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CARATÊ

CARATÊ

Caratê [br] • Caraté [pt]

Grafia

Outros nomes
s Karaté

Tode

Shimpi-tode

Te-jutsu

Toudi

Toshu

Toshu-jitsu

Toshukuken

Kanji 空手

Hiragana からて

Rōmaji Karate

Informações gerais

Escopo Aprimoramento corporal, para


funcionar como arma

Técnica(s) Atemi waza


principal(is)
Nage waza

Tai sabaki

Kihon

Kumite

Kata

Técnica(s) Ate waza


secundária(s)
Katame waza

Ne waza

Ukemi waza

Origem

País Ryukyu

Cidade Naha
Shuri
Tomari

Influência

Antecedente(s) Tegumi
Te
Chuan fa

Representação

Sítio oficial Federação Mundial de Caratê

Projeto artes
marciais · Técnicas · Vocabulário

português europeu
Caraté ou karaté (português europeu) ou caratê (português
brasileiro) (em japonês: 空手;
空手 transl.: karate, AFI: [kɑʀɑtə]) ou caratê-
dô (空手道, transl. karate-dō AFI: [kɑʀɑtədɵ])[a] é uma arte
marcial japonesa desenvolvida a partir da arte
marcial indígena de Oquinaua sob influência da arte da guerra chinesa (chuan
fa),[b] das lutas tradicionais japonesas (koryu) e das disciplinas guerreiras
japonesas (budō).

A influência chinesa foi maior inicialmente durante o desenvolvimento, variando


em um paradigma primitivo de simples luta com agarrões e projeções, para um
modelo com mais ênfase em golpes traumáticos, e se fez sentir nas técnicas
dos estilos mais fluidos e pragmáticos da China meridional. Depois, devido a
alterações geopolíticas, sobreveio a predominância das disciplinas de combate
do Japão e, nesse período, o modelo tendeu a simplificar ainda mais os
movimentos, tornando-os mais diretos e eliminando o que não seria útil ou que
fosse apenas floreio.

O repertório técnico da arte marcial abrange,


principalmente, golpes contundentes nos pontos vitais (atemi waza),
como: pontapés, socos, joelhadas, bofetadas, etc., executadas com as mãos
desarmadas. Todavia, técnicas de projeção, imobilização e bloqueios — nage
waza, katame waza, uke waza — também são ensinados, com maior ou menor
ênfase, dependendo de qual estilo ou escola se aprende a arte.

Grosso modo, afirma-se que a evolução desta arte marcial aconteceu


orientada por renomados mestres, resultando no caratê moderno, cujo trinômio
básico de aprendizado dividi-se em: kihon (técnicas básicas), kata (sequência
de técnicas, simulando luta com várias aplicações práticas)
e kumite (enfrentamento propriamente dito, que pode ser mero simulacro ou
dar-se de maneira esportiva ou competitiva ou mais próxima da realidade).
Esse processo evolutivo também mostra que a modalidade surgida como se
fosse uma única raiz acabou por se dividir em três partes e, por fim, tornou-se
uma miríade de diversas variações sobre um mesmo tema.

O estágio da transição entre os séculos XX e XXI revela que a maioria das


escolas de caratê tem dado ênfase à evolução do condicionamento físico,
desenvolvendo velocidade, flexibilidade e capacidade aeróbica para
participação de competições de esporte de combate, ficando relegada àquelas
poucas escolas tradicionalistas a prática de exercícios mais rigorosos, que
visam o desenvolvimento da resistência dos membros, e de provas
de quebramento de tábuas de madeira, tijolo ou gelo. De um modo simples, há
duas correntes maiores: uma, tendente a preservar os caracteres marcial e
filosófico do caratê; e outra, que pretende firmar os aspectos esportivo e lúdico.

A partir do primeiro quartel do século XX, o processo de segmentação instalou-


se de vez, aparecendo diversos sodalícios e silogeus, até alguns dentro dos
outros, pretendendo difundir seu modo peculiar de entender e desenvolver o
caratê, a despeito de compartilharem semelhanças técnicas e de origem. Tal
circunstância, que foi combatida por mestres de renome, acabou por se
consolidar e gerar como consequência a falta de padronização e entendimento
entre entidades e praticantes. Daí, posto que aceito mundialmente
como esporte, classificado como esporte olímpico e participando dos Jogos
Pan-Americanos, não há um sistema unificado de valoração para as
competições, ocasionando grande dificuldade para sua aceitação como esporte
presente nos Jogos Olímpicos.

Em que pese a enorme fragmentação de estilos e os inúmeros tratamentos ou


convívios sem cerimónia e com intimidade, procuram ainda seguir um modelo
pedagógico mais ou menos comum. E neste ambiente, distingue-se o mero
praticante daquele estudioso dedicado a arte marcial, o carateca, o qual busca
desenvolver uma disciplina rigorosa, filosofia e ética, além de aprender simples
movimentos e condicionamento físico. Nessa mesma linha, aquele carateca
que alcança o grau de faixa ou cinturão preto(a) é chamado de sensei. E os
sítios de aprendizado são chamados de dojôs, sendo estes, via de regra,
filiados a alguma linhagem ou estilo.

Um contratempo logo surge quando se trata de estudar as origens das artes


marciais: não há como precisar o momento em que surgiram. O máximo que se
pode fazer são conjecturas a partir do caráter sociocultural e traçar uma linha
de acontecimentos mais ou menos coerente dentro de certos aspectos, haja
vista que alguns aspectos duma arte marcial (v. g., algumas técnicas e/ou
personagens) têm uma origem bem conhecida ou documentada, porém, o
conjunto não se fecha, se não se incluírem algumas especulações. O que se
sabe é que todos os povos que se organizaram em sociedade possuem
alguma forma de defesa, isto é, pelo menos possuem uma força armada, pois
os ajuntamentos de pessoas eventualmente entravam em choque, por recursos
naturais ou outros motivos.

Naturalmente, seguindo uma linha evolutiva mais ou menos uniforme, tal como
aconteceu com a agricultura, a pesca, a música e outras atividades, as artes
marciais desenvolveram-se como disciplina, surgindo mestres e aprendizes.
Isso, por exemplo, pode ser demonstrado pela existência das falanges gregas,
modelo que se impôs por certo tempo, até ser superado pelas coortes
romanas, e assim anterior e sucessivamente.

Da Grécia, vem outro exemplo de desenvolvimento das artes marciais como


disciplina. As cidades-estados (ou polis) disputavam a supremacia sobre as
demais, pelo que apareceram os períodos ateniense, espartano, tebano etc.
Dentro de tais circunstâncias, somente em Esparta as disciplinas militares
tiveram relevo, eis que naquele ambiente foi dado destaque ao
desenvolvimento físico, para fazer frente aos embates e os cidadãos
espartanos (esparciatas) treinavam de maneira forte tanto a luta armada como
a desarmada.

Em se tratando de luta desarmada, no ambiente helênico desenvolveu-se a


arte marcial do pancrácio, que teria surgido por volta do século VII AEC ou
antes e cujo arcabouço técnico englobaria os mais variados movimentos e
golpes, desde socos a estrangulamento.

Caminhando já na Ásia, onde se acredita ser o berço das artes marciais


modernas, sabe-se que o exército de Alexandre Magno enfrentou guerreiros de
várias origens, como de China e Índia. É impossível creditar o desenvolvimento
das artes marciais asiáticas ao contacto com o gregos, pois logicamente
existiam já naquelas paragens suas próprias disciplinas, tanto é que se deu
enfrentamento entre exércitos e não de um exército e pessoas desarmadas.
Infere-se ter havido certamente a troca de conhecimentos, o que era inevitável,
após a estabilização das relações. De qualquer forma, havia na Índia uma
forma de luta chamada de vajramushti, a qual parecer ter sido transmitida a
outros países ou mesmo comunidades, no processo de trocas culturais na
Ásia.

De fato (alguns ainda dizem tratar-se mais de especulações, posto não


existirem fontes documentais, ou mesmo as que existem tratar-se-iam de
relatos de lendas ou estórias), as artes marciais passaram a ter caracteres
mais formais quando um monge budista indiano chamado Bodhidharma — o
primeiro grande mestre —, por volta do ano 520 EC, no fito de empreender
uma longa jornada em busca de iluminação espiritual, viajou desde a Índia até
a China. O monge ficava onde lhe dessem abrigo, em templos ou casas, e
aproveitava para evangelizar de acordo com sua doutrina.

