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A cor e sua importância para o desenho industrial

The color and their importance to industrial design

Carla Patrícia de Araújo Pereira


Mestre pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - USP
Professora do Depto. de Desenho Industrial - UFPB (carla@ddi.ufpb.br)

Palavras-chave: cor, desenho industrial, funções do produto


Considerando que no projeto de produtos o uso da cor deve estar fundamentado no conhecimento técnico, este artigo
procura demonstrar a importância da cor para a atividade do desenho industrial, analisando os aspectos físicos,
fisiológicos, perceptivos e culturais da cor, e relacionando tais aspectos a funções práticas, estético-formais, indicativas
e simbólicas de produtos.

Key words: color, industrial design, product functions


Considering in product design the color use must be based on technical knowledge, this study intends to demonstrate
the importance of color in industrial design, analyzing the physical, physiological, perceptive and cultural aspects of
color and relating these aspects to practical, aesthetic, indicative and symbolic product functions.

Introdução
As primeiras teorias sobre a cor originaram-se a partir do interesse dos antigos filósofos e químicos, bem
como de estudos empíricos realizados pelos pintores ao observarem a reflexão da luz sobre os objetos, a
alteração das cores com a distância e as misturas de pigmentos. Atualmente, o conjunto do conhecimento
científico existente sobre cor oriundo de diferentes campos da ciência tem sido denominado “ciência da
cor”1. A ciência da cor é considerada fundada em 1666, quando o físico inglês Isaac Newton decompôs a luz
do sol na seqüência de cores chamada de espectro solar, colocando o estudo da luz e da cor numa base
objetiva, física. Tanto por meio dos seguidores de Newton, preocupados em medir e quantificar os aspectos
físicos da cor, quanto através dos seguidores do filósofo e poeta alemão Johann Goethe, interessados
sobretudo nos fenômenos subjetivos da cor, esse campo de estudo tem se desenvolvido e hoje abrange todo
o conhecimento referente à produção de estímulos cromáticos e à percepção visual desses estímulos, cujos
fundamentos encontram-se na física, química, fisiologia e psicologia. Tal conhecimento tem sido aplicado
em diversas áreas, desde a indústria de corantes até a medicina, e, mais recentemente, na ergonomia e na
arquitetura.

No campo do desenho industrial, particularmente no desenho de produtos, o uso da cor tem sido pouco
estudado. A literatura é escassa, quase inexistente. As obras mais conhecidas sobre desenho industrial
dificilmente se referem à cor, e quando o fazem ela é geralmente abordada como um tema periférico.
Embora todo projeto pressuponha algum tipo de planejamento cromático, a principal preocupação em
relação ao desenho2 de objetos tem sido sua solução formal (volumétrica, espacial), deixando-se o
planejamento cromático com um papel secundário. Talvez a idéia de que a forma seja uma característica
fundamentalmente “objetiva”, enquanto a cor seja mais “subjetiva”, tenha levado à interpretação equivocada
de que a escolha das cores de um objeto possa basear-se apenas na intuição ou sensibilidade artística do
designer.

No que se refere à cor, objetividade e subjetividade são abordagens que, embora historicamente tenham
rivalizado, na prática projetual podem e devem estar integradas. Tanto a chamada realidade física da cor
(seus aspectos fisico-químicos, mais facilmente mensuráveis) quanto sua realidade perceptiva (aspectos
psico-fisiológicos e culturais, difíceis de quantificar e controlar) interferem no projeto de um objeto. Este
artigo pretende demonstrar a importância da cor para a atividade do desenho industrial, a partir de uma
breve análise de seus aspectos físicos, fisiológicos, perceptivos e culturais, e de como estes podem estar
relacionados a funções práticas, estético-formais, indicativas e simbólicas de produtos.
Vale ressaltar que no presente texto o termo “cor” é considerado em sua significação mais ampla, não se
restringindo apenas aos diferentes matizes (cores cromáticas), mas também aos acabamentos acromáticos e
aos tons característicos dos materiais naturais, em geral pouco saturados.

