Você está na página 1de 4

planocritico.

com

Crítica | O Terror Pode Esperar


- Plano Crítico
Leonardo Campos

5–6 minutos

Um dos feriados mais recorrentes do subgênero slasher, o


Natal é um período conhecido pela festividade emotiva de
seres humanos interessados em se reunir para trocar
abraços, presentes, renovar os seus ciclos de amor, dentre
outras ações, mesmo que tudo esteja mergulhado na mais
profunda das hipocrisias. Lançado em 1984, mesma época
do clássico Natal Sangrento, este curioso O Terror Pode
Esperar traz em cena um assassino que entra em cena
para dizimar qualquer um que esteja trajado com símbolos
natalinos, em especial, o icônico figurino de Papai Noel.
Bizarro, o filme dirigido por Edmund Purdon, não chega a
ser tão estranho quanto Natal Diabólico, nem tem a
fluência da história de Billy, mencionada anteriormente.
Fica, então, neste entre-lugar, se apresentando como uma
história de terror violenta, mas com irregularidades em
seu ritmo, bem como no desenvolvimento de seus
personagens.

Com roteiro de Derek Ford e Alan Birkinshaw, o filme traz


em sua cena de abertura o padrão adotado por este tipo de
narrativa. Alguém espreita um casal indo para o carro se
relacionar sexualmente, para em poucos instantes,
cometer um duplo assassinato com doses generosas de
violência. Após este primeiro momento de sangue
derramado, seguimos para uma festa natalina divertida,
repleta de pessoas fantasiadas, até que outra morte
grotesca acontece, desta vez, com um homem trajado de
Papai Noel. Sendo um ataque em público, percebemos que
o psicopata de O Terror Não Pode Esperar não está para
brincadeira. A coisa se intensifica, com outros
personagens sendo mortos, algo que deixa um
considerável rastro de sangue pela cidade, situação que
ocasiona também uma histeria coletiva. Quem estará por
detrás da estranha máscara? Com um painel gigante de
personagens, precisamos assistir até o flashback final para
compreender o responsável pela trilha de corpos em pleno
Natal.

No final das contas, mais uma vez, temos um


representante do profícuo subgênero slasher que investe
nos traumas, tendo o sexo como elemento catalisador da
tragédia responsável por transformar um inocente em
psicopata do futuro. Descobrimos que o assassino é uma
figura ficcional recorrente da história, alguém que no
passado testemunhou o pai, trajado de Papai Noel, se
relacionando com uma mulher que não era a sua mãe,
tudo isso em plena comemoração, dentro de casa. Ao
surpreender a situação logo após o filho, a esposa
embasbacada é atacada pelo marido que temia um
escândalo, se acidentando na escada do lar, morrendo e
deixando todos aterrorizados com o evento traumático. É
um acontecimento que fabrica o nosso psicopata, uma
vítima que decide colecionar outras vítimas no futuro,
num ciclo de horror sanguinolento.

As motivações, como de habitual, são clichês, mas


convencem.

Ademais, no desenvolvimento narrativo de O Terror Pode


Esperar, os realizadores investem nos habituais recursos
estéticos para montagem de uma produção dentro da
cartilha slasher: a direção de fotografia de Alan Pudney
coloca o assassino numa posição de ponto de vista
constante, para que possamos contemplar aquilo que ele
enxerga e que será seu alvo dentro de alguns instantes,
além da costumeira aproximação de planos quando as
mortes se estabelecem em cena, tendo em vista chocar o
espectador com a violência desmesurada, aqui, elevada ao
extremo, nos fazendo ao menos adentrar pela
perplexidade diante da estranheza do roteiro. A trilha
sonora assinada por Des Dolan está longe de ser
considerada uma obra-prima, mas insere uma textura
percussiva que funciona para a proposta ao longo de seus
86 minutos.

É um filme irregular aos extremos, mas com alguns


poucos bons momentos.
O Terror Pode Esperar (Don’t Open Till
Christmas) —EUA, 1984
Direção: Edmund Purdom
Roteiro: Alan Birkinshaw, Derek Ford
Elenco: Edmund Purdom, Alan Lake, Mark Jones, Gerry
Sundquist, Kelly Baker, WendyDanvers, Nicholas
Donnelly
Duração: 86 min.

Leonardo Campos

Tudo começou numa tempestuosa Sexta-feira 13, no


começo dos anos 1990. Fui seduzido pelas narrativas que
apresentavam o medo como prato principal, para logo
depois, conhecer outros gêneros e me apaixonar pelas
reflexões críticas. No carnaval de 2001, deixei de curtir a
folia para me aventurar na história de amor do musical
Moulin Rouge, descobri Tudo sobre minha mãe e,
concomitantemente, a relação com o cinema.

Você também pode gostar