Sua jornada o teria levado até o Templo Shaolin e, quando Bodhidharma viu as
condições físicas precárias em que se encontravam os monges daquele sítio,
exortou-os no sentido que a pessoa deveria evoluir por completo,
desenvolvendo o lado espiritual.

A prática dos exercícios evoluiu para um sistema de defesa pessoal, até com o
uso de armas e outros instrumentos, fazendo surgir uma reputação de que os
monges lutadores seriam experts em diversas modalidades e formas de
combate, pelo que se difundiu por toda a China. Os monges de Shaolin não se
isolaram apenas na China e levaram seus conhecimentos religiosos, filosóficos
e marciais para outros recantos, entre estes o Japão.

O arquipélago de Oquinaua (沖縄, Okinawa?) localiza-se quase que


exatamente a meio caminho entre Japão e China, no Mar da China Oriental.
Por causa de sua posição geográfica, a região sempre despertou a cobiça dos
dois países, os quais não pouparam esforços para estenderem suas influências
(culturais e econômicas), tornando a existência de um governo local submetida
à conjugação de interesses e política externos. A influência chinesa era
considerável, e alguns praticantes de artes marciais oriundos daquele país
chegaram a Oquinaua.

Apesar da circunstância de gravitar em torno da influência sino-japonesa,


sucedeu na história de Oquinaua, entre 1322 e 1429, um período denominado
de Sanzan-jidai (三山時代, período dos três montes) quando que se debateram
os três reinos de Hokuzan (北山, Monte Setentrional), Chuzan (中山, Monte
Central) e Nanzan (南山, Monte Meridional) pelo controle da região. Tal período
acabou com a unificação sob a bandeira do reino de Ryukyu e sob o comando
de Chuzan, que era o mais forte economicamente, inaugurando a
primeira dinastia Sho: Sho Hashi. Nessa época, influência chinesa consolidou-
se como a preponderante das duas e isso se refletiu na estrutura administrativa
do reino e noutros aspectos culturais.

Entrementes, após a unificação e no fito de conter eventuais sentimentos de


revolta, el-Rei Sho Hashi promulgou um édito que tornou proibido o porte de
quaisquer armas por parte da população civil. Este facto é considerado o marco
principal do processo evolutivo que veio a culminar no caratê, posto que já
existisse em Oquinaua uma arte marcial própria, a medida régia impôs um
ritmo diferente, pelo que, devido à necessidade de as pessoas terem uma
forma de defesa e em razão da proibição real, aquelas técnicas foram-se
aperfeiçoando.

Fruto também da proibição do porte de armas foi o desenvolvimento


do kobudo, outra arte marcial oquinauense que transformou o uso de objectos
do cotidiano em armas, como a tonfa e o nunchaku, que eram originalmente
instrumentos de trabalho, para manuseio de moinho e debulhagem de arroz.

A sociedade japonesa, possuindo uma classe guerreira, era há muito


conhecedora de disciplinas de combates com e sem armas. No seio das
famílias e/ou clãs fomentaram-se formas de combate, os chamados koryu,
transmitidos somente internamente. Entretanto, o que importa é que houve
certa troca de conhecimentos, posto que muito velada, e que essas artes
evoluíram para atender exatamente às necessidades do grupos que as
usavam.

Essa peculiaridade, de existir uma classe nobre guerreira, impingiu à nascente


arte do caratê um carácter subalterno, de exórdio, pois se desenvolveu
precipuamente nas camadas mais pobres da população, que sobreviviam de
atividades agrícolas e de pesca, haja vista que as classes de guerreiros, tal e
qual sucedia em China e Japão, não difundiam suas disciplinas de combate
fora de seu estreito círculo. De qualquer modo, a classe guerreira (mormente,
os peichin) acabou por se render às técnicas de luta desarmada.
O que viria a ser o jiu-jítsu surgiu para capacitar o samurai para a luta
desarmada mas usando armadura, pelo que não era racional utilizar
ostensivamente de pontapés e socos mas mais projeções e estrangulamentos.
Por seu turno, o que se desenvolveu em Ryukyu visava justamente ao combate
desarmado, que se poderia dar em qualquer sítio sem que os contendores
estivessem a usar dum trajo específico, pero poderia coincidir de se enfrentar
guerreiros com armadura, pelo que socos e pontapés eram mais interessantes,
isso aliado ao condicionamento de mãos e pés para serem instrumentos de
ataques fulminantes.

A independência do reino de Ryukyu sofreu duro golpe quando, em 1609,


o clã samurai de Satsuma, com aprovação do imperador do Japão, subjugou
o arquipélago. Por ocasião da invasão, os samurais encontraram pouco ou
nenhum revide, porque, dadas as circunstâncias, el-Rei declarou que a vida é o
mais importante tesouro e recomendou que a população das ilhas não
revidasse à agressão estrangeira. Oquinaua passou a ser um estado
tributário de Japão e China, mas, contrário ao cenário anterior, com predomínio
nipônico, que expôs a cultura local e influenciou sobremaneira o
desenvolvimento das artes marciais, sob os valores da classe guerreira.
Naquele momento, o clã Satsuma introduziu sua própria disciplina, o jigen-ryu.

Antes das influências sínica e nipônica, já existia uma espécie de luta


desarmada e nativa de Oquinaua, que era praticada abertamente, chamada
de mutô, cujo embate começava com empurrões muito parecidos com os
de sumô, depois, seguindo-se com apliacação de golpes de arremesso e
torção. Vencia aquele que derrubasse ou submetesse o adversário. Era uma
prática cujo fito mor era recreativo, mas que, segundo alguns autores e
mestres, teria sido a semente do caratê, que foi então paulatinamente.

Em meados do século XVII, uma arte marcial oquinauense[c] sem armas já era
estabelecida, sendo conhecida por "tê" (手 ou ティー, em japonês: te,
em oquinauense: ti). Também é referida como mão de Oquinaua (沖縄手,
em japonês: Okinawa-te, em oquinauense: Uchinaadi), quando surge a figura
de Matsu Higa, renomado mestre de te e kobudo e também experto em chuan
fa, que teria aprendido com mestres chineses. Mas já nesse tempo, a arte
marcial já vinha evoluindo em três formas distintas, radicadas nas três cidades
que as nomearam, Naha-te, Tomari-te e Shuri-te.

Acredita-se que Sensei Higa tenha sido, dentro de seu estilo próprio, o primeiro
a estabelecer um conjunto formal de técnicas e chamá-lo de te. Destacaram-se
mais os estilos de Shuri, por ser a capital, e de Naha, por ser cidade portuária e
mais importante entreposto comercial. Entretanto, posto que tivesse menor
relevo no cenário da época, por ser mormente uma cidade de
trabalhadores, pescadores e campesinos, Tomari, devido a exatamente suas
características, desenvolveu o estilo peculiar e muitas vezes erradamente
confundido com o estilo de Shuri. Ademais, em que pese cada um das cidades
ter seu estilo, elas compartilhavam informações e praticantes.

Na linhagem do estilo shuri-te, caracterizado pelas posturas corporais naturais


e por movimentos lineares de deslocamento e de golpes, seguiram-se
a sensei Higa, mais ou menos numa linha de instrutor e aprendiz, os
mestres Peichin Takahara, Kanga Sakukawa e Sokon Matsumura.]

Com mestre Takahara[d], já por influência japonesa, o te vem a receber os três


princípios que culminariam com a transformação da técnica numa disciplina
muito maior já na transição do século XIX para o século XX.

Ainda no século XVII, o te sofria fortes influências desde a China. Mestre


Sakukawa, por sugestão de Peichin Takahara, foi aprender com o
chinês Kushanku — mestre de chuan fa — e, depois, diretamente no
continente. Tais características não passaram despercebidas e calharam em
que a arte marcial passou a se chamar Tode ou Todi (唐手 ou トゥデ, mão
chinesa)[e], ou ainda Toshukuken (徒手空拳) e Toshu-jitsu (徒手術).