Aspectos físicos da cor e sua relação com o projeto de produtos


Do ponto de vista estritamente físico, a cor de um material depende de sua capacidade para refletir
determinados comprimentos de onda da luz e da composição espectral da luz presente no ambiente. Sob a
luz do sol, que contém todas as radiações visíveis, um objeto que reflete apenas os comprimentos de onda
mais longos é visto como um objeto vermelho; mas, por exemplo, sob uma iluminação deficiente em
radiações vermelhas, o vermelho do objeto parecerá dessaturado, marrom. Embora a nossa percepção tenha
uma característica denominada constância cromática, que nos faz desconsiderar até um certo limite as
alterações de cor provenientes de mudanças de iluminação, a cor de um objeto efetivamente varia com o tipo
de luz que predomina no ambiente. Este fato requer que as cores dos objetos sejam testadas sob diferentes
iluminantes, para que as variações de cor decorrentes de mudanças de iluminação possam ser avaliadas.
Uma etapa que precisa estar prevista no projeto e na fase de pré-produção, principalmente quando se
pretende lançar “novas” tonalidades.

Um outro tipo de alteração de cor à qual os objetos estão sujeitos diz respeito à ação de agentes físicos e
químicos sobre as substâncias corantes. Os pigmentos contidos nos materiais e nas tintas possuem uma
predisposição para absorver e refletir a luz de determinada forma, mas a radiação ultravioleta, agentes
atmosféricos e substâncias químicas podem agir sobre as moléculas de pigmento, causando perda de
intensidade e/ou alteração de tonalidade da coloração. Os corantes utilizados no produto precisam atender às
necessidades de durabilidade da cor durante o uso e certas tonalidades podem estar mais sujeitas a este tipo
de alteração de cor do que outras. O padrão de solidez à luz demandado por um objeto de curta duração será
diferente daquele demandado por objetos duráveis; do mesmo modo, as condições de uso do objeto também
precisam ser observadas, particularmente no que se refere à sua exposição a agentes físicos e químicos. Em
certos casos, como no design de automóveis, “novas” tonalidades precisam ter sua resistência testada por até
dois anos, implicando que o projeto cromático ocorra com anos de antecedência em relação ao lançamento
do produto. Quanto ao comportamento das substâncias corantes, deve-se igualmente atentar para o fato de
que cores que parecem iguais sob um determinado tipo de iluminação podem parecer ligeiramente diferentes
sob outro tipo de luz, devido a um fenômeno chamado metameria. Mais um possível problema a ser
verificado, principalmente quando partes de um objeto confeccionadas em materiais diferentes precisam
apresentar exatamente a mesma cor.

Ainda considerando aspectos físicos da cor, sabe-se que quando uma grande quantidade de luz é absorvida
por uma superfície, ao menos parte dela é convertida em calor. Logo, no desenho de objetos deve ser
observado o fato de que superfícies escuras, por absorverem uma quantidade maior de radiação luminosa,
tendem a aquecer mais do que superfícies claras de um mesmo material.

Observações sobre aspectos físiológicos da cor e seu uso em produtos


A cor é uma sensação visual. Ela efetivamente ocorre quando o estímulo físico, no caso a radiação visível,
atinge o cérebro do observador através do mecanismo visual. São considerados aspectos perceptivos da cor
aqueles associados à interpretação da informação que chega ao cérebro, enquanto os aspectos fisiológicos
referem-se ao percurso da luz pelo mecanismo visual.3

O olho humano possui um conjunto de lentes, músculos e células fotossensíveis, que são responsáveis pela
captação da informação visual. Considerando esse mecanismo óptico e fisiológico, verifica-se que a cor
interfere no desempenho visual do indivíduo, na medida em que participa das relações de contraste tanto
entre partes de um objeto como entre o objeto e seu entorno. No desenho de produtos, a cor pode ser
utilizada para otimizar as relações de contraste, controlando a visibilidade de objetos ou de suas partes,
contribuindo para a legibilidade de informações visuais e, desse modo, favorecendo a acuidade visual.
Quando o observador desvia os olhos de uma superfície muito clara para outra muito escura, a pupila precisa
ajustar-se à diferença de claridade; de forma similar, quando se desvia os olhos de uma superfície azul para
uma vermelha, o cristalino precisa ajustar-se para focalizar a cor. Deve-se estar atento ao fato de que o
mecanismo ocular está sujeito ao cansaço e precisa ser preservado. Submeter o olho a ajustes excessivos
provoca fadiga ocular, um dado que deve ser considerado antes de se definir em que classes de objetos e em
que medida se pode utilizar cores altamente saturadas e fortes contrastes cromáticos.

O projeto cromático deve considerar ainda que uma parcela da população possui deficiências na visão para
cores4 e que mesmo os indivíduos com visão considerada normal têm limitações em sua capacidade para
perceber diferenças entre as cores. Embora os sistemas de notação e classificação de cores contenham várias
centenas de nuanças, códigos cromáticos devem utilizar uma quantidade restrita de tonalidades, cujas
diferenças sejam facilmente percebidas pelos usuários.

