposta ao longo de seus 86 minutos.
É um filme irregular aos extremos, mas com alguns
poucos bons momentos. O Terror Pode Esperar (Don’t Open Till Christmas) —EUA, 1984 Direção: Edmund Purdom Roteiro: Alan Birkinshaw, Derek Ford Elenco: Edmund Purdom, Alan Lake, Mark Jones, Gerry Sundquist, Kelly Baker, WendyDanvers, Nicholas Donnelly Duração: 86 min.
Leonardo Campos
Tudo começou numa tempestuosa Sexta-feira 13, no
começo dos anos 1990. Fui seduzido pelas narrativas que apresentavam o medo como prato principal, para logo depois, conhecer outros gêneros e me apaixonar pelas reflexões críticas. No carnaval de 2001, deixei de curtir a folia para me aventurar na história de amor do musical Moulin Rouge, descobri Tudo sobre minha mãe e, concomitantemente, a relação com o cinema.