Enquanto isso, em Tomari, seu estilo adquiria uma característica mais


acrobática. Os principais expoentes da região foram os mestres Karyu
Uku e Kishin Teryua, que deixariam por legado a Kosaku Matsumora. Em
Naha, o te evoluia numa direção diversa, com movimento de extrema
contração, golpes de curto alcance e condicionamento do corpo para absorção
de golpes, tudo conjugado a técnicas de respiração (ibuki).

Sob o ministério de Sokon Matsumura, o tode passou a ter um treinamento


mais formalizado com a compilação de uma série mais ou menos fechada
de katas e, principalmente, rompeu-se a barreira das classes sociais. Com
Matsumura, que fazia parte da elite guerreira e da corte de el-Rei Sho Ko e
sucessores, o tode, praticado mormente pelas classes trabalhadoras, passou a
ser uma arte militar reconhecida.

Por essa época, ficaram famosos, e quase lendários, os contos sobre


as proezas dos artistas marciais de Oquinaua, como a do mestre de Tomari-
te, Kosaku Matsumora, que desarmado derrotou um samurai. Assim, o te era
conhecido também por shimpi tode (神秘 唐手, misteriosa mão chinesa)
ou reimyo tode (霊妙 唐手, etérea/miraculosa mão chinesa).
Anko Itosu

No fim do século XIX, o caratê ainda era marcado de modo forte por quem o
ensinava, não havia, posto que houvesse similitudes entre as técnicas, um
padrão, o que dificultava sua maior aceitação fora de círculos restritos, porque
era praticado e ensinado num rígido esquema de mestre/aluno.

Nesse meio tempo, sem olvidar altercações sínicas, o cenário político mudou
porquanto da anexação final de Ryukyu, em 1875, por parte do Japão, fazendo
com que o provecto reino se transmutasse na província de Oquinaua. Todavia,
o que poderia ser o fim tornou-se uma oportunidade, pois terminou com o
isolamento da população do arquipélago, incorporados de vez à população
nipônica. E coube a Anko Itosu, um discípulo de Matsumura e secretário do rei
de Oquinaua, usar de sua influência para tentar disseminar a arte marcial.

O mestre via o te não somente como arte marcial mas, principalmente, como
uma forma de desenvolver caráter, disciplina e físico das crianças. Ainda
assim, o mestre julgava que os métodos utilizados até a época não eram
práticos: o te era ensinado basicamente por intermédio do treino repetitivo
dos kata. Então, Itosu simplificou o treino a unidades fundamentais, os kihons,
que são as técnicas compreendidas em si mesmas, um soco, uma esquiva,
uma base, e, além, compilou a série de kata Pinan com técnicas mais simples
e que passariam a formar o currículo introdutório. A mudança resultou na
diminuição, supressão em alguns casos, de táticas de luta, mas reforçou o
caráter esportivo, para benefício da saúde: deu-se relevo a postura,
mobilidade, flexibilidade, tensão, respiraçãoe relaxamento.

Atribui-se ao mestre Itosu os primeiros movimentos no fito de promover a


mudança de denominação para karate (空手, mãos vazias), como forma de
vencer as barreiras culturais, as resistências para aceitação, pois como algo
com origem chinesa não era visto com bons olhos, ademais porque havia
tensões latentes entres os dois países. Todavia, documentado é o fato de o
mestre Hanashiro Chomo, numa publicação intitulada «karate kumite»,
claramente referir-se à sua arte marcial como maos vazias.

Em 1900, aconteceu uma grande emigração amostra do caratê aos ocidentais,


quando o Havaí tinha sido anexado pelos EE.UU. havia aproximadamente dois
anos.

O caratê tornou-se esporte oficial em 1902. Evento dramático no


desenvolvimento do caratê que é o ponto em que se aperfeiçoa a transição de
arte marcial para disciplina física, deixando ser visto apenas como meio
de autodefesa.

Como resultado de seu progresso, Anko Itosu crê ser possível exportar o
caratê para o resto do Japão e, em começos do século XX, passa a
empreender esforços para tanto, mas não consegue lograr sucesso.

Paralelos a esses eventos, outro influente mestre, Kanryo Higashionna,


promovia por si outras mudanças. Ele desenvolvia um estilo peculiar que
mesclava técnicas suaves, evasivas e defensivas (como esquivas e projeções),
e menos as rígidas, e tinha como discípulos Chojun Miyagi e Kenwa Mabuni. A
exemplo de Itosu, Higashionna conseguiu fomentar os valores neles que
levaram até as mudanças futuras que tornariam o caratê mais aceitável.

Em que pesem a evolução que arte estava experimentando e havendo a fama


de ser um estilo de luta eficaz, fama essa que já havia muito corria pelo Japão,
ainda era pouco conhecida. Não se sabia realmente muito essa luta que matou
muitas pessoas, sobre suas características, fora os praticantes oquinauenses e
alguns poucos fora desse círculo ainda pequeno e cerrado. Em 1965 o caratê
foi proibido no Brasil por que ele ja matou duas pessoas que estavam lutando:
Francisco de Oliveira dos Santos e Maria Fernanda dos Campos.

Alguns fatores contribuíram, entretanto, para a divulgação do caratê. Um


desses fatores era a mentalidade corrente à época que, mesmo com o
processo de disseminação dos costumes ocidentais iniciado com a
Restauração Meiji, ainda era muito apegada à figura do guerreiro, não sendo
incomum o lance de desafios a lutadores proeminentes ou mesmo a uma casa,
família ou paragem. Não se pode esquecer, contudo, que isso não se deva por
bravata mas por orgulho, de suas tradições e para homenagear seus mestres,
resguardando-se a honra (no mor das vezes). Era comum a prática do dojo
yaburi (desafio ao dojô).

Certa altura, por volta de 1906 chegou a Oquinaua uma praticante


de jujutsu (ou de judô, segundo algumas fontes) que desafiou a todos da ilha a
medir forças com ele, para provar que seu estilo de jiu-jítsu era superior aos do
Japão e da região. No dia aprazado, posto que fosse já provecto (na casa dos
setenta anos), no meio de vários lutadores, o mestre Itosu não quis deixar sem
resposta o convite e foi ter com o desafiante, que interpelou o mestre, dizendo
"que honra haveria de ganhar de um idoso?", mas aquiesceu ao embate, por
respeito ao nobre ancião. A luta foi decidida com apenas um golpe.

Marcante e decisivo, entretanto, foi um desafio que mestre Choki


Motobu protagonizou. Chegou ao Japão um navio russo, conduzindo um
lutador de sambo (Jon Kirter), com porte físico avantajado (quase 2m de altura)
e capaz de cravar um prego na madeira co'as mãos. O fito daquele lutador era
divulgar sua modalidade de luta e, para tanto, além das demonstrações
públicas, que envolviam proezas, como enrolar uma barra de ferro nos braços
e quebramentos, foi lançado um desafio a todo o país.

A nova correu até Oquinaua, sendo o desafio aceito pelos irmão Motobu,
descendentes da casa real e notórios expertos em artes marciais, além do
caratê, kobudo e gotende. Dirigiram-se eles até o Japão. No dia da luta, tudo
certo o embate foi decidido com apenas um golpe na região do plexo solar. A
vitória foi considerada tão surpreendente que criou alvoroço e despertou de vez

o interesse pelo caratê.

Kenwa Mabuni

Os esforços de Itosu, a despeito de não gerarem os efeitos almejados,


frutificaram nas mãos de seus alunos. Por exemplo, o Mestre Kenwa Mabuni,
como forma de tributo, sistematizou todos os ensinamentos aprendidos no
estilo Shito-ryu, que pretende fundir os estilos Shuri-te e Naha-te e com isso
veio a preservar muitas variações de kata; o Mestre Choshin Chibana, por seu
turno, compilou seu conhecimento no estilo Kobayashi-ryu, pretendendo
preservar as exatas formas por ele aprendidas de Matsumura e Itosu.
Entretanto, aproveitando o interesse no caratê, principalmente depois da vitória
do mestre Choki Motobu sobre o lutador russo, coube a Gichin
Funakoshi lograr grande êxito no objetivo do mestre Itosu, isto é, difundir o
caratê como desporto e nativo da cultura japonesa. Fundamental também foi a
empresa de outros grandes mestres, como Mabuni, Miyagi, Motobu etc., que
não podem ser considerados no arrabalde. Esses esforços não podem ser
olvidados porque criaram a ambiência em que Funakoshi logrou êxito em
difundir o caratê pelo arquipélago japonês. As técnicas do estilo iniciado por
Funakoshi baseiam-se no caratê de Itosu, mas dando mais ênfase ao aspecto
formativo da personalidade, característica que ficou impressa nas demais
linhagens surgidas naquele momento.