Considerações quanto ao uso da cor em produtos, observando seus aspectos perceptivos e culturais
Como foi mencionado anteriormente, os aspectos percetivos da cor são aqueles relacionados à interpretação
da informação visual que chega ao cérebro. Nesta etapa da visão da cor, aspectos subjetivos tornam-se
evidentes. São fenômenos de difícil quantificação e controle, mas não menos importantes para o design do
produto que os aspectos anteriormente citados. O fato mais incontestável em relação à cor percebida, se não
o mais importante, é que a cor não é algo absoluto, ao contrário, sua natureza é relativa, ela depende do
contexto em que é observada. Objetos coloridos terão suas cores modificadas pelas cores de outras
superfícies próximas, um fenômeno conhecido como intensificação de contraste. Um objeto vermelho será
percebido com uma cor mais saturada quando próximo a uma superfície verde do que quando próximo a
uma superfície alaranjada. Do mesmo modo, partes de um mesmo objeto produzidas com o mesmo pigmento
podem parecer diferentes de acordo com as áreas coloridas que as cercam. No dia-a-dia, a cor percebida de
um objeto também pode ser influenciada pela intenção do observador e por sua memória.

Em 1810, Goethe já chamava a atenção para o fato de que cada cor produz um efeito específico sobre o
homem. Ao discorrer sobre o que ele chamou de efeito “sensível-moral” da cor, dividiu os diferentes
matizes de acordo com suas características em “cores do lado positivo” e “cores do lado negativo”5. Hoje
sabe-se que a cor é capaz de induzir reações fisiológicas e psicológicas em seres humanos e de influenciar
na percepção de outros sentidos além da visão, um aspecto importante a ser considerado no projeto
cromático. Cores causam impressão psicológica de calor e frio e podem influenciar na percepção de peso,
tamanho e distância dos objetos: objetos claros tendem a parecer maiores e mais leves do que objetos
escuros das mesmas dimensões. As chamadas cores quentes (aquelas que variam do vermelho ao amarelo)
tendem a ser psicologicamente estimulantes, enquanto as cores frias (do verde ao azul) tendem a ser
psicologicamente calmantes. Tais efeitos devem ser particularmente ponderados quando os objetos, devido
às suas dimensões, têm um peso visual significativo no ambiente em que estão inseridos, ou quando estão
constantemente presentes no campo visual do usuário durante o processo de uso.

As pessoas preferem determinadas cores à outras e, numa abordagem genérica, é comumente aceito que a
cor azul é a mais preferida, seguida das cores vermelha, verde, violeta, laranja e amarela. Entretanto tais
resultados, obtidos de experimentos em que cores são julgadas estando dissociadas de objetos, podem não
ser válidos para o design cromático de produtos, e certamente não o são para todos os tipos de produtos. Na
resposta estética às cores, a forma, as dimensões do objeto e as características do material devem ser
igualmente avaliados: combinações de cores consideradas agradáveis em determinada configuração e
tamanho podem não o ser noutra configuração e tamanho; e as características de brilho, transparência ou
textura do material influenciam na percepção da cor. Além da própria natureza do objeto, o clima e a
iluminação dos diferentes países e regiões, bem como o contexto cultural e social do usuário também
determinam preferências. Logo, durante o projeto, a resposta estética às cores deve ser investigada no
contexto específico de determinado tipo de produto que vise atender a determinado grupo de usuário.

Culturalmente as cores estão carregadas de significações e associações simbólicas, e, ao induzirem tais


associações, as cores dos objetos influenciam a percepção que o usuário tem desses objetos. Os aspectos
culturais da cor podem vir a ter uma influência importante na comercialização de produtos.

Não apenas as preferências individuais e a agradabilidade de combinações de cores mas, da mesma forma,
seus significados conotativos são condicionados pelo contexto cultural do indivíduo. Cores trazem
significados que mudam de cultura para cultura e mudam ao longo do tempo numa mesma sociedade. As
significações também são determinadas pelo contexto: uma mesma cor pode conotar diferentes significados
de acordo com a classe de objetos em que é utilizada. Cores podem ser utilizadas para identificar, classificar
ou hierarquizar objetos. Podem ser associadas à idade, sexo ou status social do usuário. Podem indicar o
tipo de uso que o objeto tem, ou sugerir determinadas características a ele. Seus significados conotativos
precisam ser observados ainda ao se utilizar a cor como código.