A divulgação não aconteceu sem resistência. A despeito de vários pedidos


para a não exibição de vários mestres que não viam com bons olhos o
movimento, Funakoshi levou o caratê até o sistema público de ensino, com a
ajuda de seu mestre Anko Itosu e, em pouco tempo, a arte marcial já fazia
parte do currículoescolar como disciplina física/esportiva, dando um impulso
extraordinária, com o caratê sendo praticado em vários sítios e sendo bastante
apreciado e valorizado localmente.

Entre 1902 e 1915, sensei Funakoshi viajou com seus melhores alunos por
toda Oquinaua realizando demonstrações públicas de caratê e calhou de o
inspetor de Educação do concelho, Shintaro Ogawa, estava particularmente
interessado no processo seletivo para ingresso nas forças armadas,
preocupado em obter um bom grupo, composto por jovens de boa índoles
(valores) e boa compleição. Ogawa ficou impressionado, que escreveu ao
continente dando as novas.

Sucedeu de o almirante Rokuro Yashiro assistir a uma daquelas


demonstrações, explicadas por Funakoshi, enquanto seus alunos
executavam kata, quebravam telhas e faziam outras proezas, que expunham a
eficácia do condicionamento físico. O almirante ficou muito impressionado e
ordenou que seus homens que iniciassem o treinamento de imediato. Sucedeu
também de, em 1912, o comando Almirante Dewa escolher doze de seus
homens para treinarem caratê por uma semana, enquanto estivessem
ancorados nas imediações. As novas levadas por esses dois oficiais levaram o
caratê a ser mais comentado no Japão.

E no desenrolar dos acontecimentos, calhou de, em 1921, o então príncipe


herdeiro e futuro imperador Hirohito assistir a uma dessas demonstrações, pelo
que ficou admirado e pediu a feitura de um evento nacional em Tóquio,
realizado em 1922. O evento foi muito bem sucedido e ocasionou de o mestre
Funakoshi ser coberto de convites para apresentar sua arte e um desses
convites foi feito por Jigoro Kano, para ser feito no instituto Kodokan.
Durante o evento, que levantou a plateia, mestre Funakoshi foi convencido a
permanecer no Japão e, com a ajuda de Jigoro Kano, de que se tornou amigo
íntimo, o caratê foi difundido.

O mestre sabia que haveria de surgir enorme oposição, haja vista que naquele
período da história das relações entre Japão e China não era dos melhores.
Ainda era muito recente a lembrança da Primeira Guerra Sino-
Japonesa (1894–1895). E até o fim da Segunda Guerra Mundial e da Segunda
Guerra Sino-Japonesa, com a rendição do Japão perante os Aliados,
ocorreram vários incidentes belicosos.

Tais circunstâncias levavam à conclusão de que uma arte marcial de origem


chinesa seria certamente repudiada, pelo que a mudança da arte para o karate-
dō (空手道, caminho das mãos vazias), isto é, com o acréscimo do sufixo "dō",
como se deu com muitas das artes marciais praticadas no Japão. A
partícula do significa caminho, palavra que é análoga ao familiar conceito
de tao.[42] Daí que o caratê deixou de ser encarado apenas em seu aspecto
técnico, ou jutsu, para serem realçados o filosófico e o físico (educacional).

Por outro lado, o caratê beneficiou-se de uma perspectiva que existia, a de que
a luta nativa de Oquinaua, aí incluso o seu kobudo (manipulação de armas),
era simplesmente uma forma de jujutsu ou koryu. Assim se pensava porque
tanto os vários estilos de jujutsu (takenouchi-ryu, daito-ryu etc.) japoneses
quanto o oquinauense valiam-se das mesmas formas técnicas (luta
desarmada, principalmente), diferenciando-se apenas no foco e no
treinamento, ou seja, nada de estranho, se comparado à tradição samurai.
Denominava-se o caratê de tejutsu, o que reforçava esse aspecto.

Mestres de caratê na década de 1930

Entrementes, a proposição de Mestre Itosu, pela escrita do nome da arte


marcial como kara-te-dō foi objecto de debate em 1936, e mestres na época
acordaram que seria a melhor escolha, o que reflectira a unidade do caratê e
sua originalidade, posto que houvesse sofrido diversas influências de fora. Do
modo como se desenvolveu, um elemento da cultura japonesa, o caratê está
imbuído de certos elementos do Zen-budismo, sendo que sua prática algumas
vezes é chamada de "zen em movimento". As aulas frequentemente começam
e terminam com curtos períodos de meditação. Também a repetição de
movimentos, como a executada no kata, é consistente com a meditação zen
pretendendo maximizar o autocontrole, a atenção, a força e velocidade, mesmo
em condições adversas. A influência do zen nesta arte marcial depende muito
da interpretação de cada instrutor.

Devido aos esforços de Funakoshi o caratê passou a ser ensinado


nas universidades de Shoka, Takushoku, Waseda e Faculdade de Medicina.

Jigoro Kano

A modernização e sistematização do caratê no Japão também incluiu a adoção


do uniforme branco (quimono ou karategi) e de faixas coloridas indicadoras do
estágio alcançado pelo aluno, ambos criados e popularizados por Jigoro Kano,
fundador do judô.

As contribuições de Jigoro Kano não se limitam ao uniforme de treinamento e à


padronização das graduações, mas vão até a técnicas, que foram compiladas
dentro do estilo Shotokan. O conceito de do, posto que presente há muito, foi
de certa forma reinterpretado segundo suas ideias.

Depois que Funakoshi demonstrou o caratê, outros mestres de Oquinaua


seguiram pela mesma trilha e se foram, no fito de conseguir novos alunos e
divulgar ainda mais. Um daqueles mestres era Kenwa Mabuni, que se fixou
em Osaca e, no ano de 1931, criou a Dai-Nihon Karate-do Kai, para dar apoio a
seu estilo, que foi registrado, primeiro como Hanko-ryu, e, depois, Shito-ryu.
Entrementes, somente durante a década de 1930 foi que a Associação
Japonesa de Artes Marciais, Butoku-kai, reconheceu oficialmente o caratê
como arte marcial nipônica e requereu que todas as escolas fizessem registro
na entidade, exigindo para esse registro que cada uma delas indicasse os
nomes de seus estilos.

Em maio de 1949, alguns discípulos de Funakoshi criaram uma associação


cujo escopo principal seria a promoção do caratê. O nome dado foi Nihon
Karate Kyokai (日本 空手 協会, (Japan Karate Association - JKA, Associação
Japonesa de Caratê), e o primeiro presidente foi Saigo Kichinosuke, membro
da Câmara Alta do Japão, neto de Saigo Takamori, um dos maiores heróis do
Japão Meiji.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o caratê tornou-se popular na Coreia do


Sul sob os nomes tangsudo ou kongsudo quando a pratica do taekwondo foi
proibida pelos japoneses após sua invasão.

Após a Segunda Guerra Mundial, o mestre Funakoshi com seus alunos


conseguiram que o Ministério da Educação classificasse o caratê como
educação física e não como arte marcial, tornando possível seu ensino,
durante a ocupação do Japão. Depois dos Estados Unidos o caratê foi
difundido pela Europa e o mundo.

Posto que mestre Funakoshi pregasse que o caratê era uma arte marcial única,
que as variações nas formas, nos estilos, deviam-se precipuamente às
idiossincrasias e que jamais denominou sua linhagem de estilo, ainda durante
sua existência e persistindo até os dias atuais, o que sucedeu foi uma
proliferação de estilos, escolas e linhagens diferentes.