Relação entre a cor e as funções de produtos


Adotando o conceito proposto pelo designer e sociólogo alemão Bernd Löbach, as funções dos produtos
seriam todas as relações entre o produto e seu usuário, durante o processo de uso, através das quais as
necessidades dos usuários são satisfeitas. Os objetos seriam então dotados de funções práticas, estéticas e
simbólicas. Segundo o autor, as funções práticas seriam aspectos fisiológicos do uso relacionados à saúde
física do usuário. A função estética seria a relação produto-usuário experimentada durante a percepção,
estando relacionada à saúde psíquica do usuário. Já as funções simbólicas seriam os aspectos espirituais e
sociais do uso.6

Ao abordar essa questão, o professor e designer alemão Bernhard Bürdek divide as funções “de linguagem”
dos produtos (funções estéticas e simbólicas) em funções estético-formais, funções indicativas e simbólicas.
As funções estético-formais seriam os aspectos da percepção que podem ser considerados independente do
significado de seu conteúdo. As funções indicativas remetem-se às funções práticas, visualizam as funções
técnicas do produto ou explicam seu manejo e as funções simbólicas referem-se ao contexto histórico-
social.7 Considerando tais classificações e definições propostas pelos referidos autores, pode-se então
observar como a cor se relaciona com as funções práticas, estético-formais, indicativas e simbólicas de
produtos.

A cor do objeto tem uma função prática na medida em que interfere no conforto visual do usuário, portanto,
em sua saúde física.8 O uso da cor para proporcionar conforto visual (evitar a fadiga ocular) pode ser
observado, por exemplo, no acabamento cinza utilizado em painéis de instrumentos de aeronaves para evitar
a presença de reflexos no campo visual do operador, ou no verde utilizado em equipamentos cirúrgicos para
evitar ofuscamento e minimizar as imagens posteriores provocadas pela presença constante do vermelho no
campo visual. A escolha da cor em função de uma melhor legibilidade em displays visuais ou visando a
diminuição de contrastes cromáticos, para não submeter o olho a acomodações e ajustes excessivos, também
contribui para o conforto visual do usuário, portanto para a função prática do objeto. A cor também está
relacionada à função prática quando as características físicas de absorção/reflexão das substâncias corantes
estão diretamente relacionadas ao desempenho técnico9 do objeto, como pode ser observado, por exemplo,
no acabamento preto utilizado em certos equipamentos de laboratório fotográfico para evitar que alguma
reflexão de luz atinja os materiais fotossensíveis, ou no branco utilizado no interior de luminárias para
melhor refletir luz. A diferença entre cores claras e escuras para absorver radiação ao ser utilizada para
aumentar ou minimizar o aquecimento de superfícies também pode estar relacionada ao desempenho do
produto, portanto, à sua função prática.

A cor adquire uma função indicativa quando melhora a percepção das funções técnicas do produto ou
permite ao usuário monitorar seu funcionamento, como por exemplo, quando a cor reforça a formação de
grupos distintos de teclas ou outros elementos de comando em produtos eletrônicos, ou no uso de luzes
coloridas como indicador de condição operacional em máquinas ou outros equipamentos. A cor também
contribui para a função indicativa quando atua como elemento de identificação, sinalização e segurança,
como pode ser observado, por exemplo, no vermelho utilizado em equipamentos de combate a incêndio, ou
no alaranjado utilizado em partes móveis e perigosas de máquinas significando “alerta”. Mudanças de cor
provocadas por variações de temperatura ao serem utilizadas para indicar visualmente a presença de
temperaturas elevadas em componentes mecânicos ou equipamentos térmicos, também têm uma função
indicativa.

Sendo um dos elementos que compõem a aparência do objeto, a cor está diretamente associada à sua função
estética, participando da relação entre o produto e o usuário experimentada durante a percepção.
Relacionam-se às funções estético-formais os aspectos da percepção cromática que podem ser considerados
desvinculados do significado de seu conteúdo. Ao se produzir impressão de peso ou leveza pelo uso da cor,
ao se intensificar ou modificar a percepção de tamanho ou distância do objeto através da cor, ou ainda ao se
diferenciar formas semelhantes num objeto por meio de contraste cromático, está-se contribuindo para sua
função estético-formal. Do mesmo modo, quando se utiliza a similaridade de cor para unificar formas,
quando se usa a cor para destacar características construtivas (enfatizando a estrutura formal) ou para
suavizar a aparência de objetos, também se está contribuindo para a função estético-formal. Estão ainda
relacionadas a essa função escolhas cromáticas que visem eliminar contrastes e integrar uma forma a um
fundo (camuflagem). A cor também contribui para a função estética na medida em que se relaciona ao bem-
estar psíquico do usuário, como por exemplo, na utilização de variedade de cores visando manter ativa a
resposta visual do usuário, no uso do efeito relaxante ou estimulante de determinadas cores, ou no uso de
cores quentes ou frias visando melhorar a sensação de conforto e bem-estar10. A utilização de combinações
harmônicas de cores, bem como o uso de cores agradáveis aos usuários, também pode contribuir para o seu
bem-estar psíquico, portanto para a função estética do produto.