A grande variedade de estilos e escolas, se por um lado facilita essa


disseminação, por outro, causou enormes dissensões e cisões entre entidades
e representantes. Muitas vezes, o que motivou a cisão foram
disputas políticas e/ou ideológicas.

Depois de criada por discípulos de Funakoshi, a quem aclamaram como líder,


em 10 de abril de 1957, a JKA ganhou a condição de entidade oficial, mas,
cerca de duas semanas depois, o grande mestre faleceu com a idade de 89.

Em 19 de junho de 1999, depois de muitos anos e muitos episódios marcados


pela discórdia, na 109ª Sessão do Comitê Olímpico Internacional - COI,
confirmou-se o reconhecimento da Federação Mundial de Caratê (World Karate
Federation - WKF, em inglês) como o ente governativo do caratê mundial, o
que significava o também reconhecimento do esporte como esporte candidato
a figurar nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, como esporte de
demonstração, cuja confirmação dar-se-ia na 111ª Sessão do Comitê, para o
ano seguinte.

O COI estabelece dois parâmetros para a aceitação de um esporte como


olímpico: ser praticado em muitos países (membros) e ser representado por
uma entidade mundialmente reconhecida. Em 2016, o Comitê Olímpico
Internacional - COI aprovou o Caratê como modalidade olímpica para os
jogos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020.

A forma esportiva de caratê foi-se introduzindo em África por volta da década


de 1940. Formalmente, na África do Sul a modalidade foi iniciada no começo
dos anos 1950 por instrutores, como Len Barnes, Richard Salmon, James
Rousseau, Stan Schmidt e outros. Em Angola, processo semelhante se deu. E
com o tempo algumas entidades foram sendo criadas e se afiliando a outras,
de cunho internacional.

Da mesma forma como sucedeu com outras artes marciais japonesas, o caratê
foi introduzido no Brasil com a chegada de imigrantes japoneses no começo
do século XX. Mas somente no ano de 1956, o sensei Mitsuke
Harada (Shotokan) instala o primeiro dojô em São Paulo. A esse exemplo
seguiram os mestres Juichi Sagara (Shotokan), em 1957; Seichi
Akamine (Goju-ryu), em 1958; Koji Takamatsu (Wado-ryu); Takeo
Suzuki (Wado-ryu); Michizo Buyo (Wado-ryu); Yoshihide Shinzato (Shorin-ryu);
Takeda, Kimura e Fábio Sensei (Bushi Ryu), em 1992; Akio Yokoyama (Kenyu-
ryu), em 1965.

A prática da modalidade percebeu um aumento depois que participantes de


competições de artes marciais mistas lograram vitórias, como é o caso do
carateca Lyoto Machida.

Em Portugal, a arte marcial foi introduzida entre os anos de 1962 e 1964,


quando se reuniu um grupo de pessoas que praticam a modalidade na
Academia de Budo, em Lisboa. Foi com este grupo que se organizou e
entabulou os primeiros contactos com as entidades internacionais da
modalidade. Na década de 1970, verifica-se a criação das primeiras entidades
associativas nacionais representativas de alguns estilos. Em 1980, foi fundada
a Associação Portuguesa de Karate-Do (Shotokai), cuja génese se reporta a
uma parte importante do núcleo inicial dos praticantes da Academia de Budo.

Até 1985, a CDAM (Comissão Directiva das Artes Marciais), presidida pelo
Comandante Fiadeiro e sob a égide e supervisão do Ministério da Defesa
Nacional, integrava e regulamentava todas as Artes Marciais.

De 1985 a 1992, divide-se a CDAM, de onde emergem duas instituições que


reivindicam a gestão do Karaté nacional: a Federação Portuguesa de Karaté
(FPK) e a Federação Portuguesa de Karaté e Disciplinas Associadas (FPKDA).
Finalmente, a 15 de Junho de 1992 é fundada por aquelas duas federações a
Federação Nacional de Karaté - Portugal (FNK-P).

Demonstração de Karate Heian Godan

A despeito do que preconizavam os grandes mestres, hodiernamente, há na


seara do caratê um grande número de divisões, sendo as mais conhecidas os
estilos, e reconhecidos pela Federação Mundial de Caratê, Shito-
ryu, Shotokan, Goju-ryu e Wado-ryu. Todos eles criados na primeira metade
do século XX. Reconhecidos pela WUKF, há os estilos Shorin-ryu, Uechi-
ryu, Kyokushin e Budokan, além dos reconhecidos pela WKF.

Há, contudo, muitos outros estilos, como maior ou menor renome, como Shindo
jinen ryu, Seiwakai, Shudokan, Toon-ryu, Chito-ryu, Kenyu-ryu, Isshin-ryu etc.
Há ainda alguns estilos que nada mais são do que visões mais tradicionalistas
ou ortodoxas de um estilo, como é o caso do Shotokai, que propala estar
verdadeiramente conectado à escola criada pelo mestre Funakoshi; aqueles
que são uma visão particular e/ou moderna, como o Gosoku-ryu, que é uma
recopilação baseada no Shotokan; ou estilos que são compilações de outros
estilos.

Em termos de artes marciais, há que se notar que a palavra "escola" não tem o
mesmo sentido empregado no uso comum. O caratê é uma arte marcial que se
subdivide em diversos estilos, o Shorin-ryu sendo um dos mais antigos entre
eles. Cada estilo, identificados geralmente pela partícula ryu (流, ryũ?, fluxo), é
uma forma distinta de se praticar uma determinada arte marcial. Nesse sentido,
membros de estilos diferentes terão nomes diferentes
para golpes semelhantes, kata e kihon próprios, diferentes progressões de
faixa, ou nível, e até mesmo metodologias de ensino variadas. O que une os
diferentes estilos é a consciência de que são como galhos de uma
mesma árvore, no caso a arte marcial em questão.

As escolas, kan (館? edifício, casa), por sua vez, são visões particulares de um
determinado estilo. Muitas vezes elas se originam como tributos a mestres
muito graduados e, algumas vezes, acabam se transformando em estilos
propriamente ditos, como foi o caso do estilo Shotokan, que deve ser mais
corretamente chamado de Shotokan-ryu (uma vez que Shotokan seria a Escola
de Shoto e Shotokan-ryu seria o Estilo da Escola de Shoto). Uma "escola",
nesta cércea, não é, portanto, um local de aprendizado de técnica, mas um
conjunto de ideias dentro de um estilo.

Outra subdivisão pode se dar com o surgimento de uma linhagem, marcada


com a adição do sufixo ha (派? facção, escola, seita), que, semelhante às
escolas, imprimem uma visão particular de um estilo ou de uma escola. Nessa
leva, existem as linhagens, por exemplo, Hayashi-ha, Motobu-ha e Inoue-ha,
do estilo Shito-ryu; Goju-kai e Seigokan, do estilo Goju-ryu; ou Shobayashi-
ryu, Matsubayashi-ryu e Kobayashi-ryu, do estilo Shorin-ryu.

Nota-se, portanto, que não existe um padrão ou uma norma para definir os
nomes dos estilos e suas respectivas ramificações. E divergências de
entendimento são naturalmente esperadas, pelo que variações de uma mesma
forma não seria algo insólito e nem as pessoas terem por desiderato trilhar
caminhos distintos, porém dever-se-ia restar cônscio da origem comum.

Os mestres tradicionais pensavam que qualquer arte marcial deveria ser


assemelhada a um flúmen, isto é, fluente e flexível. De outro modo, uma arte
marcial deveria ser o resultado dum constante processo de aprimoramento
individual, pelo qual o budoca adaptar-se-ia conforme os conhecimentos
adquiridos e nunca seria idêntica, posto que duas pessoas praticassem a
mesma, por igual período e com um só mestre, pois as pessoas não são iguais.
Assim sendo, não haveria razão para existirem diversos estilos.

Além das mudanças para facilitar a divulgação do caratê, os mestres do


começo do século XX (mormente Funakoshi, que aproveitou também esse
aspecto da cultura japonesa, relevante naquele momento) foram eficazes em
imprimir solenidade aos treinamentos, respeito para com mestres, instrutores e
praticantes, de forma mútua, o que realça o carácter de formação de bons
indivíduos. Isto, contudo, sem esquecer que naturalmente no processo de
formação da arte marcial desenvolvia-se um paradigma para as condutas
dentre e fora do sítio de treino. Neste ambiente, alguns dos mestres eram
reconhecidos por sua moral e trabalhos nesse sentido.

O treinamento tradicional de caratê deve começar e terminar com um breve


momento de meditação, mokuso, cuja finalidade é preparar o carateca para os
ensinamentos que receberá e, depois, refletir sobre os mesmos. A cada
momento ou exercício faz-se saudação no começo e no fim, sendo costume
difundido em vários dojôs fazer uma reverência ao entrar e sair do sítio.

Esse carácter mais abrangente do caratê é bem visível pela partícula "dō" (道)
de seu nome. Tais princípios, posto que a grande mudança filosófica ocorrida
nas artes marciais japonesas possa ser localizada na transição do século
XIX para o século XX, possuem suas raízes fincadas bem mais no passado.
Historicamente, foi o monge Peichin Takahara quem primeiro a descreve a
filosofia do "dō", do caminho de evolução que são as artes marciais, em
sintonia com os ensinamentos do caratê. Ainda no século XVII, ele descreveu
as três vertentes que, combinadas, culminam na evolução da
pessoa: ijo, fo e katsu.

Ijo (径) pode ser expresso em atitudes pró-ativas em favor de terceiros.


Também se diz que a forma ijo respousa na compaixão, humildade e no recato.

Fo (则, princípio) é o compromisso, isto é, a dedicação que alguém tem para


com algo; no caso, o afinco com que um carateca treina os conhecimentos
ensinados, a seriedade e devoçãoque nutre, além, para com seu mestre e
colegas.

Katsu (奉, observância) reflete-se no conhecimento, na compreensão que a


arte marcial possui, mas compreendida nos mínimos detalhes e em que
momentos, da vida ou de um enfrentamento real, farão sentido.

O conceito do caminho evolutivo que é a prática do caratê pode ser achado em


todas as artes marciais japonesas, tratando-se uma leitura japonesa do tao.
Como caminho, por conseguinte, deve ser interpretado de forma bem
abrangente, para a compreensão de um ciclo de vida. De outra forma, uma vez
que o ciclo da vida é já um caminho pré-determinado, um sistema no qual
todas as formas e seres estão inter-relacionados, mister haver a consciência de
que existe uma relação de interdependência de todas as coisas e situações: o
aprendizado não seria mérito pessoal mas o resultado da relação voluntária do
praticante com o ambiente e com todos os seres.

Samurai
Nesta cércea, o caratê se insere como uma das disciplinas do Bushido, o
código de ética do guerreiro. Assim, o caratê é muito mais do que uma forma
de luta (o "dō" rejeita esta visão limitada), é um modo de vida. Os mestres
prolataram um conceito, o que de nesta arte marcial, além de não existir atitude
agressiva, em caso de embate, nunca o carateca faria o primeiro movimento:

“ 空手に先手無し
Karate ni sente nashi
No caratê não há primeiro movimento (ataque)

Sob duas ópticas capitais e pragmáticas, ressai o escopo pacífico da


modalidade. Primeiro, caso se enfrentem dois caratecas, nenhum deles tomará
atitude ofensiva, pelo que o combate nunca existirá. Depois, caso o
enfrentamento se desse contra alguém que não é um carateca, com a atitude
pacífica ou desestimularia o ataque ou, se esse existir, poder-se-ia usar da
energia despendida pelo contendor para resolver a demanda. Trata-se destarte
de uma abordagem complementar à do shinbu.

A par dos princípios básicos elencados e tendo em foco o Bushido, o


mestre Kanga Sakukawa elaborou um código, o Dojo kun, para servir de norte
à prática do caratê. Tal código é composto por cinco regras:

“ Esforçar-se para a formação do caráter.

Fidelidade para com o verdadeiro caminho da razão.

Criar o intuito do esforço.

Respeito acima de tudo.

Conter o espírito de agressão. ”

Sensei Anko Itosu, quando se dirigiu aos administradores japoneses, no fito de


divulgar o caratê por todo o Japão, referiu-se à sua arte marcial em forma de
princípios que poderiam ser facilmente compreendidos. Assim, tal conjunto de
princípios ficou conhecido como Tode jukun, ou os Dez Princípios do Tode.

“ O caratê não é praticado apenas para o benefício individual, pode ser


usado para proteger sua família e seu mestre.

O propósito do caratê é tornar os músculos e ossos duros como rochas


e usar as mãos e pernas como lanças. ”
O caratê não pode ser aprendido rapidamente.

Em caratê, treinamento das mãos e dos pés é importante.

Quando praticar as bases do caratê certifique-se de manter as costas


eretas.

Pratique cada uma das técnicas do caratê repetidamente.

Vós deveis decidir se o caratê é para saúde ou para auxiliar nos


deveres.

Quando treinar, faça como se estivesse no campo de batalha.

Se se usar excessivamente sua força no treinamento de caratê isso irá


causar a perda de energia.

[...] O caratê auxilia no desenvolvimento de ossos e músculos. Ajuda


tanto na digestão quanto na circulação.

Imbuído pelo conceito do "dô" e a exemplo do que fizeram os mestres do


passado, em particular, seu instrutor directo, mestre Sakukawa, Gichin
Funakoshi elaborou um código ético, Niju kun, o qual seria difundido em sua
escola, mas se acabou por espraiar-se por outros dojôs. O nome significa
literalmente as vinte regras:

“ ...o caratê deve iniciar com saudação e terminar com saudação.

No caratê, não existe atitude ofensiva.

O caratê é um apoio da justiça.

Conheça a si próprio antes de julgar os outros.

O espírito é mais importante do que a técnica.

Evitar o descontrole do equilíbrio mental.

Os infortúnios são causados pela negligência.

O caratê não se limita apenas à academia.

O aprendizado do caratê deve ser perseguido durante toda a vida.

O caratê dará frutos quando associado à vida cotidiana.

O caratê é como água quente. Se não receber calor constantemente,


esfria. ”
Não pense em vencer, pense em não ser vencido.

Mude de atitude conforme o adversário.

A luta depende de como se usam os pontos fracos e fortes.

Imagine que os membros de seus adversários são como espadas.

Para cada homem que sai do seu portão, existem milhões de


adversários.

No início, os movimentos são artificiais, mas, com a evolução, tornam-


se naturais.

O treino das técnicas deve ser de acordo com o movimento correto


(forma original), mas na aplicação torna-se diferente (livre).

Não se esqueça de aplicar corretamente.

Estudar, praticar e aperfeiçoar-se sempre.

O repertório técnico do caratê está dividido, de modo básico, em dois grandes


grupos go waza (剛 技, técnicas rígidas?) e ju waza (柔技, técnicas suaves?),
que compreendem respectivamente os golpes de impacto e os de controle.
Sendo que isso não tem nenhuma relação com estilo ou mesmo a
denominação deste, são dois aspectos presentes em qualquer sodalício ou
modo de se ensinar/aprender a modalidade.

As técnicas rígidas englobam todos aqueles golpes e movimentos em que há


explosão de energia, promoção ou absorção de impacto, daí seu nome (saltos,
socos, chutes e pancadas). A sua contrapartida são as técnicas suaves, ou
aquelas nas quais visa-se mormente o controlo da energia da luta e da do
adversário contra si mesmo e controlo dele de per se (projeções, caimentos,
imobilizações e luxações).

Além da divisão conforme a natureza do movimento, podem-se dividir as


técnicas do caratê em dois grandes grupos, te waza (手 技, técnicas
manuais?) e soku waza (足 技, técnicas podais?), e um grupo menor, atama
waza (頭 技, técnicas capitais?).[71] E, bem assim, em uke waza (受け
技, técnicas de defesa?) e kogeki waza (攻撃 技, técnicas de ataque?). Os
vários grupos e subgrupos tendem a misturar-se, exibindo a noção de que uma
técnica pode ter variados fitos, ou seja, um mesmo movimento ou golpe pode
ser usado tanto como defesa como ataque, o que vai realmente prover uma
diferenciação mais objetiva não exatamente o golpe em si mas o binômio de
cenário de enfrentamento e intento. Daí que nas técnicas manuais incluem-se
defesas, ataques, projeções, imobilizações. E isso também é verdade quando
se focam os movimentos feitos com os pés.