Finalmente, a cor está relacionada à função simbólica de produtos, tendo em vista que sua percepção
contribui para estabelecer conexões com experiências anteriores dos usuários e com seu contexto sócio-
cultural. Na função simbólica, relacionada a aspectos psicológicos e sociais do uso, a cor pode ser utilizada
para representar determinados atributos do objeto. O uso do vermelho como a cor padrão de automóveis
esportivos (conotando potência e eficiência), o acabamento acromático utilizado em equipamentos
eletrônicos para conotar profissionalismo e sofisticação tecnológica ou o branco utilizado em
eletrodomésticos que conservem ou lavem conotando higiene são exemplos de como a cor assume uma
função simbólica no desenho de objetos.

Conclusões
Ao projetar a cor de um objeto que se destina a uma reprodução em larga escala, o designer tem a
responsabilidade de estar intervindo simultaneamente na aceitação do produto pelo mercado, no impacto que
tais soluções cromáticas terão no ambiente visual, e nos efeitos que suas percepções podem causar nas
pessoas. Mesmo considerando-se que a sensibilidade artística ou criatividade do profissional contribua para
a escolha de cores, no caso do desenho de produtos ela deve fundamentar-se no conhecimento. Dificilmente
haverá apenas uma solução cromática para um objeto, na maioria dos casos haverá mais de um caminho
possível, e é o conhecimento técnico que irá permitir um julgamento eficiente das soluções mais ou menos
adequadas a cada situação de projeto. De acordo com o tipo de produto, suas funções e o contexto ambiental
e de mercado em que será inserido, os aspectos da cor a serem considerados serão diferentes e terão
diferentes níveis de importância.

Este artigo pretendeu demonstrar a importância da cor para o desenho industrial, expondo os diferentes
aspectos que podem estar envolvidos na escolha de cores. A partir da presente análise, pode-se concluir que
a cor, em seus aspectos físicos, fisiológicos, perceptivos e culturais participa de funções práticas, estético-
formais, indicativas e simbólicas de produtos, necessitando ser criteriosamente estudada durante o projeto de
desenho industrial. Soluções cromáticas podem contribuir para a otimização de funções de produtos, podem
interferir no processo de uso e ainda na produção e comercialização do objeto.

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1
A expressão “ciência da cor” tem sido empregada pelo menos desde os anos 50, com a publicação da obra The science
of color, da Sociedade Óptica Americana.
2
A palavra “desenho” é utilizada aqui no sentido de “configuração” e não de “representação gráfica”.
3
Cf. OPTICAL SOCIETY OF AMERICA, The science of color, p. 58-63.
4
Estima-se que 9% da população masculina possivelmente apresenta algum tipo de deficiência na percepção das cores.
(Cf. Wesley E. WOODSON, Human factors design handbook, p. 836.)
5
Cf. J. W. GOETHE, Doutrina das cores, p. 129-134.
6
Bernd LÖBACH, Diseño industrial, p. 52-53, 55-62.
7
Bernhard E. BÜRDEK, Diseño, p. 178-180, 215, 223.
8
O conforto visual não está relacionado apenas à saúde psíquica do indivíduo. Além do desconforto localizado nos
olhos e dos sintomas visuais que provoca, a fadiga ocular, em casos mais graves, pode desencadear cefaléias, náuseas e
vômitos. (A. DUBOIS-POULSEN, Notions de physiologie ergonomique de l’appareil visuel, In: J. SCHERRER,
Physiologie du travail, p. 139-140.)
9
Não é o caso em que a cor orienta o usuário, mas quando o próprio objeto depende da cor para funcionar
adequadamente.
10
Não se trata aqui da capacidade física de absorção/reflexão, mas da sugestão psíquica de temperatura.

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