Quadro sinóptico

Ju waza Go waza

Te waza

Soku waza

Ate waza
Kok
Torite Tai sabaki
yu
Atemi waza
Hoj Ata
o Ker Ts Uc ma
Na Tac Uke un i uki hi waz
Kata Uke Ashi
Ibuk ge hi mi do Tameshi wa wa wa a
me waz sab
i wa wa waz wari za za za
waza a aki
za za a
Kogeki waza

Tate waza

Kansetsu waza

Ne waza

Um caractere importante é o manejo do ki, da energia: o carateca deveria


executar todas as técnicas parecendo um flúmen. Sob a umbrela desse
conceito, o ki fluiria livremente.

Todas as escolas e estilos modernos de caratê desenvolvem seu ensino no


trinômio formado por kihon, kata e kumite. Todavia nem sempre foi assim, eis
que as escolas tradicionais (ainda hoje) seguem um paradigma assentado
somente nos kata, cujo fito é ser um modo completo de treinamento e era
adoptado pelas outras artes marciais japonesas e mesmo por algumas
modernas, como judô e quendô. Este modelo perdurou intacto, ou sem
alterações sensíveis, pelo menos até o surgimento do mestre Anko Itosu.

Mestre Itosu possuía um projecto pessoal, que era de introduzir a arte marcial
de Oquinaua em seu sistema de ensino público. Antes dele, grosso modo,
quando se dizia que o mestre tinha transmitido todo o seu conhecimento,
significava que ele tinha ensinado todos os kata que sabia, aí inseridos todos
os aspectos. Não se praticava a luta — kumite — porque o entendimento da
época era que o caratê (como disciplina de combate) era mortal e, portanto,
insuscetível de ser praticado em luta, posto que combinada. Ou, quando era
praticado, as lutas eram uma parte mínima dos exercícios.

Como a modalidade é, antes de tudo, uma arte marcial, exige-se de seu adepto
que pratique os exercícios com dedicação e empenho similares a estar num
campo de batalha: a mente deve estar focada no exercício, de molde a
absorver o movimento/conceito na sua inteireza. Essa atitude é, em verdade,
esperada do carateca perante quaisquer situações do cotidiano, eis que o
caratê é concebido como uma disciplina marcial ética (budo).

Essa ideia foi paulatinamente sendo cambiada. Ainda assim, as escolas


tradicionais transmitem a arte marcial precipuamente com base no aprendizado
do kata.

Acontece, porém, que o modelo de ensino fulcrado nos kata não se mostra
eficaz quando se trata de promover o ensino do caratê a crianças, como notou
mestre Anko Itosu ainda no século XIX. Foi então que ele particionou
os kata nas técnicas fundamentais e criou os kihon do caratê, adoptando um
modelo mais próximo ao conceito do dõ/tao, que também resta presente
nalgumas artes marciais, como o aiquidô. Da mesma forma, compreendeu-se
que a simulação da luta (que o kata pretende ser) deveria ser praticada, pois já
coloca o carateca em situação de enfrentamento e o prepara de modo mais
eficaz. Destarte foi que surgiu o trinômio em que o caratê hodierno se lastreia.

Kihon (基本?) significa "fundação" ou "fonte" e, nesta lógica, quer dar sustento
ao desenvolvimento do caratê de forma perene e propedêutica. Um kihon é
uma técnica básica, um soco, uma defesa, uma postura, que é repetida pelo
praticante diversas vezes. O escopo é tornar o movimento tão natural que,
quando for executado num kata ou num kumite, não haverá dificuldades e o
aprendizado fluirá.

O estudo na forma de fundamentos consegue transmitir ao aluno a forma


básica, incumbindo ao professor conseguir transmitir não somente o
movimento em si mas toda a filosofia e os conceitos que estão por detrás,
porque de outra forma a essência do caratê inexoravelmente será esquecida,
deixando de ser "dô" para ser "jitsu". Noutras palavras, técnica pela técnica,
num movimento contrário ao deixado pelos mestres.
Por fim, a fixação do movimento por meio da repetição levará eventualmente à
compreensão maior de seu significado conquanto a energia (ki) do golpe não
será desperdiçada mas, antes de tudo, canalizada do modo mais eficiente
possível. Ou seja, visa-se o equilíbrio entre prática e teoria.

Kata (型?) significa "forma" ou "modelo". Um kata pretende ser uma luta
simulada, formatada para que o carateca consiga praticar sozinho; são
movimentos coreografados que visam dar desenvoltura frente a situações reais
de enfrentamento, contra um ou vários adversários imaginários. A prática
do kata foi introduzida desde cedo no caratê, quando a influência de mestres
chineses se fez peremptória, desde quando se tratava de luta tipicamente de
Oquinaua (Okinawa-te). Todavia, com a crescente influência dos estilos
oriundos da China, a prática fixou-se de vez.

Há muitos kata e muitas variações de um mesmo kata, dependendo do


estilo/escola e até de professor para professor, refletindo diversos significados
e as características desse estilo/escola. Os significados e aplicações de um
kata são dadas pelo bunkai, ou aplicação. O escopo mor é preparar o
praticante para a luta real: a finalidade é que o aluno aprenda profundamente
os kihone, depois, perceba a aplicação de facto das técnicas
de projeção, controle, chute e/ou deslocamento etc. O kata é, portanto, o ponto
que une as práticas de kihon e kumite.

Kumite (組み手 ou 组手? mãos dadas) representa uma luta, um combate. Seu
nome, sendo traduzido como o encontro das mãos, pretende fazer memento ao
lutador que o embate dar-se-á, pelo menos nos primeiros momentos, em
condições de igualdade. Por conseguinte, deve haver respeito.

Em princípio, as lutas eram proibidas e/ou desestimuladas, porque o caratê


possui técnicas perigosamente mortais. Mas, quando o kumite foi incorporado
ao treinamento, viu-se que deveria haver maior controle, é que um aluno
somente deveria treinar com luta depois de conhecer bastante as técnicas
dos kihons e katas, que são sua base. A despeito disso, existem algumas
formas de kumite, que seguem uma linha contínua de aumento de dificuldade,
com mais até menos controle.

Por outro lado, a prática do kumite como parte do treinamento, além de


promover a adaptação do praticante a situações de combate, tem como fito
precípuo a promoção do companheirismo, do compartilhamento de
informações, da ajuda mútua.

Ademais, quando o caratê passou pelas mudanças filosóficas que o


transformaram em caratê-dô, impregnou-se da ideia de que o carateca que
evolui sozinho praticamente não evolui, pois não se forma completamente, com
respeito a outrem e à coletividade. E isso, num hipotético combate, fatalmente
contribuiria de modo nefasto para um insucesso.
O mestre Choki Motobu dizia que as técnicas aprendidas tornar-se-iam
«vazias» caso não fossem postas em prática.

Os mestres de caratê não usavam nenhum padrão para identificar o nível de


cada apedeuta, de modo prosaico identificavam particularmente quem estava
mais ou menos avançado nos conhecimentos. Paulatinamente, passou-se, de
um jeito ou de outro, a se utilizar do sistema menkyo (vigente ainda nas
escolas tradicionalistas) para certificar o grau de conhecimentos de um
praticante, basicamente destacando-se três níveis:

Shodan (初段?): significando que se havia adquirido o status de principiante;

Chudan (中段, Chūdan?): significava a obtenção de um nível médio de prática.


Isso significava que o indivíduo estava seriamente comprometido com sua
aprendizagem, escola e mestre;

Jodan (上段, Jōdan?): a graduação mais alta. Significava o ingresso


no Okuden (escola, sistema e tradição secreta das artes marciais).

Se o indivíduo permanecia dez anos ou mais junto ao seu mestre,


demonstrando interesse e dedicação, recebia o menkyo, a licença que permitia
ensinar. Essa licença podia ter diferentes denominações
como: Sensei, Shihan, Hanshi, Renshi, Kyoshi, dependendo de cada sistema
em particular. A licença definitiva que podia legar e outorgar acima do menkyo,
era o certificado kaiden, além de habilitado a ensinar, implicava que a pessoa
havia completado integralmente o aprendizado do sistema.

Depois, sob a influência de Gichin Funakoshi, adoptou-se o sistema


de faixas coloridas, que foi elaborado por Jigoro Kano para seus alunos, com o
escopo de, além de deixar claro o nível do praticante, estabelecer um
"caminho" a ser percorrido, o que era uma ideia muito cara à filosofia do dō/tao.

Inicialmente, em alguns casos (distinguir entre homens e mulheres ou níveis


mais altos) os cintos de algodão cru usados não eram tingidos de modo
uniforme, mas para se diferenciarem das outras artes marciais, havia a cor do
grau ladeada por tingimento das bordas em cor distinta. Esse modelou não
vigeu por muito tempo (alguns estilos ainda usam), passando a ser igual ao do
judô. Por outro lado, posto que se almejasse estabelecer um modelo único (a
ideia original), cada estilo/escola passou a estabelecer seus próprios graus e
sequência de cores. Nesse mesmo espírito, alguns possuem cores diferentes
para designar os graus mais elevados, por exemplo, com o cinto coral
(vermelho e branco intercalados).

O sistema atual que rege a maioria das artes marciais usando kyu ("classe")
e dan ("grau"), foi criado pelo fundador do judô. Kano era um educador e
conhecia as pessoas, sabendo que são muitos os que necessitam de estímulos
imediatamente depois de haver começado a praticar artes marciais. A
ansiedade desse tipo de praticante não pode ser saciada por objetivos em
longo prazo.

A graduação no caratê é importante para indicar o nível de experiência dos


praticantes, e é vista como sinal de respeito para os atletas menos graduados.
Para demonstrar a graduação os caratecas usam uma faixa com uma cor na
região da cintura. A ordem das cores das graduações variam de estilo para
estilo mas como padrão, o grau de intróito é marcao pela cor branca.

Na classificação de orientada por cores, o termo kyu significa classe, sendo


que essa classificação é em ordem decrescente. Na classificação de mestres
(com cinturão ou faixa pretos), dansignifica grau, sendo a primeira faixa preta a
de primeiro dan; a subsequente, o segundo dan; e assim por diante em ordem
crescente. Em um plano simbólico, o branco representa a pureza do
principiante, e o preto se refere aos conhecimentos apurados durante anos de
treinamento.

Desde que foi estabelecido e aceito o sistema de níveis coloridos, a graduação


do caratê assemelhou-se muito ao seriamento escolar, num paradigma no qual
os alunos galgam graus ascendentes (e mais complexos) até que obtenham o
de mestre. No exame, são procedidos testes com diferentes características e
exigências, de acordo com o grau de conhecimentos exigidos para o nível
imediatamente anterior, ou seja, o aluno obtém a próxima graduação, se
conseguir demonstrar que aprendeu a todo o conhecimento correspondente ao
grau que ocupa e pretende superar; em tese, somente quando o aluno
aprendeu tudo de um estágio é que está pronto para prosseguir no caminho do
caratê. Habitualmente, também se exige certo período de tempo entre um
exame e outro. Não existe um consenso sobre os programas dos exames de
faixa, variando de organização para organização, ou mesmo de dojôs.

Competição de caratê: kumite

Não existe competição no caratê tradicional, mas com o câmbio pelo qual
passou a modalidade, de disciplina marcial pura para esporte e meio de
desenvolvimento físico, paulatinamente algumas entidades passaram a
promover torneios, cujo fito era promover o intercâmbio e a amizade.

Outros, contudo, sempre alertaram para a alta letalidade de alguns golpes,


como sucedeu num desafio em que o oponente faleceu depois de um golpe
desferido pelo mestre Choki Motobu. Deste modo, naturalmente foram surgindo
regras probitivas e foram sendo adoptadas proteções aos esportistas,
dependendo do sexo, da idade etc., como colete para o peito e capacetes.
Além deste aspecto pragmático, as entidades pretendem fazer com que suas
afiliadas promovam também o lado filosófico do caratê, do respeito para com
os colegas e demais praticantes da modalidade.

Além da crítica sobre o perigos dos golpes, mestres ainda argumentam que as
competições fazem o caratê perder sua essência, como esporte e como arte
marcial, eis que, derivado das próprias normas de proteção aos lutadores, as
entidades vêm limitando o acervo de golpes que se podem utilizar, na verdade,
acenando com um repertório estreito do qual não se pode desviar, sob pena de
desclassificação ou não marcação de pontos. Mas tais técnicas são deveras
eficazes num embate real. Os mestres tradicionalistas dizem que o praticante
pode sair-se muito bem na competição, mas, como essa não admite contacto
maior nem controle verdadeiro das técnicas, ele não terá um ataque potente
nem resistirá a contra-ataques certeiros.

Enfim, estão em choque duas abordagens diferentes do caratê: uns com visão
tradicional, entendendo que se trata de uma arte marcial, cujo objectivo é o
aperfeiçoamento, do corpo, do intelecto, da personalidade etc.; outros, com a
visão desportiva, enxergando o caratê como mais uma modalidade.

Os torneios são realizados em duas modalidades, kata e kumite. Uma terceira


modalidade, que outros enxergam como subdivisão da de kata, é a de bunkai.

Na competição de kata, pontos são concedidos por cinco juízes, de acordo com
a qualidade do desempenho do atleta, de maneira análoga à ginástica
olímpica. São critérios fundamentais para uma boa performance a correta
execução dos movimentos e a interpretação pessoal do kata através da
variação de velocidade dos movimentos (bunkai). Quando o kata é executado
em grupo (usualmente, de três atletas), também é importante a sincronização
dos movimentos entre os componentes do grupo.

No kumite, dois oponentes (ou duas equipes de lutadores) enfrentam-se por


um tempo, que pode variar de dois a cinco minutos. Pontos são concedidos
tanto pela técnica quanto pela área do corpo em que os golpes são desferidos.
As técnicas permitidas e os pontos permissíveis de serem atacados variam de
estilo para estilo. Além disso, o kumite pode ser de semi-contato (como no
estilo Shotokan), ou de contato direto (como no estilo Kyokushin).
No modelo adoptado pela Confederação Brasileira de Karate-do - CBK, e
entidades a ela filiadas, e no adoptado pela Federação Nacional de Karate, de
Portugal, yuko equivale a um ponto e corresponde a um soco na área do
abdome, do peito, do rosto ou costas; wazari, dois pontos, sendo um chute nas
áreas das costas, do abdome ou do peito, ou chute nas laterais do tronco;
e ippon, três pontos, sendo um chute na cabeça ou nas laterais do pescoço,
com contato rigorosamente controlado (ou, dependendo da categoria em
disputa, com aproximação de 5 cm a 10 cm, desde que o oponente não esboce
reação), independentemente do oponente estar caído ou não; aplicar uma
técnica pontuável no oponente completamente caído e sem chances de contra-
atacar, num intervalo de até 2 segundos, independentemente de ter caído por
si só ou ter sido derrubado com técnica de varredura ou projeção.

Há, ainda, confederações que utilizam tabela de pontuação semelhante a esta.


Por exemplo, a Confederação Brasileira de Karate-do Interestilos (CBKI), bem
como as entidades filiadas à mesma, utilizam wazari (meio ponto - ○), para
golpes chudan (altura do tronco); e ippon (um ponto - ●), para
golpes jodan (altura da cabeça), ou indefensáveis. Nesse sistema de luta, o
combate termina quando o tempo expira ou quando um dos dois oponentes
atinge três pontos (sanbon), daí o nome do sistema de disputa ser Shobu
Sanbon (disputa por três pontos). Uma variação desse sistema é o Shobu
Ippon (disputa por um ponto), onde vence aquele que conseguir um ippon ou
dois wazari. Há, ainda, outra variação: Shobu Nihon (disputa por dois pontos),
na qual vence aquele que obtiver dois ippon's ou quatro waza-ari's, mas esta
última forma de disputa é mais utilizada para competições infantis.

O caratê desenvolveu-se paralelamente às demais artes marciais japonesas,


em Oquinaua, onde há uma língua própria. Todavia, o vocabulário é
basicamente em japonês.

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